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O neoliberalismo, como sistema econômico e ideologia dominante, tem influenciado

profundamente a sociedade contemporânea. Essa influência é notável em diferentes


esferas, incluindo a saúde mental, onde o individualismo, a competição e a
mercantilização do cuidado têm contribuído para o sofrimento psíquico. Neste contexto,
os profissionais de saúde mental desempenham um papel fundamental na resistência a
esse sistema e na promoção de uma saúde mental coletiva e emancipatória. A seguir,
discutiremos como esses profissionais podem contribuir para essa luta e como é possível
criar um modelo de saúde mental que vá além das diretrizes do neoliberalismo.
1. Entendendo o impacto do neoliberalismo na saúde mental:
O neoliberalismo tem efeitos diretos e indiretos na saúde mental. As políticas
neoliberais levam à precarização do trabalho, redução dos investimentos em saúde
pública, e a uma ênfase no autocuidado como responsabilidade individual. Essas
condições contribuem para o aumento dos transtornos mentais, estresse e sofrimento
psíquico.
2. O papel dos profissionais de saúde mental na resistência ao neoliberalismo:
a) Formação crítica: Para combater os efeitos do neoliberalismo na saúde mental, é
essencial que os profissionais sejam capacitados a analisar criticamente o contexto
sociopolítico e econômico em que atuam. Isso inclui o estudo das bases teóricas do
neoliberalismo e a compreensão de como suas políticas afetam a saúde mental das
pessoas.
A formação crítica é um elemento-chave para os profissionais de saúde mental que
desejam resistir ao neoliberalismo. Isso envolve não apenas adquirir conhecimentos
técnicos e habilidades clínicas, mas também desenvolver uma compreensão profunda
das complexidades sociopolíticas e econômicas que permeiam o sistema neoliberal. Ao
se familiarizar com as teorias e políticas que sustentam o neoliberalismo, os
profissionais de saúde mental estarão mais bem equipados para identificar e desafiar as
estruturas de poder que contribuem para o sofrimento psíquico.

b) Práticas clínicas e terapêuticas emancipatórias: É essencial que os profissionais


desenvolvam abordagens terapêuticas que promovam o empoderamento e a
emancipação dos indivíduos. Essas práticas devem ir além da mera adaptação ao
sistema neoliberal e buscar, ao invés disso, transformações no modo como as pessoas se
relacionam consigo mesmas e com os outros.
As práticas terapêuticas emancipatórias são abordagens que buscam ir além do simples
alívio dos sintomas e do ajuste do indivíduo ao sistema neoliberal. Em vez disso, essas
práticas têm como objetivo promover o empoderamento e a emancipação dos
indivíduos, permitindo-lhes reconhecer e enfrentar as fontes de sofrimento psíquico
relacionadas às condições sociais e políticas.
Isso pode incluir a aplicação de técnicas terapêuticas que ajudem os pacientes a
questionar e desafiar as normas e crenças impostas pelo neoliberalismo, além de
promover o desenvolvimento de habilidades de resiliência e autodeterminação. Essas
práticas também podem envolver o trabalho em grupo, incentivando a cooperação, a
solidariedade e o apoio mútuo entre os participantes.

c) Articulação com movimentos sociais e políticas públicas: Os profissionais de saúde


mental devem se engajar na luta por políticas públicas que garantam o acesso à saúde
mental de qualidade para todos, bem como participar ativamente de movimentos sociais
que combatam a desigualdade e a precarização do trabalho.
Os profissionais de saúde mental devem se engajar ativamente na luta por políticas
públicas que garantam o acesso à saúde mental de qualidade para todos,
independentemente de sua capacidade de pagar por serviços privados. Isso pode incluir
a defesa de investimentos em saúde pública, a expansão de serviços de saúde mental
gratuitos ou de baixo custo e a luta contra a privatização da saúde.
Além disso, os profissionais de saúde mental podem se juntar a movimentos sociais que
lutam contra a desigualdade e a precarização do trabalho, que são fatores importantes no
sofrimento psíquico relacionado ao neoliberalismo. Ao se envolver nessas lutas, os
profissionais de saúde mental demonstram solidariedade e compromisso com a
construção de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual o bem-estar psicológico
possa ser melhor promovido e protegido.

3. Construindo um modelo de saúde mental coletiva e emancipatória:


a) Promoção da saúde mental comunitária: O trabalho dos profissionais de saúde mental
deve incluir a promoção de espaços de diálogo, cuidado e apoio mútuo nas
comunidades, ajudando a construir redes de solidariedade e cooperação.
A promoção da saúde mental comunitária envolve o desenvolvimento de intervenções e
práticas que fomentem a criação de redes de apoio e solidariedade entre os membros da
comunidade. Isso inclui ações que promovam o diálogo, a escuta e a troca de
experiências, bem como o fortalecimento de laços sociais e o engajamento coletivo no
enfrentamento das questões de saúde mental.
Os profissionais de saúde mental podem atuar como facilitadores nesse processo,
colaborando com comunidades na identificação das necessidades e na implementação
de estratégias que promovam o bem-estar psicológico e a resiliência coletiva. Isso pode
incluir a realização de oficinas, grupos de apoio e ações comunitárias.

b) Integração de saberes e práticas interdisciplinares: Para enfrentar os desafios


impostos pelo neoliberalismo, é necessário articular saberes e práticas de diferentes
áreas do conhecimento, como a psicologia, sociologia, antropologia e filosofia, assim
como valorizar os saberes populares e tradicionais.
A integração de saberes e práticas interdisciplinares é fundamental para criar um modelo
de saúde mental coletiva e emancipatória que vá além das abordagens tradicionais e
individualistas. Isso envolve a colaboração entre profissionais de diferentes áreas do
conhecimento, como psicologia, sociologia, antropologia e filosofia, para analisar e
enfrentar os desafios impostos pelo neoliberalismo à saúde mental.
Essa integração também envolve a valorização dos saberes populares e tradicionais,
reconhecendo a riqueza e a diversidade das perspectivas e práticas culturais no cuidado
com a saúde mental. Ao incluir esses conhecimentos, os profissionais de saúde mental
podem desenvolver intervenções mais contextualizadas e culturalmente sensíveis,
contribuindo para a emancipação e o empoderamento das comunidades.

c) Educação popular em saúde mental: A educação popular em saúde mental pode ser
uma ferramenta importante para a construção de uma saúde mental coletiva e
emancipatória, capacitando a população para compreender e enfrentar os problemas de
saúde mental relacionados ao contexto neoliberal.
A educação popular em saúde mental é uma estratégia que visa capacitar a população
para compreender e enfrentar os problemas de saúde mental relacionados ao contexto
neoliberal. Por meio da educação popular, os profissionais de saúde mental podem
promover a conscientização sobre os fatores sociais, políticos e econômicos que afetam
o bem-estar psicológico e encorajar a participação ativa das pessoas na busca por
soluções coletivas e emancipatórias.
Essa abordagem pode incluir a realização de oficinas, rodas de conversa e outras
atividades educativas que visem à construção do conhecimento e à promoção do diálogo
crítico sobre as questões de saúde mental. Ao empoderar a população para enfrentar os
desafios impostos pelo neoliberalismo, a educação popular em saúde mental contribui
para a construção de uma saúde mental coletiva e emancipatória.

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