ID: 62860209 27-01-2016 Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1
Há uma geologia do vinho?
Sim, diz Galopim de Carvalho À conversa. Na galeria Tintos e Tintas, em Lisboa, o fim de tarde passou-se à volta das rochas. e da sua influência na perfeição dos vinhos. Em Portugal há muita variedade a assinalar FILOMENA NAVES
A lógica é imbatível: sem rochas
não haveria solo, sem solo não po- deriam existir vinhas e sem estas, claro, não haveria vinho. Portanto, a culpa é das rochas. Risos nasala. Galopinide Carvalho, com o seu bom humor de sempre, atacou o tema, a geologia do vinho, de sorri- so largo no rosto. Foi ontem, ao fim da tarde, na galeria Tintos e Tmtas, em Lisboa. Falou-se de tintos, de brancos, de terrenos e de microdi- mas e de como tudo isto se conju- ga às vezes na perfeição absoluta dentro de um copo. Para o geólogo, professor e anti- go diretor de Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, a geolo& é uma espécie de segunda pele. O vinho, confes- sa, nem tanto. "Não percebo nada de vinhos, lá em casa quem esco- lhe, e percebe, é a minha mulher." Mas apieda, sim. "Dantes gostava de beber uns brancosfresquinhos, mas era mais pela fresdua, hojebe- bo sobretudo tinto, até com maris- co." Mais risos. A geologia, então. Há muito que se pode dizer da sua relação com os O professor e geólogo Galopim de Carvalho falou de rochas e da sua Influência nos vinhos vinhos. Por exemplo, da variedade das rochas e das subtilezas que os na faixa de território na Península rei dos vinhos", o do Porto, dos solos produz-se o famoso Dão, nos ba- seus diferentes elementos quími- Ibérica tem uma imensa variedade de xisto. "E o melhor de todos é o saltos da Madeira, o vinho do mes- cos imprimem ao produto final. As geológica, que acaba por empres- das vinhas implantadas nas zonas mo nome, na península de Setúbal. rochas são muito variadas e, inde- tar muitas e diferentes assinaturas onde a estruturado xisto corre per- também nas areias e perto do mar, pendentemente de todos os outros aos vinhos que cá se produzem. pendicular ao solo, dizia um pro- o inconfundível moscatel. fatores em jogo, como o clima, os fessor meu", contou. E depois há Falta dizer, claro, que as castas microclimas, as horas de sol, a pro- Verde granito. Porto de 'dito muitosoutros, igualmente bons. Os também têm influência decisiva ximidade do mar, a altitude da vi- De norte a sul do país, e nas ilhas, as alentejanos de Portei, do Redondo, no produto final, mas, neste ponto, nha, a humidade ou a falta dela, regiões sucedem-se, umas demar- de Évora e da região de Portalegre, Portugal também tem alguma sor- etc., um 'cisto ou um calcário, um cadas, outras não, com as suas ca- todos de solo granítico. O da Bairra- te: por cá dá-se uma enorme varie- terreno arenoso ou um chão de racterísticas próprias, às vezes da, todo encorpado e carrascão, de dade de castas, porque também te- granito definem a natureza do solo muito diferentes, a poucos quiló- solos de areia, ou ainda, no mesmo mos muitos microclimas. No final, e têm uma influência própria em metros de distância entre si. Galo- tipo de solos mas junto ao mar, o como sublinhou Galopim de Car- cada tinto, em cada branco, e tam- pim de Carvalho enumerou algu- Colares, de tanta fama, ou o de La- valho, conta hoje, sobretudo, a ex- bém nos vinhos generosos a que mas, com os respetivos vinhos. goa, no Algarve, todos os três pro- celência dos enólogos e dos seus dão origem. No Minho, destaca-se o vinho duzidos nas areias, mas tão dife- laboratórios para produzir, nas Portugal, nesse aspeto, é bafeja- verde, tão único e tão característico rentes entre si A variedade não aca- misturas mais subtis, os melhores do pela sorte, porque a sua peque- do solo granítico. No Douro está "o ba aqui. No xisto da Beira Alta vinhos.