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Questées da Nossa Epoca Volume 46 Catalogagao. lcira do Livro, coon _| | sere, José Camilo dos Santos Filho Silvio Sanchez Gamboa (Org.) PESQUISA EDUCACIONAL: quantidade-qualidade 8 edicdo Sse 3) Quantidade-qualidade: para além de um dualismo técnico e de uma dicotomia epistemolégica Silvio Sanchez Gamboa Introducao AS Publicagées especializadas em pesquisa da Educa- $20 ¢ das Ciéncias Sociais vem registrando, nas duas alti. imas décadas, a discussao sobre os modelos quantitatives e qualitativos, Apesar das diversas reacdes que pretendem desquali- fear o debate, por ser considerado um falso conflito (Luna, 1991), ou uma guerra de paradigmas propria da décads de 1880 (Gage, 1989), ou facilmente superével por meio do “didlogo entre os paradigmas* (Guba, 1990), e dos esforgos Pela despolarizacdo quantidade-qualidade, a controvérsia Sobre os chamados paradigmas da pesquisa intensifica-se a SANTOS FLO GAMBOA mais ainda quando a discussio avanca no campo da episte- mologia e se identifica com o atual debate entre as aborda. Bens teorico-metodologicas que disputam 0 espaco da Pesquisa nas Ciéncias Sociais, Sem davida, a polémica torna-se acirrada quando esté em jogo nao apenas o mapeamento das tendéncias da pes- quisa nas dltimas décadas, mas também a formagdo de novos pesquisadores que reclamam um necessdrio esclare- cimento sobre as possiveis opcdes metodologicas, te6ricas ¢ epistemologicas na prética da pesquisa, quais os Seus limites ¢ implicagdes, bem como os pressupostos filo- S6ficos que as sustentam. A preocupacdo com as varias al. ternativas leva-nos a colocar outras questées rel formas de articulagdo entre essas opgées, na suspeita Serem todas importantes e de existir, necessariamente, uma logica entre elas, Entendemos que a discussao sobre o dualismo quanti- dade-qualidade perpetua-se. Tendo avancado para além da década de 1980 ainda suscita reflexdes, direcionadas espe- cialmente a explicitagao das razées pelas quais se conside. ra um falso conflito, a identificagao das formas concretas da sua superagao e ao desvelamento das relages com outros conflitos presentes na atual fase da pesquisa em Ciéncias Soci Entendemos que a retomada da discussao sobre o du- alismo quantidade-qualidade nao pode ser mantida no nivel técnico, como parece ter sido o teor predominante da con- trovérsia na década passada. Precisamente Por ter se limi- tado ao nive l técnico, tornou-se um falso conflito. Isto éha um “reducionismo’, resultante da forma como se colocam as alternativas da pesquisa, considerando apenas as opgoes PESQUISAEDUCACIONAL as ‘éonicas, desligadas de outros aspectos ou niveis que inte- lo, desde o momento em que se co- iodo entre os niveis tecnicos, meto- dol6gicos, tedricos ¢ epistemolégicos, ¢ a se Procurar racio- lagdo entre esses niveis, agdes recentes no pats? entretanto, registram 0 crescente interesse pelo estudo das questées ‘cas da investigacao cientifica, aprofundando, nas con- CePe6es de método, a construgio das teorias, os en foques ntados na 16" Reuniio Anual da Associagdo Nacie, ‘em Educagdo (Anped), stembro de 1963, dentie ian. O papel da pesquisa na Sto Paulo, n. 73, p. 67.75, maio % SANTOSFILHO-GAMBOA epistemologicos, os fundamentos filosoficos da pesquisa Esse interesse ja indica a preocupagdo pela articulagao dos aspectos instrumentais € praticos com os fundamentos tedricos e seus pressupostos filos6ficos, presentes em toda investigagao cientifica. Assim este capitulo pretende propor a discussdo sobre as técnicas quantitativas e/ou qualitativas, na preocupacéo de articulé-las com os outros niveis da pesquisa ¢ inseri-las. no contexto mais amplo das op¢des epistemolégicas da investigacdo. Desse modo, sera mais ficil delinear as diver- sas formas de superagio do que consideramos um falso dualismo técnico. Para conseguir avangar nesta discussio, tecendo argu- mentagées a favor da superagao do falso dualismo técnico, estruturamos este capitulo em trés partes: a) a questio técnica dentro dos enfoques epistemol6gicos da pesquisa; ») as dicotomias epistemolégicas que desqualificam a pos. sibilidade de terceiras opgdes; c) algumas alternativas de sinteses que integrem quantidade-qualidade em um mesmo processo. 1.As técnicas como parte de um conjunto maior Em publicacao anterior? afirmavamos que as técnicas nao se explicam por si mesmas. A técnica é a expressio Pratico-instrumental do método, sendo este, por sua vez, uma 3. Gasaos, Silvio Sénchez, A de contexto. In: Fazewna, I. (1981, p. tic na pesquisa em educagéo: elementos 3) PESQUSA EDUCACIONAL o fica em ago. As teorias so maneiras diversas de ordenar o real, de articular os diversos aspectos de um Processo global ¢ de explicitar uma viséo de conjunto, Asalternativas devem ser colocadas no nivel das gran- des tendéncias epistemologicas que fundamentam nao Somente as técnicas, os métodos ¢ as teorias, mas também. a articulacdo desses niveis entre si e desses niveis com seus Pressupostos flosdficos. Nesse contexto maior de enfoques Gientificos, elucida-se a dimensao ¢ o significado das opgoes ‘écnicas, sejam essas quantitativas ou qualitativas. A escolha de uma técnica de coleta, registro ¢ tratamento de dados ou dos procedimentos de recuperagio de informacoes sobre um determinado fenmeno implica nao somente presi Postos com relacdo as concepgées de método ¢ de ciéncia, mas também a explicitagiio das concepgdes de sujeito ¢ de objeto (pressupostos gnosiolégicos relacionados com as ‘eorias do conhecimento que embasam os processos cien- tificos) ¢ as visdes de mundo, implicitas em todo processo cognitivo (pressupostos ontolégicos que se referem as ca- ‘corias mais gerais como concepgdes do real, de mundo, dc homem, de sociedade, de historia ete.) A relativizagao das técnicas quantitativas on qualitati vas com relagao a um conjunto maior, sem duvida, ajudaré 4 compreender sua dimensao no Conjunto dos elementos da pesquisa e a revelar suas limitagoes de tal maneira que, Para serem consideradas como opgées na definicéo de al. temnativas da investigacdo ou como modelos cientiticos, Precisam ser articuladas a outros elementos mais comple. os. As técnicas por si nao se tornam alternativas para a Pesquisa. As op¢ées técnicas 36 tem sentido dentro do en- foque epistemol6gico no qual sao utilizadas ou elaboradas, a SANTOS FLHO-GAMBOA Em outras palavras, para superar o falso dualismo quantidade-qualidade, € necessério relativizar a dimensio ‘técnica inserindo-a em um todo maior que Ihe da sentido, tomando-a como parte constituida do processo de pesquisa Na medida em que recuperamos o todo, nesta mesma me. dida relativizamos a parte. Quando recuperamos o todo maior (nesse caso, 0 enfoque epistemolégico), remetemos 2 opcao e a discussdo sobre as alternativas da pesquisa nio 2 escolha de algumas técnicas ou métodos, mas aos enfoques epistemolégicos que, como um todo maior, articulam outros elementos constitutivos por meio da construgdo de uma logica interna (a propria logica da pesquisa) necesséria para Preservar o rigor e o significado do processo cientifico, A articulagao desses elementos depende de cada enfoque epistemol6gico, Em cada enfoque as técnicas so articuladas de forma diferente. Isto , as técnicas sdo utilizadas com intensidade ¢ peso diferenciados. Os instrumentos de cole- ‘, tratamento ¢ organizacao de dados ¢ de informagées sio, 0u nao, destacados de acordo com cada enfoque. Por exem. Plo, os enfoques empirico-analiticos, comumente conheci- dos como positivistas, priorizam as técnicas quantitativas ¢ 6s instrumentos ‘objetivos" ¢ negam a importdncia de outras formas de coleta ¢ tratamento de dados, que poderiam comprometer 0 rigor e a objetividade do processo; os enfo- ues etnograficos ¢ fenomenologicos destacam os instru. mentos ¢ as técnicas que permitem a descricao densa de um fato, a recuperagao do sentido, com base nas manifes- tages do fendmeno e na recuperagao dos contextos de interpretacao ¢, em contrapartida, limitam a importincia dos dados quantitativos, pelo seu “teducionismo matema- tico", embora os aceitem apenas como indicadores que PESQUISA EDUCACIONAL % Precisam ser interpretados a luz dos elementos qualitativos ¢ intersubjetivos. Em resumo, podemos argumentar que, na medida em aie recuperamos outros elementos constitutivos do proces. so de produgao do conhecimento, também relativizamos 4 importancia do debate sobre as técnicas qualitativas ou Gvantitativas, Quando isso ocorre, ao denunciat um false dualismo técnico, remetemos o debate sobre as alternativas da pesquisa aos enfoques epistemol6gicos. Esses enfoques, entendidos como légicas reconstituidas, integram com ™maior ou menor coeréncia outros elementos, incluindo as ‘Cenicas, dentro de um todo que articula desde os insten mentos de coleta de dados até a visio de mundo e os inte- conse’ Cosnitivos que os pesquisadores exprimem no pro. Cesso de construcao do conhecimento 2.A falsa dicotomia eo Principio do terceiro excluido Quando remetemos a discussao do falso duatismo téo- ito Para 0s enfoques epistemol6gicos, podemos cair em lima dicotomia epistemolégica, ao reduzir as alternative, a tim ou outro enfoque epistemolégico, ¢ excluimos outras opcbes (terceiros exclufdos). Dentre 08 autores que abordam a problematica das técnicas de pesquisa no contexto das concepodes mais am. Plas de método ¢ ciéncia, podemos identificar duns tendén. css. em Primeiro lugar, aqueles que desqualificam a dig. Cussao sobre as tendéncias metodologicas por defenderem “existéncia de um anico método cientifico que se afirms ra SANTOS FRLHO-GAMBOR na concepcdo da unidade da ciéncia e do método e na pos- sibilidade da elaboragao de um tinico conhecimento valido, © cientifico; em segundo lugar, aqueles que aceitam a exis. téncia de dois métodos cientificos, um apropriado para as Ciéncias Exatas ¢ Naturais ¢ outro valido para as Ciencias Humanas ¢ Sociais. OS primeiros cxigem que os métodos cientificos sejam rigorosos, pautados pela objetividade, pelos critérios ¢ es- {atutos das ciéncias empirico-analiticas tanto naturais como Sociais (Kaplan, 1964; Kerlinger, 1980; Luna, 1991). Outros métodos, como os subjetivos ¢ interpretativos, comprome- tem 0 rigor cientifico ¢ a neutralidade axiolégica e, portan- ‘0, poderdo ser aceitos em outros campos do saber, mas no garantirdo um conhecimento cientifico rigoroso. Quem adere aos principios da ciéncia empirico-analitica ¢ do po- sitivismo légico, dificilmente aceita outras formas de ela. borar conhecimento cientifico senfio aquelas que se ajustam 08 critérios dos procedimentos experimentais, correlacio- nais € estatisticos ¢ ao racioctnio hipotético-dedutivo, Os segundos (Goetz ¢ Le Compte, 1984; Ludke ¢ André, 1986; Martins, 1991) questionam a unidade da ciéncia ¢ a transferéncia automatica dos métodos das Ciéncias Naturais Para as Ciéncias Humanas ¢ defendem a necessdria espe- cificidade das Ciéncias Humanas e Sociais no que se refere 8 presenga da subjetividade (os objetos de estudo sao tam- bém sujeitos, homens ou grupos sociais, no podendo ser tratados como coisas ou dados distantes e objetivos, da forma como pretende o positivismo) A exigéncia de uma especificidade para Ciéncias Hu- manas (Merleau-Ponty, 1973) conduz a elaboragio de um método diferente que permita o tratamento da subjetivi- PESQUSA EDUCACIONAL, dade. Com esse pressuposto basico, desenvolveram-se algumas das atuais tendéncias da pesquisa nas Ciénciss Sociais, buscando sua orientacao teérico-metodologica na Sociologia compreensiva, na Fenomenologia ¢ no intera. Clonismo simbélico, dando énfase a interpretagao, Compreensao ¢ descricao densa ¢ aos métodos etnograf- ©0s, ¢ priorizando técnicas qualitativas no tratamento dos dados e informagées.* A exigéncia de uma especificidade metodologica para as Giéncias Humanas pode conduzir a discussio das alterna. tivas da pesquisa a uma falsa dicotomia epistemologica que apresenta, por um lado, a vertente destacando o tratamento da subjetividade, defendida pelos autores vinculados aos enfodues cuja matriz comum esté na fenomenologia e, por outro lado, a vertente, fundada nos parametros da ciéncia cmptrico-analitica, que prioriza a objetividade dos processos, ©8 quais, no tratamento dos fatos sociais ¢ na pesquisa cien- Uifica, so conhecidos como enfoques positivistas, Os autores que desenvolvem essa dicotomia ou alertam Para o dualismo epistemolégico, costumam explicitar algu- mas categorias cientificas que identificam melhor essa Polarizacdo. As categorias mais divulgadas sao: objetivida, de/subjetividade® ¢ explicacao/compreensio,* também anotar que alguns autores representantes desse cal o “reducionismo* ea pretendida objetivided xilogicas ds enfoques positivist; assim também outros que accitam 0 tratamento dos fenémet Mos com as categorias das ciéncias as noe quas ais procedimente siopossves, especialmente nos cepoce biologicos, Goetz ¢ Le Compt, 1964; Franco, 1988; Sanchez Gamboa, 1987, 6 De Landsheere, 1986; Cupani, 1906; Sanchez Gamboa, 1987, 2 SANTOS FLO GAMBOA Segundo Gibaja, “as dessemelhangas — entre os diver- Sos enfoques ¢ as tradicdes filos6ficas em que se inscrevem ~ Podem se encontrar nos procedimentos de coleta ¢ and. lise dos dados, nas formas de conceituar os problemas Perceber os objetivos da pesquisa, nas modalidades com as duais os pesquisadores se relacionam com a realidade ou nas concepgdes da verdade, a objetividade e a validade. Uma das diferengas mais importantes reside na medida em que 2 concepeio de conhecimento e de verdade envolve uma Postura relativista que tem consequéncias na tarefa de pes- quisar” (1988, p. 86). Entende-se, portanto, que as principais diferengas Encontram-se nos pressupostos gnosiol6gicos epistemo- Jogicos, referentes as concepgdes de objeto e de sujeito e ae maneiras ou caminhos da relagdo cognitiva. Priorizar um ou outro polo da relagdo traz consequéncias para todo o Proceso de pesquisa. De fato, se 0 proceso cognitivo se Centraliza no objeto, na tentativa de despir 0 processo de Conotagoes subjetivas e de produzir um conhecimento objetivo, estamos propondo procedimentos que garantam a observagao controlada, a origem empirica dos dados, os testes dos instrumentos para neutralizar qualquer interfe. réncia de valores ¢ de interpretagées subjetivas, a codifica. 60 numérica, a univocidade dos enunciados eo raciocinio hipotético-dedutivo, Nesse caso, estamos falando do. enfoque empirico-analitico ¢ do positivismo l6gico. Se 0 processo cognitivo se centraliza no sujeito, estamos Supondo que 0 acesso aos fatos seja possibilitado pela compreensio do sentido, em lugar da observagao controla- da. O proceso exige o comando do intérprete que assume 4 subjetividade fundante do sentido’, a interpretacdo (her. PESQUISA EDUCACIONAL 93 menéutica) dos fendmenos, recuperando os significados, 0 Sentido ou os varios sentidos (polissemia) dentro de seus Contextos de significacao (horizontes de compreensao), Nesse caso, estamos falando dos enfoques fenomenologicos © etnograficos. Os pressupostos anteriores explicitam-se quando se Conirapbem as categorias explicar/compreender que ma- nifestam duas maneiras de defini, delimitar ¢ constituir 08 objetos. As abordagens empirico-analiticas delimitam ° objeto de estudo constituindo-o como um todo e caminhen. oem direcdo das partes que o integram (método analitico); Ot contextos sa0 isolados ou controlados (varidveis interve. Fates ou de contexto). O conhecimento produz-se identi. fcando as partes (variaveis) e relacionando-as entre si, Segundo os principios da causalidade que permitem explicar © objeto, ‘14 as abordagens fenomenol6gico-hermenéuticas ini- cone Proceso, valendo-se da parte (0 simbolo, o gesto, a Cfpressio, 0 texto, a manifestagao do fendmeno), e cami. ham em diregdo do todo, recuperando o contexto de sig nificagao (método compreensivo). O conhecimento acan ‘eee quando captamos o significado dos fendmenos desvendamos seu verdadeiro sentido, Tecuperando (de forma também rigorosa) 08 contextos, as estruturas bas cas as ceséncias (invariantes), com base nas manifestagoes empiricas (variantes). Conhecer € compreender os fend. menos em suas diversas manifestagdes ¢ contextos. Para ‘anto, osujeito tem que intervir interpretando, procurando acu Sentido, ¢ utilizando técnicas abertas que permitam a manifestagdo profunda dos fendmenos (técnicas qualitati vas); de forma diferente, no método analitico, 0 sujeito o SANTOS FLHO-GAMBOA Procisa ficar distante, excluir seus valores, suas interpreta- es, ¢ utilizando técnicas e instrumentos que filtrem a subjetividade © permitam uma formalizagdo rigorosa, de referencia numérica (técnicas quantitativas). Essa breve referéncia aos elementos mais complexos que envolvem a discussao dos niveis técnicos, indicam-nos due a tentativa de superar o falso dualismo técnico poderd Conduzir a uma falsa dicotomia epistemologica A redugio das alternativas da pesquisa em Ciéncias Sociais a duas abordagens epistemologicas, fundadas nas tradicdes positivista e fenomenolégica, expressa alguns iscos, dentre os quais, dois parecem ser os mais sérios. © primeiro risco esta em situar num mesmo campo, ¢ de forma indiscriminada, diferentes concepges de ciéncia, Por exemplo: chamar de Positivismo simplesmente tudo aquilo que no se enquadra dentro dos requisitos do enfoque fenomenol6gico ou etnogréfico, englobando num mesmo grupo o empirismo, o Positivismo, o neopositivismo | © condutismo, o funcionalismo, o materialismo histérico etc. De igual maneira, considerar como subjetivistas, ¢ por- tanto concepgdes *pouco rigorosas” ou ideolégicas, os enfo- ques fenomenologicos, existencialistas, historicistas, inclu- sive os dialéticos etc. Como vemos, pode-se dividir o campo das alternativas em dois grupos, dai o risco da dicotomia epistemolégica © segundo risco, consequéncia do anterior, consiste em excluir terceiras opgdes. Quando a superagio do dualis- mo técnico se transforma numa dicotomia epistemolégica © se radicaliza de tal maneira, a discussdo sobre essa dico- tomia, a ponto de emergirem apenas dois enfoques, ou seja, duas maneiras de fazer ciéncia com critérios de cientifici. PESQUISAEDUCACIONAL 5 dade diferentes, parcce que se argumenta dentro do racio- cinio légico do terceiro excluido,” Segundo essa forma de pensar, cada enfoque se acre- dita o mais cientifico, valido ou apropriado para tratamen. to dos fendmenos sociais; os outros enfoques sao conside. rads “ismos" ou ‘vieses" ¢ carecem de validade; portanto, ndo conduzem a um conhecimento cientifico ou verdadei. ro. Essa parece ser a argumentacdo que, em entrelinhas, 6 defendida quando se confrontam os métodos qualitativos versus quantitativos ou os enfoques positivistas versus etno- BTaficos. Nesse sentido, parece que o critério predominante Para discutir as opcdes epistemol6gicas se fecha nessa al- ‘ernativa. O discurso que aplica radicalmente o principio do terceiro excluido parece dispensar outras abordagens, ou fechar o espaco para outros enfoques, também vélidos como, por exemplo, 0 materialismo histérico. De igual maneira, a dicotomia epistemol6gica parece coibir e des- ualificar as possibilidades de sintese entre os elementos 7, Dentro das leis da tgica formal que regulam o pensamento ¢ a manifes Lazio das idelas, ¢ conhecida a lei do "terciroexcludo* que se aplica com bane ‘a Dresenga de dois juizos contraditerios, em que um dos dois 6 verdadeiro ee outro faleo, nfo existindo a possbilidade de um terctrojulzo(metade verde 106 metade fs}. Fazendo um paralelo com a dscassio sobre as alternativae da Pesquisa, que, em forma simplificadora, as reduz.a duas opgdes, podemns dena cist tsa mancira de colocar a discusso, radiclizando, em forma gresscira, 6 Principio dos juizos 9% SANTOS FILHO GAMBOA dualitativos ¢ quantitativos em um mesmo processo meto- dolégico, a interagao sujeito-objeto na produgao do conhe- cimento ¢ a articulagao de processos de explicacdo ¢ compreensao na elaboragao da mesma pesquisa 3.A procura de sinteses possiveis Na tentativa de superar os falsos dualismos técnicos ¢ metodolégicos, os pesquisadores parecem ter trés reagdes Essas reagdes caracterizam-se pelo rechago a qualquer tipo de ecletismo ¢ pela aceitacdo de uma base epistemolégica no confronto dos elementos técnico-metodologicos. Enten- demos que as reagdes podem ser configuradas como Pos- turas mais ou menos proximas a uma sintese entre os as- Pectos confrontados. 1. A postura mais radical ligada a critica de toda tenta- tiva de conciliagao entre os modelos de pesquisa, é assumi- da por alguns autores, os quais afirmam que os problemas técnicos ¢ metodolégicos implicam concepgées de ciéncia © de conhecimento totalmente diferente.* A validade de uma pesquisa no depende das técnicas, mas da construgao logica empregada. Nao possivel reduzir o conflito dos enfoques a diferencas técnicas ou a uma questo de prove. dimentos. Cada enfoque tem uma légica propria que se identifica com uma visdo de mundo e com os interesses que comandam o processo cognitivo: Esses interesses so incompativeis e impossiveis de serem conciliados, levando necessariamente a conclusdes diferentes. Nesse caso, 0 8, Autores como John Smith ¢ Lou Heshusius, tados por Gibaja (1988) PESQUISA EDUCACONAL 7” Pesquisador que deve optar por um enfoque, precisa ter Clareza das limitacOes ¢ das implicagoes da sua escolha, No Primeiro texto apresentado neste livro, Santos Filho amplia as razGes dessas posturas, as quais tém evoluido do radica- lismo das diferengas para a aceitagao das varias. abordagens, nas defendendo uma maturacao dos paradigmas qu Ciéncias Humanas, ainda se encontram numa fase an 2, sendo prematuras as sinteses apresentadas, cabendo, entdo, no melhor dos casos, a tolerdncia ¢ 0 pluralismo epistemolégico. A maturidade ainda nao alcancada 6 tam- bém um indicador da Possibilidades futuras de desenvol- vimento € dos desafios que essas ciéncias “adolescentes* tém a percorrer. 2. Asegunda reagao caracteriza-se por admitir diferen- es modalidades de trabalho ¢ tolerar a coexisténcia de modelos ¢ a conveniéncia de trabalhar com formas quanti- {ativas e qualitativas como um modo de completar e ampliar informagdes com base em pontos de vista diferentes,® Aceitarse a “especificidade" dos enfoques, a diferenca de Procedimentos de andlise e interpretagdo dos dados ¢ a Possibilidade de chegar-se a conclusées semelhantes ¢ complementares, Essa reagdo mais pragmética pouco se detém em discutir as diferengas, quando se trata de atingir 08 objetivos do conhecimento de uma realidade complexa due cxige o recurso de diferentes abordagens, as quais no 86 ampliam e complementam os conhecimentos sobre uma determinada problematica, senao que ‘so passiveis de uso simultaneo’ 2 Gocis © Le Compte (1964); Rezende, A. Concepedo fenomenoligica da ‘educagéo. Sto Paulo: Cortez, 1990. so SANTOS FLHO-GAMBOA 3. A terceita postura ¢ assumida por autores que pro- Poem uma sintese que supere os falsos dualismos ¢ as di. Cotomias epistemologicas.” Admite-se a existéncia de diver- 50s enfoques, na medida em que num continuum se Polarizam diversos aspectos do processo da producdo de conhecimentos. Tas polarizagbes geralmente se apresentam cnire as categorias da objetividade e subjetividade, entre duantidade ¢ qualidade, entre explicagdo compreensio fuute registro rigoroso de dados e interpretagdo etc. De igual forma, aceita-se que nao é possivel estabclecer uma relagdo direta entre as técnicas, o8 métodos ¢ uma base epistemo. logica. A articulacdo desses elementos, a proporgio de utilizacdo de fatores quantitativos ou qualitativos, subjetivos € objetivos, dependem da construgio légica que o pesqui. sador elabora, nas condigdes materiais, sociais e historicas due Propiciam ou permitem o trabalho de pesquisa. Nesse sentido, a pesquisa é o resultado dessas condig&es, cons derando-se, portanto, um produto social hist6rico. A soci, ‘acdo da possibilidade de diversos enfoques, que se definem com fundamento em polarizagdes ou énfases nas diferentes Construgdes logicas que priorizam um determinado elemen- (0, conduz também a aceitar a possibilidade de novos enfo. ues due poderiam resultar da sintese dos clementos pola. Tizados ou privilegiados em outros enfoques Podemos observar que aqui nao se trata de opgies ra- dlicais, mas de definir intensidades nesse continuum, 0 que leva a uma maior elaboragao e articulagio de conc tos, corrigindo desequilibrios Presentes nas formas radicais dos 10, Brasco, Maria Laura. © tstudo de cuco" no flso conto que se enabelece Pacer A Manthatva ¢ andise qualtatva, So Paulo: PU, 198, (Mineo) Pucorr, Sivcnts Cannan, Fn, Nos. I: Pazenoa (1981) PESQUISA EDUCACIONAL * Paradigmas quantitativo-realista ou qualitativo-idealista, ou do objetivismo e do subjetivismo, ou da predominancia da explicagao ou da compreensio. Na evolugao dos modelos, @ autocritica ao seu interior, assim como 0 confronto com outros modelos, contribuem para a elaboragdo de novas verses menos radicais ¢ “mais equilibradas". Isso parece acontecer, de acordo com a interpretagéo de Guba (1990), tanto com as tendéncias pés-positivistas, modificando suas concepgdes de objetividade, admitindo a importancia das teorias mais abrangentes ¢ considerando os contextos na- turais (para superar o experimentalismo), como com as tendéncias subjetivistas, que tém substituido as concepgoes da interpretacdo ¢ dos valores individuais por padres so- cialmente accitos, categorias socialmente construidas ou verdades, fruto de consensos intersubjetivos. Defende-se uma objetividade processual, assimilando os principios do relativismo que caracterizam algumas ramas do atual cons- trutivismo. A aceitagdo de uma realidade socialmente construida leva & concordancia com as miiltiplas interpre- ‘agbes, igualmente validas, dependendo dos sujeitos que constroem coletivamente essa realidade. E por isso que, dependendo do consenso da comunidade cientifica, qual. quer paradigma seré aceito. Dai a possibilidade de superar © atual estdgio de polarizagdes mediante sinteses consen- suais, fruto do “dislogo entre os paradigmas" (Guba, 1990) Essa sintese consensual de uma visio intersubjetiva 6 diferente de outra maneira de entender: a sintese entre as polarizagoes, que parte da aceitacdo da contradigao entre esses polos, mas realizando um processo de passagens de um polo para outro. Nessa nova concepgdo de sintese, a Superacao dos pontos conflitantes acontece segundo um 00 SANTOS FLO GAMBOA Processo de aquisicao de novas formias em que se assimilam as caracteristicas negadas ¢ afirmadas na passagem de um extremo ao outro." Dentre os possiveis enfoques que buscam a sintese de contrarios so frequentemente enunciados os critico-dialé- ticos que vem se destacando nas atuais tendéncias da pes- auisa em Ciéncias Sociais e que, nos debates sobre os mé- todos qualitativos ¢ quantitativos ¢ sobre as dicotomias epistomol6gicas, pertencem ao grupo dos “terceiros exclu dos", anteriormente enunciados. Nio pretendemos, no espago deste capitulo, apresentar, de forma pontual, as contribuigées desses enfoques na Procura de possiveis sinteses. Destacamos, como exemplo, © materialismo hist6rico que, em principio, propse a sinte. S¢ como uma das suas categorias basilares, mesmo porque © Proprio materialismo hist6rico ja € uma sintese de grandes correntes do pensamento cientifico e filoséfico. Vejamos alguns aspectos dessa sintese,”? Ao longo da sua histéria, a dialética materialista tem Tecuperado a contribuicao de outras grandes tendéncias fi losoficas ¢ cientificas. Desde sua elaboragao, como aborda. gem cientifica (Marx), a dialética constituiu-se com base nas Jr. Na apresentagdo das diferentes reagbes a falsoGualismo, as duas prime ‘as dessa reas sdo amplamente expostas no texto de Santos Filho, Jas tone ka ead ada busca das sntese tem um malo espago neste batho, Eeperanen dre 2enfase dada terceira opco propicie um cero equlfbrio na apresenerio ‘das virias abordagens, para assim enriquecer ainda mais o debate 12, Remetemos oletor a outros autores que expliitam de forma amp essas sinteses: Ct A. A dialética materalisia, S30 Paulo; Alfa-Omega, 1982 run BV. A dialetica como logica e teoria do conhecinemto, Rio de Janeiro: Gt Tuzaato Brasileira, 1978; Roo, W. La flsofla, dalicica moderna, Pamplona Uensa, 1977. PESQUISA EDUCACIONAL contribuigdes do empirismo inglés e do idealismo alemao, apropriando-se de algumas categorias geradas e desenvolvi. das nessas grandes tendéncias filos6ficas ¢ transformando-as €m uma nova concepgdo filos6fica e cientifica. Hoje, qualquer avango na dialética alimenta-se, além de seu proprio desenvolvimento, da capacidade de assimi- lar as contribuigoes do moderno empirismo e da fenome- nologia contempordnea. Em relagio ao sujeito ¢ ao objeto, a dialética resgata © carater relacional do processo da produgao do conheci- mento. Ja Hegel questionava, nas teorias empiricas ¢ na Snoseologia kantiana, 0 duplo empirismo de um objeto dado € fixo ¢ um sujeito presente e definido, ¢ igualmen- ‘¢ critica 0 falso dualismo sujeito-objeto, quando s6 pre- tende separar o que é inseparavel, isto é, os dois polos de uma mesma totalidade, gerando, assim, correntes contra- Tlas no seio da teoria do conhecimento: o objetivismo e 0 subjetivismo, A superago do duplo empirismo e do falso dualismo possivel quando resgatamos os conceitos de totalidade ¢ de processo, ou seja, superamos a separagdo Sujeito-objeto, quando situamos os dois elementos funda- mentais da relagdo cognitiva em um todo maior envolven- te, que, segundo a concepeao marxista de totalidade con- creta, se refere as condigées materiais historicas que mediatizam e modificam essa relacdo. Dessa forma, o su- Jeito adquire uma dimensio histérico-social e estabelece uma relacdo dinamica com um objeto que se constréi com 0 instrumental te6rico-metodol6gico presente no momen- ‘0 da relacio. Por outro lado, a construgdo do objeto gera também um proceso de transformacdo no sujeito que se enriquece ¢ se realiza como tal. O resultado desse proces- vee SANTOS FUMO GAMBOA 80 de inter-relagdo e de miitua elucidacdo é 0 conhecimen- to, entendido como "o concreto no pensamento’ Dentro dessa visdo de processo, em vez de priorizar um ou outro polo da relacao, destaca-se a prépria relacdo, determinada, fundamentalmente; pelo todo social hist6rico ue, como contexto maior, determina as condigées concre- ‘as da relacdo cognitiva. E essas condigées, por sua vez, dependem das fases de desenvolvimento das forcas produ. tivas (Novas técnicas, novos instrumentos, novas experién- Clas, novos referenciais te6ricos etc.) ¢ das relagdes de Producao (prioridades, interesses sociais, politicas de ciéncia ¢ tecnologia etc.) que possibilitam a realizagao da Pesquisa cientifica. Nesse sentido, a ciéncia é um produto social hist6rico, As categorias de explicagao e compreensio, conside- radas em outras abordagens como categorias cientificas separadas ¢ independentes, caracterizando tipos diferentes de ciéncia, na dialética implicam-se mutuamente, As duas se dio como resultado dos processos de andlise, sintese do movimento; da passagem do real empirico ao abstrato ¢ deste ao concreto (processos e categorias que se articulam na dinamica do processo do conhecimento). Na perspectiva da dialética, a compreensao e a explicagao nao so apenas Processos intelectualmente conexos, mas sim um s6 pro- Cesso, simplesmente referidos a dois niveis diferentes, mas articulados, na construgio do objeto. £ assim que qualquer descrigdo de uma estrutura dindmica, ou de uma estrutura ignificativa, “tem um cardter compreensivo em relagzo ao objeto estruturado ¢ um carater explicativo em relagao as estruturas mais limitadas que sdo seus elementos constitu. tivos” (Goldmann, 1979, p. 9) PESQUISA EDUCAGONAL 103 Em relagdo as categorias quantidade-qualidade, as Pesquisas com enfoque dialético, no que se refere as técni- Cas, geralmente utilizam as historiogréficas, tratando as dimensdes quantitativas e qualitativas dentro do principio do movimento. Bssas categorias modificam-se, complemen- tam-se ¢ transformam-se uma na outra e vice-versa, quando aplicadas a um mesmo fendmeno. De fato, as duas dimen- S6es ndo se opdem, mas se inter-relacionam como duas fases do real num movimento cumulativo e transformador, de tal maneira que nao podemos concebé outra, nem uma separada da outra, Nesse sentido, os textos basicos sobre a dialética con- Sideram como um de seus principios, ‘a passagem das mudaneas quantitativas as mudancas qualitativas e vice- ~versa", aplicadas inicialmente por Engels a dialética da izada na andlise da di- ndmica da formagao das sociedades e das transformagoes dos fenémenos sociais ¢ politicos (cf. Lowy, 1975). Esses Principios da concepgao dinamica da realidade e da uni- dade volvimento ¢ constante transformagio, sio a base para natureza e depois amplamente luta de contrarios que explicam sua origem, desen- Considerar que as mudangas qualitativas estao ligadas necessariamente a mudangas quantitativas. Em outros termos, toda mudanga qualitativa 6 o resultado de certas mudangas quantitativas. Por outro lado, “uma qualidade nova, surgida em decorréncia de mudangas quantitativas determinadas, ndo se comporta de maneira passiva em relagdo a essas wltimas, mas, pelo contrario, exerce uma influéncia de volta, acarretando também mudangas carac- teristicas (sic) quantitativas rigorosamente determinadas* (Cheptulin, 1982, p. 213). 104 SANTOS FLHO-GAMBOA, Na pesquisa em Ciéncias Sociais, frequentemente sio Uutilizados resultados ¢ dados expressos em niimeros, Porém, Se interpretados ¢ contextualizados a luz da dinamica social mais ampla, a andlise torna-se qualitativa. Isto é, na medida em que inserimos os dados na dinamica da evolugdo do fenomeno e este dentro de um todo maior compreensivo, ¢ preciso articular as dimensdes qualitativas e quantitativas em uma inter-relagdo dinamica, como categorias utilizadas pelo sujeito na explicagao € compreensao do objeto. Como vemos, a superagao do falso dualismo técnico implica a abrangéncia de outros elementos constitutivos do processo Cientifico. Ao mesmo tempo, a superagao das dicotomias femol6gicas também exige a retomada das categorias icas da produgao do conhecimento, extrapolando as Polarizagdes entre quantidade-qualidade, sujeito-objeto, explicacdo-compreensao etc. Exige, ainda, novas concepobes de pesquisa ¢ esforgos na busca de sintese e novas maneitas de articular os elementos constitutivos da investigacao em Ciencias Sociais, Conclusées Os esforcos em superar o dualismo técnico, relativi. zando a importancia que as op¢des instrumentais adquiri- ram nas ultimas décadas, poderiam nos levar a dicotomia epistemolégica, quando se remete a discussao as concepgoes de ciéncia nas quais essas opcdes se embasam. Essa trans. feréncia, embora seja um avango na polémica, podera acarretar outra falsa ogo, na medida em que o raciocinio fica preso a logica formal do principio do “terceiro excluidot PESQUISAEDUCACIONAL 10s Dentre as diversas reagdes ao dualismo quantidade- ~dualidade, apontadas nos trés capitulos deste livro, damos énfase aquelas que buscam superar a dicotomia epistemo- leégica, procurando a sintese entre os elementos conflitantes, Fssa sintese pode ser entendida de diferentes maneiras, Indicamos a seguir duas formas do processo: uma em que ele ¢ interpretado como um consenso intersubjetivo e como 2 possibilidade de construir (constrativismo) diversas sin- ‘eses dentro de um continuum entre os polos apontados, sendo a proposta feita pelos defensores do didlogo entre os Paradigmas, que buscam equilibrio entre as polarizagoes Sujeito-objeto, quantidade-qualidade, explicagdo-compreen- S4o, registro controlado dos dados-interpretacao etc. Outra forma de entender a sintese refere-se a superacao de niveis de um mesmo processo em que 6 admitida a contradigao entre os opostos ¢ a passagem de um para o outro. Na di namica dessa passagem, as caracteristicas quantitativas fornam-se qualitativas e vice-versa, constituindo-se no pro- cesso da produgio do conhecimento em categorias insepa- raveis, embora opostas. Essa concepcdo de sintese, referida a0 materialismo histérico, é relativamente reconhecida elas tendéncias neomarxistas, identificadas com as teorias criticas da Escola de Frankfurt. As propostas de sintese aqui apresentadas com algum destaque, interpretadas pelo cons- {rutivismo ¢ as teorias critico-dialéticas, nao sao as tinicas, nem esgotam as alternativas. Muitas outras possibilidades surgirdo na medida em que se acumula a “massa critica’ gerada na pratica da pesquisa e na reflexdo sobre ela. De igual maneira, as propostas de sintese ndo sio as iinicas Saidas para o debate aqui apontado. Como temos observado, h4 outras formas de abordar a controvérsia quantidade. 16 SANTOS F1uHO «GAMBOA “qualidade, todas esgrimindo suas justificativas e propondo suas solugdes; daf a riqueza deste debate. Referéncias ALVES, A. J. Paradigmas de pesquisa em Educagdo: uma av. dos desenvolvimentos recentes. Anped, 1993. (Mimeo.) CHEPTULIN, A. A dialética materialist, Sao Paulo: Alfa-Omega, 1982 COSTA, M. C. V. Pesquisa em Educagdo: concepeao e ciéncia, pa- tadigmas tedricos e 0 desafio da produgao do conhecimento, Anped, 1993. CUPANI, A. A hermentutica ante o po mo. Manuscrito, Campinas, Unicamp, ano IX, n. 1, p. 75-100, 1986. DE LANDSHEERE, G. La recherche en éducation dans le monde. Paris: PUF, 1986. FAZENDA, I. Metodologia da pesquisa edu tez, 1989, ional. Sao Paulo: Cor- Novos enfoques da pesquisa cducacional. Sio Paulo: Cortez, 1992. FRANCO, M. L. PB. Porque o conflito entre tendéncias m icas nao ¢ falso. Gadernos de Pesquisa, So Paulo, n. 66, p.75 1988, GAGE, N. C. 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