RELAÇÃO ENTRE A AUTOESTIMA DAS MULHERES E A DEPENDÊNCIA
QUÍMICA
Mariana da Silva Bandeira1
Claudio Louzada2
RESUMO
Palavras-chave:
1 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário da Região da Campanha - URCAMP
2 Professor do Curso de Psicologia Centro Universitário da Região da Campanha - URCAMP 1 INTRODUÇÃO
A dependência química é um problema de saúde pública que afeta indivíduos
em todo o mundo, incluindo mulheres. No entanto, as mulheres possuem fatores de risco específicos que podem influenciar a sua vulnerabilidade à dependência química, bem como o seu acesso ao tratamento adequado (BARRETO, 2023). É essencial compreender, de acordo com Carvalho (2022) que esses aspectos e explorar o papel da psicologia no entendimento e tratamento da dependência química em mulheres. Primeiramente, existe uma lacuna na literatura científica em relação às situações enfrentadas por mulheres com dependência química. Embora muitos estudos tenham investigado a dependência química em geral, poucos se concentram especificamente nas experiências das mulheres nesse contexto. Entender os aspectos únicos que as mulheres enfrentam, como o estigma social, a sobrecarga de responsabilidades e a violência de gênero, é crucial para fornecer intervenções eficazes e adequadas às necessidades específicas dessas mulheres. Além disso, os fatores de risco associados à dependência química em mulheres são complexos e multidimensionais. A literatura atual destaca a importância dos fatores biopsicossociais nesse processo. Traumas, como abuso físico, sexual ou emocional, têm sido associados a um maior risco de desenvolvimento de dependência química em mulheres (CARVALHO, 2022). Da mesma forma, influências sociais, incluindo relações familiares disfuncionais, pressões culturais e normas de gênero, podem desempenhar um papel significativo na predisposição e manutenção da dependência química. Compreender esses fatores de risco é fundamental para o desenvolvimento de estratégias preventivas e de intervenção eficazes (SILVA, 2022). Nesse contexto, a psicologia desempenha um papel crucial na compreensão e no tratamento da dependência química em mulheres. As teorias e abordagens psicológicas fornecem insights valiosos sobre os processos cognitivos, emocionais e comportamentais subjacentes à dependência química (BARRETO, 2023). Além disso, a psicologia oferece uma variedade de intervenções terapêuticas que podem ser adaptadas para atender às necessidades específicas das mulheres, incluindo terapia individual, terapia em grupo, terapia familiar e promoção de habilidades e resiliência. Explorar as contribuições da psicologia nesse contexto é fundamental para melhorar os resultados e o bem-estar das mulheres que sofrem de dependência química. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo analisar a relação entre a autoestima nas mulheres e a dependência química.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão de literatura, sendo esta definida por Marconi e
Lakatos (2010) como a busca, a leitura e a análise sistemática de estudos e trabalhos já realizados sobre a temática abordada. Cabe ressaltar que a revisão de literatura permite conhecer as contribuições teóricas e metodológicas já existentes, identificar as lacunas no conhecimento e subsidiar a formulação das hipóteses e do embasamento teórico da pesquisa, bem como a análise crítica dos estudos revisados. A revisão de literatura foi realizada através da busca por artigos publicados em periódicos institucionais e bancos de dados, sendo estes o SciElo, Google Acadêmico e PubMed. Os termos utilizados para a busca das pesquisas foram: dependência química, psicologia em dependentes químicos e dependência química em mulheres, sendo estes pesquisados em português e inglês, com o uso dos termos booleanos. Foram incluídos na pesquisa estudos que abordaram a dependência química e os seus aspectos em mulheres, bem como os estudos que contemplaram a psicologia nessa temática, enquanto optou-se por exluir do estudo os artigos que abordarm a dependência química em outras áreas que não a psicologia.
3 DESENVOLVIMENTO
3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE A DEPENDÊNCIA QUÍMICA E
AUTOESTIMA
3.1.1 Dependência química em mulheres
A dependência química em mulheres é uma questão complexa e
multifacetada que requer uma análise abrangente a partir de perspectivas sociais e psicológicas. Tanto os fatores sociais quanto os psicológicos desempenham um papel significativo na compreensão dessa problemática (FREIRE, 2023). Do ponto de vista social, Freire (2023) pontua que a dependência química em mulheres está intrinsecamente ligada a questões culturais e de gênero. As mulheres muitas vezes enfrentam expectativas sociais rígidas e estereótipos de gênero, o que pode limitar suas oportunidades, restringir seu empoderamento e levá-las a buscar escape ou alívio nas drogas. Adicionalmente, Vidor (2021) explica que a exposição a situações de violência, abuso ou discriminação pode aumentar a vulnerabilidade ao desenvolvimento da dependência química. Complementando a perspectiva social sobre a dependência química em mulheres, é essencial destacar a influência de fatores culturais na construção das identidades e comportamentos relacionados ao uso de substâncias. As normas culturais podem perpetuar desigualdades de gênero, dificultando o acesso das mulheres a serviços de saúde e tratamento específicos, bem como criando barreiras para que busquem ajuda devido ao estigma associado ao uso de drogas (VIDOR, 2021). Culturalmente, as mulheres muitas vezes são socializadas para desempenhar papéis específicos na sociedade, como serem cuidadoras, esposas ou mães. Essas expectativas rígidas podem impor uma pressão adicional e estresse emocional, levando algumas mulheres a recorrerem ao uso de drogas como uma forma de lidar com as demandas e pressões impostas pela sociedade (TRIGO et al., 2022). De acordo com Elbreder et al., (2008) o estigma e a discriminação também podem dificultar o acesso a recursos de tratamento, já que muitas mulheres podem temer julgamentos e retaliações sociais. Além disso, é fundamental considerar a influência da mídia e da publicidade na perpetuação de estereótipos de gênero e na glamorização do uso de drogas. A exposição constante a imagens idealizadas e mensagens que associam o consumo de substâncias ao prazer e à liberdade pode influenciar a percepção que as mulheres têm em relação às drogas e afetar suas atitudes e comportamentos em relação ao uso. Outro aspecto relevante é a falta de políticas públicas adequadas que abordem a dependência química de forma sensível ao gênero (TRIGO et al., 2022). As políticas muitas vezes são formuladas de maneira genérica, sem levar em conta as especificidades e necessidades das mulheres que enfrentam esse problema. Isso pode resultar em lacunas no tratamento, na prevenção e na reabilitação, bem como na ausência de serviços de apoio e aconselhamento direcionados (DIEHL; CORDEIRO; LARANJEIRA, 2018). Desse modo, uma abordagem inclusiva e sensível ao gênero é crucial para superar esses desafios. Isso envolve a criação de ambientes de tratamento seguros e acolhedores para as mulheres, reconhecendo suas experiências únicas e as possíveis conexões entre a dependência química e situações de abuso ou violência. Além disso, Costa et al., (2015) pontuam que programas de prevenção devem considerar a realidade das mulheres, abordando questões culturais e de gênero, e incentivando o empoderamento e a resiliência como estratégias para enfrentar as pressões sociais e os fatores de risco associados ao uso de drogas. Nessa perspectiva, a dependência química em mulheres é um fenômeno influenciado por uma complexa interação de fatores sociais e culturais e por isso, a superação dos estereótipos de gênero e a promoção de políticas públicas inclusivas são passos essenciais para desenvolver um ambiente acolhedor, onde as mulheres tenham acesso a suporte adequado e possam enfrentar os desafios da dependência com dignidade e respeito (MEDEIROS; MACIEL; SOUSA, 2017). Aprofundar a relação entre autoestima, depressão, ansiedade e dependência química em mulheres, para Souza (2019) é uma forma de realizar a interpretação sobre essas questões estão intrinsecamente interligadas e podem criar um padrão de desafios emocionais e comportamentais, requerendo abordagens cuidadosas a fim de promover a cura e o bem-estar. No caso das mulheres, a autoestima pode ser influenciada por fatores culturais, sociais e pessoais, ao passo que os problemas relacionados à autoestima podem resultar em sentimentos de inadequação, autocrítica intensa e falta de confiança, o que pode predispô-las a desenvolverem quadros depressivos (SILVA; PENSO, 2022). A depressão é um transtorno mental grave, que afeta significativamente a forma como uma mulher se sente, pensa e age, tendo como sintomas comuns profunda tristeza, perda de interesse em atividades antes apreciadas, além de alterações no padrão de sono e apetite (PASTORI, 2020). Nessa perspectiva, as mulheres com autoestima reduzida estão mais propensas a desenvolver depressão, pois a falta de autoconfiança pode torná-las mais vulneráveis a eventos estressantes ao longo da vida, bem como a ansiedade, que é outro fator relevante por ser uma condição mental, que quando excessiva pode ser paralisante, ocasionando preocupações persistentes, medos irracionais e sensações de inquietude (ELBREDER et al., 2008). Nesse contexto, Batista (2013) afirma que algumas mulheres podem buscar alívio temporário através do uso de substâncias químicas, como álcool ou drogas. Entretanto, o uso contínuo dessas substâncias leva à dependência química, estabelecendo um ciclo vicioso que agravará tanto a ansiedade quanto a autoestima. A dependência química é um desafio doloroso e complexo para qualquer indivíduo, mas no caso das mulheres, pode estar relacionada a um padrão de autodestruição. Batista (2013) destaca que muitas delas podem recorrer ao uso de substâncias como uma forma de lidar com emoções dolorosas ou experiências traumáticas, o que tende a acentuar os problemas relacionados à autoestima, depressão e ansiedade e, portanto, esse ciclo autodestrutivo potencializado pela dependência química pode conduzir a uma sensação de desamparo. Esses aspectos acabam resultando, conforme Migott (2008) em uma diminuição ainda mais significativa da autoestima e intensificando a gravidade da depressão e ansiedade e o tratamento voltado para essas mulheres que enfrentam a interseção entre autoestima, depressão, ansiedade e dependência química deve contemplar todos os aspectos de forma integrada, podendo incluir psicoterapia, aconselhamento, grupos de apoio, práticas de autocuidado e, quando necessário, intervenção medicamentosa. Diante desse cenário, é preciso também considerar o papel da família como um fator relevante, bem como o ambiente doméstico. A influência do contexto familiar é crucial na etiologia da dependência química em mulheres. Relações familiares disfuncionais, falta de apoio emocional ou a presença de membros dependentes podem contribuir para um ambiente propício ao abuso de substâncias (DAMAS, 2013). Além disso, questões socioeconômicas, como pobreza e desigualdade, podem afetar o acesso a recursos de tratamento e prevenção, ampliando o impacto da dependência, como por exemplo a influência do contexto familiar que é, de fato, um fator crucial na etiologia da dependência química em mulheres. O ambiente familiar desempenha um papel fundamental na formação da personalidade, no desenvolvimento emocional e nas escolhas comportamentais de um indivíduo. Quando se trata de mulheres com dependência química, as relações familiares disfuncionais podem criar um cenário propício para o abuso de substâncias (OLIVEIRA, 2007). As relações familiares disfuncionais são caracterizadas por dinâmicas negativas, como abuso físico, emocional ou sexual, negligência, falta de comunicação efetiva e ausência de apoio emocional. Mulheres que crescem em um ambiente marcado por conflitos familiares e relacionamentos tóxicos podem sentir- se isoladas, desvalorizadas e incapazes de lidar com seus problemas de maneira saudável. O uso de drogas pode surgir como uma tentativa de escapar temporariamente da realidade difícil ou como uma forma de autossabotagem, refletindo a baixa autoestima e a sensação de desesperança (GOMES; BRILHANTE, 2019). A presença de membros da família que também são dependentes químicos pode criar uma normalização do comportamento de abuso de substâncias. O modelo de comportamento dos pais ou irmãos pode influenciar fortemente as atitudes e crenças sobre o uso de drogas em mulheres, tornando-as mais propensas a adotar padrões semelhantes. Esse ambiente pode criar um ciclo vicioso, tornando a recuperação mais desafiadora e perpetuando a dependência ao longo das gerações. Além das questões familiares, aspectos socioeconômicos também desempenham um papel importante no desenvolvimento da dependência química em mulheres (CEZAR; RIBEIRO; FRANCKE, 2021). A pobreza, a desigualdade social e a falta de acesso a recursos de tratamento podem ampliar o impacto da dependência, criando barreiras adicionais para buscar ajuda e suporte adequado. Mulheres que vivem em situações socioeconômicas desfavorecidas podem enfrentar maior estresse e adversidades, o que pode aumentar o risco de recorrerem a drogas como uma forma de enfrentamento. Além disso, a falta de recursos financeiros pode limitar a possibilidade de acesso a tratamentos especializados, terapias ou programas de reabilitação, tornando ainda mais difícil a busca pela recuperação (IURKIV, 2019). Diante dessa perspectiva, uma das maneiras mais efetivas com esses aspectos, é a adoção de uma abordagem interdisciplinar no tratamento da dependência química. Profissionais de saúde, assistentes sociais e psicólogos devem trabalhar em conjunto para identificar as questões familiares e socioeconômicas que podem estar contribuindo para o uso de drogas. Oferecer suporte emocional e terapias familiares pode ajudar a abordar as dinâmicas disfuncionais e promover a reconciliação e a cura dentro do ambiente familiar (CALIL; ANDRADE; FIUZA, 2023). Além disso, programas de prevenção e tratamento que sejam acessíveis e adaptados às necessidades das mulheres em diferentes contextos socioeconômicos devem ser desenvolvidos e implementados. Promover a educação sobre a dependência química e a importância do apoio familiar também é fundamental para reduzir o estigma associado ao problema e encorajar as mulheres a buscar ajuda sem sentir vergonha ou medo de represálias (GOMES; BRILHANTE, 2021).
3.1.2 Associação entre a autoestima e a dependência química
Ao longo da história, as mulheres enfrentaram uma série de desafios sociais,
culturais e econômicos que influenciaram significativamente a construção de sua autoestima. Desde eras passadas até o presente, as expectativas de gênero, estereótipos prejudiciais e a desigualdade de oportunidades muitas vezes minaram a autoconfiança e a autoestima das mulheres (Gomes; Brilhante, 2021). No passado, as mulheres eram frequentemente relegadas a papéis domésticos, limitando suas aspirações e a oportunidade de desenvolver suas habilidades e interesses. Isso, por sua vez, impactava negativamente a percepção que as mulheres tinham de si mesmas. Com o tempo, o movimento feminista trouxe avanços significativos na luta pela igualdade de gênero e na promoção da autoestima feminina, mas desafios persistem, especialmente quando se trata de enfrentar estigmas sociais e normas de beleza inatingíveis (Andrade, 2012). Ao longo dos séculos, as mulheres enfrentaram estigmas sociais que moldaram negativamente sua autoimagem e autoestima. Dentre os estigmas, pode- se citar o estigma da fragilidade, em que tradicionalmente, as mulheres eram vistas como frágeis e emocionalmente instáveis, fator que desvalorizava as suas contribuições e habilidades, levando muitas a internalizarem a ideia de que eram menos capazes do que os homens, além do estigma da dependência, relacionado com as expectativas sociais de que se as mulheres dependessem dos homens para sua subsistência e proteção frequentemente as colocavam em posições de dependência econômica. Isso afetava a autoestima das mulheres, pois podia criar uma sensação de impotência e falta de autonomia (Diehl; Bosso; Pillon, 2023). Por outro lado, Noronha (2021) ressalta que também há o estigma da maternidade, que embora seja uma parte importante da vida de muitas mulheres, muitas vezes foi retratada como a única opção ou principal objetivo para elas, desconsiderando outras aspirações e talentos, minando a autoestima das mulheres que escolheram seguir caminhos diferentes (Mestre; Souza, 2021). Outro estigma que se faz presente também é o da sexualidade, em que normas de gênero frequentemente restringiam a expressão sexual das mulheres, levando à supressão de desejos e sentimentos naturais, gerando sentimento de culpa e vergonha, prejudicando a autoestima e por fim, o estigma da aparência, em que a sociedade historicamente enfatizou padrões de beleza rígidos e inatingíveis para as mulheres, o que contribuiu diretamente para a criação de uma pressão constante para atender a esses padrões, o que, por sua vez, levou a problemas de autoimagem e autoestima quando as mulheres não conseguiam alcançar esses padrões (Silva, 2019). Embora o movimento feminista tenha lutado contra muitos desses estigmas e conquistado avanços significativos na promoção da igualdade de gênero, eles persistem em muitos aspectos da sociedade contemporânea. Por exemplo, a pressão para equilibrar carreira e família, julgamentos em relação à sexualidade e a incessante ênfase na aparência física ainda afetam a autoestima das mulheres e por isso, é importante reconhecer que esses estigmas sociais têm impactos profundos na saúde mental e emocional das mulheres, tornando-as mais suscetíveis à dependência química como uma forma de enfrentar esses desafios (Libera; Silva, 2023). A dependência química, portanto, é muitas vezes uma resposta à sobrecarga emocional e ao sofrimento causados por esses estigmas sociais. As substâncias oferecem um alívio temporário, uma fuga das pressões e das emoções negativas que as mulheres enfrentam em decorrência desses estigmas. No entanto, essa fuga é muitas vezes ilusória, pois a dependência química cria um ciclo de autodestruição que agrava ainda mais os problemas de autoestima, criando um ciclo vicioso difícil de romper (Diehl; Bosso; Pillon, 2023). O consumo excessivo de álcool é uma questão global que muitas vezes não é reconhecida na sua verdadeira natureza, ou seja, como uma forma de uso de substâncias psicoativas. Apesar de ser legal e amplamente disponível em muitas sociedades, o álcool apresenta efeitos significativos na saúde física e mental das pessoas. Essa falta de percepção do álcool como uma droga é influenciada por diversos fatores (Batista; Félix; Nascimento, 2021). Primeiramente, a legalidade e disponibilidade do álcool são fatores que contribuem para a percepção de que seu consumo é seguro e aceitável, especialmente entre adultos. Em muitas regiões do mundo, o álcool é legalizado, o que cria a crença de que seu uso é inofensivo, ao contrário das drogas ilícitas. A cultura do consumo de álcool desempenha outro papel relevante (Marques, 2020). Em várias culturas, o álcool está profundamente arraigado em tradições sociais e rituais. Celebrações, festas e eventos sociais frequentemente incorporam o consumo de álcool, normalizando assim seu uso excessivo. A indústria do álcool também desempenha um papel significativo nessa percepção distorcida. Estratégias de marketing atraentes frequentemente enfatizam a diversão, a sociabilidade e a felicidade associadas ao consumo de álcool, ao mesmo tempo em que minimizam os riscos à saúde. Comparativamente, o álcool é muitas vezes percebido como menos perigoso do que drogas ilícitas, como cocaína ou heroína. No entanto, o abuso crônico de álcool está relacionado a uma série de problemas graves de saúde, incluindo doenças hepáticas, cardiovasculares, transtornos mentais e dependência (Santana, 2020). Outro aspecto que contribui para a falta de percepção dos riscos do álcool de acordo com Lima (2021) é o fato de que os danos à saúde muitas vezes se acumulam ao longo do tempo. As consequências negativas podem não ser imediatamente evidentes, o que leva as pessoas a subestimarem os riscos associados ao consumo regular e excessivo de álcool. A aceitação social do consumo de álcool é um fenômeno generalizado. Lima (2021) pontua que o álcool é frequentemente associado a eventos sociais e à ideia de relaxamento. Isso normaliza o uso excessivo e contribui para a pressão dos pares, levando as pessoas a consumirem mais do que pretendiam. Além disso, a falta de educação adequada sobre os riscos e consequências do consumo excessivo de álcool é uma questão preocupante. Muitas pessoas não recebem informações suficientes sobre os efeitos adversos do álcool, o que resulta em uma falta de conscientização. No contexto feminino, é importante destacar que as mulheres também enfrentam desafios específicos relacionados ao consumo de álcool. Dados revelam que o consumo de álcool por mulheres está em ascensão em diversas partes do mundo, e as consequências para a saúde feminina são significativas. Além disso, existe uma associação entre o consumo de álcool e o uso de medicamentos, particularmente entre as mulheres (Santos et al., 2019). Mulheres que consomem álcool em excesso têm maior probabilidade de recorrer a medicamentos, como ansiolíticos ou antidepressivos, muitas vezes sem supervisão médica adequada, como uma forma de lidar com os efeitos negativos do álcool ou com problemas de saúde mental relacionados. Portanto, é crucial reconhecer o consumo excessivo de álcool como um problema de saúde, mesmo em sociedades onde seu uso é amplamente aceito (Gomes; Brilhante, 2021).