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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ANDRÉ GARCIA RIBEIRO

Fichamento filosofia jurídica


Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino

GOIÂNIA
19/10/2023
Introdução
O conceito de justiça tem sido uma questão central na filosofia desde os tempos
antigos, permeando não apenas debates éticos e morais, mas também influenciando
diretamente a construção e interpretação dos sistemas jurídicos e políticos. A busca por uma
definição universalmente aceitável de justiça, bem como seu papel em nossas vidas, continua a
ser uma área de intensa investigação e disputa. Este trabalho tem como objetivo explorar as
ideias sobre justiça de três filósofos fundamentais: Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino.

Cada um desses pensadores apresenta uma visão única e influente do que constitui a
justiça, moldada tanto pelo contexto histórico e jurídico em que viveram quanto por suas
respectivas inclinações filosóficas e éticas. Este fichamento visa, portanto, desemaranhar essas
visões complexas, fornecendo um entendimento claro de como cada filósofo concebe a justiça
em relação à ética, política e direito.

Contexto Histórico e Jurídico:


Platão (427-347 a.C.)

• Período: Platão viveu durante o período clássico da Grécia Antiga, uma época de
intensa atividade intelectual e política.

• Sistema Jurídico: As cidades-estados gregas, especialmente Atenas, possuíam um


sistema democrático, embora limitado (só os homens livres podiam participar). A
justiça era administrada por meio de júris populares.

• Influência: A condenação e execução de seu mentor, Sócrates, profundamente


influenciou suas ideias sobre justiça e direito.

Aristóteles (384-322 a.C.)

• Período: Aristóteles foi um discípulo de Platão e viveu logo após ele, também na Grécia
Antiga.

• Sistema Jurídico: Similar ao de Platão, com algumas evoluções e complexidades


adicionais.

• Influência: Aristóteles foi mais empírico que Platão e sua visão da justiça foi
profundamente influenciada pelo estudo de constituições reais.

Tomás de Aquino (1225–1274)

• Período: Idade Média, durante o auge da influência da Igreja Católica.

• Sistema Jurídico: O direito canônico e os sistemas feudais dominavam, com a Igreja


tendo um papel significativo na administração da justiça.

• Influência: A visão de Aquino sobre justiça foi moldada pela tentativa de conciliar a
filosofia aristotélica com os princípios cristãos.
Conceitos de Justiça:
Platão

• Definição: Em sua obra "A República", Platão define justiça como a harmonia da alma e
do Estado, onde cada parte desempenha seu papel apropriadamente.

• Abordagem: Platão descreve uma sociedade ideal dividida em três classes: os


governantes, os guardiães e os produtores. A justiça, para ele, surge quando essas
classes interagem de maneira harmoniosa e justa, cada uma fazendo o que é melhor
para o todo.

Aristóteles

• Definição: Aristóteles, em sua obra "Ética a Nicômaco", aborda a justiça como uma
virtude que regula as relações entre as pessoas, assegurando um equilíbrio no
tratamento e na distribuição de bens.

• Abordagem: Ele distingue entre "justiça distributiva" e "justiça corretiva". A primeira


lida com a distribuição equitativa de bens e honras, enquanto a segunda se concentra
em corrigir transações injustas para restaurar um equilíbrio.

Tomás de Aquino

• Definição: Tomás de Aquino define justiça como uma virtude que nos orienta a dar a
cada um o que é devido, de acordo com seu mérito ou status.

• Abordagem: Em sua obra "Suma Teológica", ele integra as visões de Aristóteles com os
princípios cristãos, chegando a uma abordagem mais teológica da justiça. Aquino
também distingue entre "Justiça Distributiva" e "Justiça Comutativa", semelhante a
Aristóteles, mas adiciona uma dimensão divina e eterna à equação.

Justiça na Ética, Política e Direito:


Platão

• Ética: Para Platão, a justiça é uma virtude da alma e está profundamente ligada à ética
individual. Uma alma justa é uma alma ética.

• Política: A justiça também é um princípio organizador da cidade-estado ideal em sua


obra "A República". Platão acredita que a justiça na política é um reflexo da justiça na
alma.

• Direito: Na perspectiva de Platão, o sistema jurídico deveria ser um meio para alcançar
a justiça. Ele critica o sistema democrático de Atenas por seu falhanço em alcançar
uma verdadeira justiça.

Aristóteles

• Ética: A justiça é uma virtude moral para Aristóteles e está ligada ao conceito de
equidade e bom caráter.
• Política: Em sua obra "Política", Aristóteles vê a justiça como o objetivo da cidade-
estado. Ele acredita que uma governança justa é aquela que visa o bem comum.

• Direito: O sistema legal, para Aristóteles, é um meio prático de aplicar princípios de


justiça. Ele discute extensivamente as formas de constituição e leis em sua obra,
sublinhando a necessidade de um sistema legal justo para uma sociedade saudável.

Tomás de Aquino

• Ética: A justiça, para Aquino, é uma virtude cardinal que se relaciona com a ética tanto
individual quanto coletiva. Ele a vê como a base para todas as ações morais.

• Política: Em um contexto em que a Igreja e o Estado estavam profundamente


entrelaçados, Aquino vê a justiça como a pedra angular da governança, afirmando que
a autoridade do governante vem de Deus.

• Direito: Aquino faz uma distinção entre o "direito natural" e o "direito humano". Ele
argumenta que as leis humanas devem ser uma extensão do direito natural, que por
sua vez é uma manifestação da lei eterna de Deus.

Síntese e Conclusão:
Os filósofos em questão, Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino, oferecem contribuições
fundamentais ao campo da Filosofia Jurídica, cada um influenciado pelo contexto histórico e
jurídico em que viveram.

• Platão colocou a questão da justiça como central tanto para a ética individual quanto
para a organização política. Ele defendia que a justiça na alma e na sociedade são
interdependentes e que a verdadeira justiça só pode ser alcançada em uma cidade-
estado ideal. Seus pensamentos continuam sendo debatidos, especialmente suas
críticas às democracias e seu ideal de uma cidade-estado governada por filósofos.

• Aristóteles levou o debate um passo adiante, oferecendo um olhar mais prático e


empírico sobre a justiça. Sua distinção entre justiça distributiva e corretiva é
fundamental para a teoria do direito moderna, e seus insights sobre o papel do direito
e da política na promoção da justiça continuam relevantes.

• Tomás de Aquino trouxe uma dimensão teológica à discussão, tentando conciliar a


filosofia de Aristóteles com os princípios cristãos. Sua influência é especialmente
notável no desenvolvimento do direito canônico e em sistemas jurídicos que
incorporam princípios religiosos.
Referências bibliográficas:
Platão. "A República".
Aristóteles. "Ética a Nicômaco".
Aristóteles. "Política".
Tomás de Aquino. "Suma Teológica".

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