You are on page 1of 21
Método para anilise da variabilidade em ensaios de Piezocone: aplicacao a residuos de mineracio ‘Method for analyzing variability in Piezocone tests: application to mining waste ‘DOL: 10.5905/reveonv.160.9-176 Recebimento dos originais: 24/08/2023 Aceitagio para publicagao: 22/09/2023 Leticia Perini Mestra em Engenharia de Infraestrutura e Geoteenia Instituigdo: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Enderego: Florianépolis - SC, Brasil E-mail: leticia.perini@hotmail.com Gracieli Dienstmann Doutora em Engenharia Geotéenica Instituigdo: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Enderego: Florianépolis - SC, Brasil E-mail: g.dienstmann@ufsc.br RESUMO ‘A estimativa de parimetros geotécnicos para residuos de mineragio através do ensaio de piezocone deve ser cautelosa, dada a alta variabilidade desses materiais e possibilidade de renagem parcial durante a realizacao do ensaio na velocidade padronizada. O presente estudo buscou trazer alternativas para dimimuir a interferéncia da heterogeneidade do material sobre a avaliaglo dos efeitos da velocidade nos resultados de ensaios de piezocone. Neste contexto, ensaios realizados sob diferentes velocidades de eravagio em rejeitos de mineragio de ouro foram analisados utilizando-se do coeficiente de variagdo e das curvas de frequéncia acunmulada como ferramentas para a identificagao de camadas homogéneas do material. Ap6s a aplicagao do método, 0 efeito da velocidade foi avaliado no espago velocidade normalizada de ensaio (V) versus grau de drenagem (U). Nas curvas de drenagem obtidas, foi possivel observar a transigao de comportamento nao drenado para parcialmente drenado com considerivel diminuigao da dispersio de dados. Palavras-chave: rejeitos de minerac3o, ensaio de Piezocone, drenagem parcial, estratigrafia, variabilidade. ABSTRACT The estimation of geotechnical parameters for mining tailings through the piezocone test should be approached cautiously, given the high variability of these materials and the possibility of partial drainage during the test at the standardized velocity. This study aimed to provide alternatives to reduce the interference of material heterogeneity on the evaluation of the velocity effects in piezocone test results. In this context, tests conducted at different penetration rates in gold mining tailings were analyzed using the coefficient of variation and cumulative frequency Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16753 curves as tools for identifying homogeneous layers of the material. After applying the method, the effect of velocity was assessed in the normalized test velocity (V) versus drainage degree (U) space. In the obtained drainage curves, it was possible to observe the transition from undrained to partially drained behavior with a considerable reduction in data dispersion. Keywords: mine tailings, Piezocone test, partial drainage, stratigraphy, variability. 1 INTRODUGAO. O ensaio de piezocone tem sido bastante utilizado para andlise de campo em residuos de ‘mineragio. Porém, materiais como siltes, argilas arenosas ¢ residuos de mineragao costumam apresentar drenagem parcial durante a execugio padronizada do ensaio, 0 que dificulta a interpretagio dos resultados, visto que as correlagdes existentes podem levar a uma avaliagio erronea dos parimetros geotéenieos (Sehunaid et al. 2020). Diversos autores tém estudado 0 comportamento de drenagem desses materiais (e.g. Randolph e Hope (2004), Bedin (2006), Jaeger et al. (2010), Oliveira et al. (2011), Klahold (2013), Sosnoski (2016), entre outros). A ideia consiste em executar ensaios utilizando diferentes velocidades de penetragao para identificar qual a velocidade necesséria do ensaio que leva a um ‘comportamento totalmente drenado ou nio-drenado. Além da dificuldade de interpretagio imposta pelo efeito da drenagem parcial, os residuos possum alta variabilidade estratigrifica, visto que sao materiais essencialmente heterogéneos, 0 que aumenta ainda mais a complexidade das anilises. Por consequéncia, para melhorar a interpretagio de resultados de ensaios de piezocone em residuos ¢ aumentar a seguranga na avaliaglo das condigdes de drenagem, faz-se necessiria a utilizagio de anilises estatisticas da variabilidade dos parimetros geotécnicos. Posto que, tanto a variabilidade natural do material, como a variagdo da velocidade influenciam no ensaio, define-se a problemitica deste estudo: separar esses dois efeitos. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo introduzir uma metodologia quantitativa para interpretagiio da estratigrafia do terreno, visando diminuir a variabilidade observada, a partir da avaliagio do efeito da velocidade, o qual pode levar a uma maior heterogeneidade do perfil. Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16754 2 CONDICOES DE DRENAGEM NO ENSAIO DE PIEZOCONE A avaliagio das condigdes de drenagem em materiais com permeabilidade intermediria entre areias e argilas & necessaria para evitar que os parimetros geotécnicos sejam superestimados, principalmente a resisténcia ao cisalhamento nao drenada (Su) (Schunaid et al. 2010). De acordo com Dienstmann (2015), a definigao das condigdes de drenagem durante a execugio de ensaios de campo pode conferir confiabilidade na obtencio dos parimetros de projeto, porém em materiais no convencionais ainda nao existem definigdes precisa e métodos de abordagem consagrados para avaliagao do comportamento de drenagem. ‘A avaliagdio dos parimetros que controlam o fluxo em materiais de comportamento transitério vem sendo estudada por meio de ensaios executados em diferentes velocidades. Os resultados costumam ser apresentados num espago que relaciona a velocidade normalizada (7) & poropressio normalizada (LU), reproduzindo a chamada curva de drenagem caracteristica do material. objetivo da curva de drenagem é estabelecer os limites para que os ensaios sejam realizados de maneira totalmente drenada ou no drenada, possibilitando a interpretagio dos resultados (Dienstmann et al. 2018). © parimetro adimensional (V), apresentado na Equago 1, leva em consideragdo a velocidade de penetracio do cone no ensaio (»), 0 didmetro da sonda (d) e o coeficiente de adensamento vertical do solo (cy), v-<4 a) °. parimetro U, que representa 0 excesso de poropressio gerado durante a cravacio, pode ser obtido, segundo Dienstmann (2015), pelas seguintes relagdes: Randolph e Hope (2004), Silva et al, (2005), entre outros (Equagao 2); Schnaid et al. (2004) (Equacao 3). Au U= 2) i Q Onde: Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16755 4u é variagto de poropressiio em um determinado instante ¢ Juina: é méxima variagto de poropressto, geralmente ‘medidas na face do equipamento; y= Se Su @) yar” Veons Onde: g:€a resisténcia real mobilizada do piezocone em um dado instante, gauxeé a resisténcia real mobilizada do piezocone ‘nao drenada, € gut € a resisténcia real mobilizada do piezocone drenada, ‘Nas representagdes acima, o parimetro U varia de 0 a 1, sendo 0 a condigao nfo drenada © | a condiedo drenada. A poropressio também pode ser representada normalizada pela tensdo efetiva (divo'%o). Neste caso, a condigao drenada ¢ igual a 0 e o valor maximo para a condi¢ao de comportamento nao drenado depende das caracteristicas do material. Schnaid (2005), através de dados experimentais, propGs uma equagio cossenoide hiperbélica (Equagiio 4) para tragar a tendéncia da curva de drenagem. 1 U=a+(1-a)—__ ares) cosh (bV") o Onde: Tindica o grau de drenagem e a, b e ¢ sto coeficientes de adequacto da curva. O pardmetro a representa a relagtio ‘entre a resisténcia ao cisalhamento no drenada ¢ drenada, enquanto que b € ¢ coutrolam a taxa de mudanga de condigdes drenadas para nao drenadas (Schnaid et al., 2010). Resultados em residuo de ouro descritos em Bedin (2010) e Klahold (2013) foram reinterpretados por Dienstmann et al. (2018) e a Equagao 4 foi adaptada para representar a tendéncia de Awe x Ve Q x V, conforme as Equagdes (5) ¢ (6). O resultado obtido é apresentado na Figura 1 ¢ os coeficientes de ajuste adotados so apresentados na Tabela 1. Devido a disperstio dos pontos, os autores apresentam duas curvas para caracterizar 0 ‘comportamento de drenagem e de resisténcia: um limite inferior e um limite superior. Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 202316756 0-0 (SH) eeu) cosh(bV") ©) ‘Tabela 1. Coeficientes de ajuste para residuos de ouro nas a > c Limite Inferior 0,025 4 OT Limite Superior __0,025 1 o7. Fonte: Dienstmann etal. 2018) Contribuciones a Las Ciencias Sociales, So José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16757 Figura 1. Curvas Awo'yo XV e Q xU para residuos de ouro 50 45 S peeecrr--- oy 40 tees ° ° + \ 35 ‘Noo ‘ a) RL ewan} bs Muito | TN So Limite inferior gy ‘ghimite superior é . ° Tis oO o_o og Vo h 10 ° NO-B-25-O-1 4. 5 0 Se o 0,001 ot ot 1 10 100 3 05 ° 0,001 0.01 04 1 10 100 Fonte: Dienstmana et al. 2018. exemplo mostra que a curva possibilita a identificagao das condigées de drenagem, revelando um intervalo no qual ha ocorréneia de drenagem parcial (0,01 < Vr < 10). Através da curva de drenagem, os limites de comportamento drenado e comportamento nio drenado podem ser definidos, possibilitando assim a obtengio de parimetros geotéenicos e evitando que ensaios futuros sejam executados em velocidades nas quais ocorra drenagem parcial. A Figura 1 indica Contribuciones a Las Ciencias Sociales, So José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16758 que um comportamento nao-drenado ser obtido para os residuos de our quando os ensaios forem realizados a velocidades normalizadas maiores que 10, 3 MATERIAIS 3.1 ENSAIOS UTILIZADOS PARA ANALISE Para a interpretagao dos ensaios de campo, foram utilizados dados de um programa experimental de investigagao realizado por Klahold em 2012, sendo o local estudado um depésito de rejeitos de mineragao de ouro no Municipio de Barrocas, BA. © material também foi objeto de estudos de Bedin (2006) e Sosnoski (2016). A ilha 01 de investigagio de Klahold (2013), conforme denominada pela autora, foi escolhida para aplicagao da metodologia desenvolvida por este estudo. Klahold (2013) realizou primeiramente o ensaio com velocidade de penetragio padrio até a profundidade de 12 metros. Apés identificar a camada de material mais homogéneo, compreendida dos 3 aos 5 metros de profundidade, foram realizados ensaios variando a velocidade entre 0,3 mm/s e 57 mm/s com o objetivo de avaliar a ocorréncia de drenagem parcial Gurante a penetragio do cone e estudar os efeitos da velocidade nos ensaios. 3.2 EFEITO DA VELOCIDADE NOS ENSAIOS, Os perfis de qe (resisténcia de ponta), f(atrito lateral) e 12 (poropressio) & profundidade de 3,2 a 5,0 metros, obtidos nos ensaios executados com diferentes velocidades, referentes 20 material estudado, so plotados na Figura 2, De maneira geral é possivel observar a influéncia da velocidade de penetragio nos resultados. Para o ensaio executado na velocidade rapida (57mm/s), os valores medidos de qe, fs € uz fiearam proximos aos do ensaio executado com velocidade padriio (20mny/s), o que indica que ambos 0s ensaios tém comportamento em relagao a drenagem semelhante (possivelmente nio- drenado). J4 as leituras do ensaio mais lento, mostraram valores de ge ef; mais elevados e valores de poropressio 17 menores, o que evidencia que © processo de dissipago é permitido quando a cravacao do cone é mais lenta. Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16759 Figura 2. Perfil de ge ze f em diferentes velocidades. a: (KPa) Un Mo (KPa) 4, (KPa) © 400 800 1200 © 50 100 150 200 © 5 10 15 20 25 30 32 32 34 34 36 36 38 a0 4.0 : E 4,2 8 3 e+e aa4 Basa e E 46 46 48 48 5.0 5.0 4 METODO PARA INTERPRETACAO DA VARIABILIDADE ESTRATIGRAFICA Visto que os residuos de minerago de ouro sto materiais que, em geral, apresentam perfil -geotécnico muito varidvel, busea-se um método capaz de eliminar heterogeneidades do material sua interferéneia nas andlises dos ensaios. Para uma relagio mais clara entre a velocidade de penetragao e as poropressdes geradas, ‘idealiza-se que o material estudado seja o mais homogéneo possivel. Nesta condigio, a curva de renagem do material é mais representativa ¢ resultados do ensaio podem ser interpretados com maior seguranga, depésito de residuos estudado, entretanto, trata-se de um material muito heterogéneo e com perfil geotécnico altamente varidvel. Tal variabilidade, comum em rejeitos de mineragao, Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16760 resulta em elevada dispersio de dados na curva caracteristica de drenagem (Ix U) e evidencia a necessidade de anélises quantitativas dos ensaios. metodo desenvolvido para diminuigio da variabilidade, apresentado na sequéncia, se baseia na ideia de que, se camadas menores - porém mais homogéneas - do material forem analisadas, entende-se que o efeito da velocidade pode ser determinado com maior preciso. Portanto, foram estudados critétios para identificar camadas de solo mais homogéneas, nas quais 0 efeito da velocidade de penetragio aparece com maior elareza. O método proposto, com sua respectiva aplicagao ao ensaio de piezocone estudado, é apresentado a seguir. 4.1 ANALISE QUALITATIVA INICIAL A anilise qualitativa inicial, refere-se a identificagio comparativa simples de semelhangas e diferengas ao longo do perfil. Se o material das diferentes sondagens for homogéneo, os perfis de qe, f; € uo para cada uma das velocidades apresentardo curvas semelhantes, apenas deslocadas no eixo horizontal, Neste contexto, foram analisadas as distribuigdes de qo, e u2 a0 longo da profundidade (Figura 2), Nas camadas de 3,20 a 3,80 metros e 4.74 4 5,00 metros o ensaio lento apresentou um comportamento diferente dos ensaios padrio e ripido. Isso pode ser observado nos primeiros centimetros do grifico de jf, que se apresentou crescente no ensaio lento ¢ relativamente constante nos demais. Além disso, a partir de 4,74m de profundidade, percebe-se que hé um aumento na variabilidade dos resultados de q. e 1. A pattir desta profundidade a curva do ensaio lento chega a interceptar as curvas do ensaio padrio e ensaio ripido. Tais diferengas sugerem que nestas profundidades os materiais encontrados em cada ensaio nao possuem as mesmas caracteristicas geotécnicas. Optou-se, enti, por eliminar tais camadas que visualmente indicam maior heterogeneidade e prosseguiu-se a avaliagio dos perfis definidos pelo intervalo de 3,80 a 4,74 metros de profundidade. Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16761 4.2 INDICE DE CLASSIFICACAO O indice de classifieagio do material (Ic), proposto por Jefferies e Been (2006) (Equagio 7), foi analisado para identificar materiais com diferentes granulometrias, visando: + Confirmar a homogeneidade da camada de solo — quando todos os pontos apresentam Ie que se enquadram na mesma classificagao de solo; . Verificar a necessidade de subdividir a camada — quando a camada analisada apresentar valores de Ie de mais de uma classificagio de solo. As faixas de classificagio sao consideradas de acordo com o apresentado na Tabela 3, adaptada de Schnaid ¢ Odebrecht (2012), Tabela 3. Classificagio de solos pelo Te Tadice Te Classificagio do solo Te> 2,6 Argilas 2.76> Te > 2.40 ‘Misturas de siltes 240>Ie> 1,80 “Misturas de areias 1,80 > Ie > 1.25 Arcias Ie< 1,25 Areias com pedregulhos: Fonte: Jefferies e Been, (2006) a) {1,541.3 log(F, (8) (9) (10) O perfil de Zc para a camada de 3,20 5,00 metros é apresentado na Figura 3. Os valores de Je sio obtidos a partir do ensaio com velocidade padraio (20mm/s). Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16762 A anilise do indice de classificagao Ze para a camada que est sendo analisada — de 3,80 44,74 metros — apresentou todos os pontos de leitura com valores de Ic dentro da faixa de classificagao de argilas, reforcando assim a homogeneidade da camada escolhida. Figura 3. indice de classificagdo Ze do material, Ic 20 24 28 32 36 40 “3.2 & Profundidade (m) - Fonte: 0 autor 4.3 AVALIACAO DA DISTRIBUICAO E DISPERSAO DOS DADOS: CURVAS DE FREQUENCIA ACUMULADA E COEFICIENTE DE VARIACAO Por fim, medidas estatisticas foram utilizadas para avaliar a homogeneidade dos dados. 0 coeficiente de variagio qf € 12 é usado para medit a disperstio dos dados. Ele é titil, pois trata-se de uma medida relativa de dispersio, jé que € adimensional. Quanto menor o coeficiente, menor a dispersio em tomo da média. Definiu-se um coeficiente de variagio maximo de 30% para limitar a dispersfio de dados da camada de interesse. Foram observados os coeficientes de variagio de q.,/, € 12 em todas as velocidades em que o ensaio foi executado e foram selecionados apenas 0s intervalos amostrais nos quais nenhum coeficiente de variagao ultrapassa 30%. A curva de frequéncia acumulada serve para localizar a distribuigdo de frequéncias sobre Contribuciones a Las Ciencias Sociales, So José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16763, © eixo de variagao do parimetro geotéenico. Fazendo-se comparagées entre as curvas de sondagens adjacentes executadas sob diferentes velocidades de cravagio, podem ser identificados os materiais mais homogéneos através das semelhangas entre as curvas. As curvas de frequéncia acumulada do intervalo estudado, de 3,80 a 4,74 m, exibidas na Figura 4, apontaram uma distribuigo dos dads relativamente semelhantes no caso def; e de du = (wwe). As curvas de frequéncia acumulada de qe, apresentaram maior disparidade, sendo a curva do ensaio lento mais suave que as demais, revelando que a diferenca entre as medidas ‘minimas e maximas desta velocidade & maior que nos ensaios padre rapido. Figura 4. Curvas de frequéncia acummlada entre 3,80 ¢ 4,74 m de profundidade. —vel. padrao, —vel. rapide —vel. lenta 09 08 | 07 O68 os 04 03 02 o1 oO 4 0 200 400 600 600 = 0 4 8 12182024 —--50 0 50 100 150 qc (kPa) fs (kPa) Au (kPa) Fonte: 0 autor Sequencialmente, a dispersio dos dados foi avaliada quantitativamente através do coeficiente de variagao, o qual demonstrou uma maior heterogeneidade de dados para o intervalo de 3,80 a 4,74 m. Conforme observado na Tabela 4, 0 ensaio répido apresentou valores de fz com coeficiente de variagao de 40%, ¢ o ensaio lento, valores de 41 com coeficiente de variagio de 68%, muito acima do limite para a camada ser aprovada no critério de coeficiente de variagio (coeficiente maximo adotado 30%). Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16764 Tabela 4. Coeficientes de variacio entre 3.80 ¢ 4.74m de profundidade ‘vel. padrio vel. ripidal vel. lenta (kPa 15% 21% 19%. (kPa) 18% 40% 13% wp (kPa) 17% 20% 68% Fonte: 0 autor A solugio foi analisar as curvas de frequéncia acumulada e 0s coeficientes de variagaio para intervalos menores dentro deste espaco, até encontrar camadas que satisfizessem os critérios de homogeneidade de dados adotados. A dificuldade em encontrar intervalos com coeficiente de variag3o maximo de 30%, levou A andlise de pequenas camadas. Uma espessura minima para as mesmas foi fixada em 14 cm para garantir um tamanho amostral minimo ¢ evitar que a anélise se tornasse pontual. Uma profuundidade minima de 14 em representa uma espessura de camada de aproximadamente quatro (4) vezes 0 diametro do cone, considerando um cone de 10cm”. Ainda, para 14 cm de espessura ‘© mimero de pontos de leitura dos ensaios padrio e rapids é de 8 (1 leitura a cada 2 em). Para 0 ensaio lento 0 intervalo de leituras é menor (24 leituras por centimetro), o que resulta em 336 leituras para a espessura de 14em. Dentro das exigéncias descritas foram encontradas duas camadas que apresentaram boa homogeneidade: a primeira entre 3,94 e 4,10 m e outra entre 4,36 e 4,50 m de profundidade. No intervalo de 3.94 a 4,10 m, 0 coeficiente de variagao maximo encontrado foi de 23%, relativo aos valores de f, com o ensaio rapido. Para o intervalo de 4.36 a 4,50 m, as poropressdes do ensaio lento apresentaram o maior coeficiente de variagao: 27%. Em geral, as camadas apresentaram coeficientes de variagio pequenos, indicando baixa dispersio de dados, conforme pode ser observado na Tabela 5 e na Tabela 6. Tabela 5. Coeficientes de variagto entre 3,94 ¢ 4.10m de profiundidade vel pao vel pide vel Lents EP 6% 76 12% ‘£(kPa) 19% 23% 3% “up (kPa) 4% 3% 20% Fonte: 0 autor ‘Tabela 6. Coeficientes de variacto entre 4.36 e 4.50m de profundidade vel. padrio vel. ripida vel. Jenta qe(kPa 3% 3% 3% (kPa) 7% 4% 1% us (KPa) 5% % 21% Fonte: 0 autor Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16765 A adequada representatividade dos intervalos também pode ser visualizada através da anilise das curvas de frequéneia acumulada apresentadas nas Figura 5 e Figura 6, Observa-se que as curvas da velocidade padrio e velocidade répida aparecem praticamente sobrepostas. A inclinagdo das curvas € parecida, mostrando que a distribuigao de frequéncia nos diferentes ensaios é semelhante, validando assim a escolha das camadas sob os critérios de homogeneidade definidos pela metodologia. Figura 5, Curvas de frequéncia acunulada entre 3,94 ¢ 4,10 m de profundidade, —vel. padrao Vel. répida Vel. lonta 1 1 1 09 09 09 08 08 08 o7 o7 or 06 06 06 5 + fos fos 4 4 oO 03 03 03 02 02 02 ot on on 0 0 0 0 200 400 600 0 4 8 12162024 0 25 50 75 100 ge (kPa) fs (kPa) ‘Su (kPa) Fonte: 0 autor Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16766 Figura 6. Curvas de frequéncia acumlada entre 4.36 ¢ 4,50 m de profundidade. —vel. padre —vel. pida —vel. ental 1 1 09 09 08 08 o7 07 06 08 M5 fos HT 04 04 03 03 02 02 on ot 0 0 0 200 400 600 0 4 8 1216 20 24 0 25 50 75 100125 ac (kPa) fs (kPa) ‘Au (KPa) Fonte: 0 autor 5 VALIDACAO DO METODO Apés a aplicacdo do método qualitativo, procedeu-se com a anilise do comportamento de renagem do material, Neste sentido, foram plotadas a resisténcia de ponta normalizada (Q) ea poropressio gerada normalizada (4n/a’) em fungi do fator de velocidade adimensional 7. ‘Na obtengdo de V, optou-se por utilizar os coeficientes de adensamento horizontal cy medidos no piezocone, por se tratar de uma medida direta. Os resultados para o intervalo completo, de 3,20 a 5,00 metros de profundidade, podem ser observados na Figura 7. As Equacdes (5) e (6) utilizadas por Dienstmann et al. (2018) com base na fungio cossendide hiperbolica apresentada por Schnaid (2005) foram utilizadas para representar 0 comportamento dos pontos no espago. Os coeficientes de ajuste adotados foram: a = 0,01, b = 1,36 € c = 0,83. Os coeficientes de ajuste adotados foram definidos visando incrementar o coeficiente de determinago R?. Contribuciones Las Ciencias Sociales, So José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16767 Figura 7. Efeito do fator de velocidade sobre o excesso de poropressito (a) e resisténcia (b) normalizada ~ 3.2 a 5.0m. 18 5 16 | 14 | ¢ 12) 2 a 20, Somente nesta condigio é que parametros geotécnicos nfio-drenados podem ser utilizados em projeto, ‘Na Figura 9 apresentam-se os valores de resisténcia nio-drenada normalizada (Sw/a’v) plotados em fangao da velocidade normalizada (V). Os valores de Si foram obtidos dos perfis considerando um Ny=13 (Klahold, 2013). Da Figura 11 observa-se que quando V normalizado > 20, tem-se 0s valores de resisténcia representativos de projeto: Sw/a’v = 0,23, se aproximando do valor caracteristico de materiais normalmente adensadas (Schnaid e Odebrecht, 2012). Ainda da Figura 9 pode-se avaliar um ganho de resisténcia da ordem de 2,8 vezes quando © ensaio é realizado na menor velocidade. Se parimetros nio-drenados fossem obtidos nesta velocidade, adoti-los em projeto com condigdes nio-drenadas seria contrario a seguranga. Figura 9, Curva de resisténcia nao drenada normalizada pela velocidade normalizada.. 09 08 07 06 3 05 4 04 03 02 on Fonte: 0 autor Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16770 6 CONCLUSOES método desenvolvido permite a identificago de camadas mais homogéneas do material a diminuigdo da variabilidade, o que tomou a curva de drenagem para o residuo de ouro mais, representativa. Por consequéncia, também se diminuiu o nivel de incerteza na identificagao do valor de V (velocidade normalizada) que marca a transigiio de nfo drenado para parcialmente drenado. Destaca-se que a aplicagio apresentada no presente trabalho auxilia no entendimento e interpretagio das condigdes de drenagem em residuos de mineragio, dando uma maior confiabilidade as curvas obtidas. Neste sentido, as curvas de drenagem apresentadas podem ser entendidas como guias para a execugdo de ensaios em campo, fornecendo bases para que os ensaios sejam executados na condigao nao-drenada ou perfeitamente drenada, Somente nestas condigdes ¢ que parimetros geotéenicos podem ser estimados e utilizados em projeto com seguranca. AGRADECIMENTOS ‘Ao programa de P6s-Graduagio em Engenharia Civil da UFSC, PPGEC. Aos érgios de fomento (CAPES e CNPq). Contribuciones a Las Ciencias Sociales, So José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 202316771 REFERENCIAS BEDIN, J. Interpretagdo de Ensaios de Piezocone em Residuos de Bauxita. 2006, 150 p. Dissertago - Programa de Pés-Graduacio em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2006. BEDIN, J. Estudo do Comportamento Geomecénico de Residuos de Mineracéio. 2010, 207 p. Tese de doutorado - Programa de Pés-Graduagiio em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2010. DIENSTMANN, G. Anélise De Ensaios De Campo Em Fluxo Transitério. 2015, 200p. Tese de doutorado — Programa de Pés-Graduacdo em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2015. DIENSTMANN, G. et al. Piezocone Penetration Rate Effects in Transient Gold Tailings. Journal of Geotechnical and Geoenvinronmental Engineering, 144(2):04017116, 2018, JAEGER, R. A. et al. Variable penetration rate CPT in an intermediate soil. Proc., 2nd Int. Symp. On Cone Penetration Testing, Omnipress, Madison, WI, 2010. JEFFERIES, M. and BEEN, K. Soi! liquefaction: A critieal state approach. \* ed, 580 p. Oxon: Taylor & Francis, 2006. KLAHOLD, P.A. Interpretagdo de Ensaios de Campo em Solos com Permeabilidade Intermediéria, 2013, 103p. Dissertaglo — Programa de Pés-Graduagaio em Engenharia Civil, UERGS, Porto Alegre, 2013. OLIVEIRA, J.MS. et al. Influence of Penetration Rate on Penetrometer Resistance. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Vol. 137, No. 7, pp. 695-703, 2011. RANDOLPH, MF. and HOPE, S.N. Effect of cone velocity on cone resistance and excess pore pressure, In: Proc. Engineering practice and performance of soft deposits, Osaka, pp. 147-152, 2004. SCHNAID, F. et al. “In situ test characterization of unusual geomaterials.” Proc., 2" Conference on Site Characterization, Vol.1, Millpress, Rotterdam, Netherlands, 49-74, 2004, SCHNAID, F. Geo-Characterization and Properties of Natural Soils by In Situ Tests. Proceedings of the International Conference on Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, Osaka, Vol. 1, 3-47, 2005 SCHNAID et al, Drainage Characterization of Tailings from in Situ Test. Proc., 2ind Int. Symp. On Cone Penetration Testing, Omnipress, Madison, WI, 2010. SCHNAID, F. e ODEBRECHT, E. Ensaios de Campo e suas Aplicacaes Engenharia de Fundacées. 2 edigio. 224 p. Sao Paulo: Oficina de Textos, 2012. SCHNAID, F. etal. A simplified approach to normalisation of piezocone penetration rate effects. Geotechnique, 70(7): 630-635, 2020. Contribuciones a Las Ciencias Sociales, Sao José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 2023 16772 SILVA, MF. et al. An analytical study of the effect of penetration rate on piezocone tests in clays. Jnternational Journal of Analytical and Numerical Methods in Geomechanics. 201-257, 2005. SOSNOSKL, J. Interpretagéio de Ensaios de CPTU e DMT em Solos com Permeabilidade Intermediévia, 2016, 137p. Dissertagao — Programa de Pés-Graduagio em Engenharia Civil, UERGS, Porto Alegre, 2016. Contribuciones Las Ciencias Sociales, So José dos Pinhais, v.16, n.9, p. 16753-16773, 202316773

You might also like