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REVISTA BRASILEIRA DE

ISSN: 2594-7451

COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS


ANO VIII Nº 15 JULHO 2023 R$ 30,00
Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional
itaipu.gov.br

50anos
tratado de itaipu

A amizade que,
década a década,
mais gerou energia
limpa e renovável
no mundo.
Da amizade entre Brasil e Paraguai, nasceu um
marco diplomático para o mundo. O início da maior
usina geradora de energia limpa do planeta, que
realiza obras e ações que fazem a diferença na vida
de milhões de brasileiros e paraguaios.
Mais de 2,9 bilhões de megawatts-
hora geradas até hoje

Quantidade suficiente para abastecer


todo o planeta por 46 dias
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS – CBDB Publicação de responsabilidade do CBDB
REPRESENTANTE DA COMISSÃO INTERNACIONAL DE COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS

GRANDES BARRAGENS (ICOLD-CIGB) NO BRASIL


A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) é uma publicação técnica
aperiódica do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), distribuída em todo o território
DIRETORIA
PRESIDENTE - JOSÉ BERNARDINO BOTELHO nacional e direcionada aos profissionais que atuam na Engenharia de Barragens em geral

VICE-PRESIDENTE - ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM SAYÃO e em obras associadas. Os artigos assinados são de expressa responsabilidade de seus

DIRETOR-SECRETÁRIO - LEONARDO DE OLIVEIRA GUERRA DEOTTI autores e não refletem, necessariamente, a opinião do CBDB.
DIRETOR DE COMUNICAÇÕES - DIEGO ANTÔNIO FONSECA BALBI Todos os direitos reservados ao CBDB. Nenhuma parte de seus conteúdos pode ser
DIRETOR TÉCNICO - RICARDO AGUIAR MAGALHÃES reproduzida por qualquer meio sem a autorização, por escrito, dos editores.
A Revista Brasileira de Engenharia de Barragens (RBEB) tem por objetivo a publicação
CONSELHO DELIBERATIVO de artigos científicos e de relatos técnicos inerentes à Engenharia de Barragens em geral,
ALBERTO S. F. J. SAYÃO de modo a explicitar os conhecimentos técnicos atualizados, que sejam úteis tanto para
AURÉLIO ALVES VASCONCELOS
a operação das empresas que projetam, constroem ou operam barragens, como para
CLEBER JOSÉ DE CARVALHO
os centros de pesquisa e as universidades que se dedicam ao desenvolvimento da
DIEGO ANTONIO FONSECA BALBI
Engenharia de Barragens.
ÉTORE FUNCHAL DE FARIA
O Conselho Editorial, listado na próxima página, é o órgão responsável pela definição
GERALDO MAGELA PEREIRA
da linha editorial e pela qualidade técnica dos trabalhos. Está composto por membros
GILBERTO TANNUS ELIAS
JOÃO FRANCISCO A. SILVEIRA selecionados entre os sócios do Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) com comprovada

JOAQUIM PIMENTA DE AVILA experiência profissional ou acadêmica em cada um dos 23 temas a seguir relacionados.

JOSÉ BERNARDINO BOTELHO


JOSÉ CELSO PIRES FILHO COMITÊ EXECUTIVO
JOSÉ MARQUES FILHO
JOSÉ BERNARDINO BOTELHO,
LEONARDO DE OLIVEIRA GUERRA DEOTTI
RICARDO AGUIAR MAGALHÃES
MARIA REGINA MORETTI
PATRICIA NEVES SILVA DIEGO ANTÔNIO FONSECA BALBI

RICARDO AGUIAR MAGALHÃES COORDENAÇÃO EDITORIAL


TERESA CRISTINA FUSARO DIEGO ANTÔNIO FONSECA BALBI
WALTON PACELLI DE ANDRADE JORNALISTA RESPONSÁVEL

CLÁUDIA RODRIGUES BARBOSA


MEMBROS VITALÍCIOS
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
BRASIL PINHEIRO MACHADO (falecido)
CARLOS HENRIQUE MEDEIROS (falecido) URSULA FUERSTENAU

CÁSSIO BAUMGRATZ VIOTTI FOTOLITO / IMPRESSSÃO


EDILBERTO MAURER GRÁFICA POSITIVA
ERTON CARVALHO TIRAGEM
FLAVIO MIGUEZ DE MELLO
800 EXEMPLARES

COMISSÃO FISCAL
PAULA LUCIANA DIVINO
PAULO VICTOR C. B. BRAUN
CBDB - Comitê Brasileiro de Barragens
ROBERTO DE OLIVEIRA FACCHINETTI
Av. Rio Branco, 124 | 13º andar
Centro - Rio de Janeiro/RJ - Brasil
NÚCLEOS REGIONAIS - DIRETORES
BA - ROBERTO DE OLIVEIRA FACCHINETTI CEP 20040-001 TELEFONE 055 21 2286.8674
CE - SILVRANO ADONIAS DANTAS NETO E-MAIL cbdb@cbdb.org.br WEB www.cbdb.org.br
GO/DF - HABIB SALLUM
MG - TERESA CRISTINA FUSARO
NT - ADRIANO FRUTUOSO DA SILVA
PR - KIRONI OLIVEIRA PIRES
PE - PATRÍCIA NEVES SILVA CAPA
RJ - ANDRÉ PEREIRA LIMA
RS - LÚCIA WILHELM VERAS DE MIRANDA
SC - RAFAEL FERNANDES PEREIRA Vista interna da estrutura da barragem Itaipu Binacional.
SP - SIDNEI ONO Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 3


COMISSÕES TÉCNICAS NACIONAIS - COORDENADORES TEMAS E COMPOSIÇÃO DO CONSELHO EDITORIAL

CT 01 - REGISTRO E DOCUMENTAÇÃO DE BARRAGENS ÉTORE FUNCHAL DE FARIA ANÁLISES ESTATÍSTICAS, NUMÉRICAS E COMPUTACIONAIS ALBERTO
CT 02 - SEGURANÇA DE BARRAGENS TERESA CRISTINA FUSARO
JORGE COELHO TAVARES CAVALCANTI, DANIELA GUTSTEIN, LINEU JOSÉ
CT 03 - BARRAGENS DE CONCRETO JOSÉ MARQUES FILHO
PEDROSO, MARCUS PACHECO
CT 04 - HIDRÁULICA EM BARRAGENS DIEGO DAVID BAPTISTA DE SOUZA
ANÁLISES LABORATORIAIS HIDRÁULICAS, DE SOLOS E ROCHAS E DE
CT 05 - BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO VANDA TERESA COSTA
MALVEIRA CONCRETO ERTON CARVALHO, WANDERLEY GUIMARÃES CORRÊA, WILLY
CT 06 - BARRAGENS DE ENROCAMENTO COM FACE DE CONCRETO ALVARENGA LACERDA
FERNANDO DIAS RESENDE ASPECTOS LEGAIS E NORMAS TÉCNICAS ADRIANA VERCHAI DE LIMA LOBO,
CT 07 - BARRAGENS DE REJEITOS JOAQUIM PIMENTA DE ÁVILA JOSÉ MARQUES FILHO, NELSON AL ASSAL FILHO, RICARDO BARBOSA FERREIRA
CT 08 - FORMAS DE CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA E BARRAGENS DE CONCRETO COMPACTADO A ROLO (CCR)
CONSTRUÇÃO RICARDO HEY ANDRZEJEWSKI FRANCISCO GLADSTONE HOLANDA, FRANCISCO RODRIGUES ANDRIOLO,
CT 09 - IMPACTO AMBIENTAL DE BARRAGENS E RESERVATÓRIOS SANDRA
WALTON PACELLI DE ANDRADE
ELISA FAVORITO RAIMO
BARRAGENS DE FACE DE CONCRETO E DE NÚCLEO ASFÁLTICO BAYARDO
CT 10 - PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO TÉCNICA RICARDO
MATERÓN, CIRO HUMES, FERNANDO DIAS RESENDE
AGUIAR MAGALHÃES
CT 11 - OBRAS DE PROTEÇÃO E CONTENÇÃO DE FLUXO DE DETRITOS BARRAGENS DE REJEITO JACQUELINE VERSIANI RAMOS MUSMAN, JOAQUIM
DIMITRY ZNAMENSKY PIMENTA DE ÁVILA, PAULO ROBERTO DA COSTA CELLA
CT 12 - USOS MÚLTIPLOS DE RESERVATÓRIOS MIGUEL AUGUSTO ZYDAN BARRAGENS DE TERRA E DE ENROCAMENTO ANTONIO NUNES DE MIRANDA,
SÓRIA CASSIO BAUMGRATZ VIOTTI, CELSO JOSÉ PIRES FILHO, CIRO HUMES, HÉLIO
CT 13 - CONDICIONANTES REGULATÓRIOS À REALIZAÇÃO DE BARRAGENS E MACHADO BAPTISTA, MARIA REGINA MORETTI, VANDA TEREZA COSTA MALVEIRA
RESERVATÓRIOS RICARDO BARBOSA FERREIRA
CONCRETO, TECNOLOGIA E MATERIAIS ALBERTO JORGE COELHO TAVARES
CT 14 - ATUALIZAÇÃO DAS DIRETRIZES TÉCNICAS DE PROJETOS E
CAVALCANTI, EDILBERTO MAURER, ÉTORE FUNCHAL DE FARIA, JOSÉ MARQUES
CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS E ESTRUTURAS CONEXAS, ADAPTANDO-AS
FILHO, SELMO CHAPIRA KUPERMAN, WALTON PACELLI DE ANDRADE
AO TEMA SEGURANÇA JOSÉ BERNARDINO BOTELHO
CT 15 - HIDROLOGIA E GESTÃO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS LUCAS BRASIL CONTENÇÃO DE CORRIDAS DETRÍTICAS ANNA LAURA LOPES DA SILVA
CT 16 - LEGISLAÇÃO, PROJETO, CONSTRUÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO NUNES, DIMITRY ZNAMENSKI, FELIPE GOBBI SILVEIRA, MARCELO FISCHER
DE USINAS REVERSÍVEIS GILBERTO TANNÚS ELIAS GRAMANI
CT 17 - OPERAÇÃO SEGURA DE ESTRUTURAS EM CASCATA E OUTROS ENERGIA FLAVIO MIGUEZ DE MELLO, JERSON KELMAN, LEONARDO DE OLIVEIRA
ARRANJOS MULTIUSUÁRIOS ADOLFO TRIBST CORRÊA GUERRA DEOTTI, MIGUEL AUGUSTO ZYDAN SORIA
CT 18 - PROJETO, CONSTRUÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE OBRAS DE
EQUIPAMENTOS HIDROMECÂNICOS JESIEL ADRIANO D'AVIZ, JOÃO CARLOS
ABASTECIMENTO DE ÁGUA, IRRIGAÇÃO E SANEAMENTO ADRIANA VERCHAI
MATHEUS, PAULO CEZAR FERREIRA ERBISTI, TICAO SIGUEMOTO
DE LIMA LOBO
ESTRUTURAS DE CONCRETO ALBERTO JORGE COELHO TAVARES

COMISSÕES TÉCNICAS INTERNACIONAIS - REPRESENTANTES CAVALCANTI, EDILBERTO MAURER, JOSÉ BERNARDINO BOTELHO
GEOLOGIA DE ENGENHARIA GUIDO GUIDICINI, PAULO ROBERTO COSTA
A - COMPUTATIONAL ASPECTS OF ANALYSIS AND DESIGN OF DAMS CELLA, RICARDO ANTÔNIO ABRAHÃO
DANIELA GUTSTEIN GEOTECNIA E FUNDAÇÕES ALBERTO DE SAMPAIO FERRAZ JARDIM SAYÃO,
C - HYDRAULICS FOR DAMS DIEGO DAVID BAPTISTA DE SOUZA
ALEX MARTINS CALCINA, LUIZ GUILHERME DE MELLO, MARIA REGINA MORETTI,
D - CONCRETE DAMS JOSÉ MARQUES FILHO
SANDRO SANDRONI
E - EMBANKMENT DAMS CÁSSIO BAUMGRATZ VIOTTI
G - ENVIRONMENT SANDRA ELISA FAVORITO RAIMO HIDRÁULICA E VERTEDORES CELSO JOSÉ PIRES FILHO, DIEGO DAVID BAPTISTA
H - DAMS SAFETY PATRÍCIA NEVES SILVA DE SOUZA, MARCELO GIULIAN MARQUES, NELSON LUIZ DE SOUZA PINTO
HWS - HISTORICAL WATER STRUCTURE - WATER HERITAGE FLAVIO MIGUEZ HIDROLOGIA ALOYSIO PORTUGAL MAIA SALIBA, HEINZ DIETER OSKAR AUGUST
DE MELLO FILL, MÁRIO CICARELI PINHEIRO, ORLANDO VIGNOLI FILHO
I - PUBLIC SAFETY AROUND DAMS RICARDO AGUIAR MAGALHÃES
INSTRUMENTAÇÃO ADRIANA VERCHAI DE LIMA LOBO, ÉTORE FUNCHAL DE
J - SEDIMENTATION OF RESERVOIRS MARCOS CRISTIANO PALU
FARIA, JOÃO FRANCISCO ALVES SILVEIRA, PAULO AFONSO DE CERQUEIRA LUZ,
K - INTEGRATED OPERATION OF HYDROPOWER STATIONS AND
PEDRICTO ROCHA FILHO, RUBEN JOSÉ RAMOS CARDIA
RESERVOIRS DIMILSON PINTO COELHO
L - TAILING DAMS AND WASTE LAGOONS JOAQUIM PIMENTA DE ÁVILA MEIO AMBIENTE CYNTHIA ALMEIDA PINHEIRO MACHADO, MARÍLIA PIRONI
M - OPERATION, MAINTENANCE AND REHABILITATION OF DAMS JOÃO SCOMBATTI, SANDRA ELISA FAVORITO RAIMO, SÔNIA SANTOS BAUMGRATZ
FRANCISCO ALVES SILVEIRA MEIO BIÓTICO E PATRIMÔNIO ANTONIO CARLOS BEAUMORD, CYNTHIA
N - PUBLIC AWARENESS AND EDUCATION MIGUEL AUGUSTO ZYDAN SÓRIA ALMEIDA PINHEIRO MACHADO, GUSTAVO DUVAL LEITE, PAULO DOS SANTOS
O - WORLD REGISTER OF DAMS AND DOCUMENTATION ÉTORE FUNCHAL DE
POMPEU
FARIA
MUDANÇAS CLIMÁTICAS CLEYTON MARTINS DA SILVA, LAÍS GONÇALVES
P - CEMENTED MATERIAL DAMS EDILBERTO MAURER
Q - DAM SURVEILLANCE ETORE FUNCHAL DE FARIA FERNARDES, MARIA ASSUNÇÃO FAUS DA SILVA DIAS
S - FLOOD EVALUATION AND DAM SAFETY FELIPE GOBBI SILVEIRA RECURSOS HÍDRICOS ANDRÉ MESQUITA, BENEDITO PINTO FERREIRA BRAGA
T - PROSPECTIVE AND NEW CHALLENGES FOR DAMS AND RESERVOIRS JÚNIOR, LUCAS BRASIL, RODRIGO FLECHA FERREIRA ALVES, YVONILDE DANTAS
FLAVIO MIGUEZ DE MELLO PINTO MEDEIROS
TRS - TROPICAL RESIDUAL SOILS LEONARDO DE OLIVEIRA GUERRA DEOTTI SEGURANÇA DE BARRAGENS ADRIANA VERCHAI DE LIMA LOBO, CELSO
U - DAMS AND RIVER BASIN MANAGEMENT RENATO GRUBER
JOSÉ PIRES FILHO, ÉTORE FUNCHAL DE FARIA LUCIA WILHELM VERAS DE
V - HYDROMECHANICAL EQUIPMENT PAULO ERBISTI
MIRANDA, PATRÍCIA NEVES SILVA, RICARDO AGUIAR MAGALHÃES, TERESA
X - CLIMATE CHANGE ARIASTER BAUMGRATZ CHIMELI
RE - COMMITION ON RESSETELMENTDUE TO RESERVOIRS ANDERSON CRISTINA FUSARO
BRAGA MENDES TÚNEIS ANDRÉ PACHECO DE ASSIS, LUIZ ALBERTO MINICUCCI, TARCÍSIO
Z - CAPACITY BUILDING AND DAMS RICARDO AGUIAR MAGALHÃES BARRETO CELESTINO

4 WWW.CBDB.ORG.BR
EDITORIAL

Por: Miguel Augusto Zydan Sória construção, operação, manutenção e inovação na engenharia
de barragens. São descritivos técnicos, desenhos e esquemas,
EDITORIAL RBEB 10 ANOS fórmulas e equações, ábacos e tabelas, modelos e análises,
softwares e aplicativos, que, separadamente, ou em conjunto,
Com grande satisfação escrevemos o proporcionam ferramentas que servem de referência e apoio
presente editorial comemorativo dos dez aos engenheiros, geólogos e outros técnicos quando estes
primeiros anos de existência da Revista Brasileira de Engenharia desenvolvem tarefas na engenharia de barragens, o que
de Barragens (RBEB). Afinal, há dez anos, na função de Diretor contribui para que os trabalhos resultantes se tornem mais
de Comunicações do nosso CBDB, recebemos a incumbência do exatos e qualificados.
Presidente à época, Engº Erton Carvalho, de projetar e implantar Por outro lado, a RBEB evoluiu em termos de proposta como
uma revista técnica que permitisse à nossa comunidade técnica periódico, pois começou em 2014 com uma edição anual,
publicar seus principais feitos, tanto artigos acadêmicos quanto passou a bianual e hoje conta inclusive com artigos bilíngues, o
relatos técnicos, com o fito de continuar cumprindo uma das que não foi algo simples de se conseguir.
principais finalidades do Comitê: a produção e a disseminação Sem dúvidas há o que se comemorar nesses dez anos de
de conhecimentos técnicos sobre barragens. existência da RBEB e há que se compartilhar este êxito com
Confessamos que a tarefa não foi fácil de ser cumprida. Depois todos os Diretores de Comunicações e Presidentes do CBDB
de pesquisas que fizemos em empresas e instituições eis que surgiu que se sucederam neste período, bem como com as equipes
uma referência valiosa: a revista técnica ‘Sanare”, da Sanepar, técnicas responsáveis pela publicação. Mas, enfim, há que se
empresa paranaense do setor de abastecimento de água, sócia do parabenizar primordialmente os autores dos artigos e relatos
CBDB. A Sanepar, igualmente a muitas empresas e instituições, lidava técnicos que vem contribuindo com a revista nesses anos todos,
com suas complexidades técnicas estimulando seus estudiosos estes sim os principais protagonistas do sucesso da publicação
e profissionais a publicar em periódico seus artigos científicos ou e que são merecedores das maiores reverências por parte do
relatos técnicos que fossem úteis ao desenvolvimento do negócio conjunto de profissionais que compõem o nosso CBDB.
como um todo. Ou seja, abria por meio da revista um canal de No presente número da RBEB são publicados dez artigos
disseminação dos conhecimentos produzidos pelo corpo técnico científicos, tratando estes basicamente de: vertedouros,
da empresa. Essa pragmática ação da Sanepar serviu de inspiração vedação de juntas, análises de segurança de barragens,
para o projeto da RBEB, cujo “design” segue estrutura editorial rejeitos, corridas de detritos, estudo de tensões em solos
similar, em termos de disposição de créditos, editoriais, artigos, tropicais, observação satelital, barragens de enrocamento
anúncios e normas editoriais. Fica aqui o nosso agradecimento à com face de concreto, Plano de Ação de Emergência (PAE).
direção da Sanepar por ter-nos permitido acesso a tão importantes Com isso, tais trabalhos examinam aspectos específicos
conhecimentos e práticas. relacionados diretamente a estudos, projetos e execução
A RBEB, desde sua primeira edição de 2014, passa então a de barragens, cujos conteúdos poderão ser úteis àqueles
ocupar um espaço na mente dos barrageiros, pois apresenta profissionais que atuam nessas áreas de conhecimento ou
por meio de seus artigos fontes de informações precisas sobre para professores e estudantes que desenvolvem estudos
diversos aspectos técnicos relacionados ao estudo, projeto, acadêmicos particularmente nestes temas.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 5


SUMÁRIO

07 COLUNA HOLOFOTE - A DEFESA CIVIL NO BRASIL E OS 42 COMO ANÁLISES HIDROQUÍMICAS E FÍSICO-QUÍMICAS


GRANDES DESAFIOS DO SÉCULO XXI PODEM AUXILIAR NO MONITORAMENTO DE SEGURANÇA DE
Autor: Cesar da Silva SANTANA BARRAGENS?
Tema: Segurança de Barragens País / Edição: Brasil / 2023 Autores:
Rafael Kenji TERADA, Mariza Fernanda da SILVA, Michele Bispo de JESUS,
11 PRESAS DE ENROCAMIENTO CON CARA DE CONCRETO,
Tatiana Akemi SAKAGAMI, Maria Fernanda Garrubo BENTUBO, Rosemeire
EVOLUCIÓN Y RETOS ANTE GRANDES CARGAS Y ESFUERZOS
Alves LAGANARO, Carla Aparecida Souza di LIBERATO
Tema: Barragens de Face de Concreto e de Núcleo Asfáltico
País / Edição: México / 2023 Autores: Humberto MARENGO, Rodrigo
49 AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO E
MURILLO, Raúl CUELLAR
DEFINIÇÃO DO PARÂMETRO NÃO DRENADO DE UM REJEITO
COM BASE EM ENSAIO CPTU
18 COMPARATIVO ENTRE METODOLOGIA EMPÍRICO-ANALÍTICA Tema: Barragens de Rejeito País / Edição: Brasil / 2023 Autoras:
E MODELAGEM CFD NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE Isabela QUEIROZ, Bruna TORRES
DESCARGA DE UM VERTEDOURO
Tema: Hidráulica e Vertedores País / Edição: Brasil / 2023 Autores:
Matheus WILLINGHOEFER, Anaximandro Steckling MULLER, Diego David 53 CONTROLE DISSOCIATIVO DAS CORRIDAS DE DETRITOS E
Baptista de SOUZA DE LAMA
Tema: Corridas Detríticas País / Edição: Brasil / 2023 Autores: Dimitry V.

28 CALIBRATION METHOD FOR 1D HYDRAULIC MODELS USING ZNAMENSKY, Felipe GOBBI, Bruno DENARDIN

HIGH DENSITY SATELLITE OBSERVED DATA


Tema: Análises Estatísticas, Numéricas e Computacionais
62 PROPOSTA DE PLANO DE TRABALHO PARA OPERACIO-
País / Edição: Brasil / 2023 Autores: Rodrigo MARTINS LUCCI, Jose
NALIZAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA (PAE) COM
Rodolfo SCARATI MARTINS
FOCO EM ÁREA URBANA - ESTUDO DE CASO: BARRAGEM DE
RESÍDUO INDUSTRIAL NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA
37 HIDRELÉTRICA DE CHAGLLA: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DO Tema: Segurança de Barragens País / Edição: Brasil / 2023 Autor: Alefe
SISTEMA JEENE OMEGA E Kaue da Silva do CARMO
Tema: Barragens de Face de Concreto e de Núcleo Asfáltico
País / Edição: Brasil / 2023 Autor: Jorge GABRIELLI
70 DETERMINAÇÃO DO HISTÓRICO DE TENSÕES DE UM SOLO
TROPICAL POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO E LABORATÓRIO
Tema: Geotecnia e Fundações País / Edição: Brasil / 2023 Autores:
Guilherme Henrique da Silva PINTO, Mauro Pio dos Santos JÚNIOR
HOLOFOTE
SUMÁRIO

A DEFESA CIVIL NO BRASIL E OS


GRANDES DESAFIOS DO SÉCULO XXI
Por: Cesar da Silva Santana

Vinculada ao Ministério da Integração do Desenvolvimento número de desastres, como inundações e ondas de calor, causados
Regional (MIDR), pelo Decreto nº 10.593, de 24 de dezembro de pela mudança climática, aumentou em cinco vezes nos últimos 50
2020, a Defesa Civil do Brasil teve a sua origem na 2ª Guerra Mundial, anos, matando mais de dois milhões de pessoas e custando US$ 3,64
em 1942. Na ocasião, o governo estava preocupado com a segurança trilhões em perdas totais no mundo.
global da população, então editou medidas como a criação do Serviço
de Defesa Passiva Antiaérea, hoje denominada Secretaria Nacional DESASTRES NATURAIS E AMBIENTAIS QUE MARCARAM O
de Proteção e Defesa Civil, e a obrigatoriedade do ensino de defesa
BRASIL
passiva em todos os estabelecimentos educacionais, oficiais ou
particulares. O objetivo era criar, na sociedade brasileira, a percepção
Infelizmente, no Brasil, temos diversos exemplos desses
e a autoproteção de possível ação hostil por represálias inimigas.
desastres, inclusive ambientais, os quais afetaram diretamente à
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, a obrigatoriedade do ensino
população e o meio ambiente, como as ocorrências que marcaram
de defesa passiva deixou de ser
a trajetória brasileira nas estatísticas. Exemplos: Santa Catarina, em
prioridade e a conscientização de
2008; Espírito Santo, em 2011; região serrana do Rio de Janeiro,
proteção e defesa civil ficou legada a
em 2012; Minas Gerais, rompimento das barragens de Mariana,
segundo plano.
em 2015, com dezenas de mortes e 62 milhões de m3 de lama, e
Passaram-se 81 anos de sua
de Mina do Feijão, em Brumadinho, em 2019, com centenas de
criação, e a Constituição Federal de 1988 reconhece os direitos
mortes e 12 milhões de m3 de lama.
naturais à vida, à saúde, ao bem-estar, à segurança, à propriedade
Fonte: https://www.terrabrasilis.org.br
e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, que se relacionam
intrinsecamente com a segurança global da população e as
competências da União, dos estados, do Distrito Federal e dos O AGENTE PÚBLICO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL
municípios, nesse contexto.
Diante dessa conquista, conforme publicação de 02 de janeiro Um dos maiores problemas na gestão de crises por ocasião
de 2020 do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das ocorrências de desastres no Brasil, está na solução de
da Organização das Nações Unidas (OCHA/ONU), por que o Brasil continuidade de ações proativas, visto que não existem
aparece entre os 15 países do globo com a maior população exposta investimentos dos governos em pessoal qualificado e permanente
ao risco de inundação? para atuar, principalmente, antes das ocorrências.
Lamentavelmente, a mentalidade que ainda A edição da Lei n° 12.608/12, trouxe uma grande expectativa
predomina no Brasil é: “a Defesa Civil tem a com a versão atualizada da Política Nacional de Proteção e Defesa
finalidade única de atuar durante ou depois da Civil, abrindo a oportunidade à criação do quadro profissional
ocorrência do desastre” - remetendo-se ao legado de Agente de Defesa, cujo objetivo é poupar a população da
do passado distante de 1942. exposição aos riscos e preparar estes protagonistas na resposta
Segundo a Organização Meteorológica Mundial das Nações aos desastres, visto que em grande em parte do território
Unidas (OMM/ONU), em publicação de 1 de setembro de 2021, o nacional não existe uma Defesa Civil operacionalizada, a exemplo

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 7


A DEFESA CIVIL NO BRASIL E OS GRANDES DESAFIOS DO SÉCULO XXI

do que novamente testemunhamos no município de Petrópolis, de 1988, referente à Federação Brasileira – União, estados-
no Rio de Janeiro, em 2022. membros, Distrito Federal e municípios, os Art. 4º e 5º e 6º
A inexistência do Agente Público de Defesa Civil é uma da Lei n° 12.608/12, destaca que compete à União legislar por
necessidade que precisa ser priorizada, já que esta deficiência meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, sobre
vem trazendo prejuízos incalculáveis aos governos por décadas. as diretrizes, objetivos e competências da Política Nacional de
Os Art. 6º, 7º e 8º da Lei n° 12.608/12, que tratam das Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), e aos estados, Distrito Federal
competências da União, dos estados, do Distrito Federal e dos e municípios, em seu âmbito territorial, coordenar as ações em
municípios por suas responsabilidades, também atribuem articulação com a União.
uma contrapartida das comunidades por meio dos Núcleos
Voluntários de Defesa Civil, porém, descontinuada todas as vezes O AGENTE PÚBLICO DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL, UM
em que ocorrem mudanças na alta cúpula dos governos. TEMA JÁ INICIADO

O AGENTE DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL PREVISTO NA A ‘2ª Conferência Estadual de Proteção e Defesa Civil - Novos
LEI N° 12.608/12 paradigmas para o Sistema Nacional’ foi realizada com o intuito
de promover, incentivar e colocar em discussão a questão da
Os itens I a III do Art. 18, da Lei n° 12.608/12, classifica esse Proteção na Defesa Civil como uma das principais mudanças
agente e abre a discussão à vontade política para a criação e apresentadas pela Política Nacional, prevista na Lei nº 12.608/12.
regulamentação dessa função nas três esferas de governo, e a Representada por 1,5 mil delegados oriundos de todas as
eliminação definitiva dessa deficiência em todo o seu contexto. regiões dos 5.570 municípios do país, a Conferência recebeu
Agravada pela divisão das eleições a partir de 1988, onde os várias propostas, das quais destacamos as que mais têm trazido
pleitos federais (presidente, senadores e deputados federais) impactos no desenvolvimento das atividades de Proteção e
coincidem com as estaduais (governadores e deputados estaduais) Defesa Civil.
e dois anos depois ocorrem as municipais (prefeitos e vereadores)
- ficando um vácuo de dois anos antes e após a efetivação da DAS DIRETRIZES
gestão dos governos prejudica sobremaneira o desenvolvimento
das atividades da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. 7.2.1 Eixo 1 - Gestão integrada de riscos e resposta aos desastres
Afinal, as ocorrências não esperam a melhor data e hora, e não 7.2.1.1. Criar e regulamentar a profissão de Agente de Proteção
respeitam classes sociais para acontecerem. e Defesa Civil, Técnico de Defesa Civil e outras correlatas nas três
esferas de governo, por meio de concursos públicos que exijam
formação (operacional, técnica, médio e superior) na área,
definindo seu plano de carreira, salário, código de ética e inclusão
na Classificação Brasileira de Ocupações, além de garantir: a)
Governança - 2 anos Transição - 2 anos Governança - 2 anos
qualificação em caráter permanente; b) segurança dos servidores
na execução de ações; c) um número mínimo de profissionais que
Eleições Municipais - 1º de janeiro
seja proporcional à população e aos riscos do município; d) previsão
de lotação em quadros intermunicipais a serem criados junto às
associações de municípios (definindo critérios diferenciados para
Senadores e deputados (federais e estaduais) tomam posse em o quadro de pessoal com dois anos de atuação na área).
1º de fevereiro, e o presidente e governadores, em 1º de janeiro. 7.2.2 Eixo 2 - Integração de Políticas Públicas relacionadas à
Prefeitos, vice-prefeitos e vereadores tomam posse em 1º de Proteção e Defesa Civil
janeiro do 2º ano subsequente às eleições federal e estadual. 7.2.2.1. Ampliar programas de convivência com o semiárido,
contemplando as seguintes ações: a) integração de bacias
O PACTO FEDERATIVO E O RESPEITO AOS ATOS DA GESTÃO hidrográficas; b) construção e instalação de sistemas de
PÚBLICA abastecimento, cisternas, reservatórios e barragens de grande
porte (inclusive nos municípios fora do semiárido, quando
Apesar da autonomia prevista no Pacto Federativo, a seca ultrapassar seus limites); c) instalação de cisternas e
referenciado nos Art. 1º, caput, e Art. 18 da Constituição adutoras em comunidades difusas, escolas, creches e hospitais

8 WWW.CBDB.ORG.BR
públicos, com objetivo de manter a normalidade das atividades municípios; b) levantamento de recursos disponíveis em locais
nos períodos de estiagem; d) perfuração de poços artesianos de grande concentração de pessoas, de forma a possibilitar o
e melhoria dos já existentes, inclusive com financiamento às monitoramento e a fiscalização periódica; c) construção de políticas
prefeituras para aquisição de máquinas perfuratrizes; e) instalação públicas e o combate à ocupação e reocupação das áreas de risco; d)
de dessalinizadores nas comunidades rurais em ampliação ao catálogo e monitoramento de áreas de risco, habitações, fontes de
programa “Água para Todos"; f) garantia de insumos agrícolas e água naturais, encostas de morros e áreas vulneráveis a inundações;
financeiros emergenciais aos agricultores das áreas afetadas; f) incremento de ações de mapeamento de áreas de risco por parte
g) garantia de recursos para a manutenção e funcionamento da Companhia de Pesquisas em Recursos Minerais (CPRM).
dos sistemas de abastecimento d’água; h) instalações de 7.2.4 Eixo 4 - Mobilização e promoção de uma cultura de
dessalinizadores para utilização de água do mar na distribuição de Proteção e Defesa Civil na busca de cidades resilientes
áreas urbanas e rurais. 7.2.4.1. Incentivar e valorizar a criação de Núcleos Comunitários
7.2.2.2. Realizar obras estruturais nas áreas de risco, em de Proteção e Defesa Civil (NUPDECS) (ou organizações comunitárias
conformidade com a legislação ambiental, como construção e/ equivalentes), principalmente em áreas de risco, para difusão do
ou ampliação de: a) grandes barragens comunitárias na zona conhecimento sobre Proteção e Defesa Civil, fornecendo apoio
rural e passagens molhadas; b) pontos de parada para veículos de financeiro e material (local e equipamentos) que possibilitem a
transporte de cargas perigosas; c) muros de arrimo para conter realização do trabalho de forma contínua e organizada, para melhor
enchentes e deslizamentos; d) canais, valas e áreas de ressacas responder aos pleitos dos municípios e comunidades, garantindo: a)
assoreadas que possam afetar áreas habitadas (para amenizar os a promoção da organização social, a participação ativa da população
danos da ocupação desordenada); e) construir sistema simplificado e o diálogo contínuo da comunidade com o poder público; b)
de abastecimento oriundo de poços tubulares ou outras fontes condições de trabalho em todos os bairros, com o intuito de realizar
existentes para comunidades urbanas e rurais. atividades de conscientização de acordo com a necessidade de cada
7.2.2.3. Preservar reservatórios hídricos superficiais, ecossistemas, comunidade; c) ações de resposta aos desastres em nível local; d)
barreiras naturais e recuperar áreas já degradadas por meio de o incremento das ações de prevenção, preparação e recuperação;
campanhas permanentes de arborização, reflorestamento, limpeza e) a participação de profissionais com habilidades e competências
e conservação; realizar mutirões periódicos de limpeza dos corpos (profissionais da saúde, bombeiros entre outros).
d’água e de suas margens, conscientizando a população para mitigar
riscos de desastres; garantir a preservação de mananciais de águas A IMPORTÂNCIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
continentais e marinhas, acompanhados pelos órgãos ambientais. MUNICÍPIOS (CMN) E DO CONSELHO MUNICIPAL DE
7.2.2.4. Garantir a inclusão de ações preventivas, de mitigação ASSISTÊNCIA SOCIAL (CMAS) EM INTERAÇÃO COM A
e de recuperação da Defesa Civil nos programas e projetos
POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL
ambientais relacionados com combate à desertificação, com
proteção dos rios e das bacias hidrográficas, com nascentes,
O objetivo maior da CNM é consolidar o movimento
mananciais e áreas degradadas, com tratamento de resíduos
municipalista, ou seja, fortalecer a autonomia dos municípios e
sólidos resultantes das catástrofes, com manutenção de micro e
transformar a entidade em referência mundial na representação
macrodrenagem, obras de proteção e recuperação de encostas e
municipal. Como? A partir de iniciativas políticas e técnicas que
hidráulicas para a segurança da população, bem como programas
visem à excelência na gestão e à qualidade de vida da população.
de combate ao desmatamento e às queimadas, a partir da
Afinal, o Conselho Municipal de Assistência Social é o órgão
implantação de tecnologias alternativas, da integração dos
que reúne representantes do governo e da sociedade civil para
diversos órgãos fiscalizadores e de campanhas educativas.
discutir, estabelecer normas e fiscalizar a prestação de serviços
7.2.3 Eixo 3 - Gestão do Conhecimento em Proteção e Defesa Civil
socioassistenciais estatais e não estatais no município.
7.2.3.1. Coletar e divulgar amplamente dados, informações
A CNM e a CMAS têm um papel de grande importância para o
e conhecimento necessário para gestão de riscos de desastres
fortalecimento da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil por
naturais e não naturais, considerando especificidades geográficas
suas ações nos interesses das comunidades. Isso ocorre por meio
locais e envolvendo todos os segmentos do setor público, equipes
de projetos em parcerias e por demandas de interesse de seus
de profissionais especializados e estudantes de nível superior
representantes no Congresso Nacional - dentre elas, a criação do
capacitados, por meio de: a) criação de programa de mapeamento
Servidor Público Agente de Proteção e Defesa Civil.
geotécnico e social das áreas de risco (naturais e não naturais) dos

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 9


A DEFESA CIVIL NO BRASIL E OS GRANDES DESAFIOS DO SÉCULO XXI

BREVE REFLEXÃO Decreto Nº 10.692, de 3 de maio de 2021 - Institui o Cadastro


Nacional de Municípios com Áreas Suscetíveis à Ocorrência de
Sabe-se que o Estado brasileiro não deve gastar recursos e Deslizamentos de Grande Impacto, Inundações Bruscas ou
tomar prejuízos em suas ações, e que há o reconhecimento da Processos Geológicos ou Hidrológicos Correlatos
Constituição Federal de 1988, mencionado anteriormente quanto 2ª Conferência Nacional de Proteção e Defesa Civil –
aos direitos naturais à vida, à saúde, ao bem-estar, à segurança, Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – Ministério da
à propriedade e à incolumidade das pessoas e do patrimônio - Integração Nacional – Brasília – janeiro de 2015.
que se relacionam intrinsecamente com a segurança global da
população. Diante destes fatos, pergunta-se: quanto o estado
brasileiro ganhará com o fortalecimento da Política Nacional de CESAR DA SILVA SANTANA
Proteção e Defesa Civil por meio desses Agentes? Quantas vidas
serão poupadas? Quanto se economizará com as perdas de bens É Major da reserva remunerada do CBMDF;
materiais e os danos ao meio ambiente? Qual o montante que Pós-graduado em Defesa Civil com área de
os governos deixarão de aplicar nas ações de resposta imediata conhecimento em Ciências Sociais Aplicada
- (UNISUL). Atuou como Instrutor do Curso
com a mitigação das ocorrências? Quanto se economizará com a
Operacional de Defesa Civil (CODC/SEDEC/
tomada de decisão inteligente e proativa?
MI) no território nacional e Instrutor de Defesa Civil dos Cursos de
Convém repetir: o Brasil possui um dos piores índices de
Formação e Aperfeiçoamento do CBMDF. Foi Coordenador Geral do
mortalidade e de prejuízo em consequência de desastres naturais
Departamento de Operações de Socorro em Desastres (DOD/SEDEC/
e tecnológicos, segundo a ONU. Até quando?
MI). Atuou como Formador de Formadores do Módulo II de Elaboração
do Planos de Contingência SEDEC/MI e como representante da SEDEC/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MI na elaboração e Execução dos Exercícios Conjunto de Apoio à
Defesa Civil (ECADEC/MI/MD), replicando as ações de resposta em
Lei Nº 12.608, de 10 de abril de 2012 - Institui a Política grandes desastres com a utilização do efetivo e a logística das Forças
Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC; dispõe sobre Armadas e dos órgãos de resposta aos desastres. Também atuou como
o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e representante da SEDEC/MI na elaboração e Execução do Exercício
o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil - CONPDEC; de Logística Multinacional Interagências AMAZONLOG 17, Comando
Logístico do Exército Brasileiro (COLOG/MD/MI). É autor da proposta
autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento
de Criação da Força Nacional de Defesa Civil (FNDC). Participou da
de desastres; altera as Leis nºs 12.340, de 1º de dezembro de
atualização dos Manuais de Proteção e Defesa Civil (SEDEC/MI) e atuou
2010, 10.257, de 10 de julho de 2001, 6.766, de 19 de dezembro
como colaborador na criação do Curso Básico para Agentes de Proteção
de 1979, 8.239, de 4 de outubro de 1991, e 9.394, de 20 de
e Defesa Civil (CBADEC/SUBSIDEC/DF).
dezembro de 1996; e dá outras providências.

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BARRAGENS DE FACE DE CONCRETO E DE NÚCLEO ASFÁLTICO

PRESAS DE ENROCAMIENTO CON


CARA DE CONCRETO, EVOLUCIÓN
Y RETOS ANTE GRANDES CARGAS
Y ESFUERZOS
Humberto MARENGO | Doctor en Ingeniería. Profesor Facultad de Ingeniería, UNAM, Sub-
director General Técnico, Comisión Nacional del Agua, Presidente de ICOLD México
Rodrigo MURILLO | Ingeniero Civil. Profesor Facultad de Estudios Superiores Aragón,
UNAM, Subgerente de Seguridad de Presas, Comisión Nacional del Agua, México
Raúl CUELLAR | Ingeniero Civil, Comisión Nacional del Agua, Consultor, México

RESUMO ABSTRACT

Se presenta la evolución del diseño y construcción de presas de The evolution of the design and construction of concrete face
enrocamiento con cara de concreto (ECC), se hace una revisión rockfill dams is presented, an updated review of their structural
actualizada de su comportamiento estructural y se comentan los behavior is made and the challenges that will be faced when
retos que se enfrentarán cuando se presenten grandes cargas large loads and stresses are presented on the concrete face and
y esfuerzos sobre la cara de concreto y dentro de la masa de within the mass of rockfill, when dams are built over 250 m high.
enrocamiento, al construirse presas de más de 250 m de altura. Se It is concluded that the main effect in the dams that did not have
concluye que el efecto principal en las presas que no tuvieron un an adequate structural behavior was mainly due to the lack of
comportamiento estructural adecuado se debió principalmente a a well graded rockfill, rather than to the hardness of the rock
la falta de un enrocamiento bien graduado, más que a la dureza fragments. The execution of large test is proposed, as well as at
de los fragmentos de roca. Se propone la ejecución de pruebas the scale of the riprap to model the deformability and resistance
de gran tamaño, así como a escala de los enrocamientos para of the materials under different conditions of compactness and
modelar la deformabilidad y resistencia de los materiales bajo construction process.
distintas condiciones de compacidad y proceso constructivo.
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PRESAS DE ENROCAMIENTO CON CARA DE CONCRETO, EVOLUCIÓN Y RETOS ANTE GRANDES CARGAS Y ESFUERZOS

1. INTRODUCCION que ha probado ser “seguro y económico”. Viotti [3] analizó el


comportamiento estructural de ocho presas ECC en Brasil, menciona
A principios del siglo pasado, los enrocamientos se colocaban los factores primordiales que influencian el comportamiento
básicamente a volteo, en presas como Salt Springs (100 m) en 1931 estructural de los enrocamientos y concluye que son: el módulo de
en EEUU. Los antecedentes en México son la presa Taxhimay de 15 m deformación, el tipo de roca, la geometría de la boquilla y comenta
en 1912 y otras en Coahuila, San Luis Potosí y la Ciudad de México, con distintos elementos relevantes como: el diseño, fracturas (sección
alturas de 15 a 32 m entre 1930 y 1940 [1]. A partir de los años 60’s transversal), pendiente aguas arriba y aguas abajo, espesor de las
mejoró significativamente la práctica de construcción, al colocarlos capas y la energía de compactación proporcionada por rodillos lisos
en capas delgadas y establecer el número de pasadas del tractor vibratorios.
o del rodillo liso vibratorio y su peso para lograr la mayor energía Según Marsal [2], el enrocamiento más apropiado debe tener una
de compactación posible. La selección de presas de enrocamiento granulometría bien graduada, con un coeficiente de uniformidad
depende de la posibilidad de obtener grandes volúmenes de roca Cu>10, de tal manera que con la compactación se logre una Densidad
provenientes de las obras auxiliares de la presa. El ideal es que el Relativa Dr= 85 a 100% correspondiente a un estado denso a muy
enrocamiento excavado se coloque directamente en la cortina, para denso. Adicionalmente conviene agregar agua a razón de 200 a
evitar el costo de dobles transportes y el procesamiento del material. 400 L/m³ de enrocamiento durante su compactación, para producir
lubricación de los granos, rotura de los contactos y así obtener mayor
acomodo de las partículas.

2. EVOLUCIÓN DE LAS PRESAS DE


TIERRA Y ENROCAMIENTO 3. SECCIÓN TÍPICA DE LAS PRESAS ECC
Varias presas de enrocamiento con núcleo de arcilla (ENAR) de
En este tipo de presa, se utilizan dígitos para señalar la función
más de 200 m de altura se construyeron a partir de la década de
del material en la cortina, para una cimentación sobre roca sana. Las
los 70 del siglo pasado, entre ellas: Oroville (244 m) en 1968 en
denominaciones 1, 2 y 3 se han convertido prácticamente en norma,
los EEUU, La Mica (243 m) en 1973 en Canadá, Chicoasén-Manuel
de la siguiente manera [4]:
Moreno Torres (262 m) en 1980 en México, Nurek (304 m) en 1980
en Tajikistán, Tehri (260 m) en 2006 en la India, y la presa Nuozhadu
• Zonas 1A, 1B: Zonas de protección de la cara de concreto
(261.5 m) en 2012 en China; a la fecha está en construcción la presa
(aguas arriba),
Ituango (232 m) en Colombia.
• Zonas 2A, 2B: Zonas de soporte de la cara de concreto (aguas
Para el diseño y construcción de las presas mexicanas se siguieron
abajo), estos son materiales granulares procesados, y
los lineamientos y técnicas del Profesor Raúl J. Marsal [2], quien
• Zonas 3A, 3B: Zonas de enrocamiento.
determinó mediante ensayes triaxiales y de deformación plana
• La zona central de la cortina también recibe actualmente
a gran escala, que la resistencia del enrocamiento en base a su
la denominación de T por ser una transición entre la 3B y
módulo de deformabilidad y ángulo de fricción, depende más de su
la 3C.
granulometría y forma de los granos (angulosidad) que la dureza de
los mismos, y que para lograr una alta resistencia se requiere de la
Para condiciones de enrocamiento y cimentación débiles, la
aplicación de alta energía de compactación mediante la combinación
inclinación de taludes, zonificación de materiales, condiciones
de mínimo espesor de las capas y del uso de rodillos lisos vibratorios
de drenaje y construcción deberán ser adaptados; en el caso de
con el mayor peso posible; con esta técnica, fueron construidas El
cimentación potencialmente erosionable, deberán establecerse
Infiernillo (157 m), Malpaso (148 m), La Angostura (162 m), Chicoasén
aguas abajo del plinto previsiones adicionales de filtros e inyecciones.
(262 m) y El Caracol (126 m).
Para fines del diseño estructural de la cara de concreto de este tipo
de presas, es muy importante tomar en cuenta la deformación
2.1 PRESAS DE ENROCAMIENTO CON CARA DE CONCRETO (ECC)
diferida con el tiempo (creep).
Los aluviones bien graduados compactados adecuadamente
Mientras algunas presas ENAR se construyeron exitosamente en
pueden alcanzar valores de módulo de deformabilidad mayores de
varios países, en otros como en Brasil surgió la planeación de construir
2000 kg/cm² (200 MPa), como en Aguamilpa y La Yesca [5], que
presas de enrocamiento con una cara externa impermeable, diseño
son excelentes materiales para su utilización como enrocamientos

12 WWW.CBDB.ORG.BR
resistentes, así como en La Angostura, donde se usó en el respaldo de 3.2 TRATAMIENTO DE LA CIMENTACIÓN
aguas abajo en vez de roca caliza blanda. En la presa Tianshengquiao
de China, construida en el año 2000 con 178 m de altura, se colocaron De acuerdo al US Bureau of Reclamation [10] de los EEUU, la roca
más de 4 hm³ de lutitas, en los respaldos de aguas arriba y de aguas de cimentación de las presas de ECC, tiene requerimientos menos
abajo con pendientes de 1.4:1 y 1.3:1 (H/V) respectivamente. Las rígidos que para las cimentaciones de presas de gravedad.
lutitas se obtuvieron con un proceso cuidadoso de las excavaciones
del vertedor, para su uso en la presa [6]. El módulo de deformación 3.3 ROCA SANA O ALTERADA EN LA CIMENTACIÓN
del enrocamiento al final de la construcción varió entre 410 y 480 kg/
cm² (40.2 y 47.1 MPa), aguas arriba y parte central de la presa x hubo Cuando la roca de cimentación está alterada y tiene alta
zonas aguas abajo con valor de 300 kg/cm² (29.4 MPa). Las lutitas permeabilidad, es necesario realizar inyecciones de lechada de
tuvieron un peso volumétrico g = 2.23 ton/m³ (21.8 kN/m3). cemento de consolidación e impermeabilización debajo del plinto,
más una pantalla profunda de inyecciones también debajo de éste.
3.1 PENDIENTE DE LOS RESPALDOS Y SU ESTABILIDAD Según Cooke [11] “el plinto a lo largo de su junta perimetral es la
conexión primaria entre la cimentación y la cara de concreto”.
La experiencia brasileña de presas ENAR cimentadas en roca, ha
permitido construirlas con pendiente de respaldos aguas arriba entre 3.4 CIMENTACIÓN SOBRE GRAVA-ARENA
1.5:1 y 1.8:1 (H/V) y de 1.3:1 y 1.5:1 (H/V) para los respaldos de aguas
abajo. La presa Irapé que es la más alta este tipo de Brasil, con 218 m Cuando la cimentación de la presa es de grava-arena es necesario
de altura, se diseñó con una pendiente del respaldo aguas arriba de realizar una compactación del depósito aluvial del río, por medio de
1.5:1 y de la elevación 484.00 a la 515.50 m en la corona, se modificó vibro-compactación, con un alcance de 12 a 15 m de profundidad
a 1.3:1 (H/V). Aguas abajo la pendiente del talud fue de 1:1.3 (H/V). y apoyar el plinto sobre un diafragma o pantalla de concreto
En la presa Shuibuya de China con 233 m de altura, tiene pendientes armado (tipo Muro Milán), con espesor de 1.20 m. Debe revisarse la
de 1.4:1 (H/V) para el respaldo aguas abajo y de 1.3:1 (H/V) para el posibilidad de licuación de las arenas durante eventos sísmicos.
respaldo aguas arriba.
Cuando se utilizan gravas-arenas como enrocamiento de una 3.5 USO DEL MÉTODO GIN DE INYECCIÓN EN LA ROCA
presa, la pendiente del respaldo aguas arriba se proyecta como 1.6:1
(H/V) y de 1.5:1 (H/V) para el respaldo de aguas abajo. Para la ejecución de las inyecciones de lechada de cemento para
La presa de Aguamilpa en México, se construyó con el respaldo consolidación e impermeabilización de la roca de cimentación y la
aguas arriba con pendiente de 1.5:1 (H/V) y de 1.4:1 (H/V) para pantalla profunda por debajo del plinto, se recomienda aplicar el
el respaldo de aguas abajo mientras que las presas El Cajón y La método GIN (Grouting Intensity Number) [12].
Yesca, se construyeron con pendientes de ambos respaldos de
1.4:1 (H/V) [7].
La presa Chagla, ECC de 210 m de altura en Perú, está localizada
sobre un cañón muy estrecho y fue diseñada con un factor de 4. COMPORTAMIENTO DE LAS PRESAS
forma A/H² cercano a 1.50. El empotramiento derecho tiene una DE ECC
inclinación de 70°. La pendiente del respaldo de aguas arriba es de
1.6:1 (H/V) y de 1.8:1 (H/V) para el respaldo aguas abajo. La Zona De acuerdo con el ICOLD [13] se tenían construidas 418 presas de
3B de la cortina se construyó con grava-arena aguas arriba y de roca ECC con más de 30 m de altura hasta 2018: aproximadamente 185
sana mezclada con roca intemperizada en la parte central de la presa en China, 11 en Brasil y 3 en México. De acuerdo a una investigación
que corresponde con la zona de transición según Calcina [8]. de Qian [14] y presentada por Cruz et al. [15], si se revisa su
Respecto al análisis de estabilidad de presas altas de enrocamiento comportamiento al considerar solo las fallas catastróficas de 48
cimentadas sobre roca sana, Cooke y Sherard [9] establecieron que: presas, únicamente se han ocurrido dos fallas desde 1960. La primera
“Si los taludes de los enrocamientos son 1.3:1 (H/V) o 1.4:1 (H/V) que fue en 1993, en la presa Gouhou (71 m) en China, construida de grava-
son los usuales para este tipo de presas, estos (los enrocamientos) arena, debido a flujo de agua entre el sello del parapeto y la cara de
no pueden fallar a lo largo de superficies cilíndricas, ya sea que estén concreto que provocó erosión interna, seis años después del primer
colocados a volteo o compactados, porque el ángulo de fricción es al llenado. La segunda falla, fue en 2005 en Taum Sauk, 29 m en EEUU,
menos de 45°, lo que garantiza su estabilidad”. debido al desbordamiento, 42 años después de su terminación.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 13


PRESAS DE ENROCAMIENTO CON CARA DE CONCRETO, EVOLUCIÓN Y RETOS ANTE GRANDES CARGAS Y ESFUERZOS

4.1 CONSIDERACIONES RELEVANTES DE CONSTRUCCIÓN donde A es el área de la cara de concreto. Este tema plantea una
interesante línea de investigación respecto al comportamiento
De acuerdo a la experiencia de la ingeniería mexicana, de los enrocamientos, ya que los estudios se realizaron hace 20
se emite la siguiente consideración relevante para lograr un años, y hoy existen más datos de comportamiento que permitirá
comportamiento adecuado de estas presas: “Cuando se decide estimar las deformaciones transversales de las presas e incluir
construir una presa de enrocamiento de cualquier tipo (ENAR, otros parámetros como deformaciones verticales, aspectos
ECC, o ENAS), se recomienda que el enrocamiento se coloque geométricos, tamaño del plinto y módulo de deformación de la
con capas que tengan espesores máximos de 80 cm aguas arriba roca de cimentación.
(material 3B), con capas de tamaño máximo de 100 cm de espesor La compactación de los enrocamientos, sucede básicamente
en la porción central, o material de transición (T) y con tamaño por rotura de las partículas y por la saturación con el agua añadida
máximo de 120 cm (material 3C) aguas abajo. Se deben usar en el proceso de construcción, la cual produce una reducción de
compactadores de rodillo liso vibratorio de 12 a 25 ton de peso la fricción y un mejor acomodo entre los granos. La saturación del
estático, aplicando 6 a 8 pasadas, además de agregar 200 L/m³ o enrocamiento también puede producirse por lluvias intensas.
más de agua al enrocamiento. Es importante realizar pruebas de En la presa de Emborcaçäo (ENAR), las fluctuaciones del
compactación previas a la construcción de la presa, con el equipo embalse propiciaron asentamientos importantes en la porción
que se va a utilizar. Se hace énfasis en señalar que la construcción aguas arriba, que ocasionaron asentamientos y agrietamiento
de los enrocamientos tengan módulos de deformación similares en en la corona de la presa. También se produjeron deformaciones
las tres zonas, para tener un comportamiento elástico aceptable por intemperización del enrocamiento [18]. Silveira y Bandeira
durante su vida útil”. [19], analizaron las deformaciones al final de la construcción de
13 presas de ECC construidas en Brasil, China y México, como se
4.2 DEFORMACIÓN CON EL TIEMPO señala en la Tabla 1, donde se indica entre otros el material, área
de la cara de concreto, altura, forma del valle, asentamiento total
Las deformaciones registradas mediante la instrumentación, y asentamiento relativo respecto a la altura. Los porcentajes de
representan una muy importante fuente de información sobre el asentamiento de las presas El Cajón y La Yesca, varían entre 0.40 y
comportamiento estructural de los enrocamientos, tanto durante 0.45%, mientras que las presas Foz de Areia (2.24%), Ita (1.64%),
su construcción (cuando ocurre la mayor deformación), el primer Xingo (1.93%) y Tianhengquiao (1.87%) presentan valores más
llenado, así como durante la vida útil de la presa; de hecho, son la altos. La presa de Shuibuya en China de 233 m que es la más alta
base científica para la realización del “retro-análisis” que permite del mundo, tiene un asentamiento de 1.06%, aun cuando se utilizó
avanzar en el conocimiento sobre su comportamiento estructural rodillos vibratorios de 25 ton para su compactación (Tabla 1).
a largo plazo. Se recomienda que el módulo de deformación En la Figura 1 se muestra la deflexión normalizada, perpendicular
alcance por lo menos los 900 kg/cm² (88.3 MPa), para lograr un a la cara de concreto (D/H)x10³ contra el factor de forma (A/H²). La
buen comportamiento estructural del enrocamiento. línea roja de la figura es el límite de deformación aceptable entre
Marengo et al. [16] estableció que los factores relevantes las presas que tienen un comportamiento estructural adecuado y
que intervienen en la compactación de los enrocamientos las que no lo tienen. Esto es una medida indicativa del excelente
son su granulometría, la forma y el tamaño de las partículas, la comportamiento estructural de las presas mexicanas.
composición mineralógica de los granos y el estado de esfuerzos La presa Xingó (margen izquierda), Itapebi y Campos Novos de
confinantes. El proceso de compactación es determinante para ECC, presentaron asentamientos en promedio de 1.8 cm/año [19],
obtener valores de módulo de deformación aceptables para que con lo que se esperan 18 cm cada 10 años, en la parte central de
su comportamiento estructural sea el adecuado a corto, mediano las presas. De acuerdo con la experiencia propia de los autores,
y largo plazo. las presas brasileñas han presentado los mayores asentamientos
Pinto y Marques [17] proponen una relación interesante para por varias décadas, debido a la poca saturación con agua del
el cálculo empírico de la deformación máxima (D) en función del enrocamiento y a la baja energía de compactación con la que se
módulo de deformación transversal, que está dado por la fórmula construyeron. La presa de Nuozhadu (ENAR de 265 m) en China,
Er=0.003 H²/D (MPa), donde H=máxima altura de la presa. De ha operado en buenas condiciones [20] y según Zhang et al. [21],
acuerdo con estos autores Er, generalmente varía entre 1.5 y 5 se ha presentado un asentamiento de 0.8216 m que representa
veces el módulo vertical Ev, y es influenciado significativamente una relación de asentamiento/altura de 0.3%, con filtraciones de
por el factor A/H² que es el Factor de Forma del Valle de la boquilla, 11.6 L/s.

14 WWW.CBDB.ORG.BR
5. UNA NUEVA ZONIFICACIÓN DE LAS competencia, blandas e intemperizadas, incluso con exceso de finos
PRESAS ECC en la zona de Transición en el centro de la presa y en la zona 3C de
la porción aguas abajo; en estos casos fue implementada una nueva
En presas de ECC recientemente construidas, localizadas en zonas zona en el cuerpo de la presa denominado “dren” con el objeto de
con fuerte actividad sísmica, tales como Mazar (166 m) Ecuador, prevenir la saturación del material T y garantizar la permeabilidad de
Reventazón (130 m) Costa Rica, Porce III (150 m) Colombia, Chagla material aguas abajo, sobre todo bajo lluvias intensas o si se produce
(210 m) Perú, según Costa et al. [22], se usaron rocas de baja un flujo en caso de ruptura de la losa de concreto.

Tipo de Área cara Altura Forma del Asentamiento/


Asentamiento
Presa País Año concreto (m) valle Altura
Material (m)
(m2) (A/H2) (%)

Itá Brasil 2000 Basalto 110,000 125 7.0 1.30 1.04


Machadinho Brasil 2004 Basalto 93,000 125 6.0 1.60 1.28
Segredo Brasil 1993 Basalto 86,000 140 4.4 2.23 1.59
Xingó Brasil 1994 Granito 135,000 140 6.9 2.90 2.07
Mohale Lesotho 2003 Basalto 77,000 145 3.70 2.86 1.97
Foz do Areia Brasil 1980 Basalto 139,000 160 5.40 3.52 2.20
TSQ1 China 1999 Lutita 181,000 178 5.70 3.32 1.87
Barra Grande Brasil 2006 Basalto 108,000 185 3.20 3.40 1.84
El Cajón México 2006 Ignimbrita 113,000 189 3.20 0.85 0.45
Campos-Novos Brasil 2006 Basalto 105,000 202 2.60 3.10 1.53
Kárahnjúkar Islandia 2007 Basalto 93,000 193 4.10 1.53 1.02
Shuibuya China 2008 Basalto 193,000 233 3.56 2.48 1.06
La Yesca México 2012 Ignimbrita 93,600 210 2.14 0.84 0.40

TABLA 1 - Relación de asentamiento máximo contra altura de la presa según Silveira y Bandeira [19].

FIGURA 1 – Deflexión normalizada contra el factor de forma en varias presas

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 15


PRESAS DE ENROCAMIENTO CON CARA DE CONCRETO, EVOLUCIÓN Y RETOS ANTE GRANDES CARGAS Y ESFUERZOS

Este dren se denomina Zona 4, es vertical hasta la cimentación roca geométricamente semejantes a los materiales de las canteras
y se extiende hacia aguas abajo; es de roca seleccionada, con un que se utilizarán durante la construcción, de tal manera que se pueda
mínimo de finos y se puede colocar con una transición entre los determinar el módulo de deformación al cortante del enrocamiento
materiales 3B y T-3C de la presa [23]. La ocurrencia de los sismos de gran tamaño en forma más económica que las realizadas con
cercanos a Wenchuan, China, en mayo de 2008, en el sitio de la grandes muestras ensayadas en cámaras triaxiales.
presa Zipingpu (156 m) y los ocurridos cerca de la presa Ishibuchi Será fundamental instalar una instrumentación precisa y
(53 m) en Japón, en junio de 2008, llevaron a los expertos [24], a abundante que permita retroalimentar los modelos de esfuerzo-
tomar las medidas arriba señaladas y recomendarlas para el diseño deformación que permitan predecir el comportamiento estructural
y construcción de presas ECC, para prevenir comportamientos de los enrocamientos bajo estos altos esfuerzos. En opinión de los
indeseables en zonas sísmicas. autores, este es el gran reto que implica avanzar en el conocimiento
de este tipo de presas y por supuesto, implica una acción conjunta y
decidida de propietarios, diseñadores, investigadores, constructores
6. INVESTIGACIÓN Y DESARROLLO y desarrolladores.

Las presas de ECC, se han diseñado y construido al tomar


como base, la experiencia inmediata previamente adquirida y ha 7. CONCLUSIONES
prevalecido el empirismo sobre la teoría. Así, la investigación ha
surgido en forma paralela con la construcción, como ocurrió en Los enrocamientos desarrollan procesos dentro de la masa, como
los años 70´s en México [2] y Australia [25]. Debe señalarse que deformación por intemperismo, rotura y acomodo de granos, por
el empirismo continuará en el futuro y es por mucho la base de efecto de las presiones y esfuerzos generados por su peso propio
la mejora continua que se tiene al construir la infraestructura del y los empujes de origen hidrostático y sísmico. Las deformaciones
futuro en este tipo de presas. se ven favorecidas por la saturación del enrocamiento, el cual
Debe señalarse, por ejemplo, que las experiencias de cuatro reduce la fricción entre las partículas y adicionalmente genera
grandes presas de ECC, Campos Novos (2003), Barra Grande (2004), reblandecimiento de en los puntos de contacto roca-roca.
Tianshengqiao 1 (2006) y Mohale (2007), fueron prácticamente Los principales incidentes por mal funcionamiento de este tipo de
absorbidas por las técnicas de diseño y construcción empleadas en presas han ocurrido por una mala granulometría del enrocamiento
ese momento en las presas de ECC en ejecución. A partir ello, hay un (granulometría uniforme) y una baja energía de compactación, más
cambio radical en las técnicas de compactación del enrocamiento, y que por la baja dureza de sus partículas.
la cara de concreto es ahora más flexible; se introdujeron materiales La clave para obtener enrocamientos con alta densidad relativa
deformables en las juntas, con madera de distintas durezas y los menos deformables y que presenten un buen comportamiento
sellos se equiparon con materiales elásticos (water-stops), con lo estructural, fue estudiada por Marsal en México hace varias
cual se reducen las filtraciones del plinto. décadas, quien estableció la conveniencia de utilizar graduaciones
La investigación futura, debe considerar que se ha planeado adecuadas del enrocamiento, lo cual se logró en Aguamilpa, El
construir en China y en India, presas de ECC de 250 a 300 m de Cajón y La Yesca. Sin embargo, dadas las presiones de reducir costos
altura. Esto es un incremento de 300% de las cargas y los esfuerzos y tiempo, este aspecto fundamental, fue pasado por alto en varias
inducidos y las presas se deberán diseñar para resistirlos, más presas construidas en el mundo. El mecanismo sobre la interacción
las solicitaciones sísmicas, para lo cual conviene incluir juntas del enrocamiento en este tipo de presas es muy complejo por la
horizontales en las losas de concreto, como se ha propuesto en la heterogeneidad de sus materiales, sin embargo, con auxilio de las
presa Punilla (136.5 m) en Chile. simulaciones esfuerzo deformación, pueden desarrollarse modelos
En estos casos será necesario conocer mejor las propiedades de análisis sofisticados muy útiles para el diseño y construcción de
geomecánicas de los enrocamientos para lo cual, lo ideal sería estas presas.
realizar ensayes a gran escala que reproduzcan las altas cargas En las acciones para obtener un comportamiento estructural
y esfuerzos a los que están sometidos, como los efectuados por adecuado de las presas de enrocamiento, es fundamental usar un
Marsal-Casagrande (1961), la Universidad de California (1968) y la material bien graduado y humedecerlo, con por lo menos 200 litros
Universidad de KarIsruhe, Alemania (1960). Una opción válida, es de agua por metro cúbico de material y aplicar la mayor energía
incrementar significativamente los estudios experimentales de la de compactación, con capas delgadas y el mayor peso posible del
fractura de las rocas [26] que se basan en muestras pequeñas de rodillo liso vibratorio.

16 WWW.CBDB.ORG.BR
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REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 17


HIDRÁULICA E VERTEDORES

COMPARATIVO ENTRE
METODOLOGIA EMPÍRICO-
ANALÍTICA E MODELAGEM CFD NA
AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE
DESCARGA DE UM VERTEDOURO
Matheus WILLINGHOEFER | Engenheiro Sanitarista e Ambiental - Nova Engevix Participações
Anaximandro Steckling MULLER | Engenheiro Civil - Nova Engevix Participações
Diego David Baptista de Souza | Engenheiro Civil - Nova Engevix Participações

RESUMO ABSTRACT

A capacidade de descarga de vertedouros é usualmente obtida Discharge capacity is usually based on reduced physical models and
com base em modelos físicos reduzidos ou em equações empírico- empirical-analytical equations. However, it is not always feasible
analíticas. No entanto, a construção de um modelo nem sempre é to build a physical model. Only empirical-analytical equations are
viável. Nesses casos, em geral, é aplicada apenas a metodologia usually applied in these cases to determine discharge capacity. This
empírico-analítica. O presente artigo buscou uma validação da study aimed to validate the application of the computational fluid
aplicação do modelo de fluidodinâmica computacional (CFD) Flow- dynamics (CFD) model Flow-3D® to verify the discharge capacity of
3D® na verificação da capacidade de descarga de um vertedouro, an ogee spillway through comparison with the empirical-analytical
por meio da comparação com a metodologia empírico-analítica. Os methodology. The results showed differences of 6 to 7% between the
resultados demonstraram diferenças da ordem de 6 a 7% entre a application of empirical-analytical equations and the computational
aplicação das equações empírico-analíticas e o modelo computacional. model. The difference is due to the simplification of the empirical
A diferença se deve à simplificação da abordagem teórica em retratar methodology in representing the unconventional approach conditions
as condições de aproximação não convencionais do vertedouro of the spillway studied. By normalizing approach conditions and
estudado. Ao regularizar as condições de aproximação e reduzir o reducing abutment contraction effects through the insertion of a wing
efeito das contrações de fluxo, por meio da inserção de um muro ala, wall, the difference was reduced to less than 1%, i.e., under normal
a diferença caiu para menos de 1%, ou seja, sob condições normais approach conditions, there is a convergence between the methods
de aproximação há uma convergência entre os métodos utilizados. used. The comparison between the studied scenarios demonstrates
O comparativo entre os cenários estudados demonstra a eficácia do the effectiveness of the computational model as a tool for calculating
modelo computacional como ferramenta para cálculo da capacidade the flow capacity in unconventional approximation conditions.
de vazão em condições de aproximação não convencionais.
18 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO modelagem é dividida em uma rede de elementos hexaédricos
com duas possibilidades de coeficientes associados aos termos
Durante a ocorrência de eventos extremos, há uma elevação das equações algébricas de cada célula, um coeficiente ao volume
natural do nível d'água em reservatórios de acúmulo de água. e outro às faces, com o indicativo de qual fração deste volume ou
Na eventualidade de um galgamento, as forças hidrostáticas que face efetivamente participa do escoamento (ARAUJO FILHO; OTA,
agem sobre a barragem podem resultar em uma instabilidade 2016). Essa abordagem oferece uma forma simples e acurada de
estrutural e uma consequente ruptura. Por essa razão, o fluxo que representar superfícies complexas sem a necessidade de malhas
adentra ao reservatório deve, obrigatoriamente, ser amortecido deformadas, que se moldam ao formato dos sólidos, mas que
ou escoado para o vale de jusante por meio das estruturas demandam maior esforço computacional para construção.
vertentes, dimensionadas para tempos de retorno compatíveis Diante deste cenário, o presente artigo propõe uma análise do
com as legislações e normativas vigentes. desempenho do modelo computacional Flow-3D® em sua versão
Vertedouros com a crista em formato de ogiva tipo Creager 11.0.0.27, em comparação a um modelo empírico-analítico,
são amplamente conhecidos e vêm sendo estudados desde fundamentado em bibliografias consagradas, na verificação da
as concepções iniciais elaboradas por Muller (1908) e Creager capacidade de descarga de uma estrutura extravasora.
(1917). Tais estudos forneceram uma previsibilidade sobre o O vertedouro analisado é parte de uma barragem já construída
comportamento hidráulico dessas estruturas e ainda demonstraram que vem passando por um processo de recuperação em função
que mudanças de condições de fluxo, e até mesmo modificações de um subdimensionamento. Durante uma revisão periódica
suaves na crista, no formato ou em variações construtivas, mudam de segurança de barragens, foram identificados problemas nos
as propriedades de escoamento e podem alterar a capacidade de cálculos hidráulicos, como a adoção de uma largura vertente
descarga do vertedouro (SAVAGE; JOHNSON, 2001). superior à que efetivamente foi construída e a adoção de
Uma das formas de determinar a capacidade de descarga de parâmetros de aproximação que não correspondiam com as reais
vertedouros é pela aplicação de metodologias empírico-analíticas, que características do fluxo. Com isso, a capacidade vertente atual da
consistem em modelos teóricos tradicionais, elaborados a partir de estrutura é inferior a uma vazão com tempo de retorno de 10.000
equações clássicas da hidráulica. Geralmente são aplicadas de forma anos, que deveria ser a vazão de projeto a ser atendida.
unidimensional e calibradas com o uso de coeficientes empíricos, em Além da verificação da capacidade de descarga, foi avaliada uma
função das simplificações da metodologia (SOUZA, et al. 2020). possível solução para adequação na aproximação, que consistiu
Nos casos em que particularidades de projeto, que fogem na implantação de um muro ala no vertedouro, com o intuito de
aos ábacos tradicionais, demandam análises mais específicas, auxiliar nas condições de aproximação e aumentar a largura efetiva
usualmente são utilizados modelos físicos reduzidos para avaliação do órgão extravasor. Cabe destacar que a análise se deu apenas sob
dos fenômenos hidráulicos (MENDONÇA, 2013). Há fatores, no a ótica hidrodinâmica, sem avaliar questões estruturais.
entanto, que podem dificultar a elaboração de tais modelos, como
urgências no cronograma e o próprio custo atrelado à execução.
À luz dessas dificuldades, modelos computacionais vêm 2. MATERIAIS E MÉTODOS
ganhando cada vez mais espaço, uma vez que o crescimento
exponencial da capacidade computacional, versões mais 2.1 MODELO EMPÍRICO-ANALÍTICO
robustas e a confiança adquirida por meio de inúmeros artigos
de validação dos softwares os tornaram ferramentas ágeis e de Em razão da eficiência hidráulica, vertedouros em formato de
maior acessibilidade, o que permite a simulação de experimentos ogiva são amplamente estudados e, em geral, são a primeira opção
numéricos em ambientes de fluxo virtual (SOUZA et al., 2020). a ser avaliada para compor o sistema extravasor de estruturas de
O Flow-3D®, desenvolvido pela empresa Flow Science Inc., é barramento. Usualmente, o dimensionamento dessas estruturas
um software baseado na dinâmica dos fluídos computacionais, segue as equações e constantes definidas a partir de experimentos
que aproxima soluções numéricas para as equações diferenciais laboratoriais reunidos nas publicações Hydraulic Design Criteria do
de Navier-Stokes e da continuidade em ambiente tridimensional U.S. Corps of Engineers (USACE, 1977) e Design of Small Dams do
por meio da utilização do método dos volumes finitos. O U.S. Bureau of Reclamation (USBR, 1987). Para avaliar a capacidade
escoamento é simulado com o uso do método FAVOR™, um de descarga do vertedouro em análise no presente artigo, foi
acrônimo para Fractional Area/Volume Obstacle Representation inicialmente utilizada a metodologia empírico-analítica presente nas
Method, desenvolvido por Hirt e Sicilian (1985), no qual a área de publicações supracitadas.

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COMPARATIVO ENTRE METODOLOGIA EMPÍRICO-ANALÍTICA E MODELAGEM CFD NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DESCARGA DE UM VERTEDOURO

Com o objetivo de validar a carga para a qual o vertedouro A barragem em análise possui um vertedouro controlado por
foi dimensionado, presente nos documentos de projeto, foi comportas, todavia, quando considerada a abertura completa, o
verificado o perfil da ogiva. Uma vez que se trata de um perfil comportamento hidráulico das estruturas passa a ser o mesmo de
do tipo Creager, a conformação é definida com base na seguinte uma soleira livre. Sendo assim, utilizou-se a equação abaixo para o
equação (USBR, 1987). cálculo da capacidade de descarga do sistema extravasor.

[1] [2]

Na expressão, Ho representa a carga de projeto do vertedouro Onde Q representa a vazão do vertedouro (m³/s), CO é o
em metros; x e y são as coordenadas de projeto do vertedouro e K e coeficiente de descarga (m0,5/s), Le a largura efetiva da crista (m)
n são os parâmetros que dependem da velocidade de aproximação e He a carga hidráulica efetiva sobre a soleira (m).
do escoamento e da inclinação do paramento de montante do O coeficiente de descarga (CO) é função da relação entre a
vertedouro. Para paramentos verticais de vertedouro tipo Creager, altura relativa da soleira, definida a partir dos levantamentos
usualmente adotam-se K e n iguais a 0,5 e 1,85, respectivamente. planialtimétricos cadastrais, e a carga de projeto utilizada na
Isto posto, foi verificado se a carga de projeto de 9,75 m, definição do perfil Creager (Ho). Seu valor é definido a partir do
descrita nos documentos preliminares, é condizente com o perfil ábaco, adaptado da publicação Design of Small Dams (USBR, 1987),
construído. Para tal, foram obtidas as coordenadas da ogiva a apresentado na Figura 2. O gráfico foi traduzido e convertido para
partir dos desenhos de projeto, expostas na Tabela 1. As distâncias o sistema métrico.
dos eixos X e Y são relativas à crista.

Ponto Eixo X (m) Eixo Y (m)


0 (Crista) 0,000 0,000
1 0,501 0,020
2 0,847 0,052
3 1,194 0,098
4 1,540 0,157
5 1,891 0,230

6 2,238 0,314

Tabela 1 - Pontos geométricos da ogiva

Na Figura 1 é apresentada de forma gráfica a verificação da carga


de projeto do vertedouro principal. A adesão dos alinhamentos Figura 2 - Ábaco para definir o coeficiente de descarga do vertedou-
confirmou que a carga de projeto é de fato de 9,75 m. Os valores ro em função da altura do paramento de montante (P) e a carga de
de K e n adotados foram de 0,49 e 1,85, respectivamente. projeto do perfil Creager (Ho) (Fonte: adaptado de USBR, 1987)

Figura 3 - Coeficiente de descarga em função da variação de carga


Figura 1 - Verificação da carga de projeto do perfil do vertedouro hidráulica (Fonte: adaptado de USBR, 1987)
20 WWW.CBDB.ORG.BR
Para cargas hidráulicas diferentes da carga de projeto, o coeficiente categoria, com seção em concreto. A Figura 5 apresenta o ábaco
de descarga CO pode ser determinado com base no ábaco da Figura correspondente. O raio de aproximação (R), de 1,35 m, foi obtido
3, adaptado de USBR (1987), que define o coeficiente a partir da a partir das informações de projeto. Com base nesses valores, o KA
relação carga efetiva sobre carga de projeto (He/Ho). resultante foi de 0,10.
A largura efetiva da crista, por sua vez, é função do número
de pilares existentes sobre a soleira e da contração na lâmina de
água provocada por eles, conforme coeficientes disponíveis no
Hydraulic Design Criteria (USACE, 1987). O comprimento efetivo
da soleira pode ser obtido a partir da equação abaixo.

[3]

Onde Le representa o comprimento efetivo da soleira, L o


comprimento livre da soleira (soma dos vãos das comportas), N
o número de pilares, KP o coeficiente de contração dos pilares,
KA o coeficiente de contração dos encontros, e He a carga efetiva Figura 5 –
sobre a soleira. Vista superior
De acordo com o ábaco apresentado na Figura 4 (USACE, 1977), da barragem
o coeficiente de contração dos pilares (KP) pode ser determinado em estudo
em função da relação de He/Ho, sendo que existem curvas (E) e detalhe
definidas para quatro diferentes geometrias. Os pilares da do tridimensional
vertedouro em estudo são do tipo 2 (Figura 5). Para relação de das condições de
carga efetiva sobre carga de projeto de 1,33, o valor de KP indicado aproximação (D)
pelo ábaco é de -0,01.

Figura 4 - Ábaco para determinação do coeficiente de contração dos


pilares KP (Fonte: Adaptado de USBR, 1987)

O Hydraulic Design Criteria (USACE, 1987) define o coeficiente


de contração dos encontros (KA) com base em dois ábacos, um
criado com base em modelos reduzidos de barragens com seção
adjacente de concreto e outro para barragens com a aproximação Figura 6 - Ábaco para determinação do coeficiente de contração dos
em talude de terra. A estrutura em análise se enquadra na primeira encontros KA (Fonte: Adaptado de USBR, 1987)
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 21
COMPARATIVO ENTRE METODOLOGIA EMPÍRICO-ANALÍTICA E MODELAGEM CFD NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DESCARGA DE UM VERTEDOURO

Os demais parâmetros fixos utilizados na verificação da uma adaptação do método dos volumes finitos, desenvolvido pela
capacidade de descarga são apresentados na Tabela 2. Flow Science – determina a superfície livre sem a necessidade de
simular o arraste de ar. Cada célula possui um parâmetro de controle
com uma faixa de variação entre zero e um, onde zero representa
Parâmetro Barragem em análise
uma célula vazia e um quando a unidade é preenchida por inteiro. A
Cota da soleira (m) 622,00
Cota de fundo a montante (m) 597,00
superfície é então representada por uma aproximação de primeira
P (m) 25,00
ordem atrelada com a relação entre o volume da própria célula e
Hd (m) 9,75
das células adjacentes. Com a aplicação do método, são calculados
N.A. máximo maximorum 635
apenas os valores do fluido sem os cálculos da parcela de ar. Esse
He (m) 13,00 método reduz o tempo computacional e torna o modelo mais
Quantidade de vãos 2 estável. A utilização de modelos de incorporação de ar geralmente
Largura do vão (m) 8,30 é feita quando é esperada uma grande entrada de ar para dentro
Número de pilares 1 do escoamento turbulento, como nos ressaltos hidráulicos, por
Paramento Vertical exemplo, o que não é o caso do modelo aqui simulado.
A geometria foi criada em plataforma CAD e importada para o
Tabela 2 – Parâmetros de cálculo da capacidade de descarga
Flow-3D® versão 11.0.0.27. A Figura 6 ilustra o segmento inserido
do vertedouro
no modelo. Na sequência é detalhado o processo de refinamento
da estrutura e da malha tridimensional.
2.2 MODELO COMPUTACIONAL

A aplicação do modelo computacional teve como objetivo


a verificação da condição atual e a consequente aderência aos
cálculos de capacidade de descarga do sistema extravasor da
barragem obtidos por meio do modelo empírico-analítico. No
caso de confirmado o subdimensionamento, o modelo subsidiará
a análise de soluções.
O Flow-3D® dispõe de vários módulos físicos, aplicáveis para
diferentes situações de escoamento. Dentre os mais utilizados
para análises relacionadas com escoamento, pode-se citar os
módulos de entrada de ar (air entrainment), cavitação, gravidade,
Figura 7 - Segmento da estrutura inserido no modelo Flow-3D®
objetos móveis, partículas, sedimento e viscosidade e turbulência
(ARAUJO FILHO, 2014).
Para o presente artigo foram utilizados os módulos de Com a geometria importada, foi definida a malha computacional,
viscosidade e turbulência e gravidade. A definição pela não inclusão que consiste em divisões da área a ser simulada em um grid de
de análises complementares se deu pelo objeto do presente artigo, elementos hexaédricos com tamanho variado. Foram simulados
que avalia basicamente a capacidade de descarga e as linhas de dois blocos de malhas com células de tamanhos diferentes:
fluxo do vertedouro. O modelo de turbulência adotado foi o RNG um bloco com células maiores para a região de aproximação
(Renormalized Group Model). Segundo o manual do software, a do fluxo e outra com células menores, que geram maior nível
descrição do comportamento do escoamento é representada de de detalhamento, na região estrutural do vertedouro (perfil e
forma mais adequada quando comparado com outros modelos de paramento de montante).
turbulência disponíveis (Flow 3D, 2012). A malha foi definida para atingir uma boa relação entre o
Cabe destacar que o módulo físico de incorporação de ar não tempo decorrido para efetuar a modelagem e a estabilidade
foi habilitado porque a região possui velocidades de aproximação dos resultados fornecidos. Foram realizados vários testes, que
baixas e relação entre carga efetiva e carga de projeto dentro de culminaram na adoção de uma malha com 50 centímetros na
limites aceitáveis, sem risco à cativação (He = 1,33xHo). Nesses região mais afastada do vertedouro e 25 centímetros na área de
casos, o método utilizado para o cálculo do escoamento em aproximação e da estrutura em si. Malhas mais refinadas acabavam
superfície livre no modelo Flow-3D®, TruVOF – que corresponde a por incorrer em tempos de simulação muito elevados, mas que

22 WWW.CBDB.ORG.BR
não alteravam a ordem de grandeza dos resultados fornecidos. Como condição de contorno de montante, foram simulados
Cabe destacar que não há possibilidade de calibração do modelo dois cenários, um com a carga do reservatório na El. 635 m,
computacional pela ausência de um modelo físico do vertedouro correspondente ao nível máximo maximorum, e outra na El. 636
construído. Os resultados fornecidos pelo software foram comparados m, um metro abaixo da crista do barramento. A definição da carga
com os obtidos na formulação empírico-analítica para avaliar se havia como condição de contorno de entrada objetivou a determinação
uma convergência entre as metodologias. No entanto, para simulação da vazão de resposta da estrutura vertente por meio da imposição
de vazão de vertedouros de soleira livre do tipo Creager, o software de um nível d’água fixo e uma velocidade constante. Cabe destacar
Flow-3D® já foi extensivamente estudado, com a comprovação de que na sobrelevação do segundo cenário não foram avaliadas as
sua eficácia por uma série de artigos (KIM; PARK, 2005; FILL, 2011; pressões negativas resultantes. A análise se restringiu a determinar
HERRERA-GRANADOS; KOSTECKI, 2015; YILDIZ et al., 2020). Souza a capacidade de descarga mediante um acréscimo de carga. A
et al. (2020) citam ainda que, em razão da característica de fluxo em efetivação desse cenário como operativo demandaria análises
regime fluvial e linhas de corrente razoavelmente paralelas, pode- estruturais que fogem ao escopo do presente artigo.
se prescindir de calibração em modelagem física para avaliações da Um terceiro cenário foi então simulado com a mudança nas
aproximação de fluxo e da capacidade de vazão em modelos CFD. condições de aproximação. Foi proposta uma alternativa estrutural
A distância entre o vertedouro e a condição de contorno de que consiste na implantação de muros ala com raio de 18 metros.
montante foi de 65 metros, cinco vezes a carga efetiva (He). A A inserção dos muros objetivou a alteração das características
distância foi suficiente para atingir trechos de velocidade zero no hidráulicas do escoamento na região de aproximação para tornar
reservatório, o que proporcionou uma entrada de vazão suave e sem as linhas de fluxo mais aderentes às paredes do vertedouro. Por
ondas. Na configuração final, os dois trechos somaram um total de consequência, reduz o coeficiente de contração lateral e aumenta
4.402.720 elementos. O tempo de simulação necessário para que a largura efetiva da porção vertente. Nesse cenário, a condição de
se atingisse uma estabilidade foi de 500 segundos, suficiente para contorno de montante foi a vazão para tempo de retorno de 10.000
regularização do comportamento hidráulico e obtenção de uma anos, de 1.791,39 m³/s. A mudança pela forma de entrada do fluxo
vazão média de saída. A Figura 8 apresenta o modelo tridimensional se deu uma vez que a resposta esperada para a presente simulação
inserido no modelo, bem como a malha adotada. é o consequente nível de energia sob o vertedouro.

Figura 8 -
Malha
geométrica
da estrutura
simulada

Figura 9 -
Vista em
planta com a
inserção dos
muros ala

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 23


COMPARATIVO ENTRE METODOLOGIA EMPÍRICO-ANALÍTICA E MODELAGEM CFD NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DESCARGA DE UM VERTEDOURO

de He/R para o nível máximo maximorum é de 9,63. A escassez de


dados empíricos para definição dos valores de contração nesses
patamares pode ser uma das causas da diferença entre os valores
de vazão, obtidos entre a aplicação das equações empíricas e a
modelagem computacional.

Figura 10 – Vista tridimensional do muro ala

3. RESULTADOS

A Tabela 3 apresenta o comparativo entre a capacidade de


descarga obtida a partir do modelo empírico-analítico e do modelo
computacional para os cenários 1 e 2. A variação foi de 6,38% para
o nível máximo maximorum (El. 635 m) e 7,84% para a El. 636 m.
A diferença obtida pode ser atribuída às condições de aproximação Figura 11 - Destaque para o ábaco de definição do coeficiente
e por singularidades nos aspectos construtivos, que refletem na de contração dos muros extremos (Ka)
largura efetiva do vertedouro. Trata-se de condição anômala na
aproximação, a qual o modelo empírico-analítico avalia de modo O argumento da interferência das condições de aproximação
muito simplificado, e somente os modelos físico e computacional é reforçado pelos resultados do cenário 3, onde o modelo
3D (CFD) conseguem determinar com maior precisão. computacional apontou que, para vazão de entrada de 1.791,37 m³/s,
Conforme apresentado no ábaco da Figura 6 e destacado na Figura o nível de energia no eixo do vertedouro foi de 634,75 m. Ao aplicar o
11 abaixo, foram utilizados cinco modelos reais para determinação modelo empírico-analítico, para o mesmo raio de aproximação de 18
dos valores do coeficiente de contração dos muros extremos (Ka). metros, a vazão de 1.791,37 m³/s é atingida com um N.E. de 634,85
No entanto, apenas dois (Pine Flat e CW 801) se aproximam do limiar m, ou seja, uma diferença de apenas dez centímetros. Há também
superior do ábaco (relação de He/R ≈ 10), sendo precisamente essa uma convergência da largura efetiva entre os dois métodos. A Tabela
a faixa de valores do vertedouro do presente estudo, cuja relação 4 sintetiza os resultados obtidos.

Modelo empírico-analítico Modelo computacional


(m³/s) (m³/s)
He He
Cenário NE (m) Cd Variação de vazão (%)
Ho R

Le (m) Vazão (m³/s) Le (m) Vazão (m³/s)

1 635 1,33 9,63 2,27 14,51 1.541,47 15,41 1.639,93 6,38

2 636 1,44 10,37 2,29 14,35 1.723,56 15,49 1.858,82 7,84

Tabela 3 - Comparativo entre o modelo computacional e o empírico-analítico

24 WWW.CBDB.ORG.BR
Vazão de Modelo empírico-analítico (m) Modelo computacional (m)
Cenário entrada Cd Variação de N.E. (%)
(m³/s) He He
N.E. (m) Le (m) N.E. (m) Le (m)
R R
3 1791,37 2,26 634,75 17,18 0,71 634,85 17,21 0,71 0,015

Tabela 4 - Comparativo entre os modelos no Cenário 3

Isto posto, observa-se que ao regularizar as condições de


aproximação, uma vez que ao inserir o novo muro de aproximação
foi utilizada uma conformação mais usual, há uma redução na
variação entre os resultados entre o modelo empírico-analítico
e o modelo computacional, o que pode ser atribuído a redução
da influência de eventuais particularidades construtivas, como
a presença das adufas logo abaixo do vertedouro, por exemplo.
Na sequência são apresentadas imagens comparativas com
o perfilamento das linhas de fluxo junto ao vertedouro, que
mostram o efeito da implantação do muro ala, e a redução na
contração do fluxo provocado por ele. Os comparativos foram
feitos com base nos níveis máximos maximorum do cenário 1
Figura 12 – Seção das linhas de fluxo próximas à parede do
(vazão de 1.639,93 m³/s) para os cenários sem o muro ala, e do
vertedouro: sem muro ala (E) e com a implantação do muro (D)
cenário 3 (vazão de 1791,37 m³/s), com o ajuste da aproximação.
Na imagem da esquerda, sem o muro, há um maior
distanciamento das linhas em relação à extremidade do
vertedouro, especialmente nos primeiros metros da coluna
d’água. Na imagem da direita, por sua vez, percebe-se uma
constrição maior do fluxo e, por consequência, um aumento
expressivo da largura livre e da vazão de descarga. As velocidades
sobre a ogiva são da ordem de 4 m/s; ao final do vertedouro,
giram em torno de 17 m/s..
Abaixo são apresentadas duas vistas superiores para o comparativo
das linhas de fluxo relativas ao nível máximo maximorum. Percebe-
se um aproveitamento maior da largura efetiva na imagem da
Figura 13 - Vista superior das linhas de fluxo: sem muro ala (E) e
direita, com a aproximação das linhas em relação ao muro lateral do
com a implantação do muro (D)
vertedouro (com a inserção do muro ala).
Outro ponto que fica claro no modelo computacional e é visível
na Figura 12 acima e na Figura 14 abaixo, é que a contração da
veia líquida é maior nos primeiros metros de coluna d’água (de
baixo para cima). À medida que o nível d’água aumenta, ocorre
uma redução na separação entre o escoamento e a estrutura,
ou seja, há um efeito tridimensional na contração provocada
pelas condições de aproximação. Esse efeito não é representado
nas formulações empírico-analíticas e representa mais um dos
fatores que leva ao aumento na diferença entre a vazão calculada Figura 14 - Destaque para as condições de aproximação e o fluxo
entre o modelo computacional e o método empírico-analítico tridimensional na aproximação do vertedouro para o nível máximo
entre os cenários 1 e 2. maximorum (El. 635 m e Q = 1.639,93)

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 25


COMPARATIVO ENTRE METODOLOGIA EMPÍRICO-ANALÍTICA E MODELAGEM CFD NA AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DESCARGA DE UM VERTEDOURO

4. CONCLUSÕES tomada de decisão que trazem segurança na concepção e verificação


de estruturas hidráulicas. Todavia, sua utilização sem calibração por
O propósito deste artigo foi analisar a capacidade de descarga um modelo físico, principalmente para análise de escoamentos
de um vertedouro, por meio da aplicação de um modelo empírico- complexos ou não convencionais, que garanta a acurácia dos
analítico baseado em bibliografias consolidadas, como o Design of resultados, deve ser conduzida com cautela. Neste sentido, quando
Small Dams (USBR, 1987) e o Hydraulic Design Criteria (USACE, 1977). possível, é sugerida a utilização de modelagem composta (modelo
Houve ainda uma segunda verificação com a aplicação do modelo físico para os ensaios iniciais e calibragem do computacional, e
CFD Flow-3D® em sua versão 11.0.0.27. Também foi simulado um modelo computacional para estudos de alternativas e análises
cenário de implantação de uma medida estrutural, com o propósito durante a vida útil do aproveitamento). Sob essa ótica, a presente
de elevar a capacidade de descarga, de forma a atender à vazão de análise abordou um comparativo entre ferramentas que são
pico de projeto, para a qual a barragem deveria ter sido dimensionada. passíveis de aplicação mesmo em um cenário em que não há
Ambos os métodos demonstraram que o vertedouro, para o disponibilidade de modelo reduzido.
nível máximo maximorum atual (635 m), não atende a capacidade Isto posto, a diferença entre métodos é esperada, especialmente
de descarga para um evento com tempo de retorno de 10.000 anos porque as metodologias empíricas não consideram singularidades
devido aos equívocos feitos durante a execução do projeto executivo. construtivas, uma vez que possuem simplificações e limitações na
As metodologias empírico-analíticas apontaram uma vazão de avaliação de aproximações não convencionais, que podem afetar
1.541,47 m³/s, enquanto o Flow-3D®, por sua vez, indicou uma vazão sua aplicabilidade. Além disso, desenhos e modelos estruturais nem
aproximada de 1.639,93 m³/s, 6,38% maior do que a metodologia sempre são totalmente fidedignos à realidade, o que pode trazer
empírico-analítica, porém, ainda muito aquém da vazão de projeto. erros à análise.
Um segundo cenário foi calculado com a elevação do reservatório Cabe destacar que, em casos particulares, como o aqui
para a cota apresentado, quando a estrutura já está construída e não há um
636 m, um metro abaixo da crista da barragem. Segundo o modelo modelo físico para efetiva calibração do modelo computacional, ainda
computacional, a vazão correspondente foi de 1.858,82 m³/s, 7,84% que a simulação CFD seja mais representativa no cálculo da capacidade
maior do que a vazão obtida para o mesmo nível calculado por meio de descarga, por representar os fenômenos hidrodinâmicos de
das equações empíricas, de 1.723,56 m³/s. forma tridimensional, a recomendação como critério de projeto
As diferenças podem ser atribuídas às condições de aproximação seria pela utilização dos métodos cujas vazões resultantes são mais
do fluxo, decorrentes de singularidades nos aspectos construtivos e conservadoras, para que o diagnóstico seja sempre em favor da
da deficiência da metodologia empírico-analítica em representar o segurança. A modelagem computacional representa uma ferramenta
efeito tridimensional da contração da veia líquida. robusta, confiável e com ampla validação técnica, mas ainda é muito
No terceiro cenário foi simulada a implantação de um muro ala, que suscetível à falta de expertise do modelador. Isso, quando combinado
aumentou o raio de aproximação do vertedouro, limitou a contração com a facilidade de acesso, pode induzir à produção de resultados
da veia líquida e aumentou a largura efetiva, o que elevou a capacidade desconexos com a realidade. Nesse contexto, a representatividade do
de descarga da estrutura e permitiu a passagem da vazão de pico de resultado dependerá dos dados de entrada utilizados e da montagem
1.791,37 m³/s. Ao regularizar a condição de aproximação, a diferença do modelo hidrodinâmico.
entre o modelo computacional e o modelo empírico-analítico reduziu Dadas as devidas ressalvas, como contribuição científica fica clara
abruptamente. Os níveis de energia para a vazão citada diferiram em a eficácia da modelagem computacional como ferramenta para
apenas 10 centímetros entre as duas metodologias. cálculo da capacidade de vazão em cenários com aproximações
O cenário 3 demonstrou que a condição anômala da não convencionais, o que corrobora as sugestões de Souza et al.
aproximação do fluxo limita a representatividade do modelo (2020). Por fim, conclui-se que, em uma condição ideal, em que há
empírico-analítico. Após a normalização, com a implantação do possibilidade de calibração do modelo CFD ou de uma validação
muro ala, houve uma convergência nos cálculos, o que corrobora de sua convergência por meio de comparação com métodos
a eficácia do Flow-3D® no cálculo da capacidade de descarga de empírico-analíticos, o uso de ferramentas, como o software Flow-
vertedouros com condições não convencionais de aproximação. 3D®, traz robustez para as análises hidrodinâmicas, uma vez que o
Ademais, o cenário atestou a viabilidade de uma interferência modelo computacional apresenta uma série de resultados além da
estrutural que permitiria a passagem de uma onda de cheia capacidade de descarga e permite uma análise tridimensional do
compatível com o tempo de retorno do barramento. fluxo nas regiões de interesse, além de viabilizar a criação de uma
Modelos matemáticos computacionais são ferramentas de série de cenários de análise.

26 WWW.CBDB.ORG.BR
5. PALAVRAS-CHAVE USACE – United States Army Corps of Engineers. Hydraulic Design Criteria. Vicksburg,
EUA: Coastal and Hydraulics Laboratory, 1977.
USBR – United States Bureau of Reclamation. Design of Small Dams. Washington, DC:
Modelagem hidrodinâmica; Vertedouro; CFD; Capacidade de
United States Printing Office, 1987.
Descarga; Flow-3D; modelos empírico-analíticos. SOUZA, Diego David Baptista de et al. A política brasileira de projeto e operação de
vertedouros: análise crítica e recomendações para seu aperfeiçoamento. Rio de

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Janeiro: CBDB, 2020. 270 p.


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QUALIDADE e EXPERIÊNCIA
em Engenharia de Projetos
e Gerenciamento de
OBRAS de INFRAESTRUTURA REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 27
ANÁLISES ESTATÍSTICAS, NUMÉRICAS E COMPUTACIONAIS

CALIBRATION METHOD FOR


1D HYDRAULIC MODELS USING
HIGH DENSITY SATELLITE
OBSERVED DATA
Rodrigo MARTINS LUCCI | Civil Engineer, Master of Science - Hydraulics and Environ-
mental Engineering Dept. - School of Engineering - University of São Paulo
Jose Rodolfo SCARATI MARTINS | Professor - Hydraulics and Environmental Engineering
Dept.- School of Engineering - University of São Paulo

RESUMO ABSTRACT

Os modelos matemáticos são ferramentas indispensáveis Mathematical models are indispensable tools to map potential
para mapear impactos nos vales a jusante de barragens por hazards in river valleys downstream of dams’ trough the simulation
meio de simulação de cheias e rupturas parciais ou totais. of flooded areas due to the occurrence of large floods and partial
Independentemente da existência de modelos digitais de or total ruptures. Regardless the existence of adequate digital
terreno adequados e dados de alta precisão, um processo de terrain models and high accuracy forcing data, a calibration
calibração é essencial para tornar o modelo representativo process is essential to make the model representative and reduce its
e reduzir suas incertezas. Os métodos usuais de calibração uncertainties. Usual calibration methods adjust model coefficients
ajustam os coeficientes do modelo para corresponder os níveis to match the computed and observed punctual water stages in a
de água calculados e observados para vazões conhecidas. Este station for a known discharge assuming that the reach between
artigo apresenta um método de calibração para ser usado na two stages are well represented. This article presents a calibration
modelagem hidrodinâmica de vales a jusante com o uso de method to be used in hydrodynamic mathematical modeling of
imagens de satélite de eventos de inundação para melhorar a downstream valleys with the use of satellite images taken during
resolução espacial dos dados disponíveis e, consequentemente, flood events to improve the spatial resolution of the available data
seu desempenho. and consequently, its performance.

28 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUCTION the main forces acting in the water like gravity, pressure, wind and
shear stresses. This last one uses concepts as bottom shear stress,
Mathematical models are essential tools in practically all friction factors or turbulence that need guided and standardized
components of 'water engineering enterprises’ especially in calibration [9]. Currently, the software that make use of those
studies related to risk and safety management of valleys under equations is called mathematical model or hydrodynamic model,
the effects of increasing hazards or the presence of dams. It is but, it is the tool that facilitate the use of the analytical conceptual
expected that the fluvial flow simulation models employed in equations through its sophisticated and user-friendly interfaces,
floodable areas estimation have representativeness and efficiency making data entry and results analysis more agile.
compatible with the magnitude of the involved risks [1]. The 2D flow models are also known as shallow water models,
calibration of hydraulic numerical models are processes to make disregard the vertical acceleration of fluid particles because it is
the connection between the analytical concepts and the desired very small in relation to gravity acceleration, and so they can be
efficiency through the adjustment of the equation’s parameters. called horizontal two-dimensional models (2DH). The 2DH is a
Usually carried out through by ‘trial and error’ or ‘automatic simplification of the generic three-dimensional case and has great
error mitigation’ processes, the calibration aims to determine the application in the studies of rivers, estuaries and lakes with small
hydraulic parameters linked to the friction factors and turbulence depths [10].
as Chèzy-Manning’s roughness and others, based on observed On the other hand, the 1D model, which is the simplification
water level and discharge in singular points at hydrological stations. of the 2D model, considers the vertical and lateral mean values
The water level in the reach between two stations are ungauged of a cross section of a river, and can be done by integration along
and not considered when the model accuracy is evaluated, faking the width. [11]When the main channel of the river is overcome,
considerable errors in the identification of the flooded areas lateral runoff occurs to the floodplains with two-dimensional
located in valleys, despite how sophisticated the model is [2]. characteristics. In one-dimensional models, the calculation of
In this context, it is very important for modelers to have an the runoff in these plains can be treated in different ways, one of
alternative calibration method that profit from the availability of which is to use plain only for storage in the mass balance equation.
the distributed remote sensing data, such as satellite or aerial This approach is suitable for large rivers that have floodplains with
images along the flood events to take into account the real water lots of [12]. Another way to address this problem is to divide the
masses stored in the flood plains [3]. system into two separate channels [13-15].
This article proposes and tests a calibration method based on Physical representation of the 1D modeled area is based on
satellite imagery which allows to distinguish different situations cross sections for the main channel and digital terrain models
of occupation of the floodplains along the entire valley, increasing (DTM) or digital elevation model (DEM) for the floodplains. The
the spatial resolution of the model checkpoints and consequently solution is obtained by forcing the equations using flow and water
its performance. The procedure shown here is also applicable to level data derived from observed data series at gauges located
imaging technologies such as interferometer and LiDAR radars, upstream, lateral, and downstream limits. Among the results that
which are increasingly being used in hydraulic modeling for flood a hydrodynamic model software can offer we highlight the water
studies. [4-6]. The method was developed using one-dimensional stage profiles along the channel and the flood maps based on the
models, but can be extended to 2DH and 3D models, which are DTM which may contain depth information, NA elevation, velocity,
progressively becoming more accessible. [7, 8]. wave arrival time, flood duration, etc.
The usual calibration parameter in hydraulic models is the
friction factor representing the effect of the shear stress associated
to the walls, bottom, and internal friction. For 1D models,
2. CONCEPTS AND FUNDAMENTALS Manning’s Coefficient is used while the 2D and 3D’s employ
advanced formulations to close the momentum equations.
2.1 RIVER FLOW SIMULATION MODELS One-dimensional models use cross sections composed by a
main section associate to floodplains with different roughness
Hydrodynamic mathematical models for river flow simulations coefficients at different water stages.
are based on the equations that represent the dynamics of fluids Various 1D, 2D and 3D hydrodynamic simulation software are
in 3, 2 and one dimension, like RANS and Saint-Venant equations. available and we quote HEC-RAS [12], PCSWMM [1], Delft3D Suit
Those equation consider mass balance and momentum, computing [16]. HEC-RAS starting from version 5 introduced 1D and 2DH

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 29


CALIBRATION METHOD FOR 1D HYDRAULIC MODELS USING HIGH DENSITY SATELLITE OBSERVED DATA

simulation facility and several results through maps such as depth has the same water elevation attribute of the original
map, water level elevation, speed, speed x depth map, wave arrival channel axis point.
time, flood duration etc. • Each pixel of the terrain elevation along the line is then
compared to the elevation attribute. The binary state
2.2 MAPPING FLOODED AREAS ‘flooded’ or ‘not flooded’ is set to the pixel. If the point
is already marked by another orthogonal line (case of
The flood map is the plant representation of the area occupied by curves) the routine notes the greatest depth.
water when the drainage structures are overloaded, and the water • The resulting raster map is then converted to closed
level exceeds banks. The advances in georeferenced information surface areas.
system (GIS) brought several ways for generation of flooded area
maps. One of the simplest ways for generating flooded area is the 2.3 DIGITAL TERRAIN AND SURFACE MODELS
inclusion of a virtual layer of water over the DTM or DEM adjusted
at the predicted water level reached by the river in periods of DTM and DEM models represent the earth's surface and
high rainfall [17]. An alternative this purely geometric method is differ respectively by representing everything on the surface,
to use the water elevation from the hydraulic models combined vegetation, buildings, etc., and by representing the land itself,
to the terrain descriptors, described as hydrogeomorphological where vegetation is rooted and buildings are founded.
attributes and extracted directly from the DTM [18]. Several open access DEM are currently available such as the
Rennó and Nobre [19, 20] proposed the Height Above the SRTM - Shuttle Radar Topography Mission, developed by NASA
Nearest Drainage (HAND) model, a descriptor for mapping flooded (National Aeronautics and Space Administration) and NGA
areas. The HAND model uses the vertical distance for the nearest (National Geospatial-Intelligence Agency) in the United States in
drainage to develop a static approach and map potentially flooded 2000, the ASTER GDEM - Advanced Spacebone Thermal Emission
areas. The method uses normalized drainage topography (EA) and Radiometer Global Digital Elevation Model, developed by the
and flow paths to delineate the vertical distances relative to the consortium between the Ministry of Economy, Trade and Industry
nearest river [20]. of Japan (METI) and NASA, and the derivatives of SRTM, such as
The above mentioned HEC-RAS software includes a tool for data from Brazil in Relief from EMBRAPA and TOPODATA, made
generating and viewing map results called RAS Mapper that available by INPE - National Institute of Space Research.
generates several map results based GIS techniques integrated to Before using these digital surface models the accuracy of the
the hydraulic model results [21]. The limits for the flood mapping altitudes provided must be carefully analyzed in order to establish
extensions are stablished by edge lines defined by the extremes of the reliability of the products produced. One way to evaluate the
the one-dimensional river cross sections [22]. altimetry of the MDEs is to compare the altitudes of the models
One simple map generation technique is present in the model with those of control points, such as the geodesic landmarks and
CLiv+ [23] to compare the water levels calculated by a 1D hydraulic perform a statistical analysis of the errors found between the
model to the raster terrain elevation and set to each pixel the altimetric ‘real’ evaluation and the one supplied by the digital
attributes ‘1-flooded’ and ‘0-not flooded’. This approach considers model. Results can then be compared to the standards stablished
the water level obtained from with the mathematical modeling by the agencies in charge of land management as, for instance, the
at each cross section and includes the influences bridges and IBGE in Brazil (Technical Standard of National Cartography Decree
crossings, section bottlenecks and so. The step sequency to map a No. 89,817, of June 20, 1984)
flooded area along a river reach can be described as:

• The water elevation is computed at a fixed spacing along 3. THE PROPOSED ALTERNATIVE
the main channels axis that form the channel network by
interpolation among the water elevation results at each
CALIBRAITION METHOD
timestep for each cross section.
• The routine runs over each channel in upward direction The method proposed follow the ones proposed by di Baldassarre
and creates at each point defined in the previous step et. al. [3], Hostache et. al. [24], Domeneghetti [25], Garambois
an orthogonal line to the channel axis with a previously et. al. [2] and more recently Hosseiny [26], using machine learning
stablished distance to form a buffer. This orthogonal line approach. Unlike the conventional method of calibration that takes

30 WWW.CBDB.ORG.BR
into account few or even just a single point, the alternative method is to 5 m, position accuracy of 10 m and radiometric resolution of 16bit.
elaborated based on the images captured during floods in rivers, and The left image is the original all-bands image and the right shows the
thus has a high density of calibration points, since each pixel of water image binary classified considering flooded and land pixels.
in the flooded area is a spatial calibration point. To perform the comparison between the observed flood and the
For this method, a recursive computation of the water elevation one calculated by the hydraulic model, both must be converted to
profile with 1D models or the water surface for the 2D is carried the binary form. The observed map has water represented by pixels
out with the boundary conditions of the same flood observed and of value 2 and earth per pixel of value 0, while the calculated map
captured by the obtained image. The calibration parameter (friction has the water represented by pixels of value 1 and earth per pixel of
factors or Manning’s coefficient) is set among a band of variation, value 0.
covering total or partial areas and the result is stored for the These attributes are combined by the sum of these two areas,
uncertainty analysis. where each pixel of the calculated map is confronted to the
The observed flood map can be extracted by several imaging respective pixel of the observed one. This crossed information allows
classification methods through GIS applications. One of these to verify the correct answers and errors of the modeled results. Table
methods is the automatic supervised classification process, which 1 shows how pixel values of the flooded and earth classification of
should be carried out with maximum impartiality in the process, the observed and calculated images are considered, end the values
so that subjective participation is only the definition of areas for assigned to the resulting crossed images.
spectral signature collection. These methods segment the image by The algorithm will seek the minimum point of the total error
connecting zones of the same spectral characteristic. To exemplify the curve, which results from the sum of absolute error curves with
concept, Figure 1 presents the satellite image dated January 21, 2016, "False positive" and "False negative" for each set of model roughness
from Planet Labs [27], an imagery repository with pixel size from 0,5 parameters.

FIGURE 1 - Satellite Image of 21 January 2016 and binary classification

Comparison Calculated result Observed image Classification


calculated = observed Earth “0” Earth “0” Negative “0” (0+0) (N)
calculated = observed Water “1” Water “2” Positive “3” (1 +2) (P)
calculated flooded more Water “1” Earth “0” False positive “1” (1 +0) (FP)
calculated flooded less Earth “0” Water “2” False negative “2” (0 +2) (FN)

TABLE 1 - Pixel values of observed and calculated spots end Classification of the resulting crossed images pixels

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 31


CALIBRATION METHOD FOR 1D HYDRAULIC MODELS USING HIGH DENSITY SATELLITE OBSERVED DATA

4. CASE STUDY Indicator EMPLASA TOPODATA ASTER


average 4.30 5.48 8.36

4.1 STUDY AREA maximum 44.92 43.41 44.46


Minimum 0.01 0.01 0.09

This alternative calibration method was tested in the median 1.84 3.70 5.86

downstream valley of the Ourinhos Hydroelectric Power Plant


TABLE 2 - Error (%) in relation to (RAAP) of the Brazilian Geodesic
(HPP) dam, located at Paranapanema River, State of São Paulo ,
System (SGB)
Brazil, comprising about 52 km represented by 245 cross sections.
Those sections were extracted from the DTM data of the São Paulo Three different DTM were models available for the study
Metropolitan Planning Company – EMPLASA, that has a horizontal area, produced by different agencies: TOPODATA prepared from
resolution of 5 meters. Figure 2 shows the cross sections and the data from the Shuttle Radar Topography Mission (SRTM), and
limits of the area defined by the maximum computed flooded ASTER, developed by the Mission Advanced Spaceborne Thermal
map plus an additional buffer to avoid including flooded pixels that Emission and Reflection Radiometer (ASTER). Table 2 shows the
don’t represent flooding due to main section overflow. error in relation to the High Precision Altimetric Network (RAAP)
These data were then combined with the cross sections along the of the Brazilian Geodesic System.
reach for the representation of the main section. Figure 2 shows the
simulation excerpt and an example of a cross-section in the HEC-RAS. 4.2 CONVENTIONAL CALIBRATION OF THE ONE-
The first task was to evaluate the altitude accuracy of the DEM DIMENSIONAL MODEL
so that they can be used in water resource applications for better
results. It is important to point out that the altimetric inaccuracy To calibrate conventionally the 1D model discharges and water
can lead to mistaken results of flood spots, both in the increase stage elevation were used at upstream border. At downstream limit
and in the decrease of the affected area. Thus, it is recommended the water elevation were imposed. Figure 3 shows the observed
that the altimetric evaluation be performed for each study, and for flood and the calibration results in the upstream border (Chavantes
this it can be used the classification of the Cartographic Accuracy HPP). The calculated data showed good adherence to the observed
Pattern as a reference, and should be improved with the increase data and the calibrated roughness represented by the Manning’s
in the number of control points [28]. number was 0.03 for the main trough and 0.085 for the floodplains.

FIGURE 2 - Area of compar-


ison of the spots calculated
and observed end simulation
excerpt and cross section
example in HEC-RAS

32 WWW.CBDB.ORG.BR
FIGURE 3 - Left: Hydrograph of the observed flood; Right: Model calibration

4.3 ALTERNATIVE CALIBRATION OF THE ONE-DIMENSIONAL


MODEL

The alternative calibration of the 1D model included nine


simulations with different roughness combinations for the mail
channel and flood plains. To link the simulation result with
the roughness applied in the cross sections (main and plain)
the average of the composite roughness of each section was
calculated. The HEC-RAS determines the total transport for each
section by dividing the flow in the overbanks using the Manning’s FIGURE 4 - Subdivision of the cross section for the
roughness values change points, and then sums all the values calculation of transport in the HEC-RAS (USACE 2020).
to calculate a water level in the section. Figure 4 shows the
subdivision of the cross-section for the calculation of transport Figure 5 the curves of the ratios between the calculated and
in the HEC-RAS. observed for flooded and land pixels, and the curve of the Total
The image of the selected valley area has 675,361 pixels and Absolute Error. The minimum value of the absolute total error
the values N (Negative), FP (False Positive), FN (False Negative) curve and corresponding Manning’s roughness value (0.058)
and P (Positive) of each simulation are presented in Table 3. pointed to optimum calibration (0.7%).

A B C D E F G H I J K
Pixel E/C F/D |((C-E)/C)| |((D-F)/D)| I+J
Calculated Absolute
and observed Calculated water calcu- Absolute land
Roughness observed observed calculated calculated water ratio and observed lation error calculation Total Absolu-
Simulation average water land water land (%) land ratio (%) (% ) error (% ) te Error
1 0.0127 80343 595018 43.31% 121.47% 56.69% 21.47% 78.15%
2 0.0238 130507 544854 70.36% 111.23% 29.64% 11.23% 40.87%
3 0.0258 135542 539819 73.07% 110.20% 26.93% 10.20% 37.13%
4 0.0269 138548 536813 74.69% 109.58% 25.31% 9.58% 34.89%
5 0.0277 185497 489864 140489 534872 75.74% 109.19% 24.26% 9.19% 33.45%
6 0.0370 160156 515205 86.34% 105.17% 13.66% 5.17% 18.83%
7 0.0552 183515 491846 98.93% 100.40% 1.07% 0.40% 1.47%
8 0.0710 196210 479151 105.78% 97.81% 5.78% 2.19% 7.96%
9 0.0837 203709 471652 109.82% 96.28% 9.82% 3.72% 13.54%

TABLE 3 - Results of the comparison of the calculated and observed spots


REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 33
CALIBRATION METHOD FOR 1D HYDRAULIC MODELS USING HIGH DENSITY SATELLITE OBSERVED DATA

FIGURE 5 - Curves of the ratios between the calculation and the


observation and curve of the Total Absolute Error.

4.3 COMPARISON BETWEEN TRADITIONAL AND


ALTERNATIVE CALIBRATION RESULTS

The comparison of the results of the two calibration


procedures implies larger total absolute errors. The result of
the model calibrated by the alternative method showed good
adherence at the traditional calibration point and the lowest
Total Absolute Error.
Figure 6 (a) shows the comparison of the alternative
calibration and the traditional one in the calibration point, with
good adherence to the observed water level data, and Figure
7 (b) shows that the result of the alternative calibration at the FIGURE 6 – (a) Result of the model calibrated for the Image observed
minimum point of the Total Absolute Error curve (0.57%), while in the ruler of the Trail channel of the Chavantes HUP and (b) for the
the result of the traditional calibration presented a total absolute Image observed in the downstream section of the Ourinhos HUP
error of 33.45 %.
When the comparison is performed between the corrected
calculated flooded pixels and the total observed flooded pixels, flooded pixels divided by the total observed flooded ones shows
that is, "positive" pixels divided by the total flooded pixels, the that the model calibrated by the alternative method misses 21.84%
alternative calibration method presented a much better result percentage points less than the conventional method. Figure 7
than the conventional method. shows the performance of the model calibrated by the conventional
The relationship between the false positive and the observed and alternative methods referring to the "positive" and "false
flooded pixels, which can be interpreted as all wrongly calculated positive" pixels in relation to the total flooded pixels observed.

FIGURE 7 – Positive and false


pixels positive relative to total
observed water

34 WWW.CBDB.ORG.BR
5. CONCLUSION 6. ACKNOWLEDGMENTS
Mapping flooded areas through a hydraulic model is a This study was partially financed by CAPES - Finance Code
fundamental tool to analyze risk and vulnerability of territory 88887.123933/2015-00 – CAPES/ANA edict – MOMA Project.
due to several hazards as dambreaks and severe natural We also like to thank EMPLASA, CTG Brasil and FCTH – Fundação
events. It involves the use of adequate DTM models and Centro Tecnológico de Hidráulica.
observed data as well as he representation of cross sections
and correctly positioned obstacles to water flow. Calibration is a
mandatory step to assure reliability of the results to prevent the
underestimation of flooded areas and false impacts that affects
7. KEYWORDS
planning and execution of emergence actions. The search for
Dam safety, calibration of hydraulic models, high density of
methods to improve model quality results has been an important
observed data, satellite images, LIDAR
issue in the last decade due to increasing demand of products to
help mitigation of natural and man caused disasters. Emerging
sources of spatial high-density information and GIS tools to
manipulate data allow modelers to evaluate and enhance the 8. BIBLIOGRAPHIC REFERENCES
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CALIBRATION METHOD FOR 1D HYDRAULIC MODELS USING HIGH DENSITY SATELLITE OBSERVED DATA

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Version 5.0 User's Manual," Davis, CA: United States Army Corps of Engineers. professor in the Department of Hydraulic and Environmental
[23] CASTRO, M. M.C., MARTINS, J. R. S., JACOBSEM, F. R. D. S., da SILVA, T. Engineering of the Polytechnic School of USP, where he
works in undergraduate and graduate courses in civil
engineering, environmental engineering and architecture. He
is a researcher in the lines of Hydrodynamic Modeling, Urban
Drainage and Dam Safety with a focus on three-dimensional
hydrodynamic modeling and water quality of lakes and
reservoirs, sustainable management of urban drainage, flood
risk mapping and dam impact assessment.

36 WWW.CBDB.ORG.BR
BARRAGENS DE FACE DE CONCRETO E DE NÚCLEO ASFÁLTICO

HIDRELÉTRICA DE CHAGLLA:
CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DO
SISTEMA JEENE OMEGA E
Jorge GABRIELLI | CEO – Jeene Juntas

RESUMO ABSTRACT

Para suprir a necessidade de atender, com margem de segurança, as To meet the need to resolve, with a safety margin, the large
grandes movimentações e altas pressões hidrostáticas em Chaglla, foi movements and high hydrostatic pressures in Chaglla, the Jeene
criado o Sistema Jeene Omega E. Para aprovar o produto final, foram Omega E System was created. To approve the final product, several
realizados diversos ensaios com a utilização de dispositivos especiais. tests were carried out using special devices. The test pressure
A pressão de teste estabelecida pelo projeto foi superada e atingiu established by the project was exceeded and reached 33.0 MPa
33,0 MPa e abertura de 300 mm. O selante JJ280100E de elastômero and opening of 300 mm. EPDM elastomer JJ280100E sealant was
EPDM foi aplicado sobre tecido de aramida, fixado por parafusos em applied on aramid fabric, fixed by screws on steel plates. Nylon
chapas de aço. Tarugos de nylon travam o tecido para limitar o seu dowels lock the fabric to limit its elongation, distribute efforts and
alongamento, distribuir os esforços e aliviar as tensões. O Sistema relieve tension. The Jeene Omega E System, tested on multiple
Jeene Omega E, testado em múltiplos dispositivos de ensaios, foi test devices, was approved for the project by the international
aprovado para o projeto pelo conselho de consultores internacionais advisory board and the customer. Presented for the first time
e pelo cliente. Apresentado pela primeira vez no Hydropower 2013 – at Hydropower 2013 – CHINCOLD 2013 Annual Meeting & the
CHINCOLD 2013 Annual Meeting & the 3rd International Symposium 3rd International Symposium on Rockifill Dams, the System was
on Rockifill Dams, o Sistema foi patenteado e aplicado pela Jeene patented and applied by Jeene Juntas in an extension of 3,850
Juntas em uma extensão de 3.850 metros em 120 dias. meters in 120 days.
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 37
HIDRELÉTRICA DE CHAGLLA: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DO SISTEMA JEENE OMEGA E

1. INTRODUÇÃO 1.1 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL E PROCEDIMENTOS

A usina hidrelétrica Chaglla (Figura 1), construída na Amazônia Dos vários elastômeros sintéticos disponíveis, o EPDM
peruana, exigia selantes especiais para suportar a alta pressão foi eleito por suas excelentes características físico-químicas
hidrostática e grandes movimentações. Barragem de Enrocamento resistentes a ozônio, infravermelho, ultravioleta, variação de
com Face de Concreto (CFRD), com volume de 8,5 milhões de m3 temperatura e total impermeabilidade.
de enrocamento e 213 m de altura, equivalente a 20 MPa, está Em laboratório, diversas formulações foram desenvolvidas para
localizada em um vale com ombreiras estreitas e íngremes e é a atender às especificações definidas em projeto, no que se referia
segunda maior CFRD do mundo. O projeto previa uma abertura de a dureza Shore A, resistência à tração, módulo de alongamento,
260 mm na junta perimetral e nas juntas de tração. resistência química, boa recuperação à deformação permanente,
CFRDs requerem juntas de vedação entre as lajes de concreto. flexibilidade, envelhecimento acelerado em ozônio e à intempérie.
Em Chaglla, as lajes laterais (tração) têm 7,5 m de largura e as Definida a formulação da massa ideal, o próximo passo foi criar
lajes centrais (compressão), 15 m de largura. o desenho geométrico para atender aos movimentos esperados.
A Jeene Juntas, com experiência na execução de diversas obras Uma vez definida a geometria e o tamanho do selante, uma
semelhantes, aceitou o desafio e, após vários estudos e ensaios, matriz foi desenhada e fabricada com os reforços necessários
criou um selante especial - o Sistema Jeene Omega E. Este artigo para a extrusão da volumosa massa de EPDM. Aprovada a
detalhará o planejamento, o projeto, a execução das matrizes e os amostra, em laboratório, o selante foi extrusado com 80 m de
moldes, os ensaios e a execução da obra (Figura 2 e 3), em 2014. comprimento e vulcanizado em forno contínuo com temperatura
Desenvolvido para suportar, em ensaios, a pressão hidrostática entre 180 e 200ºC.
de 30 MPa e abertura de 330 mm, exigiu projetos paralelos para
criar dispositivos especiais que permitissem testar e comprovar a 1.2. INVESTIGAÇÕES ANALÍTICAS E PROCEDIMENTOS
eficiência do novo selante.
Estudos em 3D foram realizados para calcular as deformações Três dispositivos de ensaios foram projetados e construídos para
sob o efeito das cargas hidrostáticas sobre o Sistema. Foi provar a eficiência do produto, e estão detalhados nos itens a seguir.
desenhado um perfil com abas de 10 cm de largura e quatro
bulbos, fabricado com elastômero EPDM (Etileno Propileno 1.2.1 TESTE A SECO PARA AVALIAR A RESISTÊNCIA FÍSICA
Dieno Monômero) com reforço de tecido de aramida. O conjunto DOS PRODUTOS (FIGURA 5).
foi fixado no concreto do dispositivo de ensaios, com placas de
aço e chumbadores galvanizados. Entre dois corpos de concreto distanciados a 300 mm,
Vários testes foram realizados e os resultados atenderam e simulando a abertura máxima da junta, foi instalado o Sistema
comprovaram a resistência do Sistema nas aberturas máximas de Jeene Omega E. Um tubo de aço cilíndrico de 280 mm de
300 mm e na pressão hidrostática de 30 MPa, como determinado diâmetro foi colocado sobre o selante que recebeu a pressão por
pelo projeto. meio de um macaco hidráulico.
O selante Jeene Omega - JJ280100E (Figura 4) possui grandes Verificou-se, em todas as tentativas, que o selante JJ280100E
dimensões (600 mm quando aberto). Exigiu a criação de formas se expandiu em proporção direta à carga de pressão e, no final
e moldes metálicos especiais para fabricá-lo em forma de V - do módulo de alongamento, rompeu-se.
para as curvas das juntas verticais - e em T - para as conexões da Depois de várias tentativas em limitar a expansão, o sucesso
junta perimetral e verticais. foi alcançado com o uso de tecido duplo de aramida, instalado
Para evitar o atrito entre as lajes de concreto nas juntas sob o selante, usando um módulo de alongamento de até 6% e
verticais de compressão, foram instaladas placas esponjosas de resistência mínima de 5 MPa.
EPDM - JP100, desenvolvidas e fornecidas pela Jeene-TecBor.
Para proteger o selante de danos provocados por detritos, 1.2.2 TESTES HIDROSTÁTICO E ESTÁTICO PARA AVALIAR A
madeira e outros, a Jeene-TecBor desenvolveu uma base de RESISTÊNCIA FÍSICA DOS PRODUTOS E A ESTANQUEIDADE
mastique em EPDM cru, que permanece elástica em altas e DO SISTEMA (FIGURA 6)
baixas temperaturas, o JE 210. Todo este conjunto foi coberto
com uma manta de EPDM, fixada com placas de aço e parafusos Foi construída uma caixa metálica e hermética com dimensões
galvanizados. de 1660 mm x 600 mm x 400 mm, com um vão de 1200 mm x 300 mm,

38 WWW.CBDB.ORG.BR
na parte inferior da caixa. Nesta abertura foi instalado e fixado o Os selantes JJ 280100E foram enrolados em carretéis de
Sistema Jeene Omega E com barras de aço e parafusos galvanizados madeira de grande diâmetro e, com o auxílio de guinchos,
a cada 200 mm. Nas bordas laterais, a aramida foi sustentada por foram baixados da crista da barragem em direção ao plinto.
tarugos de nylon, para distribuir as cargas de tração uniformemente Construíram-se carrinhos móveis para manusear e distribuir os
e evitar o rompimento do tecido. componentes do Sistema Jeene Omega E nas juntas.
A tampa da caixa, em aço reforçado, foi fixada com parafusos. As peças em T e V foram coladas aos perfis. Instalou-se
Sobre ela foi instalado um condutor para permitir a entrada da as mantas de aramidas e, em seguida, o perfil JJ 280100 E. As
água no interior da caixa e, em outro cano da mesma dimensão, chapas de aço sobrepuseram o conjunto e, em cada parafuso,
foi acoplado um manômetro para medir e controlar a pressão. foram instaladas arruelas de pressão e porcas de travamento,
Foram realizados diversos ensaios que certificaram a eficiência finalizando a aplicação do Sistema Jeene Omega E.
do Sistema. Com o mastique à base de EPDM cru JE 210, após testado à
temperatura de 80°C e inclinação de 45°, sem escorrer, foram
1.2.3 TESTE HIDROSTÁTICO, COM MOVIMENTOS, PARA formadas placas de 1000 mm de comprimento x 50 mm de
AVALIAR A RESISTÊNCIA FÍSICA DOS PRODUTOS E A espessura e variadas larguras que foram instaladas sobre o
ESTANQUEIDADE DO SISTEMA (FIGURA 7) selante Omega E. Todo este conjunto foi protegido com manta de
EPDM fixadas com barras de aço e parafusos galvanizados. Essa
Construiu-se, então, uma robusta estrutura de aço para suportar capa protegia o selante e criava uma primeira barreira de impacto
as cargas, a alta pressão hidrostática, os movimentos de tração, o contra a água e quaisquer materiais por ela transportados.
recalque diferencial e o cisalhamento. Sob a chapa inferior foram Nas juntas de compressão, placas esponjosas de EPDM JP100
instalados roletes de aço de 25 mm de diâmetro, que, empurrada foram instaladas para evitar atrito entre as lajes de concreto. O
por um macaco hidráulico, realizava os deslocamentos. material utilizado foi previamente testado em laboratório com carga
Um tubo de aço cilíndrico e concêntrico, com 10 mm de de 10 MPa e deformação de 50 % da largura nominal (desenho).
espessura e 700 mm de diâmetro, foi fixado na chapa inferior.
Outro tubo, do mesmo diâmetro, foi fixado na chapa superior 1.4. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
e na mesma direção do inferior. Entre eles, foi deixada uma
abertura de 300 mm. O Sistema Jeene Omega E foi instalado e Durante o desenvolvimento e estudo do Sistema Jeene Omega
cobriu a abertura em todo o perímetro. E, seus limites eram desconhecidos, mas acreditava-se que
Na lateral do tubo inferior, foram instalados um manômetro poderia resistir além dos valores impingidos pelas normas dos
e um condutor para medir a entrada da água e da pressão. Ao ensaios: abertura de 260 mm e 25,0 MPa de pressão hidrostática.
atingir 10 MPa com o macaco hidráulico, foi deslocado o tubo Os resultados foram surpreendentes, pois superaram as
inferior instalado sobre a chapa de aço sobre os roletes. especificações com testes de até 300 mm de abertura e 33,0
Além da abertura de 300 mm, foram realizados deslocamentos MPa de pressão.
de 100 mm no sentido Norte-Sul, ocasionando recalque
diferencial, e no sentido Leste-Oeste, cisalhamento.

1.3. APLICAÇÃO DO SISTEMA JEENE OMEGA E EM CHAGLLA


(FIGURA 8)

Nas lajes da barragem, chumbadores foram previamente


instalados a cada 200 mm em ambos os lados das juntas. As
chapas de aço foram perfuradas com gabaritos e distribuídas ao
longo das juntas a cada 200 mm. Uma bancada de madeira com
50 m de comprimento foi construída para a preparação do Sistema
Jeene Omega E. Na base da bancada foram criadas aberturas para
montar o conjunto e perfurar as abas do tecido de aramida e
do selante EPDM JJ 280100 E - com gabaritos idênticos aos que
direcionaram os parafusos instalados no concreto da barragem. Figura 1 – Usina hidrelétrica Chaglla
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 39
HIDRELÉTRICA DE CHAGLLA: CRIAÇÃO E APLICAÇÃO DO SISTEMA JEENE OMEGA E

Figura 6 – Testes hidrostático e estático para avaliar a resistência


Figura 2 – Execução da obra física dos produtos e a estanqueidade do sistema

Figura 3 – Execução da obra

Figura 4 –
Selante Jeene
Omega -
JJ280100E
Figura 7 – Teste hidrostático com movimentos para avaliar a re-
sistência física dos produtos e a estanqueidade do sistema

Figura 5 – Teste a seco para avaliar a resistência Figura 8 – Aplicação do Sistema Jeene Omega E
física dos produtos

40 WWW.CBDB.ORG.BR
2. CONCLUSÕES 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A engenharia brasileira, mais uma vez, comprovou a sua JEENE JUNTAS - Sistema TB para CFRD desenvolvimento e ensaios 1989 a 1999.
capacidade criativa para casos inéditos e desafiadores nas MORI R.T. – Segundo Simpósio de CFRD 1999.

diversas áreas de obras complexas. Foi a única que apresentou SOBRINHO J.A., SARDINHA A.E. e FERNANDES, A.M. – Barragem de Ita, desenho
e construção 1999.
uma solução técnica e econômica viável para Chaglla.
COOKE, J.B. – 3º Simpósio de CFRD, procedimentos 2007.
Colocada em operação há nove anos, Chaglla passou por
COOKE, J.B., Mori, R. T., SOBRINHO, J. A., DIJKSTRA, H., GUOCHENG, JIANG e
diversas vistorias realizadas por robôs, que constataram a
BORGATTI, I. – CFRDs 2000.
perfeita vedação das juntas tratadas com o Sistema Jeene. CRUZ, P.T., FREITAS, M.S. e MATERON, B. “Barragens de Enrocamento com Face
de Concreto”, 2009.
JEENE JUNTAS, Portfólio de produtos 2002 – 2014.

3. AGRADECIMENTOS CALCINA, A. M., BORGATTI, L. e MATERON, B. – “The Chaglla Dam – compression


joint dimensioning and deformation behaviors” 2017.

Agradecemos, sobremaneira, a Empresa de Generación


Huallaga (EGH) pela confiança em acreditar no ineditismo e na
criatividade da Jeene Juntas para criar e desenvolver a Solução Jorge GABRIELLI
JEENE para Chaggla, tão importante e complexa obra. Bacharel em Direito e Ciências Sociais, Pós-graduado em
Administração e Marketing e inventor. Desenvolveu e obteve
diversas patentes de selantes para juntas de dilatação e
vedação. Fundador da Jeene, em 1975, palestrou no Brasil e
4. PALAVRAS-CHAVE em diversos países sobre soluções inovadoras para projetos
complexos de Engenharia.
Chaglla, CRFD, Amazônia peruana, Jeene, Junta Elástica
Expansível Nucleada Estrutural, JJ280100 E, selante, vedação,
juntas, pressões hidrostáticas, sistema Jeene

A Hibbard Inshore Brasil é uma empresa especializada em inspeções e


monitoramentos de estruturas hidráulicas totalmente ou parcialmente
submersas. Em nosso acervo de serviço prestado há Barragens, Túneis
Hidráulicos, sistemas lineares de águas e esgoto, etc.

Todas nossas inspeções são realizadas com ROV e sonar acoplado para garantir
o melhor resultado possível entregável ao cliente por meio de laudo técnico
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Um colapso em um túnel hidráulico como a figura acima, pode resultar em uma


paralisação de meses, causando prejuízos significativos em termos de receita
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SEGURANÇA DE BARRAGENS

COMO ANÁLISES
HIDROQUÍMICAS E FÍSICO-
QUÍMICAS PODEM AUXILIAR
NO MONITORAMENTO DE
SEGURANÇA DE BARRAGENS?
Rafael Kenji TERADA | Consultor – USP
Mariza Fernanda da SILVA | Assessora Técnica – Sabesp
Michele Bispo de JESUS | Engenheira – Sabesp
Tatiana Akemi SAKAGAMI | Técnica de Nível Superior – FCTH
Maria Fernanda Garrubo BENTUBO | Técnica de Nível Superior – FCTH
Rosemeire Alves LAGANARO | Gerente – Sabesp
Carla Aparecida Souza di LIBERATO | Gerente – Sabesp

RESUMO ABSTRACT

O monitoramento hidroquímico das águas superficiais, de poços Hydrochemical monitoring of surface water, monitoring wells
de monitoramento e de drenos é uma importante ferramenta para and drains is an important tool to assist in the risk assessment
auxiliar na avaliação de risco de barragens de água. Autores têm of water dams. Authors have used this technique to assess the
utilizado essa técnica para entender o ambiente hidrogeoquímico no hydrogeochemical interaction environment, in order to build
qual a estrutura está inserida e, com isso, planejar ações preventivas preventive actions to manage possible future anomalies in the
para gerenciar possíveis futuras anomalias. Foram comparadas as dam´s system. The hydrochemical signatures of percolated water
assinaturas hidroquímicas da água percolada em uma barragem de in a concrete dam and another in a compacted landfill dam were
concreto e outra de aterro compactado, ambas de reservatórios de compared, both from multiple-use reservoirs in the State of São
usos múltiplos, do estado de São Paulo. Foram analisadas amostras de Paulo. Water samples from drains, flow meters and the depth
água de drenos, de medidores de vazão e do perfil em profundidade profile of the reservoirs were analyzed. Results showed that the
dos reservatórios. Resultados mostraram que as assinaturas das reservoir water signatures have low electrical conductivity and
águas do reservatório apresentam baixa condutividade elétrica e gain ions during infiltration.
ganham íons durante as infiltrações.

42 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO 2. MÉTODO
No contexto da segurança de barragens, alterações Duas barragens operacionais, sendo uma de aterro compactado
significativas da vazão da água percolada, presença de e outra de concreto, localizadas no estado de São Paulo, foram
partículas de sólidos em suspensão, anomalias nas medições consideradas para a construção do modelo conceitual geoquímico,
de turbidez, sólidos dissolvidos e potencial de corrosão podem utilizando dados do sistema de fluxo da água e monitoramento
ser indicativos de um processo de erosão interna em curso [1]. hidroquímico sazonal da água do reservatório e do percolado.
Intitulada pelo U.S. Bureau of Reclamation, a química da Também foram considerados dados construtivos, geológicos
água percolada de barragens tem sido utilizada para estudar e históricos de análises químicas de estudos anteriores. Os
o fenômeno da dissolução mineral desde 1951, quando se parâmetros químicos Cl-, PO43-, SO42+, SO3-, S2- foram analisados por
identificou uma surgência a jusante imediatamente após o cromatografia iônica; Ca2+, Mg2+, Mn2+, K+, Na+ , por espectrometria
enchimento do reservatório Horsetooth Dam, em Fort Collins, de emissão atômica por plasma acoplado indutivamente; CO32-
Colorado [1]. Casos históricos de erosão interna, como Teton e HCO3-, por titulação; e os físico-químicos pH, temperatura,
(1976) e Fontenelle (1965), que culminaram com a ruptura de sólidos dissolvidos totais (SDT), turbidez, oxigênio dissolvido
barragens, evidenciam a importância de análises químicas das (OD), condutividade elétrica (CE) e potencial redox (ORP) foram
águas do reservatório e da água percolada, em especial, na determinados em campo com a sonda multiparâmetro Acqua
determinação da extensão e da natureza da dissolução mineral, Troll 500, da marca Insitu. As concentrações foram transformadas
quando a infiltração for um fenômeno local relevante [1, 2]. em meq/L e utilizadas para cálculo do balanço iônico, cujos erros
Em obras como barragens, que se mantêm sob influência aceitáveis ficam abaixo de 10%, mas, em casos específicos, podem
da água durante toda sua vida útil, o monitoramento mostra- variar em função da faixa de condutividade elétrica (Tabela 1).
se extremamente necessário para detectar alterações na
estrutura. Após 40 anos de contínuo contato do concreto Condutividade
50 200 500 2000 > 2000
com água doce, Neumann Junior et al. (2021), entre outras elétrica (µS/cm)
metodologias, usaram dados de monitoramento químico e Erro permitido (%) 30 10 8 4 <4
físico-químico das águas do percolado e de águas superficiais
Tabela 1 – Faixa de aceitação do balanço iônico [5]
e subterrâneas para demonstrar que a hidrelétrica de Itaipu
Binacional possui alterações químicas e mineralógicas em
Os pontos selecionados para a amostragem estão relacionados
algumas regiões da estrutura [3].
na Tabela 2.
Portanto, para entender a dinâmica da percolação da água
Os diagramas de Piper são amplamente utilizados em estudos
no barramento, é necessário estudar os processos químicos
hidrogeoquímicos, desde sua publicação, em 1944, por Arthur M.
e hidráulicos envolvidos, distinguindo-se as causas e o grau
Piper, com o objetivo de avaliar dados analíticos de águas em relação
dos eventos em ação [1]. Esse tipo de estudo, somado aos
aos constituintes dissolvidos e as mudanças nas características
procedimentos de segurança de barragens já consagrados,
da composição das águas após percolação e caminhamento em
constitui uma importante ferramenta ao empreendedor,
diferentes ambientes geoquímicos. Estes diagramas apresentam
permitindo-lhe antecipar e/ou minimizar riscos à barragem,
a combinação de triângulos que representam as proporções de
atuando de forma mais ágil e reduzindo custos de manutenção
cátions e ânions principais presentes nas águas e assim permitem
[4]. Com base em casos históricos de ruptura de barragens, fica
sua classificação e interpretações sobre origens, misturas e
evidente que o estudo desses processos não apenas permite
reações [6]. O software Acquachem foi utilizado para a construção
antecipar e mitigar riscos, mas também contribui para a
do diagrama tipo Piper.
redução de custos de manutenção.
Assim, esse artigo apresenta considerações sobre a
avaliação de parâmetros químicos e físico-químicos das águas
que interagem em barragens com estruturas construtivas 3. RESULTADOS
diferentes, e sua interpretação hidrogeoquímica, no contexto
Das 37 amostras de água da barragem de aterro compactado,
das reações e possíveis eventos em curso nas barragens, sob a
17 apresentaram erro superior a 10% do nível de aceitação,
ótica da segurança.
segundo a análise de balanço iônico. No entanto, foi possível

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 43


COMO ANÁLISES HIDROQUÍMICAS E FÍSICO-QUÍMICAS PODEM AUXILIAR NO MONITORAMENTO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS?

Tipo de barragem Localização Identificação do ponto Parâmetros Data


DR-42; DR-46; DR-111;
DR-112; DR-122; DR-123;
Drenos da galeria do DR-130; DR-132; DR-134; Período seco (2021) e
Químicos e físico-químicos
barramento DR-135; DR-136; DR-137; DR- chuvoso (2019, 2021 e 2022)
140; DR-148; DR-150; Dreno
de teto
Concreto Surgência no piso da galeria Período seco (2021) e
Surgência Químicos e físico-químicos
de drenagem chuvoso (2019, 2021 e 2022)
Período seco (2021) e
Superficial e fundo Químicos e físico-químicos
chuvoso (2019, 2021 e 2022)
Reservatório - próximo ao
Perfil em sonda
barramento
multiparamétrica com intervalo Físico-químicos 28/10/2022
a cada 1 m até o fundo.
Período seco (2020, 2021) e
Medidores de vazão MV-1 e MV-2 Químicos e físico-químicos
chuvoso (2020, 2021 e 2022)
Período seco (2020, 2021) e
Drenos DR1, DR2 e DR3 Químicos e físico-químicos
chuvoso (2020, 2021 e 2022)
Período seco (2020, 2021) e
Poços Poço de alívio Químicos e físico-químicos
Aterro compactado chuvoso (2020, 2021 e 2022)
Período seco (2020, 2021) e
Superficial e fundo Químicos e físico-químicos
chuvoso (2020, 2021 e 2022)
Reservatório - próximo ao
Perfil em sonda
barramento Mensal desde 10/2021
multiparamétrica com intervalo Físico-químicos
Gráficos: 23/02/2023
a cada 1 m até o fundo.

Tabela 2 – Pontos de amostragem nas barragens de concreto e de aterro compactado

identificar que o balanço iônico não se adequa por excesso de efeito da baixa condutividade elétrica que induziria a maiores erros
ânions. Assim, é possível que exista algum(ns) cátion(s) que não em cálculos de balanço iônico, conforme demonstrado na Tabela 1.
está(ão) sendo analisado(s) e que poderia(m) completar o balanço A Figura 1 apresenta o diagrama de Piper para as amostras da
com a adição de cargas positivas, ou então, este poderia ser um barragem de aterro compactado.
O diagrama do tipo Piper (Figura 1) mostrou que existem dois
tipos de águas: as bicarbonatadas sódicas potássicas (HCO₃-Na-K),
correspondentes às amostras DR-1, DR-2, superfície e fundo da
represa; e as bicarbonatadas cálcicas magnesianas (HCO₃-Ca-Mg),
correspondentes às amostras MV-1, MV-2, poço de alívio e DR-3. O
bicarbonato é o ânion dominante e o cálcio é o cátion dominante.
Ca+Mg se sobrepõe à Na+K. Assim, é possível identificar que a
água de fundo do reservatório possivelmente se aproxima mais da
composição da água subterrânea do local, indicando sua interação
por um tempo maior com a geologia do fundo, onde evolui ao longo
do tubo de fluxo de HCO₃-Na-K para HCO₃-Ca-Mg, representada
por MV-1, MV-2 e poço de alívio - seta amarela. Por outro lado, a
seta vermelha apresenta influência da chuva nas amostras DR-1 e
DR-2 ao diluir as concentrações gerais e aumentar o teor de Na e Cl,
fazendo com que essas amostras se aproximem das características
hidrogeoquímicas das águas superficiais.
No caso da barragem de concreto, das 21 amostras analisadas,
Figura 1 – Diagrama de Piper das amostras da barragem de aterro
apenas três mostraram-se dentro dos níveis de aceitação de balanço
compactado. A seta amarela indica maior interação com o ar-
cabouço geológico e a seta vermelha indica a influência da chuva iônico. Ademais, o balanço iônico não apresentou tendências,

44 WWW.CBDB.ORG.BR
sugerindo que as amostras podem estar em estado de desequilíbrio 3.1 PERFIL DE PROFUNDIDADE DO RESERVATÓRIO
químico, dado que a condutividade elétrica apresentou valores abaixo
de 10 (µS/cm). O equilíbrio elétrico é mais difícil de ser atingido em Para a barragem de aterro compactado, no geral, os parâmetros
água de baixa salinidade e o balanço pode apresentar erros acima físico-químicos (CE (µS/cm), T (°C), pH e OD (mg/L) – Figura 3, medidos
de 30%. Assim, todas as amostras foram consideradas na análise. O com a sonda multiparamétrica, durante o monitoramento mensal,
diagrama de Piper proposto é apresentado na Figura 2. apresentaram valores relativamente constantes durante o período
de cobertura dos dados, mostrando apenas alguns comportamentos
isolados. Desta forma, foram selecionados os dados de fevereiro
de 2023 para a construção de gráficos em perfil, com dados a cada
metro do reservatório, MV-1 e poço de alívio (PA).
Com relação ao perfil da condutividade elétrica, no geral, observa-
se que o parâmetro apresentou níveis baixos, na faixa de 21 µS/cm na
superfície do reservatório, com um leve aumento a partir de 8 metros
de profundidade. Já o medidor de vazão MV-1 obtém um aumento
para 47,6 µS/cm, e o poço de alívio chega a cerca de 80 µS/cm ao
final do período chuvoso. No monitoramento histórico foi observado
um aumento da condutividade do poço de alívio para cerca de 140
µS/cm. A água da superfície do reservatório apresenta série histórica
de valores entre 20 e 40 µS/cm, um pouco mais que o dobro da água
destilada, enquanto MV-1 e MV-2 apresentaram condutividade na
faixa de 45-60 µS/cm, mostrando aumento de 25 a 50%, sugerindo
Figura 2 - Diagrama de Piper das amostras da barragem de que a passagem da água pela estrutura da barragem aumenta sua
concreto. A seta amarela indica a evolução química da água mineralização, mas não de maneira significativa.
Com relação ao pH, os valores da superfície do reservatório estão
O diagrama do tipo Piper (Figura 2) mostrou que a água da represa na faixa 8 e caem a partir do quarto metro de profundidade até
tem características Na-K-Cl, tanto na sua porção superficial, quanto no atingirem o valor de pH 6 em 7 metros de profundidade e voltar a
fundo. Já as amostras do dreno apresentam predomínio de Ca-Mg- subir até 6,8. MV-1 e PA estão na faixa de pH próximo a 7, similar a
HCO3, indicando mineralização durante seu trânsito pela estrutura profundidade entre 5 e 6 metros do reservatório.
de concreto. A amostra que apresentou mudança de composição As concentrações de oxigênio dissolvido (OD) de MV-1 e PA também
mais expressiva foi o DR-112, onde a porcentagem desses íons é estão próximas da concentração encontrada na profundidade de 6
acima de 80%, sugerindo que a parte central pode ainda estar em metros do reservatório, ponto de transição da oxiclina, bem definida
transformação. A água superficial e de fundo possuem composições entre o epilímnio, com concentrações em torno de 8 mg/L de OD,
muito próximas e não é possível inferir de qual extrato está vindo a e o hipolímnio anóxico, e, consequentemente, redutor às águas
água de infiltração com essas informações atuais. em profundidade.

Figura 3 - Perfil físico-químico metro a metro do ponto na represa da barragem de terra.


Comparação com outros pontos coletados – drenos de medidores de vazão e poço de alívio

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 45


COMO ANÁLISES HIDROQUÍMICAS E FÍSICO-QUÍMICAS PODEM AUXILIAR NO MONITORAMENTO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS?

As informações fornecidas pelas análises de OD indicam possui uma uniformidade físico-química, especialmente com
também condições parciais redox do meio e, neste momento, não relação ao pH e à CE.
existem informações suficientes para entender as condições de A despeito do potencial redox, foram encontrados valores
estabilidade de substâncias e elementos disponíveis em condições maiores no fundo da represa, em comparação com a superfície,
redutoras. Assim, transformações de metais, como por exemplo apresentando uma curva de aumento, o que discorda das baixas
ferro e manganês, que estão presentes na rocha e nas estruturas concentrações de oxigênio dissolvido. Baixas temperaturas e
da barragem, são subestimadas. Alguns desses elementos são altos potenciais redox justificariam concentrações mais altas de
propícios à precipitação após solubilizados em ambiente redutor. oxigênio, mas é provável que a baixa temperatura esteja limitando o
Outro parâmetro é a temperatura, que também apresentou uma movimento de convecção das águas, provocando a estagnação das
tendência de diminuição com a profundidade, acompanhando o águas profundas e, desta maneira, processos microbiológicos estão
perfil de estratificação, porém, menos acentuado que o de OD. Ao consumindo o estoque de aceptores de elétrons, que, no caso, é
comparar com a série de temperatura do dreno MV-1 e do poço de o oxigênio dissolvido. Como foi uma medida única, esse processo
alívio, os dados mostram que a temperatura também coincide com redox pode estar em andamento e espécies oxidadas podem ainda
a profundidade entre 5 e 6 metros do reservatório, com valores de estar sendo consumidas.
24,15 °C para MV-1 e poço de alívio. Ao utilizar a temperatura como Outro aspecto muito importante observado é que as amostras
traçador de fluxo, é possível entender que a profundidade onde a água dos drenos DR-111 e DR-112 apresentam altos valores de
atinge essa temperatura é entre 5 e 6 metros, portanto, o dreno MV-1 pH, aproximadamente 10, o que indica RAA e ocorrência de
pode refletir o fluxo de água dessa profundidade do reservatório. carbonatação nestes pontos, observável visualmente por ocorrência
Na barragem de concreto, um perfil físico-químico do de precipitados nessa região da galeria.
reservatório foi traçado no ponto de coleta no reservatório (pontos
em azul), como apresentado na Figura 4, indicando que o perfil
dos parâmetros físico-químicos (temperatura, OD, pH e CE) varia 4. DISCUSSÕES
conjuntamente na mesma direção e atinge os valores maiores
próximos à interface com atmosfera, seguido de sua diminuição à 4.1 BACKGROUND GEOQUÍMICO E ANÁLISES QUÍMICAS
medida que se aproxima do fundo. Por outro lado, o potencial redox
tem comportamento inverso e aumenta com a profundidade. Os 4.1.1 BARRAGEM DE ATERRO COMPACTADO
drenos obtiveram valores consideravelmente maiores de CE e de
pH, e menores para OD e ORP, indicando a forte interação com o No geral, os parâmetros analisados se apresentam constantes
material construtivo, que é menor no caso da surgência do piso durante o período analisado. Apesar disso, no PA e no MV-1, a CE
da galeria de drenagem, indicando que, neste ponto, assim como é maior que a água do reservatório. O OD dos pontos MV-1 e PA
em alguns drenos, como DR-46, DR-148 e DR-140, a água passa apresenta diminuição no OD e no pH em relação às águas superficiais
com maior velocidade e menor interação com o maciço. Pode-se do reservatório e similaridade com as profundidades entre 5 e 6
observar que valores de superfície e profundidade ficam próximos, metros. O conjunto da Figura 3 mostra que, a partir de 8 metros de
o que sugere que a água que interage com o concreto da barragem profundidade, o oxigênio dissolvido atinge sua concentração mínima,

Figura 4 - Perfil físico-químico metro a metro do ponto na represa da barragem de concreto. Comparação com drenos e surgência

46 WWW.CBDB.ORG.BR
impondo um ambiente anóxico e, consequentemente, redutor às agente de corrosão da armadura de ferro por reagir e formar FeCl₂
águas em profundidade. que, em contato com a água, torna-se Fe(OH)2 ou Fe(OH)3 e o Cl-,
A ausência de dados de ORP pode ser parcialmente substituída por mecanismos ainda em investigação. Análises químicas da água
pelo OD, que são indicativos das condições redox do meio. No entanto, do reservatório apresentam concentrações muito baixas do íon
não é suficiente para se entender as condições de estabilidade cloreto (<2,4 mg/L), o que, em tese, limita sua disponibilidade para
de substâncias e elementos disponíveis em condições redox mais ataque. No entanto, como o cloreto é liberado logo em seguida como
agudas. Assim, transformações de metais, como, por exemplo, ferro produto da reação, ele retroalimenta a reação química, fazendo com
e manganês, que estão presentes na rocha e nas estruturas da que essa reação seja efetiva mesmo com baixas concentrações de
barragem, são subestimadas. Alguns desses elementos são propícios reagentes. Diferentemente da corrosão por carbonatação, a reação
à precipitação após solubilizados, o que pode dificultar o trânsito da com o cloreto se desenvolve de maneira pontual, e os “pits” (pontos)
água de infiltração. característicos não foram presenciados na armação exposta. A baixa
Outro parâmetro é a temperatura, que também apresentou concentração do íon sulfato (<0,7 mg/L) indica que seu ataque pode
uma tendência de diminuição com a profundidade. PA e MV-1 ter influência muito baixa nesse contexto. A queda de ORP (de ORP
apresentaram temperaturas próximas à encontrada na profundidade >200mV para <0mV), juntamente com a detecção de concentrações
de 5 a 6 metros no reservatório, podendo indicar um traçador de de íon sulfito, indica que a água redutora reside neste ambiente. O
fluxo desta profundidade para os drenos. Porém, mais dados seriam efeito de um ambiente redutor é a mudança de estados de redox
necessários para afirmar essa hipótese. O diagrama de Piper indica de íons, que podem precipitar e/ou dissolver, alterando o trânsito
a interação do percolado com o arcabouço geológico no DR-3 e em estrutural ou hidrogeológico das infiltrações laterais, gerando risco
MV-1 e MV-2, mudando as características dessas águas e aumentando para a barragem.
a concentração de íons, como demonstrado com a CE.

4.1.2 BARRAGEM DE CONCRETO 5. CONCLUSÕES

Águas de baixa CE (entre 9 e 12 µS/cm) e ácidas (pH entre 4 e 5) O perfil das assinaturas das águas do reservatório apresenta, no
atuam na lixiviação do concreto e na corrosão por carbonatação. As geral, baixa CE. Ao sair pelos drenos, aumenta após o trânsito estrutural,
diferentes classificações da qualidade de água dos drenos e dos poços mostrando que ocorre ganho de íons durante o percurso. As águas da
internos à barragem sugerem que águas com altas CE e pH próximos barragem de aterro compactado evoluíram de HCO₃-Na-K para HCO₃-Ca-
a 7 são as que interagiram mais com o concreto. Mg, enquanto as do concreto, de Cl-Na-K, para HCO₃-Ca-Mg. A barragem
Amostras de algumas drenagens apresentam incremento de de concreto apresenta indícios característicos de carbonatação, mas
íons de cálcio e bicarbonato, e o meio torna-se bastante redutor e alguns drenos também apresentam características muito próximas das
básico na comparação com a água da represa. Esse cenário pode águas do reservatório, sugerindo existências de caminhos preferenciais
ser interpretado como o processo de neutralização dos álcalis do com fluxo rápido, o que diminui a interação da água com o concreto. Já
concreto acontecendo antes da carbonatação total. Esse caso pode na barragem de terra, a qualidade da água reflete homogeneamente a
ser um indicativo de que é necessária uma avaliação mais detalhada interação da água com o material construtivo, uma vez que ela percola
dessa região da barragem, com ensaio in situ ou retirada de um corpo lentamente pelos poros do material.
de prova para aplicação de um indicador ácido-base para identificar o Portanto, as assinaturas hidroquímicas das amostras dos dois tipos
avanço da frente de carbonatação. de barragens retratam as dinâmicas características das transformações
Por outro lado, a detecção de pHs abaixo de 7 nas amostras de químicas ocorridas durante seu trânsito estrutural. Isso revela a
alguns drenos sugere que a carbonatação já está bastante avançada importância de um plano de monitoramento hidrogeoquímico
nessa parte da barragem e o próximo passo, após uma contínua com rotinas de longo prazo, contemplando águas das barragens,
exposição do concreto à água ácida, é a dissolução do calcário e o uma vez que traz informações mais refinadas sobre o background
desenvolvimento de caminhos preferenciais. Nesse caso, observam- e os processos geoquímicos resultantes do contato prolongado do
se águas com assinaturas hidroquímicas próximas da água da represa, material construtivo da barragem com as águas de baixa salinidade do
indicando que a água infiltrada teve pouca interação com o material reservatório. Após conhecimento dos processos, o acompanhamento
construtivo, sugerindo caminhos preferenciais que provocam um físico-químico rotineiro é eficiente para traçar possíveis modificações
trânsito estrutural rápido. no sistema. Adicionalmente, os baixos níveis de condutividade elétrica
Com relação ao íon cloreto, ele é comumente mencionado como e concentrações dos elementos analisados mostram a necessidade

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 47


COMO ANÁLISES HIDROQUÍMICAS E FÍSICO-QUÍMICAS PODEM AUXILIAR NO MONITORAMENTO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS?

de adotar análises de rotina com níveis de detecção baixos. Com o


avanço desses estudos, espera-se ser possível a elaboração de normas Rafael TERADA
Mestre e Doutor em Hidrogeologia pela USP e Químico pelo IQ-USP,
e recomendações específicas para este tipo de monitoramento,
com Doutorado Sanduíche pela Universidade de Calgary (Canadá).
uma vez que não existem normas vigentes no Brasil que abranjam o Tem experiência nos temas hidrogeologia, hidrogeoquímica e
monitoramento hidroquímico de diversos tipos de barragens. isótopos estáveis. ID Lattes: 6375880689793423

Mariza SILVA
Mestre em Geociências e Licenciada em Geociências e Educação
6. AGRADECIMENTOS Ambiental pela USP. Atua como técnica em saneamento na
Superintendência de Produção de Água Metropolitana (Sabesp).
Agradecemos: Emerson Martins Moreira; Alexandre dos Santos Possui experiência em gestão de recursos hídricos, isótopos e
qualidade da água. Atuou em gestão de áreas contaminadas e
Bueno; Fabiana Roma; Josiane Romagnoli; Valesca Rodrigues;
ensino de geociências. ID Lattes: 3433264554775189
Ronaldo Graciliano; Ayrton Teixeira; Hudson Vieira; Isabella
Michele Bispo de JESUS
Membrine; líderes e colegas da Sabesp; e Dr. José Rodolfo Scarati
Mestre em Engenharia Hidráulica e Ambiental pelo PPGEC
Martins, no apoio dado à condução deste trabalho. da Politécnica da USP e Especialista em Gestão e Tecnologias
Ambientais pelo PecePoli da USP. Atua como Engenheira no
Núcleo de Gestão de Segurança de Barragens da Sabesp. Possui
7. PALAVRAS-CHAVE experiência em gestão de segurança de barragens, análise de
riscos e atendimento legal. Também atuou em recursos hídricos
e gestão de resíduos sólidos. ID Lattes: 8951962452093638
Barragens, ensaios físico-químicos, monitoramento hidrogeológico
Tatiana Akemi SAKAGAMI
Engenheira ambiental pela UNESP Rio Claro e Pós-graduada
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS em Gestão Ambiental pela Universidade Estadual de Ponta
Grossa. Hoje, é técnica da Fundação Centro Tecnológico de
Hidráulica (FCTH), a serviço da Sabesp, atuando na área de
[1] USBR (2005) - “Seepage Chemistry Manual”, U. S. Department of the Interior,
segurança de barragens, especialmente, no que diz respeito
Bureau of Reclamation, Technical Service Center, Denver, Colorado; aos planos de segurança.
[2] FEMA (2015) - “Evaluation and Monitoring of Seepage and Internal Erosion”,
Interagency Committee on Dam Safety (ICODS), Federal Emergency Management Agency; Maria Fernanda Garrubo BENTUBO
[3] NEUMANN JUNIOR, C.; FARIA, E. F.; DOS SANTOS, A. C. P. (2021) - “Concrete Tecnóloga em Hidráulica e Saneamento Ambiental pela Fatec-SP,
leaching of a hydroelectric powerhouse due to 40 years of exposure to river water”, Engenheira Civil pela Universidade São Judas Tadeu e Pós-graduada
Construction and Building Materials 302 (2021) 124253, https://doi.org/10.1016/j. em Gestão Ambiental pelo Senac. Hoje, é técnica da FCTH, a
serviço da Sabesp, atuando na área de Segurança de Barragens,
conbuildmat.2021.124253;
especialmente no que diz respeito aos planos de segurança.
[4] DE JESUS, M. B. (2021) – “Aspectos de gestão frente à Política Nacional de Segurança
de Barragens”, Dissertação de Mestrado, Pós-Graduação em Engenharia Civil, USP, São Rosemeire Alves LAGANARO
Paulo; Mestre em Saneamento pela Poli USP, Bacharel em Química
[5] CUSTODIO, E.; LLAMAS, M. R. (1983) - “Hidrologia subterranea”, Ômega, v. 2, pela Universidade Mackenzie e MBA em Gestão de Projetos
Barcelona; pela FGV. Possui 30 anos de experiência em qualidade da
[6] HOUNSLOW, A. W. (1995) - “Water quality data: analysis and interpretation”, livro água, destinada ao abastecimento público na Sabesp, com
Especialização em gosto e odor. Atualmente, é gerente da
editado pela CRC Press, 1ª edição, Boca Raton.
Divisão de Recursos Hídricos Sudoeste na Sabesp.

Carla Aparecida Souza di LIBERATO


Engenheira Civil, Tecnóloga em Obras Hidráulicas, Especialista
em Segurança de Barragens pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, Especialista em Gestão de Projetos pela USP.
Atualmente, é Gerente de Divisão de Recursos Hídricos Leste
na Companhia de Saneamento Básico do estado de São Paulo.

48 WWW.CBDB.ORG.BR
BARRAGENS DE REJEITO

AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE
À LIQUEFAÇÃO E DEFINIÇÃO DO
PARÂMETRO NÃO DRENADO
DE UM REJEITO COM BASE EM
ENSAIO CPTU
Isabela QUEIROZ | Engenheira Civil
Bruna TORRES | Engenheira Civil

RESUMO ABSTRACT

O fenômeno de liquefação ocorre quando um aumento repentino The phenomenon of liquefaction occurs when a sudden increase
de poropressões é capaz de anular as tensões efetivas do material, in poropressures is able to nullify the effective stresses of the
fazendo-o perder totalmente a sua estrutura. O fluxo por liquefação material, causing it to completely lose its structure. Liquefaction
pode ser desencadeado tanto por gatilhos estáticos quanto dinâmicos flow can be triggered by both static and dynamic triggers.
e a suscetibilidade de um material granular à ocorrência do mesmo The susceptibility of a granular material to liquefaction can be
pode ser avaliada por meio de propriedades de estado, definidas evaluated by means of state properties, defined through triaxial
através de ensaios triaxiais. Entretanto, nem sempre é possível realizar tests. However, it is not always possible to collect undisturbed
a coleta de amostras indeformadas. Neste contexto, este trabalho samples. This work aims to evaluate the behavior of mining
objetiva avaliar o comportamento dos rejeitos de mineração quanto tailings regarding susceptibility to liquefaction and thus define
à suscetibilidade à liquefação e, assim, definir o respectivo parâmetro the respective undrained parameter through results of a
não drenado por meio do resultado de um CPTu hipotético. hypothetical CPTu field test.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 49


AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO E DEFINIÇÃO DO PARÂMETRO NÃO DRENADO DE UM REJEITO COM BASE EM ENSAIO CPTU

1. INTRODUÇÃO são utilizados parâmetros normalizados do CPT (resistência de ponta


normalizada pelo expoente n, Qtn, e atrito lateral normalizado, Fr),
A liquefação é o processo de perda de resistência com a conforme apresentado nas equações a seguir.
deformação, apresentado por solos sem coesão, contráteis e
saturados, durante o cisalhamento não drenado. Este mecanismo
[ Equação 1 ]
é provocado pela tendência do solo em se deformar durante o
cisalhamento, o que provoca variação das poropressões durante
[ Equação 2 ]
um carregamento não drenado.
O material que apresenta comportamento contrátil é aquele
que diminui de volume durante o cisalhamento. Pode-se associar [ Equação 3 ]

o material contrátil com uma areia fofa e saturada, quando


submetida a um carregamento que resulta em redução do índice Além disso, deve-se definir também o índice de comportamento
de vazios e, consequentemente, ao aumento da poropressão. A do material (Ic), que determina o comportamento típico do
liquefação é acionada quando a poropressão atinge valores tão material (Equação 4), conforme [3].
altos que se equipara à tensão total aplicada, fazendo com que a
tensão efetiva tenda a zero. Assim, o material perde a resistência e
se transforma em um fluido. [ Equação 4 ]

Por outro lado, o material com comportamento dilatante é


aquele que aumenta de volume durante o cisalhamento, ou seja, o Nota-se que o índice de comportamento também é função de
aumento da tensão aplicada resulta em aumento da resistência ao Qtn. Portanto, a normalização da resistência de ponta passa por
cisalhamento do material. Usando-se a mesma analogia utilizada um processo iterativo até a convergência dos resultados.
para o material contrátil, o material dilatante pode ser associado Por último, no espaço “Qtn x Fr”, é definido o limite entre
a uma areia compacta, em que a ação do carregamento faz com o comportamento dilatante e o comportamento contrátil do
que os grãos sejam deslocados, aumentando temporariamente o material. Essa fronteira é baseada no conceito de parâmetro
índice de vazios. Consequentemente, a poropressão é reduzida. de estado (ψ), proposto por [4]. [3] define esse limite quando
Há várias formulações na literatura para avaliação da ψ é maior que -0,05, simplificada por [2] ao limite CD igual a 70
suscetibilidade dos materiais à liquefação, ou seja, para definição (Equação 5). A linha que separa os comportamentos contrátil
se são contráteis (suscetíveis) ou dilatantes (não suscetíveis). (região inferior) e dilatante (região superior) está identificada em
Várias delas se baseiam nos resultados de ensaios CPTu. azul na Figura 1 e pode ser expressa por:
Para os materiais considerados contráteis, foi realizado o cálculo
da razão de resistência (Su/σ’v0). [ Equação 5 ]

[2] esclarece que o limite de CD = 70 pode ser conservador


2. METODOLOGIA DE CÁLCULO quando se analisa casos históricos de liquefação e que esse limite
poderia ser definido para CD = 60 (Equação 6):
2.1. AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO

A ocorrência de ruptura não drenada está relacionada à diminuição [ Equação 6 ]


da resistência efetiva e da rigidez dos solos sob a ação de forças
externas, ocorrendo, geralmente, em materiais saturados que, ao
serem submetidos a esforços de cisalhamento, tendem a diminuir Contudo, recomenda-se que as análises geotécnicas sejam
de volume. Durante o carregamento, o tempo para dissipação da analisadas considerando o limite CD = 70. Ressalta-se ainda
poropressão não é compatível com a drenabilidade do material, que este limite se aplica a solos com pouca ou nenhuma
produzindo um acréscimo de poropressões e a consequente redução microestrutura, visto que solos cimentados ou envelhecidos
das tensões efetivas e da resistência ao cisalhamento [1]. podem ser contrativos a grandes deformações apesar de terem
[2] propõe um fluxograma a partir de resultados de ensaios CPT’s, elevada resistência de ponta normalizada pelo expoente “n”
no qual é possível caracterizar o comportamento do solo. Para isso, devido à rigidez desses solos.
50 WWW.CBDB.ORG.BR
Para a determinação da resistência não-drenada de pico
da camada de rejeito com comportamento não drenado, foi
considerada também a correlação proposta por [7], a partir da
Equação 9.

[ Equação 9 ]

Em que:
Su – Resistência não drenada;
qt – Resistência real mobilizada;
σv0 – Tensão vertical total;
Nkt – Fator de cone.

Para “rejeitos arenosos”, ou seja, que apresentaram


comportamento drenado, determinou-se a resistência normalizada
como função do ângulo de atrito interno em cisalhamento simples
Figura 1– Comportamento do solo resultante de dados (φss) conforme proposto por [8]:
normalizados do ensaio CPT [2]

[ Equação 10 ]
2.2. DEFINIÇÃO DO PARÂMETRO NÃO DRENADO

Para os materiais com comportamento não drenado, foi


Sendo: [ Equação 11 ]
realizado o cálculo da razão de resistência (Su/σ’v0) por meio de
Nkt, baseado no parâmetro Bq, para as regiões que apresentaram
Bq > 0,4, conforme proposto por [5].
[6] estabelece um fator de cone, denominado como Nkt,
baseado no parâmetro Bq, definido a partir da análise de
3. ESTUDO DE CASO
dados históricos. O Nkt é um fator que varia entre 10 e 20,
Para verificação da susceptibilidade à liquefação e a definição
aproximadamente, com uma média de 14 para os solos mais
do parâmetro não drenado, foi utilizado CPTu típico para rejeitos.
comuns, sendo determinado através da Equação 7.
Ressalta-se que este CPTu é meramente ilustrativo.
Os gráficos referentes a qt, fs, u2, Bq e o gráfico do índice de
[ Equação 7 ]
comportamento proposto por [3] são apresentados na Figura 2
abaixo.
Em que:
Bq – Razão dinâmica de poropressão:

[ Equação 8 ]

Onde:

u – Poropressão dinâmica do cone;


u0 – Poropressão estática in situ;
p0 – Tensão total média;
qt – Resistência de ponta corrigida. Figura 2 – Resultado do ensaio CPTu

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 51


AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE À LIQUEFAÇÃO E DEFINIÇÃO DO PARÂMETRO NÃO DRENADO DE UM REJEITO COM BASE EM ENSAIO CPTU

Ao se observar os gráficos da Figura 2 foi possível concluir Dessa maneira, deve-se determinar a razão de resistência
que houve uma mudança de comportamento não drenado para não drenada de pico para os materiais contráteis, mesmo que
drenado em 13 metros de profundidade. apresentem comportamento drenado.

4. RESULTADOS 6. PALAVRAS-CHAVE
A avaliação da suscetibilidade à liquefação foi realizada a CPTu, Rejeito, Suscetibilidade, Liquefação.
partir da metodologia proposta por [2]. O resultado pode ser
observado na Figura 3 a seguir.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] NIERWINSK. H. P. (2019). Caracterização E Comportamento Geomecânico De
Rejeitos De Mineração.
[2] ROBERTSON, P. K. 2016. Cone penetration test (CPT)-based soil behaviour
type (SBT) classification system - an update, NRC Research Press, Julho 2016.
[3] ROBERTSON, P. K. 2010. Evaluation of Flow Liquefaction and Liquefied
Strength using the Cone Penetration Test, Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, ASCE, Junho 2010.
[4] BEEN, K.; JEFFERIES, M. G. A. State parameter for sands. Géotechnique,
volume 35, n. 2, p. 99-112, 1985.
[5] SENNESET, K.; SANDVEN, R.; JANBU, N. Evaluation of Soil Parameters from
Piezocone Tests. Transportation Research Record 1235. Geotechnical Division,
The Norwegian Institute of Technology, N-7034 Trondheim, Norway, 1989.
[6] LUNNE, T.; ROBERTSON, P. K.; POWELL, J. J. M. Cone Penetration Testing in
Geotechnical Practice. Spon Press, Oxon, 352 pg, 1997.
[7] YU, H., SCHNAID, F., e COLLINS, I. Analysis of Cone Pressuremeter Tests in
Figura 3 – Avaliação da susceptibilidade à liquefação
Sands. J. of Geotechnical Geoenvironmental Eng., 122 (8): 623-632. 1996.
[8] WROTH C.P. The interpretation of in situ soil tests. Twenty Fourth Rankine
Lecture, Géotechnique 34(4): 449-489. 1984

Assim, pode-se concluir que o rejeito é suscetível à liquefação.


Aplicando as equações 7, 8 e 9 para a camada até 13 metros, que
apresentou comportamento não drenado, foi calculado um valor Isabela Moreira QUEIROZ
de Su/σ’v0 = 0,17. Para a camada que apresentou comportamento Engenheira Civil graduada pela Universidade FUMEC em 2013.
Experiência profissional em Geotecnia em interpretação de
drenado, com profundidade maior que 13 metros, foi calculado
ensaios CPTUs, em projetos de barragens de rejeito, pilhas de
um valor de Su/σ’v0 = 0,22, aplicando as equações 10 e 11. estéril e rejeitos, projetos de descaracterização de barragens,
análise de estabilidade determinística e probabilística, análise
de liquefação e análise de risco geotécnicos.

5. CONCLUSÕES
Bruna Nascimento Martins TORRES
Engenheira Civil e Pós-Graduada em Engenharia Geotécnica
A partir do estudo apresentado, conclui-se que, mesmo que
pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-
o material apresente comportamento drenado durante o ensaio MG). Experiência profissional em projetos geotécnicos
CPTu, é possível que o mesmo seja suscetível à liquefação. aplicados às áreas de Mineração e de Geração de energia.
Isto pode ser explicado pela velocidade de cravação do piezocone. Dentre as experiências na área de Geotecnia destacam-se:
O material pode não ter desenvolvido excesso de poropressão para interpretação de ensaios CPTUs em projetos de barragens de
rejeitos; elaboração de projetos de pilhas de estéril e rejeitos;
a velocidade de cravação utilizada. No entanto, para velocidades
análise de liquefação; análise de estabilidade; análise de
maiores, poderia acontecer o excesso de poropressão. tensão-deformação.

52 WWW.CBDB.ORG.BR
CORRIDAS DETRÍTICAS

CONTROLE DISSOCIATIVO
DAS CORRIDAS DE DETRITOS
E DE LAMA
Dimitry V. ZNAMENSKY | Consultor Independente
Felipe GOBBI | Diretor Técnico - Geobrugg
Bruno DENARDIN | Engenheiro Civil - Geobrugg

RESUMO ABSTRACT

As corridas detríticas são consideradas um estado transitório entre Debris flow are a transient state between soils solid and
os dois estados dos meios físicos do solo/rocha, ou seja, o sólido e o fluid-liquid states. It is a transient metamorphic process that
fluido. Trata-se do processo da metamorfose do estado do solo coeso transforms the coherent and stiff solid state in deformable and
e rijo no estado visco plástico e fluido, com a consequência da sua soft viscous plastic fluid state, as soils and water mixture. The
mistura com a água (fase líquida), que desempenha um papel muito theme is aborded in classic Saturated Soil Mechanics, as an
importante neste processo. Este tema é tratado na clássica Mecânica inherited subject of Applied Hydraulic applied to earth dams
dos Solos Saturados, que nasceu da hidráulica aplicada às barragens design and construction. A proposal, as an extension of the
de terra. Apresenta-se agora a sugestão de que o tema proposto deva theme, is proposed in simultaneous analysis by Supersaturated
ser simultaneamente tratado na Mecânica dos Solos Supersaturados Soil Mechanics or saturated system of discrete granular particles
ou Sistemas Granulares Discretos Saturados (SGDS). O presente texto (SSDGP). Present paper suggests a use of Catastrophe Theory,
sugere o uso da Teoria de Catástrofes de R. Thom para se caracterizar created by R. Thom, that characterizes a transformation process
a transformação que ocorre entre esses dois estados físicos do solo, between control factors of biphasic mixtures, or parameters of
por meio de parâmetros controladores do processo e liderados pelo soils water content and soils granulometric curve.
teor de água e granulometria do solo, que formam a mistura bifásica.
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 53
CONTROLE DISSOCIATIVO DAS CORRIDAS DE DETRITOS E DE LAMA

1. INTRODUÇÃO compostas por partículas sólidas dispersas e móveis, como foi


definido por Kherkheulidze (1969) e citado por Fleischman (1978).
As diferenças entre a estabilidade dos maciços rochosos Obtém-se destarte (a) um comportamento estático CV Máx.
fraturados ou de solo regolítico, que gera avalanche de rocha, ou e (b) um comportamento cinético CV Equi. do solo, que integra
as corridas detríticas de lama é a seguinte: duas vertentes distintas de comportamento reológico que se
denominam: (1) vertente geotécnica de solo natural insaturado e
1. A estabilidade dos taludes é um estado estático estável, (2) vertente hidráulica de solo saturado e estaticamente liquefeito.
mas que pode resultar em ruptura do maciço rochoso e/
ou do solo e, no respectivo colapso dos taludes, ocorre a
[ Equação 2 ]
preponderância das forças de instabilidade sobre as forças
de estabilidade; [ Equação 3 ]
2. A perturbação deste estável estado estático se verifica pela
constituição das misturas bifásicas, de sólidos e de água,
que formam o instável solo estaticamente liquefeito capaz As misturas bifásicas equilibradas e móveis correspondem
de se deformar e escoar - se ele estiver desconfinado; às corridas detríticas críticas, e as bifurcações sólidas e úmidas
3. Quando se verifica a deformação plástica ilimitada ou o formam o comportamento da deformação do solo ou o
escoamento fluido, as misturas bifásicas se transformam escoamento de água dessas misturas divergentes. O controle das
em corridas detríticas ou de lama, que representam um corridas detríticas pode ser preventivo e profilático, ocorrendo
estado cinético e dinâmico. antes da sua formação, ou posterior e terapêutico, realizado
depois da ocorrência das corridas.
A mobilidade adquirida pelas misturas formadas pelo solo No artigo publicado por estes autores na RBEB No 12 (2022),
liquefeito ocorre através dos processos de infiltração, percolação, entre as páginas 107-113, um controle preventivo do teor crítico
difusão e de saturação total deste solo por ocorridas precipitações de água no solo impedia a formação das misturas bifásicas móveis,
pluviais e pela umidade antecedente presente neste solo. Portanto, efetuando uma impermeabilização deste solo ou drenando o
as corridas de detritos e/ou de lama são processos dinâmicos, mesmo e evitando assim a sua saturação completa.
que se iniciam durante a ruptura do maciço rochoso fraturado- A formação das misturas bifásicas e o início do seu escoamento
discretizado e do solo saturado-liquefeito, bem como das respectivas surge como um resultado do processo de associação fásica direta
misturas dessas partículas sólidas, que se desenvolvem como os entre o solo insaturado e a água.
deslocamentos plásticos ilimitados ou como os escoamentos dessas O processo inverso da dissociação fásica das misturas bifásicas
misturas de uma forma dinâmica e cinemática. se considera como uma anulação dessas misturas formadas,
A estabilidade estática dos taludes está vinculada ao equilíbrio implantando o seu retorno às componentes fásicas originais de
do talude de geomassa sólida, que é estimado por um estático fator um solo insaturado e de água de saturação.
de segurança (Fs). A mobilidade cinemática do deslocamento da Percebe-se que o processo da dissociação fásica das misturas
geomassa liquefeita das corridas detríticas ou da mistura bifásica é comporta e inclui a importante vertente geotécnica e uma não
determinada pelo dinâmico fator de mobilidade desta mistura (Fm). menos importante vertente que é a hidrológico-hidráulica.
O deslocamento que ocorre neste caso da mistura configura a No caso do Brasil, as corridas detríticas, que ocorrem nas regiões
deformação plástica ilimitada ou o escoamento superficial livre, montanhosas do país, são as avalanches rochosas de grandes
ambos avaliados pelo coeficiente de fluência (w0) dessa mistura blocos de rocha, onde o relevo é mais acentuado. Entretanto, na
bifásica, que é expresso pela Equação 1 abaixo. presença do relevo mais moderado, frequentemente se verificam
as corridas detríticas de coluvião ou as corridas de lama.
Casos históricos incontestáveis de que corridas detríticas de
[ Equação 1 ]
ambos os tipos ocorrem na Serra do Mar podem ser citados, assim
como dois exemplos na área de Cubatão (SP). O primeiro exemplo
Este parâmetro adimensional w0 é o coeficiente diferencial entre é a corrida detrítica rochosa que foi registrada na refinaria da
as concentrações volumétricas equilibrada CV Equi. e concentração Presidente Bernardes, em 1994, detalhadamente apresentada
volumétrica máxima CV Máx., que são normalizadas em relação a por Gramani (2001). Como corrida de lama é citado o exemplo do
concentração de equilíbrio instável das misturas bifásicas, estas caso do km 42 da pista descente da via Anchieta, em 1999, quando

54 WWW.CBDB.ORG.BR
diversas rupturas em solo deflagram fluxos na região, conforme Do ponto de vista da aplicação prática, a catástrofe representa
Sadowski et al (2001). uma “mudança descontínua ou súbita”, experimentada pelos
O presente texto é uma tentativa de aplicar a linguagem estados internos do processo de “transição entre dois regimes
matemática da teoria das catástrofes (Thom, 1972) aos processos estáveis”, segundo o Prof. P. Amaral de Souza (1987), quando
de controle posterior das corridas detríticas e de lama, pela os parâmetros externos, ou os controles, que influenciam o
anulação do estado de liquefação estática do solo saturado. A comportamento do mesmo, “variam suavemente na vizinhança
linguagem matemática da teoria das catástrofes de R. Thom é de um determinado ponto chamado ponto de catástrofe”.
um tema muito amplo e bastante complexo. O presente texto O estado é considerado estável quando é condicionado por um
se abstém de entrar em detalhes desta linguagem matemática, ou mais fatores, que determinam a sua superfície de equilíbrio. A
buscando apenas sua aplicação geotécnica prática e sem causar partir da superfície de equilíbrio, identifica-se o conjunto dos pontos
grande dificuldade aos usuários. Nesta aplicação prática utilizam- críticos-degenerados e singulares que compõem a transformação
se apenas quatro entre sete figuras geométricas das catástrofes morfogênica e as respectivas bifurcações da catástrofe.
elementares (Tabela 2) propostas por R. Thom, que, segundo Graf A representação gráfico-analítica dos processos da metamorfose
(1979), são as seguintes: (1) “dobra” ou “fold”; (2) “cúspide”; (3) do solo, como o da liquefação estática do solo, consiste em estabelecer
“rabo de andorinha” e (4) “borboleta”. a função potencial ( ) que descreva essa transformação dos
As três catástrofes hiperbólicas, elípticas e parabólicas restantes estados físicos estáveis.
de Thom não estão consideradas no presente texto, pois seus
resultados não encontram aplicação geotécnica imediata. Os
quatro polinômios apresentados (Tabela 1) são vinculados com 2. AS FIGURAS GEOMÉTRICAS DE
a formação e com o controle das corridas detríticas e, neste
texto, apresentam reduzida transcrição parcial da tese do Prof.
“DOBRA”, “CÚSPIDE”, “RABO DE
Podalyro Amaral de Souza (1987) e da monografia do Prof. Antônio ANDORINHA” E “BORBOLETA”
Christofoletti (2002).
As quatro catástrofes elementares de R. Thom (1972) são
aplicadas para se descrever a transformação do solo insaturado
Parâmetro - Variável - x em solo saturado liquefeito. O processo de formação e extinção
Causa Efeito das corridas detríticas é descrito pelas catástrofes “dobra” e
Dados de entrada Dados de saída “cúspide”. Os parâmetros de controle dessas duas catástrofes são:
Variáveis externas Variáveis internas
Controle Comportamento a. o teor de umidade do solo (λ1) na “dobra”;
Parâmetro Estado b. o teor de umidade (λ1) e a composição granulométrica do
solo (λ2) na “cúspide”.
Tabela 1- Fatores de controle e de estado
(Fonte: Podalyro A. de Souza (1987))
As catástrofes de “dobra” e “cúspide” integram a vertente
geotécnica das corridas detríticas e de lama. Os seus parâmetros
Os parâmetros (λi ) e a variável (x) que compõem os polinômios
fazem parte dos processos de controle ativo e passivo de suas
das funções potenciais do processo da transformação constam na
corridas. As catástrofes “rabo de andorinha” e “borboleta”
tabela seguinte.
completam e descrevem os comportamentos das misturas bifásicas,
introduzindo, nas suas respectivas funções potenciais, os seguintes
Polinômio da Estado do solo parâmetros: a espessura de camada (λ3), no caso da catástrofe “rabo
Catástrofe
função potencial Comport. Codimensão de andorinha”; e a condutividade hidráulica ou a permeabilidade da
“Dobra” 1
3
f1=x +λ1 x 1 1 camada do solo (λ4), no caso da catástrofe “borboleta”.
“Cúspide” 2 f2=x4+λ1 x2+λ2 x 2 2 Neste caso, o processo que se verifica é o de deslocamento
“Andorinha” 3 f3=x4+λ1 x3+λ2 x2+λ3 x 3 3 visco plástico ou totalmente viscoso das misturas bifásicas (corridas
“Borboleta” 4 f4=x6+λ1 x4+λ2 x3+λ3 x2+λ4 x 4 4 detríticas), o qual se controla passivamente, criando uma retenção
da sua fase sólida e, simultaneamente, permitindo o escoamento
Tabela 2 - Funções potenciais de catástrofes da sua fase líquida.
(Fonte: Christofoletti (2002), em transcrição parcial modificada pelo autor)

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 55


CONTROLE DISSOCIATIVO DAS CORRIDAS DE DETRITOS E DE LAMA

Os parâmetros de controle passivo destas catástrofes são para Os numerosos ensaios laboratoriais e as investigações de
a catástrofe “rabo de andorinha”: campo realizadas e apresentadas por Peng Cui (1992) definiram
um hiperplano, ou uma superfície limite crítica, formada pelas
a) teor de umidade (λ1); misturas de material regolítico composto por cascalho, areia, silte
b) composição granulométrica do solo (λ2); argiloso (caulim) e água. Todos materiais provenientes da Província
c) a espessura da camada do saturado solo (λ3). de Sichuan, região sudoeste da China.

Para a catástrofe “borboleta”, além do teor de umidade (λ1), da


composição granulométrica (λ2), e da espessura da camada (λ3), [ Equação 5 ]

existe ainda (d) a condutividade hidráulica do solo saturado (λ4).


As catástrofes “rabo de andorinha” e “borboleta” são evoluções
bi e tridimensionais das catástrofes “dobra” e “cúspide”, com suas A equação (7) foi obtida realizando os ensaios de determinação
soluções apresentadas e detalhadas por Bröcker e Lander (1975). da máxima declividade limite (θ) das misturas bifásicas, variando
Nestes dois casos, os parâmetros não são mais considerados simultaneamente a fase líquida, ou o teor de água, e a fase sólida, ou
pontuais, pois eles se tornam espaciais e se aplicam aos macros a composição granulométrica da mescla granular dessas misturas.
volumes do solo, com a equação descrita abaixo. A função potencial da catástrofe “cúspide” se escreve:

[ Equação 4 ] [ Equação 6 ]

O controle passivo das corridas detríticas, que se verifica nessas As novas constantes A, B e Q da fórmula (5) são relacionadas
catástrofes, é um processo dinâmico exercido sobre um material com os dados empíricos obtidos por Peng Cui, Thornes e Junwei
liquefeito e em movimento. Trata-se de processos cinemáticos e Guan (1996) na fórmula (6) ao utilizar uma simbologia analítica
dinâmicos que não são próprios da Mecânica dos Solos Saturados, mais concisa, proposta por Saunders (1980), ou seja, a equivalência
mas que fazem parte da Mecânica dos Solos Supersaturados ou de SR=x.
dos Sistemas Granulares Dispersos Supersaturados (SGDS). A catástrofe da “cúspide” apresenta dois parâmetros de
Observa-se que em todos casos considerados, a importância controle do processo de codimensão 2, que são:
primordial na formação das misturas cabe ao teor de água que
é seguida pela composição granulométrica do solo. No caso das (a) o teor de umidade (λ1), ou a fase líquida (água);
corridas detríticas e de lama, um maior número de parâmetros (b) a granulometria da mescla (λ2), ou a fase sólida (solo) da
gera um maior número de combinações possíveis das respectivas mistura bifásica equilibrada (corrida detrítica), que se
bifurcações e misturas. escreve:

Plano de função potencial:


3. A FIGURA GEOMÉTRICA “CÚSPIDE”
[ Equação 7 ]

A segunda figura geométrica da catástrofe é a “cúspide”,


Plano de equilíbrio:
caracterizada por um ponto ou um vértice que pertence
simultaneamente aos três planos. Dois destes planos representam [ Equação 8 ]
dois estados estáveis do solo, o sólido e o liquefeito. O terceiro
plano representa uma transformação morfogênica destes dois
Plano de controle e do conjunto bifurcação:
estados do solo. Esses três planos separam o espaço em dois
semi espaços que representam os dois estados estáveis do solo,
segundo Peng Cui e Thornes (1996). Ou seja: [ Equação 9 ]

(1) o estado do solo sólido na condição de “quase debris flow”; A representação gráfica tridimensional do plano de equilíbrio e
(2) o estado do solo liquefeito na condição de “debris flow” do plano de controle pode ser representada graficamente através
propriamente dito. da ilustração abaixo, indicada na Figura 1.
56 WWW.CBDB.ORG.BR
uma representação gráfica tridimensional. Este fato torna a
representação gráfica desta catástrofe difícil e complexa, e sua
representação se torna possível ao considerar somente o seu
plano da bifurcação, que é de terceiro grau. O parâmetro (λ3)
é introduzido na função potencial V(x), que é uma espessura
da camada do solo infiltrado-saturado, e se liquefaz para um
determinado valor crítico desta espessura.
Plano de função potencial:

Plano de função potencial:


Figura 1 - Figura geométrica da catástrofe “cúspide” [ Equação 10 ]
(Fonte: Apud Saunders (1980), Amaral de Souza (1987), Peng Cui e Thornes (1996))

A “cúspide” que figura nas corridas detríticas na superfície de


Plano de equilíbrio:
equilíbrio define um teor crítico (λ1) de água da mistura bifásica de
granulometria (λ2) para qual o solo se torna liquefeito. A projeção [ Equação 11 ]
desta “cúspide” no plano das bifurcações assinala sua permanência
como solo liquefeito ou uma mistura homogênea única para
Plano de bifurcação:
determinada classe de sedimentos. Mas, na projeção do vértice da
“cúspide” sobre o plano de controle, entre os dois componentes da
[ Equação 12 ]
mistura surge uma gradual separação entre suas fases. Observa-se
que a catástrofe da “cúspide” se inicia como um processo associativo
das fases da mistura, o que deve ser evitado pelo controle ativo, mas A determinação do plano de equilíbrio se estabelece por
que se transforma em processo dissociativo das fases da mistura com meio de um artifício algébrico não detalhado neste texto, mas que
a qual lida o controle passivo das corridas. O processo dissociativo se resume em formar as intersecções do plano (λ1 - λ3), que contém o
das misturas bifásicas consiste na retenção e no acúmulo da fase parâmetro (λ1 = const.) nas interseções deste plano com o plano (λ2
sólida e no escoamento da fase líquida da mistura inicial. - λ3), para as seguintes condições: (a) para (λ1 > 0); e (b) para (λ1 < 0).
Zeeman (1976) observou que esses dois fatores controladores Os detalhes do artifício matemático empregado para representar
(λ1 de x2) e (λ2 de x) são considerados fatores normais e separadores graficamente os planos das bifurcações da catástrofe “rabo de
do processo dissociativo da “cúspide”. De fato, se uma variação andorinha” são minuciosamente expostos no texto “An Introduction
apreciável ocorre quando λ1>0, a variação correspondente de x to Catastrophe Theory”, de P.T. Saunders (1980), sendo que estas
é muito branda e normal. Mas, quando a mesma variação ocorre catástrofes estão ilustradas na Figura 3, que segue no documento.
para λ1<0, no controle das fases da mistura surgem apreciáveis
descontinuidades pela presença das respectivas bifurcações.
Em outras palavras, a amplitude existente entre as bifurcações
“seca” e “úmida” aumenta consideravelmente e resulta na maior
retenção da fase sólida e no escoamento maior da fase líquida
dessas misturas.
A catástrofe da “cúspide” é muito utilizada para efetuar um
controle passivo das corridas detríticas pela separação fásica dos
sólidos e dos líquidos.
Figura 2 - O conjunto das bifurcações em duas dimensões da
catástrofe “rabo de andorinha” (Fonte: Saunders (1980))

4. A FIGURA GEOMÉTRICA “RABO DE A solução analítica da equação (11), que não é detalhada aqui,
ANDORINHA” resulta na expressão seguinte::

A terceira figura geométrica das catástrofes, apelidada de [ Equação 13 ]


“rabo de andorinha”, é de quinto grau e, portanto, não comporta
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 57
CONTROLE DISSOCIATIVO DAS CORRIDAS DE DETRITOS E DE LAMA

Observa-se que a mencionada solução é independente da Plano de bifurcação:


composição granulométrica da mescla granular, já que exclui o
parâmetro (λ2) que é vinculado com a composição granulométrica [ Equação 16 ]

do solo. Três casos distintos da espessura da camada do solo são


representados pela magnitude do parâmetro (λ3), que corresponde Uma vez determinada a espessura da camada de solo saturado
a espessura da camada de solo saturado. (λ3) e o seu teor de umidade (λ1), a variação da correspondente
A espessura (λ3) da camada do solo estabelece a diferença permeabilidade ou a condutividade hidráulica (λ4) originam diversas
existente entre as bifurcações, e entre as incompletas misturas composições das misturas secas e úmidas conforme a magnitude
não críticas e as misturas críticas completas, ou seja, as corridas do seu teor de umidade total. Este parâmetro composto por (λ1) e
detríticas volumétricas equilibradas. (λ4) das misturas bifásicas (ou corridas) é condicionado pelos solos
hidrófilos ou hidrófobos, ou seja, pelos solos de granulometria fina
λ3 > 9λ1 / 20 ou graúda. Acredita-se que o parâmetro da superfície específica dos
grãos (Sesp.) ou uma curva caraterística do solo-água (SWCC) podem
Bifurcação “seca” da camada de solo muito espessa, que apenas ser usados para estabelecer uma definição mais precisa dessas
se deforma por absorção total da precipitação pluvial sem o combinações espaciais das misturas, estando estas representadas
escoamento d’água. na Figura 3 a seguir.

λ3 > 9λ1 2/ 20

Espessura crítica da camada do solo em processo de liquefação


estática por absorção e saturação não drenada, determinada pela
magnitude e pela duração da intensidade crítica da precipitação
pluvial sem escoamento superficial.

λ3 < 0

Bifurcação “úmida” da camada de solo muito fina e quase


ausente, resulta sem a sua abstração apenas no escoamento
superficial da correspondente precipitação pluvial.
Observa-se que nas três expressões anteriores, o parâmetro
da espessura crítica do solo (λ3) é determinado apenas como
uma profundidade da camada de solo saturado em processo de
liquefação estática. Trata-se, portanto, da camada de um solo
homogêneo e isotrópico, mas com a sua condutividade hidráulica
ou permeabilidade ainda indeterminada.

5. A FIGURA GEOMÉTRICA “BORBOLETA”


Figura 3 - Plano de equilíbrio e os planos das bifurcações da
Isto ocorre com a figura de “borboleta”, cuja função potencial é de catástrofe “borboleta” (Fonte: Saunders (1980))
sexto grau.
O artifício matemático utilizado neste caso é muito similar ao
Função potencial: empregado no caso da catástrofe “rabo de andorinha”, o qual
também não é detalhado neste texto. Os resultados obtidos são:
[ Equação 14 ]
(a) Plano de equilíbrio da “borboleta”; e (b) Plano das bifurcações
Plano de equilíbrio: da “borboleta” (Figura 3). As diversas bifurcações “úmidas” e
“secas” possíveis são obtidas variando a permeabilidade da
[ Equação 15 ]
camada do solo (Figura 4).

58 WWW.CBDB.ORG.BR
Estes eventos são bastante comuns nos terrenos montanhosos
ou nos terrenos de relevo muito ondulado, onde o gradiente de
campo gravitacional é composto por três distintas parcelas de
energia potencial:

[ Equação 17 ]

Essas três parcelas correspondem a distintas classes e níveis


da energia potencial, que se transformam em energia cinética e
se manifestam, de forma concomitante ou sequencial, no início,
durante e no fim deste processo. Seguem:

h1 - Energia da posição ou da localização no terreno natural


(relevo);
h2 - Energia potencial da tensão entre forças atuantes e
resistentes (equilíbrio estático de pressões hidrostáticas);
h3 - Energia cinética da quantidade de movimento (equilíbrio
dinâmico dos momentos da velocidade do deslocamento).

Figura 4 - Bifurcações secas e úmidas para as diversas


A diversidade de energia observada nas corridas detríticas está
permeabilidades do solo da catástrofe “borboleta”
associada aos locais de sua ocorrência, que segundo Yablonskiy et
al. (1992), são:
Percebe-se que ambos processos de controle dependem das
(a) investigações geológico geotécnicas, quando os processos são a • As encostas das vertentes do relevo onde as corridas são
formação das corridas detríticas e o controle requer uma manutenção formadas;
das formas existentes do relevo natural, e (b) das investigações • As calhas do terreno onde as corridas escoam, se
sedimentológicas e hidráulicas, quando os processos da geomassa desenvolvem e se extinguem.
liquefeita formam os deslocamentos cinemáticos e dinâmicos das
misturas bifásicas que transformam o relevo natural existente. Estes locais de ocorrência das corridas correspondem aos
cenários descritos em geomorfologia, como a infinidade de
vertentes formadas pelos terrenos altos ou interflúvios, e os
terrenos baixos ou fundos dos vales, onde escoam nas calhas
6. INVESTIGAÇÕES GEOLÓGICO- as suas redes de drenagem. A análise geomorfológica aplicada
GEOTÉCNICAS E HIDRÁULICO- às corridas detríticas estuda os elementos da superfície natural
SEDIMENTOLÓGICAS DAS CORRIDAS terrestre, denominados vertentes e canais, formadores do
relevo, e que são designados como encostas e calhas nas análises
Observa-se, inicialmente, que as corridas detríticas e de lama específicas desses movimentos de massa.
não ocorrem em terrenos planos e horizontais de declividade nula. O cenário da formação das corridas são as encostas (ou
Para que ocorra uma corrida detrítica é necessária a mobilização vertentes), que devem ser analisadas em primeiro lugar. As
do gradiente do campo gravitacional terrestre, o que é possível encostas são definidas pelo desnível altimétrico (H) e pela
somente quando entre dois pontos quaisquer existe a diferença de declividade (θ) em relação ao plano horizontal.
potencial do campo gravitacional, ou seja, o gradiente gravitacional. O estudo requer a identificação dos seguintes parâmetros nas
Este é possível somente quando entre os pontos quaisquer do encostas:
terreno existe um desnível altimétrico. (a) desnível ou diferença altimétrica entre o ponto mais
Quando entre dois pontos A e B quaisquer do terreno natural elevado e o mais baixo do talude;
existe o desnível (hA > hB), surgem as condições (estáticas e/ou (b) declividade máxima da linha de maior declive do talude
dinâmicas) de ocorrência das corridas detríticas e/ou de lama. da encosta;

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CONTROLE DISSOCIATIVO DAS CORRIDAS DE DETRITOS E DE LAMA

(c) extensão linear do talude ou comprimento entre os Melton (1957) demonstrou que o ângulo máximo das vertentes
pontos mais elevados e o mais baixo da encosta; dos vales se correlaciona “positivamente com o relevo relativo (H)
(d) extensão horizontal ou projeção horizontal do talude e da e negativamente com a densidade de drenagem (Dd)” da rede
sua linha de maior declive. hidrográfica dos respectivos relevos montanhosos (Christofoletti 1980).
Percebe-se que a fase fluido-líquida desempenha nas corridas
Na análise das corridas detríticas de encostas, considera-se de lama um papel importante na sua formação e um papel, não
como elemento básico representativo do perfil original da encosta menos importante, no desenvolvimento dos deslocamentos das
o talude uniforme formado pela superfície inclinada de extensão geomassas e de suas deformações plásticas ilimitadas - ou seu
linear (L) e de largura (B), que, no caso da análise bidimensional, escoamento.
é considerada unitária. Outro elemento básico da encosta é a As encostas e as calhas representam assim os cenários: (1)
projeção horizontal (Lh) da sua extensão linear, que é vinculada (1) da liquefação estática do solo; e (2) do translado cinemático e
ao desnível altimétrico e (2) a extensão linear como: dinâmico das misturas bifásicas formadas.

[ Equação 18 ]
7. CONCLUSÕES
Se a encosta é extensa e irregular, a sua extensão linear é
dividida em segmentos estabelecidos pela sua altura hipsometria A precipitação pluvial infiltrada ou a chuva efetiva aumenta
(H) ou pela densidade isoípsa da sua projeção horizontal (Lh). A o teor volumétrico da umidade do solo ou forma as bifurcações
declividade do talude de uma encosta é representada pelo variável secas e/ou úmidas, onde a umidade antecedente é menor ou
ângulo (arctg), situado entre os limites (θ = 0) de um terreno maior do que a crítica. A chuva infiltrada se torna crítica quando
nivelado horizontal (de solo), ou (θ = ) de um terreno vertical ou forma uma mistura bifásica, ou associação fásica de volumes iguais
falésia (de rocha). A declividade do talude em corridas detríticas do solo de granulometria definida ( ) e de água, que escoa como
e de lama se escreve como a tangente do ângulo médio (θ) desta um fluido não newtoniano.
encosta. Segue: A corrida detrítica se torna equilibrada quando a umidade do
solo atinge o seu nível crítico de (GSat ≥ 1) e uma profundidade crítica
[ Equação 19 ] (d) da camada do solo saturado de condutividade crítica (hPP).
Neste caso, o solo se torna estaticamente liquefeito e forma o
Onde: escoamento da mistura móvel bifásica.

• (H) é a diferença de altitude entre o ponto mais elevado


e mais baixo do talude da encosta que se vincula ao 8. AGRADECIMENTOS
tamanho das partículas da corrida;
• (Lh ) é a projeção horizontal da extensão linear do talude (L); Os autores agradecem o valioso estímulo recebido do CBDB
• sen (θ) define a parcela da chuva que escoa diretamente e o sempre firme e determinado apoio da Geobrugg do Brasil.
pelo talude hpp sen (θ) e do seu peso Pgm sen(θ) = γgm Vgm Reconhecem e agradecem também o apreço das universidades e
sen(θ), que tende a escorregar pelo talude; das entidades públicas ou privadas interessadas neste intrigante e
• cos(θ) define a parcela da chuva que se infiltra no solo ainda não explorado tema.
hpp cos(θ) e do seu peso Ngm cos(θ) = γgm Vgm cos(θ), que
se opõe ao escorregamento pelo talude.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A presença da fase fluido-líquida (água) nas corridas detríticas
das encostas é um fator muito importante e que resulta na Amaral de Souza, P. (1987). Histerese em Escoamento sobre Salto de Esqui.

transformação do seu estado físico, onde o desenvolvimento Bröcker Th. e Lander L. (1975). Differentiable Germs and Catastrophes.
Christofoletti, A. (2002). Modelagem de Sistemas Ambientais.
e translado das corridas se verifica nas suas respectivas calhas.
Fleischman, S.M. (1978). Mudflows (Sely em russo).
A definição da chuva crítica local como (a) a altura máxima do
Graf, W.L. (1979). Catastrophe theory as a model for change in fluvials systems, (in
escoamento na determinada bacia e (b) o seu período de retorno
Rhodes & Williams Eds.).
devem ser parâmetros de determinação imprescindíveis. Gramini, M.F. Caracterização geológica/geotécnica das corridas de detritos (debris

60 WWW.CBDB.ORG.BR
flows) no Brasil e comparação com alguns casos internacionais. São Paulo: EPUSP–USP,
2001. 372p. (Dissertação de Mestrado). Dimitry V. ZNAMENSKY
Kherkheulidze, I. I. (1969). Características básicas das corridas de detritos. Engenheiro Civil (EEBC-UFG/1961), Mestre (2001) e Doutor
Melton, M.A. (1957). Analysis of the relations among elements of climate surface (2005) pela EPUSP, com ênfase em corridas de detritos.
properties and Geomorphology. Atuou como Engenheiro em obras de barragens (1961-1977).
Peng Cui (1992). A study on theoretical methods of forecasing debris flows. Professor Titular de Mecânica dos Solos na UnB (1977-2005).
Peng Cui, Thornes, J.B. e Junwei Guan (1996). Study on.... debris flow initiation by Atuação em projetos e consultoria ao longo de sua carreira

means of Catastrophe Theory.


Revista Brasileira de Engenharia de Barragens Nº 12, Junho 2022. Artigo publicado por Felipe GOBBI
Znamensky, D.V e Gobbi, F. A diferença entre as corridas detríticas e as rupturas dos Engenheiro Civil (UFRGS/2002), Mestre (UFRGS/2005)
taludes, Páginas 107-113. e Doutor (Univ. Coimbra/2011). Professor na Unisinos
(2016/2022) de Mecânica dos Solos. Diretor técnico da
Sadowski, G.R.; kanji, M.A.; motidome, M. Condicionamentos Geologicos do
Geobrugg no Brasil, atua em projetos e pesquisas de fluxos
Escorregamento do Km42 da Via Anchieta, Pista Sul. In: III Conferencia Brasileira de
de detritos.
Estabilidade de Encostas (III COBRAE), 2001, Rio de Janeiro. III Conferencia Brasileira de
Estabilidade de Encostas (III COBRAE). Rio de Janeiro: ABMS / NRRJ, Anais, 2001. v. 1. Bruno DENARDIN
Saunders, P.T. (1980). An introduction to catástrophe theory. Formado na UFSM em 2012 e Mestre pela UFRGS em 2015.
Thom, R. (1973). Stabilité Structurelle et Morphogénèse. Foi Professor entre 2017 e 2022 de Mecânica dos Solos. Atua
Yablonskiy, V.V., Tishenko, A.S., Deziron, A.V. e Boeva, E.G. (1992). Debris flows in em projetos e pesquisas de fluxos de detritos na Geobrugg
the Ukraine. (desde 2012).
Zeeman, E.C. (1976). Catastrophe Theory.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 61


SEGURANÇA DE BARRAGENS

PROPOSTA DE PLANO
DE TRABALHO PARA
OPERACIONALIZAÇÃO DO PLANO
DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA (PAE)
COM FOCO EM ÁREA URBANA -
ESTUDO DE CASO: BARRAGEM
DE RESÍDUO INDUSTRIAL NO
MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA
Alefe Kaue da Silva do CARMO | Especialista em Segurança de Barragens - Instituto
Pesquisa Tecnológico (IPT)

RESUMO ABSTRACT

Um dos quesitos mais importantes para a operacionalização do Plano One of the most important requirements for the operationalization of
de Ação de Emergência (PAE) em barragens em área urbana é engajar a the Emergency Action Plan (PAE), for dams in urban areas, is to inform
comunidade envolvida, mantendo a conformidade dos procedimentos and engage the community involved, maintaining compliance with
com as leis, normas e portarias vigentes. Seu objetivo é disponibilizar the procedures in force with the laws, regulations and ordinances.
um conjunto de procedimentos em caso de emergência, visando Its purpose is to provide a set of procedures for emergency cases,
minimizar impactos ambientais e à população. Esses procedimentos with a view to minimizing impacts on the environment and the
englobam cinco elementos: detecção, tomada de decisões, notificação, population. These procedures encompass five elements: detection,
alerta e/ou aviso e evacuação. A responsabilidade em relação aos três decision-making, notification, alert and/or warning, and evacuation.
primeiros elementos é do proprietário da barragem. As autoridades Responsibility for the first three elements lies with the dam owner, and
locais são responsáveis pelos dois últimos itens. Esse artigo pretende local authorities are responsible for the last two. This article intends to
apresentar o bom resultado da metodologia proposta, demonstrando present the good result of the proposed methodology, demonstrating
sua eficácia através de estudo de caso e avaliação qualitativa da its effectiveness through the case study and qualitative evaluation of
população participante na implantação do PAE no município de Juiz de the population participating in the implementation of the PAE in the
Fora (MG) em uma barragem de resíduo industrial. municipality of Juiz de Fora in an industrial waste dam.
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1. INTRODUÇÃO barragens instaladas no estado mineiro. Inclusive, tal legislação
instituiu a auditoria técnica de segurança (sob responsabilidade
1.1. PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA E PLANO DE do empreendedor) com a periodicidade definida em função do
CONTINGÊNCIA potencial de dano ambiental da barragem.
Além disso, a PESB tem como principal foco o processo de
O Plano de Ação de Emergência (PAE), através da Lei nº aprovação do Plano de Ação de Emergência (PAE) a partir da
12.334/2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança ampliação de estudos, que antes eram exigidos no processo de
de Barragens, em seu artigo 3º - VIII, define procedimentos licenciamento ambiental do empreendimento. Esse novo escopo
emergenciais e fomenta a atuação conjunta de empreendedores, de PAE e a obrigatoriedade da execução de simulados para
fiscalizadores e órgãos de proteção e defesa civil em caso de obtenção do certificado de aprovação faz com que a população
incidente, acidente ou desastre em alguma barragem brasileira. vivencie um momento atípico, com diversas demandas e interações
A Lei nº 12.608/2012 instituiu a Política Nacional de Proteção por diferentes atores públicos e privados.
e Defesa Civil, a qual estabelece orientações para o Plano de É importante salientar que, no estado mineiro, o PAE deixou de
Contingência (PLANCON). Previamente elaborado, o Plano ser um documento operacional. A partir das legislações vigentes,
serve para orientar as ações de preparação e resposta para um como o Decreto Estadual nº 48.078/202, o PAE passou a ter formato
determinado cenário de risco no país. Caso o evento adverso venha a de um acervo de estudos para o mapeamento dos impactos a
se concretizar, o documento apresenta minimamente a identificação serem gerados pelo hipotético rompimento de barragens.
do cenário de risco, da área de impacto potencial e da população Cada vez mais, é necessário reforçar que o Plano de Trabalho
vulnerável. O Plano possui a indicação das responsabilidades de tem a missão de integrar os agentes privados e públicos envolvidos
cada órgão na gestão de desastres, especialmente quanto aos na gestão das emergências para que ocorra a participação
aspectos de preparação, resposta e recuperação. da população em todas as etapas, dando transparência e
Ainda nesse contexto, o artigo 12, da Lei nº 12.334/2010, conhecimento à comunidade envolvida, conforme preconiza a
determina a necessidade do empreendedor, trabalhando de Política Nacional de Segurança de Barragens, regulamentada pela
forma conjunta com a Defesa Civil municipal, estabelecer métodos Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010, em seu artigo 12.
e estratégias de alerta, orientação e comunicação à população
impactada da Zona de Autossalvamento (ZAS) constante no PAE,
bem como determina os processos que devem ser adotados 2. PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DO PAE
em circunstâncias emergenciais. Tais medidas colaboram com o
desenvolvimento e com a implantação do Plano de Ações nas áreas O Plano de Trabalho é apresentado de maneira a estruturar um
de alcance da mancha de inundação (para a operacionalização de caminho a ser percorrido por diferentes atores para a construção
uma eventual emergência em barragem). de uma cultura de prevenção ao longo do processo de integração
O PLANCON, em seu artigo 8º - XV, estimula a participação do do PAE com o PLANCON, como é mostrado na Figura 1.
empreendedor na construção
dos elementos necessários para
o desenvolvimento dos Planos
de Contingência em toda a
área da mancha de inundação,
e oferece suporte técnico no
desenvolvimento dos documentos,
incluindo a produção de audiências
públicas e simulados.¹ No estado
de Minas Gerais, diversas
legislações foram publicadas para
regulamentar a Política Estadual de
Segurança de Barragens (PESB). A
Lei n° 23.291/2019, que instituiu essa política, estabelece orientações
para aumentar a qualidade e potencializar o monitoramento nas Figura 1 – Macro fluxo do Plano de Trabalho (Fonte: autor)

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PROPOSTA DE PLANO DE TRABALHO PARA OPERACIONALIZAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA (PAE) COM FOCO EM ÁREA URBANA - ESTUDO DE CASO

O ordenamento das etapas foi construído para facilitar o de acordo com os eventos a serem executados, sendo que
formato de trabalho, atender a demanda da instalação do reuniões quinzenais com duração de uma hora costumam
sistema de comunicação em massa e executar o cadastramento ser um período considerado satisfatório (deixando em
socioeconômico sem gerar ruído de comunicação na comunidade. aberto reuniões técnicas com a Defesa Civil e demais
Os MARCOS são as ações de responsabilidade exclusiva do órgãos de proteção em período posterior às agendas já
empreendedor, buscando uma dinâmica de centralização da estabelecidas).
gestão das articulações. • ETAPA 2 - Identificação e mapeamento de stakeholders
(partes interessadas): O mapeamento e a análise de stake-
• MARCO A - Definição da estratégia: O primeiro marco holders (partes interessadas) são resultados da identificação
do empreendedor é a produção do Plano de Trabalho, dos diversos públicos de interesse. De forma articulada com
que deverá ser realizado após a elaboração da mancha de o cadastramento socioeconômico, estabelecem as bases
inundação e a validação na Defesa Civil municipal. para o desenvolvimento do Plano de Comunicação.
• MARCO B - Elaboração do Plano de Comunicação: O Plano • ETAPA 3 - Execução do Plano de Comunicação: Como
de Comunicação tem o objetivo de avaliar quais canais estratégia metodológica, o Plano de Comunicação deverá
de comunicação são disponíveis, efetivos, estratégicos e ter diferentes tipos e intensidades de comunicação,
sua periodicidade, para que sejam planejados os recursos adaptadas ao perfil dos diferentes stakeholders junto
e investimentos para uma boa comunicação com as às comunidades e ao território social. As campanhas de
comunidades que terão suas dinâmicas sociais alteradas comunicação devem ocorrer por “ondas”, tendo em vista
com a realização dos exercícios práticos de simulados. as temáticas de interação social direta e possíveis ruídos
• MARCO C - Mapeamento do sistema sonoro de comuni- com os públicos flutuantes (pessoas que transitam na
cação em massa: Com o cadastramento socioeconômico comunidade, porém originários de outros bairros).
concluído, é papel do empreendedor preparar um sistema • ETAPA 4 - Cadastro socioeconômico: Cada imóvel
de comunicação em massa, podendo ser através de carros presente na mancha de inundação deverá ser visitado até
de som, rádios comunitárias, sirenes e/ou canais de grande três vezes, em dias e horários diferentes, incluindo finais de
mídia local (televisão ou emissoras de rádios). semana, no intuito de fazer o maior número de entrevistas
• MARCO D - Revisão do fluxograma de notificação de possível. Os locais onde não forem encontrados ocupantes,
emergência: Após a elaboração do Plano de Evacuação, porém com indícios de ocupação, podem ser considerados
é necessário atualizar o fluxograma de notificação do PAE “fechados”. Nos imóveis onde não forem localizados
durante o período de reuniões públicas. Devem ficar bem ocupantes, o registro será feito como “vago”.
definidos o papel e a responsabilidade de cada órgão na • ETAPA 5 - Elaboração do Plano de Evacuação: As rotas
operacionalização do PAE a partir de cada nível de emergência. de fuga e os pontos de encontro devem ser definidos com
• MARCO E - Implantação do sistema de comunicação em base na forma de ocupação do território (ocupações mais
massa: Com as reuniões públicas validando toda a estratégia adensadas ou isoladas) e com base no perfil das famílias
apresentada nos Plano de Evacuação, PAE e PLANCON, é cadastradas, uma vez que as rotas de evacuação sugeridas
papel do empreendedor buscar a implantação dos sistemas devem permitir rápido acesso aos pontos de encontro.
ou dar condições para a implantação do sistema sonoro Demais critérios, como infraestrutura, acessibilidade
de comunicação em massa, conforme artigo 12 da Lei n° e segurança devem ser considerados na definição dos
12.334/2010. pontos de encontro.
• ETAPA 6 - Reunião pública para validação do Plano de
As ETAPAS buscam o envolvimento de diferentes atores, Evacuação: As reuniões devem ser agendadas em horários
principalmente, o da comunidade local, através das lideranças acessíveis para todos, com a participação de toda a
comunitárias, dando voz à sociedade civil e colocando-a no centro comissão mista. O foco é oferecer à comunidade o resultado
das tomadas de decisões. do trabalho de campo e discutir com todos os envolvidos
as mudanças necessárias no bairro, como a implantação
• ETAPA 1 - Composição da comissão mista: É composta de placas de sinalização e a definição de lugares a serem
a partir de reuniões em formato online ou presencial. O resguardados para uso de ponto de encontro e de abrigos
papel do grupo de trabalho é utilizar uma periodicidade provisórios, em situação emergencial.

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• ETAPA 7 - Execução dos treinamentos e simulados: A prem- fuga. A etapa de caracterização deverá envolver, além
issa desta atividade é a construção coletiva e/ou participati- da Defesa Civil municipal, outros órgãos de resposta à
va com as lideranças locais e os atores envolvidos no con- emergência (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
texto dos exercícios práticos de evacuação. Por essa razão, é (SAMU), Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia
sugerido o uso de treinamento porta a porta para lideranças ambiental, Polícia Rodoviária e Guarda Municipal), com o
voluntárias e o treinamento dos participantes da comissão objetivo de buscar melhor clareza na definição dos pontos
mista antes do teste do sistema de comunicação em massa. de encontro e dos abrigos provisórios, sustentando o
planejamento a ser construído dentro do PLANCON.
Nas FASES, cabe ao poder público, representado pela Defesa • FASE 4 – Consolidação: Nessa fase deverá ser realizada
Civil municipal, dar condições de diálogo e de articulação a revisão dos procedimentos, de responsabilidade do
com as demais secretarias municipais, bem como incentivar o empreendedor, e serão feitas, na Etapa 6, a revisão e
engajamento das partes interessadas com o intuito de utilizar os a atualização da divulgação do resultado construído
recursos já existentes para uma resposta à emergência. nas etapas anteriores, através de reuniões públicas
e atualização do fluxograma de notificação. O nome
• FASE 1 – Preparação: A primeira fase inicia-se com a consolidação se dá porque é nessa fase que o plano se
definição da estratégia a ser utilizada, que será sugerida torna público e vigente perante todos os atores presentes.
pelo empreendedor com a construção do Plano de Trabalho • FASE 5 – Validação: Inicia-se com a implantação do sistema
e validada com as Defesas Civis municipais. Dentro desta de comunicação em massa nas áreas selecionadas no Marco
fase será realizada a Etapa 1, que consiste na composição C – Mapeamento do sistema sonoro de comunicação em
da comissão mista, assim como a Etapa 2, em que será massa, dentro da ZAS. Em seguida, será realizada a Etapa 7,
realizada a identificação e o mapeamento de stakeholders a última do Plano de Trabalho e que consiste na execução
(partes interessadas). Cabe, nessa etapa, à Defesa Civil dos treinamentos e simulados realizados pela comissão
municipal, buscar dialogar com os demais órgãos para mista. A partir do exercício prático, o poder público poderá
participarem da agenda estabelecida para discutir papéis e avaliar sua capacidade de resposta à emergência, bem
responsabilidades com as diferentes secretarias municipais. como a comunidade poderá reconhecer os sistemas de
O nome “preparação” foi estabelecido em função do poder proteção implantados na Etapa 5 - Plano de Evacuação
público precisar se organizar com o empreendedor para o (placas de rotas de fuga e pontos de encontro), e o
devido envolvimento das lideranças comunitárias. empreendedor poderá verificar se o fluxo de notificação
• FASE 2 – Divulgação: A segunda fase parte da elaboração é vigente e se considerou todos os cenários, conforme o
do Plano de Comunicação, que será realizado pela Marco D, com seus respectivos papéis e responsabilidades.
comissão mista. No decorrer desta fase será implementada
a Etapa 3 – Execução do Plano de Comunicação, que
consiste no uso dos canais de comunicação pela comissão
3. ESTUDOS DE CASO: APLICAÇÃO DA
mista, pré-estabelecidos no Marco B – Elaboração do Plano
de Comunicação. Após a definição dos principais canais METODOLOGIA DE TRABALHO EM
de comunicação, caberá ao grupo, de forma conjunta e ETAPAS NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA
harmoniosa, levar a informação à comunidade mapeada
dentro da mancha de inundação. O município brasileiro de Juiz de Fora fica no interior do estado
• FASE 3 – Caracterização: Essa fase se inicia com a de Minas Gerais. Localiza-se na zona da Mata , a sudeste da capital,
definição, pela comissão mista, dos territórios que serão e dista cerca de 283 km de Belo Horizonte. Sua população é de
parte do mapeamento fundiário para a implantação do 516.247 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
sistema de comunicação em massa. Estão inseridas nessa Estatística (IBGE/2010). Trata-se do quarto município mais populoso
fase a Etapa 4, que consiste na realização do cadastro de Minas Gerais e o 36º do Brasil.
socioeconômico da Zona de Autossalvamento (ZAS), a O Plano de Trabalho foi implantado na mancha de inundação
ser realizada pelo empreendedor, e a Etapa 5, referente à das duas barragens de resíduo industrial localizadas na região de
elaboração do Plano de Evacuação, onde serão definidas Igrejinha, divisa com a região urbana do município de Juiz de Fora,
pela comissão mista os pontos de encontro e as rotas de no bairro Benfica.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 65


PROPOSTA DE PLANO DE TRABALHO PARA OPERACIONALIZAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA (PAE) COM FOCO EM ÁREA URBANA - ESTUDO DE CASO

• ETAPA 1 – Comissão Mista - A primeira comissão mista, Ao todo foram realizadas 16 reuniões da comissão mista ao
apresentada na Figura 2, foi constituída em junho de 2021, longo dos meses de junho de 2021 a março de 2022.
após diversas reuniões práticas de contextualização com os
stakeholders para validar a agenda de trabalho e esclarecer • ETAPA 02 – Mapeamento de Stakeholders - O mapeamento
a metodologia da trilha de trabalho por etapas - para uma de stakeholders teve por finalidade identificar as partes
oportunidade de co-criação e interfaces. interessadas, avaliar suas percepções e apresentar uma
análise aprofundada sobre o atual cenário, no qual o
empreendedor se encontra frente às percepções dos
integrantes pertencentes aos grupos de corresponsáveis
(público interno e influenciadores, impactados diretamente
e indiretamente). Ao todo foram entrevistadas 44 pessoas
de um levantamento final de 55 stakeholders citados no
fluxograma de notificação do PAE.
• ETAPA 3 - Execução do Plano de Comunicação em massa
- O Plano de Comunicação e Relacionamento partiu da
premissa da comunicação de “via de mão dupla”, na qual
o empreendedor repassa informações e, por outro lado,
se ajusta a partir das impressões e informações de seus
interlocutores. As ações de comunicação seguiram fluxos
distintos nas comunidades jusantes das barragens. Na
localidade vizinha ao empreendimento, a comunicação
visual (cartazes, folders, faixas e banners) se fez mais
eficiente, enquanto nos bairros mais populosos e com
uma população flutuante maior, a comunicação audível
(rádios e carros de som) foi definida como mais adequada.

Figura 2 – Evidência de realização da comissão


mista em formato online (Fonte: autor)

-A partir da primeira comissão mista, foram feitos encontros


em formato online, oriundos da complexidade da pandemia e
pela dificuldade de encontros presenciais em função das agendas
dos participantes, evitando a necessidade de deslocamento das Figura 3 - Tenda Informativa na Feira Livre do bairro Benfica (Fonte: autor)
lideranças comunitárias para diferentes lugares. A periodicidade
das reuniões foi acordada pensando na necessidade de apresentar • ETAPA 04 - Cadastramento socioeconômico - Após a
entregas ao longo dos meses e de ratificar em campo, dando a definição da ZAS, iniciou-se o cadastro socioeconômico
oportunidade do empreendedor validar os conteúdos na semana das comunidades localizadas dentro da mancha de
subsequente com outros participantes que não estavam na inundação na zona Norte do município de Juiz de Fora. O
reunião da comissão mista. cadastramento ocorreu no período de 23 de agosto de

66 WWW.CBDB.ORG.BR
2021 a 26 de novembro de 2021, com o intuito de mapear
a disposição da ocupação dentro da área influenciada, o
número de moradores fixos e esporádicos para cada área,
bem como o fluxo de pessoas que frequentam instituições
de ensino e estabelecimentos comerciais e religiosos
na região. Todos os protocolos contra o Covid-19 foram
seguidos pela equipe, com utilização de máscaras, álcool gel,
distanciamento social e realização de testes regularmente.
• ETAPA 5 - Elaboração do Plano de Evacuação (pontos
de encontro e rotas de fuga) - O Plano de Evacuação foi
elaborado após a realização do cadastro socioeconômico
das comunidades, passando por uma primeira proposta
do empreendedor e uma discussão em campo com
o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil municipal,
em conjunto com as lideranças comunitárias. Nessa
etapa foram validadas as rotas de fuga com o Corpo
de Bombeiros, mostrado na Figura 18, pensando em
diferentes usuários e na dinâmica de fluxo de grande
número de pessoas. Posteriormente, foram validados
os pontos de encontro com a Defesa Civil municipal,
em lugares abertos, com área suficiente para atender a
Instrução Técnica 1 da CEDEC.

Figura 4 - Validação dos pontos de encontro e das rotas de fuga


(Fonte: autor)

• ETAPA 6 - Reuniões públicas para validação do Plano


de Evacuação - A validação do Plano de Evacuação foi
amplamente discutida. Inicialmente, pela comissão
mista; posteriormente, pela comunidade, que teve a Figura 5 – Mosaico de registros de reuniões
oportunidade de avaliar e propor adequações a partir das públicas realizadas (Fonte: autor)
reuniões públicas, exemplificadas na Figura 5.
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 67
PROPOSTA DE PLANO DE TRABALHO PARA OPERACIONALIZAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO DE EMERGÊNCIA (PAE) COM FOCO EM ÁREA URBANA - ESTUDO DE CASO

Após essa etapa, foi apresentado um cronograma para o início


da implantação das placas de sinalização de rotas de fuga e dos
pontos de encontro. Durante as reuniões públicas, as comunidades
passaram a legitimar o Plano de Evacuação e a entender o papel
do poder público, do empreendedor e da própria comunidade.

• ETAPA 7 – Treinamentos, simulados práticos de evacuação


e teste do sistema de comunicação em massa- A expecta-
tiva de participação da população no exercício simulado se
consolidou em 3.533 pessoas. Esse quantitativo baseou-se
no cadastramento socioeconômico que antecedeu o exer-
cício de simulado. Como fundamentação metodológica do
referido levantamento, foi estabelecida a contemplação dos
imóveis circunvizinhos, definidos como parte integrante de
seus respectivos setores de evacuação. Dessa forma, um
número maior de imóveis foi considerado no exercício de
evacuação, como pode se observar nas Figuras 6 e 7.

Figura 7 – Simulado, 10/04/2022, em Benfica (Fonte: autor)

4. CONCLUSÃO
O Plano de Trabalho mostrou-se satisfatório por não ser um
método rígido. Apresenta facilidade de mudanças desde a sua
construção, em etapas, e pela sinergia de validação em diferentes
fóruns (comissão mista e reunião pública).
Os marcos são produtos a serem produzidos pelo
empreendedor como ponto de partida para buscar a participação
do poder público.
As etapas foram idealizadas para a aplicação focada em
produtos, como relatórios, mapas ou fluxogramas, que poderão
fazer parte do PAE e são fruto da necessidade de interação com
a comunidade local. O empreendedor poderá usufruir dessas
interações para atualizar seus planos e estudos, que fazem parte
dos documentos técnicos com foco na prevenção.
Figura 6 – Simulado 07/04/2022 na região de Igrejinha (Fonte: autor) As fases são percebidas pela interação com diferentes
secretarias municipais e envolvimento de outros órgãos estaduais
com foco na construção de uma cultura de prevenção no município
A adesão da população foi de aproximadamente 50%, resultado de Juiz de Fora.
considerado satisfatório, tendo em vista que era o primeiro Com a mudança da legislação e o acréscimo de um trecho
exercício de simulado realizado na região de Benfica - impactado urbano para operacionalização do PAE, um formato colaborativo se
negativamente pela então conjuntura de pandemia ocasionada consolidou como o melhor caminho a ser percorrido diante do atual
pela Covid-19. cenário da reputação das barragens no estado de Minas Gerais.

68 WWW.CBDB.ORG.BR
5. PALAVRAS-CHAVE [5] ROCHA, M. A. G.; GUIMARÃES, R. B.; NETA, Z. F. L. (2020) - “Barragens Órfãs:
Estudo de Caso da Barragem de Juturnaíba, Localizada no Estado do Rio de
Janeiro.” Anuário do Instituto de Geociências, v. 43, n. 1, p. 311-319.
Simulado, comunidade, PAE, área urbana, Plano de Comunicação,
[6] DUARTE, A. P. (2008) ¬¬- “Classificação das barragens de contenção de rejeitos
integração, barragem. de mineração e de resíduos industriais no estado de minas gerais em relação
ao potencial de risco.” Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Pós-

6. REVISÃO BIBLIOGRAFICA Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Belo Horizonte.

[1] BRASIL. (2017) - “Deliberação Normativa COPAM Nº 217.” Estabelece critérios


para classificação, segundo o porte e potencial poluidor, bem como os critérios
locacionais a serem utilizados para definição das modalidades de licenciamento ALEFE KAUE DA SILVA DO CARMO
É Engenheiro Civil pela Universidade Mogi das Cruzes
ambiental de empreendimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais
(UMC/2017), Especialista em Segurança do Trabalho
no Estado de Minas Gerais e dá outras providências
(USP/2019), Especialista em Segurança de Barragens
[2] RAMOS, G. M. P. D. et al. (2020) - “Estudo dos requisitos necessários para
(IPT/2021) e Especialista em Mineração e Meio Ambiente
a segurança em uma barragem de rejeitos.” Revista Tecer, v. 13, n. 24, p. 1-13.
(PUC-MG/2023). Tem experiência em PAEBM, Geotecnia,
Belo Horizonte – MG. Instrumentação e Gestão de Riscos de Segurança de
[3] LEITE, T. M. G.; VALÉRIO, I. F.; ALVIM, E. S. (2021) - “Estudo e Análise de Barragens por meio de estudos e programas de auditorias. .
Metodologias Preventivas para Segurança de Barragens.” Engenharia no Século
XXI, v. 8, cap. 6, p. 56.
[4] SOUZA, E. R. M. et al. (2021) - “Estudo epidemiológico de avaliação do
aumento da incidência de arboviroses em consequência ao rompimento de
barragens em Minas Gerais” Brasil. v. 10, n. 1, p. 1-11. Amazônia – PA.

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GEOTECNIA E FUNDAÇÕES

DETERMINAÇÃO DO HISTÓRICO
DE TENSÕES DE UM SOLO
TROPICAL POR MEIO DE
ENSAIOS DE CAMPO E
LABORATÓRIO
Guilherme Henrique da Silva PINTO | Engenheiro Geotécnico – Pimenta de Ávila
Mauro Pio dos Santos JÚNIOR | Coordenador de Geotecnia – Pimenta de Ávila

RESUMO ABSTRACT

Com o aumento da complexidade das obras geotécnicas, torna-se With the increasing complexity of geotechnical engineering
necessária a caracterização abrangente dos solos para determinar, works, it is necessary to perform a very thorough assessment
dentre outros aspectos, a sua resistência e rigidez, sendo que tais of the soils to determine, among other things, its strength and
propriedades dependem diretamente do histórico de tensões ao rigidity, proprieties that are related to its stress history. Many of
qual o solo foi submetido. Muitas das correlações apresentadas na the correlations presented in the literature to evaluate the stress
literatura para avaliação do histórico de tensões do solo por meio history of the soils based on the Cone Penetration Test (CPTu)
do ensaio de piezocone (CPTu) foram desenvolvidas para solos were developed for soils from temperate zones which could lead
oriundos de zonas temperadas, podendo apresentar divergências to differences when applied to tropical soils. The present study
quando aplicados aos solos tropicais. O presente trabalho tem como aims to evaluate multiple correlations for the determination of
objetivo avaliar diversas correlações para a determinação do histórico the stress history of Brazilian tropical soil, comparing results
de tensões de um solo tropical brasileiro, comparando resultados obtained by field (CPTu) and laboratory tests (One-Dimensional
obtidos por meio de ensaios de campo (CPTu) e de laboratório Consolidation). The results obtained shows the limitations of
(adensamento oedométrico). Os resultados obtidos reforçam as the correlations based on excess porepressure measured behind
limitações das metodologias baseadas nas leituras de poropressão the cone tip (u2 location) to estimate the overconsolidation ratio
durante a cravação do cone, lidas na posição u2, para a estimativa das (OCR) in overconsolidated soils.
razões de pré-adensamento (OCR) em solos pré-adensados.

70 WWW.CBDB.ORG.BR
1. INTRODUÇÃO metodologias quando aplicadas em solos tropicais, principalmente,
comparando-se os resultados com dados de ensaios de laboratório,
O entendimento das propriedades do solo é de suma como o ensaio de adensamento oedométrico, de forma a validar
importância na fase de elaboração de projetos geotécnicos, os resultados obtidos com os ensaios de campo.
seja para garantir que os dimensionamentos serão realizados Conforme descrito pela ASTM D5778-20 [5], a realização do
com segurança ou para avaliar oportunidades de otimização no ensaio CPTu consiste na cravação de uma ponteira cônica (com 60º
projeto. Com o aumento da complexidade das obras geotécnicas, no ápice) de seção transversal média de 10 cm² com velocidade
torna-se necessário o melhor entendimento de parâmetros do padronizada de 20±5 mm/s, sendo registradas leituras a cada 2
solo, como a resistência e a rigidez. Para tal, torna-se indispensável a 5 cm, em média. Atrás do cone existe uma célula de medição
a realização de campanhas de ensaios de campo e de laboratório do atrito lateral do solo com área transversal de 150 cm² e um
para a investigação do solo de forma abrangente e completa. sensor de pressão para a medida da poropressão gerada durante a
Uma das propriedades que impacta diretamente na resistência cravação do cone. O ensaio retorna três medidas principais: (i) qc,
e na deformabilidade dos solos é o histórico de tensões ao que consiste na resistência do solo à cravação do cone; (ii) fs, que
qual o solo foi submetido. Quando o solo está submetido a um mede a aderência do solo à luva de atrito; e (iii) u2, a poropressão
carregamento inferior à sua máxima tensão histórica (i.e., a máxima gerada durante a cravação do piezocone, medida atrás da ponteira
tensão efetiva sob a qual uma dada camada de solo já esteve cônica. Além disso, é comum a realização de ensaios de dissipação
exposta), caracteriza-se o material em condição pré-adensada. A de poropressão para determinar a poropressão de equilíbrio do
bibliografia mostra que argilas altamente pré-adensadas tendem a meio (u0). Tal ensaio consiste na parada temporária da cravação
dilatar durante o cisalhamento. Sob condições não drenadas, esta do cone e medição da dissipação da poropressão no tempo [5].
tendência à dilatação se converte em geração de poropressões Robertson (2010) [6] indica a existência de variáveis preferenciais
negativas, que tendem a aumentar as tensões efetivas no para utilização em correlações geotécnicas a depender do
arcabouço do solo e, assim, sua resistência ao cisalhamento [1]. tipo de solo (pré-adensado ou normalmente adensado), como
O oposto ocorre quando os solos se encontram em condição apresentado na Figura 1.
normalmente adensada (i.e., quando o carregamento aplicado
supera a máxima tensão efetiva experimentada pelo solo). Nestes
casos, os solos tendem a exibir um comportamento de contração
durante o cisalhamento, que irá refletir na geração de excesso
de poropressão positivo quando em condições não drenadas,
reduzindo as tensões efetivas no interior da massa de solo. Dessa
forma, há a redução de sua resistência ao cisalhamento [2].
Do ponto de vista de deformabilidade, solos normalmente
adensados tendem a sofrer maiores deformações quando sujeitos
a uma mesma variação de tensões efetivas se comparado ao
mesmo solo em condições pré-adensadas [1, 2]. Sendo assim, a
determinação da máxima tensão à qual o solo já foi submetido e
Figura 1 – Variáveis preferenciais para correlações, segundo
a razão de pré-adensamento (Overconsolidation Ratio - OCR) são
Robertson (1990) [6]
parâmetros fundamentais para o entendimento da resistência e
deformabilidade dos solos.
Diversos autores propuseram formulações para avaliar o O objetivo deste trabalho é comparar os resultados obtidos para
histórico de tensões dos solos utilizando correlações com dados de a avaliação do histórico de tensões de um solo tropical por meio
ensaios de campo, como o ensaio de piezocone (Cone Penetration de correlações propostas na bibliografia a partir do ensaio CPTu e
Test – CPTu), dentre os quais destaca-se o trabalho realizado por de ensaios de laboratório. Esta análise tem por objetivo avaliar a
Agaiby e Mayne, 2018 [3] e Chen e Mayne 1996 [4]. Entretanto, aplicabilidade de metodologias propostas para determinação da
a maior parte das publicações e correlações desenvolvidas razão de pré-adensamento (OCR) utilizando diferentes parâmetros
foram baseadas em solos provenientes de regiões temperadas, obtidos do ensaio CPTu, como a resistência de ponta corrigida (qt),
podendo apresentar divergências se aplicadas diretamente em a resistência de ponta efetiva (qt-u2) e o excesso de poropressão
solos tropicais. Portanto, torna-se indispensável a avaliação de tais medido durante a cravação do cone (Δu).

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 71


DETERMINAÇÃO DO HISTÓRICO DE TENSÕES DE UM SOLO TROPICAL POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO E LABORATÓRIO

2. METODOLOGIA Outra metodologia utilizada para determinar o OCR é proposta


por Chen e Mayne (1996) [4], conforme apresentado nas
Este estudo apresenta análise comparativa de metodologias formulações abaixo.
para a determinação do OCR a partir do ensaio de CPTu, sendo [6]
utilizadas as formulações propostas por Agaiby e Mayne (2018)
[3] e Chen e Mayne (1996) [4]. Para avaliar os resultados obtidos [7]
pelas correlações com o ensaio CPTu, os valores encontrados
foram comparados com um resultado de ensaio de adensamento Em que:
oedométrico realizado segundo a ASTM D2435-04 [7]. Além IP – Índice de Plasticidade (Limite de Liquidez – Limite de
disso, com base no ensaio de CPTu, foi realizada a classificação Plasticidade).
comportamental proposta por Robertson (2016) [8]. A classificação estratigráfica do solo foi realizada utilizando
Agaiby e Mayne (2018) [3] desenvolveram formulações para o Sistema de Classificação Comportamental Normalizado (Soil
determinar o OCR dos solos por meio de uma formulação híbrida Behavior Type – SBTn) apresentado por Robertson (2016) [8].
de expansão de cavidades e mecânica do solo em estado crítico. O trabalho do autor aponta que os métodos de classificação
A metodologia sugerida pelos autores propõe a determinação do do solo desenvolvidos com base no ensaio CPTu possuem um
Índice de Rigidez do solo (IR), apresentada abaixo. viés comportamental, refletindo as condições in situ do solo. Tal
proposta difere dos sistemas de classificação desenvolvidos com
[1] base em propriedades físicas (distribuição granulométrica e os
limites de Atterberg).
Para a realização da classificação do solo, o autor propõe o
Em que: índice IB, calculado segundo a Equação 8 [8], classificando o solo
IR – Índice de Rigidez; em três classes comportamentais: (i) IB < 22 para solos argilosos
M – Inclinação da linha de estado crítico no espaço p’ x q; e (clay-like); (ii) 22 < IB < 32 para solos de comportamento transicional
aq – Inclinação do gráfico de u2 - σv0 (ordenadas) por qt - σvo (transitional); e (iii) IB > 32 para solos arenosos (sand-like).
(abcissas).
[8]
Com base na Equação 1, os autores propuseram três
equacionamentos independentes para o cálculo de OCR, sendo: A formulação anterior baseia-se na resistência de ponta
i) baseada na resistência de ponta total corrigida (qt) (Equação 2); normalizada (Qtn) e no atrito lateral normalizado (Fr). Tais parâmetros
ii) baseada na resistência de ponta efetiva (qt-u2) (Equação 3); e podem ser obtidos com base nas Equações 9 e 10, sendo o expoente
iii) baseada no excesso de poropressão (u2–u0) (Equação 4). O n aproximadamente igual a 1 para materiais argilosos, como o solo
expoente λ é calculado segundo a Equação 5 com base no ensaio tropical analisado (Robertson e Cabal, 2022 [9]).
de adensamento oedométrico.
[9]
[2]
[10]
[3]
Além disso, o autor apresenta o parâmetro CD para avaliar o
[4] comportamento ao cisalhamento, conforme apresentado abaixo.
Para valores superiores a 70 (CD > 70), tem-se comportamento
[5]
dilatante ao cisalhamento, e valores inferiores a 70 (CD < 70),
Em que: comportamento contrátil ao cisalhamento. Cabe destacar que a
qt – Resistência de ponta corrigida (obtido por qt = qc +0,8*u2); envoltória CD = 70 foi desenvolvida pelo autor considerando uma
σv0 – Tensão total vertical; isolinha de OCR ≥ 4 na região de solos argilosos e transicionais [8].
σ’v0 – Tensão vertical efetiva;
Cr – Inclinação da reta de recompressão; e
Cc – Inclinação da reta virgem. [11]

72 WWW.CBDB.ORG.BR
No mesmo trabalho, o autor apresenta o parâmetro
normalizado de poropressão (Bq), o qual é utilizado também para
a avaliação do comportamento e de condições de drenagem do
litotipo estudado. Tal parâmetro pode ser obtido conforme a
Equação 12 apresentada abaixo [8].

[12]

Em complemento, foram realizados os seguintes ensaios de


caracterização do solo: i) teor de umidade natural (wnat), segundo
a NBR 6457 [10]; ii) determinação do Limite de Plasticidade (LP),
segundo a NBR 7180 [11]; iii) determinação do Limite de Liquidez
(LL), segundo a NBR 6459 [12]; e iv) determinação da distribuição
granulométrica, segundo a NBR 7181 [13].
Figura 3 – Resultado do ensaio de adensamento oedométrico

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da classificação proposta por Robertson (2016) [8], foram
identificados cinco litotipos, conforme indicado na Figura 4. A avaliação
A Figura 2 apresenta os resultados obtidos com os ensaios de do solo tropical no aspecto do histórico de tensões é detalhada em
caracterização. De uma forma geral, o solo tropical analisado é sequência. A poropressão de equilíbrio foi assumida como hidrostática,
classificado como argila de alta plasticidade com percentual médio tendo em vista a ausência de ensaios de dissipação de poropressão.
de 60% de argila, 30% de silte e o restante composto das frações Foram observadas as seguintes características dos materiais:
arenosas, segundo o critério da NBR 7181 [13].
A tensão de pré-adensamento obtida no ensaio de I. Aterro compactado: Material majoritariamente argiloso (IB
adensamento oedométrico é apresentada na Figura 3. Utilizando < 22) com lentes de material transicional (22 < IB < 32).
o método de Casagrande [14], foi obtido um valor de 300 kPa, Apresenta comportamento dilatante no cisalhamento (CD
sendo o parâmetro λ igual a 0,85. > 70) e poropressão de cravação negativa (u2 < 0);

Figura 2 – Resumo
dos ensaios de
caracterização

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 73


DETERMINAÇÃO DO HISTÓRICO DE TENSÕES DE UM SOLO TROPICAL POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO E LABORATÓRIO

II. Estéril não compactado: Material com comportamento Para a determinação do OCR utilizando a metodologia proposta
de solo argiloso (IB < 22), contrátil (CD < 70), apresenta por Agaiby e Mayne (2018) [3], se faz necessário a determinação
poropressão praticamente nula (u2 ≈ 0) e resistência de do parâmetro aq. Este parâmetro foi calculado utilizando apenas
ponta da ordem de 1.500 kPa; os dados relativos ao estrato do solo tropical. Anteriormente à
III. Solo tropical pré-adensado: Material de comportamento sua determinação, foi realizada uma análise de sensibilidade,
argiloso (IB < 22), apresenta geração de poropressão buscando avaliar a influência do parâmetro de poropressão
durante a cravação do cone (u2 > 0) e poropressão (Bq) no ajuste linear, conforme apresentado na Figura 5. Os
normalizada inferior a 0,40 (Bq < 0,40); resultados, apresentados na Figura 5, indicam um aumento da
IV. Solo tropical normalmente adensado: Material com acurácia (aumento de R²) conforme são excluídos os pontos com
comportamento de solo argiloso (IB < 22), com notável baixos valores de Bq. Como valor de referência para a aplicação
geração de poropressão (u2 >> 0) e poropressão do método foi considerado o valor de aq, obtido no gráfico com
normalizada superior a 0,40 (Bq > 0,40); valores de Bq superior a 0,70 (i.e., aq = 0,42), no qual se é obtido o
V. Solo tropical heterogêneo: Material com comportamento maior valor de R² (R² = 0,9160).
argiloso (IB < 22), presença de lentes de material Utilizando o valor de aq igual a 0,42 e o valor da variável M igual
transicional (22 < IB < 32) e poropressão normalizada a 1,31 (determinado por campanha de ensaios de laboratório), foi
inferior a 0,40 (Bq < 0,40). obtido um Índice de Rigidez (IR) igual a 62,15. Com base no valor de IR

Figura 4 – Resultados da classificação comportamental dos solos utilizando o ensaio de CPTu

Figura 5 – Determinação do parâmetro aq

74 WWW.CBDB.ORG.BR
e λ, foram aplicadas as Equações 2 a 5, sendo o resultado apresentado [6] (ver Figura 1). As Equações 6 e 7, apesar de não utilizarem as
na Figura 6. Na mesma figura também são apresentados os resultados poropressões como input, apresentam convergência com os demais
obtidos com a aplicação das equações sugeridas por Chen e Mayne equacionamentos, sendo, apesar de simples, acuradas na avaliação
(1996) (Equações 6 e 7), além do ponto com OCR igual a 1, obtido do histórico de tensões.
considerando a tensão in-situ e de pré-adensamento do ensaio Por fim, no trecho final do ensaio (abaixo de 26 m de profundi-
oedométrico (σ’p = 300 kPa) e o estado de tensão in-situ. dade), é possível notar uma heterogeneidade do solo tropical com
lentes de material transicio-
nal (ver Figura 4). De forma
similar ao trecho pré-aden-
sado, as formulações 3 e 4
apresentam dispersão dos
resultados em relação às de-
mais metodologias analisa-
das. Novamente, é possível
atribuir tal comportamento
pela utilização das poro-
pressões no trecho de maior
rigidez, o que possivelmente
levou à divergência dos va-
lores encontrados.
Figura 6 – Avaliação do histórico de tensões

No trecho pré-adensado (entre 12 m e 18 m de profundidade), 4. CONCLUSÕES


as Equações 2, 6 e 7 apresentam convergência, indicando um OCR
inferior a 4. Já a formulação 4, baseada no excesso de poropressão, O presente trabalho teve por objetivo apresentar uma análise
indica valores de OCR inferiores a 1 (sub adensamento), e a Equação comparativa entre metodologias para a estimativa do OCR por
3, baseada na resistência de ponta efetiva (qE = qt–u2), apresenta meio de diferentes equacionamentos para um solo tropical com
valores de OCR da ordem de 6. Os resultados dos equacionamentos base em ensaios de campo (CPTu) e de laboratório.
3 e 4 se diferem dos demais, possivelmente devido ao fato de que Os resultados obtidos reforçam as limitações das metodologias
ambos utilizam a poropressão (u2) como input em um trecho de baseadas nas leituras de poropressão obtidas durante a cravação
alto pré-adensamento. Como destacado por Robertson (1990) [6] do cone, lidas na posição u2, para a estimativa do OCR em solos
na Figura 1, em solos muito densos ou altamente pré-adensados, a pré-adensados, corroborando a recomendação apresentada por
resistência de ponta seria a medida preferencial para utilização em Robertson (1990) [6] a respeito das medidas preferenciais para
correlações geotécnicas, uma vez que a poropressão gerada atrás utilização em correlações geotécnicas com base em ensaios
da ponteira cônica tende a ser muito baixa (ou até negativa). Desta CPTu. Dessa forma, para o trecho de maior rigidez (maior OCR),
forma, a utilização da poropressão nas Equações 3 e 4 possivelmente foi observado que a utilização dos equacionamentos que usam a
levou à dispersão dos resultados obtidos. leitura de u2 como variável de input (Equações 3 e 4) apresentaram
No trecho normalmente adensado (entre 18 m e 26 m de dispersão em relação aos demais métodos.
profundidade), é observado uma convergência de todas as Foi observado também uma boa convergência entre as
metodologias aplicadas. Observa-se que, neste trecho, o solo tropical metodologias que se utilizam da resistência de ponta corrigida
apresenta OCR majoritariamente igual a 1, sendo classificado como do cone (qt) para a determinação da razão de pré-adensamento
normalmente adensado. Tal resultado é corroborado pelo ensaio (Equações 2, 6 e 7). Esse fato reforça a confiança na aplicabilidade
de adensamento oedométrico realizado pelo elevado parâmetro dessas correlações, uma vez que o trabalho realizado por Chen e
normalizado de poropressão (Bq). Além disso, as formulações Mayne (1996) [4] possui uma abordagem empírica, enquanto a
3 e 4 passam a convergir no trecho normalmente adensado, proposta apresentada por Agaiby e Mayne (2018) [3] segue um
possivelmente devido à alta taxa de geração de poropressão (altos caminho teórico, utilizando conceitos de expansão de cavidades e
valores de Bq) em linha com o proposto por Robertson (1990) mecânica do solo em estado crítico.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 75


DETERMINAÇÃO DO HISTÓRICO DE TENSÕES DE UM SOLO TROPICAL POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO E LABORATÓRIO

5. PALAVRAS-CHAVE [9] ROBERTSON. P. K; CABAL, K. L. (2022) “Guide to Cone Penetration Testing”.


[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1986). NBR 6457: Amostras de
Solo — Preparação para Ensaios de Compactação e de Caracterização. Rio de Janeiro.
OCR, ensaios de campo, CPTu, Solo tropical, histórico de
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2016). NBR 7180: Solo —
tensões. Determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2016). NBR 6459: Solo -
Determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro.

6. AGRADECIMENTOS [13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2018) NBR 7181: Solo —
Análise granulométrica. Rio de Janeiro.
[14] JÓZSA, VENDEL (2013) “Empirical correlations of overconsolidation ratio,
Os autores agradecem o apoio e o incentivo da Pimenta de
coefficient of earth pressure at rest and undrained strength”.
Ávila Consultoria na realização desta publicação.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Guilherme Henrique da Silva PINTO


É Engenheiro Geotécnico na Pimenta de Ávila Consultoria.
Possui Graduação em Engenharia Civil pela Universidade
[1] PINTO, C. S. (2006) – “Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas”. 3º
Federal de Minas Gerais e Mestrado pelo programa de Pós-
ed. São Paulo: Oficina de Textos.
graduação de Engenharia Mineral (PPGEM) da Universidade
[2] BRAJA, DAS (2006) – “Fundamentos de engenharia geotécnica”. 8º ed. Thompson.
Federal de Ouro Preto. Tem experiência em interpretação
[3] AGAIBY, S.S. e MAYNE, P.W. (2018). “Evaluating undrained rigidity index of
de ensaios de campo e laboratório, modelagem numérica e
clays from piezocone data”. Proc. 4th Intl. Symposium on Cone Penetration interpretação de instrumentação geotécnica.
Testing (Delft), CRC Press/Balkema.
[4] CHEN B.S.Y.; MAYNE P.W. (2016) “Statistical relationships between piezocone
Mauro Pio dos Santos JÚNIOR
measurements and stress history of clays.” Canadian Geotechnical Journal, v.33. É Coordenador de Geotecnia na Pimenta de Ávila Consultoria.
[5] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM D5778-20 (2020) Possui Graduação em Engenharia Civil pela Universidade
“Standard Test Method for Electronic Friction Cone and Piezocone Penetration Federal de Ouro Preto e Mestrado em Geotecnia pelo
Testing of Soils” Núcleo de Geotecnia (NUGEO) da Universidade Federal de
[6] ROBERTSON. P. K. (1990) “Soil classification using the cone penetration test” Ouro Preto. Tem experiência em interpretação de ensaios
Canadian Geotechnical Journal. de campo e laboratório, modelagem numérica, estudo de
[7] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM D2435-04 (2011) liquefação e análise de risco.
“Standard Test Methods for One-Dimensional Consolidation Properties of Soils
Using Incremental Loading”.
[8] ROBERSTON. P. K. (2016) “Cone penetration test (CPT) - based soil behavior type
(SBTn) classification system – an update”. Canadian Geotechnical Journal. vol 53.

76 WWW.CBDB.ORG.BR
NORMAS EDITORIAIS

1. INTRODUÇÃO 7. PÁGINA DE ROSTO

Os trabalhos a serem apresentados ao Conselho Editorial da Revista Brasileira de Apenas na primeira página deverá constar o cabeçalho (ver item 7.1). O título do

Engenharia de Barragens do CBDB deverão ser inéditos, não tendo sido antes trabalho (ver item 8.2) deverá ser escrito a 60 mm do topo (configurar apenas

publicados por quaisquer meios. Apenas profissionais qualificados deverão ser esta página com margem superior de 6 cm), em letra maiúscula, em negrito e

aceitos como autores. Profissionais recém-formados ou estagiários poderão ser centralizado na página. Na sequência deverão ser apresentados os nomes dos

aceitos, desde que participem como colaboradores. autores, com os respectivos títulos profissionais e instituição (ver item 7.3). Em

seguida, o Resumo e o Abstract (ver item 7.4). A página de rosto deve ser limitada

2. EXTENSÃO DO TRABALHO a uma única página, ou seja, todas as informações necessárias devem estar nela

Os trabalhos, para serem aceitos para divulgação, deverão ter no máximo 10 contidas (título, nome e cargo dos autores, resumo e abstract).

(dez) páginas, incluindo as ilustrações, esquemas e o sumário em português e

inglês, Os trabalhos que excederem este número de páginas serão devolvidos aos 7.1 - Cabeçalho

autores, para sua eventual redução. O cabeçalho, a ser apresentado apenas na página de rosto, está indicado no

exemplo a seguir. A fonte é Arial 10, iniciais em maiúscula e caixa alta ou versalete

3. TIPO DE ARQUIVO MAGNÉTICO (conforme a versão do Word).

Os trabalhos a serem recebidos pelo Conselho Editorial da Revista Brasileira de Na primeira linha deve ser digitado: Comitê Brasileiro de Barragens.

Engenharia de Barragens do CBDB deverão estar em formato WORD for Windows, Na segunda linha: Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB.

1997 ou superior. Não serão recebidos arquivos em separado, isto é, com o texto Na terceira linha: a data; exemplo: 11 de abril de 2013.

e as ilustrações em arquivos diferentes. As ilustrações deverão ser agrupadas no

corpo dos trabalhos em formato JPEG. 7.2 – Título do Trabalho

O título do trabalho deve ser digitado em letra maiúscula, negrito e alinhamento

4. NÚMERO DE AUTORES E CO-AUTORES centralizado. Este é o único item do trabalho que recebe negrito.

Os autores e co-autores estão limitados a um número máximo de sete, ou seja,

um autor e até seis co-autores. Os trabalhos com mais de sete participantes serão 7.3 – Autores e Co-autores

devolvidos aos autores para atendimento a esta diretriz. Caso haja mais colaboradores Os nomes dos autores deverão ser apresentados com apenas um dos sobrenomes

no trabalho, eles poderão ser citados em Agradecimentos (ver item 11). todo em letras maiúscula. Abaixo do nome de cada um dos autores deverá ser

indicado, com letras maiúsculas iniciais, o título profissional (Consultor, Título

5. CONFIGURAÇÃO DE PÁGINA Universitário, Diretor Técnico, Coordenador Geral, etc) e ao lado, separado por um

A Configuração de Página deve obedecer a formatação: traço, a empresa ou instituição do autor (ver também item 4).

Margens:

- Superior: 2,5 cm; 7.4 – Resumo / Abstract (Item sem numeração)

- Inferior : 2,0 cm; Cada trabalho deverá ser iniciado por um Resumo em Português, não excedendo

- Esquerda: 2,5 cm; 10 (dez) linhas, seguido de um sumário (também de no máximo 10 linhas) em

- Direita: 2,5 cm; - Medianiz: 0 cm. Inglês (Abstract), para permitir seu cadastramento por organismos internacionais.

A partir da margem: Para auxiliar na versão dos resumos para o inglês, consultar os dicionários

- Cabeçalho: 1,27 cm; - Rodapé: 1,27 cm. técnicos do CBDB/ICOLD disponíveis no site www.cbdb.org.br . Serão devolvidos

Tamanho do Papel: os trabalhos que não apresentarem adequadamente o Resumo e o respectivo

- A4 (21 x 29,7 cm); - Largura: 21 cm; - Altura: 29,7 cm; Abstract. Quando houver necessidade, o Resumo e o Abstract poderão ter mais

- Orientação: Retrato em todo o trabalho. que dez linhas, desde que caibam na página de rosto e não haja discordância com

os demais itens desta Diretriz.

6. PADRÃO DE LETRAS E ESPAÇAMENTO

Os trabalhos deverão ser digitados em arquivo Word 97 ou superior, com as 8. ITEMIZAÇÃO GERAL

seguintes formatações de fonte: Fonte: - Arial; Os itens principais do trabalho deverão ser numerados sequencialmente, com a

- Tamanho 12 em todo o trabalho. Introdução recebendo o N° 1 e as Referências Bibliográficas recebendo o número

Parágrafo: final. Estes deverão ser digitados com letra maiúscula e centralizados na linha,

- Espaçamento entre linhas: simples; com recuo esquerdo de 0,50 cm (Formatar Parágrafo).

- Alinhamento: justificado; Exemplo:

- Marcadores como o desta linha (traço), poderão ser utilizados sempre que 1. INTRODUÇÃO

necessário. Os itens secundários serão alinhados sempre à esquerda, com a designação

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 77


NORMAS EDITORIAS

sequencial, por exemplo: 2.1, 2.2, 2.3, etc., em minúsculo com apenas a deslocamento de 1,00 cm (Formatar Parágrafo).

primeira letra em maiúsculo, utilizando-se de formatação em “Caixa Alta” Exemplo:

ou “Versalete”, conforme a versão do Word. Caso haja a necessidade de [1] DUNNICLIFF, J. (1989) – “Geotechnical Instrumentation for Field

nova itemização, a mesma deverá ser por exemplo: 3.1.1, 3.1.2, 3.1.3, etc., Performance”, livro editado pela John Wiley & Sons, Inc., New York;

em itálico, com as letras minúsculas e somente a primeira letra maiúscula. [2] HOWLEY, I., McGRATH, S. e STEAWRT, D. (2000) –

Exemplo: “A Business Risk Approach to PrioritizingDam Safety

2.1 Item Secundário Upgrading Decisions”, Anais Congresso Internacional ICOLD, Beijing, Q.76 – R.17;

2.1.1 Item Terciário [3] SILVEIRA, J.F.A. (2003) – “A Medição do Coeficiente de Poisson em uma

de Nossas Barragens”,Anais XXV Seminário Nacional de Grandes Barragens

9. CONCLUSÕES – CBDB, Salvador, BA.

Neste item o(s) autor(es) deverá(ão) apresentar de forma bem sucinta as principais

conclusões ou recomendações que resultaram de sua pesquisa, trabalho ou relato 13. ILUSTRAÇÕES

de um determinado evento técnico. As eventuais ilustrações dos trabalhos técnicos, sejam elas figuras, gráficos,

O primeiro parágrafo, após cada item ou subitem, deverá ser iniciado uma linha desenhos ou fotos, deverão estar sempre incorporadas ao texto, não devendo ser

após o título do item (ou subitem), com alinhamento Justificado. A primeira palavra apresentadas em separado. Ao formatar a figura, o layout deve ter a disposição

deverá começar junto à margem esquerda. do texto alinhada e o texto deve estar com o alinhamento centralizado. Todas

Entre um parágrafo e outro deverá sempre ser deixada uma linha de espaçamento, as referidas ilustrações deverão ser identificadas pela palavra “FIGURA” e

sendo que entre a última linha do último parágrafo e o item seguinte deverão ser numeradas sequencialmente. A palavra “FIGURA”, sua numeração e título

deixadas duas linhas. deverão ser apresentados imediatamente abaixo das respectivas ilustrações

Trabalhos sem uma conclusão final serão devolvidos aos autores para as devidas também com o alinhamento centralizado. O título de cada figura deverá ser escrito

complementações. com a primeira letra em maiúsculo. A referência a elas no texto do trabalho deve

ser em minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula.

10. AGRADECIMENTOS (item opcional) As fotos ou outras ilustrações quaisquer poderão ser apresentadas em cores,

A critério do autor, poderão ser apresentados agradecimentos às empresas e/ou sempre que necessário. Caso sejam utilizadas cores para representar desenhos e

pessoas que contribuíram para elaboração do trabalho, sempre após o item Conclusões. figuras, deverá haver convenções de representação que permitam identificações

independentes da cor.

11. PALAVRAS-CHAVES As ilustrações poderão ser apresentadas com a orientação retrato ou paisagem,

Após os Agradecimentos, deverá ser apresentada uma relação de no mínimo 3 e no ou seja, poderão ser giradas na página de forma a mudar a sua orientação,

máximo 5 palavras-chaves, para possibilitar a localização do trabalho em função mas apenas as ilustrações. A configuração da página deve permanecer sempre

das mesmas, na versão eletrônica dos anais (CD). Caso não haja Agradecimentos, orientada como retrato, para garantir a posição do rodapé uniforme em todo o

o item Palavras-Chaves deverá ser apresentado após o item Conclusões. documento (ver item 5). Desta forma, o título da ilustração também permanecerá

com a orientação retrato. Não serão aceitos trabalhos com as ilustrações em

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS separado ou em outro aplicativo que não seja o Word.

O item Referências Bibliográficas é o último item, e, portanto, encerra o trabalho.

Deverá estar posicionado após o item Palavras-Chaves. O padrão para a 14. TABELAS

apresentação das referências bibliográficas é o mesmo da ICOLD – Comissão As tabelas deverão ser incorporadas ao texto, não devendo ser apresentadas em

Internacional das Grandes Barragens, conforme diretrizes a seguir, com exemplo separado. A tabela deverá ter alinhamento centralizado. O tamanho da fonte pode

ilustrativo: ser inferior ao especificado para todo o trabalho (Arial 12), desde que o conteúdo

Todas as referências bibliográficas deverão ser indicadas no texto com a permaneça legível e a fonte não seja inferior a Arial 7. Todas as referidas tabelas

numeração respectiva; deverão ser identificadas pela palavra “TABELA” e numeradas sequencialmente.

Todas as referências apresentadas deverão ser numeradas sequencialmente (na A palavra “TABELA”, sua numeração e título deverão ser apresentados abaixo da

ordem em que aparecem no texto) aparecendo o número em destaque e entre mesma e também centralizados. O título das tabelas deverá ser escrito com a

colchetes após a citação; primeira letra em maiúsculo. A referência a elas no texto do trabalho deve ser em

Na sequência, indicar o título do trabalho ou do livro consultado entre aspas, com minúsculo, apenas com a inicial em maiúscula.

apenas a primeira letra maiúscula, e com vírgula ao final; As tabelas poderão ser apresentadas com a orientação retrato ou paisagem, ou

Apresentar na sequência os anais em que o trabalho foi apresentado, seguido do seja, poderão ser giradas na página de forma a mudar a sua orientação, mas

tema, volume dos anais e país ou cidade em que o mesmo foi realizado. apenas as tabelas.

O texto deverá estar com alinhamento justificado, e recuo especial com A configuração da página deve permanecer sempre orientada como retrato, para

78 WWW.CBDB.ORG.BR
EDITORIAL STANDARDS

garantir a posição do rodapé uniforme em todo o documento (ver item 5). Desta 1. INTRODUCTION

forma, o título da tabela também permanecerá com a orientação retrato. The works to be presented to the Editorial Board of the Brazilian Magazine of Engineering

of Dams of CBDB must be unpublished, having not been previously published by any
15. SIMBOLOGIA E FÓRMULAS means. Only qualified professionals should be accepted as authors. Newly trained
Todas as grandezas físicas deverão ser expressas em unidades do Sistema
professionals or interns may be accepted, as long as they participate as collaborators.
Métrico Internacional. As equações e fórmulas devem ser localizadas à esquerda e

numeradas, entre parênteses, junto ao limite direito na mesma linha, deixando-se


2. EXTENSION OF WORK
uma linha em branco entre as equações/fórmulas e o texto. Todos os parâmetros
Papers, to be accepted for publication, must have a maximum of 10 (ten) pages,
constantes nas equações e fórmulas deverão ser indicados com suas respectivas
including illustrations, diagrams and the summary in Portuguese and English. Papers
unidades. A referência a elas no texto do trabalho deve ser com a palavra
that exceed this number of pages will be returned to the authors, for eventual reduction.
“Equação” ou “Fórmula” e o respectivo número ao lado, ou seja, em minúsculo,

apenas com a inicial em maiúscula.


3. TYPE OF MAGNETIC FILE

16. TEMÁRIO / CONTRIBUIÇÕES The works to be received by the Editorial Board of the Brazilian Journal of Dam

O tema deverá ser indicado pelo autor, quando do encaminhamento do trabalho Engineering at CBDB must be in WORD for Windows format, 1997 or higher. No

ao Conselho Editorial da Revista Brasileira de Engenharia de Barragens do CBDB. separate files will be received, that is, with text and illustrations in different files. The
Caso o Conselho Editorial não concorde com o tema selecionado pelo autor, illustrations must be grouped in the body of the works in JPEG format.
este poderá ser eventualmente deslocado para outro tema. Se o trabalho não se

encaixar em nenhum dos temas selecionados para o evento e se tratar de trabalho 4. NUMBER OF AUTHORS AND CO-AUTHORS
de bom nível técnico, este poderá ser publicado como Contribuição Técnica.
Authors and co-authors are limited to a maximum of four, that is, one author and up to

three co-authors. Papers with more than four participants will be returned to the authors
17. IDIOMA
for compliance with this guideline. If there are more employees at work, they can be
Todos os trabalhos a serem publicados na Revista Brasileira de Engenharia de
mentioned in Acknowledgments (see item 11).
Barragens do CBDB deverão ser elaborados em língua Portuguesa, assim como

todas as ilustrações que o acompanham deverão conter legenda também em


5. PAGE CONFIGURATION
Português. Apenas os trabalhos citados como referências bibliográficas deverão
The Page Setup must obey the formatting:
estar na língua original, em que foram elaborados.

Os trabalhos eventualmente recebidos pelo Conselho Editorial em outro idioma, Margins:

que não sejam os acima mencionados serão encaminhados de volta aos autores, - Upper: 2.5 cm;

para sua tradução para o português. - Bottom: 2.0 cm;

- Left: 2.5 cm;


18. LICENÇA PARA PUBLICAÇÃO DOS TRABALHOS - Right: 2.5 cm;
Para que o trabalho seja aceito, é necessário que um dos autores envie autorização - Gutter: 0 cm.
devidamente preenchida e assinada. - Upper: 2.5 cm;

- Bottom: 2.0 cm;


19. FOTO E CURRÍCULO DOS AUTORES
- Left: 2.5 cm;
Deverão ser enviados, anexos aos artigos, uma foto 3x4 em alta resolução e um
- Right: 2.5 cm; - Gutter: 0 cm
mini currículo, com até 400 caracteres, de cada um dos autores.
From the margin: - Header: 1.27 cm; - Footer: 1.27 cm.

Paper Size: - A4 (21 x 29.7 cm); - Width: 21 cm; - Height: 29.7 cm;

Orientation: Portrait in all work.

6. LETTER PATTERN AND SPACING

Papers must be typed in Word 97 file or higher, with the following font formats: Font:

- Arial;

- Size 12 in all work.

Paragraph:

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 79


EDITORIAL STANDARDS

- Line spacing: simple; must be typed in capital letters and centered on the line, with a 0.50 cm left indent

- Alignment: justified; (Format Paragraph).

- Markers like this line (dash), can be used whenever necessary. Example:

1. INTRODUCTION

7. FRONT PAGE The secondary items will always be aligned to the left, with the sequential designation,

Only the first page should contain the header (see item 7.1). The title of the work (see item for example: 2.1, 2.2, 2.3, etc., in lower case with only the first letter in upper case, using

8.2) must be written 60 mm from the top (configure this page only with an upper margin “Uppercase” or “Small caps” formatting , depending on the version of Word. If there is

of 6 cm), in capital letters, in bold and centered on the page. Following, the names of a need for a new itemization, it should be for example: 3.1.1, 3.1.2, 3.1.3, etc., in italics,

the authors must be presented, with the respective professional titles and institution (see with lowercase letters and only the first capital letter.

item 7.3). Then, the Summary and the Abstract (see item 7.4). The cover page must be Example:

limited to a single page, that is, all the necessary information must be contained therein 2.1 Secondary Item

(title, name and position of the authors, abstract and resumo – in Brazilian portuguese). 2.1.1 Tertiary Item

7.1 - Header 9. CONCLUSIONS

The header, to be displayed only on the cover page, is indicated in the following example. In this item, the author (s) must present the main conclusions or recommendations

The font is Arial 10, initials in capital letters and capital letters or small caps (depending that resulted from his research, paper or report on a specific technical event in a very

on the version of Word). succinct way.

The first line should be typed: Brazilian Dams Committee. The first paragraph, after each item or sub-item, should start one line after the item's

In the second line: Brazilian Magazine of Dam Engineering from CBDB. title (or sub-item), with Justified alignment. The first word should start at the left margin.

In the third line: the date; example: April 11, 2013. Between one paragraph and another, a line of spacing should always be left, and

between the last line of the last paragraph and the next item, two lines should be left.

7.2 – Paper Title Papers without a final conclusion will be returned to the authors for further

The title of the paper must be typed in capital letters, bold and centralized alignment. complementation.

This is the only item in the paper that gets bold.


10. ACKNOWLEDGMENTS (optional item)

7.3 – Authors and Co-authors At the author's discretion, acknowledgments may be made to the companies and / or

The names of the authors must be presented with only one of the surnames in all people who contributed to the preparation of the paper, always after the Conclusions item.

capital letters. Below the name of each of the authors, the professional title (Consultant,

University Title, Technical Director, General Coordinator, etc.) must be indicated, with 11. KEYWORDS

capital letters, and beside, separated by a dash, the author's company or institution ( After the Acknowledgments, a list of at least 3 and at most 5 keywords must be

see also item 4). presented, in order to allow the location of the work according to them, in the electronic

version of the magazine. If there are no Acknowledgments, the item Keywords must be

7.4 – Resumo / Abstract (Unnumbered item) presented after the item Conclusions.

Each paper must be initiated by an Abstract in Engish, not exceeding 10 (ten) lines,

followed by a Abstract (also a maximum of 10 lines) in Brazilian Portuguese (Resumo), to 12. BIBLIOGRAPHIC REFERENCES

allow its registration by international organizations. To assist in the Brazilian Portuguese The item Bibliographic References is the last item, and therefore ends the paper. It should

version of the abstracts, consult the CBDB / ICOLD technical dictionaries available at be positioned after the keywords. The standard for the presentation of bibliographic

www.cbdb.org.br . Papers that do not adequately present the Abstract and the respective references is the same as that of ICOLD - International Commission for Large Dams,

Abstract will be returned. When necessary, the Abstract and Abstract may have more according to the following guidelines, with an illustrative example.

than ten lines, as long as they fit on the cover page and there is no disagreement with All bibliographic references must be indicated in the text with the respective numbering;

the other items of this Guideline. All references presented must be numbered sequentially (in the order in which they

appear in the text) with the number highlighted and in square brackets after the quote;

8. GENERAL ITEMIZATION Then, indicate the title of the paper or book consulted in quotation marks, with only the

The main items of the paper should be numbered sequentially, with the Introduction first capital letter, and with a comma at the end;

receiving the No. 1 and the Bibliographic References receiving the final number. These Next, present the annals in which the work was presented, followed by the theme,

80 WWW.CBDB.ORG.BR
volume of the annals and the country or city in which it was done. 15. SYMBOLOGY AND FORMULAS

Example: All physical quantities must be expressed in units of the International Metric System.

The text must be in justified alignment, with a special indentation with an offset of 1.00 Equations and formulas must be located on the left and numbered, in parentheses, next

cm (Format Paragraph). Example: to the right limit on the same line, leaving a blank line between the equations / formulas

[1] DUNNICLIFF, J. (1989) – “Geotechnical Instrumentation for Field Performance”, and the text. All parameters in the equations and formulas must be indicated with their

book edited by John Wiley & Sons, Inc., New York; respective units. The reference to them in the text of the work must be with the word

[2] HOWLEY, I., McGRATH, S. e STEAWRT, D. (2000) – "Equation" or "Formula" and the respective number beside it, that is, in lowercase, only

“A Business Risk Approach to PrioritizingDam Safety with the initial in uppercase.

Upgrading Decisions”, ICOLD International Congress Annals, Beijing, Q.76 – R.17;

[3] SILVEIRA, J.F.A. (2003) – “A Medição do Coeficiente de Poisson em uma de Nossas 16. THEME / CONTRIBUTIONS

Barragens”,Anais XXV Seminário Nacional de Grandes Barragens – CBDB, Salvador, BA. The theme should be indicated by the author, when the paper is sent to the Editorial

Board of the Brazilian Magazine of Engineering of Dams of CBDB. (see the themes in

13. ILUSTRATIONS the appropriate annex)

Any illustrations of technical works, be they figures, graphs, drawings or photos, should If the Editorial Board does not agree with the theme selected by the author, it may

always be incorporated into the text, and should not be presented separately. When eventually be moved to another theme. If the paper does not fit into any of the themes

formatting the figure, the layout must have the text layout aligned and the text must be selected for the event and it is work of a good technical level, it may be published as a

aligned centrally. All of these illustrations must be identified by the word "Figure" and Technical Contribution.

numbered sequentially. The word "Figure", its numbering and title must be presented

immediately below the respective illustrations also with centralized alignment. The title 17. LANGUAGE

of each figure must be written with the first letter in uppercase. The reference to them in All papers to be published in the Brazilian Dam Engineering Magazine of CBDB must

the text of the work must be in lower case, only with the initial in upper case. be prepared in Portuguese, as well as all illustrations that accompany it must also have

Photos or other illustrations may be presented in color, whenever necessary. If colors are a caption in Portuguese. Only works cited as bibliographic references must be in the

used to represent drawings and figures, there must be representation conventions that original language, in which they were prepared.

allow color-independent identifications. The papers eventually received by the Editorial Board in another language, other than

The illustrations can be presented in portrait or landscape orientation, that is, they can those mentioned above, will be sent back to the authors, for their translation into

be rotated on the page in order to change their orientation, but only the illustrations. The Portuguese.

configuration of the page must always remain oriented as a portrait, to guarantee the For this special 60 Years Edition / ICOLD National Committees of the Americas the

uniform footer position throughout the document (see item 5). In this way, the title of the CBDB will accept papers to be published in the Brazilian Dam Engineering Magazine of

illustration will also remain in portrait orientation. Papers with illustrations separately or in CBDB prepared in English, as well as all illustrations that accompany it must also have a

an application other than Word will not be accepted. caption in English. Only papers cited as bibliographic references must be in the original

language, in which they were prepared.

14. TABLES

Tables should be incorporated into the text and should not be presented separately. 18. LICENSE FOR PUBLICATION OF PAPERS

The table should have centralized alignment. The font size can be smaller than the For the work to be accepted, it is necessary that one of the authors send a duly

one specified for all the work (Arial 12), as long as the content remains legible and the completed and signed authorization.

font is not smaller than Arial 7. All the referred tables must be identified by the word

“TABLE” and numbered sequentially. The word “TABLE”, its numbering and title must be 19. PHOTO AND CURRICULUM OF AUTHORS

presented below it and also centralized. The title of the tables must be written with the A high resolution 3x4 photo and a mini curriculum, with up to 400 characters, must be

first letter in uppercase. The reference to them in the text of the work must be in lower sent, attached to the articles, of each of the authors.

case, only with the initial in upper case.

Tables can be presented in portrait or landscape orientation, that is, they can be rotated

on the page in order to change their orientation, but only the tables.

The configuration of the page must always remain oriented as a portrait, to guarantee

the uniform footer position throughout the document (see item 5). In this way, the table

title will also remain in portrait orientation.

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE BARRAGENS 81


3 27 TO 31 AUGUST
AUGUST
Hotel Grand Carimã Resort & Convention Center
2023 Foz do Iguaçu | State of Paraná

COURSES

DATE FORMAT* VENUE COURSE TRAINERS

Risk Analysis Applied to Dam Safety (FMEA,


Jul Teresa Cristina Fusaro
05 P Recife HAZOP, Event and Fault-Tree Analysis, probabilistic
3-4 Others
Methods) with practical application
Discharge Systems – Criteria and Spillway Sizing
Aug Porto Stilling Structures (approach channel, spillway, Marcelo Giulian Marques
06 P
1-4 Alegre chute, stilling basin, return channel), including Others
technical visit to a laboratory
Sep Geophysical Methods and Remote Rodrigo Alves Ortega
07 H Tucuruí
4-5 Sensor Monitoring Marco Martins Cantisano
Sep Dam Inspection and Deterioration Types, Dam Ricardo Magalhães
08 H São Paulo
25-26 Operation and Maintenance Sidnei Ono
Tailings Dams – General Design and Construction
Oct Belo
09 P Aspects, including Liquefaction and Seismic Joaquim Pimenta de Ávila
2-5 Horizonte
Approach in Dam Stability Analysis

Nov Periodic Dam Safety Review and Dam Safety Plan Luiz Gustavo Fortes Westin
10 H Fortaleza
20-21 and Emergency Action Plan – PAE and PAEBM Ricardo Aguiar Magalhães

Interpreting Field and Lab Essays for Application


Nov Rio de in Dam Design/Studies, Defining Geotechnical André Pereira Lima
11 P
27-30 Janeiro Parameters for Earth Dam Analysis and Numerical Others
Modeling of Earth/Rockfill Dams.

*P - PRESENTIAL | H - HIBRID

CBDB contact: +55 21 2286-8674 | +55 21 98096-0609 | cbdb@cbdb.org.br


82 WWW.CBDB.ORG.BR
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Formato
1 21 cm x 28 cm - pg. inteira - CAPA
1 4.900,00 21 cm x 28 cm - CONTRACAPA (interna)
1 4.900,00 21 cm x 28 cm - CONTRACAPA (externa)
10 cm x 5,4 cm
21 cm x 5,4 cm
10 cm x 10,8 cm
21 cm x 10,8 cm
21 cm x 16,2 cm

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