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capitulo 9 ; . — 0 Liberalismo . socialismo ¢ : mo : ideologia - economico econémica ‘ . . o liberalismo inencontravel 2 histérvia da idéia de mercado Fregienemene se i que o cl. 19 marco © triunfo do capitalismo liberal. Esta constatacio € amis . sua: Com efeito, se 0 capicalismo simplesmente impde sua : lei ao mundo inteiro, subvertenda os mocios de vida e re- volucionando os mados de proxlugio, o liberalismo est 0-conteério, singularmente ausente deste movimento. OC SAE che io vel das oss nernasiorals ees Sd séeulo, 0 protecionismo € a regra, € 0 livre comércio a ‘excesio. A Franga permanece obstinadamente protecio- nista durante toda a primeira metade do século 19, man- tenclo até mesmo certas proibigdes absolutas em matéria ny siete | Bradugio de importagdes. Os Estados Unidos praticamente no se Antonio Penalves Rocha fastam de wma politica aduaneira muito restritiva duran- . . : an te todo o século, A Alemanha se-fecha sobre si mesma ! depois de ter realizado sua unicade aduaneira is .| com a constituigio do Zollverein em 1834. Somente a | Gri-Bretanha torna-se excegdo, abolindo, em 1846, as buireiras aduanciras a0s ceteais e, em 1850, o°célebre Alo de Navegacao (1651) que interditava a importagio de 5 : mércadorias provenientes das colonias em ‘navios que * no fossem ingleses. Mas a Inglaterra 86 € livre-cambista ~ s . or estar no auge do seu poder industrial Espera inun- " Revisiio ‘Réonioa Norberto Luis Guarinello : . é : pail capitulo 9 dar a Furopa, da qual 6 a oficina, com seus produtos ma- nnufaturados, List escrevert no seu ‘Sistema Nacional de Economia Politica que 0 livre cométcio € para ela wh meio da sua polttica imperialist: “Quando se aleanga 0 ccume ca grandeza, uma regra vulgar de"prudéncia orde- nna que se rejeite a/escada usada para tanto a fim de nao djgar aos outros os melos de subit". Esie exemplo da Inglaterra provocari, contudo, uma cera tendéncia 8 l- beralizacio das trocas na Europa da seguncla metade do século 19, io menos sobre uma base estritemente bilate- ral: tratado de livre comércio entre Franga’e Alemanha com 1862, tratado de 1860 entre a Franca e Grt-Bretanha Mas este: movimento seri apenas vin curto, paréntese, Bismarck estabelecerd uma tarifa multo protecionista em 1879, ¢.a Ill Reptibica fard 0 mesmo sob o incentivo de Méline. Na liglaterra, a Camara de, Coméicio de Mans » chester; verdaclera cidadela do livte-cambisimo que, ha- via formado a anti-corn-Law-league, ein 1839, reclama- .#4 gm 1887 0 Fetorio as tarfas, Se a maloria dos tedxicos ;de economia continua a pregar 0 livre-eimbio ¢ de- monstrar seus beneficias € preciso constatar-que, ra pr tia, triunfo protecionismo. Igvalmente nd século 19, a maior pane dos pat ses curopeus desenvolve uma politica de colonizacao exagetada, ainda que Adam Smith, seguido por todos os ‘outros economists, classicos, tehha longamente dentin iad a ilus8 colonial de um ponto de vista éconémi- co. "Quanto 9s inconvenientes resultantes da posse clas coldiias", escrevia Smith, “cada inagto os restiva plena- mente para si; quanto as vaniagens, que sio frutos do seu comércio, 6 obrigada a partililas'com diversas Su tras nagdes” (ef. capitulo IV). & Franca, Alemanba © a Inglaterra se langam, porém, numa custosa competicao para pasilhar o controle da Africa Em matéria de politica interior, o iberaligmo pa-, rece também ter sido esquecido. © papel econdmico e fe capitalisnio, socialismo e ideotogia econdmica social do Estado cresce em quase todos os lugares, prin- cipalmente na Franga,¢ na Alemanha, Traia-se muito ais dle faire aller que de laisser faire. A démanda pela ppresenca do Estado tomna-se uma das retvindicagoes es- senciais do movimento operitio que nao vé outro meio para melhorar sua condigao. Paralelamente, o Estado se desenvolve seguindo uma logica politica propria principio sacrossanto da livre concorréncia nto resiste & forniacio.de trustes e cartéis poderosos. Os Acorclos ¢ os monopslios dlomninam o mergado, No sé- culo 19,-somente a classe trabalhaciora esta submetica as eventualidades € flutuacdes do mercado, alids distor ‘ido em seu prejuizo pela manutencao de um grande exército industrial de reserva, A utopia da sociedade de mercado foi apenas 0 instrumento intelectual que pee mitit~ romper as regulamentacdes que “éntravavam a constituiggo de uma classe-trabalhadora disponivel para os capitalistas (cf. por exemplo, aboligaio em 1834 da lei Speenhamland na Gra-Bretanha). No século 19, no. € 0 capitalismo liberal que. ‘riunfa, mas sim o capitalisnmo selvagem. As “ica” le Derais so em toxlos os lugares canhoneadas pela classe dominante, quando nao as pode utilizar @ seu proveito. A eficdcia pratica das teorias liberais se limitou & abol Go da lei do Speenhamland, que garantia desde de 1795 uni tipo de renda minima a todo individuo, e & (ria de Cobden, 3 testa da anti-Corn:Law-league, para ~ abolir em 1846 as barreiras acuaneiras aos cereais. No- tadamente a esta diltima ago se teferirio os economis- tas libérais, ao longo do século 19, que continuam a tet esperanga na forga transformadora das suas-Idéins. Bas-* tiat-ndo cessard de se apegar a este exemplo como um verdadeiro nijto, alimentando a ilusio de que bastaria 1. CE Pour une nowvelle‘cultere politique. ch. Ik *Nalssance une culture potikiques le socal aise’, capitulo 9 uma acdo de propaganda para dlissipar as trevas dos preconceitos € da ignorancia ¢ acender as luzes da 1 zo e cla ciéncia, Em geral, o mundo cla economia poli- tica € © mundo da sociedade capitalista permanecerio, sem relagio. Pareto did corretamente que “do ponto cle vista exclusivamente direto € pritico, nio se pocleri en. contrat, até hoje, uma grande utilidade clas teorias cla economia politica’ Marcisme et Economie pure, p. 163). Por que estes poucos efeitos priticos das teorias liberais, sobre a economia capitalisia concreta, quando a econo mia politica clissica se apresenta como ciéncia de. um, mundo novo? A resposta a esta questio € tlecisiva lima: 6 ver,'a chave de uma melhor compreensio do que € 0 capitalismo € 0 meio de esclarecer 0 estatuto di ‘economia politica clas A expressio “sistema” capitalista tem freqiiente- cuzido a um erro, © capitalismo.nio é a rea lizagio de uma utopia, ou de um plario de sociedade. Nao € 0 resultado ce uma construgio racional ¢ pre- ‘mecitada. © capitalismo é a resultante de préticas eco- némicas e sociais concretas. Designa uma forma de sociedade na qual uma classe social, os capitalistas, controla a economia e as formas dle organizagao sockal que interferem na vida econdmica, Esta definigio pode parecer banal, ¢ efetivamente € Contudo, per- mite suprimir um equivoco permanente: 0 que consi te em assemelhar o capitalismo, a uma ideologia.(no sentido de representagao do mundo). Se a classe ca pitaliste pode mascarar ¢ justificar a sua dominagio, recorrenclo a uma ideologia {no sentido de. discurso justifieaclor e.n ‘mente a uma regra: a do seu interesse. Por isto, pode set sucessivamente livre-cambista e protecionista, es- tatista ¢ antiestatista. Nesse senticlo, a utopia liberal da sociedade «le mercado € completamente estran! capitalismo, O capitalismo 66 reteve clessa utopia 0 mente ficacos), obedece tniea ¢ exclusiva 244 capitalismo, soctalismo e ideologia econdmica que the convinha praticamente (a afirmagio da pro- priecade privada como fundamento da sociedade, por exemplo}; manteve, neste sentido, uma relagdo pure mente instrumental com 0 liberalismo, Combate E: tado quando este escapa do seu controle, mas 0 refor- a quando é um Estado de classe.a servigo de seus in teresses e que tem entio como fungao, segunclo a for mula surpreendente de Adam Smith, “permitir aos ri- cos dormir tranqjiilamente nos seus leitos", Nao ha sentido algum, portanto, em criticar 0 capitalismo por- que ele nao se, conforma fielmente aos principios do liberalismo econémico © nio realiza o programa da utopia liberal. A tiniea liberdade que reivindlica € para © capital, sendo indlferentemente livre-cambista ou protecionisia de acordo com qual dos dois. favorega esta liberdade. Ele é, antes de tudo, um pragmatismo de classe, & isto que torna os economistas clissicos in- capazes de aprender a-natureza do capitalismo: t0- mam por um sistema 0 que é resultado dle uma prati- ca social, Suas veleidades de transformagao do capita- lismo, com a perspectiva de 0 conformarem 2s suas representagdes liberais da economia, so, portanto, necessariamente sem efeito. Peroebem, por exemplo, como um mal ov uma incoeréncia, que atsibuem 3 ig- noriincia dla “eléncia econ6mica’, o desenvolvimento da intervengo do Estido € so incapazes de com- preendé-a como um produto necessirio, Marx sera o primeiro a romper aparentemente com esti ilusio da ‘economia politica clissica. No seu Discurso sobre o Li- pre-cémércio (1848), mostra assim que de niacla adian- opor © protecionismo ao livre-comércio, Ao pro- nuaciarse a favor deste ultimo € sob uma ética radi- calmente diferente da de Bastiat, por exemplo: “Em geral, nos nossos dias”, escreve, *o sistema protetor € conservadior, enquanto 0 sistema do livre-comércio € destcuidor, Dissolve as antigas nacionalidades ¢ leva capitulo 9 420 extremo o antagonismo entre a burguesia © @ pro- letariado, Em umia palavra, o sistema da liberdade co- mercial apressa a revolugio social Somente por sex: sentido revolucionério, Senhotes, voto a:favor do ti wre-comércio” (Pléiade, 1, p. 156)."Mas,’ a0 mesmo tempo, Macs fica prisioneiro de sua ‘concepsao’ de ideologia, pessistindo em tomar. 6 capitalismo como realizagio' da ideologia liberal (ef. capitulo prececien- 4€), Assim, nada mais faz que deslocartifusio da’éco- .nomia politicd clissica. Em-vez de pensar que o capi- = talismo seri a realizacio da boa sociedade s¢ confor- mar-se aos principios liberdis, considera que ele 6 séri revolucionétio,.ou seja, que levard ao sociilismo ‘no movimento de suas contradigdes sob essa mesima condicao. © capitalismo s6 completard seu “progca- ‘ma’, Sua missio histérica, se encarar a-utopia liberal + £. partir dessa concepeAs que deve ser inves- tigadd a origem de todas as criticas ab capitalismo que :consistem paradoxalmente em acusé-lo'de nao ser fiel # si-mesmo (sendo estatista ou protecionista) € ser, demasiadamente fiel (0 liberalistis, soriente a liberdade do capital.c o capitalisnio selvagem): Esta ambigiidade & somente 6 produto da incompréensio. da diferenga ‘entre 0 capitalismo como resultado de priticas sociais € 0 capitalismo, coma sistema tedrico. De uma’s6 vez, a critica da eéonomia po ca € a critica da sociedade capitalista sio distorcidas. A economia politica € denunciada pelo qué nao é, a saber, 0 simples reflexo da ideologia burguesa nia or- dem da teoria econdmica, O ¢apitalismo € apreendi: do pelo que nto é: a colocagio em pritica da econo: mia politica classica. Retomemos o exemplo do pro- tecionismo. 56 se pode explicé-lo ¢ entenderlsua per- manéncia ao lorigo de todo o'séeulo 19 com a dupla condigio de compreender 0.capitalismo como resul tante de prétices sociais ¢ comésprova.do eardter wt6- socialisma ¢ ideologia econmita 10 da ideologia liberal. Com efeito, 0 protecionisitio (os. manufaturgiros. cle Manchester, teagrupados em torno'de Cobden, eram favoriveis 2 aboligao dos di reitos de importagag dos cereais porque isto Ihes per mitiia baixar os salérios dos trabalhadores) ¢ da! con- figufacdo das'relagdes de forcas entre a8 classes 60- ciais: Deste ponto de vista, 0 protecionismo' do sécu- lo 19 6 em grande.parte o signo da forga politica dos meios camponeses. Ferry disse significativamente, quantio.era presidente da comissio das aduanas no Senado, que "o movimento protecionista atval tem suas rafzes na democracia qué cultiva a vinha, 6 tr- 0. Por isto foi bem sucedido"” Por um outro fado, 0 protecionismo”é a ‘manifestagao conereta da persis- tencia'e da forga das idéntidades politicas nacionals das quais a utopid liberal acreditou poder se libertar. a0 fazer do.vinculo-econdmico a relagto suficiente ‘entre os homens, Assim, 0 sucesso do protecionismo estd,de uma 86 vez;"na ciftica concreta do impensa-, ‘do. politico e'da ingenuidade sociol6gica da economia politica classica ¢ na manifestagao da natureza real do capitalism compreendido como resultante de priti= eas, sociais. O-liberalismo &, portanto, duplamente inencontravel: Seu fracasso.histérico € 0 avesso da sua ilusio teSrica, Mesmo reduzido somente & rectita do *laisser faire, jaisser passer’, nio teria produzide cceitos: concretos. A constatagao deste, fracasso € a ainda cle numerosas interrogagdes sobre 0 estatuto progidiamente ditp da economia politica a0-torigo do sééulo, 19. . "2s pnd MAVEUR,J-M, Les Debus dea Me Rip, Pa ts Sul, 3B 2 capitulo 9 desenvolvimento do capitalismo e desencantamento da economia politica Levar em conta @ distincia entre a sociedade conereta e o discurso da economia politica clissica faz romper unidade aparente desta altima. Ponclo de ludo economistas finalmente marginais como maior parte clos teéricos s0 novamente levados locar a quest2o clo estatuto e dla dlefinicto da econon politica. Estas interrogagdes se desenvolvem em trés dinegdes: = 0 reiGrno a0 projeto. politico: a economia a servigo da politica (List). = A economia politica reduzida a’ um simples meio para assegurar 0 bem-estar geral fa sociedacle (Sismondi. ~ A economia pura como teoria cientifica da tro: ca (Walras), 1, List publica, em 1841, seu Sistema Nacional de Economia Politica depois de ter sido 0 animador de uma ‘associagio geral dos industriais ¢ comerciantes alemaes", miliando pela unio aduaneira interior da Alemzinha, Tendo realizaclo este objetivo, em 1834, pelo Zollverein, a questio rapidamente colocacda foi a de sax ber que atitucle adotar face ao exterior em miatéria acun neira, List se torna entiio um ardente defensor do prote- cionismo, demonstranclo que a instivragio do. livee- cambio provocaria a submissio da Alemanha A toda-po: derosa econdmia inglesa. Mas sum tese nio pode. sim- plesmente ser compreendida clo ponto de vista da.cefe- 52 clos interesses dos industria alemaes. Ble se apéia igualmente sobre uma critica extremamente precisa, cla economia politica de Smith, da qual contesta seus fun- 248 capitalism, socialismo ¢ ideologia econémica damentos, Gensuri noradamente sua “hipstese cosmo~ polita” que 0 faz. esquecer que, entre 0 individuio ea hu ianidde, a nagio permanece como espaco decisivo de iddentidade poltica e social. List compreencle a nagto do ponto dle vista politico ¢ no mais somente de um pon- to de vista social como Smith (nagao = sociedacle civil. Reencontra assim as concepgoes mercantilisias’ que no separam riqueza econdmica e poder politico. O prote- cionismo torna-se, portanto, para cle, um instrumento de gestio politica num universo em cujo interior os in- teresses clas nagdes sao vistos como divergentes (dado ‘que, em termos de posder, as relagdes politicas interna~ cionais levam necessariamente uma soma de resultado zero). Volta-se glabalmente para a aquisigio essenciat da revolugio de Smith, que consistiu cm considerar a ‘economia como tealizagio e suiperagio da politica, no- tadamente a0 nivel internacional, A economia: politica muda, portanto, de estatuio tesrico. List define a econo- mia politica ou nacional como “a que, tomando a idéia de nacionalidade como ponto de partida, ensina como uma dada nagio, na situagko atual do munclo em re- Inco As circunstancias que thes sio particulares, pode conservar e melhorar sev estado econdmico” Systeme national d’économie politique, p: 227). A economia po- Itica € compreendicla como politica econdmica. Nao & ‘uma ciéncia hist6rica, mas uma arte aplicadla, List mos- tra, por exemplo, como nao € possivel conceber as tarl- fas aduaneiras como aplicacio de uma teoria puramen- te “econdmica”. Elas sio necessariamente, a seus olhos, resultantes de um compromisso entre 0s interesses ex- teriotes. proprios das nagdes € 05 interesses interiores «his diferentes classes sociais (mostra Jongamente como 3. Alig € interessante assinalar as numeross redigoes de av tores mercantstas clisicos na Alemanta do segunda me de do século 19. 249] i as consicleragdes clei ais desempenham vin papel de- tenminante na.fixagao das tarifas). A originalidade de List vem do fato de que ele rompe definitivamente com toda visto puramnente terica da vida econémica. O pro- tectonismo,¢ prudentementé apresentédd de uma pers- pectiva “da educacio industial'da nago". No rejeita 0 livre-cimbio no:seu principio, detxando mesmo enten- der inumeriveis vezes que se trata somente de darihe condigdes favordveis, Nao especula sobre as possbilda- des de: realizagao de um mundo no qual o equiltbrio.das telagdes dé forga favorecetia 0 definhamento dos obje- tivos politicos da ecoriomia, Coloca-se assim num terre- 19 diferente do‘de Smith, de quem julga as teorias mais utpicas que filsas, na medida em que correspondein'a ‘uma representagio do mundo.¢ da sociedade que iio tem felaglo alguma com a realidade presente «2 2 Conio List, Sismondi consiéta que a economia politica ctéssica constréi um'universo que no corres- ponde & realidade, Seus Novos Principios de Economia Poltica (1819) constituem a primeira critica social ‘das consequéticias da industrializagdo, Constata que o mun- do da econsmia € 0 campo dos confrontas e das dlivi- ‘sdes entre os homens, e.nao da harmonia. f testemunha do capitalismo nascente ¢ “das crises completamente ' inesperadas (que) se sucederam’no mundo coinercia” Vé 0 sofrimentos que acompanham a industrializagao, ‘0s ricos tornando-se niais ricos € os pobres inais pobres. fa presenca dessas conuulsdés da rigueza’, escreverd, “aereditei que devia rever meus raciocinios ¢ os compa rar com os fatos” (Nouseazex Principes, p. 51, sublinha- do por mim). © procedimento de Sisinondi € particular- mente ‘interessante neste ponto. Nag considera, esies “efeitos perversos” da industializa2o como simples in- fragbes da realidade face a economia politica éléssica, Compreende, ao contritio, essts efeitos inesperados como us apelo para por radicalmente em questao os: socialismo e ideologia econdmica fundamentos mesmos da economia como disciplina. A seus olfios, todo © mal atlvém do fato dle que a econo- mia politica foi .sendo progressivamente concebida -earno' um saber separado dos outros, Para cle, trata-se * dé a.colocar sobre. seus préprios pés, partindo do prin cipio de que “o crestimento da riqueza nto € objeti- vv0 da economia politica,” mas o meio de que' ela dispoe “ para oferécer Felicidade a todos’. Bufet, seu discfpulo, ~. iagnostiea rio mesmo sentido: “todo 0 mal advém'de ite se fez de uma ciéncia moral uma ciéncia, mateinét ca’e, sobretudo, dé que se separdii violentamente coi sas que deviam, permanecer unidas”. A economia polit ca deve, portanto, ser considerada tomo uma ,ciéncia “social, como a da Felicidade dp homem, Deste ponto de vista, Sismondi se considera em completa ruptura com 29s economistas {cléssicos. Falando .dos Principlos da Econonita Politica e do Imposto de Ricardo, nota clara- mente: *Sentimos tanto que marchamos niim, outro ter- , tend, que no citariamés esta obra, nem.para nos ‘apolar nod seus eélgulos, nem para combaté-los, se sua celebri- dade nao nos obsigasse’a Isto” (p. 92). Sismondi dénun- i a ditadura da-abstragio dos clissicos; vé as desor- i ders da indistializagao comé um tipode’revanche cus- } ‘tosa da realidade contex suas simplificagdes e, sobretu- . Ld do, sua visto estreita, Alifs, € interessante notar 2 este “ fespeito que Sismondi poupa Smith" dessa critica, Sis- t mondi vé nele um “génio-criador’. Aprecia-o porque A Rigueza das Nacoes, se presenta, le acordo com ele, como o resultado de'um estudo filOs6- fico do género huniano, esclarecido pela ‘ainalise das re- E volugdes econémicas dos tempos passados. “Esforgou- se", escreve, “park examipar cada fato no estado’ social ‘2 que pertencia, ¢ jamais perdeu de vista as circunstan- clas diversas as quia estava ligado, os resultados sliver: ‘503 pelos quais podid influir sabre a felicidade-nacional* (p- 91). Censita os discipulos de Smith que se larigam a “61 aaa capitulo d 1a abstragao, estimanclo que “a ciéncia nas suas mios & Bo especulativa que parece se destacar de qualquer pritica”, A palavra cle orclem dle Sismondi é, portanto, 0 retorno a0 concreto. Desa perspectiva, estima necessi- tio que 0 governo intervenha na economia para assegu rar 0 bem-estar social, pondo em causa 0 principio do laisser faire e do laisser passer, Deste ponto de vista, ‘economia € politica sto insepariveis, “alta politica” "economia politica” sto dois ramos indissociaveis. da iéncia do governo que devem ter como objetivo a feli- cidade dos homens reunidos em sociedad. Retoma as- sim # economia politica na sua etimologia (aelministra- Gio da riqueza’ nacional), voltando, como List, a uma concepcio politica da economia embora num sentido muito diferente (leva em conta’ toclos 05 membros da s0- iedade ¢ ni a sociedacle em geral): “encaramos © go- verno" escreve, “como devendo ser protetor do fraco contra 6 forte, defensor daquele nao pode se delen- Ger por si mesmo ¢ o representante do interesse perma- nente, mas calmo, de todos, contra o interesse tempori- rio, mas apaixonado, de cacla um” (p. 90). Sismondi se define assim em completa oposigio com a utopia libe- ral de ume extingao da politica no quadro de uma har- monia natural dos interesses. 3. Num sentido completamente diferente Walras procurs ultrapassar os limites e as abstragbes cla economia poltca clissiea. Seu ponto de partida esti, poréin, prOxi- ‘mo do de Sismondi ou mesmo dle List. Como eles, come: 60u por se interrogar sobre o estanulo € o campo cla €co- ‘nomia politica. Mas, 20 fim, ndo chega nem a0 nacionalis- mo piaginatico de List, nem ao socialismo politico de Sis- monel, Quer permanecer inteiramente no dominio cient fico, A propésito, distingue na sua Investigagdo do Ideal So- fal (1858) trés partes da economia e dla ciéncia social ~ 0 estudo das leis naturais do valor de troca & da troca: economia politica pura. 262 sina maint schema * 14, Se bem que ele mio se desinter capitalisino, sociatismo ¢ ideologia econbmiica = A teoria da produglo econdmica dit riqueza so- cial, ou da organizagio da indistia na divisto do traba- Iho: economia politica aplicada. ~ O estuclo das melhores condigdes da proprieda- dle € do imposto, ou teotia da repantigio das riquezas: economia social. Walras se contentard voluntariamente em apro- fundar a seoriz da economia politica pura." Assim, quer fazer uma obra estritamente cientfica, recusando a prio- ri confundi-la com a arte Cecénomia politica aplicaca) ou com a moral (economia social). Assim, Walras res poncle.d abstragio generalizada e involuntaria dos clas- sicos pelo desenvolviniento de-uma abstragio especifi- cae concebida como tal. A economia pura é concebida ‘como limitada no seu campo (@ troca sob um regime hi- potético de livre concorréncia absoluta) ¢ na sua finali- dade (@ teoria matematica de um tal tipo de troca). Wale ras pensa a partir de um sujeito abstrato, 0 bomio oeco- nomics, ¢ nao pretende confundi-to com 0 homem concreto; nao pretende que esta cigneia scja toda a eco- rnomia politica. Mas reivindica que se consiclere a eco- rnomia pura como qualguer outta ciénca fisico-matem’- tica € que se aceite que ela possa dlefinit tipos icleats que servirto de base para a consirucao a priori de um andlaime de teoremas ¢ demonstragdes. A pergunta: “es- sas verdades puras sto de uma aplicagao: freqdente?”, Walras responde: “A rigor, seria liteito do sibio fazer a ciéncia pela cigacia, como € direito do gedmetm (e 0 utiliza toclos os dins) estudar as propriedades mais sin- lares da tigura mais bizarra, se si0 ctiriosas. Mas se acrescenta, “que essas verclades cle economia po- para os mais importan- Titica pura fornecerao a solu 2 pelo resto, pois sev prix inicio leo, publicado em 1865, € consagnido ds Associages populares de consumo, de producao e dle crédito. cian tes problemas, os mais debatidos e menos eselargcicos de economia politica aplicada € de- econoinia Social" Clements d économie politique pure, p. 30). Assim, Wal- tas reivindica sua filiagao a toda tradicio fundada na se paracdo da economia € da moral. Critica numerosas ve- 268 0 espiritualismo que substitui em todos os lugares 0 - diteito ao interesse, vicleritando o principio da verdade cientifica em economia putt ¢ anulando o principio da iistica em economia social, sendo substituido por uma pratica flantr6pica, Declara-se contririo’ a um procedi- mento tiateralista que procura fazer o interesse preva- lecer contra 0 direito (cf. Recherche de Fidéal social, p. 58-9). Alfés, desta perspectiva defender constantemen- te a solucao, mutualista e cooperativa € se consideritd, duranté toda a. sua vida, como socialisia, Parcté, tendo opinides politicas inteiramente diferentes das suas,-con- tinward sua obra, radicalizanclo a separagiio entre econo- mia. ¢ moral, Assim, dé a melhor definigao da ecdénomia pura; "Cofno a mectinica racional considers.pontos ma- {erlals, a econofnia. pura considera © bom oeconom! cus. Bum ser abstrato, sem paixBes nem sentimentos, procurando em todas as coisas © méximo’ de prazer, ‘ocupando-se somenté ein iransformar os beas econdini- os uns €ni qutros.-Ha uma mecAniea do ponto; hid uma economia pura do individus” (Marsisnite.et Economie - pure, p. 107) . -A economia poltica se define para Walras por uunia radical rentincia ao usiversal. Reduz seu campo ¢ limita seu objeto a ponto de ter muito pouicas relacbes com a econiomia, politica classica. Este acessd 8 Por pensarinos agora a-modernidade"como rela tiva ¢,bistbrica podemos compreender esta conivéncia entre a utépia liberal ¢ a utopia Socialista, ea partir dai; (os seus limites comuns. Com ¢feito, elas mantém wma relagio‘anjloga, 36 suas perversbes prOptias eas suns ciflcas recipiocas, O'socialismo ut6pico rejeita global- inente 0 capitalisino, mas permanece cego sobre 0 seine tido piofundo da ideologia econémica no interior da qual cle se molda intgiramente.. Do mesmo modo, 0 li- beraljsmo dentincia 0 coletivismo, apreendenilo-o s6 como umn despotisme radicil; no analisa sua relacio comh 0 individualismo,-na medida em que veicula a ilu- slo de uma sociedade despalitzada na qual a democra- cia'se reduz s0 conseriso. ‘ 263

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