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Usos e Apropriacoes Do Celular Por Joven
Usos e Apropriacoes Do Celular Por Joven
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
USOS E APROPRIAÇÕES DO
CELULAR POR JOVENS DE CLASSE POPULAR
Elaborada por
Flora Ardenghi Dutra
COMISSÃO EXAMINADORA:
______________________________________
Veneza Veloso Mayora Ronsini, Drª. (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
_____________________________________
Everardo Rocha, Dr. (PUC-RJ)
______________________________________
Sandra Rúbia da Silva, Drª. (UFSM)
“Não há nada que não se consiga com a força de vontade, a bondade e, principalmente,
com o amor”. Marco Túlio Cícero
“Eu acho importante compartilhar as minhas fotos para as outras pessoas saberem que eu
existo”. Alice, 17 anos
6
Agradecimentos
Em memória da melhor amiga do mestrado que partiu antes desta jornada chegar ao fim:
Gabriela Santos. Este trabalho é por nós, nunca me esquecerei de você, minha eterna amiga e
confidente.
8
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Universidade Federal de Santa Maria
A presente pesquisa é um estudo dos usos e apropriações do telefone celular por jovens de
classe popular. Procura-se identificar como os jovens da fração baixa da classe popular
distinguem-se uns dos outros pelos usos do aparelho móvel no espaço escolar. A
investigação enquadra-se na vertente dos Estudos Culturais, especialmente nas mediações
de Martín-Barbero (2003) e na do consumo cultural de García Canclini (2010).
Metodologicamente, o trabalho possui duas etapas exploratórias. Num primeiro momento,
foram aplicados dois questionários, um via Facebook e outro intitulado “online”, bem
como anúncios publicitários definidos com base no acervo digital da Revista Veja e de um
acervo particular da Revista Superinteressante. O segundo estudo exploratório serviu para
uma aproximação com o espaço escolar onde se aplicou a entrevista semiestruturada com
dez estudantes. Destes, quatro serviram para compor a amostra. Na sequência, foi realizada
uma etnografia no espaço escolar e no espaço doméstico com dez estudantes da Escola A,
com idades entre 15 a 18 anos, residentes em Santa Maria/RS. Delimitou-se, ainda, um
corpus com dez perfis dos entrevistados da rede social Facebook. A análise foi estruturada
de modo a compreender como as mediações atuam na relação dos jovens com o celular.
Nos resultados, analisou-se a mediação da socialidade, isto é, o uso do celular na família de
classe popular e na escola; os conflitos gerados pelo seu uso nos dois espaços, bem como o
celular como fator de distinção entre os estudantes. Quanto à mediação da ritualidade,
observa-se o celular como organizador das práticas cotidianas. No que diz respeito à
mediação da tecnicidade, observou-se uma forte presença do celular em cenas e contextos
de filmes e telenovelas assistidos pelos jovens entrevistados. Essas representações são
ressignificadas através da recepção transmidiática, ao produzirem conteúdo para as redes
sociais. Os atores em posse do celular produzem conteúdo para as redes tanto na escola, no
espaço público e no espaço doméstico. O celular acompanha os jovens desde o despertar
até a hora de dormir, está presente na relação familiar e entre amigos.
ABSTRACT
Master's Dissertation
Graduate Program in Communication
Federal University of Santa Maria
The present inquiry is a study on the uses and appropriations of cellular phones by popular
class youngsters. It aims to identify how the lower fraction of popular class young people
distinguishes themselves from each other through the usage of the mobile device in school
environment. The inquiry is enframed in the field of cultural studies, specially in Martín-
Barbero's mediations and García Canclini's cultural consumption. In terms of
methodology, the work consists of two exploratory stages. In the first stage, two
questionnaires were applied, one via Facebook and another named "online", as well as the
definition of advertisements based upon Veja magazine's digital repository and a personal
collection of Superinteressante magazine. The second exploratory stage was used as an
approach to the school environment, where a semi-structured interview was applied to ten
students. Out of this ten, four were selected to compose the sample. Next, an ethnographic
study was performed both in school and home environments, with a group of ten subjects,
students from school A, between the ages of fifteen to eighteen years old, all residing in
Santa Maria/RS. There was, also, the delimitation of a corpus of ten profiles from the
Facebook social network. The analysis was structured in a way that leads to the
comprehension of how mediations act in regards to the relation between youngsters and
cell phones. In the results, the mediation of sociality was analyzed, ergo, the use of cellular
phone into the popular class family and school: the conflicts raised by its usage in both
environments, as well as the cell phone as a factor of distinction between the students. As
for rituality mediations, the cell phone is observed as an organizer of daily practices. In
regards to technicity mediation, a strong presence of cell phones was observed in scenes
and contexts of films and soap operas being watched by the interviewed youngsters. These
representations are reframed trough transmediatic reception, by producing content for the
social networks. The actors who possess the cell phone produce content for the networks in
both school, public and domestic environments. The cell phone accompanies the
youngsters from the waking up call to the time they go to bed, and is present in both family
and friend relations.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 16
5. MÉTODOS DE PESQUISA 85
5.1. Estudo exploratório I 85
5.1.1. Questionário via Facebook 86
5.1.2. Questionário online 88
5.1.3. A história do celular a partir de reportagens e publicidades 93
5.2. Estudo exploratório II 101
5.2.1. Definição da amostra 101
5.2.2. Amostra 104
5.2.3. Perfil dos entrevistados 105
14
APÊNDICES
Apêndice 01 – Estudo exploratório I 181
Apêndice 02 – Estudo exploratório II 183
Apêndice 03 – Entrevista semiestruturada 191
Apêndice 04 – Questionário online 195
15
ANEXOS 200
16
1. INTRODUÇÃO
1
Estatísticas de celulares no Brasil. Disponível em <http://www.teleco.com.br/ncel.asp>.
17
O celular tem uma historicidade que não ultrapassa meio século e, neste contexto,
alguns pesquisadores inauguraram os estudos sobre este objeto de história recente. Claude
Fisher (1992) escreve a obra America Calling: a social history of the telephone to 1940 e
relata o surgimento do telefone fixo nos Estados Unidos. Posteriormente, os estudiosos
James Katz e Mark Aakus (2002) organizam um livro com vários investigadores sobre o
impacto do celular no globo. Daniel Miller e Heart Horst (2006), em um estudo
antropológico, dedicaram-se a avaliar o impacto dos telefones na Jamaica, assim como a
pesquisadora Sandra Rúbia da Silva, investiga, em um bairro de classe popular em
Florianópolis, as apropriações e representações do aparelho pelos moradores. Outros
pesquisadores seguem desenvolvendo estudos sobre a tecnologia móvel e seus impactos na
sociedade, como é o caso de Rich Ling (2004), Castells (2007), Lasén (2013). O estado da
arte, desde o ano de 2001, encerra o Capítulo com os trabalhos relevantes em diversas
áreas realizados no Brasil, basicamente teses de doutorado e dissertações de mestrado.
Busca-se, ainda no quarto capítulo, entender como as tecnologias móveis estão
adentrando as salas de aula e como a política (a partir de 2007), através de projetos de leis,
está proibindo o uso em escolas, como no caso do Rio Grande do Sul. Em 2008, a
governadora Yeda Crusius, através do Ministério Público, aprovou e sancionou a Lei
12.884, que proíbe a utilização dos celulares nos estabelecimentos escolares. Divergências
entre teóricos mostram que o debate sobre os usos do celular na escola ainda está longe de
achar uma solução, tanto para professores quanto para alunos.
O quinto capítulo é dedicado a explorar a metodologia empregada nesta
investigação. Os estudos exploratórios I e II dão suporte para o aprofundamento e o recorte
do objeto. Para entender como o celular está sendo usado pelos jovens de classe popular,
foi necessário o levantamento de dados quantitativos e qualitativos. No primeiro estudo
exploratório, a aplicação de dois questionários foi necessária para delinear a geração e o
recorte de classe. A aplicação dos questionários serviu como pano de fundo para
entendimento de como os jovens veem e se reportam à mídia através do celular. A
transmidiação que aparece no questionário online foi um começo para se entender como a
tecnicidade está se ressignificando neste início de século.
21
Assim como o interesse dos britânicos do CCS pelo entendimento das lutas de
classes, do poder institucionalizado e da cultura elitizada entre 1950 e 1960, os pensadores
latino-americanos voltaram sua atenção aos processos comunicacionais que emergiam a
partir de 1980. Na revisão ampliada da obra Cartografias dos Estudos Culturais – uma
versão latino-americana (2010), Escosteguy verifica o crescimento exponencial dos EC na
América Latina desde a primeira edição da obra, em 2001, “sendo reforçado, sobretudo
pela circulação mais ágil de bibliografia inglesa, mas também pela tradução de obras
importantes e, claro, pela formação de pesquisadores que se vincularam a esse programa de
pesquisa” (ESCOSTEGUY, 2010, p. 12).
No início dos anos de 1980, destacam-se os pensadores Martín-Barbero e García
Canclini. As articulações das análises culturais destes pensadores logo passaram a ser
mediadas pela interdisciplinaridade, entrecruzando a filosofia, a comunicação e a
antropologia. Como início dos debates latino-americanos, também estava a discussão entre
cultura e comunicação. Escosteguy (2010, p. 20) delimita os três eixos teóricos de
relevância na perspectiva latino-americana: 1) as relações entre cultura e ideologia; 2)
análise da cultura popular; 3) construção de identidades contemporâneas mediadas pelos
meios de comunicação.
Como afirma Lopes (1990), os esforços para a elaboração de uma teoria e
metodologia latino-americana iniciou-se na década de 1980. O livro Pesquisa em
Comunicação – Formulação para um Modelo Metodológico (LOPES, 1990), trata de
organizar e traçar como a Comunicação é estudada no país, suas nuances, dificuldades e
trajetórias a serem percorridas. Já no final dos anos de1990, os estudos sobre recepção e
consumo cultural impulsionaram uma vertente de pesquisadores latino-americanos a
ampliar os estudos culturais.
23
3
O Observatório Ibero-americano de Ficção Televisiva (OBITEL) é formado por 11 países, conta com
pesquisadores da Venezuela, Uruguai, Portugal, Peru, México, Estados Unidos, Espanha, Equador,
Colômbia, Chile, Brasil. Os coordenadores gerais são os pesquisadores Guilhermo Orozco Gómez e Maria
Immacolata Vassallo de Lopes. O objetivo da rede destes pesquisadores é o intercâmbio de conhecimento e
construção de novos caminhos para pesquisas ligadas à área de análise.
24
metodológicas surgem para dar conta dos fenômenos que vivenciamos em uma
multiplicidade de códigos e significados.
No que toca ao Brasil, parece-me que a penetração dos Estudos Culturais se faz
pelas bordas, ou seja, para utilizar uma expressão de Bourdieu, na periferia do
campo hierarquizado das ciências sociais, particularmente nas escolas de
comunicação (o que certamente demonstra o conservantismo de disciplinas como
sociologia, antropologia, literatura). Entretanto, nenhuma delas se propõe a
modificar o seu estatuto institucional (ORTIZ, 2004, SP).
26
5
O Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da EACH-USP ainda não conta com produção
bibliográfica para discussão e análise, pois iniciou seu curso no ano de 2012.
6
PACC, disponível em <http://www.pacc.ufrj.br/o-pacc/>
27
Mais adiante, Barbosa (2004) menciona a outra vertente que trabalha o consumo na
versão não pós-moderna: “por outro lado, autores como Don Slater, Grant McCracken,
Colin Campbell, Pierre Bourdieu e Mary Douglas investigam o consumo de forma
altamente relevante” (2004, p. 12). Na definição de Rocha (2006), o consumo apresenta
três enquadramentos:
O homem rico, ocioso e que, mesmo entediado de tudo, não tem outra ocupação
senão correr ao encalço da felicidade; o homem criado no luxo e acostumado a
ser obedecido desde a juventude; aquele, enfim, cuja única profissão é a
elegância, sempre exibirá, em todos os tempos, uma fisionomia distinta,
completamente à parte (BAUDELAIRE, 1997, p. 51).
Colin Campbell (2001, p. 58) afirma que não há estudos satisfatórios que deem
conta da revolução do consumo. Para o autor, os estudos de Thorstein Veblen concentram
grande parte da análise relacionada à revolução do consumo, mas pecam pela influência do
29
O cenário no século XXI é distinto para Rocha e Pereira (2009), segundo os quais
os jovens de hoje estão entrelaçados por produtos high tech, como o celular, fones de
ouvidos, notebooks. Para os autores, o consumo marca a adolescência pelas apropriações
de gadgets:
Desta maneira, tanto para Ronsini (2012) quanto para Rocha e Pereira (2009), o
sistema de hierarquia é mantido e adaptado ao sistema para renovar e manter a ordem
social. Mesmo com a informatização de muitos serviços, recorre-se ao sistema simbólico
para participar e consumir na sociedade. Canclini aponta que “o simbólico não é algo que
sucede nas universidades, nos consultórios psicanalíticos, em museus de arte. O simbólico
é algo que está incerto, como uma parte necessária, no desenvolvimento da produção
material atual” (CANCLINI, 1997, p. 69-70). Nesta pesquisa filiada aos Estudos Culturais
latino-americanos, delineia-se o consumo cultural sistematizado por García Canclini
(1992) a partir de inúmeras referências bibliográficas, que serão expostas a seguir.
a. Consumo como reprodução da força do trabalho e da expansão do capital:
todas as práticas de consumo, eventos psicossociais tão diversos como habitar uma casa,
comer, vestir, podem ser entendidas, em partes, como um meio de renovar a força do
trabalho dos assalariados e expandir os lucros dos produtores.
Para Goellner (2007, p. 47), “esse enfoque procura apreender como são realizadas
as estratégias de mercado e as ações dos agentes econômicos, sem perder de vista sua
relação com a demanda”. Assim, a circulação dos bens transita pelo marketing e
31
De acordo com Baudrillard (2008), o consumo adquire uma instância em que não se
pode mais referenciar o objeto pela sua utilidade específica, e, sim, por um conjunto de
signos a que ele remete em sua significação total, pois “a imagem, o signo, a mensagem,
tudo o que consumimos, é a própria tranquilidade selada pela distância ao mundo e que
ilude, mais do que compromete, a alusão violenta do real” (BAUDRILLARD, 2008, p. 17).
Apoiado na semiologia, “a autonomia do significante, mediante a manipulação dos signos
na mídia e na publicidade, significa que os signos podem ficar independentes dos objetos e
estar disponíveis para o uso numa multiplicidade de relações associativas”
(FEATHERSTONE, 1995, p. 33).
d. Consumo como ritual: a sociedade seleciona e fixa acordos que regem os
significados. Os rituais são eficazes usando objetos para definir o sentido das práticas que
eles preservam. Desta maneira, “quando a sorte, a vergonha e a honra substituem ideias
controladoras, saímos de uma sociedade regulada pela referência ao além para outra
explicitamente preocupada com este mundo” (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2006, p. 82). A
acumulação individualista, neste sentido, passa a ser um risco, sorte, e não depende apenas
de preços e rendas para explicar as decisões de consumo.
Slater (2001) concorda com Douglas e Isherwood ao relacionar os bens como
instância integradora, o consumo como ritual na organização da ordem social, mas aponta
dois problemas nas interpretações dos significados e rituais de consumo que demarcam
categorias e classificações. Para Slater (2001, p.147), a antropóloga coloca os significados
34
como uma realidade social preexistente, ignorando que a ordem social é constituída pelas
práticas. O segundo problema não leva em conta que os fluxos de informações, os
significados do consumo público não são prerrogativas das redes sociais, mas, sim,
administradas pelos capitais comerciais investidos em tecnologias públicas de design,
marketing e propaganda. Por fim, o universo que integra a perspectiva do consumo como
um sistema de informações a faz parecer ingênua demais “como se fosse apenas um
dispositivo moderno para ajudar às pessoas a por ordem na confusão de nossos dias”
(SLATER, 2001, p. 146-150).
A seguir, adentra-se na perspectiva de García Canclini do consumo como distinção
e comunicação.
Assim, para o Canclini, a diferenciação deve mover-se para a forma em que estes
bens são consumidos e a maneira como são apropriados, adquiridos e utilizados
(CANCLINI, 1997, p. 76). São estes mecanismos que delimitam as lutas simbólicas que,
invisíveis, simbolizam o consumo, diferenciando as classes uma das outras; como diria
Bourdieu: “não basta ter um milhão para ter as condições de levar a vida de milionário”
(2007, p. 351).
Isso sugere que as condições sociais de existência, a origem familiar e a trajetória
de cada ator pode ser um caminho para compreender as práticas do consumo como
distinção social, por vezes, já imposta por gostos e tendências de consumo pela classe
dominante, tornando legítimo o poder absoluto de impor seu próprio gosto e estilo de vida.
Assim, a forma que o jovem B adquiriu o iPhone 4 torna-se legítima perante outros
atores em posições inferiores, que buscam, na aquisição do aparelho, ter o mesmo estilo de
vida que não lhes pertence. Desta forma, as classes dominantes tendem a valorizar o modo
de representação, de apropriação no processo do consumo, enquanto as classes subalternas
valorizam o objeto representado.
Embora os gostos sejam condicionados a refletirem uma hierarquia simbólica, as
preferências dos consumidores ainda requerem um componente estético reconhecido pelo
dominante, mesmo se tratando de itens funcionais de consumo, como o aparelho de celular.
A linha de raciocínio é também encontrada na obra de Bourdieu, que argumenta que as
preferências e as disposições estéticas originam-se em uma hierarquia de classe impondo-
se culturalmente.
Bourdieu (2007) substitui essa dicotomia na relação entre duas formas de
existência social: as estruturas objetivas sociais construídas sobre a dinâmica histórica e a
internalização das estruturas sociais, construídas pelos indivíduos na forma de esquemas de
percepção, avaliação, pensamento e ação, o habitus. O habitus configura-se como um
sistema de disposições duráveis que funcionam como esquemas de classificação para
orientar os valores, as percepções e as ações dos indivíduos.
Canclini (1997) afirma que, para que o consumo possa ser um sistema de
diferenciação social entre os grupos sociais, deve primeiro construir um sistema de
comunicação compreensível, um sistema de integração cultural e social. Os membros de
36
Hoje, contudo, o objeto da cultura parece girar em uma ampla miríade de aspectos
sociais diversos, espalhando-se pela vida social em todas as suas camadas. O autor aponta
que “a reconfiguração das mediações em que se constituem os novos modos de
interpelação dos sujeitos e de representação dos vínculos que dão coesão à sociedade”
(MARTÍN-BARBERO, p. 14) são reflexo das transformações culturais e políticas a partir
da relação sujeito/objeto frente às transformações nos meios de comunicação 7. As
mediações, neste contexto, servem como ponto de referência metodológica entre o ator e
suas conexões com o mundo 8.
Neste sentido, a contribuição desta pesquisa configura-se em um viés distinto de
interpretar os usos dos aparelhos celulares pela cultura juvenil pelo olhar barberiano do
consumo. Nota-se que, muitas vezes, os autores optam por unificar os sentidos do
consumo e de recepção, mas aqui não será o caso. Muitas vezes, o entendimento do
consumo funde-se ao de recepção. Da materialidade às tramas vivenciadas por jovens de
classe popular em seu contexto social, abandona-se a competência de recepção e suas
leituras dos textos midiáticos ligados às audiências para entender o consumo e seus “usos
sociais” relacionados ao aparelho de celular. Nesta pesquisa, usa-se o mapa das mediações
como aporte interpretativo:
7
Um exemplo deste argumento pode ser visto nas manifestações ocorridas em São Paulo (Jun/2013) contra o
aumento nas tarifas de transporte público. A imensa mobilização nas redes sociais, vinculada aos argumentos
da mídia, serviram para uma grande revolta virtual, que, posteriormente, levou manifestantes às ruas em
diversas outras cidades do país. O estopim, muitas vezes, foram vídeos amadores que circularam pela
internet, filmados anonimamente por celulares e espalhados pela rede, mostrando o “outro lado” do fato.
Foram as perspectivas e visões dos cidadãos brasileiros contra a voz da mídia hegemônica.
8
TRINTA, p. 150-151.
39
No contexto dos jovens que compõem esta pesquisa, observa-se que o aparelho celular
perpassa a construção da identidade individual e coletiva. O aparelho é carregado de
resíduos culturais, emocionais e simbólicos. Apresentam-se três mediações propostas por
Martín-Barbero como categorias de análise: a socialidade, a ritualidade e a tecnicidade.
Na socialidade, as relações dos atores sociais tangem a classe, a etnia, a família, a
escolha, o trabalho, etc. Torna-se possível investigar as construções e relações ocultas do
modo de vida dos jovens de classe popular e suas relações no espaço escolar (progressos e
dificuldades no aprendizado), na família (conflitos envolvendo gerações, opções sexuais e
condição econômica). Para Martín-Barbero, a comunicação do ponto de vista desta
mediação “se revela uma questão de fins – da constituição do sentido e da construção e
desconstrução da sociedade” (2003, p.18). Deste modo, ocorrem as mudanças da
sensibilidade e subjetividade dos atores que, jovens, intensificam as relações sociais,
criando e alternando conceitos e campos que definem a socialidade. A comunidade em
questão é instável quanto a relações sociais pela Internet e o uso do celular. Tenta-se
entender como o sentido e a tomada de consciência (ou não) pela condição da classe parte
das relações que envolvam atores sociais e o aparelho de celular.
A ritualidade, segundo o autor, “remete-nos ao nexo simbólico que sustenta toda
comunicação: à sua ancoragem na memória, aos seus ritmos e formas, seus cenários de
interação e repetição” (2003, p.19). Pode-se incluir, nesta mediação, a análise do uso social
e do consumo de celulares modernos como forma de distinção ou, ainda, o desejo
inconsciente de ter um iPhone, representado por uma maçã mordida, carregado desde já
com significados mitológicos e/ou ritualísticos. Martín-Barbero cita modos de
especificidades contemporâneas que podem ser extraídos desta mediação. A ritualidade,
como mediação proposta dentro do eixo sincrônico, está entre o Consumo e os Formatos
Industriais. Tem-se, neste espaço, o patamar do simbólico, dos usos repetidos através das
formas e interações através da “gramática da ação” (olhar, escutar e ler) relacionadas à
questão do gosto, da educação, dos saberes, etc.
A tecnicidade, por sua vez, remete ao processo de globalização, em que os
processos, as práticas sociais e os discursos têm sido cada vez mais mediados por aparatos
tecnológicos como o computador ou os telefones celulares, “restabelecendo
aceleradamente a relação dos discursos públicos e relatos (gêneros) midiáticos com os
40
um novo vocabulário para designar, então, grupos sociais: classe trabalhadora, classe
produtiva, etc.
No que se refere aos Estudos Culturais, o conceito de classe social vem perdendo
força como incubadora de transformações e análises políticas. A partir do século XXI, as
identidades e o consumo são mais requeridos para entender como os atores comportam-se
frente às modificações sociais.
Nesta pesquisa, não se abandona a classe social que, organizada, representa o modo
de vida de um coletivo, partilhado por atores em suas representações e práticas sociais nas
diversas estruturas da sociedade. A partilha por interesses de classe compõe o tecido em
que as relações se arranjam, assumindo uma organicidade dentro do espaço social. Assim,
não se condena o interesse por identidade, raça, etnia, gênero como variante em certas
pesquisas, mas busca-se a integração de uma visão do ator como potencial transformador
consciente de sua capacidade plena.
No Brasil, a grande problemática que cerceava a discussão sobre as classes sociais é
datada desde o surgimento da Sociologia no país, na década de 70. Para o sociólogo
Antônio Sérgio Guimarães (2002), os estudos compreendiam a formação do empresariado
nacional; das elites dirigentes; das classes médias; do operariado industrial e do
proletariado rural.
Hoje, a nova classe média, classe popular, ou ainda classe C, representa mais da
metade da população no Brasil, cuja renda mensal varia de R$1.064 e R$ 4.5919. Assim,
com maior acesso aos bens de consumo, lazer e cultura, milhares de jovens brasileiros
mudaram seus estilos de vida. Embora a classe popular tenha fácil acesso ao crédito na
hora da compra, flexibilidade na hora de financiar imóveis, ou ainda diminuição dos juros,
9
Universitário, PDF. Disponível em <http://www.universitario.com.br/noticias/classe_media_01.pdf>
43
9% é analfabeta, e 71% das famílias não têm plano de saúde, assim, a classe popular
continua com pouca instrução, com moradia inadequada e segue endividada 10.
Para Sarti (1996), os pobres sempre foram pensados a partir da produção, depostos
da possibilidade do consumo, logo, de recursos simbólicos, “nesta perspectiva, destituídos
de bens materiais, vendedores de força de trabalho, foram olhados apenas pela sua
condição de dominados” (SARTI, 1996, p. 20).
Para Jessé Souza, este grupo de desfavorecidos forma uma “nova classe
trabalhadora precarizada, a sociedade moderna têm dois capitais importantes, o econômico
e o cultural. Essa visão empobrecida (de classe média) considera apenas a renda”. Para
Souza (2009, 145), este conceito apenas econômico de pensar classe social “está inserido
na cegueira de pensar que as classes se reproduzem apenas no capital econômico, quando a
parte mais importante não tem a ver com isso, mas com o capital cultural, com tudo aquilo
que a gente incorpora desde a mais tenra idade”.
Para o fim da discussão, o sociólogo declara haver quatro classes sociais no Brasil.
São elas: 1) Classe Alta – detentora de maior poder econômico e saber especializado; 2)
Classe Média – detentora de saber especializado, ou seja, um conhecimento que tem valor
econômico; 3) Classe popular – classe trabalhadora precarizada, sem acesso privilegiado
ao capital cultural, econômico e social (chamados de nova classe média); 4) Classe sem
privilégios – são os muito pobres que não têm condições de aprender (SOUZA, 2009).
Assim como no surgimento das determinações sobre classe e suas contemporâneas
interpretações, pode-se situar a classe de idade não como uma variante do campo cultural,
como definiria Bourdieu para mapear as posições de classe de um determinado grupo
social, mas como um fio condutor do que é temporário.
Para Morin (1977), a classe de idade também não poderia ser interconectada com a
classe social e, voltando ao princípio de classes decodificado historicamente por Bauman,
seria apenas a detecção de um sistema classificatório.
Assim, a classe de idade “conduz ao que é transitório, e, de outra parte, a noção de
classe designa, neste fluxo constante, uma categoria estável” (MORIN, p. 141). Deste
modo, o recorte pela geração jovem nesta pesquisa é proposto por uma caracterização de
“uma posição comum daqueles nascidos em um mesmo tempo cronológico - a
10
O Globo (21/03/2013), disponível em <http://oglobo.globo.com/economia/nova-classe-media-tem-
trabalho-precario-pouca-instrucao-moradia-inadequada-7914148>
44
participação com o meio ambiente para o desenvolvimento das habilidades (ARNETT 11,
2006, p.186-189).
No Brasil, os jovens são o centro das principais discussões sobre as redes sociais,
mobilização online e moda. Eles também representam a base do consumo que inova em
tecnologias, os chamados gadgets, ou brinquedos tecnológicos. Desta forma, os debates
sobre a juventude/consumo têm ganhado força no Brasil.
Esses gadgets (inclui-se o celular) permitem aos jovens de classe popular novas
práticas sociais, antes indisponíveis pelo alto custo de compra. A Pesquisa de Mídia
Brasileira de 2014 12 revela que os sites mais citados como fonte de informação para jovens
de 16 a 25 anos é a rede social Facebook e, como meio de acesso à Internet, o celular é o
veículo mais utilizado.
Os jovens merecem atenção ao se tratar de problemas sociais já citados. A luta por
uma qualidade de vida mais justa, melhor educação e condições de trabalho ainda carece
de medidas emergenciais. Em 2013, o Brasil ultrapassou 200 milhões de habitantes, e,
destes, 30 milhões são jovens. A densidade demográfica é alta comparada a países
menores. O desafio está em abarcar este contingente juvenil em constante transformação
emocional e social.
11
G. STANLEY HALL’S ADOLESCENCE: Brilliance and Nonsense. Clark University, 2006. Disponível
em <http://www.jeffreyarnett.com/articles/Arnett_2006_HP2.pdf>
12
Pesquisa Brasileira de Mídia 2014. Disponível em < http://pt.slideshare.net/BlogDoPlanalto/pesquisa-
brasileira-de-mdia-2014>
46
Para Ronsini (2012, p, 63), “as identidades se forjam em campos cercados pelo
medo da violência, do tráfico e o desemprego, elas se forjam como sementes híbridas em
campos cercados por estruturas determinadas, do local ao global”.
Houve uma inclusão social de jovens de classe popular através do celular, pois estes
passaram a estar mais conectados que antes; conteúdos foram gerados para as redes online,
a visibilidade passou a ser uma busca interminável para uns, enquanto, para outros, o
celular supre a solidão. Muitos destes aparelhos são contrabandeados de outros países,
entrando de maneira ilegal no país, tendo o custo ainda mais reduzido, uma vez que
geralmente são vendidos em camelôs. As funcionalidades do aparelho de celular serviram
como inclusão social e digital àqueles que não tinham acesso a outras fontes de informação
e comunicação. O Instituto Data Popular 13 aponta que os jovens da classe C são mais
conectados e menos conservadores que os pais. A pesquisa realizada desenhou o perfil de
23 milhões de jovens da classe popular e descobriu que a educação está em primeiro plano
para estes jovens, o que aumenta a chance de a próxima geração mudar a cara do país.
Sobre a educação, os indicadores revelam que, até o ano de 2010, cerca de 95% da
população de Santa Maria era alfabetizada, com crescimento anual de 3,5% ao ano. O
município, por abrigar a Universidade Federal (UFSM), figura no ranking do RS com as
maiores taxas de alfabetização e escolarização, estando em 5º lugar. Santa Maria ainda
conta com a 4ª melhor distribuição de renda do estado14.
Cerca de 2.200 professores compõem a rede pública municipal e estadual de ensino,
contemplando 43 mil alunos; apenas 13 mil estudantes são de escolas particulares e, para
estes, há 750 professores. Em 2012, o Ministério da Educação 15 liberou ao município
programas de inclusão educacional, como cursos de educação continuada. O programa
13
Jovens da classe C têm maior escolaridade, conexão à internet e são menos conservadores. Disponível em
<http://oglobo.globo.com/economia/jovens-da-classe-tem-maior-escolaridade-conexao-internet-sao-menos-
conservadores-8195394>
14
Santa Maria em Dados. Disponível em < http://santamariaemdados.com.br/6-educacao/6-1-instituicoes-de-
ensino-inicial-fundamental-e-medio/>
15
Secretaria de município da educação – Santa Maria. Disponível em
<http://www.santamaria.rs.gov.br/smed/>
50
16
No Município de Santa Maria/RS, a Secretaria Municipal de Educação tem investido em ações voltadas
para a inclusão social, em que as escolas estão organizando-se e adaptando-se em sua estrutura física e
organizacional para satisfazer as necessidades permanentes ou temporárias apresentadas pelos alunos.
51
17
Disponível em <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2010/01/21/cadunico>
18
Más compromiso por la equidad. Disponível em
<http://www.dps.gov.co/Ingreso_Social/FamiliasenAccion.aspx>
52
Colômbia, onde os estudantes devem frequentar 80% da carga horária e, caso interrompam
os estudos por dois anos, o benefício é estendido até os 20 anos de idade.
O intuito maior destes programas de transferência direta de renda é combater a
fome e, com isso, proporcionar melhores condições de saúde e educação para os menos
favorecidos. Conforme o Portal Brasil19 do governo federal, são 18 milhões de estudantes
de até 17 anos no país pertencentes ao BF. No Ensino Médio, a taxa de aprovação dos
beneficiários é de 79,9%, enquanto a média nacional é de 75,2%. Já a taxa de abandono é
de 7,1% entre os beneficiários do programa, ante 10,8% da média nacional.
A pesquisadora e Assistente Social Mônica Colares coletou informações e
resultados desde o início dos primeiros programas assistenciais que datam da década de 90.
Hoje, depois de tantas elaborações, cadastros e unificações, o grande desafio passa ser a
verificação efetiva da mudança estrutural no país, sem apenas quantificar dados
estatísticos. Uma reestruturação nas formas avaliativas e um maior controle social
poderiam dimensionar os verdadeiros benefícios ou falhas de um sistema de transmissão de
renda direta ( 2010, p.10-12).
Economia, bens e serviços começaram a circular nas mãos dos pobres. Segundo
Salatiel (2013)20, o programa não evolui, permanece como uma fonte de renda contínua já
que a família, depois de inscrita, não tem validade para o término do benefício. A resposta
do governo a essas e outros questões já colocadas anteriormente talvez tenha sido
respondida em maio de 2013, dez anos depois de sua criação. Voluntariamente, quase dois
milhões de famílias declararam receber mais que o permitido pelo programa e
abandonaram-no. Estes dados21 representam 12% de todos os incluídos desde 2003.
A necessidade de trabalhar em políticas públicas em rede para jovens é um dos
assuntos que vêm sendo debatidos e construídos na última década no país, tendo como
foco atenuar a desigualdade social, diminuindo as hierarquias sociais na melhoria da
educação e da qualificação profissional. Muitas pesquisas apontam indicadores sobre o
avanço na educação, na inserção do mercado de trabalho e na melhoria das condições de
19
Beneficiários do Bolsa Família têm frequência maior acima da média, disponível em
<http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2013/07/29/beneficiarios-do-bolsa-familia-tem-frequencia-
escolar-acima-da-media>
20
Bolsa Família, os direitos e os defeitos. Disponível em <http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-
disciplinas/atualidades/bolsa-familia-o-direito-e-os-defeitos.htm>
21
Milhões de beneficiários abandonam o Bolsa-Família voluntariamente. Disponível em
<http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/familias-abandonam-bolsa-familia.html>
53
22
Apensar de avanços, a educação ainda trava desenvolvimento no Brasil. Disponível em
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/07/130722_idh_municipios_pai.shtml>
23
Com Bolsa Família, alunos do Norte e Nordeste têm aprovação maior que a média. Disponível em
<http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/05/16/no-e-ne-com-bolsa-familia-alunos-tem-aprovacao-maior-
que-media-do-pais.htm>
54
escolar dos estudantes beneficiários do Bolsa Família diminuiu, mas o Ensino Fundamental
apresentou pioras.
Conforme o sociólogo Caio Barbosa 24, no contexto das escolas públicas, proliferam
demonstrações eróticas, agressões de alunos contra professores, brigas entre gangues e
preconceito, ao mesmo tempo em que escolas são fechadas devido à péssima
infraestrutura. Vendo a necessidade de melhorar a qualidade da educação, o
pronunciamento da Presidente Dilma Rousseff (21/06/2013), além de incluir respostas
sobre a mobilização nacional feita pelos jovens sobre o aumento das tarifas dos ônibus,
repercutiu ainda sobre a decisão que destina 100% dos royalties do pré-sal para a
educação. Posteriormente ao discurso da Presidente, a Câmara dos Deputados25 aprovou
(14/08/2013) apenas 75% dos recursos para a educação e o restante para a área da saúde.
Mesmo com a proposta da reforma brasileira, outros pontos ainda precisam ser
revistos como o desemprego juvenil, a drogadição, a má qualidade de vida e ainda assuntos
que envolvam o sistema carcerário juvenil. O tráfico e uso de drogas entre os jovens
continua sendo um problema nacional, tendo como consequência o abandono da escola.
Em uma década, o número de jovens traficantes aumentou consideravelmente de 5% para
39%26 só no estado de São Paulo. O alcoolismo também é fator de preocupação social,
uma vez que cerca de meio milhão de adolescentes já sofrem com doenças relacionadas ao
álcool. Os dados são ainda mais alarmantes, porque o levantamento do Centro Brasileiro
de Informações sobre drogas psicotrópicas 27, que envolveu estudantes do Ensino
Fundamental e Médio da Rede Pública, mostrou que a idade de início do consumo fica em
torno dos 12 anos.
24
Enquanto o país ocupa o penúltimo lugar em ranking de educação, disseminam-se funk e violência em
salas de aula. Disponível em <http://www.folhapolitica.org/2013/05/enquanto-o-pais-ocupa-o-penultimo-
lugar.html>
25
Divergência sobre o uso do Fundo Social será resolvida a longo prazo com novo projeto de Lei. Disponível
em <http://noticias.r7.com/brasil/aprovado-projeto-que-destina-75-dos-royalties-do-petroleo-para-educacao-
e-25-para-saude-14082013>
26
Número de jovens no tráfico de drogas triplica em dez anos. Disponível em
<http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/numero-de-jovens-no-trafico-de-drogas-triplica-em-10-anos>
27
Beba com moderação. Disponível em <http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/40/artigo42605-
1.asp/>
55
28
Orlando Morando parabeniza professores. Disponível em
<http://www.orlandomorando.com.br/?noticia=253>
29
ALPB derruba veto e proíbe celular em escolas, disponível em <http://www.al.pb.gov.br/3263>
30
Projeto de Lei proíbe uso de celulares em sala de aula. Disponível em
<http://www.al.ms.gov.br/Default.aspx?tabid=185&ItemId=22581>
56
Bahia, o deputado Adolfo Menezes 31, através do projeto de Lei 16.819/2007, proíbe o uso
de celular, jogos eletrônicos, aparelhos de MP3 e MP4 no horário de aula. Também no ano
de 2007, os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Goiás e Espírito
Santo sancionaram projetos de leis que proíbem o uso do celular nas escolas.
Já no Ceará, a situação parece ser um pouco diferente do resto do país. O deputado
Professor Theodoro (2011) elaborou o projeto que apoia o uso disciplinar em sala de aula
para celulares e tablets. O político foi inspirado pelo projeto de rede pública de Fortaleza,
Telinha na Escola, coordenado pela professora Terezinha de Souza 32. A organizadora do
projeto elenca as atividades que podem ser feitas via celular: vídeos de bolso,
documentários, programas de áudio, Festival de microtextos, além de transferir conteúdos
via Bluetooth.
Moraes (2008) comenta que a coerção sem folga, quase em um nível mecânico –
movimentos, gestos, atitude, rapidez, vela os processos da atividade reflexiva e
“esquadrinha” o tempo, o espaço e os movimentos. A partir dos séculos XVII e XVIII,
essas formas de dominação ficaram claras, pois a utilidade do corpo é definida como
anatomia política ou mecânica do poder e tem na disciplina o aumento das forças do corpo.
A vigilância sobre o uso do celular em aula não ocorre todo o instante, mas é
sentida permanentemente. Para Moraes, “o indivíduo constantemente vigiado aprende a
vigiar a si mesmo, internaliza as relações de poder, aprende a disciplinar seu corpo e sua
forma de vida, tornando-se, assim, o seu próprio guardião” (MORAES, 2008, p. 62).
Ser pego usando um celular em sala de aula é visto como mau comportamento, e
punições como suspensão, chegando à expulsão da escola, são atitudes hierarquizadas que
classificam os comportamentos dos alunos em “bons” e “maus”. Negligenciando a
potencialidade dos celulares como ferramenta educacional e sem políticas públicas capazes
de atender à demanda de usuários em seus diversos contextos sociais, políticos, deputados
e governadores de diversos estados do país, através de projetos de leis, sancionaram a
proibição do uso do aparelho em sala de aula a partir do ano de 2007.
31
Com projetos inconstitucionais, Assembleia Legislativa vira máquina de projetoides. Disponível em
<http://www.metro1.com.br/com-projetos-inconstitucionais-assembleia-legislativa-vira-maquina-de-
projetoides-10-37632,noticia.html>
32
Tecnologia na sala de aula. Disponível em < http://professorteodoro.com.br/tecnologia-na-sala-de-aula-2/>
57
àqueles que chegam mais longe tem direito a um capital econômico maior, com maiores
privilégios, uma posição social melhor.
Não havendo controle sobre a entrada dos aparelhos na escola, a estratégia dos
professores atualmente é solicitar o desligamento dos aparelhos durante a aula, mas isto
nem sempre acontece. A observação etnográfica desta pesquisa revelou que os professores
têm grande dificuldade em disciplinar o uso do aparelho em sala de aula.
60
Em poucas décadas, o processo social que permeava a sociedade, que antes se dava
no âmbito local e nacional, passou a ser de integração global, não podendo ser
negligenciado pelos que, na área acadêmica, analisavam as transformações sociais e
políticas separadamente do curso histórico que seguia a humanidade. Considera-se certo
dizer que as sociedades sempre viveram em desacordos ou disputas por questões pontuais
como o domínio econômico. Hoje, os desacordos e as disputas têm outra ênfase, a rede
online, a Internet, as redes sociais, os fóruns de discussões, a mobilização das massas que
começa através de um e-mail, de um SMS, de uma mensagem de voz. À margem de
mudanças, a inserção política e social dos atores sociais perpassa a rede online.
Mesmo revelando muitas debilidades, próprias da era digital, a necessidade de
abordar novas temáticas e disciplinas transformou-se em tema de estudo, reflexão e
polêmica entre os estudiosos contemporâneos. Sociedade da informação (WERTHEIN,
2000), sociedade em rede (CASTELLS, 2011), sociedade do sonho (ROCHA, 2005),
sociedade de consumo (BAUDRILLARD, 2008), sociologia da globalização (SASSEN,
2010), aldeia global (MCLUHAN, 1972), mundialização (ORTIZ, 1996), modernidade
líquida (BAUMAN, 2004) são apenas alguns termos que entram na arena das análises para
abordar as novas experiências do mercado econômico, das migrações populacionais e dos
fluxos de capitais.
São pertinentes os debates a partir da integração econômica, social e política
mundial, embora as assimetrias que tal processo engloba contornem estruturas
epistemológicas. Muitos autores, de ambas as vertentes, conservam percepções e, às vezes,
contradições, em delimitar a área do conhecimento no que diz respeito à globalização,
como profere Ortiz:
O mundo das últimas décadas transformou-se radicalmente, e cabe a nós,
intelectuais, procurar decifrá-lo, mesmo sabendo de nossa condição fragilizada
61
em relação a esse quadro tão abrangente. No entanto, se por um lado falta uma
tradição acadêmica, que trabalhe de maneira aprofundada o movimento da
globalização, por outro, os indícios de seu avanço são inegáveis. Vemos seus
sinais na mídia, na economia e, até mesmo, na política (ORTIZ, 1996, p. 07).
33
Panorama Social da América Latina. Nações Unidas e CEPAL. Disponível em
<http://www.eclac.cl/publicaciones/xml/2/48452/PanoramaSocial2012DocIPOR.pdf>
63
É, então, quando os meios são desviados de sua função política, que o dispositivo
econômico se apodera deles – porque os Estados mantêm a retórica do ’serviço
social’ das transmissões, tão retórica quanto a ’função social’ da propriedade,
mas cedem aos interesses privados a tarefa de dirigir a educação e a cultura – e a
ideologia se torna agora sim informadora de um discurso de massa, que tem
como função fazer os pobres sonharem o mesmo sonho que os ricos (MARTÍN-
BARBERO, 2003, p. 243).
Se, antes, a realidade dos meios massivos pendia para a relação entre o social e o
político, agora, a realidade dos meios volta-se para o consumo, pois “as ações se desviam
do seu curso, derivam, invertem seu sentido, provocam reações e contra-ações que as
submergem” (MORIN, 2010, p. 16). O progresso da técnica, agora, versa sobre a
64
O consumo promete transformação de vida, pois, o que antes era impossível de ser
adquirido (sonho), está ao alcance de todos. O Relatório de Tendências36 para o consumo
na América Latina aponta indicadores para a conexão dos consumidores na “arena do
consumo global”, pois a tomada de posse de novos bens simbólicos significa estar em dia
com o que a globalização tende a oferecer.
A explosão da oferta de produtos no mercado do consumo latino-americano antes
era restrita a bens de baixa qualidade e preços altos, mas, com a globalização e políticas
governamentais do livre comércio, a América Latina é “contemplada” com uma oferta
maior de produtos estrangeiros com preços reduzidos. Eles são resultado da diminuição de
imposto cobrado sobre a mercadoria, assim, os latino-americanos têm “a maior proporção
de consumidores dispostos a pagar mais por novos produtos (56%), o dobro da Europa
(onde apenas 28% pagariam)”. A atualização em estar em dia com o novo propiciado pelo
consumo não é apenas fonte de desejo, mas, sim, de distinção perante o outro, ou o grupo.
Na América Latina, “80% dos consumidores apreciam os fabricantes que lançam
novas opções de produtos” (TREND REPORT, 2013). Seguindo o Relatório de
Tendências, o cenário do consumo latino-americano tem sido controlado e regulado, a
flexibilidade de melhor escolha ganha lugar frente às tarifas elevadas, planos fixos e
concorrência limitada, vindo reafirmar a compreensão de Canclini (1996) sobre o consumo
e sua racionalidade econômica.
O modo como se planifica a distribuição dos bens depende das grandes estruturas
de administração do capital. Ao se organizar para prover alimento, habitação,
transporte e diversão aos membros de uma sociedade, o sistema econômico
’pensa’ como reproduzir a força de trabalho e aumentar a lucratividade dos
produtos (CANCLINI, 1996, p. 53).
36
Trend Report América do Sul e Central, disponível em
<http://www.trendwatchingreports.com/regionalreports/assets/pdf/sca_sample_pt.pdf>
67
37
Origens e desafios da nova classe média brasileira, disponível em
<http://www.sae.gov.br/novaclassemedia/?page_id=58>
38
Desequilíbrio de importações e exportações do Brasil preocupa. Disponível em
<http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/05/desequilibrio-entre-importacoes-e-exportacoes-do-
brasil-preocupa.html>
68
39
Smartphone ficará 30% mais barato. Disponível em <http://www.mc.gov.br/sala-de-imprensa/todas-as-
noticias/institucionais/26679-smartphone-ficara-ate-30-mais-barato>
40
Estatística de celulares no Brasil, disponível em <http://www.teleco.com.br/ncel.asp>
41
Disponível em <http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/03/mercado-de-smartphones-no-brasil-
tem-crescimento-de-84.html>
69
Não se sabe ao certo qual foi o primeiro estudo sobre o telefone desde a invenção
de Graham Bell, mas destaca-se o livro The Social Impact of the Telephone (1977) do
entusiasta das novas tecnologias Ithiel de Sola Pool. De acordo com Sola Pool, o telefone
passou a ser usado para diversos fins como trabalho, negócios e urgências. Inicialmente
apenas a classe abastada era portadora de telefones, e foi uma marca no processo de
urbanização das cidades, gerando desemprego em categorias como mensageiros,
transmissores e telegrafistas.
42
Disponível em <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/classe-c-baixa-aplicativos-tanto-quanto-
classe-a-revela-pesquisa>
70
varia desde contracepção até morte. Com a facilidade da convergência de texto, imagem e
foto, as mensagens podem ser de poemas, músicas preferidas ou segredos íntimos. Desde a
popularização do SMS, a preocupação que retumbou na mídia finlandesa foi a expressão
escrita dos adolescentes, que geralmente encurtavam palavras ou escreviam as orações com
todas as letras maiúsculas e/ou minúsculas. Essas práticas refletem a cultura juvenil não só
da Finlândia, mas de indivíduos que ocupam a mesma posição geracional em todas as
partes do mundo (KASESNIEMI; RAUTIAINEN, pg. 170-191).
Ao questionar se o celular seria um instrumento de comunicação, a pesquisadora
italiana Fortunati (2002) argumenta que o celular, apesar de sua aparência moderna, é de
difícil comunicação em espaços públicos, onde as pessoas acabam por buscar um lugar
calmo para poder transmitir a voz, frustrando muitas vezes o usuário. Para a autora, o
instrumento não é adequado para a comunicação e sim para a troca rápida de informações.
Verificamos aí o surgimento do mercado dos aplicativos móveis, redes sociais para o
celular e compartilhamento de textos, fotos e sons. Para Fortunati, a troca de informações
pelo celular é um estilo de vida urbano e altamente móvel, embora a mobilidade tenha um
curto alcance, pois as pessoas geralmente estão ligadas ao grupo de amigos e familiares.
A autora italiana destaca que o telefone celular é a tecnologia que mais está perto
do nosso corpo, pois “se o walkman veste a orelha, o móvel envolve não somente a orelha,
mas também a boca e voz que emerge de dentro do núcleo íntimo do corpo, e está ligado
diretamente com a própria sexualidade” (FORTUNATI, 2002, p. 48). Na verdade, o celular
parece estar contribuindo para dissolver a separação tradicional de intimidade e estranho e
público e privado.
Pesquisando o impacto das tecnologias móveis desde 2004, a socióloga espanhola
Amparo Lasén (2004) tem mais de vinte artigos publicados em diversos países sobre a
importância dos celulares e suas relações afetivas (principalmente com jovens) que
medeiam a expressão e a troca de sentimentos e emoções. Em 2005, foi editora do livro
“Understanding mobile phone users and usage” em parceria com o grupo Vodafone e a
Universidade de Surrey, na Inglaterra. O estudo etnográfico realizado em Paris, Londres e
Madrid teve o intuito de revelar as implicações afetivas que os usuários desenvolviam
pelos celulares. Lasén revelou que os celulares, por serem uma extensão do corpo humano,
tornaram-se tecnologias da intimidade, sendo possível compartilhar sentimentos de amor,
73
raiva, afeição, etc., com outros usuários; também funciona como um aparato que ajuda a
organizar a vida das pessoas no trabalho e tarefas domésticas.
A interação afetiva, segundo a socióloga, pode ocorrer em diferentes momentos: de
usuário para outro usuário numa relação dupla, de usuário para outros usuários como um
grupo, e de usuário para ele mesmo em uma relação única com o aparelho (LASÉN, 2005,
p. 120-125). Assim, as relações humanas perpassam o telefone em trocas de informação,
conhecimento, sentimento. Um dos resultados do estudo antropológico deste livro é que as
pessoas estão expressando suas emoções mais livremente, assim, amor e raiva, conquistas
e perdas são constantes nestas relações com o telefone e seus conteúdos gerados para as
redes sociais online. Além das afetividades, é possível destacar a prática e adoção desta
tecnologia gerando competências e hábitos, procedimentos incorporados pelo uso contínuo
do celular.
A constante ligação do celular com o corpo também revela habilidades e
capacidades da utilização deste objeto criando muitas vezes práticas repetidas em padrões
de uso: posturas, gestos, hábitos. Para Lasén, não são apenas as superfícies em que operam
estas inscrições, “é o resultado de práticas repetidas que causam ação. São codificados da
memória corporal, resultado, portanto abstrato em colaboração com a singularidade do
contexto e os diferentes elementos culturais” (2006, p. 166).
Rich Ling (2004) observou que, dentro da cultura jovem, punks, roqueiros, atletas,
entre outros grupos, para ele, o estilo do vestuário aliado a outros artefatos, como o celular,
era um objeto comum de todos os grupos. Com o passar do tempo, este artefato torna-se
um acessório de moda para todas as tribos. Segundo o autor, o telefone móvel tem
habilidades para romper com a estrutura das interações sociais em vários níveis (LING,
2004, p. 106-107).
Castells (2007) acredita que a difusão da comunicação móvel possibilita o aumento
da extensão do espaço de fluxos de informação na nossa vida cotidiana, porque o indivíduo
constrói uma rede que muda continuamente no espaço social. Ao pesquisar África, Ásia e
América Latina, o autor espanhol constatou a onipresença dos celulares pela população em
desenvolvimento econômico. No estudo de caso chileno, em 2002, apenas um terço da
população tinha aparelho móvel. Os locais mais acessados pelo celular são públicos, em
transportes, e no tempo de espera de alguns serviços. A família chilena com dois ou mais
74
generalizado. Para Horst e Miller, ainda é cedo para dizer se há danos ou favorecimentos
em relação à educação e o uso do celular (2006, p. 145-151).
Ao investigar as “ligações” religiosas que permeiam os jamaicanos, os
antropólogos descobriram o celular como uma benção para alguns e satanismo para outros.
Falar ao telefone com um vizinho ou membro da comunidade religiosa é sinal de
respeitabilidade, de avanço, desenvolvimento da comunicação e evangelização.
A pesquisadora Sandra Rubia da Silva (2010), ao analisar as apropriações do
celular ligadas à religião, em um bairro de camada popular de Santa Catarina (Brasil),
constatou que o uso, em alguns casos, aumenta a expressão da religiosidade. Ao se
aproximar de um casal de evangélicos, pôde constatar que o celular era visto como uma
benção recebida de Deus, pois, para uma de suas entrevistadas na pesquisa etnográfica, o
“celular é um presente de Deus” (p. 378). Como a autora afirma, ainda são escassos os
estudos sobre a ligação do telefone celular à religião, uma vez que este tem servido de
instrumento para envio de mensagens por pastores e padres, encontros em terreiros
umbandistas e correntes de oração.
Ao estudar o comportamento dos agentes relacionados ao uso e às práticas do
celular, parte-se para o trabalho etnográfico do consumo de celulares inspirado em
investigações de Silva (2010), Ling (2004), Katz e Aakhus (2002), Horst e Miller (2006)
para compreender a inserção incisiva do telefone móvel no cotidiano dos indivíduos,
principalmente dos jovens. Para Silva (2010), “a afirmação do celular como artefato-
símbolo da contemporaneidade implica em refletir mais detidamente sobre o caráter
simbólico dos bens e das atividades de consumo” (SILVA, 2010, p. 52).
A similaridade sobre as pesquisas etnográficas relacionadas ao celular versa sobre
os usos e as práticas deste bem relacionado à família, escola e amigos. Transformações da
linguagem, performances da masculinidade, conflitos entre o público e o privado também
merecem destaque nas pesquisas já realizadas.
A pesquisa etnográfica relacionada ao telefone celular revela a diversidade, a
pluralidade e a imprevisibilidade com que o pesquisador se depara diante das múltiplas
realidades que podem ser vivenciadas com este objeto. As novas tecnologias destes
aparatos tecnológicos (smartphone, iPod, tablet, etc.) causam impactos sociais entre os
consumidores (jovens ou não). O acesso a essas novas tecnologias digitais vem sendo
77
destaque pelas classes populares, que, na escassez de recursos financeiros, buscam, através
da apropriação do celular, um meio para se comunicar com os demais por meio de pacotes
de internet barateados pelas operadoras de serviços de telefonia móvel.
Assim, as relações sociais a partir do telefone móvel tornam-se revigoradas pelo
acesso à Internet, e novas formas de sociabilidade são possíveis. Destaca-se o público
jovem para esta pesquisa pela intensidade com que essas relações são criadas, e busca-se
no espaço escolar um pano de fundo para a observação desse novo cenário das relações
entre agente x celular.
Nessa trajetória histórica (recente e abrangente) do telefone celular, muitas práticas
e usos disseminaram-se e reinventaram-se; mas pouco se tem discutido entre os
intelectuais. Se a academia renegou, até pouco tempo, a importância das investigações
sobre o celular, os produtores e consumidores não deixaram o aparelho sair de circulação.
Pode-se desenhar um quadro amplo da inserção dos telefones celulares em diversas áreas
da sociedade do consumo: literatura, filmes, novelas, fotografias, revistas especializadas,
redes sociais, blogs, moda, entre outros. A telefonia móvel, advinda da telefonia fixa, foi
capaz de fomentar uma gama de trabalhadores como desenvolvedores de softwares, design,
operadoras de telefonia, vendedores e fabricantes. O mercado global fatura anualmente
com a venda de telefones cerca de 250 milhões de dólares.
Relacionar e fazer referências no decorrer do caminho teórico ajuda na construção
de novas interpretações, soluções para os problemas levantados e, para alguns, a trilha para
cumprir os objetivos. O estado da arte que compõe essa investigação busca trabalhos
relevantes com a temática da telefonia móvel e suas potencialidades para a comunicação e
a distinção social. O posicionamento é de criticidade necessária frente a alguns trabalhos, e
atenção no desenvolvimento de outros para optar pelo caminho de respostas elucidativas
para a problemática em questão.
Nesse conjunto de investigação cultural e científica, o aprofundamento na busca por
trabalhos relacionados ao tema “celular” foi se revelando precário. Muitos trabalhos
deixam de lado o esmero teórico e interpretativo, resultando em rasas verificações e falhas
no cumprimento dos objetivos, derivando conclusões pouco sólidas. Acredita-se que o
celular era considerado um objeto de pouco interesse acadêmico, diferente de agora. As
investigações acadêmicas dos últimos dez anos apresentam-se pouco estruturadas e são
78
Mas para que, de fato, ocorra, como aponta a autora acima, uma relação social,
afetiva, imaginária entre o celular e o ator, é necessária a prática do consumo
(simbólico/material). Na dinâmica do consumo, tendem a prevalecer as inovações
tecnológicas e o desejo de aparelhos cada vez mais funcionais, como apresenta a
dissertação “Consumo de telefone celular: significados e influências na vida cotidiana dos
adolescentes” (LUIZ, 2008). Ao longo da dissertação, pode-se fazer, em alguns momentos,
a atualização de referências sobre dados estatísticos relacionados ao Brasil, incorporando,
muitas vezes, o contexto global e latino-americano que o autor propôs há cinco anos. A
pesquisa feita por Luiz (2008), com 40 adolescentes, teve como resultado as variações dos
fatores sociais, psicológicos e econômicos tanto na aquisição quanto na troca do aparelho e
servirá de contribuição neste trabalho.
A prioridade em pautar trabalhos de investigação empírica (SILVA, 2010; SOUZA
e SILVA, 2004; LUIZ, 2008) é a tentativa de correlacionar as relações sociais pesquisadas
e entender, a partir da interpretação teórico-empírica, percepções da sociedade atual. Para
tanto, trabalhos comprometidos com a atividade intelectual e de relevância poderão ser
citados ao longo da dissertação.
Entende-se que o celular é um objeto que propicia a comunicação escrita e falada
neste contexto, e a comunicação no aparelho processa-se pelas redes sociais. Como
necessidade de agrupar o objeto à forma de conteúdo gerada, faz-se necessário entender as
redes como lugares onde culminam os processos de lutas simbólicas.
Cerca de vinte trabalhos, incluindo teses e dissertações, aparecem nas buscas
relacionadas entre redes sociais e telefone celular. São trabalhos recentes que datam desde
2007, ano em que o iPhone foi lançado pela Apple e as revoluções no aparelho convergiam
para múltiplas funcionalidades, incluindo o uso das redes sociais. Neste mesmo ano, o
crescimento de usuários da rede Facebook aumentava à medida que o Orkut perdia
usuários, não sendo mais a principal rede social do país. Hoje, são milhares de redes que se
adaptam ao público cada vez mais segmentado. A fim de aproximar os jovens, o telefone
celular e a classe popular, optou-se por delimitar os trabalhos que contemplassem o
Facebook, por ser a rede social mais popular e unânime entre o uso dos jovens.
A dissertação “Facebook: negociação de identidades, medo de se expor e
subjetividade”, de Gilberto Artur Marra e Rosa (2012), trata de elaborar traços identitários
80
dos jovens a partir da construção do perfil. Partindo de três perspectivas (aproximação dos
caracteres identitários, exercício da construção de si mesmo a partir de dispositivos móveis
e simulação das identidades) centrais na pesquisa, o autor tenta elucidar os processos de
negociação das identidades, considerando suas ideologias, narrativas e afetividades. Dez
entrevistas semiestruturadas com jovens usuários do Facebook apresentam significados e
sentidos subjetivos na exploração do tipo de uso relacionado à rede. Como resultado de
interesse da dissertação, o autor aponta que o Facebook é um lugar de conformação ou não
de desejos e valores da vida real. Utilizar-se-ão as contribuições desta dissertação na
perspectiva do consumo como objetivação de desejos.
Para investigar a sociabilidade juvenil na internet, José Reinaldo Oliveira (2012)
dissertou em “Juventude e Ciberespaço: implicações do uso da internet na constituição da
sociabilidade juvenil” sobre a ressignificação das relações sociais de dez jovens de escola
privada de Brasília. A partir de entrevista semiestruturada e análise de perfil, foi possível
descobrir que uma das principais ações nas redes é o encontro com o Outro, aproveitando o
tempo ocioso (p.50). Os jovens, na pesquisa em questão, enxergam a interação online
como um processo natural e descompromissado, sem potencialidade para interações de
cunho crítico ou político. Tratando-se de jovens de classe alta, o trabalho serve como
discussão a fim de verificar entre os jovens de classe popular interações e relações
semelhantes, embora sejam de classes distintas.
Mesmo de área distinta da comunicação, a dissertação para o Programa de Pós-
Graduação em Administração, denominada “Redes sociais na internet: a influência da
recomendação online na intenção de consumo” traz dados relevantes e reveladores na
intenção de compra de produtos oferecidos em propagandas nas redes sociais. Partindo de
um survey com 400 entrevistados, Netto (2012) aponta que 33% dos usuários do Facebook
apresentam uma relação direta e isolada na intenção de consumo. Assim, busca-se
identificar qualitativamente em que medida os jovens de classe popular, através das redes
móveis, participam do processo do consumo online.
Para complementar o quadro de referências em que foi possível correlacionar
trabalhos acadêmicos produzidos no Brasil nos últimos cinco anos referentes a
sociabilidade, consumo, identidade, não seria possível deixar de mencionar “Cibercultura,
juventude e alteridade: aprendendo-ensinando com o Outro no Facebook”. Couto Júnior
81
Nos últimos anos, vimos celulares se tornarem cada vez mais fundamentais nas
estratégias de lançamento de filmes comerciais em todo o mundo; como filmes
amadores e profissionais produzidos em celulares competiram por prêmios em
festivais de cinema internacionais... Foi uma poderosa demonstração de como os
celulares se tornaram fundamentais no processo de convergência das mídias
(JENKINS, 2008, pg. 31).
45
É uma família de algoritmos de análise de rede que dá pesos numéricos a cada elemento de uma coleção de
documentos hiperligados, como as páginas da internet, com o propósito de medir a sua importância nesse
grupo por meio de um motor de busca. O algoritmo pode ser aplicado a qualquer coleção de objetos com
ligações recíprocas e referências. O processo foi patenteado pela Universidade de Stanford, nos Estados
Unidos da América, sob o número 6.285.999. Somente o nome PageRank™ é uma marca
registrada do Google.
46
Tradução: EmergingAppCulture – disponível em
<http://www.ericsson.com/res/docs/2012/ericsson_emerging_app_culture.pdf>
83
47
Disponível <http://www.aorta.com.br/>. Empresa brasileira que atua no mercado de desenvolvimento de
aplicativos desde 2007. Possui mais de 100 profissionais e escritórios em São Paulo e Minas Gerais.
48
Sistema operacional móvel desenvolvido para usuários da Apple.
49
Sistema operacional móvel desenvolvido pelo Google.
84
downloads de apps gratuitos por motivo de rotatividade, neste caso, as apps são adotadas
pelo usuário por uma necessidade momentânea, sendo rapidamente substituídas por outras.
As redes sociais no celular estão sendo fundamentais na organização da vida cotidiana, e o
alto crescimento do mercado de apps irá evoluir na sociedade em rede, onde os
consumidores demandam uma escolha por aplicativos cada vez mais segmentados.
85
o Twitter. A interatividade com o aparelho como fotos, músicas e SMS também serviram
de suporte para se adentrar na elaboração do segundo questionário online, este mais
aprofundado.
O questionário online foi disponibilizado através do software Enuvo da empresa
Online Pesquisa50, com quarenta e cinco questões pertinentes ao celular e sobre como os
usuários, através dele, revelavam distinções sociais, condições de classe e relação com a
mídia. Ao todo foram 204 respondentes de quatro estados brasileiros, com faixa etária de
15 a 24 anos. Os informantes estudam em escolas particulares, públicas, cursos técnicos e
universitários. O questionário online foi aplicado no primeiro semestre de 2013, em dois
momentos distintos: no primeiro, com a variação de respondentes e no segundo momento,
apenas com alunos da amostra da pesquisa.
No primeiro estudo exploratório, ainda consta a pesquisa em acervo digital e
particular das revistas Veja e Superinteressante, respectivamente. Edições da década de
1990 da revista Veja foram analisadas a fim de verificar a inserção da publicidade da
tecnologia móvel no Brasil e como esta iniciou. A partir dos anos 2000, o levantamento da
revista Superinteressante, através do acervo particular de uma historiadora, revela a
mudança da publicidade e o público-alvo. O jovem é o centro das publicidades e estes
aparecem cada vez mais conectados e interagindo com a mobilidade.
No estudo I, apresentou-se um cruzamento de informações e percepções que foram
capazes de mostrar um universo desconhecido de tramas cotidianas, relações individuais e
apropriações simbólicas.
50
https://www.onlinepesquisa.com/
87
aproximação com espaço escolar para compreender como os jovens estavam fazendo uso
do aparelho.
51
As cidades do Rio Grande do Sul foram Santa Maria, Porto Alegre, São Borja, Santana do Livramento,
Santiago, Cachoeira do Sul, Itaara, Três de Maio, Nova Palma, Santa Cruz do Sul, Santa Rosa, Uruguaiana,
Frederico Westphalen, Gravataí, Tapera, Vila Gaúcha e Palmitinho. De SP foram São Paulo e Osasco;
Paraná: Toledo; Alagoas: Maceió; Santa Catarina: Tubarão; Espírito Santo: Vila Velha.
52
Destacam-se as seguintes profissões no mercado informal de trabalho, no questionário online: mecânico,
vendedor autônomo, auxiliar de cozinha, doméstica, faxineira, diarista, técnico em eletrônica, promotor de
vendas, representante comercial, autônomo, auxiliar de idoso, pedreiro, estoquista, produtor rural, oleiro,
músico, massagista, taxista, representante comercial, chaveiro, artesão, motorista, vidraceiro, mestre de
obras, pastor, pedreiro e cabeleireira.
89
aparelho foi apontado por muitos como a manutenção de contatos entre trabalhadores e
empregadores. Dos entrevistados, 68% possuem Internet Wi-fi ou 3G disponível no
aparelho.
Sim, O celular facilita tudo hoje em dia, desde pagar contas em banco ou pra
saber sobre o mundo. E a partir disso ele abre um leque de opções para o
trabalho em todas as áreas de atuação profissional. (Universitário, 23 anos)
Verifica-se, nos depoimentos, uma identidade de “classe” que não passa pela
consciência de classe, mas pelo estar junto entre iguais porque, afinal, o capital social dos
jovens que se amplia no telefone móvel e pelas redes sociais não ultrapassa os limites de
sua classe. Daí a defesa do argumento do isolamento, isolamento do grupo em relação a
outros e isolamento no interior do grupo na medida em que a noção de pertencimento se
baseia em subjetividades e, como tal, em partilhar aspectos individuais e emotivos da vida
privada assim como partilhar uma vaga noção de estilo de vida (RONSINI; DUTRA,
2013). Sobre os usos frequentes no aparelho, realizar chamada ainda é a funcionalidade
principal, ficando atrás do envio de torpedos.
Palavras como “amor, paixão, amor, vida, velho, novo, tudo, aparência” foram
encontradas nas respostas ao descrever o que o celular significava na vida dos estudantes.
Como o torpedo aparece como a segunda funcionalidade mais utilizada, questionou-se para
quem e quais os conteúdos dos SMS53 enviados.
53
Planos das operadoras ativas no país como a TIM, VIVO, OI e Claro proporcionam pacotes de envio de SMS para os
usuários por um preço reduzido, geralmente incluso nas recargas. O gasto mensal na compra de créditos para o celular
ficou em torno de R$10,00 a R$30,00/mês.
91
expressiva do Eu e do grupo restrito de pares. O estilo de vida cultural dos jovens está
baseado em experiências afetivas e personalistas e colabora para a perda da consciência do
lugar ocupado na hierarquia social. Vale dizer, uma cultura do consumo contribui para a
desimportância simbólica de classe, mas não para a desimportância da categoria como
determinante no modo de vida (RONSINI; DUTRA, 2013). Por isso mesmo, tal cultura
celebra o bem-estar, o conforto, a saúde, a beleza, a juventude, o equilíbrio, a mobilidade, a
velocidade, a liberdade, a diferença, a igualdade e uma série de outros valores que estão
menos ligados à disputa por poder e distinção, que à elaboração de si, a constituição da
personalidade, à experiência individual e psicológica.
Houve um tempo na história em que não havia telefone celular, as pessoas viajavam
em transportes conduzidos por animais e as cartas eram o único meio de comunicação para
quem morava longe. Nessa época, não muito distante da história, dois homens arriscariam
seus conhecimentos para que a comunicação, uma necessidade humana, se tornasse mais
veloz e eficiente. Foi quando, em 1876, Alexandre Graham Bell e seu assistente Thomas
Watson fizeram a primeira ligação telefônica. Doze anos mais tarde, o físico alemão
Heinrich Hertz descobriria as ondas eletromagnéticas tornando possível ao laboratório Bell
avançar nas pesquisas em transmissão de códigos pelo ar. Para Drucker (1968, p. 20), entre
1850 e 1880, foram as décadas que apareceram a lâmpada elétrica, a máquina de escrever e
o telefone.
No início do século XX, foi desenvolvido pelos pesquisadores que trabalhavam no
laboratório Bell Company um sistema telefônico ligado por antenas. Cada uma das antenas
representava uma célula e esse serviço permitiu a comunicação móvel utilizada em carros
nos Estados Unidos. Mas a primeira ligação entre dois telefones celulares só foi possível
graças aos estudos do executivo da Motorola (concorrente da Bell Company), Martin
Cooper. Há quarenta anos, Cooper, de maneira inédita, demonstrou, na cidade de Nova
Iorque, em abril de 1973, como se daria o princípio da tecnologia móvel.
94
54
Empresa de Martin Cooper, ArrayComm, disponível em <http://www.arraycomm.com/>
55
Por glamour ou nostalgia, clientes mantêm o prefixo de celular pioneiro no Rio. Disponível em
<http://vejario.abril.com.br/edicao-da-semana/prefixo-celular-rio-698029.shtml>
95
56
Operadoras de celular 2013. Disponível em < http://www.teleco.com.br/opcelular.asp>
98
digitação rápida, era o preferido do público masculino. Em 2006, a Nokia lançou o modelo
N95 (08), com um layout parecido com o V3, mas a tela era mais atrativa. Neste aparelho,
as músicas em mp3 já podiam ser reproduzidas, e ele suportava a linguagem em flash e
tinha recursos adicionais como mapas de localização.
No dia 29 de junho 2007, foi lançado o iPhone (10), pesando 135 gramas e com
tecnologia touchscreen. O lançamento foi feito pelo visionário em tecnologia e fundador
da Apple, Steve Jobs, em um dia histórico para a revolução da tecnologia móvel. Até
então, os smartphones combinavam emails e Internet, mas eram difíceis de serem usados,
complicado para alguns. A revolucionária interface agregou hardware e software e
possibilitou aos usuários livrarem-se dos botões apenas com um simples toque do dedo. O
sofisticado sistema operacional do iPhone possibilitou multitarefas como a interface de um
desktop. Quatro anos mais tarde, a Samsung lançou um similar ao iPhone, o Galaxy Nexus
(09), com a mesma tecnologia touchscreen e com preço de mercado mais acessível ao
interessados em tecnologia inteligente.
Há quarenta anos era impossível ligar de onde se estivesse para outra pessoa, em
qualquer lugar do planeta; hoje, os celulares cabem na palma da mão. Até 2016, entra no
mercado, desenvolvido pela Microsoft (15), o SkinPut58 – inovação que agrega
smartphones em comandos ao toque da pele (mãos, braços e coxas). O Skinput elimina
botões ao usar o maior órgão do corpo humano como superfície para acionar celulares.
Não se está longe do que a filósofa americana Donna Haraway (2000, p. 315) previu:
“perdemos os limites e o juízo de valor sobre as máquinas, somos o mesmo que elas”.
Castells (2007, p. 38) retrata o celular como uma das maiores invenções humanas.
A fusão da biologia, da informática e da microeletrônica foi a base para os avanços em
inteligência artificial. Os aparelhos de celulares estão cada vez mais presentes na vida
humana. Os rápidos avanços da tecnologia permeiam nossa vida e, quase que
despercebidos, ajustam-se ao dia-a-dia. O celular é o símbolo em constante transmutação
de valores, de significados e de práticas. É ele que informa o quão atualizado se está, em
qualquer espaço e tempo.
58
Cientistas desenvolvem nova forma de interagir com aparelhos eletrônicos em que é preciso apenas tocar a
própria pele para acionar os comandos, disponível em
<http://www.istoe.com.br/reportagens/129053_NA+PALMA+DA+MAO>
100
59
Circular Cell Phone by Michael Laut. Disponível em
<http://www.yankodesign.com/2007/04/17/radia-circular-cell-phone-by-michael-laut/>
60
Nokia Research Center, disponível em <http://research.nokia.com/files/leti2007Asta.pdf>
101
leituras em sala de aula são apontamentos dos jovens embora descreiam que seu uso deva
ser legalizado, pela incapacidade de se centrarem apenas em questões relacionadas à aula.
Às vezes você está em pesquisa de aula e não tem algumas coisas nos livros e
dai a internet te proporciona muito, porque no Google o que eu não acho nos
livros pode achar na internet. A maioria dos professores neste caso libera como
os professores de português, história, língua estrangeira e literatura. E
atrapalha porque às vezes estou concentrado numa aula e recebo uma
mensagem e dai tu fica entretido e perde a aula (Carlos, 17 anos).
Se fosse liberado o uso do celular ia ser uma bagunça. Todo mundo olha
escondido, mas se realmente fosse liberado ninguém ia prestar atenção na aula,
ia ser uma bagunça desgraçada (Gerson, 17 anos).
Parece que tem que ficar mexendo e atualizar alguma coisa. Fico ansiosa sem
estar conectada pra ver se aconteceu alguma coisa (Tuane, 17 anos).
No twitter eu conto tudo que eu faço no meu dia, tanto coisas boas ou ruins. Às
vezes chego a fazer mil tuites. Chego ao limite do twitter (Mariana, 16 anos).
Eu acordo e vou pro twitter, tuito que eu acordei. Eu vou pro banho e depois que
eu saio eu tuito de novo. Eu vou tuitando o dia inteiro e quando eu chego na
aula conecto a internet e vou pro Twitter e pro Facebook, de noite na cama eu
fico reblogando e tuitando (Mariana, 16 anos).
103
Ficar sem celular é a mesma coisa que estar perdida, sem saber pra onde ir. No
twitter eu conto tudo que eu faço no meu dia, tanto coisas boas ou ruins. Às
vezes chego a fazer mil twittes. Chego ao limite do twitter (Mariana, 16 anos).
5.2.2. Amostra
admitiram ter praticado relações sexuais embora estejam sem parceiros, apenas Alex e
Eliana namoram há mais de um ano.
Com relação à aquisição do capital cultural fora do espaço escolar, as jovens
Eliana, Cláudia e Denise destacam-se na busca por aperfeiçoamento técnico em cursos
profissionalizantes de maquiagem, enfermagem e cabeleireira, construindo mecanismos de
distinção social entre os demais colegas.
A seguir, seguem os perfis dos dez entrevistados desta pesquisa, os quais são
descritos a partir do trabalho de campo etnográfico e a técnica da observação participante,
bem como através da análise dos perfis dos entrevistados, observados na rede social
Facebook.
Alice – tem dezessete anos, cursa o primeiro ano do Ensino Médio pela manhã e à
noite é garota de programa. A mãe da estudante é faxineira e o pai recolhe lixo hospitalar
em uma empresa terceirizada. A renda aproximada da família é de R$950,00/mês e seis
pessoas dividem a casa – incluindo a irmã mais velha de dezenove anos, que está grávida e
foi abandonada pelo namorado caminhoneiro. Alice revela que é através do celular que
consegue marcar os programas, fazer trabalhos da escola e acessar o Facebook, pois a
família não possui computador em casa. A casa em que Alice vive fica no subúrbio da
cidade de Santa Maria, é de madeira e ela divide o quarto com a irmã grávida, o que gera
muitos conflitos dentro do lar. O maior passatempo da estudante é o telefone celular e as
redes sociais. Repetente por dois anos seguidos, a jovem se diz desestimulada em relação
ao ensino e a única maneira de mudar de vida é casando com um homem rico enquanto é
jovem.
Bianca – tem dezessete anos e cursa o segundo ano do Ensino Médio pelo turno da
tarde. Durante a manhã, ela é babá e, com o salário, pode comprar algumas coisas que
deseja, pois a mãe ganha apenas um salário mínimo. A grande paixão da jovem são as
bijuterias. Está sempre com anéis, brincos e colares que “chamam a atenção das pessoas”.
106
Os pais da jovem são separados. A mãe dela é faxineira em uma casa de um bairro nobre
da cidade e o pai abandonou o lar quando ela tinha apenas cinco anos. A jovem divide a
casa com mais dois irmãos que estudam no mesmo colégio, um de catorze e outro de
quinze anos. Como Bianca tem muitos acessórios, a capinha do celular é trocada quase
todos os dias para combinar com o vestuário. A estudante tem computador em casa, mas
não possui Internet, e a única forma de acesso às redes sociais é pelo celular. O seu sonho é
trabalhar com marketing.
Cláudia – tem dezoito anos, está no terceiro ano e nunca repetiu de série. O pai da
estudante é pedreiro e cursou até a quinta série do Ensino Básico, a mãe é doméstica e foi
até a sétima série. A família de Cláudia é evangélica, e a estudante participa ativamente das
atividades da Igreja no bairro. Ela coordena o grupo de jovens evangelistas, participa da
banda da escola e é dedicada aos estudos. Atualmente a jovem tem o sonho de ser médica e
já cursa paralelamente ao colégio um curso técnico de enfermagem. O curso é pago com
muita dificuldade pela família, e o valor da educação dentro da casa de Cláudia é frisado
diariamente pelos pais, assim como valores morais e religiosos. Atualmente, a casa de
Cláudia está servindo de abrigo para uma tia (desempregada) e sobrinha, com a qual ela
tem que repartir o quarto, perdendo, assim, a privacidade que tinha antes. A estudante é
ativa em manifestações políticas e sociais e se diz abertamente a favor da “Cura Gay”,
assunto polêmico que envolve alunos homossexuais durante o intervalo na escola. A jovem
usa o celular para falar com amigos e família diariamente.
Denise – tem dezessete anos e está no segundo ano do Ensino Médio. O pai é
porteiro de um hospital da cidade e a mãe faz bico como cabeleireira e sacoleira quando
pode, pois tem sérios problemas de saúde. Denise afirma sofrer bullying constantemente no
colégio por ser baixinha e gorda, é sempre motivo de piada em sala de aula e quase não
tem amigos. Está sofrendo de depressão e síndrome do pânico, tendo dificuldades de ir à
escola. Está sempre acompanhada dos pais e quase nunca sai de casa. Sua maior diversão é
o celular e a banda One Direction, conteúdo exclusivo do seu perfil no Facebook. Denise
não tem computador em casa e a única forma de acesso às redes é o celular. A renda
mensal da família é de menos de mil reais por mês.
Denise tem 780 amigos virtuais e não possui seguidores. No perfil da estudante há
o email pessoal de contato e o endereço residencial da família, juntamente com a data de
107
aniversário. Nos idiomas citados que fala está somente o português, e a jovem colocou
quatro colegas de aula como membros familiares, alterando os laços de parentescos com a
família biológica. A predominância no álbum de fotos são registros de colegas, a turma de
amigos da jovem. As fotos são feitas a partir do celular e postadas na rede Facebook. No
perfil da rede social, a jovem declara ter conhecido algumas cidades do Rio Grande do Sul,
mas não visitou outros estados. Nas opções curtir estão a banda preferida já citada e cerca
de 30 filmes de romance.
Eliana – tem dezoito anos e está no segundo ano do Ensino Médio. O pai da jovem
é entregador de móveis e a mãe é atendente de lanchonete na rodoviária de Santa Maria. A
estudante diz sofrer discriminação social constantemente no colégio por ser “negra, gorda e
lésbica”. Hoje ela se diz “ex-crente” e defensora da causa homossexual. Está sempre com o
celular na mão e conectada todo instante. O celular é a única forma de acesso à Internet e,
quando quer realizar algum trabalho da escola, frequenta uma lan house na vila onde mora.
Os pais de Eliana são evangélicos e não aceitam a orientação sexual da filha, o que gera
muitos conflitos familiares.
A foto do perfil do Facebook dela é um autorretrato com o celular. A foto de capa é
do rosto dela em preto e branco. Há meses Eliana posta frases de autoajuda e de esperança,
deixando claro haver algum conflito em sua vida íntima. A cidade natal dela é Porto
Alegre, mas não visita a capital rio-grandense há anos. No perfil do Facebook, no item
idiomas que fala, consta apenas o português e o número do celular da estudante é público.
Todos podem enviar SMS e realizar chamadas para a jovem.
No álbum de fotos da estudante, a preferência é por mostrar festas, bebidas
alcoólicas, amigos e colegas do curso de Enfermagem como forma de distinção entre os
colegas da escola, pois “eu faço mais que eles”, ela diz. Embora os pais sejam evangélicos
e contra o relacionamento afetivo da filha, que se declara homossexual, os conflitos
parecem atenuados em fotos postadas com a família constantemente. Um álbum de fotos
próprias foi criado, onde aparecem fotografias tiradas com o próprio celular da estudante,
sempre muito maquiada e com roupas sensuais como vestidos curtos e decotes grandes. A
estudante é seguida por outros 62 usuários e tem 1.002 amigos virtuais na rede social.
Alex – tem dezoito anos e está concluindo o terceiro ano do Ensino Médio com o
sonho de ser fisioterapeuta. Os pais são separados, ele vive com a mãe e os avós na casa da
108
César – tem dezessete anos e cursa o primeiro ano do Ensino Médio. O pai é pintor
e a mãe, empregada doméstica. Divide o quarto na casa com mais dois irmãos menores, um
de sete e outro de doze anos. Para ajudar nas despesas da casa, César trabalha de atendente
numa padaria no centro da cidade, no turno da manhã. Com o salário que recebe,
conseguiu comprar o celular para conversar com as meninas e acessar o Facebook. O
jovem revela que não gosta de publicar fotos e assuntos pessoais na rede e que utiliza o
celular para “fuçar” no perfil das gurias mais bonitas do colégio. Os pais do estudante estão
economizando dinheiro para poder comprar um computador para a família.
Diogo – tem 15 anos e está no primeiro ano do Ensino Médio, é um estudante
dedicado e suas notas estão sempre acima da média. O pai é pedreiro e a mãe trabalha de
faxineira no asilo municipal da cidade. O jovem acredita que, para mudar de vida, é preciso
muito estudo e dedicação. O celular de Diogo é utilizado para pesquisa de estudos e
contato com amigos no Facebook. Diogo é filho único e ainda está indeciso sobre qual
carreira pretende seguir. Primeiramente, o jovem quer fazer um curso técnico depois que
terminar o colégio.
Eduardo – tem 18 anos e está no primeiro ano do Ensino Médio. O pai é falecido e
a mãe trabalha de cozinheira numa lanchonete da cidade. Eduardo diz sofrer muito
preconceito por ser negro e ser este o motivo para não conseguir trabalho e ajudar no
sustento da casa. Pela falta de trabalho, ele vende maconha em um parque no centro da
cidade. Atualmente está sofrendo de depressão por ter perdido um filho. Sua ex-namorada
sofreu um aborto e o deixou, mudando de cidade. Recentemente, o jovem conseguiu
ganhar um celular de presente da mãe, e com ele está tentando buscar notícias da ex-
namorada pelas redes sociais, sem sucesso. Eduardo não considera a maconha como uma
droga, e sim um calmante para aliviar tensões, para ele “é melhor que remédio”. A função
maior na aquisição do celular está em achar a ex-namorada desaparecida e aumentar a rede
de relacionamentos para compradores da droga.
A partir da amostra, foi possível detectar: 1) o elevado consumo de tecnologia
móvel por parte do grupo juvenil; 2) a carência de uma cultura letrada e baixo capital
cultural; 3) conflitos entre a escola e família no que se refere ao uso do celular; 4)
discriminação pela opção sexual. Desta maneira, entrou-se na primeira plataforma de
análise através da mediação da socialidade, compreendendo a família dos entrevistados,
110
assim como o ambiente escolar e suas representações bem como as distinções dentro desta
fração de classe popular.
A direção da escola deu livre circulação para a pesquisadora participar dos horários
de recreação dos alunos bem como acompanhar a entrada e saída dos mesmos. Durante três
trimestres, foi possível acompanhar, pelo turno da manhã, os alunos do Ensino Médio da
escola A. No início de cada semestre, são transmitidas aos alunos as regras sobre o uso do
aparelho. Segundo a fala do Diretor:
Não é permitido o uso do celular em sala de aula, se o aluno for pego com o
celular em aula é retirado imediatamente. Só pode pegar o celular o pai ou o
responsável. Tem muitos pais que realmente pegam o celular e não devolvem
mais para o filho, mas a maioria devolve e nos desmoraliza (Diretor da escola
A).
específico para poder – como etnólogo – estranhar alguma regra social familiar e assim
descobrir o exótico que em nós está petrificado pelos mecanismos de legitimação”.
Pensar a etnografia em pleno século XXI, quando as ferramentas de observação e
monitoramento são totalmente informatizadas, é um desafio para qualquer pesquisador.
Métodos artesanais como o diário de campo na era da informática relativizam novas
formas de viver e pensar a antropologia urbana, pois, para Da Matta (1978, p. 3),
a) Música: foi possível observar a grande maioria dos jovens com fones de ouvidos
escutando música, alguns isolados e outros compartilhando o fone com amigos. Para
destacarem-se da maioria, outros estudantes escutam música sem os fones, com volume
máximo. Estes chamam a atenção por onde passam, nunca ficam no mesmo lugar e sempre
circulam pelo pátio da escola. O vestuário dos jovens sempre condizia com o tipo de
música que era reproduzida. O grupo dos roqueiros vestia geralmente camisetas pretas com
estampa de bandas e escutava rock; o grupo dos gaudérios vestia roupas típicas da cultura
gaúcha e escutava milongas e chamamés; já os funkeiros escutavam música sem os fones,
os meninos usavam correntes no pescoço, bonés de aba larga e calças jeans sempre abaixo
do quadril, aparecendo partes da roupa íntima. As meninas funkeiras vestiam roupas curtas
e blusas bem decotadas, estavam sempre muito maquiadas; o grupo dos estudantes
evangélicos era sempre discreto em cantos no pátio da escola e escutavam louvores nos
aparelhos de celular. Algumas meninas usavam saias longas, não cortavam o cabelo, outras
cuidavam excessivamente para não aparecer nenhuma parte do corpo. Em todos os grupos
o celular estava presente.
b) Facebook: a segunda atividade de maior incidência verificada entre os
estudantes da escola A foi o acesso ao site de relacionamento Facebook. No intervalo das
aulas, os alunos acessam a rede online para realizar atualizações de status, compartilhar
frases e vídeos de músicas e curtir páginas de artistas preferidos. O acesso ao Facebook é
constante, e alguns alunos admitem usar a rede online durante as aulas e até na realização
de testes e provas da escola. O acesso constante às redes sociais e o uso do celular é um
problema apontado pela direção da escola e pelos professores, que alegam o baixo
rendimento escolar pela falta de atenção ao conteúdo transmitido.
c) Fotografias: quase todos os celulares pertencentes aos alunos vêm equipados
com várias funcionalidades, entre elas a máquina fotográfica. Durante a observação
participante no pátio da escola, foi possível conferir os alunos fazendo autorretratos ou,
ainda, registrando fotografias com os colegas de sala de aula e amigos de outras turmas.
Geralmente as fotos são para a rede social Facebook e, posteriormente, são compartilhadas
com os membros que aparecem na imagem.
123
Esta mediação refere-se às relações entre a classe popular, a escola e a família dos
jovens entrevistados. O capítulo empírico analisa como os estudantes se relacionam com as
novas mídias e constroem suas identidades através do telefone celular. O quadro teórico de
referências permite a interpretação dos dados, a partir da mediação da socialidade
(MARTÍN-BARBERO, 2003).
6.1.1. Família
A formação clássica da família constituída por mãe, pai e filhos já não é maioria no
Brasil, como aponta dados do IBGE61. Núcleos com mães solteiras, casais sem filhos e até
mais de uma geração vivendo na mesma casa são destaque nos índices. Os entrevistados
Alex e Bianca têm pais separados, ambos moram com a mãe e Alex ainda divide a casa
com os avós maternos, pois a mãe está desempregada. Os avós do jovem são responsáveis
pelo sustento do lar. Outra forma atual de constituição dos lares é o apartamento ou casa
compartilhada entre amigos, meta a ser cumprida por Alex, Eliana e Bruno. Seus próximos
passos são juntar “algum dinheiro” para sair de casa. Os estudantes se declaram “gays”, e a
família não aprova a opção sexual dos filhos.
Lares homoafetivos somam, hoje, 60.000 no Brasil, 53% deles representados pelas
mulheres e 47%, por homens. Para Alex, a mudança tem um status radical, envolve
quebrar barreiras e convenções sociais: “eu acho bem legal mudar pra outra cidade sem
ter nada, só tu e a outra pessoa, fazer tua vida em outra cidade. Tipo eu e o meu namorado
vazar daqui e ir pra outro lugar fazer nossa vida a dois”. Para o jovem, o preconceito
ainda existe e é forte, por isso, a decisão do casal de mudar de cidade. Tanto na escola
quanto na família, o jovem diz sofrer bullying. A escola assume lugar de arena dos
61
Pai, mãe e filhos já não reinam nos lares. Disponível em <http://oglobo.globo.com/economia/pai-mae-
filhos-ja-nao-reinam-mais-nos-lares-5898477>
125
A mãe tá sempre dizendo, que se eu não estudar vou ficar que nem ela que parou
na 5ª série. Que se eu não estudar eu vou arrumar um serviço igual a ela de
limpar coisas e lugar dos outros (Alice, 17 anos).
gerados pelos jovens no lar são constantes, relacionados à dificuldade de acesso aos bens
tecnológicos. O celular aparece como a única ferramenta de acesso à Internet para pesquisa
escolar e acesso às redes sociais, mas muitos querem um notebook ou tablet.
Práticas de esportes não foram mencionadas, sendo unânime entre os jovens gastar
o tempo livre no acesso à Internet e redes sociais como o Facebook, Twitter e Instagram.
As atividades de lazer dos estudantes entrevistados incluem passeios com a família na casa
de parentes, apropriação dos espaços públicos como praças e parques, caminhadas e festas
com amigos. O uso abusivo de álcool e drogas está presente em alguns casos. Alex, Eliana,
Alice e Eduardo afirmam ter tido experiências de coma alcoólico, ingestão de LCD,
consumo de cocaína e maconha: “Eu já experimentei cocaína, maconha, ecstasy, LSD,
crack não. De noite mesmo. E mais uma que coloca na bebida, acho que é boa noite
cinderela” (Eliana, 18 anos). Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas
(Lenad), dois em cada dez jovens fumam. Um dado incomum é que as meninas ingerem
mais cocaína que os meninos, que lideram o consumo de maconha.
Muitos conflitos no lar dos entrevistados acontecem pelo uso constante do aparelho,
seja para pesquisas escolares, envio de torpedos ou atualização das redes sociais. Refeições
diárias e conversas familiares são acompanhadas do celular, desta forma, o celular acaba
aproximando quem está longe e afastando quem está perto. Todos revelam que o celular,
além de atrapalhar a convivência no lar, atrapalha no tempo dedicado aos estudos.
Eu estou com meus pais sempre, mas com o celular (Diogo, 15 anos).
Eu dou mais atenção para o celular do que para minha própria família. Quando
eu não to no computador no colégio eu to no celular e no Facebook com as
gurias. Eu nem presto atenção no que minha mãe tá fazendo (Bianca, 17 anos).
Tipo teve uma vez que eu estava no ônibus, dai uma guria falou um palavrão
bem alto, brigando com alguém! Tipo, tá todo mundo no ônibus, né? Ninguém
precisa escutar o que ela tá falando, isso eu acho muito vulgar.(Alex, 18 anos)
falar coisas íntimas com teu namorado em lugar aberto, acho uó! Isso não se
faz. (Cláudia, 18 anos)
acho vulgar atender o telefone gritando no ônibus, eu acho que tem que falar
normal e isso incomoda as outras pessoas. Eu me sinto muito incomodado, às
vezes tem pessoas berrando ao meu lado no celular. Isso é muito ruim e vulgar.
(Denise, 17 anos)
Falar em lugar público sobre compras do mercado com o marido ou o que tem
que levar pra casa eu acho meio estranho. Falar coisas de casa na rua não dá.
(Alice, 17 anos)
A representação social de caráter ativo pelo celular nas redes online indica
projeções e juízo de valor sobre determinados significados como liberdade e
distanciamento da origem familiar. Assim, as relações de “interconhecimento e de inter-
reconhecimento mútuos, ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como o conjunto
de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns, mas também que são
unidos por ligações permanentes e úteis” (BOURDIEU, 1998, p.67). Contudo, o capital
social e simbólico dos jovens de classe popular, reconstituído através das relações sociais a
partir do uso do celular, não é estático e imóvel, pois está em constante manutenção e
transformação como prática social, operando na manutenção dos estilos de vida da classe
popular.
6.1.2. Escola
Sempre tem que prestar atenção na aula né, daí às vezes tu dispersa mexendo ou
mandando mensagem ou olhando alguma coisa e daí o professor para a aula e
chama tua atenção e daí tu fica com vergonha né! (César, 17 anos)
Pesquisei várias vezes em aula pelo celular, numa aula de literatura quis saber o
que era funções de linguagem, procurei e achei (César, 17 anos).
Às vezes, quando o professor fala alguma coisa que eu não entendo e não dá
tempo de pergunta,r eu vou lá e pesquiso embaixo da classe, escondida (Denise,
17 anos).
Figura 5 FONTE: Organizado pela autora com postagens do celular dos entrevistados.
Formas de expressão facial são criadas através dos smiles, como ou , para citar
os mais comuns. Estas formas lúdicas de representar as emoções são extremamente
engenhosas e artísticas, e são usadas frequentemente no envio de SMS para pais e amigos
para transmitir humor, ânimo ou sentimento.
131
A mudança dos novos processos de leitura que atravessam os jovens significa novas
articulações entre livros, vídeos e textos. Obcecados com o mundo maléfico dos meios
tecnológicos, os educadores acabam esquecendo o universo juvenil, a complexidade da
adolescência, reduzindo-os a consumidores de música, televisão, redes sociais e jogos
online (Martín-Barbero, 2003, 50-55). Para Martín-Barbero (2014, p. 44) já não se escreve
e não se lê como antes é porque tampouco se pode ver nem representar como antes.
Sai da Igreja Universal por que queria fazer festa e não podia aos 15 anos. Me
senti mal de sair e ir na Igreja e decidi não ir mais. Optei pelo mais fácil que era
ir pras festas. Por que pensava como que eu ia num lugar aonde as gurias iam
sem roupa quase e eu ia toda tapada, não dava né? Ai quando chegou nos 16 e
17 desandou de vez. Comecei a namorar uma menina há nove meses, agora em
dezembro ia fazer um ano. A gente começou a conversar porque ela me cutucou
no face. Pensei já que ela queria meu corpo e dava risada. Eu adicionei ela pra
saber o que ela queria e ela disse que sabia tudo de mim, que eu tava sempre
arrumada e maquiada. Ela disse que gostava de mim desde o começo do ano
passado e eu não sabia quem ela era. Ai ela pediu meu celular, eu já tinha
ficado com uma menina, mas nunca tinha pensado em namorar com uma. Ela
começou a me ligar e eu senti o romance. Ficamos falando só pelo celular e
internet. Ela perguntava toda hora que eu tava fazendo, parecia minha
namorada. Ela acabou me pedindo em namoro, aí olhei pro pai e pra mãe e
pensei: - e agora? Começamos a namorar, eu aceitei. Foi durando e durando,
fico sem dormir por ela. E dai é automático, eu penso nela e ela manda
mensagem pra mim no celular. Meu coração acelera, minha mão soa como se
ela tivesse na minha frente. E quando ela contou para os pais dela, eles
entraram no Face dela, aí mandaram uma mensagem pra mim ler um versículo
da Bíblia. Batiam todos os dias nela, e quando a gente se encontrava, eu erguia
a blusa dela e via os arranhões da cinta e da vara. Queria que ela fosse morar
comigo, mas meus pais não aceitam essa história. Eles acham que é uma fase da
minha vida e enlouqueceram e não querem ela lá, é uma vida desgraçada
mesmo. Não podemos postar fotos nossa no Facebook. Mas eu faço declarações
de amor e fica explícito que é pra uma menina. Coloco “minha machinho” e a
inicial do nome dela. Quando eu comecei a namorar, exclui todos os meus
parentes e amigos dos parentes do Face pra poder publicar as coisas. Queremos
até ter um bebê e vou fazer tratamento pra engravidar dela. Sei que tem como.
Eu trabalho na lancheria e ela como babá, teremos nossa vida juntas, eu sei
disso. Antes disso, eu ia morar com o meu irmão em Santa Cruz, mas eu sou
muito diferente do pessoal de lá. Eles têm certo preconceito contra muita coisa,
o fato da pessoa ser negra numa cidade de gringo. Tu olha aquele bando de
gente branca que parece que tomaram banho de farinha. Eu tenho três
preconceitos em mim: eu sou negra, sou gorda e sou baixinha. Então eu ia
sofrer um super bullying quando eu fosse pra lá. Alguns me olhavam de cara
feia e eu já xingava dizendo que ia tirar os dente fora. Mas, no entanto que eu
criei meu espaço lá, me dou com um monte de gente (Eliana, 18 anos).
não gosto dos gays sabe, a religião fala mais alto. Tenho poucos amigos gays no colégio,
mas não apoio, fico neutra no colégio. Sou contra, mas não falo. Não acho certo”
(Cláudia, 18 anos).
Citando passagens bíblicas através de um aplicativo no celular para versículos
online, a jovem profere Levítico 18:22: “com varão não te deitarás, como se fosse mulher,
abominação é”, e segue para a passagem seguinte, Levítico 20:13: “quando também um
homem se deitar com outro homem como uma mulher, ambos fizeram abominação;
certamente morrerão”. Coincidentemente, as famílias de Alex e Eliana são evangélicas e
ambas recriminam a opção sexual dos filhos:
Na família eu sou mais centrado e quieto no meu canto. Não mostro o que eu sou
mesmo sabendo. (como assim?) Mesmo sabendo que eu sou homossexual. (eles
sabem?) Agora sabem, eu contei pra eles. (tua família é evangélica ainda?) Sim.
Eu contei em fevereiro, e foi um drama. . A minha mãe me botou a boca e disse
que não me aceitava, e que ela que tinha errado na minha criação, aí ela disse
que ia sair de casa, eu disse que dai saio eu. Fiquei uma semana fora. (Alex, 18
anos)
Meus pais vão na Universal, e daí eu queria namorar e tive que sair de casa com
a guria. Uma vez eu tava com a minha namorada e um cara passou, isso que tava
saindo da Igreja também na frente da praça e gritou que era falta de macho. E daí
eu disse pra ele que só porque ele tinha um pau no meio das pernas que
possivelmente deve estar podre porque ninguém deve querer e tá aí enchendo o
nosso saco, e se tem duas mulheres juntas a gente reconhece o que a gente merece
e o que os homens não sabem dar. Queria bater nele, mas fomos embora. (Eliana,
18 anos)
E por que eu sou negra. No colégio, quando eu era meno,r tinha umas gurizinhas
loiras, aí eu sofria bullying por causa disso. Diziam que tudo que eu fazia de
errado era porque eu era preta. Diziam que eu não podia estudar na mesma
62
Bullying é uma palavra usada que os estudantes usam e não um conceito adotado nesta investigação.
134
escola que eles. Sempre chorava. E por que eu era gorda também, não queriam
ser meus colegas (Eliana, 18 anos).
Porque eu sou baixinha e gordinha. No ensino fundamental, na 6ª e 7ª série, eu
era excluída e eu fui parar no hospital por causa disso. Ninguém falava ou fazia
nada comigo. Eu era excluída de tudo mesmo e isso foi me afetando e afetando e
eu acabei no hospital. Fiquei em depressão, chorava bastante e não queria mais ir
pro colégio, hoje tenho síndrome do pânico (Denise, 17 anos).
Bourdieu (2007) acredita que a escola serve à reprodução das desigualdades e que o
capital social pode ser dado tanto à manutenção destas desigualdades quanto à ascensão de
certo capital social dentro da escola. Desta maneira, os esquemas inconscientes de
classificação reorganizam-se sobre as condições subalternas de classe e gênero dos jovens,
ressignificando lógicas de disposição que operam em um sistema visível, a hexis corporal.
No mês de julho/2013, cerca de 250 mil pessoas protestaram contra o aumento da
tarifa dos transportes públicos, gerando uma onda de indignação. Em poucos dias, as redes
online estavam organizadas em um movimento que foi às ruas de diversas capitais no
Brasil. Ignoradas deliberadamente pelo governo federal, as diferentes vozes registraram
através dos celulares e divulgaram nas redes sociais o momento histórico. A consciência
das classes injustiçadas atingiu diretamente o aparelho político-partidário.
Em busca de autonomia simbólica, os entrevistados buscam legitimar, em seu
espaço social, uma posição de jovens conectados, tentando, assim, minimizar os efeitos de
uma posição de classe menos favorecida, embora a educação, segundo a lógica da
globalização, esteja concebida e organizada em função do mercado de trabalho, já que
conta com a acumulação do capital humano medido em termos de custo/benefício como
em qualquer outro capital (Martín-Barbero, 2003, p. 10).
O sonho de ascender a uma condição econômica e social melhor é consciente e
desejado pelos entrevistados que não veem outra saída a não ser estudar. Mas este passa a
ser um capital cultural a ser alcançado em longo prazo, visto que os estudantes, em sua
trajetória escolar, não têm estímulos e suporte financeiro que lhes possibilite o acesso a
bens culturais, tornando a repetência escolar um obstáculo. A culpa, segundo eles, recai
sobre a família e o Estado:
acho que os pais devem ficar mais em cima dos filhos mesmo sabendo que não
vão estudar. No Brasil falta estudo, por isso o Brasil está desse jeito. O Brasil
não está investindo na educação e isso afeta. (Alex, 18 anos)
A pessoa pobre tem que ralar pau a pau pra ganhar um salário mínimo e
conseguir sustentar uma família. Tem que estar lá sempre batalhando, pegando
emprego, indo pra um monte de centro, pegando ônibus, metrô, indo a pé. A
pessoa rica tem mais aquela coisa de andar de carro, horários alargados, mais
fácil, eu acho. Mas tem pessoas que trabalham e conseguem ficar ricas, mas a
maioria é filhinho de papai, não sabe como é que é a vida realmente. (Bianca, 17
anos)
Porque hoje em dia até em função do Bolsa Família tem mães que não
trabalham porque tem aquela garantia, entendeu? Porque, se elas não tivessem
aquela garantia, aí elas iam trabalhar, não iam querer passar fome. Deixar os
filhos passarem fome. Não é porque tu não pode ter estudo que tu não vai
trabalhar. Emprego vai ter também para aquela pessoa que não estudou.(Diogo,
15 anos)
Fico triste porque não dá pra comprar o que eu quero. Esses dias eu queria
comprar um tênis, aquelas botinhas que tão usando agora que é meia canela, tipo
um coturno. E a minha mãe não quis me dar porque não era necessário naquele
momento, era duzentos e pouco. É caro essas botas, fazer o quê? Pra ela eu tenho
meus tênis e deu, é aquilo e vai” (Alex, 18 anos).
136
Às vezes dou meu jeitinho de comprar uma coisinha aqui e outra ali, mas é difícil
viu? Tu ver o que os outros têm e o que tu queria e não pode ter, é uma merda
isso. Procuro não pensar muito nisso (Alice, 18 anos).
Eu tenho que ficar esperando e esperando até poder comprar, como o celular, eu
era o único na minha sala ainda que não tinha celular, e isso que já tenho 18
anos. Sempre espero, acho que vou ficar minha vida esperando pra comprar
aquilo que eu quero (Eduardo, 18 anos).
Quando eu não posso comprar uma coisa eu fico muito, mas muito irritada. Faz
um mês que eu estou pedindo pra minha mãe um suspensório e ela não quer me
dar. Ei, eu fico muito braba, bato o pé e xingo muito. Fico bem mal (Bianca, 17
anos).
Era pra ter comprado um celular novo há séculos, mas a minha mãe não tinha
dinheiro, nem meu pai. Eles se sentem mal e eu também (Eliana, 18 anos).
Desta maneira, trata-se de “uma identidade de ‘classe’ que não passa pela
consciência de classe, mas pelo estar junto entre iguais porque, afinal, o capital social dos
jovens que se amplia no telefone móvel e pelas redes sociais não ultrapassa os limites de
sua classe” (DUTRA; RONSINI, 2013). O celular torna-se um mecanismo para ludibriar a
própria identidade nas redes online, prevalecendo desejos de ser aquilo que não é ao traçar
perfis falsos, como no caso dos jovens Alex e Cláudia, que revelam ter criado um fake no
Facebook para comunicar-se com jovens de classe alta, os “boys”.
Às vezes eu entro no Face da minha amiga pra falar com um guri que ela tava
afim. Eu me faço passar por ela. É bem legal. Posso falar coisas que ninguém
vai saber que sou eu. Convido ele pra sair, eu acho ele bonito, tem um carrão,
mas falo como se fosse ela. (Cláudia, 17 anos)
para oito dos jovens, o celular ajuda a organizar a vida pessoal. Aqui, já é possível
perceber a tecnicidade como organizador perceptivo.
O conteúdo que mais publicam são jogos e músicas, verificam a todo instante as
redes sociais, acessam a Internet através do celular mais de cinco horas diária. Percebe-se a
existência de uma rede de conexões constituídas através do telefone, como uma
característica da formação social que se dá através dele, capaz de produzir e reproduzir
disposições de classe.
Por fim, os processos simbólicos a partir do uso do aparelho por jovens de classe
popular trazem a necessidade de entender como as tecnologias móveis condicionam a
experiência e a consciência destes adolescentes em suas práticas sociais na cultura do
consumo.
Uma das hipóteses acerca da conectividade nas redes sociais, principalmente o
Facebook,“é uma tentativa de estar visível para os demais em função da sua
inexpressividade social e política. O apego que o jovem de classe popular manifesta pelo
celular se relaciona também com o não reconhecimento de seu valor social” (RONSINI,
63
DUTRA, 2013) . Desta maneira, a pesquisa avança na busca por entender as relações
sociais e as práticas do consumo a partir deste dispositivo e seus reais significados em uma
cultura hibridizada e globalizada.
Com o capital familiar e escolar em desvantagem perante jovens de classes mais
abastadas, a escola serve como reprodução da desigualdade social. O consumo de celulares
por jovens busca reconfirmar valores e significados comuns ao criar e manter uma
identidade coletiva do grupo. O celular como objeto de conformação da identidade coletiva
do grupo de jovens de classe popular configura identidade de dependência psicológica,
afetiva pelos objetos que medeiam novas relações sociais, bem como a manutenção das já
existentes. O consumo de celular é mais afetivo do que econômico para os jovens de classe
popular.
63
Together, yet apart (Popular Class Youth and Mobile Phone Use) – Academic Workshop: Youth 2.0:
Conecting, sharing and Empowering? – University of Antwerp, on March, 2013.
139
64
Orquestra toca concerto para telefones celulares, disponível em
<http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,AA1299867-7084,00.html>
65
Hit “Os seminovos – eu não tenho iPhone, disponível em
<https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iroerRXfWfk>
141
entre escrituras tipográficas, audiovisuais digitais, entre identidades e fluxos, assim como
entre movimentos cidadãos e comunidades virtuais” (MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 44).
Os discursos compartilhados pelo celular, tanto para as redes sociais quanto para
programas de auditório ou interação com os apresentadores de talk shows, desenvolvem
narrativas próprias e distintas entre nossos entrevistados, mas há uma articulação entre
eles. Destacam-se seis processos transmídiaticos pelo celular a partir dos estudantes de
classe popular, a seguir expostos:
a) Protagonistas de novelas têm destaque nas redes sociais, comentários sobre a atuação,
beleza e sátiras predominam, como nas imagens retiradas das postagens do perfil do
Facebook da jovem Bianca (17 anos).
b) Programas de televisão aberta (principais canais Globo, SBT e Band) são fontes para
conteúdos gerados através do celular para as redes.
Muita gente que sabe muita coisa e falam sobre a Globo. A gente vê só um lado,
tem que englobar todo o lado da questão. Eu gosto de Malhação, mas mostra
sempre o mundo de gente perfeita digamos, aí pego o meu celular e falo mesmo
no Facebook pra todo mundo ver. Não digo perfeitas, porque nessa temporada
tem uns que enfrentam uns problemas e tal, mas digamos assim que não mostra
a pessoa, digamos, passando fome, nada assim. Não mostra muito a realidade
de hoje em dia. Por exemplo, tem um que mora na favela. E quem mora na
favela é pobre e não tem condições, e lá nas novelas eles têm condições, o lugar
é no outro lado da cidade e eles vão e voltam na boa, e não é essa a realidade.
(Denise, 17 anos)
MC Dalest. Por que eu acho legal as músicas dele. Ele fala sobre tudo que é tipo
de coisa, sobre crime e tal. Sobre o que aconteceu com ele, ou com outra pessoa.
Como eu vou te explicar, é funk. Eu acho que ele sim sabe cantar uma música,
as músicas dele são bem legal. (Alice, 18 anos)
Eu posto, digamos, uma música, daí eu escuto uma música e falo porque gostei e
porque eu não gostei. Digamos funk que todo mundo não gosta, tem uns funks
que não dizem sobre sexo. (Diogo, 15 anos)
One Direction, Selena Gomez, Justin Beiber, Demi Lovato. Gosto deles porque
eles são britânicos, eu amo a Inglaterra e os muçulmanos, sou apaixonada por
eles e os irlandeses. (porque você gosta dos britânicos?) Sei lá. Eles têm um
jeito diferente da gente. Estilo de roupa de tudo. (e os muçulmanos?) Por que
eles usam aquelas roupas muito show. Por causa da roupa e do estilo deles. (e
dos irlandeses?) por causa do trevo de quatro folhas que é de lá. E o gnomo
também é de lá. É muito show e eu adoro lá. A banda que eu mais gosto é de lá,
da Inglaterra, aí eu pesquiso tudo e quero fazer intercâmbio em Dublin. É que
eu não sou muito de sair. Então não sei ainda. Imagina se eu vou pra Dublin,
quase impossível. Eu quero ir, mas não tenho coragem. Só que é o meu futuro e
eu tenho que pensar em mim e não nos outros. Eu penso que a minha mãe não
vai durar pra sempre e isso que me dá força pra eu ir pra frente. (Denise, 17
anos).
fui pesquisar melhor, daí acabei comprando. Deu na TV e deu na rádio também.
Dizia as coisas técnicas e o valor também. (Eduardo, 18 anos)
Esses dias eu postei que a Lady Gaga tava gorda porque o pai dela tem um
restaurante e ela começou a comer e comer. E dai ela tava gorda e fez um show
obesa,a perna dessa grossura. E ela tava de sutiã e biquíni e perna grossa. E dai
eu xinguei ela, onde já se viu uma celebridade com dinheiro tá gorda e perna
grossa. Mas depois ela emagreceu da água pro vinho e não comeu (Alex, 18
anos).
O filme “Celular: um grito de socorro” (2004) foi sucesso entre os jovens César e
Bruno. A protagonista Jessica Martin (Kim Basinger) vive uma professora, presa em um
cativeiro. A única chance de liberdade é um celular que a conecta com Ryan (Jason
Statham). O desenrolar do filme é entre chamadas dos personagens. Recentemente, em
“Busca Implacável 2” (2012), o ex-agente da CIA, Bryan Mills (Liam Neeson), utiliza o
celular para conseguir contato com a filha Kim (Maggie Grace). Kim, através do iPhone e
do GPS, ajuda o pai na busca pelos bandidos. O merchandising da Apple é explícito
durante o filme.
Durante a entrevista, Alex lembra o filme “O Chamado” e como o celular foi
utilizado: “eles usavam muito o telefone. Toca o telefone e avisam que ela vai morrer em
sete dias. E logo que ela desliga o telefone no filme toca lá em casa e estava eu, o meu
primo e meu tio e eu era criança, foi muito tenso e eu não dormi a noite inteira”. Eduardo
cita uma produção nacional:
Lembro no Tropa de Elite, o ator principal utiliza o celular algumas vezes para
falar com a polícia e com a família, durante o trabalho, ele ficava muito tempo
fora de casa trabalhando.(Eduardo, 18 anos)
145
de moda. Considerando as características das três jovens (Alice afirma ser “garota de
programa” à noite, Bianca é apaixonada por bijuterias e Cláudia é evangélica), qual a
identificação de personalidades tão distintas ao relacionar o uso do celular ao mesmo
filme?
Em primeiro lugar, o celular foi lembrado como um acessório de moda (LING,
2004), usado por Meryl Streep e Anne Hathaway como distinção social ao ditar tendência
na revista mais importante do segmento. O segundo apontamento é que a capinha do
aparelho, o touch screen e as funcionalidades são uma forma simbólica de indicar algo
sobre o usuário (LING, 2004, p. 86). Pode-se relacionar Bianca aos dois primeiros
apontamentos.
No apontamento seguinte sobre o filme O Diabo Veste Prada, pode-se relacionar
Alice com Andy Sachs, uma jovem jornalista que sonha em seguir o jornalismo opinativo.
Sem autoridade nenhuma dentro da revista Runway, a jovem torna-se escrava do trabalho
pelo celular, atrapalhando a própria relação com o namorado e os amigos. Está
constantemente disponível para ligações da patroa.
controlar: o Eu. Como mostram inúmeros autores latino-americanos (apud Winocur, 2009,
p.57), todo o resto é insegurança: estudam mais, mas têm menos emprego, possuem mais
destreza com as tecnologias, mas não têm acesso à instância de decisão política, expandem
o consumo simbólico, mas não na mesma proporção que o material. E poderíamos
acrescentar que esta expansão do consumo simbólico é bastante relativa, como é o caso do
Facebook, cujas estatísticas de acesso não param de crescer e no qual, dos 40 links mais
compartilhados por seus usuários, em 2011, todos tiveram origem entre seis grandes
grupos de comunicação 66.
A relação da telenovela com os conteúdos gerados pelo celular para as redes sociais
é intensa na análise empírica. As manifestações de como o celular aparece em cenas das
novelas pelos protagonistas, personagens e núcleos são diversos.
Na teledramaturgia brasileira, o uso dos celulares por personagens em núcleos
distintos vem sendo percebido pelas audiências. Na novela de horário nobre, da Rede
Globo, Salve Jorge (2013), a capinha de celular da Delegada Helô (Giovanna Antonelli)
virou moda das fashionistas de plantão. Em formato de soco inglês, a capa do iPhone foi
comercializada em diversas cores e preços, variando entre R$ 25,00 e R$ 70,00. Outros
personagens foram destacados pelo entrevistado como: “na Salve Jorge eles usam muito
celular, a traficante de mulheres, a Vera Fischer e a Claudia Raia, elas trancam as
meninas em uma casa de prostituição e tal, aí elas usam bastante o celular para se
comunicar. (como você descreve as pessoas que usam o celular na novela?) em pessoas
boas e más, são pessoas finas, ricas e bem vestidas. E agora como a polícia tá atrás delas,
elas se comunicam bastante pelo celular” (Bianca, 17 anos). Aqui, pode-se observar que,
seguidamente, o celular vem aparecendo em filmes e novelas, mas a representação do
pobre com o aparelho móvel ainda é inexpressiva. A lembrança do aparelho de celular nas
telenovelas de horário nobre também foi presente:
66
Segundo fontes diversas foram 800 milhões de usuários em 2011 e um 1 bilhão em 2012, respectivamente
(Parente, 2011, p. 26; Estado de São Paulo, 2012, p. L3) .
149
A atual novela Salve Jorge, onde Morena fala que está tudo bem pra família que
está no Brasil através do celular, sendo que ela foi traficada na Turquia e tava
sob ameaça do Russo (Bianca, 17 anos).
Nas últimas novelas da Globo, as pessoas do "núcleo rico" usam celulares para
fazer chamadas (Bruno, 17 anos).
Na novela Salve Jorge, a personagem de Zezé Polessa liga para o Brasil e fala
por um tempão, na tentativa de esconder a relação com o tráfico de crianças
(Cláudia, 18 anos).
Novela só das nove que eu vejo é o Félix o que mais usa. Ele fica tramando
aquelas coisas ruim pelo celular. (Alice, 17 anos)
Nas novelas tem essa nova agora, Amor à Vida. Eles usam bastante. A Paloma e
o Félix usam bastante, quase todos praticamente. Tem aquele velhão que trai a
mulher, o César, ele usa também. (Denise, 17 anos)
Só novela das nove mesmo. Da Paloma, o Félix eles usam muito o celular.
(Cláudia, 18 anos)
Cena da novela Fina Estampa em que Thereza Cristina liga para o suposto
assassino matar a vítima, adoro. (Bruno, 17 anos)
Amor e sexo, é bem sem graça, aí xingo no Facebook a Fernanda Lima (Alice,
17 anos).
151
6.3. Ritualidade: uso e distinção social pelo celular dos jovens de classe popular
A mediação das ritualidades mostra formas de agir, pensar, olhar, escutar e ler que
“regulam a interação entre os espaços e tempos de vida cotidiana e os espaços e tempos
que conformam os meios” (BARBERO, 203, pg. 19). Desta maneira, o celular “tem a
capacidade de impor regras aos jogos entre significação e situação”, o jogo, neste caso,
poderá ser a própria rotina dos jovens. Esta rotina é atravessada por um processo em que as
ritualidades remetem às múltiplas ações e projeções de práticas sociais através de um único
aparelho, o celular.
152
Eu quero ir pra área da saúde, são muitos sonhos e poucos possibilidades, são
muitos sonhos pra pouca força de vontade. Tem vezes que eu paro e penso que
eu não tenho capacidade pra isso e que não sou inteligente o suficiente pra
realizar os meus sonhos (Eliana, 18 anos).
Não gosto de fazer nada na escola. Gosto um pouco de biologia. Não gosto nem
de ler, nem de arte nem de educação física. Nos últimos dois anos eu só rodei
porque eu não vinha na aula, agora eu decidi que eu quero passar. Acho que
vou passar. To vindo na aula, faço as provas que tenho que fazer de
recuperação e tento ficar na média (Alice, 17 anos).
Para explicar como são construídas as relações de poder, Bourdieu investiga como
se articula o desenvolvimento econômico e simbólico. Para ele, a escola é motivo de
distinção pela sua posição na estrutura de produção e a maneira como eles produzem e
distribuem bens materiais e simbólicos de uma sociedade. A circulação e o acesso a esses
bens não podem ser explicados pela associação ou pela classe social. A cultura dominante
é definida como tal pelo reconhecimento arbitrário, social e valor histórico no campo do
simbólico. Portanto, a posse ou a falta de capital cultural é adquirida principalmente na
família, onde se podem construir as distinções diárias, expressando as diferenças de
classe. Ou seja, na medida em que há uma correlação entre posição de classe e cultura,
duas realidades de relativa autonomia, as relações de poder são confirmadas, elas se
reproduzem e se renovam.
a) experiência dos atores das redes: o compartilhamento pelo celular de fotos
com frases é o grande destaque do perfil do Facebook dos entrevistados. Em segundo
lugar, a exposição do corpo em fotos produzidas especialmente para as redes sociais
predomina. As intimidades e preferências do gosto são constantemente postadas na rede.
Postar tudo que você vai fazer enche o saco das pessoas no Facebook. Mas tem
coisas que eu posto. Me sinto bem. Tem gente que curte e que comenta. Meu
último post do sábado um monte de gente curtiu e um monte de gente comentou.
Foi um texto para as pessoas verem o que eu estou vivendo e o que eu vivi, para
mostrar para as pessoas os momentos que eu estou passando, aonde eu vou ou
deixo de ir (Alex, 18 anos).
Eu nem estudo, porque eu fico mais no Facebook. Deveria estudar mais, mas
como não tenho computador ainda fico mais no Facebook no celular mesmo.
Estudo na aula mesmo. E a pessoa que não tem faculdade não vai conseguir um
bom emprego, não vai conseguir crescer na vida (Denise, 17 anos).
maneira, eles não revelam ser de classe popular e para isso “mentem” um estilo de vida
que não têm. Montam álbuns fictícios com carros importados, viagens internacionais e
mansões com piscina.
Tem pessoas que não trabalham, vivem em casa de madeira. Pessoas ricas
vivem no luxo, cheia do dinheiro. As roupas de marca. Mas não sei as marcas.
Não conheço nenhuma. Só isso, pela roupa. Bem vestido, diferente da gente.
Diferente, mais que a gente. Eles vão falar diferente de nós, vão agir de forma
diferente, não vão falar como a gente em gírias e tal. São bem comportados e
todos mimados (Eliana, 18 anos).
Acho que sim, tipo o jeito como a pessoa personaliza o celular pode identificar,
se ela tem o celular todo rosinha, tu pode dizer que ela é mais patricinha, se o
celular é todo jogado tu vê que ele não dá muita bola pra sociedade, não se
preocupa em transmitir uma imagem, ele é o que é. Por que hoje em dia as
pessoas tentam mostrar o que elas não são por meios materiais (Cláudia, 18
anos).
Sim, tem gente que não tem nem internet no celular, não tem nada e porque da
pra ter uma base sobre o poder aquisitivo da pessoa. Tem pessoas que tem
celulares ótimos e que tu olha a família e não tem nada e tem outros que tem
celulares caquinhos e a família tem dinheiro. Depende muito, agora qualquer
pessoa pode ter o celular que quiser. Então não tem como definir (Diogo, 15
anos).
Acho que se for uma pessoa muito pobre e tiver um iPhone, bom, ela pode ter
roubado, sei lá. Acho que depende, mas acho que dá pra saber. Se ela tem um
iPhone ela deve ter mais dinheiro que uma pessoa que tenha Android.
Geralmente quem tem um iPhone é de uma classe que tem mais dinheiro ou
guardou pra comprar, ai você vai ver aqueles celulares que são mais antigos,
bem acabadinhos que não tem aplicativos, que não tem nada, tu meio que define
que a pessoa não tem condições de comprar ou que não gosta. Dá pra ver sim
(Cláudia, 18 anos).
160
Pedem frequentemente ajuda das redes para amigos virtuais colocarem créditos em
seus aparelhos, algumas vezes acontecem, outras não. A revolta é grande pela falta de
recurso financeiro ao não realizarem as recargas para o aparelho ter conexão com a
Internet. Para Alves (2006), o sucesso da telefonia móvel em jovens de baixa renda
explica-se pelos implementos dos serviços pré-pagos.
Com estes dados, verifica-se que a maioria dos entrevistados não tem acesso à
Internet pelo computador, sendo excluídos do mundo digital e online. As famílias não
possuem TV a cabo, o que implica pouco acesso a informações qualificadas ou
segmentadas de interesse jovem. Os programas de TV aberta voltados à classe popular
como os talk shows da Eliana, Luciana Gimenez, Sílvio Santos, Luciano Huck e Faustão
ainda são os mais assistidos e comentados na timeline dos usuários.
Em relação à compra do aparelho, pode-se perceber o parcelamento do pagamento
ou a economia de meses para a compra do celular pelos pais dos jovens. Os estudantes não
se basearam na opinião dos pais na hora da compra, embora eles tenham escolhido o
modelo. A escolha por modelos diferentes é a forma de distinção dentro da escola, pois,
quanto mais diferente, moderno e caro o aparelho, maior é a distinção simbólica dentro do
161
Para os vários usos dos bens culturais, Bourdieu não explica como a distribuição
do campo cultural, ou a capacidade econômica para adquirir cultura, mas também e, acima
de tudo, como a posse do capital cultural e de educação permite aos indivíduos participar e
gostar de alternativas variáveis. Para o autor, as condições de vida diferentes produzem
162
habitus diferentes, como as condições de vida de todos os tipos impostas de maneiras para
classificar, apreciar, etc. O habitus constitui a origem das práticas culturais e sua eficácia é
percebida.
A tecnologia se agrega à indumentária, mas, para além das funções práticas que
ambos possuem, a função simbólica do aparelho é a da distinção e da comunicação. Estar
próximo do corpo, no caso do celular, talvez tenha relação com o uso do aparelho como
uma tecnologia afetiva que os conecta aos sentimentos e às emoções compartilhadas com
amores, amizades, parentescos. O celular está presente em todas as atividades cotidianas:
dormir, comer, deslocar-se, passear, estudar, tomar banho.
Segundo a maioria dos entrevistados, os recursos tecnológicos, o modelo e o design
do aparelho e o plano escolhido são elementos de distinção social entre ricos e pobres
enquanto uma minoria acredita que as facilidades do crédito tendem a democratizar os
aparelhos para todas as classes. O celular dos ricos evoca modernidade, conexão global,
acesso a outros meios de comunicação. Alguns comentam negativamente aqueles que
manifestam pretensões deslocadas da posição de classe ao adquirir um aparelho que não
corresponde ao seu poder aquisitivo, reclamando uma disposição adequada à reprodução
da hierarquia social.
163
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
bandas famosas. É pelo celular que os jovens de classe popular também comentam nas
redes sociais programas da televisão aberta como Silvio Santos e Eliana, interagem quando
possível através de SMS ou Twitter.
O consumo do celular é diário e não inclui a produção de conteúdo social ou
político. As afetividades relacionadas ao uso do celular são visíveis dentro do espaço
escolar e doméstico, o que causa brigas e discussões. Na escola, os entrevistados revelam
usar o celular dentro da sala de aula, enquanto o professor passa o conteúdo. Muitas vezes,
relatam não prestarem atenção ao que é transmitido para navegarem nas redes sociais. O
Facebook é o grande passatempo dos jovens de classe popular, é através da rede social que
eles afirmam marcar encontros em shoppings, praças e ruas.
Novos caminhos, a partir da análise da relação com o aparelho de celular, surgem
para compreender os processos que constroem o jovem e a sua identidade. Afinal, não se
pode obter uma verdade absoluta a partir das categorias analisadas para compreender a
totalidade da realidade entre os jovens e o uso do celular, apenas apreende-se, com a
etnografia, uma fração de um grupo social aqui analisado.
Novas relações sociais pela Internet através do celular (seja para o trabalho, escola
ou novas amizades) são estabelecidas constantemente. O aparelho móvel é de uso pessoal,
e os respondentes dizem-se angustiados sem o aparelho. É através da conexão com a
Internet que o celular torna-se indispensável como forma de expressão para os jovens,
tanto pela questão da mobilidade como da afirmação perante os pais e a escola.
Os acontecimentos experimentados cotidianamente estão fortemente associados à
cultura do uso do celular. Fica claro que os fatores culturais, históricos e existenciais
vividos pelos estudantes estão intrinsecamente ligados à posição de classe. Desta forma,
todo saber e conteúdo gerado para as redes online dependem da aplicação de estruturas da
razão sobre aquilo que afeta os sentidos, ou seja, dos capitais que o estudante possui.
O conhecimento adquirido nas redes sociais serve de reprodução cultural dentro do
grupo de convívio, como um status elevado. Para o jovem, músicas com letras de cunho
crítico, como o rock ou o funk, legitimam a cultura juvenil e também são citadas como
fonte de cultura.
As práticas sociais atribuídas pelos jovens compartilham estilos de vida e
identidades. Assim, o celular é para os jovens um bem simbólico – desejado, descartável e
166
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NOME:
IDADE:
LOCAL:
DATA:
Dia:
Endereço:
Bairro:
Telefone:
Profissão:
Nome:
Idade:
Série:
Modelo de celular:
Operadora que utiliza:
Tem internet no celular? Qual?
Quantos aparelhos você possui?
ESCOLA
1. Leva o celular diariamente na escola?
2. Verifica mensagens durante a aula?
3. Já foi repreendido por usar celular em aula?
4. Considera o celular como um instrumento no aprendizado?
5. Escuta música no celular quando está no colégio?
6. Utiliza games no período de aula?
7. Você acha que o celular favorece ou atrapalha o aprendizado?
8. Pesquisou alguma vez através do telefone conteúdo para algum trabalho escolar?
184
9. Conhece alguma Lei que o proíba de usar o telefone em aula? O que pensa sobre
isso?
10. Vê que são possíveis formas de estudo através do aparelho? Como?
11. Você acha que a escola deveria liberar o uso do celular? Por quê?7
12. O que mais gosta e o que menos gosta na escola?
13. O que a escola representa para o futuro?
14. Qual foi o acontecimento mais marcante que você viveu na escola?
15. O teu uso do celular gerou alguma vez algum tipo de atrito dentro da escola?
16. Já filmou alguma aula?
17. Já tirou alguma foto em sala de aula com o celular?
18. Como os professores comentam o uso do celular pelos jovens?
REDES SOCIAIS
CELULAR
FAMÍLIA
50. Número de irmãos:
51. Estado Civil dos pais:
186
GRUPO SOCIAL
62. Escolha uma ou mais palavras que definam o grupo com o qual você se identifica
na escola:
63. O grupo da escola é o mesmo que você convive fora da escola?
64. Existe algum grupo formado por meninos e meninas que são viciados em
tecnologia? Quais?
65. Você percebe que todos os membros de grupos diferentes usam celulares?
66. Nas conversas do seu grupo, falam sobre as redes sociais?
67. Compartilham conteúdos na hora em que conversam?
68. É frequente caminhar com o celular na mão?
69. A família conhece e convive em suas redes sociais?
70. Quem da sua família tem perfil em redes sociais?
71. É frequente adicionar pessoas que você ‘fica’ em suas redes sociais?
72. Você anota o número do celular de pessoas em festas e passeios?
73. Como você define as patricinhas e os mauricinhos?
74. Assinale características do grupo de jovens que você pertence:
187
REPRESENTAÇÕES E VALORES
79. Para você ser feliz, quais os itens tecnológicos são os mais necessários:
( ) televisão ( ) celular ( ) notebook ( ) computador ( ) videogame
( ) tablet ( ) notebook
80. Você se sente sozinho quando não está com o celular?
81. Você vê que o celular é um ‘amigo’ ou uma parte de você?
82. Os jovens pobres no Brasil têm os mesmos celulares que os jovens ricos?
83. Quais são as principais diferenças entre celulares de ricos e pobres?
84. O que há de melhor em celular de rico e o que há de pior em celular de pobre?
85. Você é capaz de saber usar qualquer aparelho de celular?
86. O celular te ajuda a organizar a vida? (despertador, agenda, cronômetro)
87. Qual o perfil do jovem que não tem celular?
88. Qual o perfil do jovem que não gosta de celular?
89. Você acha que é possível todas as pessoas terem um celular?
188
HABITUS
101. Qual seu local de lazer preferido?
102. Você utiliza o celular nas suas atividades de lazer?
103. Você acessa o celular em diversas partes de casa?
104. Quando você acorda usa o celular para verificar mensagens?
105. Antes de dormir verifica se há mensagens no aparelho?
106. É comum você utilizar o celular na cama?
107. É comum você utilizar o celular no banheiro?
108. É comum você utilizar o celular no ônibus ou no carro?
109. Deixa seus amigos utilizarem seu celular? Em qual situação?
110. Seu celular tem algum apelido?
111. Qual o sentimento que você tem pelo aparelho?
112. É comum conversar com seus pais enquanto utiliza o celular?
113. Se fosse possível calcular, quantas horas por dia acessa o telefone?
114. Tem algum sonho de consumo relacionado ao celular?
115. Gosta de novas tecnologias? Quais?
116. Tem o hábito de ler jornais? Quantas vezes por semana?
117. Tem o hábito de ler revistas? Quantas vezes por semana?
189
142. Você considera ter um celular um luxo ou uma necessidade? Por quê?
143. Fala publicamente ao telefone?
144. Escreve, fala ou digita textos enquanto caminha?
191
DATA DA ENTREVISTA:
DURAÇÃO:
NOME:
IDADE:
SÉRIE:
PROFISSÃO:
MODELO DO CELULAR:
POSSUI INTERNET: () SIM ( ) NÃO
QUANTAS PESSOAS MORAM NA SUA CASA?
RENDA APROXIMADA MENSAL FAMILIAR:
TEM QUARTO INDIVIDUAL NA SUA CASA? ( ) SIM ( ) NÃO
NAMORA? ( ) SIM ( ) NÃO
USOS DO CELULAR
REDES SOCIAIS
5. Por que você fala do seu cotidiano no Facebook? Por que você gosta de colocar
suas fotos no Facebook?
6. Quais os conteúdos, programas, celebridades você já comentou no Facebook
através do celular?
7. Quais os conteúdos, programas, celebridades você já comentou através do Twitter?
8. O que você acha que não deve ser divulgado nas redes sociais?
9. Já participou de alguma campanha em favor de alguma causa pelo Facebook?
10. O que você acha das mobilizações sociais pelas redes?
CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA
ESCOLA
24. Você acha que é possível ter um bom emprego sem cursar a Universidade? Como?
25. Qual a diferença entre o modo de vida de um jovem de escola pública e do jovem
de escola privada?
26. Você estuda pouco ou bastante, por quê?
27. Acha que tem chance de passar no vestibular? Qual carreira quer cursar?
193
CLASSE SOCIAL
FAMÍLIA
51. Você convive menos com seus familiares por causa do celular?
52. Como você se sente quando não pode comprar o que deseja?
53. Qual o objeto que mais deseja comprar?
54. Os seus pais sabem utilizar o celular como você?
55. O que seus pais lhe dizem sobre a importância de estudar?
56. Os seus pais cobram um bom desempenho na escola? Como?
57. Você tem horário para estudar?
194
CONSUMO
Prezada participante da pesquisa “O uso do celular pelos jovens de classe popular como fator de
distinção social e de comunicação”.
ANEXOS 01
Celular: o espectral no Morro do Vidigal
Flora Dutra67
67
Mestranda da Universidade Federal de Santa Maria – RS. Membro do Grupo de Pesquisa: Mídia, Recepção
e Consumo Cultural. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
(FAPERGS). E-mail: floradutra@hotmail.com.
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204
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209
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211
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213
ANEXOS 02
Apresenta-se reportagens, propagandas e notas sobre a mudança da telefonia fixa para a
telefonia móvel no Brasil desde 1990 a partir da Revista Veja.
214
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218
219
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221
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223
ANEXO 03
Propagandas referentes ao celular a partir dos anos 2000 de um acervo particular da revista
Superinteressante e algumas publicidades selecionadas para esta pesquisa.
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