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REEXAME NECESSÁRIO N° 451653-8

COMARCA DE CASCAVEL – 1ªVARA CÍVEL


REMETENTE: JUÍZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA
COMARCA DE CASCAVEL
AUTORA: PATRÍCIA VALÉRIO DE FREITAS
RÉU: SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO DO
MUNICÍPIO DE CASCAVEL
RELATORA: DESEMBARGADORA MARIA APARECIDA
BLANCO DE LIMA

REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA


BUSCANDO A RECONDUÇÃO DA IMPETRANTE AO
CARGO DE SUPERVISORA DE EQUIPE COM ABONO DE
FALTAS E RESTABELECIMENTO DE VANTAGENS.
FUNÇÃO DE CONFIANÇA EXERCIDA EM CARÁTER
TRANSITÓRIO, PASSÍVEL DE REVOGAÇÃO. ATIVIDADE
DESEMPENHADA JUNTO À SECRETARIA DE
ADMINISTRAÇÃO QUE FOI ABSORVIDA PELA
PROCURADORIA JURÍDICA DO MUNICÍPIO. TERMO DE
COOPERAÇÃO FIRMADO PELO MUNICÍPIO DE
CASCAVEL E A SECRETARIA ESTADUAL DO
TRABALHO. TRANSFERÊNCIA DA SERVIDORA PARA
AGÊNCIA DO TRABALHADOR. DESIGNAÇÃO
MOTIVADA PELA REESTRUTURAÇÃO DOS
PROCEDIMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO. ATO
ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO SEM CARÁTER
PUNITIVO. RAZÕES DE CONVENIÊNCIA EXIGIDAS
PELO INTERESSE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE
ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
SENTENÇA REFORMADA EM GRAU DE REMESSA
OFICIAL.

Inexiste ilegalidade ou abuso na transferência do servidor


público, com fito de atender o interesse público. Isso porque
tendo a Administração Pública demonstrado a necessidade de
serviço em repartição diversa da que atuava, dúvida não há de
que, no exercício de seu poder hierárquico, possui a
prerrogativa de remover servidor público para melhor ordenar
a qualidade do serviço, dentro de critérios de conveniência e
oportunidade, cuja seara meritória não cabe ao Judiciário se
imiscuir.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Reexame Necessário
nº 451653-8, da 1ª Vara Cível da Comarca de Cascavel, nos autos de Mandado de Segurança nº
201/2007, em que é Impetrante Patrícia Valério de Freitas, sendo Impetrado o Secretário de
Administração do Município de Cascavel.

Trata-se de Reexame Necessário da sentença prolatada às


fls.192/195, nos autos de Mandado de Segurança nº 201/2007, impetrado por Patrícia Valério de
Freitas contra ato do Secretário de Administração do Município de Cascavel, que julgou
procedente o pedido inicial, concedendo a segurança pleiteada para ordenar que a Impetrante fosse
reconduzida ao seu cargo de supervisora de equipe com o abono das faltas e restabelecimento das
vantagens, inclusive o pagamento dos vencimentos, sem as gratificações de função e de dedicação
exclusiva.

As partes não interpuseram recurso contra a decisão, malgrado


devidamente intimadas (fl.198).

Com vista dos autos, a douta Procuradoria de Justiça manifestou-


se pela reforma da sentença em grau de reexame necessário (fls.208/216).

Vieram os autos conclusos para Reexame Necessário.

É o relatório.
Voto.
O fundamento do Reexame Necessário, em sede de Mandado de
Segurança, encontra-se positivado no artigo 12 da Lei nº 1.533/51, eis que o writ foi concedido.
Cuida-se de Reexame Necessário da sentença que, nos autos de
Mandado de Segurança nº 201/2007, impetrado por Patrícia Valério de Freitas contra ato do
Secretário de Administração do Município de Cascavel, que julgou procedente o pedido inicial,
concedendo a segurança pleiteada, para ordenar que a Impetrante fosse reconduzida ao cargo de
Supervisora de Equipe com o abono das faltas e restabelecimento das vantagens, inclusive o
pagamento dos vencimentos, sem as gratificações de função e de dedicação exclusiva, ao
fundamento de que ausente a motivação do ato administrativo que determinou a transferência da
servidora.
O Mandado de Segurança foi impetrado sob a alegação de que a
Impetrante é servidora pública municipal concursada, tendo tomado posse em 22/10/1998, no cargo
de agente administrativo. Que inicialmente foi designada para a Secretaria de Ação Social, sendo
transferida em julho/2001 para a Secretaria Municipal de Administração, onde, em janeiro/2002
passou a receber gratificação por dedicação exclusiva e em setembro/2003, gratificação de função.
Que em meados de 2005 passou a exercer a função de Supervisora de Equipe da Divisão de
Compras da Secretaria Municipal de Cascavel.
Aduz que em 27/10/2006, logo após a exoneração de seu chefe
imediato – Terezinho Lino de Oliveira -, foi informada verbalmente pelo Impetrado, Luiz Fernando
G. O. Lima, na qualidade de Secretário da Administração, que estava sendo colocada à disposição
da Administração. A partir daí teve suprimidas suas gratificações (de dedicação exclusiva e de
função).
Afirma que em dezembro de 2006, através de comunicação
telefônica, foi informada pelo Departamento de Recursos Humanos que seria transferida para a

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Agência do Trabalhador, órgão integrante do Executivo Estadual, sendo-lhe negado seu pedido de
transferência para a Secretaria Municipal da Cultura, local próximo à sua residência.

Diz que em 23/01/2007 foi intimada de sua transferência para a


Agência do Trabalhador, consoante extrato de Movimentação de Pessoal de fls. 28, mas que não se
apresentou para o trabalho por entender ter havido abuso de poder com a transferência para outro
órgão, no caso Estadual, em cargo de atendente, o que desvirtuaria as funções para as quais fora
concursada, e que não recebeu os vencimentos no início do mês de fevereiro/2007. Sustenta, ainda
a nulidade do ato de movimentação, porque não estaria motivado e mormente porque haveria falta
de interesse público na remoção.

Pede o reconhecimento de seu direito de retornar à Divisão de


Compras da Prefeitura de Cascavel, na função de Supervisor de Equipe, local onde antes laborava,
com remuneração idêntica à anteriormente percebida e, caso persista a intenção de transferência
pelo Impetrado, que haja a observância dos requisitos necessários para a validade do ato
administrativo, sem qualquer penalidade, tornando ineficaz e nulo o ato de transferência
denominado de MPE – Movimentação de Pessoal, com a restituição das importâncias descontadas
a título de horas falta desde dezembro/2006.

A liminar foi negada às fls. 49.

Os Impetrados sustentam (fls. 51/66) a legalidade do ato


combatido, porquanto em virtude de reestruturação no setor de compras, as atividades exercidas
pela Impetrante teriam sido absorvidas pela Procuradoria Jurídica. Informa que a transferência da
servidora encontra esteio em Lei Municipal que autoriza a remoção e resultou de convênio de
cooperação firmado entre o Município de Cascavel e o Estado do Paraná, para fornecimento de
pessoal à Agência do Trabalhador, razão porque a Impetrante foi comunicada, via telefone, de que
deveria assumir suas funções na Agência em 11/12/2006. Diz que foi lançado saldo de férias de 13
(treze) dias no período de 27/11/2006 a 09/12/2006 e faltas a partir de 11/12/2006, já que ela não se
apresentou ao serviço. Salienta que as gratificações de função e de dedicação exclusiva são
transitórias e devidas enquanto preenchidos seus requisitos.

Cinge-se a controvérsia em aferir se o ato que determinou a


movimentação da servidora encontra-se eivado de abusividade ou ilegalidade, tendente a ferir
direito líquido e certo da Impetrante.

E nesse sentido, ao contrário do entendimento alinhavado pelo


Juízo sentenciante, há que ser perfilhada conclusão parelha ao parecer da Procuradoria de Justiça,
porquanto não se dessume que tenha havido qualquer ilegalidade ou abuso no ato praticado pelo
superior hierárquico e tampouco que a Impetrante tenha direito líquido e certo a ampará-la.

O ato que determinou a remoção consistiu no termo de


Movimentação de Pessoal – MPE (fls.28), o qual, como bem salientou o ilustre representante do
Ministério Público de 2º Grau: “não apresenta qualquer vício. Primeiramente, a autoridade que o
emanou é competente (feito pelo Secretário da Administração, que é competente para tanto dentro
da estrutura interna do Município de Cascavel), a forma adotada foi a escrita (embora não haja
previsão legal sobre a forma, presume-se, pela natureza do ato, que deva ser escrita) e o objeto é
lícito (pois amparado no artigo 47 da lei Municipal 3.800/04). No que pertine ao elemento motivo
do ato administrativo que determinou a transferência da impetrante, tem-se como embasado no
‘Acordo de Cooperação Técnica-Operacional’ celebrado entre o Município de Cascavel e a
Secretaria de estado do Trabalho, Emprego e Promoção Social, pois este termo impôs a

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disponibilização de mão de obra de servidores municipais para atuar na Agência do trabalhador
de Cascavel.”(fls. 211)

Destarte, bem analisados os elementos de produção e validade do


ato administrativo combatido, bem se vê que se encontra ele consentâneo com os princípios que
norteiam a atividade administrativa, havendo de observar-se que prepondera a supremacia do
interesse público sobre o particular. Vale dizer que a Administração tendo demonstrado a
necessidade do serviço em repartição diversa da que a Impetrante atuava, dúvida não há de que, no
exercício de seu poder hierárquico, possui a prerrogativa de remover servidor para melhor ordenar
a qualidade do serviço público prestado aos cidadãos. Essa decisão pauta-se em critérios de
conveniência e oportunidade, cuja seara meritória não cabe ao Judiciário imiscuir-se, máxime
considerando que a servidora não goza da garantia de inamovibilidade.

A remoção ex officio é ato pelo qual o servidor sofre o


deslocamento no âmbito interno dos quadros da Administração, sem constituir a forma de
provimento, e que se dá por exclusivo interesse da Administração Pública.

No dizer de JOSÉ MARIA PINHEIRO MADEIRA: “a autoridade


administrativa tem poderes para determinar a designação e remoção de servidor, em face do poder
discricionário conferido ao administrador público, baseada nos critérios de conveniência e
oportunidade. (...) E o controle judicial terá que respeitar a discricionariedade nos limites em que
é assegurada à Administração Pública pela lei, caso contrário, o Judiciário estaria substituindo
por seus próprios critérios de escolha, a opção legítima feita pela autoridade competente com
base nas regras de oportunidade e conveniência.”

Trata-se de decisão baseada nos critérios de conveniência e


oportunidade, avessos ao reexame judicial, sob pena do magistrado passar a administrar
diretamente o serviço público e realizar tarefas próprias do encarregado específico. Por óbvio, a
quantidade de pessoal em cada local da repartição há de ser examinada por aquele que sabe quais
as metas a serem atingidas e os meios de que dispõe para conseguir os objetivos traçados.”( in
Servidor Público na Atualidade, Ed. Lúmen Júris, Rio de janeiro, 6ª. Ed., 2007, p. 378).

No caso em comento, a revogação de sua designação para a função


de Supervisora de Equipe, através da Portaria nº 743/2006 -GAB (fls.68) e transferência para outra
unidade foi motivada pela reestruturação da Divisão de Compras, sendo a atividade até então
exercida pela Impetrante absorvida pela Procuradoria Jurídica do Município de Cascavel.

O procedimento seguiu os trâmites legais, sendo informado ao


Departamento de Recursos Humanos que a Impetrante estava sendo colocada à disposição a partir
de 26/10/2006, a fim de que se procedesse à sua relotação, conforme instrumento de Comunicação
Interna nº 213/2006 às fls.82.

A Lei Municipal nº 3.800/2004 conferiu fundamentação jurídica


para o ato de transferência, consoante dicção de seu artigo 47, verbis:

“O servidor ocupante de cargo de provimento efetivo poderá, a


seu pedido, preservado o interesse da Administração, ou mediante
ato da Administração, ter sua lotação transferida para qualquer
outra unidade da administração direta, autárquica ou
fundacional, desde que satisfeita a equivalência do regime
jurídico e a compatibilidade da atividade com o cargo.”

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E considerando a necessidade de agentes administrativos na
Agência do Trabalhador (exatamente o cargo em que a Impetrante foi concursada), vagas essas
decorrentes do Convênio citado, foi designado que ela ocuparia uma das vagas disponíveis.

Nesse contexto, a autoridade impetrada comunicou à servidora -


que se encontrava em disponibilidade e percebendo normalmente remuneração pertinente ao cargo
concursado – que deveria comparecer à Agência do Trabalhador para laborar (fls. 28), informando-
a via telefone (fls. 114/123) da impossibilidade de atender sua solicitação de transferência para a
Secretaria de Cultura ou para a Câmara Municipal.

Não se verifica, portanto, o cometimento de ilegalidade ou abuso


de poder no ato de transferência determinado pelo Impetrado.

Inobstante tenha a Impetrante aduzido que: “quem labuta no


Poder Público, sabe que o ato ora inquinado tem o caráter de perseguição e punitivo”, ressalta-se
inexistir no bojo dos autos qualquer prova de que o móvel do agente - vale dizer, “a representação
subjetiva, psicológica, interna do agente e correspondente àquilo que suscita a vontade do agente
(intenção)” (CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO, in ob.cit., p. 381) – tenha sido viciado
por sentimentos de favoritismo ou perseguição.

Ao revés, restou demonstrado que a servidora, estando em


disponibilidade por força de sua atividade ter sido absorvida pela Procuradoria Jurídica do
Município, foi transferida para uma unidade do serviço público que demandava a presença de
servidor para o cargo correlato ao da Impetrante.
Não há qualquer ilegalidade em que a servidora tenha sido
designada para ocupar o mesmo cargo para o qual foi nomeada em concurso público (repise-se, o
de agente administrativo) em outra unidade. Foi para esse cargo que foi ela aprovada no certame
probatório e não para a função de Supervisora de Equipe. Uma vez revogada sua designação para a
função em referência, manteve-se ela em disponibilidade em seu cargo de origem, oportunidade em
que voltou a receber a remuneração correlata.
E, como bem apontado no parecer Ministerial desta Instância:
“uma vez que a Administração Pública Municipal resolveu fazê-la retornar a seu cargo de origem,
pouco importando o motivo (no caso em apreço, pela extinção do cargo de supervisora de vendas),
a Impetrante não pode alegar que teria direito a permanecer no cargo anterior(...). Em outras
palavras, a impetrante não tem direito adquirido a permanecer em cargo para o qual não foi
aprovada em concurso público, e nem goza da garantia da inamovibilidade” (fls. 214).
Um dos objetivos da Impetrante com o mandamus, segundo consta
na inicial, é retornar “às atividades na Divisão de Compras, com a função de Supervisora de
Equipe, ou seja, restabelecendo o ‘status quo ante’(...) com o restabelecimento da remuneração
anteriormente percebida” (fls.25).
A pretensão da Impetrante em continuar recebendo a remuneração
da função de confiança do cargo de Supervisora implica em buscar do Judiciário que se imiscua na
esfera meritória do administrador que, por critérios de oportunidade e conveniência, pôs cobro a
função que ela ocupava.
A função de Supervisora, que a Impetrante agregou ao cargo para
o qual foi concursada, é função de confiança que tem natureza transitória e efêmera, a depender
do talante da autoridade administrativa.

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Em face da Emenda Constitucional n.19, as funções de confiança
só podem ser exercidas por servidores ocupantes de cargo efetivo e se destinam, obrigatoriamente,
apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento, consoante artigo 37, V, da Carta
Constitucional:

“V- as funções de confiança, exercidas exclusivamente por


servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por
servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se
apenas ás atribuições de direção, chefia e assessoramento.”

Como se vê, referidas funções, a exemplo dos cargos em


comissão, são de livre nomeação e exoneração do Administrador, tendo este o poder discricionário
de nomear ou afastar servidor ocupante da função gratificada, como se depreende dos termos
contidos no artigo 37, II, da Constituição Federal, verbis:

“II - a investidura em cargo ou emprego público depende de


aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza
e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.”. .

Para CARMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA: “função de


confiança é aquela que se caracteriza por ser destinada ao provimento de agentes que atendem a
uma qualidade pessoal que o vincula, direta e precariamente, a determinadas diretrizes políticas e
administrativas dos governantes em determinado momento. Assim, o elo de vinculação pessoal
identifica o agente que é indicado para o exercício da função e denota a sua ligação com a
política ou com as diretrizes administrativas estabelecidas.(...) A expressão ‘livre nomeação e
exoneração’, empregada na Constituição (artigo 37, II) e na legislação infraconstitucional, não
significa senão que o ato de nomeação, praticado para o provimento do cargo destinado
juridicamente a se exercer como um comissionamento, não vincula a autoridade competente
indefinidamente, sequer ficando ele restrito ao nome eleito em determinada ocasião” (in Princípios
Constitucionais dos Servidores Públicos, ed. Saraiva, São Paulo, 1999, pp.177/178).

Segundo JOSÉ MARIA PINHEIRO MADEIRA: “por sua


peculiar natureza de confiança, enquadra-se no fato temporal da transitoriedade livre, ficando a
autoridade competente, sem pélias jurídicas, para lavrar a dispensa, a qualquer tempo, sem
motivação. A titularidade, portanto, é precária. (...) A confiança, em razão da sua própria
subjetividade, poderá se extinguir pelos mais diversos motivos, extinguindo-se, assim, o elo que
sustenta a estada do servidor nomeado para o cargo de provimento em aos quadros da
Administração Pública”(in ob.cit. pp. 53/56).

Via de conseqüência, não tem a Impetrante direito de receber as


verbas referentes à função gratificada de Supervisora, já que a remuneração somente seria devida
enquanto ocupava tal atribuição.
Releva considerar que cabia à Impetrante demonstrar de plano o
direito líquido e certo que invoca, mediante prova documental pré-constituída pois, segundo o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça: "O mandado de segurança exige prova pré-
constituída como condição essencial à verificação do direito líquido e certo, de modo que a
dilação probatória mostra-se incompatível com a natureza da ação mandamental". (Recurso
Ordinário em Mandado de Segurança nº 21521/AM (2006/0045121-8), 5ª Turma do STJ, Rel.
Arnaldo Esteves Lima. j. 10.10.2006, unânime, DJ 30.10.2006).

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No Mandado de Segurança, a petição inicial deve apresentar os
documentos necessários à comprovação de plano do direito líquido e certo alegado, consoante
indica a doutrina de SERGIO FERRAZ:

"À vista da configuração que atribuímos à expressão 'direito


líquido e certo', assume importância uma referência ao problema da prova no mandado de
segurança. Não se discute, por exemplo, quanto a ser admissível, no 'writ', apenas a prova
documental (...) E, como princípio geral, todos estão acordes em que deva tal prova, devidamente
pré-constituída, ser produzida com a inicial, vedando-se a juntada de novos documentos no curso
do processo" (In 'Mandado de Segurança'. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 46).

O conceito de direito líquido e certo é delineado por HELY


LOPES MEIRELLES:

"Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua


existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração. Por
outras palavras, o direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir
expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao
impetrante: se sua existência for duvidosa; se sua extensão ainda não estiver delimitada; se seu
exercício depender de situações e fatos ainda indeterminados, não rende ensejo à segurança,
embora possa ser defendido por outros meios jurisdicionais" (In: "Mandado de Segurança", 28ª ed.
São Paulo: Editora Malheiros, 2005, p. 36/37).

Assim, vindo a peça exordial desprovida de dados comprobatórios


do direito líquido e certo invocado pela Impetrante e não se configurando ilegalidade ou
abusividade no ato de transferência combatido, há que ser denegado o Mandado de Segurança.

Nesse sentido, voto por reformar a sentença em grau de reexame


necessário, julgando improcedente o pedido formulado, para negar em definitivo a segurança
pugnada e condenar a Impetrante ao pagamento das custas processuais, sendo incabível a
condenação em honorários, a rigor da Súmula 105 do Superior Tribunal de Justiça.

Ante o exposto,ACORDAM os Desembargadores integrantes da


Quarta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em
reformar a sentença em grau reexame necessário, nos termos do voto da Relatora.

Presidiu o julgamento a Desembargadora Regina Afonso Portes


(com voto), tendo dele participado o Desembargador Salvatore Antonio Astuti (Revisor).

Curitiba, 08 de abril de 2008.

MARIA APARECIDA BLANCO DE LIMA


Desembargadora Relatora

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