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i -° "vy Ses TTS Luckesi Cipriano Carlos Ayaliago da aprendizagem:componentes do ato pedagogico. 1* edicdo. Saolaulo:Cortez, 201 1.p.295-334. CIPRIANO CARLOS LUCKESI Avaliacao da aprendizagem componente do ato pedagégico Gare 0201 byCoeie Cee tet Dicer ce pale (CORTEZ EDITORA, n [Rua Monte Alegre, 1074 ~ Pendies '05014-000 ~ Sio Paulo SP “Tels (11) 3866 0111 Fax (11) 3864-4290 ‘ottercorteretitora.com.hr ‘wwccortredions comb Directo Jo Keser Cotes Edcoe Amer iedese Preparacio Alecanes Soares Santana “Fabie Jctna de Sout Rocrigy a Sia Lima Baio de Are Mosriio nde Sal “Reiiente de Ane Carling Ragone Sacer Tapresto more de Fe ‘Dados Itemacicnas de Cetalogardo na Pulao (IP) (Camara Brasicra co Liv, SP, Eras), ‘cee, Cipro Canes ‘Arageceorendagen serpent 0 0 peagorte | ‘Gonuse Cars Lace “1. ek ~ Ss Pats Cater 2011, Biblogsta SAN 978.85.200.1651 |, Pasegogi2. Pesos ateaial~ Metblogs Potente ceo copa eies pare alslogo sistent: LPemussemeasepaeMeeéiogs 37201 Traps no Brel pcr de OTT ava Regina, mulher que amo. Para meus fllus — Sandra, Mérwo ¢ Leonardo que Jd passaram ow estéo pasando pelasdistrcbes dit _présecas avaliatraasaunda presentes na excl Para minhas netas Carol, Lilie Nanda e para meus netos Joo e Jodo Francsce, na eperanca e no deo de que, quands chegarem i escola, vivenciem pratcas aus sauddvers de avdliacto da aprendisager. 2 Parte Enastirfo situagdes de impasse na aprendizagem que no ‘possam ser suficientemente sanadas aponas pelos cuidados do educedor. que mterage diretameite como edueando, Por vezes, a solucdo dependeri de intervengées miltiplas, envalvendo 0 diretor da escola, o supervisor o onentador pedagégico, pats ou outros profissionats. Nessas circunstincas, importa que todos ‘entrem em ago para que, com o educador. se encontre uma via de soluglo para a dificuldade apresentada. Por fim, no que se refere & avaliagio da aprendizagem —e. qualquer outra price avaliativa ~, vale fembrar que o ato de ava- liar nfo soluciona nada, mas somente retrataa qualidade de uma situagdo. A soluedo ver da decisio e investimento do gestor que rreconhece a situacio problematica e decida ultrapassi-la ‘As madalidades de avallagio de acompanhamento e da c tificagdo da aprendizagem serio nossas aliadas na busea do su- ccesso de nossa ago educativa, Sua fungio 6 subsidiar 0 sucesso de todos, de edueadores e de educandos, assim eomo, por con- sequéncia, do sistema de ensino, Isso implica suprimir da face da Torra.o uso dos exames no e5- ppco das salas de aula de nossas escolasmnluindo af a idein ou renga do exames como recursos de disipiinamento ¢ castigo de nossos educandos. Os exames devem ser reservados para as situ ‘es seletivas, nfo para a sla de aula espago de aprendizagens, Nesse espago, os atos avaliativos de acompanhamento ¢ de certificagio da aprendizagem serao nossos efetivosaliados na ob- tengio do sucesso nos resultados e na democratizagao do ensino. iio podemos abnr mao deles, sob pena de permanecermos no modelo autonitino, seletivo e discrmnaténo dos exanies esco- Jares que ainda temas hoje em nossas escola Instrumentos de coleta de dados para a avaliacdo da aprendizagem na escola: um olhar critico No capitulo anterior, ticemos oportunidade de compreendar que o ato de avaliar implica, em primeiro lugar, uma desorigdo da realidade com a qual estamos trabathando ¢ ela, por sua ‘ez, depende de dadlas. Neste cepttulo, como no préximo, amos dar atengio a questdo dos instrumentos de coleta de dados sobre o desermpenho do educando, os quais tom a functio de garantir adequada e satisfat6ria descricao da realidade de seu desempenho na aprendizagem. Para que o ato de avaliar se processe de forma adequada em seu aspecto metodotigicn, 0 avaliador nda pode fugtr d necessidade consttutiva de uma a mets completa possteel, de seu objeto de estudo, ige recursos téentces de coletas de dads. o que e 0s dados necessitam ser coletados em conformidade com as exigneias do objeto de estudo, on seya, com 0 que estamos investigando e com a forma pela qual abordamos nosso objeto de pesquisa, o que implica, no caso do ensino-aprendizagem, ter provontes as configuragéca do projato da escola, como também dos planos de ensino, assim como das aulas. © que mporta 2s 2 Parte Instrumentos de coleta de dados para a avaliacdo... um othar cxtioo 296 avaliar € 0 resultado da ago, e esta deve estar définida nessas anstancias. Nesse contexto, os mstrumentos necessitam ser éla- bborados, aplicados e comngidos segundo especificagées decor- rentes dessas decisbes préaas A ago. Flas definem os resultados almejados,e, entio, a avalagfo enste para informar se eles foram atingdos ou nfo e, com que qualidade. Se nossos mnstrumentos de coleta de dados nfo nos propiciam iss0, so insatisfat6nos, Ultimamente, em nosso meio edueacional escolar, temos ‘convivido com uma séne de critieas, por vezes ing?nnas, emt e- lagao ao uso de mstromentos de coleta de dados sobre o desem- penho de aprendizagem dos estudantes, tendo em vista sua avallagfo. Diz-se, por exemplo, que questionérios com perguntas abertas e fechadss, assim como 0s testes, j& nao sio instrumentos adimssivers numa escola que tenha, entre seus modos de agur pe- dagogicamente, a pritica da avaliagio da aprendizagemn. Nesse sentido, aqui e acold ovvirnos depoimentos do tipo: “Na minha escola, hoye, s6 trabalhamos com avaliagéo. Nao usa- ‘mos mais os testes”: “Na minha escola, trabalhamos com avalia- ‘20; por isso, nio temos semana de provas.” Ou entio se diz: “Na minha escola, agora, estamos trabalhando com avaliagio. L n6s uusamos o portflio, nflo mais os testes.” Tais depolmentos sto equivocados, visto parecer que 0 uso de instrumentos estruturados para acoleta de dados sobre o de- sempenho do educando é que distorce a pritica avaliative ‘Trata-se de um engano que necessita ser abordado com um olhar exitico. Por outro lado, & medida que, em nossa tradiglo escolar, se zealizou uma vinculagéo dos instrumentos de coleta de dados sobre 0 desempenko dos educandos aos exames escolares, torna- -Se mais ou memos aufomnético, neste novo momento histirico da educagio, so tratar de avaliaglo, continuarmos atrelando-os inconscientemente aos exames, 0 que leva aos depoimentos 'mencionados no pardgrafo anterior; ou seya, com esse raciocfno, ppassamos a crer que basta a aboligio de instramentos estrutura- dos para que atuemos com priticas avaliativas. Ingémuo engano, pois o uso de instrumentos de coleta de dads, em i, nfo tem a ver com exames ou com avaliagho, Tanto 0 ato de exammar quanto o ato de avaliar necessitam deles. Exarne € avaliagiio exigem coleta de dados sobre o desempenho do edu- cando como ponto de partida do seu processamento, Os atos de cexamninare avaliardistinguenn-se pelas concepedes pedagigicas as ‘quats estio vaneulados e pelos seus conceitos nfo pelos recursos ‘t6enicos de coleta de dados utilizados. Falando em termos gerais, 1s dados coletados por meio dos instrumentos ~ contanto que sejam elaborados segundo regras metodolégicas cientffieas — podem ser os mesmos, entretanto a avaiago os utlizaré diagnos- ticamente e os exnmes classificatoriamente. Portanto, tanto para a pritica dos exames quanto para a da avaliagio necessitamos dos instrumentos de coleta de dados. Ambos os atos se assentam sobre dados da realidade que devem ser coletados, o que implica o uso de mstrumentos. Desse modo, por agora, apenas estamos confirmando o que jf fora expresso antes: para realizatmos uma pritica avaliativa, necessitamos de dados da reatidade e, para obté-los, necessita- ‘mos de mstrumentos que ampliem nossa capacidade de obser- vvagio da realidade. Importa ter presente que todos os mstrumentos de coleta de dados para a avaliacio da aprendizagem sao vitens, desde que sejam adequades 20s objetivos da avaliagao, sto é, adequados as nocessidades © ao objeto da agio avaliativa ¢ elaborados segundo as rogras da metodologia cientifica or 298 3s instrumentos poderio variar de uma simples cbservagiio sistemstica, baseada em um conjunto de mndicadores intencto- nalmente selecionados para isso. a testes escritos, redagdes, po- pers, monogralias, demonstracées préticas em laborat6rios ou situagées reas, além de sofsticados sumuladores que ortentam @ regtram os resultados da acKo do aprendiz, entre outros ins- trumentos possivess. importa que todos sejam adequados as fi- nalidades para as quais sio utilizados, Se necessitarmos de dados sobre memorizagio, o snstru- mento no poderé estar calcado em habilidades; porém, se ne- cessitarmos de dados sobre habilidades. ele nfo poderé estar estruturado somente para coletar dados sobre informages memorizadas pelos educandos. Os objetivos determinam a es- colha ea elaboragio dos instrumentos, No que se segue neste capitulo, cuidaremos de algumas no- ‘es nevessiiias sobre os instrumentos de coleta de dados para a pritca avalativa, aga como de uma extica aos mstrumentos de coleta de dads hoje comumente utilizados em nossas escotas. No capitulo subsequente, cuidaremos de orientagSes constrtivas © que serd importante nos estudos neste e no présimo ca- pitulo € que o leitor adquira a compreensio ~ traduzindo-a em pritica cotidiana ~ de que nfio se deve agir em pesquisa ou em avaliagtio sem que dados seyam coletados com rigor metodo- Togieo. Nao teremos como tratar dos muitos e variados instru- ‘mentos de coleta de dados para a avaliago da aprendizagem, ‘por isso daremos atencdo ao mais comum entre eles, 0s testes: todavia cabe ao leitor ficar atento ao fato de que os principios {que serio expostos constituem prinefpios gerais a serem leva dos em conta na elaboracio e uso de quaisquer instramentos de coleta de dados para a avaliago, desde os mais simples aos mais complexos. Assim sondo, 6 leitor mnteressado precisard buscar na literatura exstoato~ com algumas mdicagSes no final Instrumentos de coleta de cados pare a avaliagao... um ollar critica deste livro — estudos 6 onontagées para elaboragio e/ou uso dos vanados instrumentos de coleta de dados jé disponiveis. Neste livro, estamos mais preocupados com os prnefpios da eoleta de dados do que propramente com cada nm dos tips de instra- :mentos. mesmo porque cada um deles exigina compreensto de suas nuangas, e especificidades, 0 que tornana excesswvamente extensa esta obra, jé bastante longa. 1, Instrumentos de avaliagao ou instrumentos de coleta de dados para a avaliagao? Usualmente, denominarnos os testes, 0s questionérios com perguntas abertas e fechadas, as fichas de observagio, as redae 02s, 0s simuladores, entre outros. de instrumentos de avallagdo. Na verdade, eles ndo so “instrumentos de avaliago”, mas sim msirumentos de coleta de dados para a avaliagdo. Essa confusto pode ser negativa para a pritica avaliativa, pois, ao consideré-los “instrumentos de avaliagio”, quando estamos atuando no p= rmeiro passo do diagndstico, que se define pela coleta de dados, fica a parecer termos jé concluido o ato de avaliar Guntando os atos de coletar dados e qualificar a realidade, como se fossem uum tinico ato), o que efetivamente nfo se dé dessa forma. ara compreender isso, basta lembrar 0 que expusernos an- teriormente, estabelecendo a compreensio de que a avaliagio em geral ea operacional em espectfico se realizam como priticas de investigagio, Instrumentos ce coleta de dados sio propriamente os recursos aque empregamos para captar mformagées sobre o desempenho do educando, que sio a base da desoniio do sou desempenho, 200 ¥ 2Parte Instrumentos ae coleta de cados para a avallagao... um olhar critco Frente a esse entendimento, consideramoS'que recursos realidade, Sem esse passo, nossa pritica avaliativa earece de metodolégicos da avaliagdo sto: base. Nao sendo ¢ niio podendo ser arbitréno, 0 ato de avaliar 300 1) coleta de dados relevantes sobre a realidade do obyeto da ava- liagao mediante algum mero consistente de observagao: 2) qualificagtio do objeto de avatiagao por meio da comparaggio de sua desengéo com um exiténo; 3) €, no caso da avaliagso de acompanhamento, mtervengiio, se necesséna. Fodemos em sentido lato, denominar esses trés passos de “instrumentos da avaliago", uma vez que, metodologicamente, com eles realizemos 0 ato de avaliar, “Instrumentos”, nesse con- texto, seriam entendidos como “recursos” que utilizamos para fazer alguma coisa. Desse modo, reservarfamos a expressio instrumentos de cavaliagdo para designar os atos metodolégicos da pritica da av2- lingo, es expressto tnsérumentos de coleta de dados para a ava- liagdo para designar o que efetivamente eles fazem: “coletar dads”, como ponto de partida do ato de avalias Essa distinglo é fundamental para podermos por os ins- ‘trumentos de coleta de dados ~ fichas de observacio, testes, questionérios, redagdes, papers, monograflas, demonstraqdes, simuladores...~ no seu devido lugar e na sua devida fungio, 0 {que nos permitiré ser mais cuidadosos com 08 diversos passos do ato de avallar a aprendizagem dos nossos educandos, 2. Instrumentos de coleta de dados: necessidade e funcao Os insunentus de cule de dados para a avalagao = asin ‘como para a ciéncia — ampliam nossa capacidade de observar & necessita assentar-se sobre dados consistentes. Afim de compreenclero significado do uso de mstrumentos do caleta do dados, vamos tomar como exemplo o que acontece com um bioguimico ao usar um microscépio para observar ‘uma lamina em seu laboraténo. O microseépio, pars ele, é um instrumento que aumenta em muitas vezes 0 tamanho dos ele- mentos do seu objeto de estudo. Por conta desse aumento proporcionado pelas lentes do mstrumento, a capacidade de observar fica ampliada e enti, dessa forma, o bioquémica con- segue descrever o que se encontra oculto naquela lamina, invi- sivel a olho nu. Sem o microseépio, ele nio tera como saber, com preci- So, 0 que esti ali contido, visto que sio elementos ultrami- iisculos, nfl observéveis a olho ns, mieroseépicos. Procuremos transpor o contetido desse exemplo para a expe- riéneia de uso de instrumentos de coleta de dadas na pritia da avaliagdo da aprendizagem. Eles ténn a mesma fungéo de ampliar a capacicade de observagio do avaliador. Enquanto um biog ico observa micro-organismos, ou elementos que compdem o sangue de uma pessoa, ou qualquer outra coisa, 0 avaliador da aprendizagem observa 0 “desempenho do educando” em sua aprendizagem. Nenhum dos componentes desse desempenho poile ser observado direta e mediatamente por meio dos sentidos do avaliador, No minimo, este precisa estar presente onde ovorre uma ago do educando, tendo como instrumento uma lista de ddados que deseja observa, usualmente denominada de ficha de observacdo. Essa ficha ordena 0 que 0 avaliador deve observar © porsssoamplia sua capaeidade de estar atento a fatos essenciais so. 2 Parte (¢ nko & todos os fatos que se vorificam no espiigo de sua ab- servaggo}, Sea essa lista o observador no teré um foco de obser- vagio @ assum nfo poderd observar “fitos veniados, eventuais & aleaténos",o que nfo subsidaré ume adequada descrgio da rea- lidade em estado. Por exemplo, vamos supor que um educador esteja obser- ‘yando, diretamente, os comportamentos de educandos mum tra- balho em grupo. Para tanto, ele deve ter definido prevamente 0 que deseye observar, caso contréno, poderd observar e registrar condutas que nfo tém interesse para o seu objetivo, Nessa situa- ‘¢do, estard usando seus cinco sentidos para ter conhecimento do desempenho dos educandos no cumprimento de suas tarefis, 10- davia prestando atenclo em determinadas condutas espectficas, ¢ nil quaisquer delas. A auséacia de foco, neste caso, conduz.Aalea tonedade dos dados coletados, o que no serve de base consistent paraa pritica avaliativa. esse exemplo, vale amda sinalizar que a observagio direta tem limites: ela se da sobre o comportamento extero de cada ‘educando fe do grupo como um todo), de sorte que no revelar ‘que esté ocorrendo internamente em cada um deles, a ndo ser mediante uma deducio ou uma interpretacio externa, passivets, de engano. Essa forma de abordagem extema permite uma interpreta- #0, mas no uma observago apropriada do que efetivamente esté ocorrendo com um ou mais dos educandos. Permite cons- tatar que um estudante aprenden “isso” ou “aquilo” por meso das expresses eustenciais snanifeslas em sua conduta, porém no permite observar a fonte dessa conduta ~as conextes sindpticas realizadas no seu sistema nervoso central. uteus usstiumentos de coleta de dados, rospondides dixcta- mente pelo estudante (por escrito, verbalmente ou de forma ar Instrumentos de coleta de dados para avaliagSo... um olhar citico demonstrativa), na medida em que seam adequades Acircunstin- cia, podem e devem ser ntilizados para ampliar a capaeidade de ‘observagio do avalindor, com a consciénese de que eles fazem uma mediagio entre 0 observador ea realidade observada, ou sey. eles ‘ém o limite de serem instrumentos de coleta de dados “sobre a realidade”, No sto absolutos. Eles “expressam a realidade”, mas € possfvel que ndo sej “a realidad em toda a sua extensio' Como niio € possfvel observar diretamente, no cérebro do. cestudante, os sinals neurolégicos(sinapses} de que aprendeu de- termunada informapio, procedimento ou atitude, mesmo com os limites dos nossos melhores instrumentes. solicitamos. mediante penguntas,situagées-problema ou uma tarefia ser realizada, que ele mostre ter adquirido essa aprendizagem. A medida que reage com satisfatoredade a essas perguntas, stuagées-problema e/ou tarefas, dizemos que ele aprenden, A medida que respond susatisfatoriamente, dizemos que ainda no aprendeu, O desem- penho externo revela de algum modo o que ocorre itemamente ‘com algum educando em sua aprendizagem. Para ilustrar isso, tomemos, por exemplo, a busca de dados sobre a aprendizagem do contetidos de matemitica por eduean- dos da oitava série do ensino fundamental, Diretamente, olhando para o educando, sentado em sua earteira, quieto, sem agi, nfo 1hé como ter ciéncia do que ele aprendeu (ou no} sobre esses contetides. Todavi, se utilizamos um teste, este o convida aagu, respondendo as questées propostas ¢ expressand 0 que apren- deu ou nfo, Com isso em mndos, se as respostas as questies foram adequadas, dizemos que ele aprendou; caso seyamn madequadas, dizemos que ole nfo aprenden determnada coisa. No caso, nosso instrurnento atua indiretamente, Nao temas como observar o cérebro do educando diretamente, em funcio- namento, para afirmar se aprenden ou nio determainada cots: 308 2 Parte porém, por meio do instrumento, s¢ estiver saiisfatoriamente elaborado, chegaremos bem proximo de ter esse conhecimento, tuma vez que a conduta expressa dir, de forma mediada pelo instrumento, se houve ou ndo aprendizagem. Com o auxtlio des- ses mediadores, revelar-se-do as habilidades e capacidades inter nas construtdas por mero da aprendizagem de determinados contetidos. Ou seja. o teste --ou outros instrumentos semelhan- tes ~ amplia a capacidade de observagio do avaliador da apren- dizagem, visto que convida o educando a expressar aquilo que construiu internamonte. K por mero dessa capacidade ampliada ‘que o educador constaia e descreve a realidade da aprendizagem a ser qualificada no processo avalitiv. 3. Um olhar critico sobre os instrumentos de coleta de dados para a avaliagao elaborados e utilizados em nossas escolas ‘Todos os instrumentos de coleta de dados para a avaliagio da aprendizagem hoje existentes ¢ utiizados em nossas escolas ou fora delas — testes. questiondvios, redagio, monognaia, entrevista, arguigio oral, tarefas, pesquisas bibliogeéficas, relatGrios de ativi- dades, demonstragio em Inboratérto, relatSio de pesquisa, parti- cipagio em seminirios, apresentagbes pitblicas, utilizacio de sumtladores...-, em si, so titeis para exereicio da prética avalia- tiva da aprendizagem na escola Um diseurso que se vem tormando muito comum entre 1nés, educadores, é 0 que denomina esses imstrumentos de “tra- dicionais” e, por essa razdo, afirma que eles jf nfo fazem sen- tudo na pratica educativa escolar, Acredito ser esse um sutzo rnadequado. Todos esses instrumentos so tteis e podem ser a i i | Instrumentos de coleta de dados para a avaliagSo... um olhar critica utilizados. Contudo, o que devemos observar é se os instrumen- tos que estamos tilizando sto adequadas aos nossos obyetivas @ se apresentam as qualidades metodolégicas necessérias de um anstrumento satisfat6nio do coleta de dados para. a prética da ava- liagdo da aprendizagem. Aose elaborarinstrumentos de coleta de dados, algumas va ridveis devem ser levadas em conta. Quanto & adequagao dos instruments de coleta de dados as Gnalidades &s quais estes se destinam, importa ter presente ‘que o instrumento precisa coletar exatamente os dados necessé- ros para descrever o desempenho do educando que estamos precisando descrever, ~ nem mais nem menos, somente 0s ne- ‘cessérios, Essa é uma regra preciosa. Por exemplo, um teste composto de questies de miltipla es- colha nfo 6 adequado para diggnosticar se uma cnianga de oitava séne tem as hablidades necessérias para redigir um texto ou quai ‘fo suas habilidades de redagio, pois as rospostas as perguntas desse tipo de instrumento, por s, nfo revelario as habilidades de redigir do edueando, Para ter conhecimento delas, € preciso que ele redija variados textos, manifestando as habilidades jé ad- quridas. O mesmo pode ocorrer com qualquer outro conyunto de habilidades capacidades, Para coletar dadas essenciais re- lativos a determinada habilidade ou capacidade, importa que estas sejar configuradas especificamente no instrumento com exclusividade, Distorgdes na adequagfo do mnstrumento & meta {que se tenha 20 coletar dados sobre a realidade geram distorgdes no conhecmento que se estabelece com base neles. Quanto a satisfatoriedade metodolégica, os instrumentos devem ser elaborados segundo rigorosas regras de metodalogia, cientifica. Muitos instrumentos uttlizados em nossas escolas ca- recem dessa qualidade, senco elaborados de modo deseuidado 0s 2 Parte 06 e aleaténo, por vezes até com certa perversidide autoritiria, quando 0 educador que avalia decide, de alguma forma, eriar situagdes-problema dificeis em excesso ou externas ao con- tetido avaliado, A claboragto de consistentes, adequados @ bem elaborados anstrumentos de coleta de dados para a avaliagio da aprendiza- gem no cotidiano escolar é questo de vital mmport€ncia para a pritica educativa, Iustrumentos de coleta de dados elaborados ansatisfatonamente do ponto de vista metodol6gico no fazem jus ao esforgo dos estudantes e sua dedicagio & aprendizagem, as atividades do docente que ensina, como também nao fazem {Jus ao sistema de ensino, seja ele reprosentado pela instituicio ‘escolar especificamente ou pelo sistema de ensino do pats ‘Talvez-mais importante do que tudo isso, nstrumentos mal elaborados nao coletam os verdadeiros dados da aprendizagem dos edueandos, o que impede 0 educador de ter ciéncia do que © estudante aprenden e do que nfo aprendeu, Com um imstru- mento metodologicamente insatisfatdrio — portanto, enganoso ~, © edueador ndo poderd saber. com base em sua avaliagl0, no que necessita fazer mar investimento para que seus educan- dos efetivamente aprendam o que ainda nilo aprenderam, Ade- ‘mais, instrumentos mal elaborados ampedem que a escola, como instituiglo, identifique o proprio desempeno ¢ que 0 pais revele com preciso quats esto sendo 0s efetivos resulta- dos escolares decorrentes de suas politicas pablicas. Ou seya, instrumentos elaborados msatisfatoriamente geram prejutzos para todos: educandos, docentes. escola, pais, sistema de en- sino, soctedade, A questio dos instrumentos de coleta de dados para a ava- Tiago, tanto do ponto de vista de sua adequacdo quanto de sua satisfatonedade metodolégica, nio é de somenos umporténcia, Instrumentos de coleta de dados para a avaliago... um olhar exttica ‘como por vezes se acredita, mas constitu tema fundamental, pots so esses recursos que nos permitem observar com justeza a realidade da aprencizagem dos educandos, Um instramesto ansatisfatono, que distorga a leitura da realidade, pode trazer consequéncias até mesmo graves para a vida humana Quantos estudantes, em sua histéna pedagégiea, jf nfo foram prejudicados pelo uso do instrumentos inadequados ou tal elaborados de coleta de dados para a avaliacio da aprendi- zagem? Nos mesmos jé podemos ter sido vitimas desses desvos. Quantas vezes o sistema de ensino pode ter preyudicado seu co- hectmento da realidade educacional em decorréncia do uso de instrumentos sem os requisites metodolégicos necessérios? 3.1. Consequéncias negativas de um instrumento defeituoso na coleta de dados Exemplos ilustrativos de distorgées de leitura da realidade decorrentes do uso de instrumentos inadequados ou insatisfa- tonos podem emergur de qualquer érea de atividade humana. 0 caso do relato que ouvi em uma conferéncia sobre avalia- do da aprendizagem na escola. Nao sei se 0 episédio foi ver- dadeiro ou for imaginado para efeito de exposiedo naquola curcunstiness; actedito que teve um Fundo mais teatral que fac- tual, porérm ilustrativo do que deseyamos expor neste tépico, pois configura hem o que um instrumento insatisfatério pode fazer em termos de distorgiio da realidade as consequéncias gativas as quals ele pode mduzsz. Segundo o conferencista, uma pessoa esteve em uma clt- nica para submeter-se a uma investigagdo de sua acutdade au- ditiva. Essa imvestigaglo é feita usando uma cabine & prova de sons, once € cofocada a pessoa que va passar pela investigacsio. 07 2a Parte 308 Tal cabine 6 equipada com instrumentos de nifedida de sons, controlados, do lado de fora, polo profssional que faz a invest greio. De fora para dentro, séo produzidos sons em diversos nf- veas (graves, agudos, altos, baixos) que podem ser ouvidos ou niio por aquele que ¢ investigado, em eonformidade com sua capa- cidade anditiva. Essacabine tom ume jancla de vidro, através da qual a pes- soa unvestigada € o profissional podem comunicar-se por meio de smais. Eo o6digo da comunicagao € um sinal com o dedo po- legar para cxma, indicando “positivo”, ou para baixo, indicando “negativo”, ou, na sequéncia dos atos investigativos, a repetigfo. em vor.alta, de sons emitidos pelo profissional easo sejam ouvn- dos ¢ da forma como so ouvides. ‘A.cena relatada pelo conferencista foi a seguinte: a pessoa investigads for colocada dentro da cabine e o profissional, do lado de fora, acionon sucessivamente as teclas de producio dos dé vversos niveis de som: a cada som produzido dentro da cabine, 0 cliente deveria fazer um smal positivo ou negative, que indicasse, respectivamente, se havia ouvido ou nilo 0 som emitido, Segui- damente, 0 cliente fez 0 sinal nogative. Deposs de algum tempo, a pessoa que passava pela investi gAcHo saru da cabine e disse ao profissional: “Sua cabine esta com dofeito, Nao ougo nenhum som Ié dentro.” A 1ss0 0 profissonal teria respondido que o equpamento funcionava a contento € 0 cliente estava com reducdo anditiva. O dliente nifo se deu por vencido e propds uma troca. O pro- isstonal ira para dentro da cabine, enquanto ele actonarsa as te- as de produgio dos diversos sons, com algama orientacio sua ‘Apés alguma relutancia, a troca foi feita e, com uns poucos tes- 2s constaton-se que oeqmpamento estava com algum problema ‘em seu funeronamento. 7 Instrumentos de coleta de dados para a avaliago... um olharexitico Entdo o cliente a partir desse equapamento tena dito ao pro- Aissional: “Olhe, se vocé, com base na investigacao, emitir um Jando dizendo que tenho uma defiefénein anditiva, nfio haverd ‘muito problema, pois estou ouvindo bem e isso 6 suficiente para © meu dia a dia; contudo, o cliente que vai ser atendido a segur um candidato a misico da orquestza da cidade. Se voc8 emitir uum lando negativo sobre a aouidade aucitva dele, tendo por base 0s dados coletados por osso mstrumento quo esti com funciona mento insatislat6rio, poderé estar cortando definitivamente a oportunidade de esse misico concorrer & vaga que esti dese- Jando como profistonal. O seu laudo 6 requisito para a inscricfo dele para o coneurso.” ‘Accona— verfdica ou imaginéna - iustra bern a situagio em que o uso de um instramento msatisfaténo de coleta de dados ‘pode ser desastroso para avida das pessoas submetidas a ele, por produzir uma descrigfo distorcida da realidad. O que serie da vida e da satide de todos nds se os exames de laboraténo ou as, Jnvestigagées por imagens fossem realizados por meio de mstru- ‘mentos pouco contidveis? Os diagnéstices seriam distorcides, e 65 cuidados com nossa safe, madequados e certamente prejii- diciais. Para felicidade de todos nés, os profissionais de sade, como outros, cada vez mais vém primando pelos cuidados com 0s resultados de suas atividades — embora sempre haya, é claro. excegdes infelizes, Condutas inadequadas na investigagio podem ocorrer om qualquer érea profissional: engenhana, arquitetura, farmacoio- gia, administrag%o, psicologia, pedagogra. sala de aula. Servir- -se de mstrumentos adequados e corretamente elaborados para a coleta de dads da realidade, no ambito da pritica da pesquisa cientilica ou da avaliagio, é condigo pamordial para chegar ao conhecimento da realidade. 308 2 Parte 310 No caso da avaliagio da aprendizagem, noss6d instrumentos de coleta de dados, se ilo fore adequados e satisfatoriamente elaborados, podem enganat-nos, dé forma semelhante 20 relato santero, no que diz respeito a0 desempenho dos nossos educan- dos, assim como acerea dos resultados de nossa atividade como educadores, do mesmo jeito que ficardo enganados aeseola onde trabalhames e o prépno sistema de ensmo, Os instrumentos de coleta de dados podem distorcer a realidade tanto para mais (afirmando qualidades positivas nfo existentes) quanto para menos (negando qualidades positivas que existem). Sea coleta de dados for distorcida, nossa leitura da realidade seré distorcida, como também serfio distorcidas as deesses que tomarmos com base nela. “Isso é 6bvio!”. dirio muitos. Todavia nem sempre (ou quase nunca), em avaliacto da aprendizagem, levarnos em consideragiio esse fato, Nossos instrumentos contém rnitas distorg6es, que devem ser evitadas se queremos que nos ajudem a detectar a qualidade da aprendizagern dos nossos edu- ccandos o mais présmo de como ela é, Exempios de distorgSes originadas do uso de mstrumentos snadequados ou mal elaborados podem ser multiplicados por todos és, tendo por hase nossa experiéncia de vida em geral asim como nossa experiéneis como estudantes ou como profissionass da rea da educagio, 3.2. Desvios nos instrumentos de coleta de dados para avaliacéo da aprendizagem na escola Siio muitos as posstvers desvios na construgo e no uso de instrumentos de coleta de dados para a avaliacSo da aprendiza- gem. Aqui. apontaremos alguns que podem ser facilmente en- contrivers em nosso cotidiano escolar. O levantamento no é Instrumentos ce coleta de dados para a avallagi,.. um olhar critica exaustivo nem pretende ser. Desejamos somente alertar o leitor para o fato de que hé necessidade de cuidados com os desvios, sob pena de nio atingsrmos nossa meta de diagnostiear 0 que corre na aprendizagem de nossos edueandos e, se necesséri0, intervir para sua melhor, “Trazer & consciéncia os desvies jé uncrustados, sem nenhiuma questionamento critica, em nosso modo eommum de age: & passo importante para comecar a fazer diferente, Marx diz que, quando comegamos a elaborar questées sobre alguma coisa, 6 porque ja podemos dedicar-nos is suas solugdes. Entio, sigamos para esse expediente! 3.2.1. Instrumentos inadequados Iniciemos pelos instrumentos inadequacdas, 0s que nio cap- tam os dados que deveniam captar. Relembro, como exemplo, um caso ilustrativo de minha vida pessoal de estudante no pe- iodo escolar que hoje corresponde ao ensino fundamental ¢ xiédio. Um instrumento inadequado pode até estar bem elabo- rado, porém no consegue coletar os dads relevantes e neces- sfrios sobre a realidade a sor descrita Era adolescente ¢, nessa situagSo, sempre obtive notas es- colares altas na discplina Misica, porém até hoje nio sei solfejar nem cantar afinadamente. Disnte dessa coniissio, podena haver quem pensasse que as notas obtidas tiveram sta onigem numa “marmelada”, nun engodo. Nao. (© que ocorren foi que meus professores ce Musica no nves- tigaram meu afinamento audltivo e vocal, ainda que esse fasse 0 objetivo das aulas. Eles 36 investigavam minha aprendizagem em teoria musical, @ 80 era mito ficil de aprender. Ao menos para ‘mum, era. Alé hoje retenho oF conbecmentos que adquin, nossa poca, sobre teonia musical, F isso se deu ha mais de 40 anos. a gg 2sParte a2 ‘Teoneamente, sei o que é € como funciona uma pauta de sol ou umia pauta de ff: sei as natas ~ minima, seminima, col- cheia, semicolchers, fsa, semifusa; sex 0s compassos ~ binéno temiino, quaternéno; set as pausas de quatro tempos, de dois, de um, de meio ¢ de um quarto de tempo; soto que 6 sustemsdo bemol...Porém nfo set fazer nada com essas informactes em termos de mésica. No caso, meus professores usaram instrumentos inade- quads para coletar dados para aquilo que estavam querendo avaliar Se fosse para solfejare cantar - objetivo prmorcial da iseiplina -, mintia aprendizagem seria considerada insatisfa- {6na, mas, como pediam, distoreidamente, que mostrasse 0 meu conhecimento sobre as formalidades da teoria musical, eu sempre apresentava um bom desempenho. Ainda que os anstrumentes de coleta de dados pudessem ser bem elabora- dos, eram inadequados para o objetivo que se tinha, isto 6 nfo coletavain os dados que deveriam eoletar. ‘Em nossa experiencia cotidiama, quantas Vezes no nos uti- Ki2amos de contetdos mais complexos que 0s ensinados? Quan- tas vezes no nos utilizamos de contetdos secundénose que nfo. preeisanam ser abordados em nossos instrumentos? Essas sio formas de gerar instramentos inadequados, sto 6, incapazes de coletar os dados que deveriam cotetar para se descrever 0 que se deseja descrever. 3.2.2. Desvio de conteddo ¢ auséneia de sistematicidade no instrumento de coleta de dados Os mastrumentos de coleta de dados podem, num viés dife- rente do antenr, ser adequados para as finalidades desejadas, mas ‘mal elaborados quanto ao conteido ¢ a sua sstematicidade. Instrumentos de coleta de dados para a avallagio....um ofharexitico ‘Os conteridos de aprendizagem a screm investigados no processo de avaliago escolar so aqueles que compéem o curri- culo eo plano de ensino, nem mais nem menos que i880: ou Sea, 6s instrumentos de coleta de dados para a avaliagdo da aprendi- zagem deverdo ter como parimetro a cobertura de todos os con- tetidos essenciats ensinados pelo professor e aprendidos pelos eclucandos; ststematicamente, deverdo abordar todos esses con- tetidos, traduzidos em mformagées, habilidades e condutas, em conformidade com a definigio anterionmente dada, nesta obra, de “contetidos escolares” Para efeito de exposigfo, vamos apresentar uma caricatura do processo usual de elaboragiio de instrumentos de coleta de dados para avaliagf6 praticado por nds, educadores, em que a sistematicidade, completamente ausente, 6 substituida pela aea- toriedade e pela eventualidade das perguntas ¢ situagSes-pro- bblema propostas aos estudantes. ‘Como nao tems, nem poderiamos ter, habilidades suficien tes para analisar um mstrumento de cada uma das variadas dis- ciplinas trabalhadas nas escolas e nos diversos nfveis de ensino, ‘vamos tomar uma stuagao compreensivel para todos nés, era vir tude de ela pode ter sido objeto de oxperineia pessoal de cada um de nés no passado, seja como estudantes. seya como profes- sores, seja na convivéneia com algum professor que a ensinasse. “magnemos um professor de Histéria do Brasil ensinando tema “Descobnimento do Brasil” a estudantes de oitava séne, do censino fundamental. No livro didtico adotado pelo educadr. esse tema esté tratado em cinco eapttulos. Digamos que si os capttulos 2,3,4,5 e6 do livro.em questiio. Estando préxamo 0 dia de aplica- lo do mstrumento de coleta de dados para a avaiagio do desem- peaho dos estudentes, o professor despreacupado das requisites, do verdadero ato de avaliar age mais ou menos da seguinte forma: a toma o livro, abre-o no eaprtulo 2, passa os olhos pelo contertdo e diz a st mesmo: “Nese capitulo mio hi nada de umportante. Todas as perguntas que fizer sobre seu conte‘do, todos acertario. Th! Nossa! Féct] demuis. Nio vou elaborar nenhusna questo sobre os contecidos deste capftulo.” Passa, a seguir, para o capitulo 3 ¢ formula duas questoes relativas ao tema trabalhado: vai para o 4, considera o seu con- tetdo também facil em excesso e, por isso, no observa nele nenhum t6pico que merega alguma pergunta; salta para 0 ca- pitulo 5, encontra assuntos para mais duas questdes, afim de ‘compor o instrumento: finalmente, sobre os contetidos do ca- pitulo 6, formula mais duas questées. No total, o educador conseguin elaborar seis questdes: duas sobre 0 contetido do capitulo 3, duas sobre 0 contedido do capitalo 8 e duas sobre © conterido do capitulo 6. Enfao, pense assim: “Somente seis questdes? Eu, de fato, de- sejava ter dez quesiées, pois sso tornara mais fll tanto corregZo guanto a atribuigdo de notas.” Com essa intengo, retoma os capi- tulos e busca novas questies até chegar ts dez deseyadas. Revé 08 capitulos 2 € 4. sobre eujos contetidos no havia elaborado ne- nnhuma questio, e enti elabora cuas sobre o conterido de cada um dos capftulos, atingmdo com essa manobra as dez quests Satisfeito. o educador. agora. tem dez questdes. Digita-as ou solicita ao secretin da escola que as digite, fiz cOptas e apliea o testo junto aos estudantes. Com um pouco de teatra- lidade, esse € 0 ritual comum no nosso cotidiano escolar. Se nio ocorre exatamente desse modo, o ritual de elaboragio de snstrumentos de coleta de dados para a avaliagio desenvolve- se de forma proxima a iso. Do ponto de vista da coleta de dados para efetiva avaliacko da aprendizagem, um mstrumento construfdo dessa manesra (ow Instrumentos de coleta de dados para a avaliacio... um olhar critico assemelhada) nfo posstbilita uma descricio da reslidade da aprendizagem do educando, pois nio expressa sstomaticidade e cuidado com 0 que 6 essencial e com tudo o que & essencial no contetido relativo ao tema "Descobrimento do Brasil” destinado a edueandos de oitava série. ‘Todavia, um instrumento elaborado dessa forma serve para uma finalidade bem prosaica no cotidiano escolar: repro- var estudantes. Perguntas aleat6rias nio diagnosticam todas as aprendiza gens essenciais efetivamente realizadas, porém servem para fazer um juizo superficial a respeito do desempenho dos estudantes, reprovando-os em muitos casos, visto que eles niio podem res- ponder bem a questBes com essas caracteristcas, assim como {questées de tal forma elaboradas niio diagnosticam se aprende- am ou ni o que for ensinado. ‘This perguntas tém o viés de poder, eventualmente, cobrir alguns contetidos essencuns: contudo, se sso ocorter. tert sido por mera easualidade, o que nfo oferece nenhuma gorantia para ‘uma pritica mvestigativa, que exige uma desenigo rigorosa, em conformidade com o objeto de investigagéo. Um nstrumento que apresenta a caracteristica de sistemati- cidade é claborado em compatibiidade com 0 currculo e com 0 plano de exsino adotado, ou seja, com o que foi efetivamente en- smado ~no verdadeuro sentido de ensinar. ern que ao ensino cor- responde efetiva aprendizagem. Os contetidos ¢ as perguntas de ‘um instrumento oom essa propriedade so conscientemente assa- inidos ¢ fazemn uma eobertura completa de todas as mformagdes, hhabilidades condntas definidas para serem ensinadas ¢ aprendi- das, pois 0 que de fatointeressa ao educador, que avalia« aprendi- ‘zagem 6 saber se 0 educando aprendeu 0 que fin cnsinado ¢ 80 ji pode usar esse conhecamento de forma correta e enativa, 2 Parte a6 As distozgoes em relagio aos contetidas, aléft de ooorrerem pela aleatoriedade das questées e situagées-problema propostas 40s estudantes, podem acvir de situagBes nas quais 0 educador ensina uma coisa ¢ solcita outra, ou quando ensina eom uma metodologia e faz slictagdes que exgem outra, ou quando en- sina num nivel de complexidade ¢ solicita condutas aprendidas em outro ou, ainda, quando ensina com uma linguagem simples e faz solicitagdes com uma linguagem sofisticada, Essas e 01 distorgdes em relagao a0 conteido podem fazer-se presentes ‘num instrumento, De fato. questées e situagSes-problema sto colocadas num imstrumento como meio de solcitar ao edueando que reveleo que aprendeu daquilo que foi ensimado, Para tanto, importa que 0 instramento seja elaborado e proposto com 0s contomos do que foi ensinado e aprendide e da forma pela qual 0s conteridos foram ensinados e aprendidos, Nada mais que isso. ‘Caso o educudor tena o desejo de, num instrumenta,traba- Thar com o fendmeno dos “conhecmentos majorantes”, necessitard ter consciénoia de que esse expedient nfo tem por objetivo avaliar se oestudante aprenden o que fot ensinado, mnas sum avaliar a sua capacidade de ir além do que for ensinado, Nesse caso, o instru- mento deverd soporar 0 que € conhecimento de dominio, usando como criténo de qualificacio “o mimmo necesséno",¢ o que é ma jorante, usando como eritério de qualificagio “as aprendizagens que dependem da narratva biogrifia de cada estudante”. Pode- -se conduzar todos os estudntes para 0 aprendizado do “minumo necessério”, porém no se pode engir que todes tenham a mesma nurativa biogrifica pessoal, que depende de mustos fatores — ge néticas, socioeconémicos, culturais... — que esti para além das possibilidades de atuagéo do educador e da escola. Lf Instrumentos de coleta de dacos para a avaliacdo... um olhareritico ‘Un instrumento construido com ausénca de sstematicidade © com anséncia de cuidados com os conteidos escolaves tz dstor- Bes tanto & desengo da realidade quanto & sua mtexpretagio. Na pritica cotdiana da avaliagio da aprendizagem, tendo em vista 0 ‘bem denossos educandos, o nosso ¢o da mstiuigo para a qual ra- balhamos os instruments de coleta de dads sobre o desempenho o educando, para fazerem jusa ess cenominagio, necesita apre- seatar a caractristica da sstematiidade, 3.2.3. Dois exemplos de instrumentos insatisfatérios utilizados em escolas ‘© que apresentamos no t6pico anterior deste capftulo a res- peito do senso comum presente na elaboragio de um instramento de coleta de dados para a avaliagdo da aprendizagem é uma cart- catura do que acontece no cotidiano de nossas escolas, porém im- porta notar que o real é bem préximo dissa no que se refere as diserepancias entre os conteiidos ensinados e os avaliacos assim ‘como i alestonedade das perguntas elaboradas. A seguro relatos de duas experiéneias ocorridas com pré-adolescentes que chega- am até mim via consultas por e-mail, do tipo: "Professor Luckesi, nna minha escola aconteceu.. Que acha disso?” ‘Também desejamos devar claro que citaremos os exemplos, a seguir, como recurso de estudo e compreensio do que acon- toco om nossas escolas. Nossa eitago ndo vai nenuma des- qualifcagdo 20s educadores que elaboraram os instrumentos relatados. Por outro lado, nem de longe temos a possibitidade de saber quem sfo 0s seus autores. Mais que isso fleamos agra- deeidos pela possibilidade de utilizar esses exemplos para & aprendizagem de todos. inclusive do autor deste lvto. Deve fiear claro que nosso objetivo, a0 relatarmos esses casos, eapressar, por meio Ue ut “feuOmseu particule”. un “urwversal” do que ocorre em nossas esoolas ~ com o entendimento de que ar 2eParte © relatado ocorre em muitas eixcunsténcias asfemelhadas ou ‘equivalentes no cotidiano do nossas escolas deste imenso pais. Ags, essa forma ce abordagem compativel com o que pres- ereve a metadologia do matensalismo histérico, com a qual concor damos, Marx decidiu estudar o capitalismo na Inglaterra do século XIX (oncle a forma do capitalismo industnal estava mais desenvol- vida} como exemplar universal de toda a sociedad captalisea. Um ato heuristico que revela um modo de ser do todo. E desse modo que encaramos os relatos que se seguem. So cexemplares do que ocorre na reaidacte cotidiana de nossas escolas, ‘que nfo quer dizer que nio haja excegdes ~as quass todava, no ‘8m passado a ser a regra Analisar esses relatos 6 um convite a “fazer diferente”. De acordo com o pnmeiro deles. num primeiro bimestre letivo em determinada sétima séme, 0 programa prescrevia que se estu- dassem dois assuntos da histéria moderna europete: “Formagiio dos Estados Nacionais na Europa do século XVIII” e “Absolu- tismo na Europa no século XVIII". Passados os dois meses de ‘ensino, estudos ¢ aprendizagens, chegou o periodo denominado de avaliagio. O teste para diagnosticar a aprendizagem dos es- ‘tudantes relativa a esses doss temas era composto de ts partes. Na primeira ¢ terceira partes, os estudantes deveriam ler ‘um texto como base para responder as questdies formuladas e, sna segunda parte, essa base era composta de uma charge. ‘A pnmenra parte do teste ~ composta de duas perguntas, cwjo contesto era constituido por dois pequenos textos —tinha a seguinte introdugio:"Leia os textos abaixo e responda a seguir.” O primeiro dos textos era um poema de um compositor brasileiro, ¢ 0 segimdo, ‘© relato sobre agbes atribufdas ao grupo cnmmoso chamado Pn- ‘meno Comando da Capital (PCC), anorvidas no ano de 2006 na cidade de Sto Paulo. a8 Instrumnentos de coleta de dados para a avallac Apés 0s textos, havia as perguntas: “a) Explique o Estado ea Nagio a que se refere Herbert Vianna na caneto O calibre. frag- ‘mentada uo texto 1”, “b) Estabelega a relagio entre os textos 1 e 2, por mero de um parégrafo, emitindo sua opinido a respeito do que neles 6 tratado.” A segunda parte do toste tinha a segumnte ontentacio: “Lendo ¢ pensando historicamente. responda abaixo.” Como. contexto das perguntas, havia um quadenho com a representa- ‘glo de um rei (ds era do absotutismo} e de um pirata. Ambos cconversavam entre si 0 ret solcitando fundos para suas guerras © o pirata garantindo facilmente os recursos, Jaa teroera parte do teste era composta da orientagdo: “A partir da leitura do texto abaixo e do contesto expresso nele, responda a seguir” e de um trecho do livro O principe, de Ni- colan Maquiavel. Apés 0 texto, seguia-se a exposicao de trés atividades e/on perguntas, assim formuladas: “a) Que tipo de Governo/Eistado seria possivel existira partir do que é dito por Maquiavel? Explique”. b) “Segundo Maquiavel, como um principe deveria governar para ter éxito?"; c) “Woc® considera ‘que as idetas de Maquiavel podem ter aceitago no meso poli- tico ¢ também no meio popular no nosso Brasil de hoje? Jus- tiflque sua resposta.” Comparando os contetidos da umidade de ensino ~ “For- macio dos Estados Nacionais na Europa do séeulo XVII" € “Absolutismo na Europa no século XVIII” — com os conteridos das perguntas antertormente relatadas, € vsivel o esforgo do avaliador em ultrapassar a pritica denominada de “decoreba” Nisso deve ser elogiado, Porém. desse deseyo emerge também a distoreao de um aspecto fundamental na elaboragao de um instrumento de coleta de dados para a avaliacio da aprendizager sum olhar cxitico 319 2s Parte na escola: a articulagio entre contetidos ensinados € contetidos utilizados na construgéo desse instrumento. (Os temas propostos para estudo no bimestre abordlavam os acontecimentos da histéna modema europesa. Gontudo, as ques- ‘es propostas no teste, pelo menos as da primeira e da terceira partes, exigiam dos estudantes articulagées com o Brasil contem- pporfineo. No caso. do ponto de vsta da construgo de mstrumentos de coleta de dados para. avalagio, tratou-se de um sult indevido.. Se no contetdo do instrumento foram feitas abordagens re- Jativas ao Brasil contemporineo, o ensino (com material didatico corcespondente} também deveria incluir essa articulagdo, 0 que parece mio tor sido 0 caso, ao menos segundo 0 que pudemos compreender do relato a nés remetido. ‘Além disso, caso 0 desejo do educador fosse “avaliar a capaci dade dos educandos de manifestar compreens6es majorantes", ni- portater presente que o teste se destinava’ sétima séne do ensino fundamental - ou seja, a estudantes que tém, em média, 13 anos de idade, Essa condligfo necessita de ser levada em conta. além do fato de que “conhecrmentos majorantes” nio t8m a ver com “acer tar” ou “errar” em alguma conduta, mas sim em arrisear outra possibilidade para além do comumente conheeido. Seré que ceducandos com essa idade jé possuem desenvolvimento e maturi dade intelectual, emocional ¢ ideol6giea para tecer comentérios sobre as condigdes soctas, politicas e organmzacionais do Brasil, tendo como base estudos da histtina modem europe? Com tal ‘dade, os estudantes seriam capazes de ler um testo filos6fico- politico de Maquiavel e fazer aplieacSes 8 vida poltica do Brasil contemporineo? Assumut-se, no caso, uma suposigao de matu- ridude mtelectual dos estudantes que efectivar respondia & realidade. Afora essa constatagio, também vale ute wlio core Instrumentos de coleta de dados para a avaliaco... um olhareritico perguntar: a solicitagdo de conhecimentos mayorantes, nesse teste, tinha por objetivo avaliar a “capacidade dos educandos de ir para além do ensinado” ou “aprovie-los ou reprovic-los por efeito da aprendizagem ou nfo dos contetidos estritamente ensinados”? O teste ainda apresentava alguns componentes que mere- cconam destaque, especialmente no quo se refere &linguagem, por vezes mais cotidiana que acadéneca, como: “texto fragmen= tado”, quando se devenia dizer ‘fragmento do texto”, “contetido hhistorico pasado pela imagem acima’, quando se deverna dizer “contetio histérico comunicado pela imagem acima” ‘Com base em uma letura cuidadose do instrumento, pode-se facilmente supor que os dados coletados por ele nflo nos perm= tem concluir se os estudantes aprenderam ou nifo 0 que foi en sinado: ou seja, ele nao possibilita fazer um diagndstica da aprendizagem dos educandos relativa aquilo que for ensinado e deveria ser aprendido, pois o instrumento de coleta de dados contém diferengas entre 0 ensinado e 0 solieitado Para que o teste sejasatisfatrio ern sua constituico, deve coletar dados sobre co que efetivamente foi ensinado, Nem mais nem menos que isso, E, se havia desejo de avaliar 2 capacidlade dos edueandos para ex- pressGes majorantes do conhecimento, havia equivalente necessi- dle de expressar. no mstrumento, essa destinacko,a fim de evitar cstados de ansiedade desnecessinos nes edueandes, O segundo relato refere-se a um conterido de Ciénexas par estudantes da quarta série do ensino fitndamental, material que também recebemos pela internet para submeté-lo & nossa opr nio € que, de forma semethante, apresenta distorgées no que concerne 2 coleta dos dados necessfnios pera a avaliagio da aprendizager dos educandos. A soguir, 0 teste aburdaudy wou teridos de Ciéneis Biol6geas tal como nos chegou 3s mics: za zeate Como se pode veificar, esse teste mo apresenta as caracteristicas fandamentas de um mstrumento decoleta de dados para aavaliagl0

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