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Por uma estética da imagem de video Neste texto, gostaria de iterrogar acerca de um sistema de imagens teenol6- sicas que sempre teve problemas de identidade:o video, esta “antiga itima tecnologia’, que parece menos um meio em si do que um intermediio, ou _mesmo um intermédio, tanto em um plano hstdrico e econdmic (0 video surg entre o cinema, ue o precedeu, ea imagem infogrifia, que logo 0 su- perou ealijou,como se ele nunca tivese passado de um paréntese fg tran sitio e marginal entre dois universos de imagens fortes ¢ decisivos) quanto em tm plano ténico (0 video pertence & imagem eletrnica,embora a sua seja ainda analogica) ou estético (ele se movimenta entre a ficglo € 0 real,en- treo flee tlevsio, entre a arte ea comunicago etc). Os tnics terrenos «em que foi verdadeiramente explorado em si mesmo, em suas formas e mo- dalidadesexplictas, foram o dos artista (avideoate) eo da intimidade sin- gular (0 video familiar ou o video privado,o do documentirio autobiogritico st) Ele consti ‘que ndo tem por tras de si uma verdadeirae ampla tradicio de pesquisa E ortanto, um “pequeno objeto’ futuante, mal determinado, 1 Em fancts,o principal insromento de referencia 0 némero intlramenteconsagrado 0 video pela revista Communications. 4," Video' Pais: eu 1988; coordenado por Bellour «AM. Duguet tar una bibliog internacional basante complet. Emlingna » 69) 70 E precisamente por isto que nos pareceu utile interessante examinar uma tal “coisa reveladora & sua maneira, dscretae circunscrita, de problemas que 86 fardo crescer com 0 desenvolvimento das tecnologias informaticas. A proble- matica do video condua de fato & questo mesma dos desafios da tecnologia no mundo das artes da imagem. Vou me concentrar aqui em questdes de esté- tica visual comparada, ciente de que outros Angulos de abordagem poderiam ser explorados no mesmo sentido, mas me interessando sobretudo pelas dife- rengas entre as formas de linguagem videogrifica e cinematografica Video? Voce disse video? ‘Antes de qualquer outra consideracio, o video merece um exame prévio sobre seu nome, Comecemos, pois, com um pouco de lexicologia e de etimologia ‘Um pouco estranho,o termo "video" me parece marcado, de modo particular- ‘mente revelador, por uma espécie de ambigdidade fundamental Por um lado, ele & usado mais frequentemente como um complemento nominal (ou como uma particula de algum modo associada a um nome) do + ingles, antologia mas complet de Doug Halle ally Jo Fier Maminating Video: An sential Guide to Video Ar, Nova York: Apertrelna¥ 3990, que tax também uma impo: nent bibliog detahada. Aor os inimeroscatdlogose monografas eats. os est: Aosindividuistedricos soe video so reativaent icasss. Entre os rinipis, posto ‘ar os de A-M, Dug, Vidi ls mamoie a pin, ari: Hachete,18D. Bello, Vidbo ‘Art Exploration ie especial dot Cahiers da Cinéma, otabro 98: D Bloch, a video, Paris Limage 2/Alin Avs 18s Ropper, Lt ge dcronque, Paris Hazan 193: W. reich, Vid: Di Posi der Neuen Maen, Ble: Bl1987 8 Armes, On Video, Nova York Routledge, 98; R Pert Into Video Art: The Characeritis of « Meum, Amster Con Rumoreflea Books, a88, Dente as atalogias cos volumes oltivos mais intresa- tes destacoagueles onganizados por R.Payant, Vis, Montréal: Artets986;)-P. Farle, ‘tas do Coldgui Vi, Fiction e Cie, Masha c4, 1984; Ol al vido? mer e- pecial dos Cahiers Cina 96 de Fags, wer também suas crdics dos anos o sabre video pubiadas nos Cahir du Cinéma e depois em Art Pres, Poissan, sthitiqu des drs méditiguen. Montreal Peses de Tah, 99,3 wacom videocasetesG.Batcock, [New Artists Video, Nova York: Dutton, 7 P D'Agotno,Tanamsision: Theory and Prac tie for New Television Aesthetics Nova York: Tanam Press 95: AM, Olson, 8 D-Part, Vides ot and Values, Nova York: S09 Pres. 199) {que como um substantivo propriamente dito, alamos em “cmera de video’ “tela de video’, “videocassete’, “imagem de video’, “trucagem de video’ “sinal de video! “videogame “documento em video',“videoclipe" videoinstalacio” ‘etc. Mais do que um nome, proprio ou comum, que designaria uma entidade intrinseca, um objeto dotado de consisténcia propria identidade firme, a palavra video" nos aparece inicialmente como uma simples modalidade, um termo que podemos qualificar de anexo, algo que intervém na linguagem tecnoldgica ou estética como uma simples f6rmula de complemento, tra- ‘endo apenas uma precisio (um qualificativo) a algo outro jé dado, dotado de ‘existncia prévia e identidade estivel — algo de outra ordem, quase sempre anterior ¢ estabelecido. De resto, assim como um mero vagio que pode ser acrescentado a uma locomotiva, este termo possui tho pouca especificidade que, na lingua fran- «esa, a0 ser usado ocasionalmente como substantivo, ndo se sabe muito bem @ ‘qual género ele pertence: masculino ou feminino? Un ou une vidéo? “Adjetivo invariavel, precisa 0 verbete do dicionirio Petit Robert. Nosso termo carece pois de sexo e, portanto, de corpo. Indo além, podemos dizer que no pertence ‘a nenhuma lingua (propria), pos é o mesmo em francés e em inglés (video. tape, videogame), italiano (videoarte), alemio (Videobandern, Videoskulptur, Videokassette, Videokunstwerken) ou portugués (videopoquer, “videocasse- tada’).Palavra-esperanto,intraduzivel, desprovida pois de imaginério, [No entanto, e esta & a outra face da palavra (indissociével da primeira, ‘como frente e o verso da mesma folha de papel), video, assim sem acento, é também, de um ponto de vista etimol6gico, um verbo (video, do latim videre, “eu vejo").E nio de um verbo qualquer, mas do verbo genérico de todas as n seja, se por tm lado 0 termo “video” nao é uma raiz, um centro, um objeto especifico identificivel,nem por isso deixa de ser,enquanto verbo, aexpressio ‘de uma acio que,ela sim, esté na raiz mesma de todas as formas de represen- tagio visual Assim, mesmo que nlo se constitua,conceitualmente, num corpo | prspri | Provavelmente por isso, a palavra esta e permanece em latim, lingua fora do ‘tempo, inatual e matricial, generalista e genérica. De resto, video em latim & nao s6 um verbo, como também um verbo conjugado, que cortesponde & primeira pessoa do singular do indicativo pre- sente do verbo ver. Dito de outro modo, video & 0 ato de olhar se exercendo, hhc et nune, por um sujito em ago, Isto implica ao mesmo tempo uma aco ‘em curso (um processo), um agente operand (um sujeito) e uma adequacio temporal ao presente histérico: “eu vejo"& algo que se faz"2o vivo’, nio é0"eu vi da foto (passadista), nem “eu creio ver” do cinema (ilusionista) e tam- pouco “eu poderia ver” da imagem virtual (utopista. Por tudo istoa palavra “video” parece uma maneira bastante estranha, se no paradoxal, de designar um meio de representagdo, Ali onde as outras artes dda imagem possuem classicamente dois termos, um nome bem identificado para o objeto e um verbo (no infinitivo) para a ago de constitui-lo — como se 0 objeto ¢ a agio fossem duas realidades ao mesmo tempo bem distintas ¢ claramente articuladas —, dominio singular que nos ocupa possut uma nic plava, ideo, para designar ao mesmo tempo e indstntamente (e dat tama de suas singularidads primeira) o objeto €o ato que consti. Video: uma imagem-ato, A imagem como olhar ou 0 olhat como imagem. No co- meg, ea o verbo. No fm do trate apenas um adjtvo crane entre os, dais nem mesmo um nome, O video € bem o lugar de todas as fatuages, no devemosestranhar que ele apresente, no final das conta, incomensuri- veis problemas de dead, Video-Janus:* uma estética da ambivaléncia generalizada (© que foi dito sobre a palavra também vale globalmente para a coisa em si, isto é para o video enquanto fendmeno, Efetivamente, a ambigtidade esta na.“ natureza deste meio de representagio,em todos os niveis, a tal ponto que tude nele acaba gan! Defto,parece-me que alé agora boa parte da discussio sobre o video ten- dea sitio na ordem das imagens, Una imagem a mais vita como mais cu menos"nova ainda que mio aba exatamenteem queeporgué.O video acaba stuado assim, numa perspectvafequentemente comparativo lado das outa formas de imagem como a pintua,as artes plisicas, a fotograi.o cinema,a levis, a imagem desatese Ao lado, portanto, de todos tips de imagens Yecnolgicas” com as quascostumamos lidar, imagens dotadas de uma linguagem relatvament reconhecida cde uma identiade mais menos asumida Esta “estetizagao" do video como imagem me parece no entanto ocultar sua outra face, quase nunca vsivel: a do video como processo, puro disposi- tivo, sistema de circulacio de uma informacio qualquer, “meio de comuni- «agi, tudo isto independentemente do seu resultado visual e do conteddo das mensagens que cle pode veicular. Neste aspecto, que nao é menos impor- tante que 0 outro, se precisarmos inscrever o video em linhagens historias, ‘ele me parece ter que ver tanto ou mais com 0 telefone ou o telégrafo do que com a pintura. E é nesse aspecto que ele funciona como intermediario en- tre o cinema e as “iltimas tecnologi informiticas e digitais. Se o cinema 4 sobretudo, uma arte da imagem e atua sobre 0 video pelo alto, as “ilkimas tecnologias” informiticas e digitais sto sobretudo dispositivos, sistemas de ‘transmissio (mais do que obras) eo prolongam por baixo,O video se propoe 2 Tanus.na mitologia rina. é0 deus epresentado com da cabecs quam cm dues pont [8] 7 4 stente por si mesma e um dispositiva de circulagio de um simples “tinal” : "Para os fins da nossa exposicao, dramatizemos um pouco a situagao do vi- deo, que se movimenta ass primeiro é, 0 segundo faz. Em termos de recepgio, o primeiro seria mais da ordem do privado, o segundo, da ordem do pablico, Na esfera da legitimagao simbélica,o primeiro seria mais da ordem do nobre, 0 segundo da ordem do ignébil. Os dois modelos a esse respeito poderiam ser, de um lado, a pintura (a obra-objeto de ingua- gem fort e sempre singular) ¢,de outro, digamos a televisio (que permanece ontologicamente aquém da obra ecarente de linguagem). Se cada espectador cexperimenta a pintura em sie para si ninguém na verdade olha a televisio,_ embora todos a recebam — e a consumam, Nesta bifurcasio, o video ocupa \1uma posigio dificil, instavel, ambigua ele € «um s6 tempo objeto e proceso, imagem-obra e meio de transmissio, nobreeigndbil privadoe publica. Ao ‘mesmo tempo pintura e televisio, Tudo isto sem jamais ser nem um nem Aone. Tala sua naturezaparadoal,fandamentalmente hesitate ebiftont. ‘Convém aceité-la como um fato€ considerar esta ambivakéncia de principio rio como fraqueza ou defciéncia, mas como aforga mesma do video. forga proveniente do frac. Existe uma estética videogréfica? Comecemos, pois, pea imagem-video face mas visvel deste noso Janus. Nos dlscutsos acerca do video, quase sempre se fala da sua imagem em trmosi portados de outf0s danni. Costuma-s recorrer ao lxico que caraieiza ‘st rande forma bem etabelecida, de imagem-movimento que €o cinema, Nasri, nasrevstase nos ats desde que e ale de uma imagem de 3) Nooriginal oie t gnobleo trocaditho se perde na rao parse portagoes [7] ‘video, usam-se termos como plano, montagem, corte (de olhar,de movimento), «espago off (fora de campo), voz offclose, campo/contracampo, ponto de vista, rofundidade de campo ete. Todo o vocabulirio forjado para se falar da ima- .gem cinematogrifica acaba sendo transpost, tal e qual sem maiores cautelas, como se esta transposicio nio apresentasse problema, Como se pudéssemos apenas pensar a imagem eletrdnica por meio dos conceitos (e do filtro, e da Jinguagem em si) do cinema. Como se no houvesse diferengas entre ambos" ‘Nunca se examinaram seriamente a validade desta transposigio lexical 0s problemas que ela coloca, todas do mesmo mode? A ope de eda imagens cm vdeo? As quests em jogo so at mesma em ambos os caso expo ofl vdeogrifico se eens, é do mesma tipo que odo cinema? O cs, olhar da cimera ov a profundidade de campo repowsam "os mesmosdados¢ posi o mesma sentido nos dois aso? Eu gostara de examina algumas desis nogSes ever que eas ns permite dizer ara Balzar nossa discuss, caracerizemosprimeir as nodes de plano eon gran dol prea da inguagem cnematogrfin, © que éum plano! Desde Bazin, Pascal Borite,Jcques Aumont ou Gil Give aeons (DER Hoe deep tempo neces ret mute lenogtes aera eecolrc geri cars BeenCone acce tan pean ee olan ofa” dover nc cones con onde nse Leena ae bese Sa ict eh uanctant ae sense Spee eet a eee cee inplagte dota ors tn obvamesecnlinies roc areon 4 No capitulo “Video e cinema: interferencias,transformagbes,inconporaseso lear en Contra uma discussio mas dei, nam plano bastante diferente e mais liga a brat Singulares, das imteragesente video cine, 7s 76 tinuidade espaco-temporal é determinante (0 plano é umm Todo), podemos afiemar que um plano se constitui a partir de um fechamento (0 quadro) e de ‘uma exterioridade (0 espaco off), que ele possu uma profundidade (0 campo) hhomogénea e estruturada (pela muito antropomirfica escala dos planos),€ ue ele institui um ponto de vista (ligado a perspectiva) a partir do qual 0 ‘Todo se define; tanto em termos de éptica quanto em termos de consciéncia (0 Sujeito da enunciagdo visual), 10 qc ¢ montage dnemnogra? Ba pea de agenda ¢ Sea on pos e regras. Em primeiro lugar, na concepc4o mais generalizada do cinema (ocinema narrative cléssico),a montagem ¢0 instrumento que produz.a.con- tinuidade do filme. Ela ¢ a sutura (Jean-Pierre Oudart) que apaga’6'¢aréter fragmentério dos planos para ligi-los organicamente e gerar no espectador ‘ imagingrio de um corpo global unitirio e aticula le dizer, montagem {lissica) nao & senio a extensio ao filme ineiro da logica de continuidade € dda homogeneidade propria ao plano celular. Para cumprir esta fungio “unita- rista montagem institaiu algumas regras” técnica e discursvas que visam assegurar este efeito de continuidade (nas dieBes do olhar, no movimento, no exo, regras dos 180%, dos 30° etc). Por outro lado, a montagem cinemato- sgrifca & também concebida sistematicamente sob 0 modo da sucessividade linear: a unido dos planos por ela proporcionada ¢ sempre uma questdo de digo, sequéncia de pedacos combinadossutilmente. Sua regra prescreve um plano de cada vez, um plano depois do outro. filme se elabora tijlo por ti- |jolo (é assim que ele é pensado, quando se passa do roteiro a decupagem). En- ccadear imagens. Cada bloco em que consiste um plano se acrescenta a outro boco: plano, até que se construao bloco-filme, sido como rocha,cimentado como um muro, funcionando como um Todo. E 0 video nisso tudo? Convém reconhecer de inicio que reencontramos rele, ndo rar, um uso “elssio” (isto 6, cinematogrfico) da noglo de mon: tagem dos planos. Nao hi nada demais nist. Nada impede de fazer plans’ ‘com imagens repistradas em suporte magneéticoe captadas por uma cAmera cletrbnica, a exemplo do que se faz com uma cimera de 16 ou 35 mm. Da mesma forma,nailha de edigto nada impede de monta sucessvamente cada plano assim captado para criar aquela continuidade baseada na linearidade ‘e na homogencidade que é @ narrativa audiovisual. 0 decisivo para nossa discussio, prem, & que a instaurasdo de uma narratva( personagens, agbes, organizaqio do tempo, desenvolvimento de acontec aentos,crenga do espectador et) no representa 0 modo discusivo do nante do video, Seo modelo de linguagem descrio ateriormente parece ser aquele mesmo do cinema, éexatamente porque ele se ajustaperfeitamente 40 género natratvoe ficconal, modo de trnsparéncia a qual o cinema, em sua forma dominant, se fia. No campo das prticasvideogréfcas, porém, ‘© modo narrative e ficcional estélonge de representar o género majoritirio, Ele comparece verdade, mas provavelmente menos do que outros modos, com menos for sobretudlo —é 0 que os une contra a transparéncia —, ambos com um senso constante do ensaio, da experimen tagio, da pesquisa, da inovagdo. No por acas,ofermo mais englobante que se escolheu para falar desta diversidade de géneros das obras eletrénicas fi | videocriasio Em suma, ste grandes modos de cing videogrficasjudaram a reai- vizaro modelo narrative ea desenvolverem seu hgar modelos de linguagem de outraordem. Neses,freqdentemente as dimensSes de pesquisa ede enstio se revelaram preponderantes, a ponto de acabar gerando, como no caso do cinema mas deslocando aénfase e até mesmo a perspectiva uma espécie de “linguagem ou esttcavideogrfics (tal como a chamaremos aqui). que m0 E especifica do video no sentido estrito (ndo mais que a “cinematogritica’), ‘mas que s se institu com uma fora expresivaevidente a partir das priticas videograficas. Uma linguagem (ou uma estética) particular (mas de nenhum ‘modo exclusiva) que pertence a logicas diferentes poe em jogo questdes de fordem muito diversa que as do cinema, Sto alguns destes parimetros estéti- ” ‘cos que emergem com intensidade nas priticas do video que eu gostaria de abordare teorizar agora ‘A mixagem de imagens mais do que a montagem de planos Quando se observam alguns videos de criagao, a primeira figura que surge com forca & 4(da mescla de imagen Trés grandes procedimentos reinam neste terreno: a Sobreimpressto (de miitiplas camadas), os jogos de janelas (sob inémeras configuragbes) ¢, sobretudo, a incrustacio (ou chroma key). _, Sobreimpressio (transparéncia ¢estraificagio) jor Umlado, feito de ransparencia relativa: cada imagem sobreposta € como uma superficie translicida através da qual pode- ‘mos perceber outra imagem, como em um alimpsesio, Por out lado, efeito de espessu ada, de sedimentagio por camadas sieéssivas, como rnumfolheado de imagens. Recobrir e ver através. Questo de multiplicagdo da visio, Parwcitar apenas dois exemplos evidentes, lembremos um video de ‘Wolf Vostellintitulado muito significativamente rv-Cubisme (i985) e toda @ (obra de Robert Cahen)-+ ‘O video de Vostelloferece durante 26 minutos uma multivisio sistemstica de um model feminino que poss nu sobre uma base girat6ria, segurando uum bloco de cimento. Sete ci neras registraram esta pose giratoria em trés tomadas sucessvas (trés cimeras em trés Angulos diferentes para a primeira tomada,trés cimeras ainda em posigSes diferentes para a segunda tomada, uma s6 cdmera para a ditima tomada). Trés momentos de tempo distintos portanto (0 modelo mudando de posigio a cada tomada) ¢ sete diferentes fragmentos de espaco (correspondendo as sete posighes da cdmera), tudo ‘mixado por ondas de sobreimpressio, Vernos assim 20 longo de todo o video -virias imagens do mesmo corpo captadas em pontos de vista e momentos distintos, mas todas superpostas e oferecidas numa espécie de quase-simulta neidade. Representacio caleidoscbpica: Divisio e multiplicagao do olhar por ndlise€ sintesdTrata-se de uma tentativa aparentada a visio fragmentada e ‘miltipla do Gubismo (analitco e sintéico)! Os vinculos, als, entre o video € 0 cubismo, a0 menos no que toca 4 constituicdo de um novo espago libero da representagio da perspectiva clissica,sio estreitos ¢ recorrentes — volta remos adiante a este ponte. ‘A obra de Robert Cahen’ fornece uma segunda ilustragdo da importancia da sobreimpressio, de outra ordem, mas igualmente manifesta. Tomemos, por ‘exemplo, seu video Hong Kong Song (de 1989, em colaborasao com Ermeline Le Mézo), que oferece & nossa contemplagio, em lentas ¢ longas sobreim. pressoes, imagens da cidade e da paisagem, das pessoas e das coisas, da igua ‘¢do ar, das luzes e dos movimentos, Estas melopéias visuais subjetivas, estes ‘cantos de imagens” de Cahen, pela sobreimpressio (e também pelas cameras lentase os efeitos de osciloscépio),aparecem como uma transposi¢io na ma- 5 Sobre Cahen, vey rt Gaben le sul utp, Robert Cahene Emeline Le Mo, Hong Kong Song, 1286 ‘étia mesma da in igem de video, de visBes quase mental. Sobreimpresses de viagem, no sentido estrito. Em Cahen, a sobreimpressio faz da imagem em camadas.a encarnagio mesma da matéria-memoria. Transparéncia eestratif cagdo da imagem sob o modelo de certos estados de conscidneia, Palimpsesto, visual numa imagem exata do palimpsesto psiquico que constitui toda per- cepsao subjetiva, toda meméria ou todo devaneio, Janelas (recortese justaposicdes) © trabalho com as janelas eletrdnicas (que alcancam extrema variedade a partir de um némero elementar de parimetros geométricos) permite uma di visto da imagem autorizando francas justaposicdes de fragmentos de planos distintos no seio do mesmo quadro, Sea sobreimpressao lidava com imagens slobais associadas em camadas transparentes,totalidades “fundidas" (e en cadeadas) na duragao, as janelas operam mais por recortes e por fragmentos (sempre de porgdes de imagens) e por confrontagées ou agregados “geomet cos” destes segmentos (ao sabor das formas-recortes da janela). Nao mais um sobre o outro; mas um ao lado do outro. A“montagem no quadro” subentende que a janela passa pelo controle de uma kinha de demarcacio (fixa ou mével, clara, soft ou sublinhada) em torno da qual se articula a figura {Um dos videastas que explorou ao méximo a janela eletrOnica a ponto de transformi-la em emblema de sua escrita foi o alemao Marcel Odenbach, ccujos videos sio, em sua maioria, desde Die Widerspruch der Erinmerungen Marcel Odenbach, Al Knnte es auch mirandenKragen gehen, 283, (4982) até Die Einen der Anderen (Um ou outro, de 1990), atravessados por aquilo que Raymond Bellour chamou de forme-bandeau’ dispositivo de dupla janela — vertical ou horizontal — que subdivide o quadro em trés zonas fran: cas distintas,Sgurando visualmente uma espécie de insert central (se abrindo (u se fechando) em pleno coracio de outra imagem. Odenbach extrai desta figura formal efeitos de grande intensidade e variedade, por exemplo aqueles ligados ao espaco off: a “janela-bandeaw”, de um lado, reenquadra uma parte «da imagem, focalizando o olhar sobre esta parte retida (como certos ef tos de {ris no cinema), mas a0 mesmo tempo esconde também outra zona da mesma imagem, gerando um espaco off interno a0 quadro, que é por sua vex “ocu- pado" pelas partes lateras, advindas de outra imagem, cla também incompleta ¢ portanto,trabalhada por um espaco off interior. E entre estes dois espacos off alinhades lado a lado, vinculos de todo tipo podem surgir.Com a janela,0 espaco off ladeta 0 campo no mesmo quadro, Além disso ha sempre: dois espacos off diferentes (mas que podem se recortar) na mesma imagem mista, Dai também, p ra além destes efeitos com o espaco off, figura da janela ‘opera sempre por comparacio, confrontagio e montagem no quadro, Toda a estratégia de Odenbach com a janela-bandeau visa instituir uma relagio “face a face” (achatada na superficie da imagem) entre, de um lado, 0 {6 VerR BellourLa forme ol pase mon teat no catlogo Mare Odenbac, Pari: Cente Georges Pompidou, 1986, epublicade em Lente image: photo cinkma, vido, Pars, La Dierence 1990, p. 28955. (Eagar: Enr-smagens, Campinas Papas, 097) cspeticulo do mundo (donde seu uso sstemético da ita dla imagem emprestada, da referéncia aos cbdigos de todos. tudo culturais:a Alemanha, o Corpo, Lingua, o Cinema ou a Televisio 05 Objetos de Civlzacio et.) es de outro, o ola distanciado de um observador_ (no mais das vees ele mesmo, titlo de testemunha impsssivek Dans Iai- sion périphrique du témoin (1986) & 0 titulo explcto de uma de suas obras nai conhecidas) Este face a face (ado a lado) entre mesmo eo mundo, que anda, como sabemos.a postura doauto-retratonaacepedo da etrica antiga (como mostraram os trabahos de Michel Beaujour)é assim inscrto na pré- pri imagem de video pela figura da janela Esta,a um s6 tempo, reenquadra fe desenquadea,retracacrescenta, subdivide e retin, isola e combina, destaca_ confront. € uma figura da muliplicidade, como a sobreimpresso, mas por justaposigio e ndo por sobreposicio, Incrustagio (textura vazada e espessura da imagem) Esta terceira figura de méscla de imagens é certamente a mais importante por ser a mais specifica a0 funcionamento eletrdnico da imagem. Init in- sistir aqui nas suas modalidades téenicas bem conhecidas, que passam pela separagio, no sinal de video, entre uma parte da imagem ¢ outra, segundo ‘um tipo de frequéncia da crominancia ou da luminancia. A incrustagio consiste, como na figura rentos de imagem de origem distinta, De {qualquer modo, ai onde lidivamos com uma linha de demarcagio geomé: trica e controlada arbitrariamente pelas maquinas sozinhas (sem nenhum ‘vinculo com o contetido da representagio), a incrustagio s6 conhece, como linha de recorte entre as duas partes, uma fronteiraflutuante, mével 20 sabor das variagSes da cor ou da luz do real: é a linha isolando tudo o que é azul (ou vermelho,ou branco...) na imagem inicial que faréo recorte no corpo ele: tronico da imagem-fonte e permitira assim que elementos de outra imagem, ‘venham se embuti ali, © que especifica a incrustagdo é, em suma, o fato de ser comandada eletronicamente a parti ages formas (amino (04 cor) do proprio real filmado. Assim, a incrustagao é provavelmente a figura da linguagem videografica que melhor consegue se equilibrar entre o tecno- ligico e o real, entre a dimensio maquinica e a humana. O que s6 aumenta sua exemplaridade Os efeitos desta figura sio variados e complexos,"e permitem apreender mais explicitamente o que entendo por “linguagem ou estética videogrifica’ [Ainda que se manifestem a partir da figura da incrustagio, podemos consi- deri-los reveladores, num nivel mais gral, do fendmeno formal da escrita ‘letrénica, Tentarei apresentar seus tragos caractersticos mais essenciais, que se definem ao mesmo tempo diferencialmente em relagdo &linguagem formal dda imagem cinematogrifica e positivamente, por eles mesmos. Escala de planos versus composigio de imagem ‘A partir €o momento em que elementos provenientes de fontes diversas cons- ‘ituem uma imagem compost, ndo pode haver contighidade espacial efetiva (emanando do real) entre os dados nela representados. Assim, nio pode ha ver um conceto global que permita caracterizar 0 tipo de espago em jogo neste caso, Na medida em que pressupdem a unidade ¢ a homogencidade do espaco da imagem a partir de um ponto de vista tinico, as nodes de plano geral, plano americano, plano aproximado, close-up et., que orgenizavam as formas de enguadramento no cinema com base, como se sabe, num modelo teminentemente antropomérfico (em que 0 corpo humano fornecia a escala dde medida), perdem a pertingncia nos casos da incrustagdo e da mescla de imagens em geral [Na célebre seqténcia de abertura da obra fundadora que é Global Groove, de Nam June Paik, hé um casal dangando rock, evoluindo por incrustagao 7. Verespecalmente em artigos de [Fuge dente os guns dstco“Uhomame incest Cahiers Cinéma, n especial Téevson,cutono de 198, pp. 6o-6; Premiers pas de omni dans eid Caer Cinna especial 0 val i? 98,752" ela veame au drameem Atas do Colbgulo de Montbdard, Vda Fcton tC 09 i FP & & ‘num cenério-imagem, isto é, num fundo constituido de outra imagem, na verdade deles mesmos (captada por uma segunda cimera), sincrona (ain ccrustagao se faz “ao vive',“em direto") e sobretudo enquadrada num plano ‘mais fechado (que mostra apenas os pés), Numa mesma imagem, portanto, coexistem ao mesmo tempo um"plano aproximado” dos pése um “plano mé- dio” dos dangarinos em pé. Como nomear cinematograficamente (em termos da escala de planos) tal enquadramento tal imagem global composta? A ho. ‘Mogeneidade espacial organizada em torno da presenga tnica de um corpo, inscrito em seu espago “natural’ explodiu ¢ se multiplicou: no video, nos de- [paramos no mais das vezes com varios espagos e virios corpos, ou com varias imagens de um mesmo corpo, imbricadas umas nas outras(e frequentemente em simultaneidade visual, o que reforca a impressio de caleidosc6pio). Ao zealismo perceptivo da escala humanista dos planos no cinema, o video ope assim um irrealismo da decomposicio/recomposicio da imagem. A nogio de plano, espaco unitério ¢ homogéneo, o video prefere a de imagem, espago multiplicivel e heterogéneo, Ao olhar Unico ¢ estruturante, 0 principio de agenciamento significante e simultanco das visbes. Isto € o que eu chamaria de imagem como composigio. ‘Outro exemplo maior, um videasta como Jean-Christophe Averty soube cexplorar amplamente estas rupturas de escala na maior parte de suas obras, praticando o que ele proprio chamou nao de mise-en-scine, mas de “diagra- macio ou paginagio (mise-en-page) eletronica’* Assim, em seu folhetim falsamente ingenuo adaptado da peca do Douanier (Henri) Rousseau, La vengeance de forpheline russe, Averty langa mio sistematicamente de compo: sigdes fundadas na incrustagio do corpo de um ator num cenirio desenhado na paleta de cores do computador. Basta ento que um movimento em zoom in venha enquadrar em close 0 rosto da atriz, ou que um travelling para tris venha abrir o campo, para que a mudanga de tamanho fique patente no corpo incrustado, mas nao no cenério, cujo enquadramento ndo se alter. Ora, tal “paginacac’, em que o corpo e o cendrio deixam de se unificar em uma con. tinuidade espacial e mantém sua independéncia (cada qual podendo variar 1 Acsterespeito.veramonografiade A.M Daguet, ean: Oris Avery Pris Dis Vago. Nam lune Pak, Cobo Groove 197, sem o outro), ndo pode mais evidentemente, ser descrita nos termos da escala tradicional de planos do cinema. Em Ubu roi (1965), por sua ver, Averty compde imagens mistas em que os diferentes atores integrados no quadro por incrustagées miitiplas, possuem cada qual um tamanho (uma escala de plano) préprio e aut6nomo, Formando ‘um todo heterogéneo, os corpos de diferentes tamanhos co imagem, inscrevem assim, por sua diferenca de dimensto no ambito de um espago mais abstrato que visual, sua importincia relativa:o Pai Ubu & sempre ‘muito maior ou “n gordo” que a Mie Ubu, como em uma referéncia ir as perspectivas ditas simbélicas da pintura medieval. A escala “homoge: nista’ dos planos, opticamente hierarquizante efilosoficamente humanista do cinema, a videoincrustacao opée assim tum principio de composigdo plistica «em que as relagdes espaciais sio a0 mesmo tempo fragmentadas e achatadas, tratadas sob modos discursivos, mais abstratos ou simblicos do que percep: tivos, escapando a toda determinagio éptica que seria concebida a partir de um ponto de vista tinico estruturador da totalidade do espago da imagem. Escapando, em suma, logica do Sujito-como-olhar que, desde o Renasci ‘mento, rege toda esta concepgo da representagao, Profundidade de campo versus espessura de imagem Com a profundidade de campo, tudo se passa como com a escala de planos (as duas sto de resto estreitamente ligadas). Mas as consequéncias estéticas 85 86 embaixa Ubu, 1965, so agora mais fundamentais. Sabemos, desde of textos famosos de André Bazin pelo menos, que a profundidade de campo encarna, no que hé de mais ontoldgico,0 ideal da concepgio metafisico-realista” do espaco cinematogri- fico. A profundidade de campo pressupde a perspectiva monocular, a homo: ‘gencidade estrutural do espago, a recusa da fragmentacio e da decupagem, a teleologia do ponto de fuga e, sobretudo, a referencia origindria absoluta 20 lho, ao ponto de vista, ao Sueito,instaurador e termo de todo 0 dispostiv. Seo cinema ¢ um Todo orginico, emanacio de uma consciéneia visual, 0 plano em profundidade de campo ¢ sua figura metonimica por excelénca, Em video, e especialmente neste uso do video que passa pela mescla de imagens, é claro que nio pode haver “profundidade de campo" no mesmo sentido, pois nfo ha mais uma imagem tinica (nem espago nico, nem ponto de vista unico ete), mas virias. Embutidas umas sobre as outras, umas sob as coatras,umas nas outras. Daf podermos opor nacao cinematogrifica de profundidade de campo a nogio videogrifica de espessura de imagem: esta mixagem visual ndo deixa de produzir efeitos de profundidade, mas uma profundidade, por assim dizer, de superficies,fundada na estratificagdo da imagem em camadas, Nada que ver com a profundidade do campo, Embutir uma imagem em outra ¢ engendrar uum efeto de relevo (o "buraco” e seu preenchimento) que é invisvel fora da Imagem, ¢ s6 existe para o espectador. Na incrustagdo, hé sempre uma dialé tica do que esté na frente (por exemplo, o corpo) e do que estéatris (0 cend. to), do que esta sobre e do que esté sob, mas enquanto artificio de construgio (a composicio da imagem) que nao corresponde a nenhuma realidade fisica endo existe fora da tela que visualza o"efeito’ Eesta impressio de um sobre/ sob construido, que desloca (mas quase com o mesmo estatuto ontol6gico) a “impressio de realidade” induzida pela profundidade de campo do cinema e acaba freqUentemente funcionando ao inverso desta \kima, engendrando assim um efeito de irrealidade” da representagao e cultivando 0 paradoxo até a vertigem. Para me limitar a um s6 exemplo, evocaria as famosas Three Transitions (1973), de Peter Campus, especialmente a segunda, que apresenta 0 artista em pessoa, num close frontal, cobrindo progressivamente 0 rosto com um creme que ele espalha com os dedos sobre a testa, as témporas, as boche chas, o queixo, 0 pescoco, Sentimento de recobrimento, de camadas sobre 0 rosto, Ao mesmo tempo, a cor uniforme desse creme permite, pelo disposi tivo do chroma key, incrustar no seu lugar (isto é, em todos os espacos do rosto recober 3 pelo creme) fragmentos de outr imagem. Aos poucos, va ‘mos percebendo que esta segunda image 6a do proprio rosto de Campus, enquadrada da mesma maneira e pré-registrada (e portanto com expressies ligeiramente diferentes, variacdes de posicio etc), Dito de"outro modo, um segundo rosto dele mesmo (um outro ele mesmo, ele mesmo como Outro) vem preencher os vazios da incrustagio e surgir no interior do primeico. Estranha e magnifica impressio de um duplo ambiguo, que parece emergir do rosto, embora saibamos que esté por cima, sobre o creme que 0 recobre: figura perturbadora por meio da qual um segundo rosto vem cobrit pi _meiro como uma méscara que, ao mesmo tempo, parece Ihe corroer por 8 dentro, Perde-se af o sentido hierérquico da profundidade (do campo) que discriminava clara nte o que estava na frente e 0 que estava por detris, em proveito da dialética reversivel do sobre e do sob que se intercambiam até a vertigem. Ito &a espessura da imagem, Na identidade necessariamente cindida do auto-retrato ao qual se entrega Campus, vemos 0 que a estética vvideogrifica da incrustacao autoriza como nova forma de espaco: um es: [G0 em que © que esté fora e o que esté dentro literalmente se confundem. Vemos assim uma conseqliéncia imediata deste dado essencial: a questio da representacio do corpo encontra-se consideravelmente afetada: passamos a lidar com um corpo que € imagem(s), ¢ apenas imagem: podemos des- pedacé-lo,furi-lo, queimé-lo como imagem, ¢ ele jamais sangra, pois é um corpo-superficie, sem érgio; ao mesmo tempo (e esta a forga da reversibi- lidade da figura) ¢ propria imagem que se apresenta plenamente, organica mente, como um corpo. Nio uma pelicula” invsivel e transparente, um vidro ‘ou uma janela aberta para o mundo (como ocorria no cinema), mas uma ‘matéria, uma textura, um tecido dotado de corpo, um corpo préprio: uma es pessura. Fm video, tudo provavelmente ndo passa de imagem, mas todas estas imagens sio matéria -Montagem dos planos versus mixagem de imagens Prolongando esse raciocinio, pode-se dizer que o principio dos cortes ¢ das dizegies, proprios & organizagio cinen togrifica da montagem, p ideo. Na verdade, tudo {gar ou se desloca nas mesclas de imagens do como se as rlacBes“horizontais” da montagem cinematogrifica (a cadeia do plano a plano, are 2 da sucessividade, a dimensio sintagmistica) se acum lassem *verticalmente” sob o paradigma da prépria imagem (donde a"compo sigo de imagens” ea “espessura de im: Se em video ainda se monta, 35 imagens em todo caso so montadas umas sobre as outras (sobreimpressio) ‘amas ao lado das outras (janela), umas nas outras (incrustagao), mas sempre no interior do quadro, A montage integrada, ela é interior ao espago da imagem. Assim, me parece possivel opor, 4 idéia cinematogrifica de mon: tagem de planos, 0 conceito mais videogrifico de mixagem de imagens, no 90 mesma sentdo em qu flamoe de mizagem a propésto da banda sonora (4 banda magoética €comum a ambas),A mixagem permit efaizaro pring! po “vertea” da simuilaneldade dos componente. Td ert all 0 mesmo tempo no mesmo esparo.0 quea monlagem distribu na durasto da sucesso de panos a mizagem videogrfica mostra de uma 6 ver nasiultaneldade dalmagem mihipicadaecompoata? Para exemplifcar este pono, voltemos oj Gado Global Groove, video de coreano-eneriano Nam June Pali que era os ebigoscltrals do Ex- treme Oriente do Extremo Ocidente Quando Palkincrusta uma dancing tradicional da Cota sobre ama imagem de vistas atrets de Manhattan, ele est no montandoplanos (uma cea), mascomponda uma imagem cletd- nica que modra de uma 6 vero equialecte videogrien do que o cinema teria nevtavelmente mostrde por meo de uma dlstia montagem er- nade. Melhor ainda: aida de confontacdoligada gin da alteranc se transforma, com #inerustagio videogréfie, em uma iia de mixage ined, nterpenetragto (tanto decuturas quanto de imagens) No ¢ masa Asia em face da América, sto a Asia ea América uma na outra, Ao modelo do cencadeamento horizontal por blocos sucessivos, 0 video substitui um modo ‘de encadeamento vertical que “simultaneiza’ os dados visuais em uma tinica ‘entidade composta, potencialmente totalizante Por outro lado, este tipo de encadeamento por mixagem de imagens tam: bem dé lugar a légicas de corte diferentes das sempiternas ligagbes cinema- 9 Lembremos que apestr de estar no imago da etticavideogriis toda a entétin da imagem fragmenta alo Ihe &excusv, Prova disso 0 fto de que grandes cneasas Inovadore de formas o period do cinema mudo reindicaram-naepraticaram-ma ru dosamente.Pnsemos em Daigt Verto, que invocava aii de uma "montger veri, cu em Abel Gance, meste da sobrempresso, da ancla¢ da tla trpla, que prodamara seramente um manifest: "sera da imagem fragmenta chegu! (.) As fronts do tempo ed espa deabarko mas posilades de uma ela polimoria que adiione, divide ou mubiplique as imagens.” (Mate dn art nowea la polyisin) Canc, is, fo 0 Inventor do pictoscépi (943) ¢ do eletonigrafo (i947) que € wm antepassadoexato da {ncrastac“ombinando uma conjugio especial de televise cinema qe permite 208 ersonagensevluirem livremente um cendriominitriaad™(R.Kat, Aol Gance ou Le ‘rométhle foudoy, Lasanne Age ome, 1983, Pp. 385 €38. Nam tune Paik, Global Groove. 1973 tognificas dos cortes de olhar, de movimento, posicio, dislogo ete. Todas elas constitulam modos de encadeamentos regidos por uma verossimilhanga do hhumanismo perceptivo ou por uma causalidade da continuidade. Os enca-

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