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HIPOTESE PROSPECTIVA O SISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 1. INTRODUGAO Partimos da hip6tese de que a abrangéncia dos processos ‘mididcicos, na sociedade, nfo se esgota nos subsistemas de produ- Gio e de recepgao. Hsses dois angulos da midiacizagio da sociedade so fundados na jé tradicional descrigdo do processo de comunica- io como uma relagio entre emissor ¢ receptor (através de um “canal” — que seriam os meios de comunicagio). Essa descricio tem sido largamente criticada e pode se considerar superada por perspectivas processuais muico mais flexiveis e complexas. Entse- tanto, continua estranhamente presente na percepgio de senso ‘comum: emissores e receptores (mesmo quando, em situagées de “interatividade”, possam trocar seus papéis) parecem responder, separadamente ou em conjunto, por todos os processos midisticos cexistentes na sociedade. (amino ‘A SOCIEDADE ENFRENTA SUA MDA (SISTEMA DE ResPosTA SOCIAL 22 Correlatamente, elabora-se um dualismo entre “midia” e “so- ciedade"!, em que a primeira assume o papel “ativo" de geradora de mensagens, e a segunda, na melhor das hipsteses, enfrenta ativa- ‘mente aquelas interferéncias, mas sempre na posicio de “recebedo- a”, Pretendemos trazer, no presente estudo, uma perspectiva redirecionadora, contrapondo a visio “informacional” (unidicecio- nal) uma posicio decididamente comunicacional. Discordamos da perspectiva de que s6 agora, com as redes informatizadas, verda- deitos processos biditecionais ocorrem. Ao invés disso, desde as primeiras interagies midiatizadas, a sociedade age e produz no s6 com os meios de comunicacio, ao desenvolvé-los ¢ atribuir-lhes objetivos e processos, mas sobre os seus produtos, redirecionan- do-os ¢ attibuindo-thes sentido social. Ao fazer isso, chega inclu- sive, partindo das préticas de uso, a deseavolver novos objetivos ¢ fancies para as tecnologias inventadas a servico inicialmence de ppontos de vista relacionados a producio/emissio. Propomos, assim, desenvolver a constatagio de 1m ferctiro siste- a de processes mididticas, na sociedade, que completa a processuali- dade de midiatizagio social geral, fazendo-a efecivamente fancio- fat como comunicardo, Esse terceiro sistema corresponde a atividades de rupasta produtiva e ditecionadora da sociedade em interagio com 108 produtos miditicos. Denominamos esse tere componente da processualidade mididcica “sistema de interagio social sobre a ‘mifdia” ou, mais sinteticamente, “sistema de resposta social” Certamente, no se pretende atribuir ao sistema as caracteris- ticas de “interatividade” tal como tém sido formuladas em rela- lo as redes informéticas. Diversamente, trata-se (em geral ¢ com maior freqiiéncia) de respostas diferidas e difusas. Na verdade, ‘mesmo nas redes informatizadas, uma grande parte (e talvez a ‘mais importante) das interagdes é também dessa ordem, diferida ¢ difusa, como, alias, € proprio da midiacizacio. Em grande parte, ‘a midiatizacio da sociedade corresponde a viabilizar acesso posterior 1. £5 duals tincoerente por diverse aes. prinpal que no ve pode afrmar uma separacio ene part a iia eto (a sociedad, © a ampliar o escopo ¢ a abrangéncia das mensagens, fornando-at diferidas ¢ difusas. Nessa perspectiva, os casos de interatividade direta ou “estrita”?, de tipo conversacional, seja por rede infor- mitica, seja por telefone, por correspondéncia escrita ou por con~ versagio pessoal, podem ser considerados como casos particulares (certamente importantes € produtivos) dos processos gerais de interagio midiscica da sociedade. Na internet, 0 funcionamento “em base de dados” é, por definiglo, diferido e difuso. Além disso, seria preciso distinguir da interatividade encre ususrios a “intera~ tividade” com @ maquina ou com a rede ~ dois processos bem mais diferenciados do que habitualmente se assinala, Iniciei em 2001 uma pesquisa sobre critica da midia, baseado 1a hipétese prospectiva de existéncia de um terceiro subsistema, ao lado dos habitualmente reconhecidos, 0 subsistema de produ- cfo e 0 subsiscema de recepcio. Como estava centrado no exame das possibilidades de critica da midia desenvolvido pela propria sociedade, atribuf a esse terceiro componente dos processos mi- didticos a denominagio “sistema® critico-interpretativo”. Essa denominaglo, assim como algumas qualidades hipotéticas ‘que telacionei a tais processos, acabou por evidenciar dificuldades 2. clams qualifier come de “interatvidade eta” as ages de etn det pont do receptor para oemisor Uso a exressio“interathidde socal ampa" para falar a crear lagio com retono cfr e uso ~ ou sj, aqusa na qual as rformacbes cela na secidade, tornados de dominio comum em determinado bite), nese nel, podendo hepa ao emssor orginal cme cetorn. Lembramos gut, no proceso socal continu, 2 idea de“ emisor origina” una frmulasimptficador, pos nso hs “prea mensagem". ( emisor de um programa de tes, por remy | est tentando responder asl «es ou acanas do proprio stems em crauao. Expresamns antes (ver Baga, 20003 ue, pa nossa prcepsto do trabalho cicorintepretatvo da secedade, ess a inratiidade mas rlevarte,Ttase de um procedmentofequente deste social de respi, 3. As expresses “stems e “subst” sto intercambisvels~ um sstera pode sere Sar pate de out, mais abrangente (ogo, um subsistema deste). Um subsstoms, 20 sr ‘observa enquantoespao de abrangéacis em lao a seus componente interes, pode, por comodidade, se referido como osstema em esto, 23 contig c50 A SOCIEDADE ENFRENTA SUR MIDIA 4 conceituais e operacionais. A primeira delas foi a de perceber que alguns modos ¢ processos de “fala sobre a midia” (que estariam ineuitivamente contidos naquele subsistema) nao apresentavam caracteristicas propriamente erficas. Em uma fese inicial da pesquisa, para enfrentar essa dificuldade € para ser coerente com a amplicude necesséria de meu hipotético subsistema em fase de construgio conceicual, fui levado a uma pro- posta de abrangéncia muito larga da expressio “critica”. Esse alar- gamento seria de algum modo assegurado pela complementagio “ceitico-interpretativa”, em que 0 “interpretat” responderia pelos Angulos nos quais o “criticar” no comparecesse. Mas percebe-se ‘que a expressio se tornava tio abrangente que cendia a esvaziac a palavia “critica” de seu vigor hist6rico-conceitual. Por exemplo, em determinado momento cogitei analisar revistas do tipo Contigo ou Ti-Ti-Ti, que se inscrevem potencialmente em meu objeto de pesquisa pela caracteristica de “falar sobre midia e seus produtos”, No sentido inverso, mas denteo da mesma dificuldade de abran- géncia, Fernando Andacht apresencou no GT Comunicagao ¢ So- ciabilidade da Compés (2003) a objegio de que eu adotava, com 0 conceito de agonistica, um critério qualitativo exigente, para a apte- ciagio de falas em geral sobre a midia, que s6 seria pectinente para a critica académica. Voltaremos a essa questi no capitulo final E certo que, definidos nossos termos, é academicamente licito usar as palavras no sencido especifico que nos parega mais adequa- do, mas é preciso reconhecer que um uso excessivamente idios- sincritico ndo favorece o debate e pode representar uma exigéncia descabida e improdutiva. E melhor: ficar © mais pesto possivel dos tusos consagradlos ‘Uma segunda dificuldade decorreu da percepgio de que 0 sis- tema de resposta era responsével pelo retorno da sociedade a0 siscema produtivo, direcionando, em pacte, a pr6ptia producto’, 4 Esa perenco na verdade, fol fundante para a pesquiba, uma ver que sta deorey de inferénciasfetas no aig “nteratidade& recep" raga, 2000s), em qu eu constatave uma interacionalidade socal ampia que gaanteo retern di eta interprets pare ‘sistema de produc, independent da inteativdade est, de too conversational, 0 SisTenA DE RESPOSTA SOCIAL Esse processo pareceu-me tio relevante que, em alguns momen- 105, usei a denominagio “sistema de retorno” para 0 componen- te, Entretanto, se parece mesmo ser verdade que 0 “falar sobre a midia” gera informagbes de feedback, pelo menos duas restricbes podem ser feitas a generalidade daquela afirmagdo. Alguns pro- cessos ocorrentes no subsistema, ainda que possam resultar em informagGes de retorno, nao sfo ativados expressamente com esse objetivo, sendo voleados antes para o desenvolvimento de com- ppeténcias usudrias?. Além disso, uma parte dos processos de recorno no tem relagio com a critica nem com as agies sociais de “falas sobre a midia” (0 retorno por medida de audiéncia, por exemplo, no parece ter semelhanga com os processos que me interessam). A terceira dificuldade, finalmente, refere-se & critica feita por Michael Hanke, professor da UFMG, sobre artigo que apresentei em 2002 no GT Comunicacio e Sociabilidade (Braga, 2003), Hanke objetava aio se caracterizar uma articulagio “de sistema” cencze as diversas categorias de observaveis que eu propunha para minha pesquisa, entio em fase inicial. Embora eu conciuasse a ter convicgio da organizagio sistémica de um terceito componen- te processtal, no podia negar a constatagio feita, no que se refere aos observiveis referidos na pesquisa, em sua materialidade. “Apesar das dificuldades assinaladas, entretanto, existiam con- digées conceituais suficientes para iniciar o trabalho de observa~ ‘gio 0 que foi feito sobre um corpus de materiais empfricos carac- terizados como “falas sobre a midia”, dentro das categorias expressas pelo artigo entio apresentado a0 GT. O refinamento conceitual dependia juseamente do proprio trabalho de investi- gacio, uma vez que o artigo de 2002 expressava como primeiro objetivo da pesquisa “desenvolver a construgio do conceit de 5, € importante, entéo, nfo confund “espsta®e “etomo", Nem toda respostaretorna ficazmente a9 interocutor~0 que, als, podemos experimantar no prépro proceso cone ‘ersaconal, em decocténia de Images da escuta, ds pernéncia ou da artculacio de objets. 25 comin 40 -ASOCIEDADE ENFRENTA SUA MID COSISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 26 subsistema critico-incerpretativo como um componente ativo da interagio social-midiécic Sobre a base de minhas reflexdes anteriores e dos fundamentos te6rico-metadolégicos da pesquisa, eu dispunha, para a busca desse objetivo, do trabalho de investigacio propriamente dito, «em que previa examinar casos concretos de agies do sistema, e do desafio caracterizado pelas dificuldades acima expostas, que se de- ‘marcaram, assim, como estimulos a reflexdo e sobretudo ao trabalho de investigacio, 2. 0 SISTEMA DE INTERACOES SOCIAIS SOBRE A MIDIA (RESPOSTA SOCIAL) © presente capitulo ¢ o préximo tentam cumprir o primeiro objetivo da pesquisa, de caracterizagio do sistema ~ a0 mesmo tempo em que fazem correcées na hipétese prospectiva inicial, para ajustd-la aos novos dados e reflexes ~, reajustando a denomi- nasio e o desenho do terceiro subsistema. Ji nao se trata de con- ceituar um “sistema oritico”, mas sim a prépria interacio social sobre a mfdia enquanto subsistema, do qual fazem parte, entre ‘outros, os processos criticos. © exame dos materiais permitiu constatar que cu estava tomando a parte como se fosse o todo ~ os processos critico-inter- pretativos ¢ os de retorno como se fossem 0 pr6prio sistema das falas da sociedade com e sobre sua midia. Isso teré ocorrido em conseqiiéncia de meu interesse de partida ¢ devido a relevincia social daqueles processos. Confuundia, entio, algumas processuali dades especificas percebidas “a olho mu” (critica, retorno) com o sistema no gual essas processualidades tipicamente se desenvol- vem. © patamar sistémico, por sua vez, deveria set mais neutro € abrangente do que o wishful! thinking’ me fazia ver — no sentido 6. Acxpresiorefete odes de interpretao decorente de o pesquisa estat interests lem uma perspectiae, em decrrnca, "ver as cosas" segundo esa perspect, encendo coisa erent,“ pensamento desjate”. de que deve comporcar diferentes processos, desde a critica mais severa até os elementos de fluxo comercial. Ou seja: seria certa- mente to complexo € multifacetado quanto os dois sistemas “estabelecidos”, de produgio e de recepsio. ‘A constatacio da variedade de processos, mesmo no pequeno agregado de materiais empiricos investigado, assim como as “objegies e dificuldades acima referidas, tornaram evidente que 0 ‘patamar sistémico se encontrava em um nivel acima daquele em que eu o estava procurando inicialmente. Para definir esse pata- mar foi necessério caracterizar 0 denominador comum entre 08 diferentes processos estudados, que ao mesmo tempo pudesse dar conta de outros processos percebidos, como o exemplo referido cima, das revistas tipo Contigo. Sem surpresa, verificamos que esse patamar é o da prOpria interacio social sobre a midia e seus processos e produtos. O patamar é ao mesmo tempo evidente (uma vez pereebido como espago de desenvolvimento dos proces- sos em exame) e despescebido enguanto subsistema indispensével ern arciculagio com a produgio a recepsao. sistema de interagio social sobre a mfdia (seus processos € produos) € um sistema de circulagdo diferida e difusa. Os sentidos midiaticamente produzicos chegam & sociedade ¢ passam a circu- lar nesta, entre pessoas, grupos ¢ insticuicées, impregnando € parcialmente direcionando a cultura. Se ndo cirealastem, ndo esta ria “na cultura”, Essa circulagio, entretanto, desenvolvida pelo sistema de inte- sagio social sobre a midia, deve ser cuidadosamence distinguida de coutras perspectivas em que a expressio “circulagio” se coloca, Primeito, devemos distinguir o subsistema de interacio social sobre a mnfdia do conceito material, e mais préximo da perspecti- ‘va econdmica, de circulasio de bens, em que o que importa é 0 faco de objetos materiais e/ou servigos serem fornecidos e recebi- dos. Nao se trata, portanto, da possibilidade de um livro passar de mio em mio, ou de que misicas circulem pela internet. Im- porta que vétias pessoas, tendo lido o mesmo livro ou ouvido 27 Gms CAo [A SOCIEDADE ENFRENTA SUR MIDUA (SISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 28 apteciado um mesmo tipo de mGsica e tendo alguma informagio sobre tais materiais, “converse” sobre cais objetos e incerajam com base nesse estimulo. A circulagio no sentido econdmico encontsa-se enire a disponi- bilizago da produsio e 0 acesso ao consumo. Na verdade, cortes- ponde ao fluxo que faz chegar das instancias de prodlugao a0 espaco do consumo. Eliseo Verén (1996, p. 20) considera que los discursos de las llamadas “camunicaciones masives” se cearacterizan por un proceso de circulacién-consumo que 52 podria llamar instantaneo: la distancia histérica entre pro- dduccion y consumo es practicamente nula, Essa perspectiva enfoca, no processo de cisculagio, 0 fluxo material do “fazer chegac” o produto a0 consumidot. Ora, quan- do se trata de valores simbélicos, e da produgio e recepgio de sentidos, © que imporca mais €a circulagio posterior 4 recezo, 01 seja, uma vez completada a processualidade mais dicetamence “econémica” (ou comercial) do processo, do “fazer chegac”, os produtos no so simplesmente “consumidos” (no sentido de “usados e gastos"). Pelo conteitio, as proposicdes “circulam”, evidentemence trabalhadas, tensionadas, manipuladas, reinseri- das nos concextos mais diversos. O jornal pode virar papel de embrulho ¢ lixo, no dia seguinte, mas as informagées e estimu- los continuam a circular. O sistema de cireulagizo interacional & essa movimentagio social dos sentidos e dos estimulos produzidos inicialmence pela midia. Uma segunda distingio necesséria € nfo confundir o subsiste- ‘ma de interagio social sobre a midia com 0 que € corriqueica- mente chamado de “circulagdo mididtica”. Essa expresso aparece com alguma freqiiéncia referindo o fato de que determinados acontecimentos, idéias ou pessoas sio veiculados pela midia. Hoje, uma boa parce do esforco social de pessoas ¢ instituigdes é obter visibilidade, para ter “circulagio midiécica", Devemos entio distinguir: 0 que a midia veicula (que se caracteriza, na verdade, como sistema de produglo) 0 que, tendo sido veicu- lado pela midia, depois cigcula na sociedade. Estamos tratando dessa segunda ordem de processos, a no ser confundida com a primeira, Nesse tipo de circulagéo que nos interessa € que vamos encontrar 0 que a sociedade faz com sua midia: é por- tanto, uma resposta £ relevante, para percebermos o sistema de interagio social sobre a midia, que a circulagio de produtos mididticos na socie- dade nio se faz apenas como “escolher e acolher” segundo crité- ios culeurais anteriores, mas gera um trabalho social dindmic: respostas. Qualquer sistema (ou subsiscema) envolve relagbes de fluxo € arciculagies entre seus Componentes, determinantes externos inputs de mesmas ordens, objetivos ¢ utputs cortelaciondveis, e via- biliza atividades e processos. Isso corresponde a dizer que, entre 0s diferentes componentes (e subsistemas) de um sistema social, apesar da especificidade de agio de cada um, devem exiscir ma- crolégicas comuns. A nogio de “sistemas sociais” pode cobsie uma gama variada de caracterizagies, desde um patamar concreto, de instituigdes formalizadas ¢ com articulagdes normatizadas expressamente (‘sistema Globo de produgSes mididticas”, por exemplo), até um padsio em que o que se enfoca ndo € 0 agregado real de pessoas, grupos, idéias ¢ objetos, mas sim “um instrumento intelectual, tum procedimento heutistico, um “modelo” destinado a guiar a percepsaio da realidade” (Rocher, 1969, p. 6). + (0 angulo proposto por mim no artigo referido acima tBraga, 2003) incortia efetivamente em petigio contradit6ria: assinalava elementos com existéncia bastante material (dispositivos criti- co-interpretativos), pretendendo que constitufam per se um sub- sistema abrangente. A objesio de Michael Hanke era, porcanco, pertinente: faltava demonstrar o relacionamento sistémico (as asticulagoes) entre aqueles elementos. No patamar concreto 29 OMNGCa0 ASOCIEDADE ENFRENTA SU MDA (0 SISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 30 referido, isso exigia institucionalizagio e normatividade formali- zada, expressa, 0 que certamente no ocorria. Mas 0 que temos, na verdade, é outra coisa. Nao se trata de agdes sociais formalmente concertadas, e sim de processos que, independencemence de sua origem, autoria e instituicéo, realizam no contexto social uma mesma funcionalidade sistémica, com simi- latidades basicas de comportamento ¢ resultados. Nesse patamar de abstracio, “fazem sistema” mais conceptual do que fisico.” Os diferentes dispositivos © agies espeificas nfo fazem sistema institucionalizado entre si, mas participam, pela nacureza mesmo de suas atividades, de um sistema social mais amplo, caracterizado pelo fato de fazer circular idéias, informagées, ceagdes e interpre agbes sobre midia e sens produtose procesos ~ de produit respostas. Passar das escruturas a processos corresponde a substicuir 0 enfoque em uma determinada classe de “objetos organizados” (como empresas € outras instituigdes, grupos humanos articula- dos, meios de comunicagio) pelo enfoque em uma decerminada classe de atividedes, com relaciva autonomia ou dispersio, no que se rofere a0 espago organizacional em que tais atividades se desenvolvem, Isso significa que atividades de uma mesma classe podem set percebidas como desenvolvidas em diferentes esteururas ¢ uma mesma classe de estrucuras pode ser observada gerando classes de atividades diferenciadas. Podemos falar entio em “sistemas processuais", com relative deslocamento em relacdo aos “sistemas estracurais” em que ocor- sem. Dito de outro modo: é preciso pensar que os processos _geram estrucuras Canto quanto as estrucuras se realizam em pro- ceessos, Nao devemos estagmar na perspectiva de que, conhecendo 7. "temas fics so sitemas de mata eneiia. Stems conceit 530 feos de ideas. iterasconcetuais axstem geramente pata ajuat na realacio de metas espetias lado, no se trata apenas da atribuicio de um réeulo a alguma coisa ja plenamente reconhecida. Perecbemos que os estudos que enfo- cam essa citculaco social, ou elementos dela, tém ocorrido em padrio esparso, sem percepcio expressa de que a processuali de af corresponda a uma atuagio social sobre a mfdia. A hipéte- se da interagio como tesceiro subsistema deve permitir escudos 33 omMigcgo. A SOCIEDADE ENFRENTA SUA MIOIA (SISTEMA DE RESFOSTA SOCIAL 34 voltados para pelo menos quatro objetivos complemencares de apreensio: a) relacionar os diferentes processos a um mesmo patamar, co- mum a todos, e portanto perceber processualidades similares quando, sem essa referencia, perceberiamos apenas coisas diferentes ¢ isoladas; poclem-se desenvolver, assim, percep- bes de conjunto; b)perceber as diferencas ¢ especificidades de cada um dos di- ferentes processos de interagdo social sobre a midia, usando © pertencimento comum a um mesmo patamar justamente como critério de comparagio e diferenciagio; ©) perceber e conscruir arciculagdes internas encee os processos, na medida de seu pertencimento a um mesmo sistema; d)fazer uma distingZo entre esses processos © aqueles que ‘ocorrem na produgio e na recepgi0 ~ e, a0 mesmo tempo, perceber as articulagies que mantenham com esses. Na situagdo atual dos estudos, a discussio de elementos desse sistema como se fossem coisas externas aos processos midiéticos, ou 3s vezes como pertinentes ao préprio sistema produtivo e tecno- légico, favorece 0 dualismo excludente entre midia e sociedade. A percepcio das relagGes sistémicas, pelo contratio, permite uma compreensio da complexidade do subsistema e de suas distingbes e articulagGes internas. Da percepcio “como sistema” e da correlata constatagio de sua complexidade e variedade interna podemos derivar a proposiglo de que 0 estudo de tais questies enguanto processes sistémicos de interagio social-mididtica deve ampliae as possibilidades de um conhecimenco ‘mais fino e mais articulado com a processualidade miditica abran- gente, permitindo consteuir critétios cefticos para a sua anélise ‘Apenas como exemplo: se a critica académica pode ser descrita como um dispositivo social de circulagio ¢ de resposta, podem-se desenvolver estudos e reflexdes sobre os dingulos em que ela atende, 35 ou niio, 0 que se espera da critica nessa caracterfstica de dispositivn social de interagdo, apoiando a superagio da critica abstrata, Seo subsistema € eferivamente constatado em nossa observa- Gio da realidade, com significativa presenga no espago social, € seus processos vém sendo estudados em pesquisas da fea, ainda ‘que de modo esparso, torna-se preciso explicar por que a existén- cia siscémica dos processos de interagio social permanece relati- vamente “invisivel”. Enconeramos o que nos parecem ser cinco rari principais: a) uma visio “economicista” ~ que tende a situar a circulagio entre a produgdo € o consumo ¢ a no perceber outros ele- mentos de circulacio que ndo este, ou seja, tende a enfatizar a circulagio dos produtos enquanco tal, sem perceber a essencialidade do trabalho social exercido posteriormente; b)o dualismo midia/sociedade — segundo 0 qual os dois ter- mos so contrapostos de modo estanque, 0 que se passa na seciedade tendendo a set visto como extramidistico ou $6 como “secebimento”; ©) investigacio esparsa dos processos de interagio — cada um visto apenas na sua especificidade de objeto em estudo, ora enquanto elemento “direcamente” midiécico (levando a que seja atribuido ao sistema de producao), ora enquanto ele- mento da ordem da recepcio (quando visto pelo angulo das agGes de usustio), ou, ainda, sem ocorrer a preocupacio de situar os processos em eseudo no conterto de ondens faces suais mais amplas; d)uma visio hipostasiada da “interatividade esteita” (de tipo conversacional) — que s6 deixa perceber interagdes de usué- tios com a midia quando ocorre recorno imediato € pon- ‘ual, omitindo justamente as interacGes sociais diferidas e difasas, apagadas por uma afirmacio de unidirecionalidade; OMCSO A SOCIEDADE ENFRENTA SUA MIDIA (SISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 36 €)0 préprio fato de que construimos mais facilmente relasées encre processos quando podemos referi-los a sistemas en- quanto articulagdes estrucufais e mais dificilmente perce- bemos “sistemas de processos” nio biunivocamente relacio- nados a sistemas de escrucuras, 3, 0S DISPOSITIVOS SOCIAIS® DO “SISTEMA DE RESPOSTA” © conceito de “leitura” (uso, recepsio) como se fosse apenas tama relagio intima e despojada encce 0 leitor, ususrio, ¢ 0 texto ‘ou produto midistico jé vem sendo descartado ha algum tempo. Um dos principais argumentos de contraposicio Aquele encendi- ‘mento foi posto por Jestis Martin-Barbero (1997), com o conceito de mediagies, segundo o qual 0 espectador traz para a interacio com a midia suas vivencias e suas bases culturais socialmence ela- boradas. Essa perspectiva enfatiza os aportes pré e extramidiscicos e esté na base de toda uma rendéncia dos estudos de recepeao. ‘Com a proposta de um terceito sistema de processos mididticos, assinalamos mais uma contraposigdo as relagées “simples” entre produto € usuério. A sociedade se organiza para tratar a prépria midia, desenvolvendo dispositivos sociais, com diferentes graus de institucionalizagio, que dio consisténcia, perfil ¢ continuidade a decerminados modos de tratamento, disponibilizando ¢ fazendo circular esses modos no contexto social. A prépria interago com 0 produto circula, fe ever, gera processos interpretativos. ‘Assim, no encontramos apenas interpretagies de producos especificos que depois, uma ver feitas, circulam; os pr6prios gestos dle selecionar, apreender, ineerpretar 4 se fazem em articulagdo com processos e dispositives sociais desenvolvides no préprio 8 Para osefetos rdtcos do presente tem, tomatemos de Mautce Moullaud ada de d= ostvos como “lugares materi ou imate nos qu s incre (necessatiamente) os ters”. Odposito & una “matizquempse sus rma aos textos, eins: "a spositiva pode aprecer como uma sdimentacio de trtos” (1997, pp. 33-3) SE, postant, formas focialmente getadasetorades cutralmentedsponives como matizes para resizagso Gofal espctias,Votaremas 2 58 questéo no cal 2 37 ambiente de interacoes da sociedade com sua midia, As intenagies sociais sobre a midia resroagem, portanto, sobre as Enteragies “diretas" coma midia Existe coda uma variedade de “dispositivos sociais": cineclubes, sites de media criticism, focuns de debate sobre rédio e televisio, cri- sica jornalistica, revistas cujo tema é a prépria midia, producées académicas sobre os meios, processos de aucocritica da imprensa Uma evidéncia de que a sociedade age sistemicamente sobze mifdia (ao “falar” sobre esta e seus produtos) € justamente o fato de que se instalam na sociedade tais dispositivos, que (ainda que no fagam sistema formal entre si) se caracterizam como modos organizados e suscetiveis de apreensio sistematizada e sistémica, ow seja: funcionam dentro de um sistema social, largamente “determinados” por este (ou por suas légicas). As criticas sobre produtos midisticos e os dispositivos sociais so 0s elementos mais visiveis dos processos de circulacio, assim como “produtos € programas” sio a face visivel dos processos de produsio, ¢ os usos concretos (escolhas, zapping, “leieura”, “audién- cia”, acolhimento, resistencia, fruicio, “edigio"...) sio a face mais visivel dos processos de recebimento. Assim, se os examinarmos ‘em busca de perceber suas l6gicas ao fazer circular reagbes sociais sobre os processos & produtos midisticos, podemos ampliar nossa compreensio sobre o sistema interacional e, indiretamente, sobre 0s processos miditicos em geral ‘A variedade de dispositivos sociais de interasio sobre a midia evidencia entao a consisténcia da proposca de conceituagio de um terceiro sistema ¢ confirma o inceresse em estudar tais objetos sociais em relagio ao patamar sistémico em que os inscreyemos, uma vez que podemos tomd-los como o elemento empirico rele vante para a compreensio do sistema de respostas sociais diferi- das e difusas. A partir de nossas observagdes de campo, constatamos algumas agbes € processos desenvolvidos por aqueles dispositives sociais omnscéo A SOCIEDADE ENFRENTA SUA MIOUA (SISTEMA DE RESPOSTR SOCIAL 38 Essas ages procuram dar conta de objetivos muito variados, que a sociedade assume no tratamento dos produtos ¢ processos de sua ‘midia. Identificamos alguns desses tipos de agio dentro de uma vaciedade certamente mais ampla: a) critica ~ interprecagies e objesdes interpretativas, selesies qualitacivas ete. b) retorno ~ feedback, retroalimentagio do sistema de produgio, indicagSes para revisio, criagio, redirecionamentos, constra- «io de“ géneros” (na perspectiva de Marcin-Barbero, 1997); ©) militincia social ~ crftica-agio, processos sociais de uso da midia a servigo de posigdes argumentos, atuagées antimi dia efou de direcionamento dos teores, dos temas ¢ das posi Bes, defesa de secores e posigdes sociais perance a midi; d)controles da midia, media criticism, media accountability systems, processos sociais de enfrentamento ¢ controle da midia, de seus podetes, de seu papel social, em defesa de valores pro- fissionais e sociais diversos que possam sec ameagados por légicas escricas da produgao cultural comercial; @) siscematizagio de informagdes — processos organizados de classificagio, organizagio e disponibilizagio de acerves... (sio, as vezes, processos relacionados & atuacio critica, mas também & configuragio de bases de dados e outras facilida- des de acesso); f) citculagio comercial — estimulos a selegio € a0 consumo ‘mididtico (“venda”, sedugio para escolha de produtos, anti- zapping), operagbes de marketing da prdpria midias 49) processos educacionais e formativos ~ aprendizagens orde- nadas, sistemas ¢ dispositivos educativos para uso e direcio- namento da médias . hy) processos de aprendizagem em piiblico ~ trata-se aqui de tum aprender do gosto e da fruicio, difuso, néo controlado 39 pelos sistemas educacionais; permeacées com a riqueza e a vatiedade de informagGes € processos; aprendizagem de uusos e de selecdes; seria uma “aprendizagem de usuirio". Inclufmos nesse tipo de ago as fungbes de socializacio, enquanto processo de desenvolvimento de comperéncias culturais em sociedade midiatizada (ver Braga e Calazans, 2001, pp. 134-156). © denominador comum de todos esses pracessos & que sio modos de a sociedade inceragir sobre (e portanto com) sua midia. Como se percebe, alguns tipos de dispositivos tém sido mais estudados (como aqueles referentes aos controles da midia, ou media accountability systens), ox 08° procedimentos voltados para a aprendizagem (media education ¢ leitura critica da midia). Mesmo estes, mais conhecidos ¢ analisados, parecem-nos poder receber direcionamentos adicionais pelo fato de serem escudados enquanco elementos de um sistema especifico de processes midiaticos, dentro do qual se arciculam ou podem se articular com outros. (05 diferentes objetivos e processos evidenciam que a sociedade nao apenas softe 0s aportes mididticos, nem apenas resiste pon- tualmente a estes. Muico diversamente, se organiza como sociedad, para retrabalhar 0 que circula, ou melhor: para fazer citculas, de modo necessariamente trabalhado, o que as midias veiculam. Isso corresponde a dizer que a mesma sociedade que, por alguns de seus setores, grupos e linhas de aco, gera a midiatiza- ‘sdo enquanto sistema produtivo, por outros setores e atividades complementa essa midiatizagio por meio de operages de traba- Iho e de circulagio comentada daquilo que o sistema prédutivo oferece ao sistema de recepsao. Todas aquelas agdes © processos (¢ certamente outras, néo cexpressas aqui) podem se misturar ¢ se interferir mutuamence. Isso corresponde a dizer que a sociedade desenvolve uma série de agdes sobre « midia — contrapropositivas, ineerpretativas, proati- vas, corretoras de percurso, controladoras,seletivas, polemizadoras, laudatérias, de estimulo, de ensino, de alerta, de divulgacio ¢ comune 0, ‘A SOCIEDADE ENFRENTA SUA MIDIA (SISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 40 “veda” etc. ~ que se combinam dos modos mais vasiados. So agdes, de um modo geral, voltadas para a socedade, Mas, conforme sua abrangéncia, podem ter um sentido direto ou indireto de retorno sobre a midia — que vai se caracterizar, entio, como um retorno de roiedade, necessariamente diferido e difuso. ‘Um aspecto relevance a ser escudado, para uma determinada sociedade, seria o perfil, a acuidade, o grau de percinéncia c de eficicia dos dispositivos mais acuantes e, portanto, o desenho de como essa sociedade consegue trabalhar com sua média. £ posst- vel, portanto, fazer uma anélise critica (ou politico-social) de como uma sociedade funciona midiaticamente nio s6 pelo estudo (mais habitual) das caracteristicas de sua produgio mididtica, ‘mas também (e chegando, assim, a uma compreensio mais abran- gente) pelo estudo dos dispositivos © processos sociais que a sociedade deseavolve para tratar de sua média Onutra percepgio a ser assinalada é 0 fato de que os dispositi- vos socialmente gerados para organizar falas © reagbes sobre a midia utilizam, com freqiiéncia, a prépria midia como veicula- dor. Essa seria uma razio adicional para a dificuldade de percep- ‘glo do que chamamos de sistema de interagio social sobre a midia, como componente a ser diferenciado dos sistemas de pro- dugio e de recepsao. Entretanto, € bastante l6gico que essa utilizagéo midiécica ‘ocorra. Superada uma visio dualista entre a midia ¢ a sociedade, percebendo-se que a socicdade midiatizada age via mfdia (e aio apenas sofre a mfdia), nfo haveria nenhuma razio para que os pprocessos de fala e reacio (inceragio social) sobre a mfdia se acan~ tonassem em espacos extramididticos. Esses espacos extramidia cefetivamente existem e sio relevantes — nas salas de aula, nos bares e cafés, nos sindicatos e associagGes. Mas percebe-se como € também importante, para que as interagies sociais sobre a midi e sobre seus productos tenham efeitos sociais ¢ culturais abrangentes e permeado- res, que desenvolvam uma operacionalidade igualmente midistica. 41 Além disso, verificamos historicamente que processos de interagZo sobre a producio diferida e difusa utilizam veiculasio midiatizada. A critica literdria €, evidentemente, um processo de tratamento da literatura em um sistema social (constieuido pela universidade, autores, criticos profissionais) voleado para examinar, interpretar, selecionar, criticar e divulgar a producio literdcia. Uma parte muito significativa dessa produgio c dos processos da critica é veiculada pelo mesmo meio, o livro, usado para as produgdes de literatura, ou em meios complementares Gornais ¢ periédicos). Isso nio impede que se distinga uma ati- vidade da outra, uma, propriamente “produtiva”, a outra, uma produgio que se volta sobre a primeira. Temos assim uma acesta- Gio hist6rice da possibilidade de processos de interacio social serem distintos, embora usando os mesmos meios, eipicos dos processos “de producio” Que 0s dispositivos sociais de interagio da sociedade sobre a midia utilizem as mesmas midias veiculadoras dos producos co- mentados ou que utilizem outras, complementares, isso apenas evidencia a variedade posstvel de ages de interaszo. F claro que 0 Livro e 0 jornal, midias mais longamente estabelecidas, sio privi- legiados tra jonalmente como espaco para tais ages. Mas cam- bém o tadio ¢ a televisio — por exemplo, nos programas de debates sobre @ prépria midia ~ sio arenas adequadas aos processos do cema, Hoje, a flexibilidade da rede informacizada mundial fez.da internet a midia de escolha para os dispositivos sociais de fala sobre a midia, Como a rede se desenvolve em sociedade jé larga ‘mente midiatizada, outros processos e produtos midisticos se tor- nam facilmente matéria-prima para as inceracBes af desenvglvidas 4, CONSEQUENCIAS £ claro que constarar um sistema de interagio social sobre a midia (em cujo Ambito ocorrem agdes de retorno, de critica, de aprendizagem, de controle da midia e de interpretagio produtiva) emtsca0 A SOCIEDADE ENFRENTA SUA Miia (SISTEMA DE RESPOSTA SOCIAL 42 ‘do cortesponde a uma visio ingénua de que a sociedade estaria sabendo enfrentar 0 que produz midiaticamente e sua disseminagio, ou de que corrigiria automaticamente as eventuais distorgoes do setor de producio. Pois, assim como o setor de producio apresenta distorgbes (relacionadas a suas lgicas econémicas, organizacio- nais e politicas, a seus conceitos de cultura e de encrecenimento), © sistema de interacio pode ser frgil, esparso, pobre de recursos (enateriais, conceituais, criacivos e operacionais), de pouco alcance fe de visio pouco abrangente. Entendemos, portanto, que uma recepcio ativa € correlaca, de modo fundamental, & existéncia na sociedade de dispositivos de interagio social vigorosos — nos dois sentidos, de enfrentamento interpretative ¢ de force presenga social, ou seja, constatar uma articulagio sistémica encre agdes interacionais de sociedade ¢ producio midiatica nao corresponde a afirmar “equilfbrio”, menos ainda equilibrio estavel s limites para o funcionamento de um sistema eficaz de interagio social midiética certamente slo correlatos, em uma ‘mesma sociedade, aos limites encontrados no sistema de produco no sistema de recepsio. Isso é naturalmente selacionado a seu funcionamento sistémico. Por isso mesmo os processos ¢ disposi tivos de inceragio deveriam ser estudados, na sua especificidade, como aporte relevante para o desenvolvimento das competéncias ‘midicico-culturais da sociedade. Assim, além do interesse em oferecer uma ampliagio de conhecimento, para a compreensio do campo comunicacional, 0 subsistema parece se colocar como espaco de escolha para a inter- engdo eritica, cultural, educacional e operacional, nos trabalhos da sociedade, no objetivo de estimular seus processos midiaticos de modo socialmente responsivel e relevante. Por isso mesmo, cembora reconhecendo a multiplicidade dos processos segundo os aquais a sociedade age sobre a midia (alguns dos quais meramente reforcando motivagdes empresariais e de marketing), & claro que nosso interesse € maior pelos dispositivos voltados para as agBes, acima referidas, de critica, de retorno, de estimulos de aprendiza- gem, de controle social da midia e de interpretagao proativa, pois B € por meio desses dispositivos que a sociedade pode exercer inter- vengdes criticas. presente capitulo referiu as principais agbes e processos rea- lizados pelo subsistema de interagées sociais sobre a midia (ou “sistema social de resposta”) em sua generalidade. préximo capitulo discute o trabalho critico da sociedade, como parte consticutiva (e, pela nossa perspectiva, a mais rele- vante) do sistema de interagies sociais sobre a midia. Situa af a critica académica e a critica especializada, dentro de uma rsi- dade mais ampla de processos criticos, ¢ procura examinar as relagoes gerais entre os trés subsistemas, enfatizando a existéncia de contigitidades e tensdes entre eles, como base mesmo da possi- bilidade critica terceito capitulo expe os procedimentos de abordagem da investigacio realizada sobre dez materiais empiricos, caracceriza- dos como exemplos de acies criticas sobre produtos e processos midifcicos. Sio apresentados os procedimentos de selegio € os parémetros adotados para a anilise do macerial. Na segunda parte, apresentamos, em dez capiculos sucessivos, as observagoes feitas sobre casos de dispositivos sociais que reali- zam diferentes criticas e produzem, assim, respastas diferidas ¢ difusas & produgio. Ao lado de uma descricio das especificidades de cada caso, estudamos os pontos de vista de onde se faz a critica, ‘0s objetivos e motivagdes que ceansparecem das falas ¢ os direcio- rnamentos de interlocugio propostos. Os dez matcriais examinados foram os seguintes: 0 site Observat6rio da Imprensa, materiais de aucocontrole em jornais (“Ombudsman” e “Conselho do Leitor”), cartas de leitores, noticias de jornal sobre a midia, critica jorna~ listica de cinema, o site Etica na TY, critica de televisio em jornal € cr@s liveos com diferentes angulos e abordagens sobre midia, de Atlindo Machado, Ricardo Noblat ¢ Luis Nassif. Dois capitulos, finalmente, trazem reflexdes conchusivas a esse relato. O capitulo 14 faz andlises transversais, comparando os dez miedo

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