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HELENA HIRATA FRANCOISE LABORIE HELENE LE DOARE DANIELE SENOTIER (Orgs.) DICIONARIO CRiITICO DO FEMINISMO 7 e_ ye editora Liberté + Egalité + Fraternité unesp REPUBLIQUE FRANCAISE DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 67. Divisdo sexual do trabalho e relagdes sociais de sexo* Daniele Kergoat As condi¢ées em que vivem homens e mulheres no sio produtos de um destino biol6gico, mas, Sobretudo, comstrugGESISOGiais. Homens e mulhe- res nao sdo uma colecao — ou duas Colecdes — de individuos biologicamente diferentes. Eles formam dois grupos sociais e especifica: as relacdes sociais de sexo. Estas, como todas as relacdes sociais, Possuem uma base material, no caso diffBAIKB) se exprimem por meio da divisao social do trabalho entre 9s sexos, chamada, concisamente, divisao sexual do trabalho. nvolvidos numa relacao social A diviséo sexual do trabalho Essa nogao foi primeiramente utilizada pelos etnélogos para designar uma reparticdo “complementar” das tarefas entre homens e mulheres nas sociedades que estudavam. Lévi-Strauss fez dela o mecanismo explicativo da estruturagdo da sociedade em familia. Mas as antropélogas feministas foram as primeiras que lhe deram um conteiido novo, demonstrando que ‘1a; Tabet, 1998). Utilizada em outras disciplinas, como a Histéria e a Sociologia, a divisdo sexual do trabalho adquiriu, nessas pesquisas, o valor de um conceito analitico, A divisio sexual do trabalho € a forma de divisio do trabalho social de- cotrente das relagdes sociais de sexo; essa forma ¢ historicamente adaptada a cada sociedade. Tem por caracteristicas a destinagao prioritaria dos ho- mens a esfera produtiva e das mulheres a esfera reprodutivaee, simultanea- mente, a ocupacao pelos homens das fungoes de forte valor social agregado (politicas, religiosas, militares etc.). ee Essa forma de divisao social do trabalho tem dois principios organiza- dor (existem trabalhos de homens ¢ outros de mulheres) cod (um trabalho de homem “vale” mais do que um de tmulher). Eles sao validos para todas as sociedades conhecidas, no tempo e RO espago, o que permite, segundo alguns (Héritier-Augé, 1984), mas nao Segundo outros (Peyre eWiels, 1997), afirmar que existem dessa forma des- 6B. HELENA HIRATA + FRANCOISE LABORIE + HELENE LE DOARE » DANIELE SENOTIER a de o inicio da humanidade. Esses principios podem ser aplicados gragas a tum processo especifico de legitimacao ~a ideologia n o género ao sexo biolgico e reduz.as praticas sociais a “papéis sociais” se- turalista—, que relega | xuados, os quais remetem ao destino natural da espécie. No sentido oposto, m termos de divisao sexual do trabalho afirma que as pra- a teorizagao et ticas sexuadas sao construgées sociais, elas mesmas resultado de relagdes sociais, Portanto, ndo mais que as outras formas de divisao do trabalhogaydiviy esoseEnmaloparemraarieiecinuti Shes eee rrganizadores permanecem 0s mesmos, suas modalidades (concepgao de o trabalho reprodutivo, lugar das mulheres no trabalho mercantil etc.) va- riam fortemente no tempo e no espago. Os dados da Historia e da Antropo- logia demonstraram-no amplamente: uma mesma tarefa, especificamente feminina numa sociedade ou ramo industrial, pode ser considerada tipica- mente masculina em outros (Milkman, 1987). Assim, problematizar em termos de divisio sexual do trabalho nao remete a um pensamento deter- minista; ao contrario, trata-se de pensar a dialética entre invariantes e va- riagdes, pois, se supée trazer a tona os fendmenos da reproducio social, esse raciocinio implica estudar ao mesmo tempo seus deslocamentos e rupturas, bem como a emergéncia de novas configuracées que tendem a questionar a propria existéncia dessa divisio. Da opressao as relagdes sociais de sexo A divisao sexual do trabalho foi objeto de trabalhos precursores em va- rios paises (Madeleine Guilbert, Andrée Michel, Viviane Isambert-Jama- ti). Mas foi no comego dos anos 70 que houve na Franga, sob o impulso do movimento feminista, uma onda de trabalhos que geraria rapidamente as bases teéricas desse conceito, Para comegar, lembremos alguns fatos: nao foi tratando a questao do aborto, como usualmente se diz, que o movimento feminista comegou: Foi a partir da tomada de consciéncia de uma opressiio especifica: tornou: coesvamente eden que ural renee ie sahatno oe ela Sistestamente pelas mulheres; que esse tr@BSIHGISENRNAERVEIDG uc era feito a sone ah ines Para os outros e sempre em nome da natureza, do amor © maternal. E a dendincia (pensemos no titulo de um dos primeit®s DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 69 jornais feministas franceses: Le Torchon Brille‘) se desdobra numa dupla dimensao: basta’ de executar aquilo que se conviria chamar “trabalho”; é como se sua atribuicao as mulheres, e somente a elas, fosse automatica e isso nao fosse visto nem reconhecido. Muito rapidamente as primeiras andlises dessa forma de trabalho apa- receram nas Ciéncias Sociais. Para citar apenas dois corpos teéricos, temos o “modo de produgao doméstico” (Delphy, 1998) eo “trabalho doméstico” (Chabaud-Rychter et al., 1985). A conceitu agdo marxista —relagées de pro- dugao, classes sociais definidas pelo antagonismo entre capital e trabalho, modo de produgao~era preponderante na época, pois nos situavamos num ambiente de esquerda, e sabemos que a maioria das feministas fazia parte da esquerda (Picq, 1993) Mas, pouco a pouco, as pesquisas se desligaram dessa referéncia obriga- toria para analisar6 trabalho doméstico como atividade com o mesmo peso dGifFAbALGIPFORSSIOHAINMSso permitiu considerar simultaneamente a ativi- dade realizada nas esferas doméstica e profissional, e pudemos raciocinar em termos de uma divisio sexual do trabalho. Por uma espécie de efeito bumerangue, depois que a “familia”, como entidade natural e bioldgica, se desfez para aparecer prioritariamente como lugar de exercicio de um trabalho, em seguida foi a esfera do trabalho as- salariado, vista até o momento somente em termos do trabalho produtivo e da figura do trabalhador masculino, qualificado, branco, que implodiu (Delphy e Kergoat, 1984). Em muitos paises, esse duplo movimento deu origem a muitos estudos Que utilizam’a abordagem da divisdo sexual do trabalho para repensar o tra- das maitipias divisoes do trabalho socialmente produzido, Essas reflexdes Permitiram trazer a campo conceitos como tempo social (Langevin, 1997), qualificagao (Kergoat, 1982), produtividade (Hirata e Kergoat, 1988) ou, mais recentemente, competéncia. A divisao sexual do trabalho, no comego, tinha o status de articulagao de duas esferas, como indica o subtitulo Estruturas familiares e sistemas pro- aE ee 4 Opano de prato esta queimando. (N.T.) 5 A autora utiliza aqui a expressdo consagrada no movimento: “ras-le-bol”. (N.T.) 70 HELENA HIRATA « FRANGOISE LABORIE » HELENE LE DOARE - DANIELE SENOTIER dutivos, de Sexo do trabalho (Coletivo, 1984). Mas essa nogao de articula. cao se mostrou rapidamente insuficiente: os dois principios — separacao e hierarquia — se encontram em toda parte e se aplicam sempre no mesmo sentido; era necessario passar a um segundo nivel de andlise: a conceituagao dessa relacao social recorrente entre o grupo dos homens e o das mulheres, A APRE (Atelier Production Reproduction [Oficina Produgao Reprodu- cfo]), do CNRS (Centre National de Recherche Scientifique) funcionou regularmente a partir de 1985, desembocando numa mesa-redonda inter- nacional intitulada “Relagdes sociais de sexo: problematicas, metodologias, campos de analise” (Paris, 1987). Paralelamente, algumas participantes pu- blicaram o estudo A propésito das relagdes sociais de sexo; percursos episte- mol6gicos no contexto da ATP do CNRS, “Pesquisas feministas e pesquisas sobre as mulheres” (Battagliola et al., 1986). Entretanto, junto com esse trabalho de construgao tedrica, despontava o declinio da forca subversiva do conceito de divisao sexual do trabalho. O termo é agora usual no discurso académico das Ciéncias Humanas, particu- larmente na Sociologia. Mas na maior parte das vezes é despojado de toda conotacao conceitual e retorna a uma abordagem sociogréfica que descre- ve os fatos, constata desigualdades, mas no organiza esses dados de ma- neira coerente. O trabalho doméstico, que havia sido objeto de numerosos estudos, era muito raramente analisado; mais precisamente, em vez de se utilizar esse conceito para reinterrogar a sociedade salarial (Fougeyrollas- -Schwebel, 1998), fala-se em ti le ‘{dupla jornaday, de “acumulagad ou de “conciliagao de tarefa3”, como se fosse somente um apéndice do tra- balho assalariado, Dai um movimento de deslocamento e focalizagao sobre esse tiltimo (as desigualdades no trabalho, no salario, trabalho em temp? parcial etc.) e sobre o acesso a politica (cidadania, reivindicagao de paridade etc.). Por sua vez, o debate em termos de relagdes sociais (de sexo) é basta” tenegligenciado. és Podemos ver ai 0s efeitos conjugados do desemprego em massa & das novas formas de emprego”, do crescimento do neoliberalismo, do declin® numérico da classe operéria tradicional, da queda do Muro de Berlim, co” suas consequéncias politicas e ideolégicas — o esvaziamento da andlise &™ termos de relagées sociais acima da logica econémica nao poupou nenhu™™ setor das Ciéncias Sociais, DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO 71 As relag6es sociais de sexo A nogao de relagées sociais foi, salvo notaveis excecdes (Godelier, 1984; Zarifian, 1997) ) Pouco trabalhada pelas Ciéncias Sociais na Franca A relacao social é, em principio, uma tensdo que atravessa o campo so- cial. Nao é alguma coisa passivel de teificagdo. Essa tensio produz certos fendmenos sociais e, em torno do que neles esta em jogo, constituem-se grupos de interesses antagonicos. Em nosso caso, trata-se do grupo social homens e do grupo social mulheres, os S quais nao sao em nada passiveis de serem confundidos coma dupla categorizagio biologizante machos-fémeas Esses grupos esto em tensao permanente em torno de uma questio: o trabalho e suas divisdes. Assim, podemos apresentar as seguintes proposi- Ges: as relacGes sociais de sexo ea divisio sexual do trabalho sao expressées | indissocidveis que, epistemologicamente, formam um sistema; a divisio se- xual do trabalho tem o status de enjeu® das relacées sociais de sexo | Estas ultimas sao caracterizadas pelas seguintes dimensées: — arelacao entre os grupos assim definidos é antagénica; — as diferencas constatadas entre as atividades dos homens e das mu- Iheres sao construcdes sociais, e ndo provenientes de uma causalida- de biolégica; — essa construcao social tem uma base material e nao é unicamente ideol6gica; em outros termos, a “mudanga de mentalidades” jamais acontecera de forma espontanea, se estiver desconectada da diviséo de trabalho concreta; podemos fazer uma abordagem histérica e pe- riodizé-la; oe — essas relagées sociais se baseiam antes de tudo numa relagao hierar- quica entre os sexos; trata-se de uma relagao de poder, de dominagao. Essa relagao social tem, além disso, caracteristicas sou lates) como ja vimos, ela se encontra em todas as sociedades conhecidas; além disso, é es- truturante para o conjunto do campo social ¢ transversal a totalidade dese campo, 0 que nao é 0 caso do conjunto das relagdes sociais. Podemos entao considerd-la um paradigma das relagoes de dominagao. Sea © O que esta em jogo, em disputa, 0 desafio. (N.T.) J 72 HELENA HIRATA « FRANCOISE LABORIE « HELENE LE DOARE « DANIELE SENOTIER Do campo epistemoldgico ao espaco do politico Ja vimos que a expresso “divisio sexual do trabalho” tem sentidos mui- to diferentes e que varias vezes remete a uma abordagem descritiva. Isso foi e permanece indispensdvel: por exemplo, a construgao de indicadores con- fidveis para medir a (des)igualdade profissional entre homens e mulheres jum verdadeiro desafio politico na Franca. Mas falar em termos de divisio | sexual do trabalho ¢ ir mais além de uma simples constatacao de desigualda- articular a descrigao do real com uma reflexao sobre os processos pelos | quaisa sociedade utiliza a diferenciagao para hierarquizar essas atividades, ~O contetdo da expressao “relacdes sociais de sexo” é controverso. Para tornar precisos os termos, lembremos que o idioma francés tem a vantagem de propor duas palavras: rapport e relation.’ Uma e outra recobrem dois ni- veis de apreensao da sexuacao do social (tornar o social sexuado). A nogao de rapport social aborda a tensao antagénica que se desenrola, em particular, em torno da questo da divisao sexual do trabalho e que termina na criagao de grupos sociais com interesses contraditérios. A denominagao relations sociais remete as relagdes concretas que os grupos e individuos mantém. Assim, as formas sociais “casal” ou “familia”, que podemos observar em nossas sociedades, so ao mesmo tempo expressao das relagées (rapports) sociais de sexo configuradas por um sistema patriarcal e também espacos de interagao social que vao, eles mesmos, recriar o social e dinamizar parcial- mente o processo de sexuagao do social Insistir sobre o antagonismo ou sobre o vinculo corresponde entio @ duas posturas de pesquisa que se tornam contraditérias quando deixamos 0 plano da observacao para passar ao da epistemologia: sao as relacdes socials que pré-configuram a sociedade. Versus é a multiplicidade de interacoes que, no seio de um universo browniano, cria pouco a pouco as normas, regras que podemos observar numa dada sociedade. E nessa tiltima pets pectiva, relativamente hegeménica nas Ciéncias Sociais da atualidade, 44° somos levadas a falar, por exemplo, de complementaridade de tarefas ©. P consequéncia, designar prioritariamente as mulheres ~ com toda “legitim* dade” ~o trabalho em tempo parcial, ieugiate Come, Podemos ver, esse debate trata nao somente de uma ordem epis: temoldgica, mas contém também umatgrdem politic, Trata-se: 1) deco™ 7 Em portugués, ambas se traduzem por “relacio”.(N.T.) DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO. 73 iagao, 0 trabalho, o Cédigo Civil ) legitimando 0 estado das relacdes de forga entre os grupos num momento dado (Scott, 1990); e 2) expor as novas tensdes geradas na sociedade, procurando compreend deslocam as questées e permitem potencialmente deslegiti normas e representacdes que apresentam como grupos “ Pos sociais constituidos em torno dessas questdes. Em sintese, é poder pen- sar a utopia enquanto se analisa o funcionamento do social etc.) que tém por funcao cristalizar tudo, | ler como elas imar as regras, “naturais” os gru- Portanto, como os grupos de sexo nao sio mais “categorias” imutaveis, fixas, i ee odemos pé ‘4o que os constitui um em fungao do outro (gracas a anélise da evolugao das modalidades das questées sociais) e podemos entao abordar o problema da mudanca —e nao somente do rearranjo — do social. Esse ponto de vista, minoritario nas Ciéncias Sociais, continua, no en- tanto, sendo amplamente compartilhado por aqueles(as) que trabalham em torno da sexuagio do social e reconhecem a opressio de um sexo pelo outro Eisso desde 0 inicio dos anos 70 na Franca. Entretanto, duas questées per- manecem em debate: 1) E necessério centrar a reflexio somente sobre as relagdes sociais de sexo ou, ao contrario, tentar pensar 0 conjunto das relagées sociais em. sua simultaneidade? A tentagao de hegemonizar uma s6 relagao social —no caso, a relagao social de sexo —é grande, mesmo que fosse s6 para tentar preencher o vazio quase total na matéria. Trabalhos geralmen- te brilhantes (pensemos, por exemplo, nos de Delphy, Guillaumin, Mathieu etc.) oferecem instrumentos poderosos, novos e explicati- vos. Mas considerar apenas 0 elo de dominagao homem-mulher e as lutas contra ele é insuficiente para tornar inteligiveis a diversidade ea complexidade das praticas sociais masculinas e femininas. 2) Osegundo debate —e aqui passamos da construgao do objeto de pes- quisa a interpretagao dos fatos observados ~ retorna a caracterizacao da relacao social de Em O sexo do trabalho e nos trabalhos cole- la relacao social de sexo. . _ tivos e individuais que se seguiram, exprimiu-se um amplo consenso sobre a transversalidade das relacdes sociais de sexo. Mas essa carac- terizagao é insuficiente, se nfo se soma.aela.umaoutra dimensio: a ¢ 74 HELENA HIRATA - FRANCOISE LABORIE + HELENE LE DOARE » DANIELE SENOTIER interpenetragao constante das relagées sociais. Tomemos o exemplo do modo de produgao capitalista: ele € construido sobre a separagao dos lugares e tempos da produsao e da reprodugio; quanto a0 que chamamos “trabalho doméstico”, trata-se de uma forma hist6rica particular do trabalho reprodutivo, insepardvel da sociedade salarial, iais so consubst Em outros termos, as relagées soc Esse debate nao se reduz a uma querela escolastica: ele remete a posicées analiticas muito diferentes do ponto de vista tanto cientifico como Politico. das mulheres; Assim, torna-se impossivel isolar 0 trabalho ou o emprego | trata-se, ao contrario, de operar ao mesmo tempo como elementos centrais explicativos, com a evolugao das relagdes de sexo, de classe e Norte-Sul; 0 mesmo vale para a familia, a explosio de suas formas sociais, e suas tenta. tivas de enquadramento juridico; ou também para a evolugao de formas de virilidade, paternidade/maternidade, ou os debates atuais sobre imigragao e agrupamento familiar. Essa consubstancialidade das relacé natureza das fortes turbuléncias que hoje in trabalho. Dois exemplos: nite compreender a divisdo sexual do 1) Diante da precarizagao e da flexibilizagao do emprego, o aparecimen- to eo desenvolvimento dos “nomadismos sexuais” (Kergoat, 1998): nomadismos no tempo para as mulheres (0 grande aumento do tra- balho em tempo parcial geralmente associado a concentragao de ho- ras de trabalho dispersas na jornada ou na semana); nomadismos no espago para os homens (temporarios, canteiros de obras ptiblicas edo nuclear para os operdrios, a banalizacao e a multiplicagao dos deslo- camentos profissionais dos altos executivos, na Europa e no mundo). Aqui se vé bem como a divisio sexual do trabalho e do empregoe, de maneira reciproca, a flexibilizagao, podem reforgar as formas mais estereotipadas das relagdes sociais de sexo. 2) O segundo exemploéa dualizacao do emprego feminino, ‘o que ilus- tra bem o cruzamento das relacdes sociais. Desde o comego dos anos 80, ontimero de mulheres contabilizadas pelo INSEE como “exec” tivas e profissionais diplomadas do ensino superior” mais do que ae brou: cerca de 10% das mulheres ativas esto atualmente nessa ca!” Goria. Ao lado da precarizagio eda pobreza de um niimero resco" DICIONARIO CRITICO DO FEMINISMO. 75 de mulheres (que representam 46% da populacao ativa, mas 52% dos desempregados e 79% dos baixos salérios), assistimos a um aumento dos capitais econémicos, culturais e sociais de uma proporaio de mu- lheres ativas que nao pode ser desconsiderada, Vemos surgir, assim, pela primeira vez na historia do capitalismo, uma camada de mulhe- Tes cujos interesses diretos (nao mediados como antes pelos homens: pals, esposos, amantes etc.) se opdem frontalmente aos interesses da- quelas abrangidas pela generalizacao do tempo parcial, dos empregos muito mal remunerados e nao reconhecidos socialmente e, em geral, mais atingidas pela precariedade. Podemos assim trabalhar em conjunto sobre a totalidade do social sem nos apressar em buscar a “boa” relacao social ou a “boa” identidade indi- vidual ou coletiva. Considerar que essas relacdes sociais nio evoluem no mesmo ritmo no tempo e no espago permite-nos perceber ao mesmo tem- po a complexidade e a mudanga. E, assim, as categorias sociais — eviden- temente sempre definidas pelos dominantes — explodirao, dando espaco a um conjunto mével de configuracées nas quais os grupos sociais se fazem e desfazem e os individuos constroem sua vida por meio de praticas sociais muitas vezes ambiguas e contraditorias. — Desemprego ~ Educagao e socializacao ~ Familia - Coexisténcia dos sexos - Movimentos feministas — Precarizacao social - Trabalho (0 conceito de) ~ Trabalho doméstico > Coletivo. Le sexe du travail. Structures familiales et systéme productif, Grenoble, Puc, 1984, 320 p. Daune-Richard, Anne-Marie; Devreux, Anne-Marie. Rapports sociaux de sexe et con- ceptualisation sociologique, Recherches féministes, 1992, v.5, n.2, p.7-30. Kergoat, Daniéle. A propos des rapports sociaux de sexe, Revue M, abril-maio de 1992c, 153-54, p.16-20, _ La division du travail entre les sexes, in Jacques Kergoat et al. Le monde du travail, Paris, La Découverte, 1998, p.319-29. : Mathieu, Nicole-Claude. Critiques épistémologiques de la problématique des sexes dans le discours ethno-anthropologique [1985], in N.C. Mathieu. L’anatomie politique. Ca- tégorisations et idéologies du sexe, Paris, Coté femmes “Recherches”, 1991, p.75-127, Scott, Joan. Genre; une catégorie utile d’analyse historique, Les cahiers du cri “Le genre deV/histoire”, 1988b, n.37-8, p.125-53. Tabet, Paola. La construction sociale de Vinégalité des sexes: des outils et des corps, Paris, L'Harmattan “Bibliothéque du féminisme”, 1998, 206p. [Textos de 1979 ¢ 1985.] os * Traduzido por VIVIAN ARANHA SABOIA.

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