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LITERATURA ALEMA Textos e Contextos (1700-1900) Volume I: O Século XVIII Selecedo, traducdo, introducdo e nots de JOAO BARRENTO roan PRESENCA O organizador dos volumes ¢ a Editora agradecem as seguintes Editoras e organizacées @ autorizagdo concedida para a incluso de alguns textos em traducdo portuguesa: Dietz-Verlag, Berlim-Leste (Franz Mehring), Williams Verlag AG, Londres (Stefan Zweig), Sigmund Freud Copyrights Lid., Colchester (S. Freud), Klett Cotta, Stutigart (Stefan George), S. Fischer Verlag, Frankfurt/M. (Hugo von Hofmannsthal) ¢ Késel Verlag, Munique (Karl Kraus) omy Oy. we 36749 FICHA TECNICA ‘Titulo: Literarra Alem Tees ¢ Contestos (1700-1900) Volume 1: 0 Século XVIII Seleegio, taducao, intodugio € notas: Jodo Barremo Joao Barrento ¢ Edioral Presenga, Lisboa, 1989 Capa: Die Kinder Schul, gravuta em cobre, Nuremberg, 1760 Composigio: Grafronic. Ares Grifieus, Lia Impressio ¢ scabamento: Imprensa Portuguesa 1.3 edigio, Lisboa, 1989 Depesito Legal n® 28196/89 Reservados todos 08 direitos pera a lingua portuguesa EDITORIAL PRESENCA, Rua Augusto Gil, 35-4 1000 Lisboa AB OVO, AD RFM: ESTE LIVRO Este livro nasce de uma’ideia e da sua passagem & prética. A ideia {foi, de certo modo, filha das circunstdncias, no momento em que wm infeliz plano de esiudos reduzia a quatro anos as licenciaturas em Linguas e Literataras Modernas e, na prética, quase sempre a dois, ou ‘mesmo s6 a um, 0 tempo disponivel para cadeiras a que, bem ou mal, 2 continua a dar a redutora designacdo de Literatura ou Cultura ‘Alemas. Naquela: circunstancias, impunha-se uma reflexdo sobre wna ‘metodologia e um preenchimento curricular adequados @ situacdo dos ¢studos germanisticos em Portugal. Esta documentacdo é, assim, 0 resultado de uma necessidade constatada e de wma experiéncta testada ao longo dos iiltmos anos. Nela se plasmam, por isso, nao apenas ‘concepcées programiticas iniciais de onde tudo partiu, mas também os resultados da discussdo regular e do trabalho pratico com colegas, que foram contribuindo para que aquelas ideias se tornassem exequi- eis. Eles (alids, elas) «fizeram> também este livro, tal como — pelo ‘menos no que me diz respeito —o fizeram os muitos alunos para os {quais entretanto jui tentando desbravar os terrenos da Literatura ale~ Ima, do século Xim aos nossos dias: nio 6 nas respostas directas que deixaram nos varios inquéritos feitos (sobre programas, metodologias, ‘autores ¢ textos, motivacdes e preferéncias), mas também em todas as pequenas ¢ grandes questoes, intuicdes, lampejos e criticas que, no trabalho didrio, foram lancando para o ar ou para 0 papel, e cujas reminiscéncias ¢ marcas estardo por ai, nas pdginas que se seguem. ‘Mas essas paginas nao servirdo apenas 0s novos estudantes de Litera- tura e Cultura alemas nas universidades. Muitos nicleos de textos poderdo fornecer material em primeira mdo a leitores portugueses de diversas formacées e interesses, para quem a literatura e a historia das ideias' na Alemanka assumem por vezes foros de exotismo, devido @ barreira da lingua. ‘A minha Introdugdo a esses textos pretende, por wm lado, clarificar os pardmetros metadolégicos em que melhor — mas ndo exclusiva- ‘mente — se poderd integrar a documentacdo publicada; e, por outro, problematizar, para quem se ocupe desta matéria, quer @ nocdo de literatura[cultura valema> quer 0 conceito que estd subjacente ao pe iodo abarcado (lieraturacutara =burguesa»). Trés razoes me leva ram a nao incluir aqui tma caracterizagao »época» a época (ou sec- ¢i0 a seccdo, ou global) da literatura alemi dos séculos XVII € XX. A primeira é de ordem pratica: a propria amplitude dos materiais ¢ 0: Timites impostos a estes "olumes.'A segunda prende-se com 0 facto de existirem jd algumas peripectivas globais daquele periodo numa publi cacao que encaro como complementar desta documentago, ¢ qe r- sultow do mesmo projects e programa: o lvro Literatura e Sociedade Burguesa na Alemanha — Séculos XVllte XIX Lisboa: Apdginastantas 1983), e em especial a excelente sintese introdutoria de Maria Antonia Amarante (-A® cadeias de Prometeu — Modos de afirmacao e crise da ‘cultura burguesa na Alenianha-) e 0 ensaio de Hans Mayer em que se definem as «Posigoes furdamentais~ da lteravira alemd nagueles dois Séculos. Complementar destes volumes documentas serd ainda, fnal- ‘mente, uma terceira pedra do projecto global, a Historia da Literatura ‘Alema (de W. Bewtin etal.) cuja segunda edigéo alema uma equipa de germanistas traduziu, e que deverd ser publicada pouco depois desta documentagio (em edigeo conjunta de GradivalApaginastanas) ‘Muitos dos textos surgem agui abreviados ou em fragmentos, facto inevitdvel numa antologia com as caracteristicas e a amplitude tempo- ral desta. Nalguns casos o titulo dos textos ou excertos € da responsa- bilidade do organizador. e ndo do autor, mas a fonte vem sempre indicada no fim de cade texto. As notas e 0s comentérios em pe de pagina, com numeragao crabe, sdo sempre do organizador. As (poucas) rnotas dos proprios Autores aparecem assinaladas com arteisco(s) € N.A. Convird ainda salientar que os textos postcos aqui incluidos 0 {foram mais como documentos ou testemunhos do que como poesia pura (alids, todos eles sao, de uma mancira ou de outra, «programatices:) Por isso se prescindiu é0 original; a tradupdo procura, porém, ser sempre «literal», como convém a um «documento», mas a0 mesmo tempo manter os elementos pocicos do original (imagens. rima, ritmo, ete.) 0s estudantes que de algum modo contibuiram para que este lvro tomasse corpo sao demasiados para que aqui possa nomedlos. As cole. gas com quem trabalhei na Faculdade de Letras de Lisboa, ¢ no “ambito desta matéria, essas sdo em mimero que permite facé-lo, ¢ obriga a um agradecimento ¢ a um abrago nominais, Aqui os deito @ ‘Anabela Mendes, Fernanda Costa, Fernanda Gomes, Maria Antonia “Amarante, Maria Antonia Espadinka, Maria Ascuncao Pinto Correia, Maria Helena Silva e Teresa Seruya 1B. INTRODUGAO Anfange gibi es in der Geschichte nict: sie werden lazy ~ermanni, [Na HistGia io hi eomesos alguem Oo Sinstiuis come el] Hans Blumenbers, Das Lachen ser Thrakeri PROLEGOMENOS A UMA HISTORIA DA LITERATURA ALEMA, DA AUFKLARUNG ‘AO FIM-DE-SECULO, Mon dessein n'est pas ici d'enseigner la mthode que cha ‘un dott sive [rats seulement de ftre vor en guelle “ore fai tache de conduire la mien, Descartes A natureza e as intengies destes volumes exigem algumas conside- rages preliminares e reflexdes orientadoras, que terdo de ser de dupla ordem: metodologico-diddctica, por um lado, porque esta documenta io serve una concepcdo programatica para 0 estudo da Literatura e da Cultura Alemas na universidade portuguesa: e critica, por outro lado. uma vez que existe uma proposta de Ieitura ¢ de formas de organizagao possiveis da histéria da literatura alema nos séculos XVUI e XIX, que € Subjacente a antologia de textos e a sua estruturacao. ‘Duas ideias centrais, ao que me parece, poderio destacar-se desde ji fem relacao a este projecto. Em primeiro lugar, a de que agueles dois, pontos de vista se articulam necessariamente endo existem um sem 0 ‘outro (a ndo ser num vazio formal): a metodologia € parte integrante. ¢ ‘condicionante do processo de conheciznento do objecto, ¢ 0 objecto de ‘conhecimento ganha contomos mais claros quando sustentado e vei- cculado por uma metodologia adequada e coerente, Nao se trata de for- necer esquemas reducionistas, mas, pelo contrario, de sugerir um qua- dro.de leitura que possibilite uma relacao mais profunda e produtiva teout us tentos do que ayuela que se eonsegue Com U inex eMpitist4y © impressionismo da auséneia de método (até 0 anarquismo metodoligico do antimétodo de Feyerabend tem, afinal, 0 seu método!). Em segundo lugar, ¢ talvez paradoxalmente, a ideia — que deve ser didacticamente Ievada a sério! — de que todos os textos que aqui se podem encontrar u sito, em certa medida, supérfluos — porque sio textos «de apoio» & leitura, a0 processo de construgao global de sentido daquilo que deve, afinal, constituir 0 objecto nico, e unicamente importante, do «ensino> da literatura: o texto literdrio ele mesmo. Mas 0 texto literario no se abre totalmente (sera iso possivel?) a quem nio se aperceber de artif- ios retéricos, marcas epocais, referencias historicas,filesdfieas, socio logicas, loci communes, estruturas meatais colectivas, intertextualida- des, et€. Ora, muitas destas marcas, por exemplo de tima literatura da convengio, mais do que da originalidade, so ainda fundamentais para entender grande parte das obras do século XVII. Do mesmo modo, no Século XIX sera cada vez mais importance, jé a partir do Romantismo, a presenga das ideias filosoficas ou dos postulados cientificos (maie- Fialistas, positivistas, monistas) no texto Tteririo, bem como certas marcas ideoldgicas que se poderio considerar mais especificas do caso alemao. Estas serio, pois, razdes mais que suficientes para fomecer. a quem 18, certas chaves que permitirio penetrar com maior a-vontade e mais fundamentado rigor nos universos da escrita literdria ao longo de dois séculos. Serd esse © objective maior destes volumes A metodologia: da experiéncia do corpo do texto a leitura integrada A era dos manuaisfndou, & preciso qu 0 trabalho de mis se ucompunhe com) teabutho do geste. Ew geste € und ‘ostura determine de mo, o didmica, em constr Maris Altea Seino 1. Os textos aqui reunidos constituem uma parte do material de apoio que, como se disse, pode servir uma concepeéo programatica determinada no estudo da literatura alerva, tal como ele ¢ hoje possivel no ambito das universidades portuguesas em que existem Estudos Ale- aes '. O facto de esta selecedo ser uma parte de um todo significa, "ero qu, prs ako dents sun fungio de orem dicta, et conju de textos ub ut i nde mato sso sa AX, dent ford mierda inter as comrades sages Drees de Lessing gaharo um ecete mais nis lz da sua tore do genre o Romer lem poder ser melhor entendn asta glahdade depose era do cea de Fredric Schegel sobre» "Nova Milo maa da epuns massed sl on aéquire uma nove dimnsso quando vias com tur, cone cee ec sre ce Tangam, ano fndo social omo ss corel = is dormant, Schopentaer Niewscke e de Mark Franz Meheing R obviamente, que haveria, niio s6 mais textos, mas também outros textos, que ai poderiam figurar: tratando-se de uma antologia, ela no tem pretensdes de exaustdo, ¢ sendo uma seleccio programaticamente orientada nao pode deixar de ser «parcial». E da natureza da coisa em si, € € bom que isso se assuma e fique claro a partida. Tudo comecou com uma reflexio sobre a (quase) auséncia de con- cepcdes metodoldgicas claras e coerentemente fundamentadas na estru- turacdo e no preenchimento curricular dos wés (muitas vezes apenas dois) anos de estudo da literatura alema que se oferecem aos estudantes portugueses. Partiu-sc do principio de que era possivel — tal como na formula magica da tabuada da bruxa no Fausto — ade trés fazer um», ou seja, tentar articular dialecticamente as partes e 0 todo, no sentido de transformar esses dois ou trés anos de ocupagao com’a literatura alema num «curso» que fosse um percurso com marcas préprias, que Permitisse experimentar nos textos, e divisar nos contextos, fios de ligagéo, problematicas especificas recorrentes, transformagées ime- versiveis, implicagoes interdisciplinares, fenmenos de recepcio € valoragao, idiossincrasias estéticas e formais, interdependéncias em relagao a’ outras literaturas E uma proposta de contextualizacao e problematizacio das obras da evolugao literaria, que torna necessario 0 recurso sistematico e indispensavel a textos nio literarios, que exige, pelas limitagées postas a partida sua coneretizacao, a opcio por um corte epistemoldgico ¢ historico-literdrio na totalidade da historia da literatura de lingua alema e, last but not least, uma forma de realizagéo prética que necessaria- mente terd de assumir os contornos de uma «histéria literdrias com caracteristicas muito préprias 2, No exemplo presente, aquele corte realiza-se na viragem do século XVII para o XVIII, porque se trata, também em termes literdrios, de um momento que abre uma nova fase, em que, de certo modo, ainda nos encontramos: a da irreversivel assun- ao de uma consciéncia literiria (¢ correspondentes formas © meios) burguesa, isto é, secularizada, critica e progressivamente subjectiva ‘A segunda baliza — 1900 — ‘indicia, por seu lado, 0 momento em que, no interior dessa literatura, se radicaliza a consciéncia de crise © de “insustentabilidade, de tal modo que nao é possivel ja ver o que vem depois em termos de uma continuidade, mas antes como o afirmar de uma rotura definitiva com a tradigao burguesa humanista (mesmo quando ela é retomada, parodistica ¢ ironicamente, como em Thomas Mann) e 0 seu sistema de valores: a isso se chamou «modernidade: 2 Sobre a concepeo de shistéria levi subjacente& am prosecto como ese, ver 1 minha Intodusae a Hisiria Lieriria — Problemas « Perspectvas, Lisboa Apigi rastanta, 1982 B estética, e Nietzsche &, no plano filoséfico, © arauto avancado da viragem, pela desconstrucao que faz da propria ideia de sistema e do binarismo maniqueista que informa essa tradicao burguesa. ‘A realizagdo de um programa de estudo que evidencie esse proceso de aquisigdo € consolidagao, de crises ¢ fracturas da consciéncia bur- uesa ¢ suas manifestagées literarias ao longo de mais de dois séculos, fexige, como se disse, uma perspectivacao historica dos factos ¢ arte- factos literatios, requere uma metodologia que, podendo primeira vista parecer «tradicional» ¢ obsoleta (como o ¢, inegavelmente, a historia literdria de cariz positivisca), nao tem na verdade nada a ver com as tradicionais, secas e superficiais formas de apresentacio da evolugio literaria, Nao se trata da metodologia cumulativa, «informa- tivay e extema aos textos, dos famigerados «panoramas» entre duas quaisquer balizas temporais arbitrarias («séculos, datas de significado por vezes apenas importante para a historia geral, nascimento © morte de alguma grande estrela literdria —o caso de «Goethe e sue Epoca» —, etc.). Trata-se antes de uma perspectiva «nuclearizada» © sitradiante» (em que nao tém lugar a8 visGes evolutivas simplistas de safirmagio ¢ reacgao a-), de um modo de fazer histéria literdria que se entra na discussao critica de momentos e complexos de problemas sempre multi-estratficados, partindo de um nimero reduzido de textos literérios que, por sua vez, funcionario como micleas catalizadores e centros de irradiacdo de um certo niimero de questoes de ordem esté- tico-lteriria ou histérico-social: 0s textos lterérios, na sua qualidade de paradigmas de determinados «campos epistemologicos» e constela- es estéticas, indiciardo, pelo menos, os problemas fundamentais do Momento; 05 textos «de apoio» aqui reunidos poderao ser instrumentos para paricularizar, alargar e aprofundar 0 sentido desses indicios. ‘A fundamentacao da metodologia adequada a uma tal forma de (re)fa~ zer a histéria literdria de um dado periodo assentara sobre alguns dos principios de um método dialéctico aberto, no campo das ciéncias hhumanas: nele terdo de se articular o particular e 0 geral, 0 texto e a historia; levar-se-d em conta que o sentido «natural» da evolugao hist6-~ rica é 0 do futuro, que cla se faz =para diante», nio esquecendo, porém, as extemporaneidades e o espiito regressivo de tantos presen tes que se nos deparam no passado historico. E um método que nao poder deixar de tomar claros os fenémenos de interacgao adentro da série literdria e a sua articulagdo com a globalidade de um momento histérico; que nao poderé tomar ou apresentar fenémenos ou trans- formagoes literérios complexos como coisas «naturais» ou dbvias, se- gundo padroes artficiais de relacionacio e evolugio; que nao deverd ficar-se pela questionagao do Quem, do Qué e do Quando, mas antes perguntar pelo Como, pelo Porgué ¢ pelo Como-assim?! Um método, Portanto, que procure problematizar © contextualizar 0 objecto litera~ rio, € que assuma, em relagio a Historia, nio a posicdo de voltar costas 4 a0 passado, mas sim a do Anjo das Teses de Walter Benjamim?, ou da frase lapidar de Paul Valéry: «Entrer dans l'avenir a reculons.» Ou seja: progredir em diteceio ao presente a partir do passado, ndo per- dendo de vista 0 que esta atris de nés (que, afinal, ¢ aquilo que temos 4 nossa frente), © langando pontes para o futuro pelo canto do olho Um método hermenéutico e eritico que, na sua aplicasao concreta 20 objecto que este volume serve, se transormaria, pela ordem indicada, nium programa possivel para trés (ou dois) anos de estudo, organizado em: 1) Cortes longitudinais de iniciagao e problematizacdo com exer plos paradigmaticos, cobrindo um periodo amplo com uma certa coe réneia intema (primeiro ano); 2) Cortes transversais sincrénicos mais (ou menos abrangentes e complexificados, através da diacronia (segundo ano); 3) Tratamento de temdticas mais especificas, possibilitando & cupagao mais demorada e profunda com um autor, um momento lite- ririo ou um complexo de questdes (eventual terceiro ano, que exigira sempre um apoio textual mais diferenciado do que aquele que pode oferecer a presente selecsao de textos estritamente essenciais) Nio se trata, pois, de mais uma historia da literatura de rigida ordenagio cronoidgica, nem de «panoramas» neutros, sem fios cond tores e uma concepcio de base claramente reconheciveis, E antes uma pproposta que, partindo de textos literarcs sempre que possivel resisten- {es a leituras redutoras e unilaterais, ¢ apoiando-se em testemunhos extraliterarios relevantes, pretende lever a discussdo e questionacao, através da analise concreta da literatura alema da grande época burguesa, do caracter de «evidéncia» de algumas concepgdes da historia literiria, do privilégio concedido tradicionalmente & produgio de personalidades isoladas © de uma visio linear do processo hist6rico neste ambito especifico. A intencionada contextualizagao ¢ problematizacao dos textos literirios poderd ser levada a cabo, com largo recurso ao material reunido neste volume, tomando em conta trés momentos fundamentals para qualquer Jeitura abrangente ¢ pluri-estratificada de um texto 1) A necesséria insergio da obra no contexto historico, social e de ideias em que foi produzida, como factor importante para a construcio de um sentido global e historicamente refereneiado (que nada nos im- pede de «desconstruir» posteriormente) e para a definigao do seu lugar especifico nesse contexto. O extratexto ou o pré-texto tomamse, as- sim, fundamentais para atingir aquela «verdade do texto que, embora 3 Vd. Walter Benjamin, -Sobre 0 Conecito de Histrias (Tese 1X), J. Barento (ed.), Misiria Literdria..., 99, 38°39; 0 meu texo iottlado -O Anjo de Hisines 90 Bolerim da Associacio Poruguesa de Professores de Alemio, n° 0 (1982). pp. 47-50: ainda Teresa L. Cavete. As anus da Paciencia, Dalética de catistote © redeogio no Testamento histérico de Walter Benjamin (cabal complementar de dovorament, Lisboa. 1989). Is inatingivel e informulavel, 0 antecede ¢ determina», ¢ para construir sobre ele um metadiscurso com a sua légica propria, «que tera sempre de ser uma légica de compreensdo (....) ¢ nio de explicagao» *. Esta significa, desde as origens, a antitese do écio, do prazer, do Eros — por isso, a expressio literatura burguesa» em muitos’ momentos, uma contradictio in adjecto. As duas economias — a burguesa e a artistica — excluem-se ‘mutuamente, porque a primeira ¢ dominada pelos principios activos priticos da’producéo © da realidade, ¢ a segunda pelos principios Passives € contemplativos da fruicdo 'e do prazer. Todo o prazer & passivo, e a sociedade burguesa e moral crista, informadas desde as rigens pelo dinamismo activo e pelo espirito de rentincia, sobrevalori- zam 0 esforco e a forca (da ideia) em desfavor do prazer e dos senti- dos. Os valores da sociedade burguesa (patriarcal!) s0 0s do trabalho, da honra e da acco: 0s da sua (°) arte ¢ literatura sao valores subversi- vos, © por isso no admira que toda a arte e todo o artista sejam — tenham de ser —

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