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2 0 CONCEITO DE TECNOLOGIA E SERES-HUMANOS-COM-MIDIAS: ASPECTOS EPISTEMOLOGICOS DA CIBERNETICA E EDUCAGAO MATEMATICA Daniel Tebaldi Santos Silvana Claudia dos Santos Sueli Liberati Javaroni As mudangas que ocorrem na sociedade, provenientes dos aconte~ cimentos e das demandas do mundo contemporaneo, fazem com que os individuos tenham que produzir conhecimentos que os possibilitem lidar com diferentes situagdes em seus cotidianos. Em consonancia com isso, a educacao deve proporcionar aos estudantes 0 desenvolvimento de saberes que lhes permitam conviver em sociedade, além de compreender ¢ transformar 0 mundo em que vivem. Diante desse quadro, torna-se importante que os profissionais da educago percebam a sua posigio enquanto professores, coordenadores. teéricos, informatas ou legisladores, a fim de reelaborar os objetivos de seu trabalho ¢ de reorientar seus esforgos € os recursos materiais e intelectuais 4 realizagao de novos ideais; ideais que promovam, concomitantemente, © desenvolvimento cientifico ¢ a melhoria da qualidade de vida a partir da formagio de cidadaos efetivamente capacitados a atender as demandas sao docente, chamada pritica de de idade de enfoques das ‘ores, a buscar novas_maneir: Digitalizado com CamScanner EDICAGAY AUTANAICN MMRIILAS WS SMM FEEDS TAS y em sua plenitude. Nes romove: eset i pI ero desenvolvimento do ser humano + um ensino ditado po or aspecto, P cabe aos professores niio mais olerece! istantes ¢ dominante: culturais di acterizadas por tradigd ‘ancia dos estudantes ideologias mas imprimi a nas imprimir uma agdo de transformagao di Iética entre teort ao pedagogica envolve mais as ou computadores no senvolvidas em sala de cia das implicagées osso caso, sobre ja estrutura © pratica. Funda manids em uma dindmica dia qui, cabe salienta e i ; as, introduzir calculador ensino, ou preparar atividades didaticas a sere de: aula. Sobretudo, é preciso trabalhar com @ conscién que 0 avango tecnolégico tem sobre a sociedade e, em eee ene tame femedeyofisbalbe a aaa la. A escola tem sido fortemente pressionada pel sar suas finalidades e seu papel. De vwvo de agora, trazido (1992, p. 34), “On Hie modernizacao da sociedade ca da escola”. Observaros que orém, ainda bastante atual. endo pesquisas cientificas, principal nas relagdes ologias digitais. Um a nogao de seres- pautados, social, na escol ja cultura das tecnologias digitais a repens acordo com a concepgio de Rezende Pinto ‘ecnologias, € que o projet pode dar sem a present I do século passado, p PIMEM vem desenvolv ‘as atuais, com interesse pelas novas t brasileira nao se esse excerto é do final Nessa perspectiva, 0 G desde o ano de 1993 até os di de produgdo de conhecimento mediadas pelas tecn constructo tedrico emergente dessas pesquisas consiste nm -com-midias de Borba e Villarreal (2005). Os autores, em Tikhomirov (1981) e Lévy (1993), afirmam que nos, manos, nunca pois nosso desenvolvimento condicionado ligéncia (oralidade, escrita Assim, 4 inteligéncia do sio frutos dessa como uma just como uma interagdo entre hu al é induzide humanos palmente, pensamos sozinhos, s tecnologias da inte ou a cognig aposigao ou um agrupamento umanos © princi seres hui cognitivo é ¢ informatica) mas, sim, O nosso fun ¢ linguagens, siste ‘as comunidades cionamento intelectu: mas légicos ¢ de signos que 5 que nos precederam. muito em tungao de seus ‘dade nies linguas endo com ese grupo de pesquisa, Feus interesses de esq ren do que 6 16en Acsim, perguntas como qual tipo de relacdo nece emergit cae sua rela > com o 24 Digitalizado com CamScanner > eat 1 HENOIOCL SUHS MAWNOS COMMONS AFLG MSTA RINE ICAO NAITACA se esabelece entre tecnologia ¢ 0 ser humana? surgem como ponto de dla e nos mobiliza a part ever este ensaio, buscando Aorta po Fontribuigdes ao construto tedric seres-humanos-com-midi A tecnologia em uma perspectiva ontolégica e 0 advento da cibernética A temitica “tecnologias e educagio” tem ganhado cada vez mais espago nos debates que buscam identificar ¢ caracterizar_relagies produzidas a partir de processos de ensinar e de aprender, em diferentes campos do conhecimento, associados com variados tipos de tecnologias. Evidentemente, se quisermos defini a partir de qual momento essas discusses se desencadearam, estaremos definindo um tipo de tecnologia a ser considerada. Quando deslizamos por uma compreensio de tecnologia em uma perspectiva ontoldgica, o tipo de tecnologia a ser ressaltado nao se coloca como essencial. Caso a tecnologia seja encarada em uma perspectiva mais ampla e, considerando que o advento das do tipo digitais também estejam contempladas nessa perspectiva, entendemos que é relevante identificar a tecnologia na sua constituigao ontolégica. Isso permite apontar as configuracées epistemoldgicas que sdo geradas a partir dela. Para tanto, nos valemos das consideragées elaboradas pelo filésofo brasileiro Alvaro Borges Vieira Pinto, comumente tratado como Vieira Pinto. Em sua obra “O conceito de tecnologia’, 0 filésofo nos contempla com uma perspectiva que estabelece a técnica como uma caracteristica existencial do ser humano. Significa que a técnica é coetinea ao ser humano, e que toda agao humana destinada a transformagio da realidade, superagdo das contradigdes materi is que delimitam sua existéncia, 6 constituida e mediada por atos técnicos. Nesse sentido, a técnica compreende 0 “Modo especifico da capacidade reflexiva do animal humano de resolver as contradigdes com que se depara na relagio com o mundo natural” (VIEIRA PINTO, 2005a, p. 206). As especificidades tecnolégicas surgem de acordo com a idades sentidas pelo ser humano mediadas pela s compreensivel o fato de que o desenvolvim nece: iedade, Dessa forma, é nto tecnold sico nao antecipa Digitalizado com CamScanner NMEA AO AITTALINCA HTL WOES SME TEENOLOCAS ON a so técnico se constitui diante das (VIEIRA PINTO, 2005). Para Capua, esse movimento dialético de produgio material da vida social humay as exigéncias sociais, cada proc as sociais de cada &po circunstanc na qual se insere os objetos técnicos ou tecnologias, 6 fundamenta}, segundo 0 Flésolo, assumir © conceito de tecnologia guiado por quate, ai i piste! gia da técnica; te acepcdes, que sao: tecnologia como epistemologia da t c nologia 6 écnica; i i técnicas de como a propria técnica; tecnologia como um conjunto de técnicas de uma determinada sociedade; ¢ tecnologia como ideologia da técnica. A acepcio primordial que entrelaca todas as outras que consideramos neste capitulo 6 a que coloca a tecnologia como uma epistemologia, ou seja, tecnologia como uma ciéncia cujo objeto de investigagao seja a técnica. Tal acepgdo é fundamental no sentido de Capturar uma concepedo auténtica da ideia de tecnologia, de identificar a tecnologia em todo seu movimento histérico relacdes de produgdo material de existén a humana. Tomar esse caminho, segundo Vieira Pinto (2005), permite a articulagéo que encaminha 4 constituigao das demais acepgoes, do conceito de tecnologia, como forma associado as © que conduz & compreensao auténtica A técnica como expresso do ato produtivo L...] configura um dado da realidade objetiva, um produto di humana que retorna ao mundo em forma de instrumentos e mi la percepgao ago, materializado em iquinas, e entregue & transmis. 10 cultural, compreende- se tenha obrigatoriamente de haver uma cide dando em resultado um conjunto de que a abrange e explora, formu icas, recheadas de complexo ¢ rico contedido epistemoligico. ‘Tal “tecnologia” (VIEIRA PINTO, 2005a, p. 22), A técnica cia deve ser chamada materializada em relacao do ser humano com da historia, ¢ O ser instrumentos e méaquinas revela a realidade, poi © cons Povoar a Passa as recursos, constituinds wn, na te outra em determinado momento sa relacio humano, a conlece ionados, ituia de man ira direta com a natureza, ‘alidade de re FSOS 164 icos, por ele ¢relacionar com a natureza partir desse @ que agora se ix da téc nologi » do se A constatagao des se estabele 0 © a dellagragio da acepg 5), nN : @ conexao que ce entre o Ao de ideolog Digitalizado com CamScanner » O ENCIO HE THOMOND SORES HIRANO COM AS ASMECIS ESTO : SOM CRACK aR Diante das formulagdes consideradas para a apr auténtico sobre a conceituagio de tecnologia prop: (2005), este também teceu con um per a por Vieira Pinto , de forma profunda leraga para uma compreensio dialética da teoria da cibernética, denominada pelo aa \ ilésofo de ‘nova ciéncia". Na constitu : fo desse campo teérico, Vieira Pinto (2005b, p. 20) avalia que “Nao pode haver teoria do conhecimento a nao ser partindo da pratica do conhecimento. Essa tese geral se aplica (...] a criagao das maquinas cibernéticas! e 0 trabalho de processamento de dados nela realizado: A ciéncia cibernética ¢ a aparelhagem que dela derivam estao diretamente relacionadas ao controle do comportamento da matéria viva ¢ As operagdes do pensamento do ser humano (VIEIRA PINTO, 2005b). 0 autor sugere que a cibernética, enquanto ciéncia, representa ¢ dé existéncia a uma maquina completa disponivel para o ser humano. Nesse sentido, compreendida na sua totalidade, a cibernética revela-se como uma maquina que retroalimenta a cognicao humana, pois integra a sui um dispositive com 0 efeito de ciéneia que © homem incorporou racionalidade para melhor compreender 0 mundo e modificé-lo. Com 0 emprego dos conhecimentos recebidos de volta contetidos da razio, projetados na pri incluidos entre os da agao ¢ confirmados em seu teor de verdade, o homem projeta novos 0s de engenhos, outros modelos de estruturas organicas e inorginicas, métodos de comunicagio mecanica ou eletrdnicas ¢ simulagdes das operagées do pensamento (VIEIRA PINTO, 2005b, p. 16). A partir dessa nova correlagéio, que potencializa a capacidade cognoscitiva do ser humano e permite outras configuragdes para os processos telectivos com o advento da cibernética, constitui-se uma expanséo das dimensées ontolégica e epistemolégica da pritica humana, Isso ocorre diante da configuragao de outras possibilidades de conhecer proporcionada pela cibernética, a qual amplia as dimensdes da 'As maquinas cibe tics Pinto menciona se referem as d seu livio, década de 1960 © 70. época da escrita de ys nas linhas de rosas eram as que estavamn sendo implementada produgio das fabricas, au matos, e€ os computa fi se faziam presentes em situagoes 27 Digitalizado com CamScanner TONOLOGAS DATA {pucACAO NATENANCA MRTPLAS VIO SOO TECNRO i eo existéncia do ser humano e modifica as agoes que engendram 0 circuit, epistemoldgico ou do saber (VIEIRA PINTO, 2005). i : 0 circuito 6 uma metafora de representagio do movimento 4, pensamento constituide de dois semicfrculos que se completam se contrapaem, representados pelos pensamentos indutivo e dedutiyo, os quais respondem pela instituigéo do Circuito _configurado pel, simbiose humano-cibernética, 0 ciclo de conhecimento represent, a dinamica que ocorre no plano do pensamento humano, © qual opera de acordo com qualificativos que indicam processos indutivos ¢ aferéncia, percepgao, ideacao, dedutivos; dentre eles, podemos destacar: generalizago, conceituagao, sintetizagao, inferéncia, operacao, conclusao, vos e analiticos (VIEIRA PINTO, 1969). O esquema a seguir ilustra, de forma sintética, 0 movimento de construcao do conhecimento no pensamento condicionado por um fazer cibernético segundo uma percepgao dialética, o qual engendra um circuito epistemoldgico. particularizagao, discurs Esquema do movimento dialético de produga do conhecimento. Fonte: Elaborado pelos autores, : movimento do circuito epistemoldgico do Pensamento, sintetizado na Figura 1, estabelece-se por meio de clementos Principais da atividade intelectual: a finalidade da agio; as med; agGes subjetivas s ae lect a objetivas: € a criagéo do projeto para resolve i : + uma determinada contradh ‘ : ada contradigaéo com a realidade. Esses elementos rs 10 constitutivos da rel com a natureza, que, por sua vez, para a atividade intelectual, ‘gio do ser humano & 0 que condiciona © dé substancia 28 Digitalizado com CamScanner 4:0 NAO HE THROIOGA ETH ARUN COMMAS ASLCTOSERSTINAOCAES Da CRURNETCAL NCC MATER Ao apontar as relagdes entre a cibernética e 0 ser humano, & importante compreender que a finalidade delas ~ enquanto teoria e pratica — nao esté na maquina por si s6, mas, c im, nas transformagées que 9 ser humano realiza, as quais refletem o avango da sua racionalidade (VIEIRA PINTO, 2005b). E fetivamente, conforme o filésofo, significa dizer que a maquina nao representa o objetivo final da cibernética, mas sua intengao ultima, entendendo que a constituigéo dessa ciéncia se da pela incorporagao ¢ pelo fornecimento de informagoes, que cons te em abastecer 0 ser humano de novas informagées, as quais vio se desdobrar em conhecimentos. E possivel considerar que a maquina cibernética representa um. processo de retroagéo, construido pelo ser humano para que as informagées que conhece da realidade retornem para si, como forma de representagao do seu pensamento. Nesse sentido, Vieira Pinto (2005b) compreende a maquina de carater cibernético como parte do pensamento humano, que permite ao cérebro produzir observagées dos resultados emanados da parte exteriorizada do seu pensamento. Diante disso, é fundamental destacar que a Lc] simulagio do pensamento pela maquina seri legitima se for construida sobre a compreensao de que a maquina nao pensa, mas ¢ 6 homem que pensa sobre aquilo que a maquina Ihe transmite, porque a organizou exatamente para ter tal desempenho. O pensamento da maquina nunca deixa de ser na verdade um pensamento do homem incluido na maquina e posteriormente recolhido dela (VIEIRA PINTO, 2005b, p. 115). A maquina do tipo cibernética, e, também, qualquer outro tipo de maquina, executa aquilo que o ser humano exige dela, considerando as dimensdes de limitagao existentes do projeto de sua construcao e das circunstancias sociais as quais esté submetida (VIEIRA PINTO, 2005b). As. maquinas projetadas para determinados fins carregam as materialidades sociais que condi ‘onam a sua existéncia, pois atendem a um projeto humano constituido de acordo com o modo de vida da sociedade. Na anilise dialética da realidade, nao é possivel a separagio do ser humano e os objetos que ele produz, tanto um quanto outro estio ligados pelo processo histérico de transformagao da realidade, cujo motor se encontra nas exigéncias existenciais que condicionam os atos de 29 Digitalizado com CamScanner nna ho WADIA ARTA WOES SOBA THONOLOCS DTS Jo entre ambos, objeto © produtor, ico, compreendido da seguinte maneira: os substituem 0 trabalho (fisico e mental) + humano modifica os dos antigos. Conforme produgio do ser humano. A rela revela outro resultado dial objetos, instrumentos ¢ maquinas Secor humano, ao mesmo tempo em que o Se que substituem 0 trabalho objetos ow cria outros ; Vieira Pinto (2005b, p. 151) ressalta, a maquina essivos do estad ediagio entre dois momentos sucesst os d lo is capacitado no Seg clhor; ¢ igualmente ieee undo do que cultural do homem como produtor, do emprego do maquinismo m criadora, enfrentand das para o empenho dois momentos da no primeiro, em virtude Jo uma condigao «© homem, pela faculdade inventiva € le a busca de solugées mais fecun que © impel diagao entre itui-se na condigio de me dois modelos da mesma finalidade, se for Num exemplo do dltimo caso, produtivo, tum mais perfeito que © litativo maquina, ido um salto qu outro, ou entre dois tipos diversos, tna sequéncia histériea dos engenhos. encontramo-o o surgimento das méquinas cibernéticas. dispositivos cibernéticos muda a A mediagéo operada a partir de de outras méquinas diferentes das execugao linear que € caracteristica desse tipo. A modificagao referida é possibilitada pela introdugao de leis de ordem dialética, como as de alimentagao retrégrada ou retroagéo e autorregulagao. A retroagéo, para o filésofo, é uma propriedade geral do movimento da matéria, a qual se manifesta na condigao de lei da igualdade da acao com a reacio. O ser humano se apropria dessa lei, pelo dominio da racionalidade, e a corporifica nas méquinas, em especial ira Pinto (2005b, p. 346) considera que as do tipo cibernética. Nas estruturas de retroagio, conforme se verifica numa programacao cibernética, a cada causa, além das possil idades normais de produzir ou nao o efeito previsto, acrescenta-se a eventualidade da ocorréncia de um resultado formalmente wesperado, 0 retorno do feito a qualquer dos linear preced As estruturas de retroagdo confirmam a dinamica do proceso de produgio de conhec 0 mento historicamente proces sado pela condiga de humana, 0 ser humano sempre foi condi jonado por relagoes 30 Digitalizado com CamScanner ro De THONOLOG SENS HINWNOS CON MIDAS SUT EMSTEMOAOR om ENSTINOLOGCOS DA CNERNETCA ICACAD MAMACA 40, as quais 0 tornam um ser ciber ico por natureza, No entanto, ‘ae das maquinas derivadas das ideias ie as configuram, surge o ser cibernético por construgao. Essa nova rutura permite uma outra dimensio do processamento de informacio, ral revela um circuito de retroagio de informa retro : com 0 surgimento da cibernét qu est aq {Mirresponde a uma relacdo especifica organ ada com o advento das maquinas cibernéticas. No caso do computador, enquanto maquina, ha um sistema proprio de retroagio construido pelo ser cibernético por natureza, ser humano. Desse modo, o circuito de retroagao deixa de ser exercido, exclusivamente, pelo cérebro humano e passa a ser composto também pela estrutura de retroagéo gerada com a utilizagio do computador. O sistema proprio de retroagdo embutido nas méquinas se constitui de trés processos cognitivos: do inventor, do construtor ¢ do operador. Tal conjungao de cogniges sao reflexos da totalidade na qual as criagdes tecnoldgicas se circunscrevem, de modo a revelar 0 condicionamento social que define as transformagées da realidade. As compreensées produzidas a partir das reflexdes, e das discussoes das consideragées de Vieira Pinto na sua obra “O conceito de Tecnologia”, permitem-nos fazer interlocugao com a Educagdo Matematica, corroborando uma percepgao dialética de produgao de conhecimento. Tecnologias e produgao de conhecimento matemiatico: a contribuigado do construto seres-humanos-com-midias Ao longo de décadas de estudo parece ser consensual entre os pesquisadores que a historia das tecnologias se confunde com a historia da humanidade e que, portanto, o conceito de tecnologias envolve muito mais do que ferramentas e instrumentos, ou seja, a sua objetificagao. Nesse sentido, o desenvolvimento da tecnologia parte do principio de que ocorte uma interagéo social entre humano ¢ tecnologia, ou seja, um proce sociedade. Nesse aspecto, ¢ possivel técnico que molda a vida dizer que nao ha neutralidade no sistema le enologia-humano, mas, de res-humanos-tecnologias, bem como outro modo, hi uma unidade € expresso na metéfora seres-humanos-com-midias (S-H-C-M) (BORBA; 3l Digitalizado com CamScanner Encicho warenca UTES WOES SOE TECNOLIGUS ITS sionte entre tecnologias © seres humangg VILLARREAL, 2005), A relagao configura uma unidade basica ent em Matematica, caracterizada por um pe Segundo esses pesquisadores ¢ educadores matem tre ambos na produgao de conheciments nsamento coletivo (LEVY, 1993) icos os-midias ou humanos-com-tecnologias Humanos-com-midia, huma sights sobre como se da a propria metiforas que podem levar a 5 do conhecimento, da mesma forma que o ser humano também produg na metifora para o sujeito epistemoldgico que esta téo profundamente enraizado que 6 considerado, por muitos, natural. um nome? Essa metafora sintetiza Mas por que uma nova metifora se tornaré apenas mais 10 e da historia da tecnologia que permite analisar uma visio da cogniga a participagio dos novos “atores” da tecnologia da informagio nesses julguemos se ha “melhoria” ou nao, fs pensantes de forma que lentificar transformagées na pratica (BORBA; VILLARREAL, 2005, mas sim p. 23, tradugao nossa)*, Esse construto teérico tornou-se um referencial importante no ambito das pesquisas em Educagéo Matematica, as quais tém em comum compreender a dimensao epistemoldgica da relago entre tecnologias digitais e os processos de ensino e aprendizagem da matemitica. A partir da década de 1970, a ideia de “tecnologia” passou a considerar artefatos eletrénicos e 0 computador, mais especificamente, Com o passar ternet, o que se das décadas e, principalmente, com o advento da entendia, até entao, por tecnologia foi completamente ressignificado pelas potencialidades presentes nesse tipo de aparatos. A partir dai, outros modos de produzir conhecimento e do que pode ser considerado humano puderam ser vislumbrados. *Humans-with-media, human-media or humans-with-technologies, in lead re metaphors that 1 of knowledge itself takes place, in th insights segaeding how the produc or for the epistemological subject that is so deeply rated hat is why a new met to be natural B hor will it become just another name? ul of the hor synthesizes a view of eaguition tory of technology that makes it pole to analyze © participati : + actors’ in these think in a way that we do not lt Wansformation, ot, but rather Digitalizado com CamScanner 4: eoncao 8 THNOLDGN SIS HANNO COM MOMS ASPECT EMSS DN IRA HCA MAIENCA Em meados da década de 1990, impulsionados pelo debate emergente ta presenca do computador em atividades de ensino Jatematica, os docentes Marcelo C. Borba ¢ Miriam Pent yrograma de pos-graduaga prendizagem em mbos do em Educagio Matematica da Unesp, campus Yio Claro-SP, dao vida ao grupo de pesquisa em informatica, outras midias » Educagao Matematica (GPIMEM). Nesses trinta anos de existéncia, 0 grupo tem discutido sobre o papel que o computador e demais tecnologias Jesempenham no processo de produgao do conhecimento. As inspiragées tedricas iniciais do GPIMEM vieram do contato com ys estudos vigotskinianos de Tikhomirov (1981) e das reflexdes historico- loséficas trazidas por Levy (1993, 1999, 2010). O aprofundamento tedrico -ealizado por Borba deu a sustentacao teérica necesséria aos seus estudos ampiricos e de seus colaboradores no campo da Educagao Matematica. Borba vem argumentando, a partir dai, que as tecnologias, sobretudo as digitais, transformam o modo como pensamos e agimos no mundo, moldando, inclusive, a natureza do que significa ser humano. Nese sentido, em Borba (1999) e Borba e Villarreal (2005), 0 construto S-H-C- M indica que ha uma moldagem reciproca na relagéo entre humanos e tecnologias na medida em que um fomenta a existéncia do outro, quer dizer, seres humanos constroem e agem sob as tecnologias disponiveis, e, da mesma forma, elas agem nos seres humanos, uma vez que nossas acées, pensamentos, sentidos, etc., sio moldados pelo feedback dado por elas, enfatizando, mais uma vez, a nao neutralidade das midias e seu poder de agao (agency) em uma unidade humanos-tecnologias. Nesse sentido, a “Tecnologia tem sido vista como tendo poder de acao. A tecnologia digital esta saturada de humanidade em seu design e em sua concepgao, e humanos estéo impregnados por tecnologias, em particular as tecnologias digitais®” (ENGELBRECHT; LLINARES; BORBA 2020, p. 835, tradugdo nossa). Diante disso, na perspectiva do construto S-H-C-M, as tecnologias sio superiores aos humanos, do mesmo modo que o contrario também parece nao ocorrer quando se considera a unidade basica que mobiliza 41...] technology is seen as having ywency, Digital technology is saturated with | by woh BORDA 2020, p. 835). iid in its conception, and hu RECHT; LLINARES, logy, and in particular digital technology” (ENGI 33 Digitalizado com CamScanner do conhecimento, Quer dizer, no processo de producag 4, nto tecnologias tendem a assum, ° a produ conhecimento tanto humanos qua protagonismo. O conceito de tecnologia por Vieira Pinto e seres. humanos-com-midias: algumas articulagdes possiveis onceituagig ecnologia e da teoria cibernética. ico S-H-C. BORBA; VILLARREAL, 2005) relaciona os processos de ologias. As ideias Vieira Pinto (2005), em sua obra pdstuma, analisa a ci sobre t Ja o construto t M (BORBA, 1999; aprender Matematica condicionados pelas tecn: ensinar adas as discussdes que que compéem os dois referenciais estdo relacion: correspondem aos movimentos de transformagées envolvendo 0 processo cognitivo humano ¢ as tecnologias na agao com a realidade. 0 construto te6rico $-H-C-M contém ideias que nos permitem associar a0 que Vieira Pinto (2005) aponta sobre o movimento de transformagio da realidade. O construto institui a moldagem reciproca como metéfora para representar essa dinamica de movimento de transformagao, © qual revela a base para a compreensao da nogao de seres-humanos-com-midias (BORBA; SOUTO; CANEDO, 2022). A metafora representa a relagdo entre 0 ser humano e as tecnologias, em que a acio de produgao de conhecimento daquele mediado por essas engendra modificagao em ambos. ‘As possibilidades que sao constituidas com 0 advento das tecnologias, dialeticamente, influenciam as acées humanas, pois introduzem novas opgées de operacionalizagao da realidade, dado que se inserem nesta como novos artefatos que reconfiguram as circunstincias objetivas que © ser humano se encontra (BORBA; SOUTO; CANEDO, 2022). Essa dindmica revela aspectos dos processos contraditérios estabelecidos entre 0 set humano e as tecnologias com as quais ele lida, provocando movimentos de superagao dessas contradigdes. De acordo com Vieira Pinto (2005), Borba (1999) e Borba e Villarreal (2005), as configuragdes tecnolégicas sao estabelecidas de nstancias objetivas que o ser humano esta inserido. acordo com as ci Essas ‘i : omens condicionam as ages humanas na superagao das contradiga 7 : igdes que se impde no trato com a realidade e engendram novas Br Digitalizado com CamScanner + oN HE ENON SAS HANNATS COM MENS RENCE TANNER EA ema ir nela, ou seja, si possibilidades: de P tesponsiveis pela produ Fovas tecnologias. Ao me mo tempo, ao transformar da criagio de novos artefatos, 0s » de a wealidade a partir humano também se modi evolui sua capaci s adversid: na superagio da le racional 0 process de constiugio de conheciments @ modilieade eam advento de novas tecnologias, visto que outtos meios sie inserides come mediadores na relagio entre © conhecimento © as ser humano, provocando transformacé As transformagdes pos agies cognitivas do es nas suas atividades intelectuais. ibilitam outras formas de conhecer que medeiam a dinamica da re: lizagio do pensamento. ou seja. Pprovocam uma reorganizagdo do pensamento, de acordo com o construto tedrico S-tl CM. De maneira semelhante, Vieira Pi to (2005) considera a mediacio a partir de novos mecanismos que se intercalam com os processos de pensamento humano, constituindo-se em uma tnica maquina para melhor conhecer as leis e os fendmenos da natureza. Os. referenc tomam a dimensao histérica do proc de constituigao da realidade como fator fundamental para entender as determinagdes que dao existéncia as tecnologias e provocam transformagdes nas atividades humanas. 0 histérico compreende nio os fatos mortos que se encadeiam em uma cronologia linear, mas a dindmica das situagées reais que configura os processos de cons formas de existir do ser humano. A dimensao histérica se institui a partir das necessid ‘ao das novas jades do ser humano em melhor conhecer a realidade em que habita. | que a relacdo que liga o ser humano a natureza nao é de carater técnico, mas, sim, existencial. Logo, a historicizagao da constituigdo da realidade é condicionada diante das agdes que o set humano estabelece para st 0 revela transformagao, que, dialeticamente, ao criar os meios dessa translormacio produz a si mesmo, ou seja, a sua propria historia (MARX; ENGELS, 2019) © construto tedrico $-H-C-M institui a ideia de moldagem reciproca entre seres humanos e tecnologias, condicionado por um process dialético ao longo da historia. Segundo Villarreal e Borba (2010) ¢ Souto © Porba (2012), as tecnologias do ser humano como forma de io criagde! desenvolvimento de um processo histirico para adaptar & si o meio em oo Digitalizado com CamScanner EHNCHO NUTTAUNICA MRD PLAS SIS SRE TECNOUDAEN DITA a sua existéncia. A condigao de adaptagao do meio a ocorre de forma dialética, em que a sua ago transforma as circunstancias objetivas q, realidade. Isso resulta na criagdo de técnicas, ao mesmo tempo em que a realidade modificada condiciona as ages humanas; por consequéncia, ela transforma 0 préprio ser humano. De acordo com os autores, diferentes artefatos desenvolvidos historicamente tem moldado a maneira que o conhecimento é produzido, Ao tratarem, mais especificamente, do conhecimento em Matemitica, observam que a atividade do matem: ico tem se modificado diante do advento de novos artefatos, visto que 0 modo de fazer matemitica 6 condicionado ¢ reorganizado pelo coletivo de seres humanos configurado pela introdugao desses novos artefatos. As tecnologias sao constituintes do ser humano, um existencial, aquilo que 6 de caréter humano e que sem 0 qual nao existiria. Nessa abordagem da relagao da tecnologia com o ser humano, a criagio de novas tecnologias esté condicionada pelas necessidades existenciais humanas, que direcionam os tipos de tecnologias a serem criadas (VIEIRA PINTO, 2005). De acordo com 0 construto teérico $-H-C-M, do processo de transformagao das circunstén , as tecnologias sao atores cias reais e formam um coletivo pensante com os seres humanos, que de produgao de conhecimento. Nesse sentido, protagonistas da histéria, de manei de novas formas de apreensio e d condiciona os processos as tecnologias sao também ira que elas atuam na constituigao le modificagao do proceso real, Isso m poder de agao na transformagao da © mesmo tempo que sio pois agem na transformacao desse. Existem outras considera entre as ideias de Vi construir uma significa que as tecnologias possue: realidade considerada, ai Parte constitutivas do ser humano, gdes que precisam ser ira Pinto e o construto S-H+ Perspectiva em que a condigéo de das relagdes sociai necessidade de cay suas milti melhor exploradas C-M, de maneira a agit na constituicao las determinages, de maneira geral is tecnologias 36 Digitalizado com CamScanner s W005 Ce MS CTS ONTANAAN ox calm NCIENCIENCACAD Mam Consideragées finais 0 objetivo deste capitulo foi estabelecer um di de tecnologia © a perspectiva dialética de cibernétien em Viein, py (2005) com as ideias do construto teérico S-H-C-M, A inj iat oF rade constitui um movimento de aprofundamento do debate cove anes tecnologias ¢ Educagdo Matematica, em especial o que se ee recursos digitais na configuragao da producao de conhecime Qs desdobramentos das i ci logo entre © conceito laciona com nto. 5 terrelacdes entre as consideragses dos dois relorenciais que buscamos estabelecer tém potencial roves entendimentos ni lidades para produzir ‘a discuss4o sobre a produgiio de conhecimento em Matematica condicionada por objetos técnicos. Por esse caminho, & possivel abordar ¢ aprofundar o debate do papel social que as tecnologias cumprem em uma perspectiva critico di P : lética, sobretudo por destacar as dimensées econémicas e politicas no movimento de transformagao das condigdes objetivas do proceso de ensino © aprendizagem em Matematica, considerando as miltiplas determinagdes na anilise da inclusdo de outros recursos tecnologicos digitais nesse proceso. Por outro lado, a compreensao da cibernética na perspectiva dialética possibilita que consideremos outros aspectos para discutir a producao de conhecimento em Matematica associados a0 movimento do pensamento. Tais aspectos sao reflexos de um processo histérico de acimulo de conhecimento e permitem expressar as dimensdes ontologicas e epistemol6gicas da agao humana na busca por resolver as contradigées que emergem na produgao da sua existéncia. Por fim, este capitulo se insere em um movimento de reflexdo a respeito das concepgdes que o GPIMEM, a partir de seus colaboradores ¢ membros, vem investigando. As ideias langadas sao parte de intensas reflexdes que possuem dissonéncias no grupo por adicionar aspectos epistemoldgicos associados 4 tematica “tecnologias digitais e Educagao Matematica”, que so, muitas vezes, concorrentes com percepcoes hegeménicas de tecnologia. As contribuigdes deste texto se inserem na dinamica investigativa do grupo por agregar outros discernimentos para pensar sobre tecnologia, em especial, com outras concepgoes tedricas que fomentem e dialoguem com as ideias do construto S-H-C-M. Ha muito que Se comemorar com os trinta anos do grupo, principalmente pelo avango 37 Digitalizado com CamScanner EDUCACLO MATEMATICA. MULTIPLAS VISOES SOBRE TECNOLOGHS DIGTTNS produzido no campo da Educagao Matematica relacionado as tecnologia, s digitais. Bibliografia A bibliografia utilizada esta listada no final da Coletanea. Digitalizado com CamScanner

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