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5 Antropometria como Método de Avaliagao do Estado de Nutricdo e Satide do Adulto Marcia Gongalves Ferreira e Rosely Sichieri A untropometria se destaca, entre os demais métodos utilizados para a avaliagio nutricional de adultos, ‘como um bom preditor das condigées de satide, nutrigio e sobrevida. Nos estudos populacionais, ressalta-se suua grande vantagem de possibil baixo custo, uma vez que os instrumentos utilizados nas mensuragGes podem ser transportados com certa facilidade. tar a afericdo acurada de medidas das dimensoes corporais de forma simples € a um. ‘Apesar de sua simplicidade, a falta de padronizacio na avaliagio antropomeétrica pode comprometer a qualidade dos dados pela introdugao de erros sisteméticos e aleatérios relacionados ao avaliado, a0 antropometrista ¢ aos instrumentos utilizados na coleta das informagées. Portanto, assim como ocorre em ‘outras dreas das ciéncias, a avaliagio antropométrica deve ser realizada criteriosamente e utilizando técnicas de medigao amplamente testadas. ‘A maiotia dos métodos antropométricos usados na avaliagio da composigio corporal bascia-se em um modelo no qual o corpo é constituido por dois compartimentos quimicamente distintos: 0 compartimento de gordura ea messa livre de gordura (Gibson, 1990). As medidas antropomét: mente no individuo, em algum ponto anatémico, ou na superficie corpérea como um todo. A combinacio de cas sio avaliagoes realizadas direta- medidas gera os {ndices antropométricos. Os indicadores, por sua vez, so construfdos com base nos indices, relacionando-se ao seu uso ¢ aplicacao (WHO, 1995). Padronizagao na Coleta de Dados Antropométricos e Fontes de Erro na Mensuragao A coletade dados antropométricos exige a padronizagao da técnica de aferigdo dos antropometristas e dos instrumentos utilizados na avaliagéo. Padronizagao da Técnica de Aferigao pesquisador responsivel deve disponibilizar para o trabalhador de campo um manual que contenha instrugbes detalhadas sobre todos os procedimentos que serio necessérios, a fim de garantir a confiabilidade das medidas que estdo sendo realizadas, Passos para afericio: a) As medigGes devem ser realizadas num ambiente 0 Epidemiologia Nuricional mais confortivel possivel para os sujeitos; b) A equipe de campo deve contar com 0 antropometrista € um assistente, que ausiliard na tomada das medidas, além de se encarregar das anotagGes dos dados; c) O avaliado deve manter-se de pé, com o corpo relaxado, bragos ao longo do corpo, pés levemente separados; d) Deve-se solicitar a0 individuo que fique com 0 minimo de roupa possivel (ex.: trajes de banho) € sem sapatoss ©) O avaliado nao deve usar qualquer penteado ou adorno na cabeca (rabo de cavalo, coque, boné, arco ou outros acess6rios); f) O individuo ndo deve estar usando relégios, correntes, pochetes, cintos ou portar telefone celular; ¢) Os resultados das medigBes devem ser anotados imediatamente apés sua obtengio, para evtarerros de registro dos dados. Instrugdes detalhadas sobre aferigio de medidas antropométricas esto dispontveis no manual de Lohman, Roche e Martorell (1988). Padronizagéo dos Antropometristas No treinamento do antropometrista deverao ser incluidas nogGes sobre a anatomia bésica do corpo huma- no, uma ver que as marcagSes e medigées sio feitas com base na identificacao de sitios anatémicos especificos. ‘A falta de uniformidade nos procedimentos é uma das principais causas de vis na coleta de dados antropométricos. ‘A validade dos dados coletados depende, segundo Habicth (1974), da precisio e exatido conseguidas pelo antropometrsta durante as medigées. A precsio é capacidade do antropometrista de obter o mesmo valor cada ver que tealiza a medida antropométrica no mesmo individu. Essa capacidade depende do trcinamento, ¢ para algumas medidas, aexemplo da afericio de dobras cutineas, 0 processo pode ser demorado. A exatidao se refere habilidade do antropometrista em se aproximar o méximo possivel da medida real do individuo que estd sendo avaliado. Para iden ‘uma técnica relativamente simples. Elege-se um. Em seguida, supervisor e reinandos registrario medidas repetidas dos mesmos individuos (pelo menos de pes- s0a3), As medidas em diferentes locais devem ser feitas em série, para evitar que a segunda medigéo seja influen- ciada pela primeira. Os antropometistas que estdo sendo treinados nio devem ter acesso aos resultados obtidos pelo padrio-ouro. Os dados obtidos sio registrados em folhas separadas, cujos valores serio comparados quanto 4 precisio e exatidio, Apés treinamento, a preocupacio inicial é com a precisio das medidas dos antropometrstas, E mais fécil o treinando concordar com ele mesmo em medidas repetidas do que atingir o valor obtido pelo padrio-ouro (confiabilidade entre € intra-antropometrista). ‘A padronizagio proposta por Habicth (1974) consiste no seguinte procedimento: cada trcinando repete @ medida duas vezes para dez observagées diferentes, ¢ a soma dos quadrados das diferengas para 0 mesmo antropometrista define a confiabilidade intra-individual (0 autor chamou esta afericto de precisio), ao passo que soma dos quadrados das diferenas entre dois antropometrstas para a mesma observacdo define a confiabilidade entre individuos (o autor chamou esta afetigio de exatidio). Quando um antropometristaatinge uma confibilidade intra-individual menor do que duas vezes a confiabilidade intra-individual do supervisor, le & considerado preciso; quando ele apresenta uma confiabilidade entre individuos menor do que trés vezes a confibilidade intra-individual do supervisor, o treinando é considerado padronizado. Os dados podem ser dispostos na folha de cdleulo como: far em que momento o treinamento se encontra em nivel satisfatério, Habicth (1974) propos juo que seri o padtio-ouro (geralmente ¢ o supervisor. a= primeira medisio bb = segunda medigao d=a-b &? = a precisio ~ obtida pela soma das diferencas entre a primeira e a segunda medigbes elevadas 20 quadrado Antropometria como método de avaliagio... = soma dea + b do examinador S = soma de a+b do supervisor Des-S D? = é a exatidao — cada par de medidas ¢ somado, sendo calculadas as diferengas das somas entre 0 avaliadot em treinamento ¢ o supervisor (padtéo-ouro). As diferengas sio elevadas ao quadrado e seu somatério calculado (Os resultados sio analisados dentro dos seguintes critérios: 1) O somatério de d? do supervisor seré 0 menor, supondo-se que ele seja o mais competente dos antropometrstas. 2) O somatério do avaliador em treinamento tem relacao inversa com a precisio, ¢ assim nao deve exceder 0 dobro do somatério de d? do supervisor. 3) O somatério de D* tem relago inversa com a exatidio, nio devendo exceder o triplo de somatério de d? do supervisor. Figura 1 ~ Folha de célculo para teste de padronizagio Nome de examinador: Data: __| Precisio. Exatidao Individual] a | b | d | @ s[s|[D|> 8 9 10 ‘Somas Fonte: adaptada de Habicth (1974) Padronizagao dos Instrumentos ‘Todos os instrumentos utilizados na avaliagio antropomérrica devem ser padronizados ¢ regularmente calibrados. A correta afericao de medidas antropomeétricas depende da integridade e do bom funcionamento dos Epidemiologia Nucricional equipamentos utilizados. A manutengio dos instrumentos contribui em muito para a qualidade das medidas obtidas e deve ser feita por érgtos competentes ou firmas autorizadas. Fontes de Erro na Mensuracao de Medidas Antropométricas A presenga de erros na mensuragio das medidas pode ocorrer em fungéo de: 1) Erto introduzido pelo antropometrista: esta variabilidade pode ocorrer pela falta de treinamento, pelo manejo inadequado dos instrumentos de medida e por erros de leiturae registro dos dados. 2) Enro devido ao avaliado: sfo variagées nas medidas que se referem 3 variabilidade biol6gica ca outras caracteristicas intrinsecas do individuo. Ex.: variagbes de peso e estatura em diferentes periodos do dia, presenga de edema etc. 3) Erro devido ao instrumento: instrumentos mal calibrados ou defeicuosos contribuem paraa variabi- lidade nas medidas Hi também o erro intrinseco a uma medida, como ¢ 0 caso da grande variabilidade observada na afe de dobras cutaneas (Gibson, 1990). Mensurar dobras cutdneas é uma tarefa di paciéncia do avaliador. i, que exigetreinamento intenso ‘Todos esses erros podem ser minimizados pelo trcinamento e checagem dos antropometristas, padroniza- ao de técnicas ¢ refinamento dos instrumentos (Lohman, Roche & Martorell, 1988). A realizagao de mais de uma medida, adotando-se a média como valor final (média de duas ou mais leituras, dependendo da variabilidade da medida), é uma estratégia que contribui substancialmente para a melhoria da precisio, uma vez que o impacto do erro aleatério € reduzido pela repeticio. Principais Medidas Antropométricas Utilizadas na Avaliagao de Adultos Peso peso representa a somatéria de todos os componentes corpéreos refletindo a massa corporal total. Raras vezes € utilizado isoladamente nas avaliagées de adultos, sendo mais freqiientemente combinado & estatura. O peso corporal é uma das medidas biol6gicas que se obtém com maior precisio em estudos epidemiolSgicos, possuindo alto grau de reprodutbilidade. No entanto, a medida pode ser afetada por alteragSes na hidratagao e pela ingestao alimentar recente (Willett, 1998). © peso de adultos pode variar até cerca de 2 kg, durante o dia (Gordon, Chumlea & Roche, 1988). Os valores mais estiveis séo os obtidos regularmente pela manha, apés 12 horas de jejum e com a bexiga vazia. Como nem sempre € possfvel padronizar o tempo da avaliagio, ¢ importante registrar a hora do dia em que foi realizada. Valores para o peso podem ser obtidos por meio de balangas mecini- cas ou digitais portéteis, que tenham precisio de aproximadamente cem gramas. Como a medida é pouco varid- vel, recomenda-se uma tinica mensuragdo. Antes da pesagem, 0 antropometrista deverd certificarse de que a balanga esté tarada. A medida deve ser tomada estando 0 avaliado com o corpo ereto e a cabega erguida, com 0 peso distribuido igualmente nos dois pés, os bragos estendidos ao longo do corpo. A manutengio periédica das balangas ¢ essencial, assim como sua calibragio. peso refetido tem sido utilizado em alguns estudos epidemiolégicos. Geralmente, hd uma boa concor- dincia entre 0 peso medido e 0 peso informado. Nos Estados Unidos, a correlagio observada entre 0 peso referido ¢ 0 peso aferido para adultos de ambos os sexos pode chegar a 0,99 (Willett, 1998). Palta e colaboradores 9% Ancropometria como método de avaliasio. (1982) observaram uma concordincia elevada entre peso referido ¢ a medida direta obtida de americanos adul- tos, havendo maior freqiigncia de subestimagao entre as mulheres. Na populagzo japonesa, também tém sido evidenciadas altas correlagées entre peso ¢ estatura informados, comparados aos aferidos, em ambos os sexos (Wada et al., 2005). No Brasil, estudo realizado por Fonseca e colaboradores (2004) também mostrou uma alta associagdo entre 0 peso informado e o peso aferido em homens e mulheres (coeficiente de correlagao intraclasse = 0,977), tendo sido observada uma leve subestimagao em ambos os sexes. Estatura Acestatura ¢ 0 maior indicador da superficie corporal total ¢ do comprimento dos ossos, exercendo uma importante influéncia sobre o peso corporal (Gordon, Chumlea & Roche, 1988). A estatura final de um indivi- duo softe a influéncia de fatores genéticos e ambientais. Em paises onde a desnutrigao & um problema de saide publica, a estatura é um poderoso indicador de deficiéncia nutricional (Sichieri, Pereira & Ascheiro, 2000), Em estudos epidemiolégicos, é um indicador particularmente til porque pode refletir a influéncia da dicta pregresst, que dificilmente pode ser avaliada de outra forma (Willett, 1998). A estatura sentada tem sido utilizada em estudos epidemiol6gicos como marcador de desnutrigao pregressa e de risco de obesidade na idade adulta (Veldsquez-Meléndez et al., 2005). Assim como o peso, a estatura de adultos também pode variar durante o dia, Geralmente, valores maiores de estatura sio obtidos pela manhd, podendo haver redugdo da medida em até 1% durante o transcurso do dia (Norton et al, 2000). A medida da estatura é mais varidvel do que a medida do peso, por isso recomenda-se a realizagio de pelo menos duas mensuragées, adotando-se a média como valor final. Quando a diferenga entre as das aferig6es for superior a 0,5 cm, as duas medidas devem ser refeitas. O cstadiémetro 0 instrumento utilizado para aferir estatura. Durante a medigio, 0 individuo devera ser posicionado de forma ereta, a cabega deverd estar erguida, com os olhos mirando um plano horizontal 3 frente, de acordo com o plano horizontal de Frankfurt, com a coluna vertebral e calcanhares encostados na parede sem rodapé ou porta, joelhos esticados, pés juntos e bragos estendidas ao longo do corpo. A estatura referida também tem sido utiizada em estudos epidemiolégicos envolvendo adultos. Em geral, a concordancia entre estatura aferida e informada também ¢ elevada, porém menor do que a encontrada para 0 peso, segundo estudos realizados em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil (Willett, 1998; Fonseca et al, 2004). E mais comum notar-se superestimacio para a estatura informada, principalmente entre homens. Dobras Cutdneas A medida de dobras cutineas (ou pregas cutineas) é um procedimento muito utilizado para estimar a gordura corporal subcutanea, No entanto, apresenta limitagdes como: 1) O tecido subcutineo nao é uniforme- mente distribuido pelo corpo, e, por isso, faz-se necessério tomar mais de um sitio na avaliagio; 2) Nem todos os depésitos de gordura corporal podem seracessados pelo adipdmetro (ex.: gorduta intra-abdominal c intramuscular); 3) A reproduttbilidade de medidas de dobras cutineas é a menor dentre a de todas as medidas antropométricas. Em individuos muito magros ¢ em obesos, a acurdcia da medida ¢ ainda mais prejudicada (Willett, 1998; Norton et al., 2000), A padronizagao dos antropometristas utilizando o método proposto por Habicht (1974) pode ser de dificil aplicacéo, pois uma ou poucas medidas muito discrepantes tém uma influéncia muito grande nas medidas de concordancia, Sichieri, Fonseca Lopes (1999) mostraram que o coeficiente de correlagio intraclasse pode ser mais adequado para a padronizagio dos antropometristas na mensuragio das dobras cutineas, O treinamento exigido para que 0 individuo se tore um bom avaliador de dobras cutincas é intenso. O avaliador precisa adquirit habilidade suficiente para detectar exatamente a porgio de tecido que deve ser Epidemiologia Nutricional pingada. £ importante certificar-se de que somente a pele ¢ 0 tecido adiposo subcutineo estio sendo pingados, ¢ de que o tecido muscular subjacente néo esté sendo pressionado. Se houver dificuldade na afericao, deve-se solicitar a0 avaliado que faga contragdo do misculo para facilitar a separagio dos tecidos. Adicionalmente, a localizagéo incorteta dos sitios representa importance fonte de erro. A utilizagio de marcas sobre a pele, que podem ser fetas com o auxilio de uma caneta demogrifica nos pontos anatémicos 2 serem avaliados,reduz esse erro Dada a grande varibilidade da medida de dobras cutineas, rcomenda-se que o procedimento de aferigio de cada sitio seja feito por trés vezes, considerando-se a média obtida nas mensuragdes como valor final. Se a diferenca entre pelo menos duas medidas for maior que 1 mm, deve-se desprezar as medidas e repeti-las. O antropometrista deve ser treinado para efetuar as avaliagdes de sitios diferentes em série, ¢ de forma sucessiva, ou seja, primeiramente ele deve completar toda a primeira série deavalias6es, depois realizar a segunda série comple- ta, passando em seguiida & terceira, Trata-se de uma estratégia para evitar 0 erro sistemético. ‘As dobras cutineas mais comumente avaliadas sio: a triipital, a bicipital, a subescapular ea suprailfaca. As dduas primeiras sio mais usadas para representar a dstribuicao perférica da gordura, ao passo que as duas iltimas geralmente representam depésitos centrais da gordura corporal (Wille, 1998). A somat6ria de dobras cutdneas (quatro sitios) pode também ser utilizada para estimar a densidade corporal. Para calculé-la, pode-se utilizar as ‘equagées de regressio que serio discutidas no capitulo 8, “Composigio corporal na aaliagao do estado nuticional”. Procedimentos a setem observados na aferiglo das dobras cutineas em quatro stios espectficos (Harrison ecal., 1988; Norton et al., 2000): 2) Dobra cutinea tricipital: soliciar que o individuo flexione o brago em diresio ao térax, formando uum Angulo de 90°. Com auxilio de uma fita apropriada, determinar 0 ponto médio do brago, marcando-o com a caneta demogrfica. O ponto médio do brago esté localizado entre a projesao lateral do processo acromial da escépula e a margem inferior do olécrano da ulna. Solicitar que © individuo fique com 0 braco estendido ao longo do corpo, com a palma da mao voltada para a coxa. Esta prega se toma com 0 polegar e © dedo indicador esquerdos, na marca do ponto médio, na superficie mais posterior do brago, sobre o triceps. O local marcado deverd poder ser visto de costas, indicando que é o ponto mais posterior do triceps. O avaliador, suavemente, pega uma dobra de pele e tecido subcutinco entre os dedos eo polegar,aproximadamente 1 cm abaixo do nfvel marca- do, pinsando a pele ¢ 0 tecido adiposo subcutinco. bb) Dobra cutinea bicipital: esta prega se toma com o polegar ¢ 0 indicador esquerdos, na marca sobre a linha média, verticalmente ao cixo longitudinal do brago, na sua parte mais anterior, sobre 0 biceps. O avaliado deve estar com 0 braco relaxado e a articulagao do ombro com uma leve rotagio externa. ©) Dobra cutinea subescapular:solictar ao individuo que fique de pé, com os bragos estendidos a0 longo do corpo. Tocar com o polegar esquerdo o angulo inferior da omoplata para determinar 0 ponto inferior mais protuberante. Quando for dificil identificar esse pont, solicitar que o indivi- duo leve o brago flexionado para tris. Dois centimetros abaixo deste ponto, tomar a prega com 0 polegar o indicador esquerdos no local marcado, em uma diresio que se desloca lateralmente ¢em forma obliqua para baixo, a partir da marca subescapular, em um Angulo (de aproximadamente 45°), determinado pelas linhas nacurais da prega ¢ da pele. 4) Dobra cutinea suprailfaca: esta prega se toma imediatamente acima da crisa ilfaca, na estatura da linha ilioaxlar, obliquamente. Solictar ao avaliado uma leve abdugio dos bragos, ou que cruze 0 braco acima do peito e coloque a mio direita sobre 0 ombro esquerdo. Alinhar os dedos da mao cesquerda sobre a cist ilfaca, pressionando para dentro de mancira que os dedos se movam sobre a Antropometria como método de avaliacao. «tistailfaca. Substituir os dedos pelo polegar esquerdo e posicionar o dedo indicador a uma distin- sia suficiente por cima do polegar, de modo que esta posigso constituiré a dobra a ser medida. Circunferéncias ou Perfmetros Embora o termo mais adequado para referit a medida seja perimetro, estas medidas sio normalmente 40,0 Fonte: WHO (1998) Avaliagio do Padrao de Distribuicao da Gordura Corporal Nas iltimas décadas, considerdvel atencio tem sido dada ao papel exercido pelo padrio de distribuigao da gordura corporal na morbidade e mortalidade, independentemente da adiposidade total. As diferengas na local zasio da gordura corporal sio marcadas, principalmente, por caracteristicas relacionadas 20 sexo: 0 homem tende ‘um maior actimulo de gordura na regio abdominal, 20 passo que « mulher concentra maior quantidade de Antropometria como método de avaliagzo. ‘ecido adiposo na regio ghitea (Vague, 1956). A locaizasio abdominal da gordura é mais importante do que a masts foal de tecido adiposo para o desenvolvimento de vias doengas serédiscutida no capitulo 22, “Aspectos «epidemiolégicos e nucticionais da sindrome metabulica” Nio hi sonsenso com relasio 20 marcador antropomeétrico mais confvel para avaiar depésitos abdomi- nals de gorda. A cicunferénca da cincura tem sido mais utlzada por sua maior praticidade Ean opulagées quasasianas, esa medida, isoladamente, parece set a mais efetiva na avaliagio do sco de desenvolvimente de docnsas crdnicas ndo transmissves. Contudo, em muitos estudos em que a cintura foi considerade c melhor Preditor de rico, o eftito da adiposidade total nio foi removido. Essa condigao & ensencal, dada clevada cotrelagdo exisente entre indicadores de adiposidade total (MC, percentual de gordura ¢cintura No Brasil alguns estudos que avaliaram desfechos diferentes vém mostrando a superiordade da RC [Qem ‘elagdo& cineura como marcador da gordura abdominal, A primeira pesquisa brasileira + mostes tse evidencias foi um estudo transversal, de base populacional, realizado na populagio adulta da cidade do Ric de Janeiro (Pereira, Sichier 8 Marins, 1999). Os resultados revelaram uma elevada correlasdo da cintura com ¢ IMC, ea RCQ foi mas eficiente na predigéo da hipertensio arterial. Um outro estudo realizado no Rio de Janeiro, entre adolescentes com sobrepeso, analisou o papel de marcadores antropométricos no tisco cardiovascular, encontran- do resultados semelhantes para a correlagio entre IMC e cintura. A RCQ foi melhor preditor de High Density Lppoprotein (HDL) e da relagio colesteroltotal/ HDL entre os adolescentes (Oliveira, Veiga & Sichieri, 2001). Em Salvador, Ptanga © Lessa (2005) evidenciaram a maior eficicia da RCQ pars discriminan 6 risco coronariano clevado. Um outro estudo brasileiro conduzido por Lemos Santos e colaboradores (2004) anaisen © poder prediivo da cintura eda relacio cintura/quadrl nas disipidemias em estudo transversal de doaderes de Sangue. Potencicisfatores de confusio foram controlados, inclusive a adipasidade total epresentada pelo percentual cle gordura corporal ou pelo IMC, em modelos separados. O percentual de gordura corporal mostrou-se mais cficiente que o IMC na remogio do efeito da adiposidade total. As correlagSes entre indices de adiposidade total ¢ de localizagéo de gordura foram maiores entre individuos mais ovens (20-30 anos) quando comparados aos ‘mais velhos (31-59 anos). A RCQ mostrou-se mais independente d. $8es observadas foram menores (em tomno de 0,50 para os mais jove entre IMC c percentual de gordura com a cintura variaram em torn ia adiposidade total, uma ver que as correla ns € 0,40 para os mais velhos). As correlagbes no de 0,90 para os mais jovens ¢ 0,83 para os ‘mais velhos. Os resultados mostraram que apenas a RCQ foi preditora da relacdo colesteral/ HDL elevada, e que a cintura mostrou-se um bom marcador de hipertrigliceridemia, Vale resaltar que muitos estudos que elegeram a cintura como melhor m: arcador antropomeétrica de risco, especialmente do risco cardiovascular, nao controlaram outros imy iportantes confundidores dessa associacio, tais como o tabagisim,o consumo de dcool ea prética de atvidade sca Isso poderaexplicay, pelo menen ems parte, algumas das controvérsias da literatura. Apesar das divergéncias, continuam sendo utilizados como referéncia os pontos de corte preconizados pela OMS para a cintura e relagéo cintura/quadril (WHO, 1998), Limitagées da Avaliacao Antropométrica A principal limitagz do IMC estérelacionada ao faro de ndo separar os compartimentos de gordura ¢ imassy mag. Esta cestrigdo dificulta a sua uiizagéo como marcador de adiposidade individual, portm, ena Populasdes, o IMC pode ser considerado um bom marcador de adiposidade total. Uma outra limitagao do IMC €4 sua incapacidade de detectar 0 aumento percentual da gordura corporal que ocorre com o avango da idade (WHO, 1995), embora tal aumento acontega em fases iniciais do processo do envelhecimento, havendo uma ligeira redugio em idades muito avangadas (ZHU et al, 2003). Epidemiologia Nutricional ‘A maior dificuldade para a identificasio dos melhores marcadores antropométticas ¢ seus respectivos pon- tos de corte reside nas diferengas observadas na composicio corporal das populagGes. O IMC e a circunferéncia dda cintura parecem ser bons preditores de risco em populagbes caucasianas. No encanto, para outras populagdes que diferem com relacéo &s proporcées corporais € & constituisao fisica, tanto o IMC quanto a cintura podem iio ser tio apropriados (WHO, 1998), 0 que dificulta o desenvolvimento de pontos de corte universais para os indicadores de distribuigdo de gordura (WHO, 1995). (Os resultados de investigagbes conduzidas nos ilkimos anos em amostras populacionais de paises asiticos constituem um bom exemplo da limitagao do uso de padrées de referéncia baseados em medidas antropométricas obtidas de caucasianos. Chineses, japoneses ¢ outras populagées asidticas vém apresentando elevado percentual de gordura corporal para um IMC relativamente baixo. Metandlise realizada por Deurenberg, Yap ¢ Staveren (1998) confirma essa evidencia, Corroborando esses achados, Zhou (2002), em seu estudo de metandlise, de- ‘monstrou que os pontos de corte apropriados para identficar sobrepeso e obesidade em chineses adultos sio 24- 27,9 ¢ 28 kg/m’, respectivamente. Da mesma forma, os pontos de corre para indicadores da centralizagio de ‘gordura associados a maior isco de morbidade entre esses individuos vém se mostrando menores do que aqueles preconizados pela OMS (Deurenberg-Yap, Chew & Deurenberg, 2002; Lin et al., 2002; Zhou, 20025 Ito et al, 2003). Os pontos de corte para marcadores antropomeétricos identificados em estudos brasileiros so menores do que os preconizados pela OMS, pelo menos com relacio aos indicadores de localizagéo de gordura. Na Tabela 2 sao apresentados alguns desses resultados. Tabela 2 — Melhores pontos de corte para a circunferéncia da cintura ¢ Relagio Cintura/Quadril (RCQ) identificados em estudos brasileiros Font Sujeitos Desfecho Marcador Ponta de cone localizaso de gordura 1.414 homens| 9) LK Hipertensdo exer 1.868 muheres Peter, Sichion & Moris HDL elewade Laat - Referéncias ‘CALLAWAY, 1988. decal. Anthropometric Standardization Reference Manual. Champaign: Human Kinetics Books, CLASEY, J. L. et al. The use of anthropometric and Dual-energy X-ray Absorptiometry (DXA) measures to ‘estimate total abdominal and abdominal visceral fat in men and women. Obesity Research, 7(3): 256-264, 1999. Antropometria como método de avaliagio. DEURENBERG-YAR M.; CHEW, S. K. & DEURENBERG, P. Elevated body fat percentage and cardiovascular risks at low body mass index levels among Singaporean Chinese, Malays and Indians. Obesity Reviews, 3 209-215, 2002. DEURENBERG, P; YAP, M. & VAN STAVEREN, W. A. 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