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MARIA DO CARMO LUIZ * MARIA NAZARE SALVADOR * HENRIQUE CUNHA JUNIOR** A CRIANCA NEGRA) E A EDUCACAO * De Grupo de Divulgacdo do Arte © Cultura Negra do Ara: roar. Gave, Fe Go Centra ce Cultura Atrorasioio Congada IS¥o Carlos RESUMO Neste artigo so dscutidos diversoe aspectos relatvos 3 educopdo da crianea negra numa sociedade domnada pelos valo ‘es da populsedo branes. A edueses0 dada na Famila, na esto Inve em divers situagGer informa € viste como reforeador® do ideal de branquicidade prevolente na sociedade brass OS PARENTESES No trast, sr mumano stn samora sr banc; sind, nego ou cakerle rau iano, eno eae one ee eapor ma Tae © patio orm bronco ¢ wn © ra {ePortamt, quando nla Go mgr spre xp Sh empre anuceo ci ge deenco Tao prs n como negro no eite 2 neu dae Go ‘apca 9 go Oundo von efor Stare, note wabth. Te sberenle crags, ne gar tuando nooo, end, sou enpfoto anes Bch eto vf SUMMARY ‘The authors discuss many issues related to the black child's education in a society dominated by the values of the tehite population. The education gen within the family, in ‘choo! and in many inform! situations is regarded a8 9 reinfor cer of the whiteness ideal that prevails in Brazilian society QUEM SOMOS A\ soouicio no trance sss pais & runercamarte mute ane. Mo tes ur tom day artes, or exinetvar nos fern sea Guu corttumor nade SO% de pope Et pop isd nos tao bd pores puptria, Osu ar mos ce am ¢ un no ante uma cose a tr nuercamanesifetva:e dn dingo a tiburon den doe sr ete poqete tlrston empress ths wa sone aso de Imeompriaoy or dnerpregidor Portanoy ay > Cron de foo pve, sata» tars cial Saws que pourra pons carer nampa bsen CADERNOS DE PESQUISA * FUNDAGAO CARLOS CHAGAS 69 volvido, de capitalismo dependente, como & o Brasil Consideramos que no houve uma abolico, que ndo existiu uma libertaedo em torno de 13 de maio. Assim como podemos considerar © homem no geral no ber to, numa sociedade nos moldes do capitalismo brasilei +0, pesam ainda sobre nbs condicionamentos de quatro: Centos anos de escraviddo, quando foi moldado um con: junto de regras, onde 0 proprio negro se sente inferior zado em relacio ao restante da sociedade branca brasi leira, Essas regras sfo transmitidas as crianeas, sem que (5 informantes percebam 0 quanto as reprimem, conti buindo para 0 desenvolvimento de sentimento de inferio, ridade, impedindo-as de atingir um desenvolvimento ple: no ou, pelo menos, equilibrado. ’ de suma importancia eliminar este conjunto de va- lores criados pela sociedade branca, que geram em nossas criangas inseguranga e negaco do préprio eu, que so carregados vida afora ¢ que se refletem em um numero muito grande de situagSes. Temos que saber dos nossos valores e de noss0s ideais, negando imposig&es. As expe: ridncias de nossas eriangas na rua no serdo tdo impor tantes se estiverem preparadas para o choque social. Estamos preocupados com a educacgo de nossas criangas, como forma de militancia e de combate 8 mito: légica democracia racial brasileira. Apesar de muitas ou ‘tras tentativas estarem sendo realizadas — grupos de tea: tro amador que viajam pelas cidades do interior, grupos de estudo, jornais e revistas, trabalhos em pequenos nndcleos de periferia, incontaveis reunides de debates e conferéncias etc., etc. ~ poucos tém se preocupado com a crianga em si, Nesse sentido, nosso trabalho tem objeti vos mais no campo da reflexdo sobre a educaréo, IDEAL DE BRANQUICIDADE: ORIGEM, TRANSMISSAO E REFORCAMENTO A\ ccrsicritsn do tranco ven da escravidéo, como uma justficativa que the propicia o direito, a moral, em suma, a certeza de poder escravizar o negro. ‘Atualmente o brasileiro s6 & preto para jogar fute bol, dancar samba e beber pinga, no mais, ele é branco. Os ideais de sucesso e realizacao de vida sernpre levam @ idéia de brancura. E corrente na mentalidade popular que “quanto mais claro, melhor". Estes mitos das qui lidades e sucessos essenciais ao branco slo reforcados por todos 0s caminhos de divulgaeio cultural e ainda pelos entraves que nos sé0 impostos no mercado de trabalho. Sendo assim, 0 ideal 6 que os negros tenham o maior ni- mero de requisites brancos, para permitir a reprodugio dda sociedade branca, fixando cada qual em seu lugar (o lugar do negro e o lugar do branco}, produzindo elemen: tos suficientes para manter-nos em desacertos desen- ‘contros que no permitam uma contestacdo mais efeti va Esse Ideal de branquicidade ¢ intensivamente trans mitido e reforcado em nossas criangas, através de to- dos os canais de educacdo. EDUCACAO FAMILIAR O ite aa tama asus ios ‘enham o maior ndmero de requisitos brancos, referindo branco como sucesso na sociedade. ‘A educagdo familiar procura descaracterizar 30 mé: ximo @ crianga, reforgando, 20 contrério, o como ela pensa que 0 branco seja ou aja. E assim que, por exemplo, as eriangas s20 advertidas para no falarem alto, ndo fa larem quando nao solicitadas, pois preto ressalta muito no meio, O objetivo desta educacio é formar 0 preto bem comportado, repraduzir 0 preto obediente, submis- 50 € prestativo, tendo requisitos para ser o preto bem su: cedido na sociedade branca. Procurarse, entdo, fazer com que a crianga nunca tenha atitudes identificaveis como sendo de negros desclassificados, no modo de andar, de se por diante das pessoas, etc. fato de os pais estarem sempre procurndo, in- consciente ou conscientemente, s¢ embranquecer, ge. ra na crianga uma perda ou desvalorizacdo de seu eu. E ‘assim, por exemplo, que as meninas sofrem por ndo te- rem cabelos lisos. Uma educago deste tipo néo acarreta somente a passividade, mas produz nas pessoas profunda angistia e ambivaléneia frente a si mesmas. Por outro lado, a fami- lia ndo ter um grau de conscientizaedo que Ihe permita detectar os entraves que esse modelo de educacao acar- reta para a crianga. Essa distoreo precisa ser corrigida, para nos per- mitir encontrar nossa identidade e expressar um grau de raivindicacdo maior. 70 CADERNOS DE PESQUISA * FUNDACAO CARLOS CHAGAS EDUCAGAO ESCOLAR cola nio pode ser sutentada por pesquisas empiricas, mas pode se apoiar num conjunto de dados observados e de reflexes, © professor, ligado & classe dominante, exerce 0 pa- pel de agente de sua hogemonia, Reproduz com fidelide de 0 que Ihe 6 exigido socialmente, cristalizando um pa dro de ser humano que corresponde ao homem ideal, limpo, calmo, obediente nas tarefas e branco. ‘A escola, vista como um instrumento de reproducdo das relacdes sociais, tende a manter a superioridade do branco @ a nossa inferioridade, pois, ideologicamente, a escola que possuimos é branca, de classe média, Os componentes ideolégicos inculcados no racioci ni dos professores, principalmente primérios, relegam as criangas negras e pobres & condicdo de problema, Estas criangas sG0 estigmatizadas como rebeldes, incapazes, de aprendizado dificil e provindas de meio pernicioso. Todos 0s “problemas” concentram-se na crianea, nunca nna forma de desenvolvimento da educacio oferecida. As difereneas de linguagem também afetam a edu: ‘cago, uma vez que 0s termos utilizados pela escola sd0 comuns dentro de um estrato de populacdo de classe mé- dia urbana. A crianca ndo entende @ no é entendida; portanto, ela é burra e, quando no, quando ela com es- forgo acima do normal vence o meio, é tida como dife- rente, como excesgo. So sutis formas pelas quais a dis criminacdo racial se processa e se mantém na escola. Os testes usados para medir habilidades e capacida des também corroboram os padres esperados. Assim, 0 Jovem no branco e pobre teré um baixo desempenho fem provas de capacidade verbal, mas alto desempe: rnho em habilidades psicomotoras. Contribuiré com seu trabalho fsico para 0 bem-estar da sociedade branca de classe més ‘Apesar da democracia racial, a prética escolar difere da realidade de nosso dia a dia. A hist6ria ensinada 6 fei 1a por brancos e para brancos; nfo existem nossos herdis, fato que traz um grande vazio para a crianca, pois refle te nela que o ser importante é 0 outro, ngo ela. E 2 ima- ‘gem que Ihe é transmitida da Africa se apresenta com os contornos de um continente habitado por negros selva: gens e atrasados. Com tudo isso a crianga sente vergonha de sua cor, Portanto de si mesma. A escola patenteia nela a inferio: ridade. De um lado, quando procura assumir as caracte risticas que Ihe séo transmitidas do negro bonzinho, afas- tando-se, assim, dos demais de sua race, disposta a tudo para agradar 0 grupo e ser aceita, 0 grupo a assimila co ‘mo negro de alma branca, como diferente dos demais de sua raga, De outro lado, ficam os que s30 mal sucedidos na escola: 0 pathaco @ © rebelde. O primeiro faz 0 grupo se divertir com gracejos: uma forma de atrair a atencdo fem torno de si. O rebelde, crianca revoltada, & a que re pole aquela estrutura e se exprime através de agressGes, ‘procurando dar vazso a seus sentimentos. Uma coisa 6 certa: a experiéncia do grupo escolar é {quase sempre traumética para nossas criancas. EDUCAGAO INFORMAL E ities encontrar, em grupos de bringuedos envolvendo eriangas negras e brencas, um Vi der negro. Quase sempre thes é impingido um plano infe- rior: quando uma erianca consegue se impor, & por ser fisicamente mais forte. O tratamento néo & hostil quan- do. nossas criancas aceitam passivamente @ brincadeira A partir do. momento em que reivindicam uma po: methor dentro do grupo surgem os conflitos: tentativas de inferiorizagdo © agressBes verbais tradicionais ~ ne- grinho, macaco, sujo, ete. Nas brincadeiras que requerem agilidade, tals como futebol, corrida, ela 6 respeitads, pois se destaca, sendo melhor que at demais. Nos esportes mais sofisticados, tais como natacao, vélei, etc., néo consegue se impor, pois nfo tom oportunidade de praticé-ios, devido & situagio econémica que io the permite frequentar 6 locais que oferecem este tipo de lazer. Se eliminado for 0 problema de classe, a barreira do preconcsito ro cial the impedira Os brinquedos adauiridos por nossa populagdo s80 modelos idealizados pelos brancos: a menina negra que ‘tem a boneca loira como se fosse sua fillhinha; a bone- ca negra sempre representada com tracos estereotipados; nos baralhos e jogos educativos, a mulher negra adulta representada como cozinheira (ou vice-versa) Quando participamos dos programas de televisio, 0 tomos em nUmero reduzidssimo e colocados como per sonagens engragados ou de nivel intelectual inferior. O ue uma de nossascriangas sente vendo o Mussum ou as- sistindo ao "Sitio do Pics-pau amarelo'"? Tudo isso contribui para o desenvolvimento de blo- Aqueios na erianga durante sua formacao. Tentanto acon panhar a sociedade branca com seus padrées e valores, ela sente que sua realidade essencial é esta, situada numa condigo de inferioridade. CADERNOS DE PESQUISA » FUNDAGAO CARLOS CHAGAS n CONCLUSAO OO contionsmerts produrdos pets sociedad so ios mt forts, prec uel paves indesuttvns ao edndlo no mu cotton, ums {ex gut fee pate de tas formato ede ua ie Noes avis de que nfo vivre em ¢ ears trrconsce conto como peer arte Come combate one produto da soda ci ta genoa enconramos o homer ive gue consis rence si ard desmelumant ee noe tereoubeteh © veenconto de simplca oh enrentr a sociedad bran no todo. Ms pre quo camnh do ib “odo wt num dupa mer prime, near de Wescespropts pelo soeedader apo, nega» propio, pua vita cntodoum exerts rten ep towed io deste davelndnia ia ols Posie nent ests alrmaesprceam ules pos eva 9 Shar ong! pura postormente chee so ho Os tragos clas vos em ns sto muito macs dos «deter come postion ne nots sodedote” Ae primis coves a aun nos os pendomes nest proceso Combatno de dnicats& vate Are, droge Shrcon Esta vot conste puma tentate de etme Se hii deoenconta com oe tre do pee, com homens ane de trem transforma cola pane Cras «palo Senile. A prude, eons com tor ume hits verde war a os repanr com morn esta peripectina, »edvago deve conte ens le mmentou hii A cl tm ques Wantormae no tego da tlrendo Go sr fuerte, iniepeconte tmnt oc, Eta ever corer Mes soca tas us talknd, Sedo action educators com Msdoampla da Telidade, cscentes do eo lite does predeam elimina Ex ura pata mato grade om dg te bara, una ver ue quests arsed nS tho ben detias conte constitu objeto de procura e questionamento para todo um conjunto bem tpl de pesons Este purégrato tarot fle ou ts nos aban molddo pla mito dora dot trove oon ue partecrone «quarto ure ol eater anda do onbrorir psesgupen 2 CADERNOS DE PESQUISA * FUNDAGAO CARLOS CHAGAS

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