You are on page 1of 9
Nos primeiros decénios do século XVI, a econdmica, a crise da classe dirigente renascent “a formacso da pesquisa cientifica moderna fazem mu-__ “dar os métodos da.projecao e da gestéo urbana. ‘A nova classe dirigente — os reis com suascortes e seus funcionérios, os novos ricos, nobres ou burgue- ses, 0 novo clero especializado da Reforma e da Contra-Reforma — nao tem mais a mesma competén- cia ea mesma ambigao no campo artistico. Ao mesmo _tempo, a arte perde seu cardter de método unitario para conhecer e controlar o ambiente fisico; a verdade aa ‘coisas nao coincide mais com a beleza das coisas, ‘mas pode ser afirmada com os métodos objetivos da pesquisa cientifica. A arte tornase, assim, 0 estudo das ‘qualidades nao-objetivas, mas subjetivas e sentimen- tais; serve para controlar os sentimentos coletivos, ou para exprimir os sentimentos individuais, e oscila en- tre o conformismo e a evasdo ou o protesto. Tremos estudar a nova organizacio do trabalho artistico a partir dos grandes centros de produgao ede consumo, isto é, das capitais européias. Examinare- ‘mos em primeiro lugar a capital francesa, que se trans- forma no novo modelo da cultura artistica mundial. Fig, 1082, Uma ilustragdo de Os Princtpioe de Filosofia de Descar- tea: 08 véitces das particulas materiais, 503 Digitalizado com CamScanner PARIS No Cap. 7 consideramos o organismo de Paris me- dieval, que j4 6 uma das cidades européias mais impor- tantes, Este organismo é composto de trés partes: —a cité, na ilha onde foi fundada a primeira aldeia gaulesa; — a université na margem esquerda, onde os manos haviam construido a colonia de Lutetia, e onde em 1210 Abelardo e seus colegas fundam a céle bre universidade; —a ville na margem direita, onde residem as corporagdes comerciais e o governo municipal. As trés partes sio cercadas pelos muros de Carlos V, construi- dos em 1370. A superficie é de 440 hectares, ¢ a popula- $40 de cerca de 100,000 habitantes (Fig. 1033). Os reis de Franga — que na Renascenga residem habitualmente nas cidades do Loire — se estabelecem finitivamente em Paris em 1528, quando Francisco Teomeca a reconstruir o velho Castelo do Louvre na margem direita, No século XVI, Paris se desenvolve ainda mais, ultrapassa os muros € chega talvez a 1000 ou 300,000 habitantes; mas as guerras de reli- Sido € 0 sitio de Henrique IV — de 1589 a 1504 — nificam gravemente a cidade: O novo rei conquista ‘ma cidade arruinada e despovoada. ovte &m Nos seguint ité a sua morte 181, Henrque IV mcia um programa de obras pabl Ss que nao é mais composto por iniciativas pessoas, lsconjuntadas, mas esti inserido dentro de um ba lanco econdmico regular, e depende de uma organ © estvel de funciondrios e de repartigdes especie” (0 ministro das Finangas, Sully, tambem € 0 erintendente das construgdes ¢ diretor das obras “lovidrias), concentrada em Paris, para acentuar a importancia da capital. Eis as principais iniciativas decididas no infcio do século XVI — a ampliagdo dos muros de Carlos V na mar- gem direita, para incluir os novos subirbios ociden- tais, até aos jardins das Tuileries; — a reorganizacdo das ruas e das instalacdes (aqueduto e esgotos); —a abertura de algumas novas pragas de forma regular, circundadas por casas de arquitetura unifor- me: a Praca Real, quadrada, na margem direita (Fig. 1034); a Place Dauphine, triangular, na ponta da ilha da cité (Figs. 10351037); a Place de France, semicircular, projetada e nao realizada sobre as alturas do Templo; a ampliacao do Pago do Louvre, isto & a ga: ao do castelo medieval e do palicio quinhentista das Tuileries num conjunto unitario, demolindo 0 bairro intermediario. Este projeto, realizado em parte por Luis XII e por Luis XIV, serd completado somente por Napoleao IIT no século XI —acconstrugao de uma riova residéncia suburba- na em Saint-Germain: um castelo ambientado num jardim em patamares, que imita os modelos italianos do século XVI (Fig. 1039). Depois de 1610 e até a tomada do poder por parte de Luis XIV (1661), a organizagao criada por Henrique __TV continua funcionando, mas falta uma yontade poli- tica igualmente decidida. A cidade de Paris cresce rapi- damente, ¢ na primeira metade do século chexa a 100,000 habitantes; Luis NIM Richeliew ¢ Mazzarino, estao empenhados numa série de guerras, e ndo dispdem dos meins para desenvolver um programa continue de obras piblicas; a iniciativa passa para os especuladores * particulares, que constroem baitros inteiros (na Ilha de Sao Luis (Fig. 1038), e na margem esquerda). 505 Digitalizado com CamScanner Entrementes, forma-se a nova cultura artisticae lieréria do “grande século”: Mansart na arquitetura, Poussin na pintura, Corneille na literatura e Descartes 1a flosofia estabelecem as bases do novo classicismo raconal, francés e europeu. Esta cultura prepara os iastrumentos para um controlé'mais rigoroso do am- liente natural e artificial, e de fato tora possiveis, depois da metade do século, grandes arranjos unitérios| numa escala até entao desconhecida. O primeirodestes ¢atesidéncia de Vaux nos arredores de Paris, construi- da de 1656 a 1660 para o riquissimo superintendente as Financas de Mazzarino, Fouquet. O jardim 6 proje- {ado por Le Notre (1613-1700), a arquitetura por Le Vau (1612-1670), a decoracdo por Le Brun (1619-1690); (Figs. 1041-45), " — Oarranjo de Vaux no ocupa um lugar pano- Himico, como as villas italianas ou o Castelo de Saint: in; situa-se numa pequena depressdo, entre os brsques do Vale do Sena, mas compreende todo oambi- Siente visvel do edificio principal, e transforma-onum SPeléculo arquitetonico unitério. Os “jardins @ ital "1" deseritos anteriormente sao espaces ligados a ms eda casa, eas vistas arquitetOnicas nao sao de comp! Mento maior que 200 ou 300 metros, mesmo quando m para uma paisagem natural ilimitada, Ao con- o, este primeiro “jardim a francesa” 6 uma PHISH £2 completa, simétrica e regular até a linha do hor® ‘Bale. O primeizo eixo de simetria sai do castelo ene versalmente ao vale, através de uma série de srt He.até uma fonte no declive oposte; 0 sesunde ETT lo por um canal retilineo, que OUP Go aig se 6a transformagao de um pequeno rio a ‘oramas medem mais de um quilémetro, ¢ 0 todo, da alameda de entrada até o leque das alamedas: abertas no bosque, tem trés quilémetros e meio de com- Primento. Os edificios vistos de longe se tornam cena- ~ Tios em claro-escuro, como as massas das Arvores e os espelhos de 4gua; mas quando nos movemos ao longo dos percursos estabelecidos adquirem gradativamente seu relevo volumétrico, e vistos de perto revelam a rique- za dos acabamentos ¢ das decoragies. Todos estes ele- mentos — dos fundos paisagisticos aos minimos deta- Ihes decorativos — formam uma gradago continua e ordenada; e para executé-la, é preciso ter uma ampla organizagao coletiva, com numerosos especialistas guiados por um pequeno némero de coordenadores. Na metade do século XVII, semelhante organiza- ‘cdo pode trabalhar em beneficio de um particular co- mo Fouquet; mas, a seguir, somente 0 goveno real pode continuala e desenvolvé-la. Em 1661, Fouquet convida o rei e sua corte para a inauguragio de Vaux, que compreende uma ceia cozinhada por Vatel, um balé escrito por Moli@re e musicado por Lulli, um espetaculo de fogos de artificio; rés semanas depois, 0 imprudente proprietério é preso por ordem dorei, esua, equipe de artistas passa para o servigo de Luis XIV, inserindo-se na organizacdo piblica coordenada pelo novo superintendente, Colbert, O rei promove e segue com prazer os trabalhos de arquitetura, destinando para este fim somas sem precedentes. Em seu longo reinado (de 1661 a 1715), leva a cabo uma série de intervengdes importantes em Paris e nos arredores, que se tornam o modelo obrigatério para todas as outras cortes européias. 509 Digitalizado com CamScanner ig, 106, Retrato do Rei Sol. Fi. 101748, As duas pracas construldas por Luts XIV: Place des Vetires ¢ Place Vendéme. 10s do Rei Sol nao s8o Em Paris, todavia, os mei ra nm Targa escala 0 antigo ‘tltentes para transformar em’ Povoado, e obtém apenas: linn 2 insercao de alguns episédios arquitetonicn® itados no tecido ja construido:_o novo. a ANE (bara_o_qual ¢ consultade 12 ‘pean Fig. 1050), a Place des- Vict at Vendome (Fig. 31048): © ald NWS. 1051.52). do, lho —a formagio de uma nova periferia, desconti nua e misturada com o campo. De fato, as antigas fortificacdes sao derrubadas, e em seu lugar é tracada _yma_coroa de-avenidas arborizadas (os boulevards), Este contorno provisorio encerra uma area de quase 1.200 hectares; mas 0 organismo urbano ja esté cres- cendo no tervitério circunstante. Ps cidade aberta; um sistema de 2 zonas verdes, liv lagdo atinge cerca de 500,000 habit Digitalizado com CamScanner Fig. 1053, Planta do territ6rio ao redor de Paris, na metade do ‘s€eulo XVIIL O traco fino representa a rede das rea medievais; ‘trago grosso, as avenidas retlineas tragadas no século XVII ¢ no ‘século XVIII; 0 pontithado, os grandes parques: + O territério ao redor da cidade, vazioe sem obsta. culos, pode ser efetivamente transformado segundo og novos principios de simetria e regularidade. De fato o rei eos outros grandes personagens fixam sua morada no campo; Luis XIV abandonao Louvre transporta a corte para sua nova residéncia de Versailles, que ¢ Progressivamente aumentada aié fornarse uma po. quena capital artificial. Na Fig. 1053 pode'se ver que o organismo de Ver sailles 6 quase to grande quanto 0 organise te Go tis. Mas ndo é uma éidade: é um parque, no qual esto ituados — como elementos acessétios — os edificiog ‘ecessrios para ofuncionamento da corte: Aqal ois Sol tem condicdes de criar um ambiente perfeitamente regular mas desabitado: por em ordem as colinas, se 514 1 Maisons Sin Ger Boule, Meudon Be Mocs Vers’. Clgny6 Suit Ch BB 10. Vincennes: 3 Livy: 12 Salat aor GB Arvores, os « homens, Le Notre ordena o jardim numa planicie pati nosa, circundada por baixas colinas. Ao fundo, ™ da escavar um canal em forma de cruz; brago me than Am auilometro e meio de comprimento, fics % faxnado castelo © pode ser visto de flanco a pati’, ‘aco central, Esta fita de Agua, na qual seesPee | Sol a0 se por, guia o olho até ao ponto de fuga Me calinas ao fundo, a cerea de trés quilometros de com? Gas daf parte um, leque de dez runs que entram ma coroa de raios no bosque compacto em Vi Diante do castelo, as antigas ruas de acess0 $10 f° Ges Por um sistema de tes avenidas, 20 ft Quais se desenvolve a nova cidade com as reside" funciondrios da corte (Fig. 1054). "ursos de figua, mas nao as casas 405 Digitalizado com CamScanner Fig. 1056. Vista aérea do Castelo de Vers. alles. Em primeiro planoo arque, ao fundo a cidade. 1057 galeria dos epehay, ele por Hardouin Mansar rovcents deface ea de Versailles Le Vaue Hardouin-Mansart organizam 0 caste Jo, Oequeno pavilhao de caca de Luis XIII 6auments- do em varias oportunidades, e se torna. Umm enorme edificio de mais de 500 metros de Comprimento, a Separa o parque do espaco da cidade (Figs. 10551068. : Brun coordena o arranjo interno, O ambiente mais espetacular é a galeria dos espelhos no primeiro a dar, exatamente no centro da fachada que 48 pe Parque; 0 cendirio caleulado por Le Notre entra res Fiaeibes e€ refletido pelos espethos quese achama 7 frente; a arquitetura ea paisagem, as decorate Primeiro plano e a cena de fundo refletida eo tnt fundem num espetaiculo unitario e deslumbrante ( 1057). Versailles e Paris Mentares, que revelam as possibilidades do poder absoluto entre oséculo XVILe Qoram elaborados os instrumentos ‘Hizativos para transformar o territorio, sbes de escala da trad a 0 ms eat’. & ansexuida somente em: partes, ¢ nao

You might also like