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“Leva para o museu e guarda”. Uma reflexdo sobre a rela¢gdo entre museus e povos indig Fabiola Andréa Silva Nuseu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Sao Paulo (MAE-USP) A experiéncia dos Asurini do Xingu no museu No ano de 2005 iniciei o projeto “Cultura material e dinamica cultural: Um estudo etnoarqueolégico sobre os processos de manutengao e transformacao de conjuntos tecnologicos entre os Asurini do Xingu”.? 0 objetivo era a realizacao de um estudo sobre os processos de producao e uso de determinados conjuntos tecnolégicos dos Asurini (por exemplo: ceramica trangados, tecelagem, adornos corporais, armas e objetos em osso e madeira) e, ao mesmo tempo, do processo de transmissdo desses conhecimentos em termos intergeracionais. Pretendia refletir sobre o modo como 0 povo Asurini (re)produzia 0 seu modo de viver e a sua cultura material diante da intensificacao do seu interesse pelos bens industrializados e pelo modo de vida ocidental. Como demonstraram diferentes autores 0 estabelecimento de relagées entre as sociedades ocidentais e 0s povos indigenas gera inumeras transformagdes nos modos de producao e uso da cultura material, nos contextos indigenas. Essas transformacées, na maioria das vezes, implicam a ressemantizagao dos bens ocidentais a partir das formas e principios culturais préprios desses povos (por exemplo: Thomas, 1991; Gell 1986; Howard, 2882). Meu interesse, portanto, era apreender como estava se dando esse processo entre os Asurini (Silva, 2013) 1. Projeto financiado pela Fapesp (Processo 2004/86782-1 € 2605/68226-5) Uma das atividades do projeto foi a real de um trabalho de curadoria participatiy colecéo de objetos Asurini, pertencente Dr* Regina Polo Miller. Essa colecao ha formada de modo nao intencional, pois a dos objetos se deu durante as sucessivas permanéncias da pesquisadora na aldeia de 30 anos. Trata-se de um conjunto expr da cultura material Asurini, produzida r U1timas décadas, desde o seu contato of sociedade brasileira, em 1971. Idealize’ dessa colecao por entender que se tratay ‘importante para o entendimento de algun: da trajetéria cultural dos Asurini Como j4 ressaltado por varios autores, coleco etnografica € como um documento « muitas possibilidades de leitura (por e» Ribeiro: Van Velthem, 1998; Pearce, 199% € formada com base em determinada visao coletor, num contexto complexo de inter 0s produtores e num momento histérico pz (por exemplo: McMullen, 2009; Silva; Gor 2811a). Ao mesmo tempo, ela & constituic por objetos que possuem histéria e real’ préprias, cujos significados sao multiple no se reduzem apenas a légica instituc’ dos museus e€ aos sistemas de classificasé museolégicas (por exemplo: Silva; Gordor 2013). A percepcao desses diferentes ni\ Significagao de uma colegao etnografica, f motiva a elaboracao de anlises que cont multiplicidade de olhares sobre os objet exemplo: do coletor, do pesquisador, do do conservador, dos visitantes do museu (por exemplo: Pearce, 1999; Van Velthem, Silva; Gordon, 2613) Nessa perspectiva, a colecdo etnografica Asurini foi entendida como um testemunho da trajetéria de um povo Tupi, de aspectos do seu modo de vida e dos processos de transformacéo cultural pelos quais esse povo vem passando desde o inicio do contato com os brancos. Ao mesmo tempo, esses objetos traziam a subjetividade daqueles que os produziram e usaram e, por isso, possibilitavam relembrar pessoas e acontecimentos de suas vidas Esse conjunto de artefatos também representava © contextualizava as pesquisas de Regina Muller, em termos do seu olhar etnografico, dos seus interesses e das suas relagdes com os Asurini ao longo dos anos. A proposta de curadoria da colecao pressupunha a participacao dos Asurini, pois somente eles poderiam fazer que os objetos contassem as suas Préprias historias. Como j4 vem sendo demonstrado por muitas experiéncias de curadoria colaborativa quando as populacées indigenas interagem com os objetos de colecdes particulares ou depositadas em museus, elas d3o vida a esses objetos, pois a partir deles sao relembradas e revividas historias, mitos, acontecimentos, pessoas, cangées, performances rituais etc. (por exemplo Cruikshank, 1998; Nicks, 2063; Bolton, 2003 Fienup-Riordan, 2003). A primeira etapa de trabalho com a colecao de Regina Maller foi a documentacao fotogréfica de 468 objetos, realizada em 2605 pelo fotdgrafo © professor Wagner Souza e Silva. Apés essa fase preliminar de documentacao dos objetos, em julho de 2005 levei algumas fotos para a aldeia e registrei as informagées dos Asurini sobre os objetos. Em 2007, no prosseguimento da pesquisa, os Asurini vieram a Sao Paulo a fim de interagirem in loco com os objetos da colecao Em abril veio o primeiro grupo, formado por individuos com mais de 56 anos, parentes entre si, com larga experiéncia nos rituais e na elaboracdo dos objetos: Takamui Asurini (homem) Wewei Asurini (mulher), Apewu Asurini (homem) , Moreyra Asurini (homem) e Marakowa Asurini (mulher). Durante 10 dias eles trabalharam na curadoria da colecao, dando varias informacdes: matérias-primas, técnicas de produgao, usos & significados, e, em alguns casos, identificaram as pessoas que haviam produzido determinadas 72 objetos. Ficaram satisfeitos em ver seus preservados, especialmente aqueles que n mais fabricados no contexto da aldeia. A tempo se emocionaram ao visualizar e man objetos que os faziam relenbrar determin episddios de suas vidas e de suas relaco seus produtores. Em novembro de 2607, co alguns jovens Asurini para repetir a exp pois queria observar a reaco dos jovens aos objetos © compard-la com aquela vivi mais velhos. Vieram os seguintes jovens Asurini (homen), Takuja Asurini (homen) , Asurini (mulher), Tukura Asurini (homem) Asurini (mulher), Paradjué Asurini (hone € Ativa Asurini (homem). Durante um dia manipularam os objetos, trocaram ideias | consideragdes sobre os seus nomes e usos objetos eram desconhecidos dos jovens. t em vista nao serem mais produzidos na al Alguns objetos causaram admiracao pela b e maestria de confeccao (por exemplo: ad corporais, vasithas ceramicas e trangado Ficou evidente para mim e para eles prop que 0 seu conhecimento da cultura materi muito distinto do conhecimento dos mais Alguns justificaram seu desconhecimento d “os velhos ndo nos ensinam, nao nos most fazer”; “nossa vida é muito corrida, faz muitas coisas © nao temos mais tempo de © nosso artesanato”. Todos esses Asurini sua permanéncia em $40 Paulo. visitaram | Argueologia e Etnologia da USP e conhece dependéncias (reservas técnica, Laborat salas expositivas, salas de aula etc.) e acervo etnografico e arqueolégico. Concor: que os objetos estavam “bem guardados” e disso, perceberam que nao havia objetos . acervo do MAE-USP (Fig. 1) Nencionei essa experiéncia - cujos dados e reflexo j4 foram publicados (Silva, 2612) - porque ela teve desdobramentos nos anos subsequentes, e foi a partir deles que eu pude entender um pouco melhor © que pode significar a conservacao dos objetos indigenas nos museus, para os préprios povos indigenas Os objetos e o museu na percepcao dos Asurini do Xingu Quando retornei a aldeia em 2008, Wewei - uma das velhas ceramistas que estivera em S30 Paulo em 2007 = me pediu que levasse 0 seu cesto arakuryna para o museu a fim de guarda- lo. Segundo ela, tratava- se do ultimo cesto desse tipo existente seu marido filhos nao sabiam como reproduzir um cesto como esse. “Se ele continuar na aldeia vai se estragar” disse ela. 0 cesto arakurina € um cesto cargueiro utilizado, especialmente, para armazenar objetos diversos no interior das casas ou durante as incursdes pela mata. “€ a mala dos Asurin dizem eles (Fig. 2). De fato, esse cesto esté quase desaparecendo, uma vez que poucos homens dominam as técnicas de sua elaboragao e, além disso, ele vem sendo substituido por objetos industrializados como sacolas, mochilas e malas confeccionadas industrialmente (Silva, 2009) Figura 2 - 0 cesto arakuryna. Eu disse a ela que Levaria o cesto se el 0 desejasse, mas com o tempo o assunto { aparentemente esquecido e nao retirei o da aldeia naquela ocasiao. Ele continua pendurado num dos esteios da casa, cumpr sua funcao de guardar coisas m 218, iniciei o projeto etnoarqueol6s Territério e Histéria dos Asurini do X: que tem como objetivo compreender a traj ocupagao da T.I. Koatinemo, Uma das ativ desse projeto consiste na realizacao, cc Asurini, da localizacao e do georreferer dos seus antigos locais de ocupacao - p¢ pré e pés-contato - ao longo dos igarapé Ipiacava e Piranhaquara. No primeiro anc projeto subimos 78 quilometros do igarar Ipiacava, onde localizamos trés antigas © um acampamento Asurini (Silva, 2013; al., 2611). No Ultimo dia da expedicao nos preparavamos para voltar a aldeva, | de velhos, Moreyra e Marakowa, surgiu cc vasilha ceramica do tipo yava, que serv? armaze transp e que comple em des Disser dever para o guarda era de perfei nao se na ald Segund ela fic aldeia quebra sgura 2 - A vasitha de ceramics yava 2. Projeto financiado pela Fapesp (Proceso 2612/5) Em 2013, na continuidade do projeto navegamos 149 quilémetros pelo igarapé Piranhaquara e localizamos quatro antigas aldeias, todas do periodo pré-contato. Quando chegamos a uma dessas aldeias (Tapipiri), 0 velho pajé Moreyra ‘imediatamente encontrou uma vasilha ceramica japepaf e, abracando-se nela, nos disse que se tratava da vasilha em que ele costumava tomar o mingau quando crianca, e que ela havia sido feita por sua tia, Seguiu com essa vasilha nos bracos © comecou a cantar e relatar suas lembrancas ‘infantis sobre a vida naquele lugar e os grandes rituais que tinha presenciado. A animacao de Moreyra contagiou a todos e, em pouco tempo jovens © criancas foram procurar outras vasilhas ceramicas inteiras. No final do dia tinhamos localizado varias vasilhas, e todas foram levadas ao nosso acampamento. Essas vasilhas foram levadas para serem guardadas na aldeia, na escola ou nas casas. Assim, elas poderiam ser facilmente vistas por todos, pois eram de extrema perfeicao, “como nao se faz mais hoje em dia” diziam os Asurini. Os pesquisadores receberam as vasilhas danificadas ou os cacos ceramicos, para serem Levados ao museu. Num primeiro momento, no entendi a razdo de resolverem reter consigo essas antigas vasilhas, mas na volta da viagem a resposta surgiu nas palavras de Kwain, uma jovem Lideranga. Ele disse: “Fabiola, a gente pode ver esse projeto como um tipo de resgate. Eu vou levar esta panela e guardar para a minha filha e. quando ela crescer, ela vai poder aprender a fazer esta panela do modo como faziam os antigos” (Fig. 4). Figura 4 = Kwain segurande una vasitha ceranica kavior 74 © que podemos apreender sobre 0 significs objetos a partir das experténcias vivenc junto aos Asurini? 1) que 05 objetos séo a materialize de relacées sociais. Eles jamais puros objetos na medida em que t: em si subjetividades diversas, qi sempre ser vivificadas e se manif diferentes situacées e contextos disso, os objetos sao como pesso: tém agéncia e atuam na vida das | Provocando emocdes, acdes e reagi (outros exemplos: Cruikshank, 19: Fienup-Riordan, 2003; Santos-Grai 2009) 2) que os objetos sao o resultado concreto dos processos de aprend e transmissao de conhecimentos e1 diferentes pessoas e geracées. A: além de sua importancia nas ativ cotidianas e/ou rituais, eles tar fundamentais nas dinamicas de col © transtormacao cultural (outros Bowser; Patton, 2008; Wallaert, | Herbich; Dietler, 2008) 3) que os objetos fazem relembrar p histérias € acontecimentos e, po: fazem parte dos processos de con: menéria (outro exemplo: Lagrou. 4) que 05 objetos sao fundamentais processos de construcao da ident alteridade, pois fazem parte da « das relacdes das pessoas com os - (por exemplo: parentes afins e re seres sobrenaturais, outros povo: indigenas, populacdes nao indiger (outro exemplo: Turner, 2009) © que podemos apreender sobre o significs da instituicdo museolégica a partir dest experiéncias vivenciadas junto aos Asur’ 1) que 0 museu é um Lugar onde os o ficam “bem guardados” e, por isso preservam para serem vistos e ler pelas geracées futuras (outro exemplo Fienup-Riordan, 2603) 2) que ao “guardar” os objetos 0 museu preserva as histérias, os acontecimentos 0s conhecimentos que neles estao impregnados e materializados (outro exemplo: Oosten, 2018) 3) que o museu pode ser inserido - enquanto exterioridade - nas redes de transmissao de saberes e producao da meméria (outros exemplos: MacDougall; Carlson, 2009 Liffman, 2009) 4) que o museu é um Lugar potencial de autorrepresentacao © afirmacao de identidade (outros exemplos: Brady, 2009; Shannon, 2009) Os museus € os povos indigenas No campo da Antropologia, o interesse renovado na historia e na cultura material coloca mais uma vez em cena a discussdo sobre as relacdes entre etnografia e pesquisa documental. Além disso, tem havido um esforgo em reincorporar as colecées etnograficas na pesquisa antropolégica e arqueolégica em geral e nos estudos de cultura material, em particular (por exemplo: Van Broekhoven; Buijs; Hovens, 2010; Silva; Gordon, 2613). ‘Ao mesmo tempo, 05 museus que outrora ja foram ‘identificados e criticados como instrumentos do colonialismo ocidental vém sendo percebidos cada vez mais, como lugares potenciais para a produgao e partilha de conhecimentos e de encontro, dialogo e interacdo intercultural (cf. Peers; Brown, 2003; Bear; Zuyderhoudt, 3. Desde o final dos anos 1983, os estudos de cultura material comegaran a ganhar novo féleg na disciplina, sobretudo com fos trabathos de Appacura’ (1986), Miller (1987) © Thosas (1992), cujos desdodramentas se fazen sentir até haje, como mmostran algunas recentes coletaneas, como as de Myers (2061) © Santas-Granero (2869) © 9 numero da revista Fieldiana (2083), con o titulo “Curators, Collections, and Contexts Anthropology at the Field Museus, 1893-2682 (Nash; Feinsan 2203) 2010). As conquistas civis dos povos inc (por exemplo: a aprovacao do Native Amer Graves Protection and Repatriation Act | a apropriacao indigena das instituicées museolégicas tradicionais e a criagao de indigenas sao exemplos desse processo q descolonizacao e indigenizacdo dos muse. Lonetree, 2009; Isaac, 2009; Kreps, 2011 Além disso, intensificam-se as praticas curatoriais colaborativas cuja importanc Limita ao fato de possibilitarem a part’ indigena e, consequentemente, maior ente dos objetos e melhor representacao dess¢ exibigdes (por exemplo: MacDougall; Carl 2089; Liffman, 2009). De maneira reflexiy praticas também permitem pensar, em out terms, a nossa prépria rela¢ao com os © 0 museu. Além disso, permitem rever a “pratica teérica” enquanto pesquisadores profissionais de museu. Outros significad sendo incorporados aos objetos nos muset medida em que no somos nés - os profiss’ de museu -, apenas, que fazemos a pesqu’ organizamos e pensamos sobre eles (cf. 1999; Engelstad, 2010; Kreps, 2011; Sil\ Gordon, 2613) No entanto, como ressaltam alguns autore surgimento dessas novas praticas curator significou a erradica¢ao das praticas col tradicionais. Ainda ha um longo caminho . trilhado para que de fato possamos viven descoloniza¢ao dos museus, sendo necessa continua reflexao sobre os impactos do co nas produgdes culturais dos povos indige © papel que os museus tiveram e ainda tél construcao de representacdes etnocéntric eles. 0s museus precisam cada vez mais a como centros de pesquisa e educagdo, pro conhecimentos alternativos e condizentes a diversidade dos piblicos com os quais incluindo os indigenas, Devem assumir qu instituigdes sociais e tomar partido cia problemas sociais, entre os quais se ins. causa indigena (cf. Kreps, 2011; Straugh 2011; Sleeper-Smith, 2003) Assim como outras ciéncias sociais (anti arqueologia etc.), a museologia esta att um momento de “crise autorreflexiva", e isso tem provocado transformagdes nos seus modos de tratar as questdes relativas aos povos indigenas © outros grupos sociais marginalizados ou subalternos (cf. Kreps, 2011). Fala-se, até mesmo, numa nova ética museolégica que procura refletir e rever as bases estruturais das praticas curatoriais e debrucar-se sobre algumas questées como, por exemplo: 1) a assimetria entre discurso “autorizado” e discurso “alternativo” na cadeia operatoria dos museus (coleta, pesquisa, conservac4o, extroversdo etc.); 2) 0 ativismo dos museus em temas relacionados com a inclusao social e os direitos humanos; 3) a proposicao de politicas e praticas museolégicas (aquisicao de acervo, curadoria participativa, guarda compartithada etc.) com transparéncia e ancoradas nas diferentes demandas e éticas indigenas; 4) © compartilhamento da autoridade na gestao dos acervos etnograficos: 5) a desconstrucao dos estereétipos a respeito dos povos indigenas (cf. Shannon, 2609; Brady, 2609; Stark, 2611; Marstine, 2011) As experiéncias colaborativas com os povos indigenas mostram que ha uma diversidade de expectativas e demandas deles em relacao aos museus. Ou ainda, que cada povo indigena constréi sua prépria representacao sobre o museu e sobre os seus acervos etnograficos (por exemplo: Peers Brown, 2003; Van Broekhoven; Buijs: Hovens, 2019; Silva; Gordon, 2611). Assim, & fundamental refletirmos caso a caso sobre o que os povos ‘indigenas buscam nos museus, como reagem frente aos objetos nos museus e por que desejam fundar seus préprios museus indigenas (por exemplo Vidal, 2008; Isaac, 2609) Palavras finais Numa pesquisa colaborativa realizada com um povo Inuit (Qallunaat) que vive em um territério na Columbia Britanica, foi possivel constatar que esse tipo de trabalho pode se constituir numa forma de “redescobrimento” da heranga cultural dos povos nativos e um exercicio de didlogo entre as velhas e novas geracées. Naquele contexto, a pesquisa foi percebida como uma forma de torna- 76 los habilitados “para criar uma sociedac baseada em suas préprias tradicées e val (cf. Oosten, 2018, p. 63) Minha experiéncia com os Asurini nos ult anos, seja nos projetos de curadoria se} nas pesquisas de campo, tém me mostrado semelhante. Sem divida, o trabalho colat abre indmeras possibilidades de diélogo pesquisadores, museus e povos indigenas disso, revitaliza o didlogo entre as nov velhas geracées Asurini por meio dos obj proporciona a eles transitar pelo seu pi e, a0 mesmo tempo, recriar o seu present palavras de Ajé Asurini, uma jovem lider durante conversa que tivemos em 2011, du a pesquisa colaborativa realizada ao Lor igarapé Ipiagava, exemplifica a fora que experiéncias podem ter em suas vidas: Fabfola: Ajé, em sua opiniao, como futuro dos Asurini? AJE: N6s jovens pensamos que a vide diferente daquela que tem sido a agora. Muitas coisas vao mudar e Nés preservaremos uma grande par nossas misicas. Outras coisas no: perder, porque nés falamos mais ; do branco do que a nossa. Nés na mais com frequéncia a nossa Lingl Lingua vai mudar, porém muitas c quais nés gostamos vao permanece: fortalecer. Nés vamos ficar com o para nos Fabfola: Vocés continuarao sendo As AJé: E claro! NOs certamente contin sendo Asurini. Os Asurini nunca \ morrer. N6S permaneceremos forte: de tudo Fabfola: Vocés serao diferentes dos Asurini? Ajé: Em parte nés seremos diferente que eles costumavam fazer e que ; nao pode ver, estas vao mudar. P aquilo que eles nos mostraram, c permanecera para sempre Os museus tém um enorme compromisso para com os povos indigenas, incluindo a preservacao de seus objetos. E preciso ter claro, porém, que o que eles preservam nao sao os objetos em si, mas as socialidades e saberes indigenas que os objetos materializam. Além disso, é preciso apreender que as colecdes etnograficas sdo 0 testemunho de determinado tempo e das transformacdes que a cultura material desses povos vem sofrendo ao longo do seu processo historico e, por isso, s4o “objetos vivos” (Gordon; Silva, 2085). & nisso que reside a importancia de seu estudo compartithado. Ao olharmos esses objetos vemos os povos indigenas dos tempos passados e os de hoje Eo que sera que os povos indigenas veem nesses objetos? E esta resposta que se precisa continuar buscando com eles Agradecimentos Agradeco aos Asurini por partilharem comigo os seus saberes ao longo dos anos. A Regina Polo Muller pelo acesso a colecdo etnografica Asurini A Fapesp pelo apoio a pesquisa. A Marilia Xavier Cury pela oportunidade de participar nesta coletanea de artigos. A Francisco Noelli pela leitura do texto e por suas sugestdes Referéncias APPADURA, A. (Ed.) The social life of things Commodities in cultural perspective. 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