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Capitulo 1 Metrologia 1.1 INTRODUGAO Metrologia, palavra de origem grega (metron, medida; logos, tratado), & a ciéncia dos pesos medidas ou, se se quiser, a ciéncia da instrumentacdo e das medidas com ela realizadas. ‘Actualmente, porém, esta designaeao esta mais intimamente ligada ao dominio das medidas de alta exactidéo. © objective central da Metrologia 6 a determinagao do valor numérico de uma grandeza mensuravel Para tal ter-se-a de executar um conjunto de operacées, medida ou medig&o, utllzando dispositivos apropriados, aparelhos ou instruments de medida ou de medi¢ao. O concelto de grandeza mensurdvel é aplicdvel a todo © qualquer atributo de um fenémeno, corpo ou substéncia susceptivel de ser caracterizado qualitativa e quantitativamente. Embora a medida de algumas grandezas fisicas elementares tenha sido iniciada ha milhares de anos, pode-se dizer que s6 no século XVI com os trabalhos do polaco Nicolau Copémico (1473-1643) especialmente do dinamarqués Tycho Brahe (1546-1601), nasce a ciéncia e a medida como tal. Esta, 20 constituir meio privilegiado de contacto com a realidade, seré sempre fundamental na evolugao, quer da ciéncia quer, naturalmente, da tecnologia. De facto, se € certo que a validacao de qualquer teoria ou lei fisica passa obrigatoriamente pela comparacdo entre os resultados por elas previstos € aqueles que se obtém por medidas envolvendo os fenémenos em questo, é igualmente verdade que a8 novas teorias fisicas conduzem, por norma, quer ao desenvolvimento de novos instrumentos de medida, quer de novas tecnologias, ambos propiciadores de melhores condig6es experimentais, A evolugdo da capacidade de "olhar" a realidade conduz naturalmente & deteccao de fendmenos nao explicdveis satisfatoriamente no contexto teérico aceite num determinado momento; a concepeao de novas teorias torna-se por isso imperiosa, fechando-se assim um ciclo que constitui a esséncia da evolugao cientifica, E a possibidade de comprovar experimentalmente uma teoria que distingue a ciéncia da flosofia Copémnico, a0 procurar verificar a sua teoria das trajectorias dos planetas (heliocentrica, composigao circular) deu 0 paso decisivo na passagem das teorias filoséficas, que sobre o assunto vinham sido defendidas & aceites desde Platéio e outros flésofos gregos, para as teorias cientificas; fl a lucidez de espirto e 0 trabalho experimental desenvolvido durante mais de duas décadas por Tycho Brahe no seu observatério de Uraniborg que conduziram 0 seu assistente, entéo em Praga, 0 aleméo Johann Kepler (1571-1630), nao s6 2 rejelgao das teorias entéo existentes mas, © sobretudo, a concepgao de uma nova teoria. Brahe nao sé desenvolveu meios de medida de Angulos extremamente fiaveis para a época, como também procedeu 4 sua calibragao de modo a poder aumentar a exactidéo das suas medidas (2'). Foi a confianga de Kepler nessa exactiddo que o levou a considerar que os 8' que existiam de diferenga entre a trajectoria de Marte medida e a melhor 13 previséo baseada nas teorias de Copémnico e de Ptolomeu (150 A.C.) eram denunciadores da nao validade destas, Os exemplos da importancia da medida na evolugdo cientifica so inumeraveis. Sera no entanto de referir o papel que a Optica tem nesse contexto desempenhado. Os resultados experimentais obtidos com dispositives como 0 telescépio, 0 microscépio e 0 espectroscépio esto na base quer da comprovagéo quer da elaboragéo de teorias nos mais variados dominios, nomeadamente do cosmos, das particulas @ da biologia molecular. Estas so, aliés, algumas das reas de ponta no que diz respeito & investigago, a que néo seré certamente estranha a perene curiosidade do ser humano em relagio & sua origem e consttuigdo. Todas elas dependem signficativamente do desenvolvimento da instrumentago e das técnicas de medida ‘A medida de grandezas fisicas elementares comegou por ser uma arte. Actualmente, e embora muitos aspectos impliquem ainda uma sensibilidade especial, a arte tem vindo a ser progressivamente substitulda pela técnica, Também os instrumentos de medida, inicialmente delicados e por vezes pouco fiaveis, tém vindo a dar lugar a outros mais robustos e mais precisos. O desenvolvimento da electrénica, primeiro do vazio e posteriormente do estado sélido, fol decisivo nas mudangas verificadas. Os instrumentos suportados em componentes electrénicos permitiram, a partir de 1930, a sua utiizagao na industria, com evidentes repercuss6es do sé nos processos de fabrico, mas também em toda a filosofia de vida de muitos povos. Ao falar-se em medida no se pode deixar de associar a nogdo de exactidao, isto é, a possibilidade de conhecer com rigor o valor da grandeza desconhecida. Se a importancia da execugo de medidas com exactidao no desenvolvimento te6rico jé foi anteriormente referida, serd fundamental mencionar outro aspecto no menos relevante dessa caracteristica da medida: o desenvolvimento da engenharia, isto €, da aplicagéo da ciéncia as necessidades humanas. Uma infinidade de produtos que fazem parte do quotidiano de um ser humano esto suportados na possibilidade de execugao de uma produg&o controlada, que implica medidas rigorosas de diversos parametros e grandezas fisicas. Para além disso, a realizagdo de acgdes envolvendo aspectos técnicos ou tecnolégices criticos esta geralmente dependente, directa ou indirectamente, de instrumentos e métodos de medida de elevada exactidao, Um exemplo apenas, mas este bem eloquente: o médulo lunar utiizado na miso Apolo 14, que pela primeira vez permitiu a um ser humano 0 contacto fisico com o solo daquele satélite da Terra, dispunha nos seus tanques, na altura da alunagem, de combustivel para apenas mais 10s de funcionamento dos seus motores. Sé um controlo rigoroso, uma temporizagdo apertada de toda a misao © um conhecimento experimental das condigses em que ela iria e estava a decorrer permitiram minimizar a quantidade de carburante a transportar e, portanto, maximizar 0 peso da restante carga util a incluir no médulo, 4.2 FUNDAMENTOS DA MEDIDA 1.2.4 Det igdes e conceitos basicos Em Metrologia, como em varias outras areas do saber, utiiza-se terminologia propria. O significado 14 das diferentes palavras tem vindo a ser normalizado, pelo que é de toda a conveniéncia conhecé-lo. Apresentam-se a seguir alguns dos termos principais da linguagem metrolégica, o seu significado e correspondente designagao anglo-saxénica de acordo com 0 Vocabulario Internacional de Metrologia, Refira-se que, tendo em atengao a definicao de aparelho de medida, muitos dos vocabulos sao usados com igual significado para caracterizar propriedades ou comportamentos de dispositivos muito diferentes utilizados em Metrologia e que constituem, no seu conjunto, aquilo que usualmente se designa por instrumentacéo. Grandeza - (Quantity): atributo de um fenémeno, corpo ou substéncia susceptivel de ser caracterizado qualitativa € quantitativamente. Pode referir-se as grandezas em sentido geral ou a uma grandeza determinada, Exemplos de grandezas so 0 comprimento, a massa, 0 tempo, o trabalho e a energia, pertencendo as duas tiltimas & mesma categoria, uma vez que sao mutuamente comparaveis; a resisténcia eléctrica de um condutor, a massa de um electrao ou a temperatura do hélio liquido sao grandezas determinadas, Medida ou Medico — (Measurement): conjunto de operagdes tendo por objective determinar o valor de uma grandeza. Medir &, pois, atribuir um ndimero que quantifica uma propriedade ou caracteristica material: no se mede uma pega; mede-se sim o seu comprimento. Aparelho ou Instrumento de medida — (Measuring instrument): dispositive destinado a execugéo da ‘medig&o, isolado ou em conjunto com outros equipamentos. Esta definig&o engloba, portanto, néo s6 08 aparelhos de medida indicadores e registadores, mas também dispositivos, como geradores e sensores, que so por vezes utilizados na execugdo de medidas. Refira-se também que alguns dos termos a seguir apresentados podem ser utilizados, quer para caracterizar um instrumento de medida, quer um sistema de medida, 0 qual, por definigéio, engloba um conjunto completo de instrumentos de medida e outros dispositivos montados para executar uma tarefa de medigéio especifica Exactiddo — (Accuracy). Importa distinguir a aplicagao deste termo a medigdo ou ao instrumento de medida. No primeiro caso reporta @ aproximagdo entre o resultado da medi¢ao ¢ o valor (convencionalmente) verdadeiro da grandeza medida, no segundo consiste na aptidgo do instrumento de medida para dar indicagées préximas do verdadeiro valor da grandeza medida. O verdadeiro valor ou valor real de uma grandeza 6, naturalmente, impossivel de conhecer; assim, e tendo em consideracao que de um mado geral medir uma grandeza comparé-la @ outra grandeza da mesma espécie tomada para unidade, natural sera tomar para "verdadeiro valor’ aquele que se obteria utlizando como referéncia na medida 0 padrao da unidade da grandeza em causa, designando-se entéo por valor convencionalmente verdadeiro dessa grandeza. A nocdo de exactidéo absoluta € assim substituida pela de exactidéo relativa, a qual assenta na existéncia de padrées para as Uunidades das varias grandezas fisicas. Repetibilidade; Precisao — (Precision). Embora a designago anglo-saxénica seja comum para designar uma propriedade das medidas e uma caracteristica dos instrumentos de medida, utiiza-se em portugués o termo repetibilidade da medida para significar a aproximacéo entre os resultados de medigbes sucessivas de uma mesma grandeza, efectuadas com a aplicagéo da lotalidade das 15 seguintes condigées: - mesmo método de medigao; = mesmo observador, - mesmo instrumento de medida; = mesmo local; - mesmas condig6es de utilizagao; - repetigéo em instantes sucessivos, enquanto que se utiliza normalmente o termo preciso do instrumento de medida para referir a aptidéio do instrumento de medida para dar, em condigées de utilizagéo definidas, respostas muito préximas, quando se aplica repetidamente 0 mesmo sinal de entrada, As condigées de utilizacao definidas so habitualmente as seguintes: ~ repetigo apés um curto intervalo de tempo; - utilizagao no mesmo local e nas mesmas condigées ambientais; ~ redugao ao minimo das alteragées devidas ao observador. Enquanto a repetibilidade é um indicador da consisténcia das medidas, a precisao de um aparelho d& conta da influéncia que tém sobre a grandeza de saida factores aleatérios. Porém, em qualquer dos casos, quanto menor € a dispersao dos valores obtidos em tomo do seu valor médio, maior é a repetibilidade da medida ou mais preciso 0 aparelho de medida, Matematicamente, e representando por RP a repetibilidade ou a preciso, consoante o caso, tem-se: (1.1) em que Xp representa 0 valor da enésima medida ou o da grandeza de salda no instante ty, e X 0 valor médio do conjunto de medidas ou o da grandeza de saida. A quantificagéo da repetibilidade pode ser feita em termos da dispersdo de resultados, utilizando-se para caracterizar esta o desvio padrdo experimental Os conceitos de exactidéo e de preciso, embora totalmente distintos, s89, talvez por via da escolha dos vocdbulos escolhidos para os traduzir, muitas vezes confundidos. © facto de existirem termos, como classe de precisao, que embora contendo uma das palavras dizem respeito a outra (neste caso a classe tem a ver no com a preciso mas sim com a exactidao), contribui naturalmente para essa confuséo. A auséncia de ideias claras sobre o assunto, leva a identificar os dois termos, os quais se reportam a dois tipos de conformidades: a exactido tem a ver com a que se verifica entre o valor medido e 0 valor verdadeiro convencionado da grandeza, enquanto a precisdo tem a ver com a que se verfica entre os diferentes valores de um conjunto de medidas. Note-se que embora exactidao implique repetibilidade (preciso), 0 inverso no é verdade: um apareiho pode ser consistente, apresentar indicagdes com um desvio padréo baixo, e nao ser exacto devido a apresentar, por exemplo uma deriva constante, Reprodutibilidade (das medigdes) — (Reproducibility): aproximagéo entre os resultados das 16 medigSes de uma mesma grandeza quando as medi¢Ges individuais so efectuadas fazendo variar condigdes tais como: ~ método de medida; + observador; - instrumento de medida; = local; - condigées de utilizagao; - tempo. Importa no confundir repradutibilidade de uma medida com a sua repetibilidade; enquanto que para a determinagao da segunda as condiges de medigdo se devem manter tanto quanto possivel as mesmas ao longo dos diferentes ensaios, para a primeira pelo menos uma dessas condigées tera de ser diferente de medida para medida (ou conjunto de medidas para conjunto de medidas). Tal como a repetibilidade, a reprodutibilidade pode ser expressa quantitativamente em termos da dispersdo dos resultados, sendo no entanto sempre necessario especificar as condigées alteradas. Incerteza da medio — (Uncertainty of measurement): estimativa caracterizando 0 intervalo dos valores no qual se situa 0 valor verdadeiro da grandeza medida. Esta incerteza compreende em geral varios componentes. Alguns, os que tém a ver com factores aleat6rios que influenciam as medidas (erros de repetibilidade), podem ser estimados com base na distribuigao estatistica dos resultados de séries de medidas, sendo caracterizados por um desvio padrao experimental; outros, como os que 40 devidos a factores sistematicos, implicam, para serem estimados, ou informacao apropriada ou uma grande experiéncia por parte do observador. A aplicagao do termo “incerteza” referido a um aparelho de medida constitu uma extensao da linguagem, reportando-se, naturalmente, a incerteza da medida por ele fornecida. Erro (da medida) — (Error): este termo refere-se ao erro absoluto da medigdo, 0 qual & definido como sendo a diferenga algébrica entre o resultado da medig&o e o valor (convencionalmente) verdadeiro da grandeza medida, O termo aplica-se com igual significado: - Aindicagdo (valor da grandeza medida fornecido por um instrumento de medida); ~ a0 resultado bruto (resultado da medigao antes da correcgo dos erros sistematicos presumidos): - a0 resultado corrigido (resultado da medigo obtido depois das coreceSes introduzidas no resultado bruto, tendo em conta os erros sistematicos presumiveis). ‘Ao quociente do erro absoluto da medigSo pelo valor convencionalmente verdadeiro da grandeza medida designa-se por erro relative — (relative error) A componente do erro de medida que varia de forma imprevisivel quando se efectuam varias medigées da mesma grandeza designa-se de erro aleatério — (random error), & componente do erro de medida que, em varias medigées, se mantém constante ou varia de forma previsivel designa-se Por erro sistematico — (systematic error). Alcance ou Campo de medida de um instrumento de medida — (Range): para cada amplitude da escala, € 0 conjunto de valores da grandeza medida para os quais o instrumento de medida apresenta valores no interior dessa amplitude da escala, para uma posig&o particular dos seus 17 comandos. Entende-se como amplitude da escala — (scale range) — 0 intervalo compreendido entre as referéncias extremas de uma dada escala, sendo esta, por definiga0, 0 conjunto ordenado de referéncias com toda a numeragao associada, © alcance, ou campo de medida, é expresso em unidades da grandeza a medi. No caso do limite inferior ser 0, o alcance designado apenas pelo seu limite superior (exemplo: um campo de medida de 300 V supée um alcance de 0 V a 300 V); caso contrario ter-se-a de especificar os seus limites, inferior e superior (exemplo: -30°C a 500°C). Amplitude de medida - (Scale range): médulo da diferenga entre os dois limites do alcance de um instrumento de medida. Assim, se o aleance for, por exemplo, -10V a +10 V, a amplitude de medida sera de 20V. Sensibilidade de um instrumento de medida (Sensitivity): quociente da variagao da resposta do instrumento de medida pela variago correspondente do sinal de entrada; quanto mais sensivel for 0 instrumento de medida, maior seré a variago da indicagSo nele produzida por uma mesma variago da grandeza a que ele reage. Mobilidade de um instrumento de medida — (Discrimination): aptidéo do instrumento de medida para responder a pequenas variag6es do valor do sinal de entrada. A menor variagao do sinal de entrada que provoca uma variagdo perceptivel da resposta do instrumento de medida constitul 0 limiar de mobilidade — (discrimination threshold). Este limiar depende em geral de varios factores: ruldo intemo ou externo ao instrumento de medida, atrito, amortecimento, inércia, valor da grandeza. © valor do limiar de mobilidade & expresso em unidades da grandeza de entrada. Note-se que, enquanto a sensiblidade esta ligada a variagées da grandeza de entrada, a mobilidade tem a ver com © valor propriamente dito dessa grandeza. Resolugao (do dispositive indicador) — (Resolution): expresso quantitativa da aptidéo do dispositivo indicador para distinguir significativamente entre valores muito préximos da grandeza indicada, Note-se a diferenga conceptual entre resolugao e mobilidade; enquanto esta depende de uma série de factores internos e externos ao instrumento de medida, aquela tem a ver exclusivamente com 0 dispositive indicador do instrumento, Embora no seja obrigatério, € normal prover o instrumento de medida de um dispositive indicador com resolugo andloga ao seu limiar de mobilidade; &, por isso, vulgar verem-se confundidos, sob a designaco de resolugao, estes dois conceitos, No caso de um aparelho em que a apresentaco € sob a forma digital (aparelho de medida digital), a resolug&o depende naturalmente do valor do digito menos significative. Assim, e por exemplo, um voltimetro deste tipo utilizado num campo de medida tal que cada unidade do digito que no visor se encontra mais & direita vale 1 mV, no permite resolver menos do que 1 mV e, portanto, ndo pode ser usado na medida de tensées eléctricas de valor igual ou inferior a esse, No caso de um instrumento fem que a indicagao é sob a forma da posigao de um ponteiro sobre uma escala graduada (aparelho de medida analégico), a resolugao envolve a capacidade de leitura dessa escala, podendo ser diferente consoante a indicagao seja analisada pela visdo de um operador humano ou recorrendo a processos épticos especiais, Folga (de um instrumento de medida) — (Dead band): intervalo de valores no interior do qual o sinal 18 de entrada pode ser modificado sem provocar variago da resposta do instrumento de medio. No caso de pequenas variagdes do sinal de entrada provocarem variagées indesejaveis da resposta do aparelho, a folga intrinseca é, por vezes, deliberadamente aumentada Histerese — (Hysteresis): propriedade do instrumento de medigo cuja resposta a um dado sinal de entrada depende da sequéncia dos sinais de entrada precedentes. A histerese traduz, pois, a diferenga de comportamento de um aparelho quando se varia a grandeza de entrada no mesmo intervalo de valores mas em sentidos opostes. Estabilidade (de um instrumento de medigao) - (Stability): aptidao do instrumento de medigSo para conservar as suas caracteristicas metrolégicas. A estabilidade é habitualmente considerada em relagéio com o tempo; quando for referida a outra grandeza é necessério especificé-lo explicitamente. Neutralidade (de um instrumento de medida) ~ (Transparency): aptidéo do instrumento de medida para no alterar o valor da grandeza a medir. © facto de um voltimetro apresentar, a uma dada frequéncia, uma impedaincia de entrada elevada, contribui para uma elevada neutralidade no que se refere as medidas de tenséo, nomeadamente dessa frequéncia Deriva (de um instrumento de medida) — (Drift): variagao lenta com o tempo de uma caracteristica metrolégica do instrumento de medigao. Fidelidade (do instrumento de medida) ~ (Freedom for bias error): aptidao do instrumento de medida para dar indicagées isentas de erros de fidelidade, isto 6, de erros sistematicos. 1.2.2 Resultados das medicées 1.2.2.1 Erros © conceito de valor real de uma grandeza fisica tem, como se viu, uma importancia minima, uma vez que, mesmo que exista come valor tinico, a sua determinacao é impossivel, imitada, quanto mais nao fosse, por razdes quanticas. Mesmo o valor convencionalmente verdadeiro, definido anteriormente, gue passaremos a considerar ser 0 objectivo de uma medida, s6 pode ser conhecido com uma imprecisao causada pelos diversos erros associados a medica. Existen genericamente trés tipos de eros: 0s grosseiros, os sistematicos e os aleatérios. 1.2.2.2 Erros grosseiros Os erros grosseiros so geralmente humanos e devidos a causas como: leitura incorrecta das indicagées dos aparelhos de medida, aplicagao incorrecta dos aparelhos de medida, erro no registo dos valores medidos, erros nos clculos efectuados sobre os valores experimentais. Poder, em si proprios, ser sistematicos ou aleatérios, consoante conduzam a resultados apresentando caracteristicas comuns ou no, embora estes limos sejam extraordinariamente pouco frequentes. A titulo de exemplo. considere-se a Figura 1.1 em que esté representado um circuito montado com a finalidade de medir o valor da resisténcia R, utlizando-se para 0 efeito um voltimetro Ve um amperimetro A. 19 150V 5 mA Figura 1.1: Medida de uma resisténcia utiizando um voltimetro e um amperimetro. ‘Supondo que o voltimetro tem uma resisténcia interna, Ry, de 200 k@, para os valores indicados pelos aparelhos e assinalados na figura ter-se-a 50 V/5 mA. = valor aparente de R, Ry: Ry Oka = valor de R: R=, xRy/(Ry Rg) = 35,3 KO - valor do erro relativo, «: © = 15 %, © enorme valor do erro cometido deve-se a utlizagao de um voltimetro com uma resisténcia interna demasiado baixa para o fim em vista. Deixa-se a0 cuidado do leitor verificar que, para a mesma montagem, se R fosse tal que as indicacées dos dois aparelhos passassem a ser 20 Ve 0.1 A, 0 erro relativo diminuira substanciaimente, passando a ser de 0.1%. Os erros grosseiros podem, e devem, ser evitados tomando precaugées, nomeadamente na leitura e registo dos valores medidos. E recomendavel executar pelo menos trés leituras diferentes, de preferéncia, e na medida do possivel, desligando e voltando a ligar o instrumento de medida. O facto de a quase generalidade dos erros grosseiros que afectam o resultado das medigdes ser do tipo sistemético toma infrutifero qualquer tratamento matematico dos resultados, com vista 4 obtengo de valores das grandezas com menor imprecisao. 1.2.2.3 Erros sistematicos Os erros sistematicos, que afectam uma medida realizada por um método apropriado, sao geraimente divididos em duas categorias: erros instrumentais e erros ambientais. Os primeiros sao devidos a limitages dos apareinos de medida tais como: desajuste do zero da escala (erro no zero), incorrecgao na graduagao da escata, insuficiente largura de banda, efeito de carga sobre 0 objecto de medida ou inexactiddo, Os varios erros variam de instrumento para instrumento. Assim, e por exemplo para uma aparelho analégico, a variagao da tenséo mecanica que € responsavel pelo retorno da equipagem mével ao zero ou a fricgao a que so sujeitas as suas varias partes méveis constituem causas suficientes para a ocorréncia de um erro sistematico que, no limite, podera ser grosseiro. Os erros sistematicos instrumentais podem ser evitados mediante as seguintes acgSes: (1) = selecgdo dos instrumentos apropriados para a medi¢éo em causa; (2)—corrigindo os valores experimentais apés determinac&o do valor do erro; (3) — procedendo regularmente a verificagdo da 4.10 exactidao dos instrumentos e ao seu ajuste— (adjustment) —(operagdo destinada a levar um instrumento de medig¢&o a um funcionamento e a uma fidelidade adequada 4 sua utilizagéo). No que respeita aos erros ambientais as causas so, como o proprio nome indica, exteriores 20 ‘sistema de medida — (measuring system) — (conjunto completo de instrumentas de medida e outros dispositivos montados para executar uma tarefa de medida especifica). De entre os principals factores influenciadores de medigdes so de referir a temperatura, a humidade, a presséo almosférica e os campos magnéticos e eléctricos estranhos. Para evitar 0 efeito produzido pelos trés primeiros sobre as medidas procura-se realizar os ensaios em ambientes condicionados, isto 6, em ambientes em que os valores daquelas grandezas fisicas se situam em intervalos bastante apertados. No caso de medidas de grandezas eléctricas de elevada exactidéo, por exemplo, a temperatura ambiente definida internacionalmente de 20°C, No que respeita a influéncia provocada por campos, nomeadamente estaticos, sobre o sistema de medida, a sua diminuigao passa pela blindagem do sistema de medida ou, pelo menos, das suas partes mais susceptivels a este tipo de ruldo. Os instrumentos de medida podem apresentar limitagSes que se manifestam no aparecimento de eros quando da execugSo de medidas estaticas (static measurements) —(medida de uma grandeza cujo valor se pode considerar constante durante a medigdo) ou de medidas dinamicas — (dynamic measurements) — (determinago do valor instanténeo de uma grandeza, se for caso disso, da sua variago no tempo). Um exemplo tipico de um aparelho que pode apresentar erros ditos estaticos € © micrémetro; no sendo o eixo do instrumento coincidente com 0 eixo de medida, demasiado aperto da pega a medir provocaré uma diferenca dos comprimentos segundo aqueles eixos, @ 0 respectivo erro negative (valor medido menor do que o valor real). Os aparelhos analégicos, porém, apresentam genericamente importantes limitagées de resposta quando a grandeza a medir varia no tempo, mesmo se no passando quando ela & constante. Diz-se por isso apresentarem erros sistematicos dinamicos. 1.2.2.4 Erros aleatérios Os erros aleatérios so devidos a causas desconhecidas ou que, embora conhecidas, afectam a medida de uma forma n&o previsivel. Em geral, e em condigdes experimentals apropriadas, os erros deste tipo so pequenos; tém, no entanto, primordial importancia em medidas de elevada exactidéo, uma vez que contribuem para uma menor preciso dos resultados obtidos (maior dispersdo dos valores medidos). Exemplos de possiveis causas de erros aleatérios so abundantes: arredondamentos efectuados nas leituras das indicagées dos instrumentos de medida, variagées verificadas no funcionamento dos aparelhos de medida devidas a pequenas alteragdes ambientais ou dos componentes eléctricos ou mecanicos que 0 constituem, No caso de sistemas de medida em que estejam envolvidos sinais eléctricos, e devido & natureza intrinseca destes, verificar-se-ao sempre erros ocasionados por quatro tipos de ruido: o térmico, o granular, o cintilante e 0 crepitante. 1.2.2.5 Ruido térmico Este ruido, também conhecido por de resisténcia, de Johnson ou de Nyquist, tem a sua origem nas trajectérias aleatérias descritas pelos electrées de qualquer condutor quando a temperatura & diferente de 0 K. A corrente eléctrica assim gerada, tanto mais importante quanto mais elevada for a temperatura, produz aos terminais do condutor de resisténcia eléctrica R uma tenséo de ruldo de valor médio nulo e cujo valor eficaz, Ur, € dado, para frequéncias inferiores a 100 GHz, por: Uy = JaKTRAF (12) em que: K & a constante de Boltzmann Téa temperatura absoluta; R é a resisténcia do condutor, Af & a largura de banda efectiva, diferente da largura de banda a 3 dB, dependente do sistema de observagao (medida) ¢ do comportamento na frequéncia do condutor. E a menor das larguras de banda caracteristicas destes dois factores que conduz ao valor pertinente de Af. tuido térmico caracteriza-se assim por ter uma densidade espectral de energia constante, 4KT (ruido branco). A titulo de exemplo, uma resisténcia de 1 MW, a temperatura de 300 K apresenta, numa banda efectiva de 1 MHz, uma tensao de ruido térmico cujo valor eficaz € de 129 \1V, sendo a correspondente poténcia de ruido de 16 fW. A limitagdo do valor eficaz da tenso deste tipo de ruldo, Particularmente necessaria quando se lida com sinais de muito baixo nivel, impée a utilizagao de resisténcias de valor tanto quanto possivel balxo (exemplo: amplificadores de baixo nivel) e, em situagées limite, a incluso dos equipamentos em ambientes mantidos a temperaturas muito baixas (exemplo: sistemas de medida de sinais césmicos). 1.2.2.6 Ruido granular As flutuagdes do niimero de electrées que, em cada instante, constituem uma corrente eléctrica continua, estao na origem do ruido granular também conhecido por shot ou de Schottky. Manifesta-se sob a forma de uma corrente eléctrica de valor médio nulo mas cujo valor eficaz, |, , € dado por: Paqalat (1.3) em que gz é carga do electrao, | 0 valor da corrente continua e Af a largura de banda efectiva. O aparecimento deste tipo de ruido branco em circuitos electrénicos, mesmo quando funcionam em regime varidvel no tempo, deve-se essencialmente as correntes que s4o necessérias para colocar esses dispositivos num determinado ponto de funcionamento (correntes de polarizagdo). Assim, ¢ 2 titulo de exemplo, uma corrente de polarizagéo de 1 mA de um dispositive que tenha uma largura de banda efectiva de 1 MHz origina um ruido granular de 18 nA. 1.2.2.7 Ruido cintilante © ruldo cintilante (flicker) julga-se ser essencialmente devido as variag6es de velocidade provocadas nos portadores de carga pelas imperfeigdes dos materials semicondutores. Como o granular, a sua intensidade depende do valor das correntes de polarizaco, variando, até alguns kilohertz, na razo inversa da frequéncia; daf a designagao de ruido ‘/f sob a qual é também conhecido (ruido cor-de- rosa), Para frequéncias superiores a sua densidade espectral de energia ¢ nao sé menor mas também constante, O facto deste tipo de ruido ser altamente dependente do dispositive torna em geral extremamente dificil a previsdo da sua intensidade, 1.2.2.8 Ruido crepitante © som de baixa frequéncia que por vezes se ouve nos altfalantes de um receptor de radio, semelhante a0 produzido quando se confeccionam pipocas, constitul 0 chamado ruido orepitante (burst ou popcorn), Embora nao se conhecam as suas casas com rigor, so bem conhecidas as suas caracteristicas principais: dependéncia com 1/f* (ruido também cor-de-rosa) e com o dispositivo, © que 0 coloca, para efeitos de previsdo da intensidade, em situagdo semelhante ao cintlante, AS oscilagdes devidas a realimentaao de amplificadores via fontes de alimentagao constituem ruido deste tipo 1.2.2.9 Tratamento dos valores medidos e apresentagao dos resultados Os valores medidos das varias grandezas, afectados por erros, poderdo necessitar ser processados com vista & obtengéo quer dos valores das grandezas medidas e sua inexactidéo, quer do valor e inexactidéo de grandezas dependentes das que foram medidas. A primeira atitude a tomar em face dos resultados obtidos, admitindo a auséncia de motivos que fagam duvidar da sua validade, é analisar a necessidade de proceder a correcgées ou ajustes dos valores medidos 1.2.2.10 Correcgao de valores Entende-se por correcgao de um valor a alteragao que nele se provoca com a finalidade de compensar: ~ erros sistematicos conhecidos; - desvios devidos a variagées nao desprezaveis de varidveis nao controladas (exemplo: efeito da variago da temperatura no valor da forga electromottiz de uma pilha padréo) - execugdes nao ideais das operagdes de medida. Suponhamos que se pretende medir o valor de uma grandeza as temperaturaT,, Tz,... Ty. Por limitago do sistema que provoca a sua variago, 2a medidas foram obtidas a temperatures proximas mas diferentes das pretendides, 1}, 7)...T, Se se conhecer a lei de variagéo da grandeza medida com a temperatura é possivel, e deverd ser feita, a correceao dos valores experimentais obtidos, de modo a obterem-se os valores da grandeza em questdo as temperaturas pretendidas. 1.22.11 Ajuste de valores © ajuste de valores tem por objectivo compatibilizar resultados de acordo com restricées que Ihes estdo Impostas. Essa compatibilizacao pode geralmente ser conseguida por diferentes formas, isto 6, © aluste pode ser realizado de diferentes maneiras. Exemplo tipico de ajuste de valores 6 0 que se executa sobre um conjunto de pares de valores de duas grandezas, x e y, dependentes linearmente uma da outra, A utilizagao de um método de regressao por minimos quadraticos sera, nesse caso, a forma mais usual de obter valores ajustados. A determinagao da inexactiddo do valor medido de uma qualquer grandeza @, em particular no chamado dominio das medidas de alta preciso (mais correctamente, alta exactidao), um dos problemas de mais dificil resolugo, s6 ultrapassado, em grau de dificuldade, por esse outro que consiste na concepgdo de métodos, processos e instrumentos de medida que possibilitem realizar medidas cada vez mais exactas. Como se viu, para a inexactiddo contribuem erras dos tipos sistemdtico ¢ aleatério, De um modo geral, a dificuldade principal reside na estimagao do valor dos erros do primeiro tipo, uma vez que a influéncia dos do segundo tipo, jd de si pequenos em medidas bem concebidas ¢ realizadas, pode ser minimizada realizando grande niimero de medidas e procedendo ao tratamento dos valores obtidos utlizando métodos estatisticos, A forma mais natural e normal de especificar a inexactidao de uma medida consiste na indicagao do intervalo de valores, em torno do valor medido, dentro do qual devera estar 0 valor convencionalmente verdadeiro da grandeza medida. A forma de obter os limites desse intervalo passa pela - determinagdo da precisdo da medida. Para isso teré de ser possivel obter informagao quanto a dispersao dos valores obtidos ou que se obteriam realizando um elevado numero de medidas da grandeza em questo; - gstimaco do valor dos erros sistematicos que afectam a medida, Nesta estimagao desempenham papel fundamental aqueles que concebem e realizam os ensaios. Tendo procurado que todas as fases que conduzem a obtengo do valor da grandeza fossem isentas de erros sistematicos, ¢ dispondo até de algumas técnicas que Ihes permitem o despiste desse tipo de erros, compete aos experimentadores avaliarem o limite superior do erro sistematico cometido. Note-se que a estimativa, que 6 personalizada, nao é, naturalmente, o valor certo desse erro; corresponde, apenas, 4 manifestagao, por parte de quem a apresenta, de que no possul elementos que Ihe fagam supor ser superior o valor do erro sistematico cometido, Nos processos de medida usuais, os erros aleatorios seguem uma lei de distribuigao do tipo normal ou de Gauss, Como se sabe, 0 valor médio, X, de uma populagdo de n acontecimentos x; que verificam uma distribuigao desse tipo, X= ”x\/n, constitui o valor mais provavel dessa distribuigao, © que significa, no presente contexto, que se se realizarem n medidas sobre uma mesma grandeza mantida constante, o valor médio do conjunto de valores obtidos constitui o valor mais provavel dessa grandeza. Por outro lado, 0 desvio padrao, 6, do conjunto finito de n medidas, definido como (1.4) expressa quantitativamente a disperséio dos valores obtidos em torno do valor médio, constituindo, assim, uma medida da precisdo global do proceso de medida utllizado, Na Figura 1.2 representam- -se curvas da distribuig&o de Gauss para trés valores do desvio padr&o. ‘A Gauss (x) 1 (1) Figura 1.2: Distribuigdo de Gauss para: (1) 0.5; (2) Os Como facilmente se constata, quanto maior é 0 valor de « (maior dispersdo de valores), menor é a probabilidade do valor médio ser o valor da grandeza medida. Por outro lado, e ainda quanto maior & a dispersao de valores, maior € o intervalo a que corresponde uma determinada probabilidade de se encontrar 0 valor verdadeiro da grandeza, De acordo com a distribuigéo de Gauss, ¢ tendo em atengdo que a probabildade de se ter o valor verdadero no intervalo[X— Ax, Kx] & dada por gy (axy ofee Ray, Xeag])-2 fo x podem-se obter os resultados seguintes: ax/e 067451 196 2.88 olxeKsax) 05 0.6828 095 9.99 (1.8) (1.8) Deste modo, num processo de medida em que s6 se considerem erros do tipo aleatorio e que seja caracterizado pot um valor médio XK e um desvio padr8o , 0 intervalo de valores que & necessério. especificar de modo a que o valor verdadeiro da grandeza a medir esteja, com uma probabilidade de 0,99, no seu interior 6 [X +2,580] 1.2.2.12 Algarismos significativos A apresentagao numérica do resultado de uma medi¢&o depende, para além de outros factores, da resolugao do dispositive indicador do aparelho de medida utlizado. Assim, & essencialmente diferente expressar-se 0 valor de uma grandeza como sendo 31 ou 31.00 unidades dessa grandeza; enquanto que no primeiro caso 0 dispositivo indicador permite apenas afirmar que o valor medido deveré estar mals préximo de 31 do que de 30 ou de 32, no segundo a afirmago de que esse valor estara mais perto de 31,00 do que de 31.01 ou de 30.99, Existe, portanto, uma ligagéo entre o ntimero de algarismos significativos com que se apresenta um valor medido e a resolugao do aparelho de medida utiizado, 0 que toma ilicto expressar, nao s6 esse valor como outros que dele resultem por manipulagées mateméticas, com maior ntimero de algarismos significativos do que os resultantes dessa resolucao. Quando 0 valor de uma determinada grandeza & obtido a partir de operacdes matematicas executadas sobre valores numéricos de grandezas medidas, 0 seu numero de algarismos significativos sera, de acordo com o que fica dito, e na melhor das hipéteses, igual a0 que tiver 0 valor expresso com menor niimero de digitos; geralmente sera inferior. A titulo de exemplos considerem-se as duas situagdes seguintes: - Resisténcia R cujo valor é obtido a partir da soma de duas resistencias R,=25.6 © ¢ R=7.354 ©. Os algarismos significatives de cada um dos dois valores permitem apenas dizer que Ry €[25.55, 25.65[ © € Ry <[7.3535, 7.3545[ 2. Assim sendo, a tnica afirmagao possivel em relagdo ao valor de R & que deverd estar contido no intervalo [32.9035, 33.0045] 2 pelo que se deverd apresentar 0 resultado como (32.954+0.051) ou entio, e garantindo apenas dois digitos significativos, 33 2 ~ Queda de tensdo numa resisténcia, U, obtida a partir dos valores da resisténcia R=1.55 ke da corrente que a percorre, I=3.2 mA. O intervalo de valores entre os quais estaré o valor de U sera [1.545 3.15, 1.855x3.25[ V ou seja [4.86675, 5.05374[ V. Estamos perante uma situagao em que apenas se pode apresentar o resultado com um digit, isto é, 5 V, com o significado anteriormente referido: o valor da tensdo U estard mais perto de 5 V do que de 4 ou 6 V. Em alguns casos, a andlise anteriormente feita conduz a situagbes sé ultrapassaveis apresentando 0s resultados em notacéo cientifica, De facto, e reportando-nos ao ultimo exemplo anteriormente apresentado, para R=35.68 £2 ¢ I=3.18 A, o intervalo a que pertencerd U seré [113.27, 113.7[ V. Em rigor nao se pode expressar o resultado como sendo 113 V, uma vez que o limite superior do intervalo esté mais préximo de 114 V. Embora o valor de U seja superior a 100 V, 0 facto de s6 se poderem garantir dois algarismos conduz & seguinte forma de apresentagdo; U =1,1x10? V. 1.22.13 Composi¢ao de erros Ao realizar-se a medida de uma grandeza utilizando um sistema de medida mais ou menos complexo, & usual conhecerem-se os erros absolutos ou relatives inerentes quer aos aparelhos de 1.16 medida, quer aos procedimentos de medida. A determinagao do erro da grandeza medida torna-se neste caso particularmente simples, impondo-se para tal saber como se devem compor os diferentes erros conhecidos, A analise desta situagao baseia-se no desenvolvimento de uma fungo de n variaveis em série de Taylor, Considere-se entéo a grandeza x dependente de n variaveis independentes e mensuraveis, Vj. VanVq €OM erros conhecidos. Seja F a funcéio dessa dependéncia, isto é: X =F (V4, Varn) a7 Desenvolvendo F em série de Taylor ter-se-a Ay AF aye (18) me ap ax x a ; Desprezando termos de ordem superior (efros dos erros), ¢ dividindo ambos os membros por x obtem-se: t= 1.9) za § “9 > Ax] xh [aF Avi] [Ay, bg a A 1-5 zap 0 . ax , Ay Tendo em atengdo que © “i representam os erros relatives das grandezas xe vj, & © fy,, x OW 7 respectivamente, e continuando a considerar-se o caso mais desfavordvel tem-se finalmente eed a [aay er (nty Exemplifiquemos a aplicac&o deste resultado a trés casos tipo. 1- KEV V2 +M5 ‘Tem-se sucessivamente Ms v2 3 lao ve "Toy (1.12) Vytva sg Vy tua 4¥g 2 vy v2 +¥y AK = Avy + Avg + AV 2 ov x=vyv3q'S Ve Por aplicagao de (2.10) facilmente se obtém: (1.13) wy, Mey, + 2m 3- x=Vy-V2 Tem-se, neste caso: AK = AV; +AVp (1.14) Os casos 1 @ 3 permitem concluir que, no caso do valor da grandeza x resultar da soma ou diferenga de outras grandezas (que naturalmente seréo da mesma espécie), se deve somar os erros absolutos destas para obter 0 daquela; quando na obtenc&o do valor de x intervém produtos e quocientes de valores de outras grandezas deve-se adicionar os respectivos erros relativos para se obter o erro relativo de x. Como se constata do caso 3, 0 erro absoluto da diferenga de valores de duas grandezas v; € v2 6 igual & soma dos respectivos erros absolutes. Este resultado leva imediatamente a concluir que, se 08 valores de v; e vz foram muito préximos, o erro relativo da grandeza dependente pode ser muito elevado, Atente-se ao seguinte conjunto de valores: vy = 33242, v, = 31447; x=1829; & -05, ou seja um erro relativo de 50%. Este facto aponta para a inadequagao de processos de medida em que © valor de uma grandeza seja obtido nas condigées agora expostas. Come resulta do tratamento matemético que conduziu a (2.10), o valor dos erros assim calculados corresponde a situagdo mais desfavoravel, isto é, aquela em que todas as grandezas envolvidas contribuem com o seu ero maximo, Sendo a probabilidade de ocorréncia desta situagao extremamente baixa, natural serd recorrer a processos de calculo que conduzam a um valor mais provavel desse erro, Um dos métodos actualmente mais praticados consiste na composigao quadratica dos erros, absolutos ou relativos, consoante os casos. Assim, e por exemplo para 0 caso 1 anteriormente apresentado ter-se-ia ax= ave radea (1.48) 1.2.3 Unidades e padrées ‘A expressao quantitativa de uma qualquer grandeza implica a adopgao de uma grandeza determinada da mesma espécie para referéncia. Designa-se entéo por unidade (de medida) — (unit (of measurement)) — a grandeza determinada convencionalmente adoptada para essa finalidade. O Conjunto de unidades de diferentes grandezas constitui um sistema de unidades — (system of units) ‘Ao longo dos tempos diferentes sistemas de unidades foram sendo utilizados. Na generalidade, todos continham em comum unidades de comprimento, de massa e de tempo que passaram por isso a chamar-se de unidades base ou unidades fundamentais primérias. Para além destas 1.18 introduziram-se unidades fundamentais auxiliares de modo a cobrir necessidades nos dominios do Electromagnetismo, da Termodinamica e da Optica. As restantes grandezas podiam ser expressas fem termos das fundamentais recorrendo as chamadas equagées de dimensées, designando-se por isso as respectivas unidades de derivadas, O sistema em uso no dominio da Engenharia desde 1954 6 0 Sistema Internacional, 0 qual constitu uma extensdo do sistema MKSA proposto por Giorgi ¢ adoptado em 1935 por muitos paises. Até 1983 (a partir dessa data, com a nova definigao da unidade de comprimento, esta grandeza deixou de ser primaria) esse sistema era constituido pelas seguintes unidades base: - unidades fundamentais primarias: ‘comprimento — metro, m massa - kilograma, kg tempo ~ segundo, 5 - unidades fundamentais auxiliares intensidade de corrente eléctrica — ampere, A temperatura termodinamica — grau Kelvin, K intensidade luminosa — candela, ed quantidade de matéria — mole ‘As unidades de grandezas eléctricas deste sistema derivam do sistema CGS (centimetro, grama, segundo) pratico, resultante da jung&o dos sistemas CGS electrostatico (CGSe; unidades base: m, kg, 5 € ec=1) e CGS electromagnético (CGSm; unidades base: m, kg, € io=1). No entanto, ¢ até 1948, as unidades intemnacionais actualmente adoptadas foram, por motives praticos, substituidas por outras que constituiam, por isso mesmo, 0 chamado sistema pratico. As relagées entre as unidades dos dois sistemas eram préximas da unidade tendo-se: 1.281= 1.00049 2 pratico 1A SI= 0.99985 A pratico 11VSI= 1.00034 V pratico 1. SI= 0.99985 C pratico 1 SI= 0.99951 F pratico 11HSI= 1.00049 H pratico 11 WSI= 1.00019 W pratico 1 JSI= 1.00019 J pratico A existéncia de varias unidades em termos das quais se expressam numericamente as diferentes grandezas ¢ puramente convencional. Assim sendo, nada obsta & definigéo e utilzagéo de sistemas com diferente nimero de unidades, uma s6, em particular’. E vulgar ver-se escrito e ouvir-se falar nomeadamente aos fisicos, de, por exemplo, uma particula com a massa de x eV. O facto de existrem varias unidades tem a ver com a simplicidade e comodidade de transmisséo de informagéo. De facto, & mais simples, por isso mais elucidativo, expressarem-se os valores de grandezas Note-se a este respeito que as equagses de dimensées permitem relacionar qualquer unidade nfo fundamental primaria com as rs unidades prméras; par utr lado estas encontrarse relacionadas entre s através de constantes numéricas como a velociade da luz, ¢, ea constante de Planck, h, (E=hFeme2, i essencialmente distintas por meio de unidades diferentes do que utilizar apenas uma unidade (que passaria a ser dispensdvel) para esse fim, Por outro lado, a existéncia de varias unidades permite a utiizagéo de uma gama mais razoavel de niimeros reais para representagdo dos valores das diferentes grandezas. Como se sabe, as unidades néo tém plural, Assim, © por exemplo, a afirmago de que "o comprimento de uma tabua é xm’, constitui uma forma simplificada de dizer "o comprimento da tébua vale x na unidade m. Uma unidade de uma grandeza constitui, pois, um espaco vectorial unidimensional As unidades designadas por nomes de pessoas, quando ndo escritas por extenso em que é utiizada letra miniscula, so representadas por uma ou mais letras, sendo a primeira sempre maitiscula 1.2.3.1 Unidades de algumas grandezas fisicas Apresentam-se a seguir as unidades fundamentais do sistema internacional e algumas das unidades derivadas de maior interesse no dominio da electrotecnia, de acordo com as definig6es actuals. Note- -se que o sistema intemacional é um sistema métrico e essencialmente decimal, intemacionalmente aceite, embora no seja seguido, a nivel interno, por paises como os Estados Unidos da América e a Gré-Bretanha, metro — A unidade de comprimento, metro (m) &, por definig&o (1983), a distancia percorrida pela luz no vazio durante um intervalo de tempo de 1/299 792 458 s. Com esta definigéo, que supée definida como constante universal, € portanto nao mensuravel, a velocidade da luz, 0 comprimento deixa de ser uma grandeza fundamental kilograma — A unidade de massa, kilograma (kg), corresponde massa de 1 dm3 de agua a temperatura de maxima densidade. ‘segundo — A unidade de tempo, segundo (s), tem duas definigées, consoante as grandezas determinadas em questéo, Assim, nomeadamente para mecanica celeste e navegagéo, utiliza-se 0 ‘segundo das efemérides, sex adoptada como unidade invariante de tempo. Por definig&o, (1956), 0 See € a fracgdo 1/31 556 925.9747 do ano tropical de 1900 iniciado em 0 de Janeiro as 12 horas (tempo das efemérides). Entende-se por ano tropical o intervalo de tempo necessario para 0 Sol ‘aumentar a sua longitude média de 360°, medida segundo a enclitica a partir do equinécio de Vergo. Para medidas fisicas 0 segundo € definido, (1967), como sendo a duragdo de 9 192 631 70 ciclos da radiagao correspondente a transigo hiperfina entre os dois niveis base *S:z do atomo de césio 133 nao perturbada por campos externos. © segundo dito “atémico" constitui uma unidade de tempo muito mais interessante, uma vez que permite medidas de intervalos de tempo com elevada preciso de uma forma simples e répida. O mesmo nao acontece quando se utiliza o segundo das efemérides, uma vez que a escala de tempo que dele resulta s6 pode ser conhecida com rigor passados vérios anos, uma vez que envolve longas observagdes das posi¢Ses do Sole da Lua. do estado ampere — A unidade de intensidade de corrente do sistema internacional, ampere (A), € 0 valor da 1.20 corrente constante que, mantida em dois condutores paralelos de comprimento infinito e secgdo circular desprezavel colocados & distancia de 1 m no vacuo, produz uma forga entre os condutores de 21077 n/m de comprimento, A unidade assim definida € também conhecida por ampere internacional ou absoluto, Até 1948, porém, uma outra unidade era utlizada, 0 ampére pratico, definido como correspondendo a intensidade de corrente que deposita prata a um ritmo de 1.118 mg por segundo a partir de uma solugo padréo de nitrato de prata, Embora no coincidentes, as duas unidades tem valores proximos e cuja relagao ja fol anteriormente apresentada grau Kelvin ~ A unidade de temperatura termadinamica, grau Kelvin (Kk), € 1/273.16 da temperatura termodindmica do ponto triplo da agua, isto é, a temperatura de equillbrio em que coexistem o gelo, gua liquida e vapor. candela - A unidade de intensidade luminosa, candela (cd), € a intensidade luminosa, numa dada direcedo, de uma fonte de radiagdo monocromatica de frequéncia 540x10"? Hz que radie nessa direcgdo 1/683 W por steradiano. mole — A unidade de quantidade de materia, mole (mole), 6 a quantidade de matéria de um sistema contendo tantas entidades elementares quantos os dtomos que existem em 0.012 kg de carbono 12 Volt — A unidade de diferenga de potencial ou tensdo eléctrica, volt (V), é a diferenga de potencial eléctrico entre dois pontos de um condutor percorride por uma corrente constante de 1 A quando a poténcia posta em jogo é de 1 W. ohm ~ A unidade de resistencia eléctrica, ohm (1), & a resisténcia eléctrica de um condutor que, no sendo sede de qualquer forga electromotriz, sujeito a uma diferenga de potencial de 1 V é percorrido por uma corrente de 1A, farad - A unidade de capacidade eléctrica, farad (F), 6 a capacidade de um condensador que carregado com a carga de 1 C apresenta uma diferenca de potencial entre armaduras de 1 V. henry — A unidade de coeficiente de indugao, henry (H), € 0 valor desse coeficiente num circuito fechado em que uma corrente eléctrica variando ao ritmo constante de 1 A/s produz uma forca electromotriz de 1 V. 0 coeficiente de indugao &, como se sabe, a relagao entre a forga electromotriz induzida e a derivada temporal da corrente que origina aquela. 1.2.3.2 Padrées de medida Entende-se por padrao — (standard) - de medida o instrumento de medigao ou sistema de medi¢ao destinado a definir ou materializar, conservar ou reproduzir uma unidade ou um ou varios valores conhecidos de uma grandeza para as transmitir por comparacdo a outros instrumentos de medigdo. Consoante as suas qualidades metrologicas assim um padrao se designa de: = Padro internacional — (International standard): padrdo reconhecido por um acordo internacional para servir de base internacional a fixago dos valores de todos os outros padrées da grandeza a que respeita. = Padréo primario - (Primary standard): padréo que apresenta as mais elevadas qualidades metrolégicas num dado dominio, 4.21 - Padréo secundario ~ (Secundary standard): padrao cujo valor 6 fixado por comparagéo com um padro primério, - Padrao de trabalho — (Working standard): padréo que, habitualmente calibrado por comparagao com um padréo de referéncia, 6 utilizado correntemente para calibrar ou verificar os instrumentos de medida. Conforme facilmente se constata a partir das nogbes agora definidas, os diferentes padrées esto hierarquizados de acordo com as qualidades metrolégicas segundo uma escala decrescente dos primarios para 0s de trabalho, agrupando-se em uma das trés categorias apresentadas. No que respeita aos padrées internacionais, ¢ na generalidade, ndo faz sentido falar-se da sua exactidao, uma vez que eles constituem a base de todas as comparagoes; exceptuam-se os casos em que é possivel reportar os seus valores directamente 2os das unidades a que respeitam realizando as chamadas medidas de acordo com a definigéo dessas unidades. Pode entéo por-se a questdo de saber qual o critério ou critérios que levam escolha de um padréo para padrao internacional. Se excluirmos critérios de escolha marginalmente importantes, como por exemplo os da facilidade de realizagdo ou praticabilidade de utllizagdo, € ébvio que a escolha tera a ver com dois aspectos: a preciso desse padréo ¢ a conformidade entre as medigbes com ele obtidas e os valores previstos elas teorias pertinentes na analise de fenémenos em que intervém a grandeza em causa. Assim, quanto menor for 0 desvio padrao experimental de um conjunto de intercomparagées entre padrées iguais, melhor serd esse padréo do ponto de vista de constituir base para a fixagao dos valores de outros instrumentos de medida. Por outro lado, e por exemplo, um relagio serd tanto methor quanto mais aproximados forem os valores de tempo com ele obtidos e os que resultam da aplicacao das teorias que relacionam fendmenos variaveis no tempo com esta grandeza, Em relacao aos padrées primérios, secundérios e de trabalho conceito de exactidéo € pertinente, uma vez que se pode tomar como base os padrées intemnacionais. Deste modo, e uma vez que a qualidade metrolégica mais importante de um padréo é exactamente a sua exactidéo, a hierarquia primério-secundério de trabalho corresponde uma escala crescente de imprecisées. A essa hierarquia corresponde também, e naturalmente, uma escala decrescente de custos dos padrées; genericamente, e para uma mesma grandeza, um padréo de trabalho & mais barato do que um primério, Como tal, e também porque as precisées exigidas nao sdo as mesmas em todas as situagées de medida, os diferentes tipos de padrao encontram-se em diferentes tipos de laboratério: um laboratério nacional de padrées dispord de padrées primarios, laboratérios privados ou industriais dispordo de padrées secundérios, os quais so utlizados como referéncia para ajuste e calibragao de padrées de trabalho, Este tipo de organizacao, que pode revestir diferentes formas, deverd em qualquer caso permitir reportar 0 valor medido com um padro de trabalho a um padrao pelo menos primério mediante uma cadeia ininterrupta de comparagées que se designa por rastreabilidade — (traceability). © National Institute of Standards and Technology (NIST) tem uma organizagao hierarquica das referéncias utllzadas nos Estados Unidos da América em trés escal6es como se segue: Escalio! 1.22 1. Padrées intemnacionais. 2, Padrées primérios (padrées nacionais), 3, Padrées secundarios (padrées de referéncia do NIST), 4, Padrdes de trabalho (utiizados pelo NIST para servigos de calibragao), Escaléo Il 1. Padrées de referéncia; padrées secundarios mantidos por laboratérios particulares e industriais. 2. Padrées de trabalho; padrées usados para calibrar e verificar aparelhos de laboratério de uso geral Escaléo Ill Instrumentos de uso geral para produgao, manutengao e ensaios extemnos, A designacao de padrao de referéncia— (reference standard) diz respeito a um padrao, em geral da mals elevada qualidade metrolégica, disponivel num dado local, do qual derivam as medicdes efectuadas nesse local. Por vezes utliza-se um conjunto de instrumentos de medigao idénticos, associados para desempenhar em conjunto 0 papel de padrao. Ao padrdo assim realizado, e de que 6 exemplo as pilhas de Weston como padréo de tensfo eléctrica, chama-se padro colectivo — (collective standard). Reserva-se a designagao de colecgao padrao — (group (series) of standards) para o conjunto de padrées com valores escolhidos especialmente para reproduzir individualmente, ou por combinacao adequada, uma série de valores de uma grandeza numa dada gama. As caixas de massas marcadas constituem exemplo tipico deste tipo de padréo. Na calibragao — (calibration), (conjunto de operagées que estabelecem, em condigdes especificadas, a relagdo entre os valores indicados por um instrumento de medica, ou os valores representados por um material de referencia (material ou substéncia com uma ou varias propriedades suficientemente bem definidas para permitir a sua utilizag&o na calibragéo de um instrumento, na avaliagao de um método de medida ou na atribuigaéo de valores aos materiais), e os comespondentes valores conhecidos da grandeza a medi, so utlizados dois tipos de padrées: 0 padréo de transferéncia— (transfer standard), utilizado como intermediério na comparago de padres ou instrumentos de medigéo entre si ¢ 0 padrao itinerante — (travelling standard), padréo, por vezes de construgao especial, previsto para ser transportado entre diferentes locais. Do conjunto de todas as operagdes necessarias a preservagdo das caracteristicas metrolégicas de um padrao dentro de limites adequados, conservacdo do padrao ~ (conservation of a measurement standard), destaca-se a sua calibragao, a qual é feita comparando esse padréo com um da mesma unidade mas de maior exactidao. A calibragao deve ser periédica, dependendo do tipo, utilzagao e tempo de vida os intervalos de tempo entre calibrag6es. Como valor tipico, um padrao de trabalho deve ser calibrado utilzando um secundério de 6 em 6 meses. Especial culdado deve ser dado aos. aspectos de ullizago e armazenamento do padréo de modo a manter as suas qualidades metrolégicas ao longo da sua vida ut Uma vez conhecidas as unidades das principais grandezas fisicas, no que diz respeito & electrotecnia, importa saber quais s4o 0s padrées respectivos e suas caracteristicas metrolégicas. 1.23 Em relagdo a estas, e por ser pratica comum a nivel internacional, utiizaremos 0 valor que permite determinar 0 intervalo de inexactidao de um padréo para caracterizar numericamente a sua exactidao, Assim um padrao com "uma exactidao de x partes em 10y", de "x partes por milhao" ou de "xh" sera um dispositive cujo valor maximo do intervalo de inexactidao € o especificado, 1.2.3.2.1 Padro de comprimento Os padrées internacional, primario e secundario de comprimento so constituidos por lampadas de descarga de kripton 86 excitadas e observadas em condigdes bem definidas. O comprimento de onda da luz cor-de-laranja assim emitida constitui um padrao base que apresenta uma preciso de 1 ppm (uma parte por milhao). Como padrées de trabalho utlizam-se calibres, micrémetros e outros dispositivos que apresentam uma exactidao tipica da ordem de 1 mm. 1.2.3.2.2. Padréo de massa © padrao intemacional de massa ainda constituldo pelo protétipo intemacional de Kilograma existente no Museu Internacional de Pesos e Medidas em Sévres, perto de Paris (Franca). Os Padres primarios séo também protétipos de kilograma verificados por comparagdo com o protétipo internacional, sendo a sua exactidéo de 1 parte em 10°. Os padrées secundarrios e de trabalho so os. que possuem exactidées de 1 ppm e 5 ppm, respectivamente, apresentando-se estes titimos com os mais variados valores, sendo por isso adaptaveis 8s mais variadas aplicagdes, Como normal, a calibragéo dos secundarios & feita utilizando um primario; constituem, por sua vez padréo de referéncia na verificacao dos padrées de trabalho, 1.2.3.2.3 Padrdo de tempo Os padrées de tempo séo os relégios, Os padres primatios sao relégios de césio que permitem actualmente precis6es de 2 partes em 10'° em equipamento de laboratério e 7 partes em 10° em equipamento comercial, Nos padrées de trabalho utliza-se normalmente o quartzo; no entanto, ¢ dado 0 custo actual dos relégios de rubidio e mesmo de césio, tende-se a utilizar cada vez mais relégios deste tipo em aplicagées industriais exigindo média exactidéo. Os padrées de tempo so os de mais facil verificacdo, uma vez que a difusdo de diferentes padrées. primérios € feita continua ou regularmente por estagées de radio espalhadas pelos diferentes continentes e cujas transmissées cobrem todo o planeta, 1.24 1.2.3.2.4 Padrao de intensidade de corrente Os padrées de intensidade de corrente sto em geral obtidos a partir de padrées de resisténcia e de tenséo eléctricas por aplicag3o da lel de Ohm, 1.2.3.2.5 Padrao de temperatura termodinamica Os padrdes de temperatura s8o termémetros de diferentes tipos. Assim, © padrao primario constituido por um termémetro de resisténcia de platina de construgao especial de mado a que 0 fio do seja sujeito a esforgos mecénicos. A escala deste termémetro, usualmente graduada em °C (escala pratica), & estabelecida com base nos seguintes valores (pressao almostérica): -Fundamentais; ponto de ebuligéo da Agua: 100°C. ponte triplo da agua: 0.01 °C ~Primarios; _ponto de ebuligo do oxigénio: - 182.97 °C onto de ebuligéo do enxofre: 444.6 °C onto de congelagao da prata: 960.8 °C onto de congelagao do ouro: 1063 °C Os valores intermédios so calculados a partir de formulas baseadas nas propriedades do fio de resisténcia de platina. 1.2.3.2.6 Padrao de intensidade luminosa Os padrées primérios de intensidade luminosa séo corpos negros de construcéo especial e & temperatura de solidiicagao da patina. Os padres secundarios e de trabalho s8o lampadas de filamento de tungsténio que operam a uma temperatura para a qual a distrbuigao espectral de energia na regido do visivel (3950 A a 7600 A) coincide com a do padrao primario, 1.2.3.2.7 Padrao de tensdo continua A partir de 1 de Janeiro de 1990, o padrao internacional de tensao continua € constituido por uma jungéo de Josephson. © funcionamento do dispositive é baseado num fenémeno observavel em supercondutores fracamente ligados, como por exemplo duas peliculas supercondutoras de niébio separadas por uma camada isolante de 1. nm. Assim, quando a jungdo ¢ iluminada por radiagéo de frequéncia f da ordem dos GHz (microondas), a caracteristica Vit) do dispositive apresenta degraus de corrente para valores de tensdo VJ que verifiquem: Vy=ant/ky (1.18) em que né um inteiro e K,=4ne/h uma constante dependente da carga do electrao, e, e da constante de Planck, h. A constante K, 6, pois, uma constante universal, independente dos materiais supercondutores utlizados, da frequéncia da radiagdo iluminante, da temperatura ou de n, A grande 1.25 vantagem da utiizagao deste tipo de padrao para tensdo continua resulta do facto de a tenséo dita de Josephson ser apenas dependente da frequéncia da radiagdo iluminante, grandeza fisica que é mensurdvel com 0 mais elevado rigor. O valor da constante K, definido para 1990 (Kssc) de 483 597.9 GHzIV. A reprodutibilidade dos diferentes dispositivs idénticos desenvolvidos nos diferentes laboratérios nacionais é da ordem de 1 parte em 10". A utilizagao destes padrées em operagées de calibragdo é particularmente simples, © que constitui outra das suas vantagens. No que respeita aos padrées primarios, secundarios e de trabalho, dois tipos de dispositives so utilizados: diodos de zener e pilhas padréo. Os equipamentos que recorrem aos primeiros usam diodos especiais colocados em estufas mantidas a temperatura constante. A incluso de divisores de tenséo calibrados e de precisdo na saida dos equipamentos permite ter acesso a diferentes valores de tensdo, 0 que se toma particularmente interessante para efeitos de calibracdo, Os padrées primarios s8o porém, e ainda hoje em dia, pilhas padrao do tipo Weston saturado, Trata-se de um elemento electroquimico em que 0 eléctrodo positive é de mercirio, o negativo de uma amalgama de cadmio e 0 electrélito uma solugdo de sulfato de c&dmio saturada a qualquer temperatura por virtude de cristais de sulfato de cédmio que cobrem os eléctrodos. Estes padrées, que apresentam uma deriva tipica anual de 1 j1V, exactidéo da ordem de 1 ppm, resisténcia interna entre os 500 e os 800.2 e uma vida de ut de 10 2 20 anos, fornecem uma tenso em vazio que é funcéo da temperatura, Vit), dada por: Vit) = Vege ~0.000046(t ~ 20) - 0.00000095(t-20)? +.0.0000000%t-20)? (1.17) © valor tipico de V a 20 °C é de 1.01858 V. Para além das pilhas de Weston saturadas so também utlizadas, essencialmente como padrées de trabalho, pilhas nao saturadas. Estas, que apresentam uma forga electromotriz em vazio entre 1.0180 e 1,0200 V, embora menos reprodutiveis e estdveis do que as do tipo saturado, apresentam a vantagem de serem muito menos dependentes da temperatura, com variagées relativas inferiores a 0.01% no intervalo 10 a 40°C, 0 que as torna mais robustas e, portanto, adequadas, quer como padrées de trabalho, quer como de transferéncia, Porém, e uma vez que a robustez aliam exactidées semelhantes as das pilhas saturadas, os padrées utilizando diodos de zener so, por exceléncia, os usados como de transferéncia. As pilhas Weston constituem um exemplo tipico de um padrao que usualmente é do tipo colectivo, isto é, em que se utiiza um conjunto de elementos para, a partir do valor médio das respectivas tensdes em vazio, se definir 0 valor da unidade volt. Assim, e por exemplo o NIST, usava até ha bem pouco tempo uma colecgio de 40 elementos de Weston saturados, mantidos a temperatura constante, como padrao primario e 10 elementos do mesmo tipo como padrao de trabalho, sendo as. comparagées dos elementos primarios realizadas entre si e as dos de trabalho com os primarios. Os valores das forgas electromotrizes das pilhas de Weston séo, naturalmente, extremamente dependentes da corrente por elas debitada, Assim, e para que, por um lado se possa tomar para tensdo aos terminais de cada elemento 0 valor da forga electromotriz em vazio e, por outro lado, os elementos mantenham as suas caracteristicas ao longo do tempo, a corrente pedida nao deve 1.26 exceder os 100 mA; a utilizacao destes padrées envolve, por isso, cuidados especiais. 1.2.3.2.8 Padrdo de resisténcia eléctrica padréo internacional de resisténcia eléctrica basela-se, desde Janeiro de 1990, no efelto de Hall quantificado. Este, posto em evidéncia por Klaus von Klitzing em 1980, semelhante ao que se verifica para materiais semicondutores e, com menor amplitude para os materiais condutores, consiste no aparecimento de uma tensdo eléctrica quando se sujeita um gas bidimensional de electroes arrefecido a cerca de 1K a um campo magnético da ordem dos 10 T. O gas de electrées consegue- se, nos dispositivos reais, com uma estrutura de GaAs/Al,Ga,.As em forma de barra, A variagao da tensdo de Hall com © campo magnético tem, para cada valor da corrente que longitudinalmente atravessa a estrutura, um andamento como 0 representado na Figura 1.3. Arresisténcia de Hall, Punt (1.18) tera um andamento do mesmo tipo, apresentando, por isso, zonas planas em que se tem: Ry BK (1.19) sendo Ry uma constants dita de von Kltzing, €n um inter, Teoricamente Rx =

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