Professional Documents
Culture Documents
Organização Do Quadro Social de Cooperativas - SESCOOP
Organização Do Quadro Social de Cooperativas - SESCOOP
Participante:
SUMÁRIO
Pág.
I- APRESENTAÇÃO .................................................................................. 3
II - INTRODUÇÃO ....................................................................................... 5
III - NECESSIDADE DE ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL .............. 6
IV - RELAÇÃO DA COOPERATIVA COM SEUS ASSOCIADOS ................ 8
V- EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA E PARTICIPAÇÃO CONSCIENTE .. 12
VI - DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO DO
QUADRO SOCIAL NAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS ................... 15
VII - CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL ..................... 16
VIII - O QUE JUSTIFICA A ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL ............ 17
IX - OBJETIVOS DA ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL .................... 19
X- ESTRUTURA, COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DO TRABALHO
EDUCATIVO ATRAVÉS DA ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL . 21
• Núcleos de Desenvolvimento Cooperativista ................................... 21
• Núcleo Central de Desenvolvimento Cooperativista ........................ 23
• Fluxograma de Funcionamento ........................................................ 23
XI - PASSOS PARA IMPLANTAÇÃO DO TRABALHO DE
ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL ............................................... 24
XII - DESTAQUE DE ALGUNS MOMENTOS DO TRABALHO DE
ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL ............................................... 27
XIII - PRINCIPAIS ENTRAVES AO DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
DE ORGANIZAÇÃO DO QUADRO SOCIAL DE COOPERATIVAS ...... 28
XIV - O TÉCNICO COMO AGENTE DO PROCESSO EDUCATIVO ............. 30
• Perfil e Funções do Técnico (ADC) como Educador ......................... 31
XVI - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 32
XVII - CONCLUSÃO ........................................................................................ 33
XVIII - BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 34
I - APRESENTAÇÃO
O cooperativismo brasileiro tem passado por diversas provas de sobrevivência. No
início, as cooperativas estiveram voltadas para um trabalho mais social, muitas
vezes de forma paternalista e assistencialista. Depois, passaram a atuar de forma
mais empresarial, mas, com isso, acabaram se distanciando de seus associados,
limitando-se apenas e muitas vezes a realização de assembléias gerais ordinárias,
uma vez ao ano, como forma de estabelecer um encontro com seus associados.
Não é possível ver uma cooperativa funcionar sem a ampla participação de seus
associados e nem sem a perfeita identificação com os seus negócios. E isto só é
possível com um eficiente e eficaz sistema de comunicação, informação e educação
cooperativista e técnica, através do quadro social organizado.
Analisando por esse ângulo, não nos resta alternativa, se não investir na educação e
profissionalização dos associados, para que tenhamos associados, cooperativas e
cooperativismo fortes e representativos. Este trabalho passa, necessariamente, pela
organização do quadro social, quando se procura criar um espaço de participação e
integração das necessidades dos associados com os objetivos e atividades da
cooperativa, fortalecendo o elo entre ela e seus associados e vice-versa, levando a
um maior comprometimento e profissionalismo de ambas as partes.
II - INTRODUÇÃO
A instabilidade sócio-econômica vivenciada por todos nós brasileiros é uma
realidade. Periodicamente o governo dita novos pacotes e cria novos encargos e
impostos, interferindo na economia e criando sérios transtornos para toda a
sociedade. Torna-se, portanto, muito arriscado para um dirigente assumir sozinho,
ou somente com a diretoria, todos os riscos da administração de qualquer empresa,
pois o que é certo hoje, no dia de amanhã pode não o ser.
Se isso vale para qualquer tipo de empresa, muito mais vale para a cooperativa. A
cooperativa é essencialmente um empreendimento prestador de serviços e só pode
ser eficiente e eficaz, enquanto prestar os serviços que estão sendo requisitados
pelo seu quadro social, pois os usuários e clientes da cooperativa são os próprios
associados. Entretanto, é praticamente impossível consultar os associados
individualmente e, se fosse possível, não levaria a nada, pois não são os interesses
individualizados que viabilizam a administração de uma cooperativa.
Na cooperativa cada pessoa, por mais rica, poderosa ou sábia que seja, tem apenas
um voto. Por isso é imprescindível desenvolver um processo permanente de
capacitação cooperativista e empreendedora, para que todos os associados possam
votar conscientemente nas grandes decisões da entidade.
Tudo o que foi mencionado, ainda está longe da realidade, pois o cooperativismo
brasileiro atua num contexto adverso, onde impera outra escala de valores.
Na interpretação deste princípio reside uma eterna discussão teórica x prática que
se reflete na primeira grande contradição do empreendimento cooperativo: distribuir
resultados aos associados x acumular para o crescimento da cooperativa.
Em que pese a verdade crítica de que muitas cooperativas trilharam e ainda trilham
este caminho, pesa também a verdade histórica de que muito pouco ou quase nada
é feito para a formação da consciência cooperativista, econômica e
empreendedora dos associados em relação ao mundo em que vivemos e das
determinações do mercado em que participamos.
A partir desta necessidade forma-se nas cooperativas uma situação muito complexa
sob o ponto de vista organizacional, pois os técnicos contratados passam a deter
parte do poder decisório (conhecimento) e ainda passam a determinar novas regras
de comportamento organizacional.
• Educação Cooperativista
É um dos princípios do cooperativismo. O principal instrumento de que o
cooperativismo deve se utilizar para promover e seu desenvolvimento. Na medida
em que associados, dirigentes e todos os envolvidos passam a compreender o que
é e o que pode o cooperativismo e sua cooperativa, vivenciam com mais
autenticidade o seu papel e cumprem com mais eficiência suas responsabilidades.
Em suma, tornam-se elementos verdadeiramente PARTICIPATIVOS na vida de suas
cooperativas e, consequentemente, COMPROMETIDOS com sua gestão.
• Participação
Participar exige de cada um, CONHECER e IDENTIFICAR-SE com a dinâmica de
sua comunidade (núcleo) e sua cooperativa. Mas, NINGUÉM PARTICIPA DAQUILO
QUE NÃO CONHECE. Entretanto, só participamos QUANDO NOS É DADA A
OPORTUNIDADE DE PARTICIPAR.
Portanto, a participação não pode ser imposta. Deve resultar de um movimento
espontâneo de adesão, que nasce de dentro do indivíduo e que se expressa em
atitudes solidárias que o levam a compartilhar direitos e deveres com os demais
associados.
Se em outras entidades a participação nas decisões e nos resultados é mais ou
menos permitida, conforme a conveniência da própria entidade ou de seus
dirigentes, nas cooperativas a participação é exigida pelo próprio modelo, pois nela
os associados são donos e usuários. Sem essa participação efetiva dos associados,
não existe cooperativa legítima. Quanto mais consciente e responsável a
participação, tanto mais eficiente e democrática será a cooperativa.
• Gestão Democrática
A estruturação de um trabalho permanente de organização do quadro social é, na
prática, a democratização da administração da cooperativa. Se concordarmos que
as cooperativas são entidades de responsabilidade coletiva, exigimos, então,
PARTICIPAÇÃO EFETIVA no processo decisório e em sua gestão.
Em 1968, quando a diretoria da Cooperativa Mista Bom Jesus Ltda. tomou posse,
encontrava-se a entidade em situação extremamente difícil, representada pela falta
de integralização do capital, por parte dos associados, não movimentação com a
cooperativa, perdas apresentadas no último exercício, descontentamento dos
associados e outros problemas. Foi então necessária, além de uma boa
administração, a colaboração e compreensão efetiva dos associados para reerguer a
cooperativa. Para isso, havia necessidades de levar ao conhecimento dos
associados o que vinha acontecendo, o porquê e a forma de solucionar os
problemas para evitar que a cooperativa fracassasse.
Entretanto, não surtiu o resultado esperando pela OCB, ficando à critério das
próprias cooperativas querer ou não organizar o seu quadro social.
Porém, o que se constata é que ainda existe muita resistência de alguns dirigentes
que, por um motivo ou por outro, negam-se a promover este trabalho temendo ver,
quem sabe, o seu “poder” questionado, ou a sua administração avaliada e criticada.
Preparar Lideranças
É uma das funções de destaque do trabalho de organização do quadro social. Hoje
temos exemplos claros da contribuição desse trabalho, que forma associados
capazes de assumirem cargos eletivos na cooperativa, principalmente no Conselho
de Administração/Diretoria e no Conselho Fiscal, já que através das reuniões
comunitárias e do exercício da representatividade, o associado torna-se mais apto e
consciente para as eleições na cooperativa, através das Assembléias Gerais.
Também encontramos lideranças comunitárias despertadas pelo trabalho de
organização do quadro social nas cooperativas, assumindo cargos públicos ou
cargos em outras entidades representativas, em diversas localidades.
Promover o Cooperativismo
É através desse trabalho, principalmente, que o associado fica conhecendo a
história, princípios, filosofia e legislação cooperativista, bem como é esclarecido
quanto aos seus direitos, deveres e responsabilidades perante a cooperativa.
A organização do quadro social também motiva a participação e a integração das
famílias dos associados nas cooperativas.
Valorizar a Cooperação
Através da organização do quadro social os associados são conscientizados sobre a
importância de se unirem para solucionarem seus problemas e aumentarem seu
poder de negociação. Além disso, o associado recebe todas as informações
referentes aos serviços prestados pela cooperativa e a forma de serem utilizados,
bem como outras orientações sobre economia, política, empreendedorismo,
produção, etc.
Auxiliar a Administração
A organização do quadro social possibilita a troca de idéias, pois os associados
tomam parte nas decisões e estudos que venham a ser efetuados pela cooperativa.
Os problemas, reivindicações, sugestões dos associados e de seus núcleos são
levados ao conhecimento da administração da cooperativa, através dos
representantes dos associados, depois de discutidas as necessidades e a
viabilidade, procurando levar a melhor solução e orientação para resolver as
dificuldades.
Funcionamento:
Todo associado deverá fazer parte de um Núcleo de Desenvolvimento
Cooperativista. Cada núcleo terá o acompanhamento de um técnico da cooperativa
(Agente de Desenvolvimento Cooperativista – “ADC”), que será responsável pelo
desenvolvimento do processo educativo, motivação e monitoramento dos grupos de
associados (núcleos). As reuniões serão agendadas conforme a necessidade dos
associados participantes do núcleo, preferencialmente, mensais. Cada núcleo fará a
indicação de representantes (que poderá ser em número proporcional aos seus
componentes), que, por sua vez, formarão o Núcleo Central de Desenvolvimento
Cooperativista junto à cooperativa.
O “ADC” fará o acompanhamento da evolução dos trabalhos do grupo considerando
sempre os aspectos ligados a produção, industrialização, comercialização,
assistência técnica e outras necessidades ou possibilidades dos próprios Núcleos de
Desenvolvimento Cooperativista.
Funcionamento:
O Núcleo Central de Desenvolvimento Cooperativista terá coordenação própria, e
suas reuniões deverão ser agendadas de acordo a não coincidir com a programação
dos demais órgãos da cooperativa.
Será assessorado pelo Agente de Desenvolvimento Cooperativista e por um
dirigente, preferencialmente o presidente da cooperativa.
• FLUXOGRAMA DE FUNCIONAMENTO
Núcleos de
Cooperativa Núcleo Central Desenvolvimento
de Desenvolvimento
Cooperativista Cooperativista
Os passos apresentados a seguir não têm como objetivo ser uma receita, pois sua
aplicabilidade dependerá da realidade de cada cooperativa.
1º passo – Decisão de Organizar o Quadro Social – Tomada de decisão pelos
dirigentes, estabelecendo as condições necessárias para que os associados possam
se organizar nas bases, elegendo livre e democraticamente os seus representantes.
Após a decisão de se organizar o quadro social, os dirigentes devem escolher ou
contratar o(s) “Agente(s) de Desenvolvimento Cooperativista” que coordenará(ão) o
processo de organização do quadro social em sua cooperativa, após a devida
capacitação e preparação do mesmo. Entretanto, o êxito dos trabalhos dependerá
do maior ou menor apoio que os Agentes de Desenvolvimento Cooperativista (ADC)
vierem a receber da Administração da Cooperativa. Sem o comprometimento dos
dirigentes da cooperativa o trabalho não terá êxito.
16º passo – Continuidade dos contatos – com cada associado e sua família,
individualmente e nos núcleos, no seu meio ambiente e na cooperativa.
3º Fase: Amadurecimento
Esta fase é caracterizada pela avaliação constante da cooperativa, dos seus
serviços e funcionamento e do próprio processo de organização do quadro social. O
grupo já trabalha de forma mais ordenada, já se iniciando a reciclagem dos membros
e ocorrendo alternâncias de representantes. Esse é o estágio para um debate mais
aprofundado sobre a cooperativa, em sua dimensão econômica e social,
preparando-se futuros dirigentes.
Deve-se ter cuidado com as interpretações dadas pelos dirigentes do tipo: “o grupo
quer saber demais”, “está indo muito longe”, criando-se barreiras e conflitos internos
no processo de organização e conscientização.
Devemos buscar temas que valorizem o grupo para serem discutidos, pois há
variabilidade na freqüência e na seqüência de assuntos em análise. Nessa fase há
discussão sobre reorganização dos trabalhos, renovação de lideranças, intercâmbio
com outros grupos, envolvimento no plano de metas da cooperativa, etc.
Há também maior participação no processo eletivo, na definição de normas, no
estabelecimento de comissões, no sistema de voto, etc., bem como no processo de
discussão e aprovação de idéias, quer nos Núcleos e no Núcleo Central, quer nas
Assembléias Gerais da Cooperativa. O grupo procura discutir, antecipadamente, os
assuntos a serem votados em Assembléia Geral, através de pré-assembléias. As
ações grupais desenvolvem agentes do processo cooperativo, tanto ao nível de
associados, como ao nível de colaboradores e técnicos. Isto dinamiza o
relacionamento humano na cooperativa e facilita soluções para os problemas, a
partir da doutrina e dos princípios do cooperativismo.
É importante que os associados sintam que são capazes e podem fazer de forma
organizada e participativa.
XV - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implantação de um Projeto de Organização do Quadro Social é um grande desafio
para as cooperativas que querem investir nesta área. Mas, se quisermos ser
efetivamente “cooperativa”, precisamos encontrar formas de comprometer o quadro
social com o futuro da mesma. O primeiro passo é mudar a cultura interna da
cooperativa, buscando a participação de todos. Precisamos, para isso, avaliar a
forma como estamos trabalhando, explorando idéias que aperfeiçoem o trabalho
integrado, bem como, buscar instrumentos para solidificar o empreendimento
cooperativo.
Precisamos ser mais eficientes. Ninguém vive de filosofia. A cooperativa deve atrair
a participação do associado, através do seu trabalho, para depois, poder cobrar do
associado a sua fidelidade e comprometimento.
XVI - CONCLUSÃO
Este material não tem a pretensão de esgotar tão vasto assunto, nem tampouco
oferecer “receitas prontas” de como organizar o quadro social de cooperativas, pois,
como já dissemos, cada caso exige uma estratégia diferente. Apresentamos, isso
sim, algumas sugestões extraídas da literatura pertinente ao assunto, aliadas a
nossa experiência prática e cotidiana no trabalho com grupos e pessoas, inclusive
como técnico de cooperativas, atuando neste trabalho; além da experiência em
implantar este trabalho em várias cooperativas brasileiras, sobretudo em Minas
Gerais.
Cada cooperativa deve procurar, dentro de sua realidade, a forma mais adequada
de organizar o seu quadro social, assim como cada ramo cooperativista deve
procurar definir o seu modelo básico mais adequado.
Entendemos ser complexa a organização de pessoas e é fato que nem sempre, na
primeira tentativa, obtemos o sucesso esperado. Porém, a experiência tem
demonstrado que nas cooperativas onde o trabalho foi bem planejado e implantado,
os resultados não demoraram a aparecer, quer através da melhoria no
relacionamento cooperativa-associado ou no respaldo do associado nas decisões e
planos de sua cooperativa ou ainda no grau de conscientização cooperativista do
quadro social.
XVII - BIBLIOGRAFIA
BRANDERNBURGA, A. & HENDERIKX, E.M.G.J. Instrumental para trabalho com
grupos Informais na extensão rural. Curitiba, EMATER/PR, 1988.