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C R, eee PALAVRA, IMAGEM E TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAGAO ES VE 0: JE. recto: ‘more cuo00 Capaediagramasio: Tews Cusd00 Resto: Parasua Eon feo da auto: ADAMO ALN ‘CIP-BRASIL. CATALOGACAO NA FONTE SSINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, Ry asre Rpt, Ana Esa creer, hoje: pola, imagem e tecnologia digas na educa 1 Aoa Elta ibaa 1. ed So Paulo Parole, 2018, 128 p.: 23cm (Unguagens etenologas 6) Incl btograta ISON 97895-7004 14655 1. inguin portuguesa - Estudo ¢ enn. 2. Comunicago esta 3. attra 4 Educagso novagSer ecologies Thue. I'S 50093 coo. 460s Coy ari t34336 Mari Glice Rodtiues de Souza - Bbctecin CRB 7/6459 Diretos reservados & PARABOLA EDITORIAL ua Dr Mario Vicente, 394- Ipiranga (4270-000 So Paulo SP ppb: [1] 5061-8262 | 061-8075 fax (111 2589-9263 home page: wwww.parabolaeditoralcom br ‘email perabolaaparaboleditoralcombr Todos os dito eservados. Neha pate desta obra pode se reprod- ‘2d cu tanamtids por qualquer forma fu quasaue ios feetvono 0d mec ncn tocol gravar} argued en qualquer Ser ‘Banco de dos sem perso pr excite Parole Eater ta 1SBN:978-85-7934-146-5 © do texto: Ana Elisa Ribeiro, 2018. © da eicio:Parabola Editorial, Sao Paulo, setembro de 2018. ii) Cultura escrita, cultura impressa, cultura digital contiguidades e tensGes' 1. Inicializando dam temas como o letramento digital e a cibercultura. Varios deles comegam com palavras que aludem ao universo digital, como “log in” e outras, numa metifora divertida, inspirada nas méqui- nas digitais e no linguajar criado para esse universo. Minha ideia nao 6, portanto, nova. Comecei com a palavra “Inicializando” para remeter a0 universo de certo sistema operacional muitissimo difundido pelo mundo, incluindo-se o Brasil. E desse universo de maq pessoas, interagdes e culturas escritas que quero tratar. A cibercultura vem séndo descrita e mesmo defendida em varios Ambitos; vem sendo comparada e contrastada com a cultura impressa, por exemplo; por vezes, vern sendo tratada como se fosse um contra- onto a cultura escrita, 0 que considero fundamentalmente equiv cado. A cultura escrita vem se constituindo hé milénios, com base na i 4 algum tempo, venho lendo e estudando trabalhos que abor- "Bite texto fol originalmente escrito para minha participacdo na mess-redonila“Linguagem hhipertextual géneros textuais digitals na edueagio”, no Il Congress Ibero-Americano de Estilos de Aprendizagem, Tecnologias e Inovagdes na Educagao (II CIEATIE), ocorrido em Beaslia- DF, cm 2013. . » (CULTURA ESCRITA, CULTURA IHPRESSA, CULTURA.DIGITAL invengao da escrita e no desenvolvimento da leitura, e vem passando por mudangas menos ou mais notadveis durante esse tempo. Tabuletas de argila ou de pedra, couros animais, tecidos, fibras vegetais, cascos de tartaruga, papel ou bits compoem um quadro de possibilidades que fazem parte de uma mesma histéria, embora ela seja pouco ou nada linear, dado que as invengdes e as mudangas nem sempre ocorrem em sequéncia (quase nunca, alids). ‘A invengao do pergaminho, tipo de couro animal usado para a inscrigao de textos, nao sucede simplesmente & do papiro, e seu uso nao substitui outros modos de eserever de forma consecutiva € con-~ corrente, Como sugere Fischer (2006), passam-se cerca de quatrocen- tos anos até que um material se torne predominante, e as razdes para {sso so de variada natureza: desde econémicas (material mais bara- to) até politicas (bloqueio da importacdo) ou ambientais (animal ou planta raros). ‘Aculturaescrita, isto uma cultura baseada na palavra, no texto, em algum tipo de e6digo, alfabético ou nio, inscrita em algum mate- rial, propicia e provoca certas préticas, mormente sociais (antes de se- rem escolares, por exemplo), a que hoje damos o nome de letramento, ‘embora nao sem polémica’. As priticas sociais ligadas a escrita (ed lei- tura) sio diversas em diferentes épocas e espacos, sendo bom exemplo citar diferengas notaveis entre as priticas de escrever e ler na China de depois de Cristo e na Europa da mesma época; ou entre praticas letra- das urbanas e rurais, incluindo-se o valor atribuido a certos aspectos (como livros e escolarizagao ou a guarda da Biblia). Em razdo disso, a cultura escrita é abrangente, isto é, conforma- -se as contingéncias, is praticas sociais, etc. E é dentro dessa cultura que ocorrem mudangas de caréter técnico e tecnol6gico que a trans- formam e mesmo a subdividem. Dessa forma, a cultura impressa se constitui no bojo da cultura escrita, sendo uma parte da histéria desta, 7 Paraleno, importante vet os estucdos de Magda Soares, Leda Verdian(Tfount, Angela Klei- ‘man, para citar 0s trabalhos fundadores da discussio no Brasil 2 ESCREVER, HOTE inequivocamente relativa a invengdo da prensa de tipos méveis. Para ‘nés, no Brasil, que estudamos quase somente uma hist6ria ocidental, 6 importante saber que a impressio e mesmo os tipos méveis jé haviam sido inventados na China, embora nao tivessem vingado do mesmo modo que ocorreu com a prensa alema (Fischer, 2006). ‘Antes da prensa, portanto, néo havia cultura impressa; havia cul- tura escrita, isto é, uma cultura: ‘manuscrita e fortemente coocorrente com a cultura oral’. A cultura impressa, entio, emerge, se instala, al- tera as modulagdes da cultura escrita e cria novos letramentos. E de fundamental importéncia considerar a palavra modulagdes, uma vex {que préticas de culturas anteriores néo desaparecem repentinamente. Normalmente sio reposicionadas (outro termo importante) em um sis- tema de midias* que se reconfigura, tecnolégica e socialmente. ‘De umas décadas para cd, vimos ouvindo falar de uma cultura di- gital, entao parte da cultura escrita, tfo nova e tio caracteristica que alguns vem envidando esforgos para descrevé-la e mesmo ensiné-la. O que a propicia é um novo modo de escrever, por meio de méquinas e de redes telematicas, alterando os letramentos e as relagoes das pessoas ‘com o escrito, o texto, 08 formatos, as leituras, as formas de produgao, publicacdo, edigao, difusdo e circulacio de objetos de leitura, 0 que é,entdo,acibercultura, tomada aqui como sinénima de cul- tura digital? Em que ela se baseia,e como se difunde? Que elementos fa- zem com que ela merega batismo, isto é, a distingdo de um novo nome? Varios autores tém se debrugado sobre as praticas e as modula- ‘goes da cultura digital, inclusive tratando-a como a saida para ques- tdes intricadas como a autoria, o direito de autor, a edigdo e até mesmo a educagio e a aprendizagem. Na primeira parte deste trabalho, con- ‘vido o leitor a um breve passeio pelas ideias sobre cibercultura, princi- palmente, em alguns autores brasileiros, todos, considerados referéncia "Walter Ong, em seu livro Oralidade cultura escrita (1998) estuda essas questdes, Outros também pesqaisam o campo da oralidade e do letramento,inchusive de outras perspectivas, SKexpreendo, que me parece muito adequada,é de Briggs e Burke (2004) Desde sua publica: «gio no Brasil, venho insistindo nels. CULTURA ESCRETA, CULTURA THPRESSA, CULTURA DIGITAL 13 nesse campo; em seguida, esbogarei um modelo de pensamento sobre as fricgdes entre cultura escrita, cultura impressa e cultura digital, ‘com base em uma analogia feita com o trabalho de Ruth Finnegan, para, entao, finalizar esta discussao aberta ao debate. 2. Cultura digitale cibercultura Em varias partes do mundo, interessados e estudiosos se dedica- ram as questdes da cultura digital, desde o surgimento dos computado- res e da internet’, No Brasil, é quase impossivel nao passar pelo filésofo Pierre Lévy, amplamente conhecido e quase a tinica citagao possivel até pouco tempo, quando o assunto era o hipertexto ou a cibercultura. ‘Traduzido para o portugues e, portanto, acessivel desde o inicio da dé- cada de 1990, Lévy goza de prestigio entre os estudiosos do tema. Para 0 fildsofo das “tecnologias da inteligéncia” (subtitulo de seu livro mais famoso, de 2004), a cibercultura é um “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de praticas, de atitudes, de modos de pensa- ‘mento e de valores que se desenvolvem juntamente com 0 ciberespaco (rede)" (Lévy, 1999, p. 17, grifos meus). E essencial notar que nao se en- tra na cibercultura ao ganhar um iPad ou ao comprar um videogame. E preciso agir e pensar de um modo que tem suas peculiaridades ou, ‘como vém dizendo alguns, depende-se da construcao de um ethos. Em alguma medida seguidores de Lévy, autores brasileiros tam- bém ofereceram suas definigdes e descrigdes da cultura digital. Liicia Santaella (2003), por exemplo, aponta a necessidade de um “casamen- to” entre linguagens para a emergéncia da cibercultura, além de alguns pontos-chave como a alta disponibilizagao dos contetidos, sua transi- toriedade, 0 consumo individualizado, a convergéncia das midias, a > Mesmo ao norte-americano Vannevar Bush, em 1944, é atribuida a preocupagio com 0 hipertexto, bem antes da invengao di s digitais. fora a precpitagio e mesmo ft inadequagao de muitas dessas atribuigoes, a ideia de Bush era jé prentincio de algamas ‘ponsbiidades digitas.Esses prensincios também jéestavam na literatura, conforme afirma ‘Almeida (2008). cultura do acesso, além da exacerbacdo da produgao e da circulagio da informacdo, em um contexto de capitalismo globalizado. ‘André Lemos, em varios trabalhos, discute a cultura digital em termos tais como a potencializagao do compartilhamento, a farta dis- tribuigdo, a forte cooperago e a apropriacao de bens simbélicos, fru- to de crescente troca social: redes sociais, blogs, videos, etc. (Lemos, 2004), Em outro texto (Lemos, 2002), o autor menciona a liberagio do polo da emissio, a conexio em rede ¢ a reconfiguragao de formatos midiaticos e praticas sociais. Nelson Pretto (2010), também um entusiasta das tecnologias, es- pecialmente na educagio, dé sua contribuigio mencionando um “ca- minhar mais solto e mais amplo’, por conta da hipertextualidade na leitura (e na escrita); uma rede nao linear de diferencas; a interagio € a troca entre sujeitos; a recombinagao; o remix; 0 didlogo constante ¢ tudo isso no plural. Lendo esses autores, é muito provavel que se tenha a impressio de que a cultura digital é o que sempre sonhamos. Um mundo de com- partilhamento, cooperagao, dialogo, leituras méveis, andancas, liber- dade ¢ troca, No entanto, outros autores nos socorrem de enxergar por apenas um olho, Um deles é Erick Felinto, que, em um texto de 2006 (e grande parte dessas referéncias é recente), aponta que estamos em ‘um momento de experimentar a vida contempordnea “embebida de ex- periéncia tecnoligica’, mas uma tecnologia “colocada como essencial para a sociedade”, como se fosse “fator central das vivencias sociais, das sensorialidades e das elaboracdes estéticas”. Na cibercultura, se- gundo ele, também haveria mais espago para a comunicagio mediada ‘ea tradugio de tudo em dados numéricos. ‘Magda Soares, uma das referéncias mais respeitaveis quando se trata de letramentono Brasil, se arrisca na seara digital em um citadis- simo texto de 2002, para admitir fortemente os “efeitos da tecnologia da escrita digital nas nossas praticas de leitura eescrita’, as priticas de interagao on-line, sem deixar de mencionar a existéncia do hipertexto. (CULTURA ESCRITA, CULTURA THPRESSA, CULTURA DIGITAL a5 A autora se posiciona com Lévy, quase tinica referencia difundida até o inicio dos anos 2000, ¢ ratifica uma “mutagio na relagio com o saber’, ensejada pelas tecnologias digitais da informagao e da comunicacao. Diante desse quadro, que tenta compor uma nogio do que seja a cibercultura, é possivel inferir uma sugestdo das diferencas quanto & cultura impressa e a uma cultura escrita ainda sem as interferéncias das novas possibilidades tecnolégicas. Quando se diz que a cultura di- gital é o lugar do compartilhamento e do didlogo, é como se tambémrse dissesse que esses nao sao valores preponderantes na cultura impres- sa. Em alguns trabalhos sobre a leitura, de fato, afirma-se (a meu ver, equivocadissimamente) a passividade do leitor na cultura do livro e do jornal e uma stibita esperteza do leitor de dispositivos mais recentes. Hi, portanto, uma tensdo entre as culturas ou, melhor, uma ten- sio entre os olhares que as observam e delas até participam. Muito ‘embora se discuta, inflamadamente, a extingao de certas tecnologias ‘com a chegada de novas, tudo isso tem soado muito mais como debate apaixonado do que como uma constatagio empirica. As tensdes entre culturas, priticas e entendimentos surgem nos mais diversos ambitos, de formas nem sempre extremas. E interessan- te, no entanto, abrir os olhos para os tempos, espagos € modulagées dessas questées, a fim de subsidiarmos estudos sobre este momento rico de transigdo (que pode durar séculos). 3. Trés espacos de didlogo e tensao: a biblioteca, a editora e o show de musica ‘A miisica entrard aqui como um exemplo de didlogo entre cultu- ras que nao diz respeito, propriamente, aos choques entre cultura im- pressa e cultura digital. Os estudos de Ruth Finnegan (1988), pesquisa- dora europeia, podem nos ajudar a trabalhar uma ideia de “letramento musical” que nos ajuda a pensar o que acontece quando uma biblioteca precisa instalar um telecentro em suas dependéncias ou © que ocorre 16 ESCREVER, HODE quando uma editora precisa publicar um livro sobre experiéncias de ensino com ferramentas digitais. Finnegan, no livro Literacy and Orality, analisava a relagéo en- tre oralidade e performance na misica, oferecendo ao leitor alguns cexemplos de priticas sociais ligadas ao que poderiamos chamar hoje de géneros musicais. A autora exemplifica seu estudo com a situagio de uma cidade inglesa em que ao menos trés tradigdes musicais eram fortes: 0 cldssico (corais, orquestras e instrumentistas), 0 rock ¢ 0 jazz. O que Ihe interessa sao 0 que chama de “mundos musicais’, mas bem poderiam ser as priticas de “letramento” (perdoem a impertinéncia do termo, mas considerem-no uma analogia) para a misica. Segundo Finnegan, na cultura da miisica classica, atribui-se muita importanciaa partitura, aos estudos técnicos avangados e & replicagio perfeita da partitura. 0 comportamento do ptiblico é de contemplagio, siléncio, audigdo das pecas, sem alarde, sequer aplausos. Sentados, os ouvintes admiram a musica perfeitamente reproduzida. Jé no rock, a indumentaria, a estética do corpo e dos cabelos é caracteristica, assim ‘como a auséncia ou a pouca cobranga de estudos musicais avangados (0 “tocar de ouvido”). 0 piblico do rock espera assistir aos shows de pé, cantando com a banda, participando de varias formas da performan- ce. Jé no jazz, 0 estudo de miisica é valorizado, mas a execugio conta ‘com 0 improviso e certa irregularidade. 0 comportamento do piiblico & menos manifesto do que no rock, mas menos contemplativo do que no cldssico, Nessas trés “culturas’, hd diferencas quanto as formas de composigao, & performance e participagao do piblico. Esso é ampla- mente conhecido pelos ouvintes, que ajudam a organizar um “letra- mento” no qual as pessoas costumam ser iniciadas. Pensando dessa forma, e conforme essa parifrase breve do tra- balho (muito mais detalhado) de Finnegan, é possivel concluir que as “culturas” contam com seus cédigos e elementos, reiterados ou altera- dos socialmente. A hibridagao desses cédigos causa estranhamento ‘mudanga, isto é, choque e reacomodagao (ou reposicionamento), quan- ‘CULTURA ESCRITA, CULTURA IMPRESSA, CULTURA DIGITAL wv do analisamos a questo. Dessa forma, vamos considerar os didlogos as tensdes entre dois “mundos musicais” atuais, a saber, 0 clissico ¢ 0 popular (MPB), com raiz na cangio nordestina, reproduzidos no show intitulado Valencianas, de Alceu Valenca com uma orquestra sinfonica. Esse tipo de “fusaio" nao ¢ inédito na misica, uma ver que sio conhe- cidas iniciativas tais como a da banda de heavy metal Metallica com a Orquestra Sinfonica de San Francisco: vérias performances da banda inglesa Queen, mas especialmente com acantora lirica Montserrat Ca- pallé (no dlbum Barcelona); a banda de rock brasileira Iral, ao executar imiisicas com violino; entre muitos outros exemplos. Nas Valencianas, show em turné no ano de 2012, as cangdes muito populares de Alceu Valenga eram por ele executadas, acompanhado de ‘uma orquestra. Na apresentagio na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, uma cobertura jornalistica televisiva mostrava a clara tensio entre “dois mundos musicais”, expressa no comportamento do piblico. A maior parte daqueles que foram assistir as Valencianas era de fats de Valenga, curiosos (ou nem tanto) com a expressio do cantor junto de uma orquestra. No entanto, os cédigos de participagdo no show nao ficaram claros (porque, de fato, nao 0 eram). A performance, levada a cabo em um teatro com cadeiras fixas (0 que bem serve & audigao de uuma orquestra), tornou-se um espago limitado para um puiblico dis- posto a cantar, Jevantar-se e mesmo dangar, conforme os cédigos de um show tipico de Alceu Valenga ou qualquer outro artista da MPB. Diante das cadeiras fixas, as pessoas passaram a ocupar os corredores eadancar onde podiam. Essa tensio e esse didlogo entre dois mundos nos parecem faceis de visualizar e nos oferecem uma analogia que pensamos interessante para o caso das culturas impressa e digital, as quais se friecionam na atualidade. Vejamos os casos da biblioteca e da editora. As questoes da biblioteca foram coletadas em um grupo de discussie ocorrido em agosto de 2012, em uma biblioteca pablica municipal, em Belo Hori- zonte, durante um encontro de formagdo com os bibliotecarios da pre- 18 [ESCREVER, HOIE feitura da cidade. Jé as questdes editoriais foram observadas no pro- cesso de editoracio de uma obra de que participei, tendo acesso aos e-mails trocados entre editores, organizadores e autores. Os nomes das pessoas envolvidas nio serao citados, embora nao haja o que desabone qualquer de suas ages, em ambos os contextos. 3.1.A biblioteca e o telecentro © caso agora em foco vem ocorrendo na rede de bibliotecas pi- blicas da Prefeitura de Belo Horizonte, mas bem poderia ocorrer em qualquer cidade do mundo onde questées culturais relacionadas aos Ietramentos sejam iluminadas. Tanto é assim que outros trabalhos, relatando casos semelhantes, foram publicados, por exemplo: Barre- to, Paradella e Assis (2008) e Laipelt, Moura e Caregnato (2006). 0 pri- meiro refere-se & questao bibliotecas/telecentros no Brasil eo segundo, especificamente, no Estado do Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, 6 possivel depreender a tensdo entre duas culturas dentro da cultura escrita, mas também dois pontos de vista positivos no que diz respeito ‘a democratizacdo do conhecimento. Na rede de bibliotecas puiblicas de Belo Horizonte, a discussio se destaca diante da situagao posta de inserir telecentros onde funcio- nam bibliotecas. As razdes disso so varias, entre elas certa economia de espagos, tempos, funcionérios, atengao aos novos aparatos, ete. No entanto, uma “incluso” como essa ndo se faz sem didlogo e choques. A biblioteca, com fungao de acumular, arquivar, guardar, remonta ‘mesmo ao tempo das placas de cera ou dos papiros escritos a mao, Em outras épocas, ganhou outros significados, como um espago de cons- trugdo do conhecimento, mas 6, certamente, uma invengio da cultura escrita, muito ligada aos livros. Seu funcionamento atual vem sendo discutido ha tempos, mas é comum ela ser considerada um espago de organizagio, silencio, concentragdo, sob a mediagaio humana. Jé os te- lecentros so outra histéria, ‘CULTURA ESCRITA, CULTURA INPRESSA, CULTURA DIGITAL feitura da cidade. Ja as questdes editoriais foram observadas no pro- cesso de editoragao de uma obra de que participei, tendo acesso aos ‘e-mails trocados entre editores, organizadores e autores. Os nomes das pessoas envolvidas nao serao citados, embora nao haja o que desabone qualquer de suas ages, em ambos os contextos. 31.A biblioteca e o telecentro © caso agora em foco vem ocorrendo na rede de bibliotecas pui- blicas da Prefeitura de Belo Horizonte, mas bem poderia ocorrer em qualquer cidade do mundo onde questdes culturais relacionadas aos Jetramentos sejam iluminadas. Tanto é assim que outros trabalhos, relatando casos semelhantes, foram publicados, por exemplo: Barre- to, Paradella e Assis (2008) ¢ Laipelt, Moura e Caregnato (2006). 0 pri- meiro refere-se & questo bibliotecas/telecentros no Brasil ¢ 0 segundo, especificamente, no Estado do Rio Grande do Sul. Em ambos os casos, 6 possivel depreender a tensdo entre duas culturas dentro da cultura escrita, mas também dois pontos de vista positivos no que diz respeito A democratizagao do conhecimento. Na rede de bibliotecas publicas de Belo Horizonte, a discussao se destaca diante da situagao posta de inserir telecentros onde funcio- nam bibliotecas. As razdes disso sao varias, entre elas certa economia de espagos, tempos, funcionérios, atenco aos novos aparatos, ete. No entanto, uma “inclusao” como essa nao se faz sem didlogo e choques. ‘A biblioteca, com fungéo de acumular, arquivar, guardar, remonta ‘mesmo ao tempo das placas de cera ou dos papiros escritos a mao. Em ‘outras épocas, ganhou outros significados, como um espago de cons- trugao do conhecimento, mas é, certamente, uma invengao da cultura escrita, muito ligada aos livros. Seu funcionamento atual vem sendo discutido ha tempos, mas é comum ela ser considerada um espago de organizagao, silencio, concentracao, sob a mediagao humana. Ja os te- lecentros sao outra historia. (CULTURA ESCRITA, CULTURA INPRESSA, CULTURA DIGITAL 19 0s telecentros sao, segundo Barreto, Paradella e Assis (2008, p.31), ‘um espago paiblico para acesso e uso da informagao através das TICs* coma finalidade de capacitar comunidades, reduzir desigualdades eco- nOmicas e sociais e promover a cidadania. Note-se o foco emi tecnologias digitais, recentes na histéria humana. Os telecentros sao considerados um fendmeno: ‘internacional (Bar- reto, Paradella e Assis, 2008), tendo surgido na década de 1970. Seu éxi- to em alguns paises fez. com que esse modelo fosse adotado em todo ‘© mundo, inclusive no Brasil, onde ha diversas experiéncias: piblteas, em diversas esferas de poder; privadas, por meio de organizagdes nao- -governamentais, etc. Nosso caso aqui diz respeito a telecentros puibli- cos municipais. ‘Acredita-se que a interagao entre biblioteca e telecentro melhore as condigées de acesso & informagao para 0 cidadao, isto é, a bibliote- a fica mais equipada, além de ampliar a gama de servigos prestados {a populagao. No entanto, culturas e letramentos. Vamos a alguns deles, expressos por bibliote- cérios responsdveis por bibliotecas/telecentros na capital mineira, em um encontro de formagao ocorrido em 2012. Nos olhos de cada um, a pergunta: como fazer? Questdes priticas jd indicavam os elementos da discussio ensejada pelas fricges entre a cultura impressa e a cultura digital. Hordrios de funcionamento, pré- ticas de uso, barulho/siléncio, disponibilidade de informagao “indese- jada’, exigéncias disciplinares de um e de outro espaco, rotatividade dos monitores contratados para o telecentro (contra a estabilidade dos funcionarios ptiblicos da biblioteca), regras de uso e mesmo a amplia- ‘cao do tempo de trabalho (ou da atengio) dos funciondrios da prefeitu- ra, que jé nao sdo muitos e tém grande responsabilidade. io muitos os conflitos desse contato entre ‘A internet dentro da biblioteca parecia soar um desafio em que forcas muito diferentes, ds vezes opostas, disputavam a prevaléncia so- 7 Sige consograda para tecnologas da informagio eda communica, isto as digits. 20 ESCREVER, HODE bre as regras do jogo. No caso em foco, 0s telecentros eram montados por meio de projetos do governo federal. 0 modelo de funcionamento nao era muito claro, o que criava problemas para os funciondrios da biblioteca. Obter um telecentro significava ganhar maquinas e cargos de “monitor”, isto & pessoas que orientariam os usuarios do espago. A esses “monitores” so oferecidos treinamento (a distancia, muitas ve- zes), uma bolsa (no um saldrio) e a obrigagdio em meio hordrio de ser- vvigo, Isso gera a seguinte drivida a biblioteca: 0 telecentro s6 funeiona quando o monitor esta? Cada biblioteca da rede que se viu com essa diivida inventou seu préprio modelo de funcionamento. Algumas fechavam o telecentro na ‘auséncia do monitor; outras optavam por manter o funcionamento das ‘maquinas, ainda que os bibliotecérios tivessem de se desdobrar em suas fungdes. Esses eram considerados, de toda forma, funcionamen- tos precios e pouco regulares. Outro ponto a se destacar é a diversidade de contextos ¢ espacos em que essas bibliotecas/telecentros funcionam na cidade. Hé desde aquelas que esto em favelas até aquelas que funcionam em dreas no- bres. Obviamente, as préticas, as condigdes e os piblicos desses espa- {0s so muito diferentes, 0 que também provoca diversidade nas de- mandas que precisam ser atendidas e nos modos de uso do espago.e dos tempos. Um bibliotecdrio responsivel por um dos espagos afirmou: “Nada chega no morro", referindo-se as dificuldades com a internet na biblioteca que coordena em uma favela. Como mediar usudrios de internet? Que mediagao é essa? E di- versa daquela feita com livros nas estantes? Parece que sim. Uma dis- ‘cusso sobre orientagdo e censura desponta na fala dos bibliotecérios. (0 que 6 0 uso qualificado do computador? Quando chegam boas mé- ‘quinas a biblioteca, parece haver uma tendéncia a se controlar mais 0 piiblico, mas quando chegam “cacarecos” (na expresso de um funcio- nario), as questdes so outras. “Cacarecos” so as méquinas “recondi- cionadas” enviadas pelo poder piiblico. No entanto, diz o bibliotecério, CULTURA ESCRETA, CULTURA INPRESSA, CULTURA DIGITAL a numa postura de defesa de sua comunidade: “O pessoal acha que no ‘morro qualquer coisa serve. Nao é assim que funciona’. (0 depoimento de um bibliotecdrio de outra regio da cidade ¢ im- portante: “Primeiro, computadores no espaco da biblioteca. Isso teve impacto. Depois eles foram para a sala de oficinas. Uma légica dife- rente, uma dinamica diferente”, 0 que esse funciondrio chama de “di- namica diferente” diz respeito a questdes importantes como: a quase secundarizacao da biblioteca em relagao ao telecentro e as priticas de uso muito diferentes entre um espago e outro, mas dentro do mesmo recinto, “As pessoas vém com demandas diferentes, até 0 comporta- mento delas é diferente”. Se a biblioteca tinha a “promogao da leitura’ como foco e missao, 0 que os usuérios querem da internet nao passa sempre por ai. E 0 bibliotecério se questiona: “Qual é minha fungao?” Segundo um competente bibliotecério, a biblioteca passava a ser “quase uma lan house”, em tom de reprovacao. 0 espaco consolidado da biblioteca via suas bases tremerem diante da entrada de compu- tadores em seu cendrio. A convivéncia de todos aqueles educados na cultura impressa ganhava outros contornos: jogos (barulhentos), redes sociais (com seus alertas de aviso), consultas pouco convencionais. Um outro trajeto de pesquisa acontecia sob o olhar daqueles acostumados as lombadas: procura, baixa, salva, manda e-mail, nao imprime, vai ‘embora. Tudo na mesma cadeira, Se Neveu (2006) apontava, no jorna- lismo, uma nova e curiosa pratica de fazer matérias e reportagens sem sair do lugar, o que denominou “jornalista sentado”, é um anélogo 0 atual “pesquisador sentado”, telecentro pode ser considerado um “servico suplementar"? F. necessério tutorar as pesquisas do usudrio? Como orientar a pesquisa escolar na web? O que fazer se uma crianga pesquisa “como fazer uma bomba caseira”? Acesso irrestrito? Até onde se pode permitir a cépia? ‘A pergunta antiga do usudrio no mudou: “Tio, até onde eu copio?”. A 7 Espagos, geralmente privados, para acesso a web e a computadores, mediante pagamento, Por sso, so, também, geralmente menos controlados e mediados. Também nio héexighncias quanto’ qualifieagio dos funcionérios. 2 pesquisa escolar, a rigor, sé muda de tecnologia, sem mudar de modos ou de efetividade. i E papel do bibliotecdrio ensinar a pesquisar? “Ensinar a pessoa a se valer da biblioteca’, como disse um deles. 0 mundo dos livros é “pré- -selecionado”, como disse uma bibliotecdria. Eis um conflito de base, ligado & edig&o, em relagdo & web, onde qualquer coisa pode ser langa- dae encontrada. ‘Até mesmo 0 discurso espacial da biblioteca e do telecentro é per- cebido e discutido, Haveria a necessidade de “uma integragao mais na- tural entre os espagos”. No entanto, o telecentro chega depois e cabe ‘em uma sala ao fundo da biblioteca. Ou toma-the um espago de entra~ da, conforme 0 caso. Mas encitima quem deseja que 0s livros sejam as vedetes daquele espaco jé consagrado. Outra questdo diz respeito & passividade/atividade do usuario. Questionava o bibliotecdrio: “Se o usudrio vai ao telecentro para alimen- tar um blog, é legal?”. Em tempos de “prossumidores” ou de participa- cao e compartilhamento, a publicagao nao é mais privilégio das redes editoriais profissionais. Conforme os autores da cibercultura, a ago ea participacao sio maiores aqui. Ou mais faceis. Qu mais naturais. Essas tensdes causadas pela chegada (imposta) dos telecentros as bibliotecas sdo esperadas se considerarmos que hé, ai, um interessante contato (para nao dizer choque) entre culturas, no caso, a impressa.e a digital. E sendo uma delas mais antiga e mais consolidada, é esperado que haja uma transigdo conflituosa enquanto elas se compreendem ou mesmo hibridizam. 3.2. Aeditora e a atividade digital (0 caso do proceso editorial impresso em conflito com a cultura digital é muitissimo interessante. Trata-se, mais uma vez, da interagdo ‘TJexpressdo, que mescia produtores e consumidores, éstribuida a Alvin Toffler, autor do livro-t terceine onda, publicado na década de 1980. Muitos pesquisadores se apropriaram da express [CULTURA ESCRITA, CULTURA TAPRESSA, CULTURA DIGITAL entre uma cultura consolidada, com seus processos de produgdio e fusao jd conhecidos e profissionalizados, em conflito com uma cultura mais aberta, com modelos de negécio ainda em discussio e bastante menos conhecidos. ‘Vejamos: uma editora de livros impressos, atuante na capital mineira, encomenda a um organizador um livro que retina relatos de experiéncias de professores com ferramentas digitais em sala de aula. Tais relatos, além de narrarem, o mais detalhadamente possivel, as condigdes ¢ a sequéncia das atividades com Tics na escola, também mostram os resultados e as producées dos estudantes. A apresen- tagdo desses resultados conta com telas, textos, imagens, remixes, printscreens de telas de softwares, etc. Quando os relatos chegam para os organizadores, sio lidos, ava- iados, organizados, padronizados e comecam a compor o texto origi- nal do livro, A partir de todos os textos, escreve-se uma “Apresentagao”, No entanto, quando esse original é entregue a editora, passam-se uns dias (com 0 texto em anilise) e vém os retornos da avaliagiio dos edito- res: € necessdrio retirar todas as imagens, especialmente aquelas obti- das de sites, blogs, ferramentas como Google, Apple, Mauricio de Sousa, Teprodugées dos textos dos alunos em ambientes virtuais e tudo o mais que houver nesse sentido. A alegacao se baseia na lei de direito de autor em vigor no pais e em termos de uso de sites e ferramentas. £ preciso pedir autorizacdes impossiveis (imagens de anénimos que aparecem em sites) e recolher termos de concessio. Se as bases do trabalho com ics na escola eram, justamente, as da cultura digital (compartilhar, colaborar, remixar, samplear, cortar- -e-colar, fazer pastiche, recriar ou editar — no sentido mais amplo), as bases da produgao do livro impresso sao as da autoria individual e cla- ramente atribuida, do direito patrimonial ao texto, do direito moral & criagio de um autor identificdvel, da edigao autorizada documental- mente, do crivo de um editor. 0 organizador da obra teve de informar cada autor de capitulo sobre a decisdo editorial. Os capitulos foram, entdo, editados e reti- 24 ESCREVER, HONE rou-se tudo, em termos de textos e imagens, que pudesse vir a ser um problema autoral mais adiante, Em varios casos, optou-se Por spem® apresentar os links onde 0 leitor do livro poderia encontrar os mate- rlais produzidos (sites, blogs, contas de Facebook, etc). Em outros ¢# sos, nem se fez mengiio ao espago digital. Os textos perderam bastante ‘em informatividade e no propiciamento de melhores exemplos ao leitor quanto aos usos das ferramentas digitais na’ escola. Ainda assim, a edi- Gao de texto teve 0 cuidado de ndo comprometer 0s contetidos, ainda que ndo se pudessem mostrar os resultados. Esse episédio, provavelmente, serepete em vériaseditoras do paise nao mudaria muito no caso de livros eletrénicos. ‘Embora haja a chance de inserir os links em um e-book, para que oleitor navegue na web, esse tipo de ago ainda gera polémica sobre direitos autorais ¢ mesmo sobre vlecisde de permitir que 0 usuario navegue livremente esaia do site de origem (razto pela qual muitos jornais, por exemplo optam Por nance dar links externos, isto 6, que encaminhem oleitor para outros sites) Como relatar atividades digitais em um mundo editorial que ope rana cultura do impresso? Como resolver questdes autorais? Quanto vyeco uma editora de livros quer correr? Essas sio questdes consideré- vis no didlogo entre culturas da cultura escrita. 4,Consideracées atuais sta exposigéo, bascada nos casos de uma editora de livros ¢ de sama biblioteca, em interagdo com dispositivos da cultura digital pode soar uma apresentacio dicotOmica ou polarizadora de questbes nati: ralmente nuangadas e contiguas. Estamos falando de culturas dentro da cultura eserita; de um todo impresso de pensar, agi, ser, consumir e de um modo digital de fazer e conceber essas coisas. Estamos falando de experiéncias ave $° ‘hocam ese renovam, mas que, antes de tudo, dialogam. Esse contato hé de chegar a um equilibrio porque © reposicionamento das midias 25 CULTURA ESCRITA, CULTURA INPRESSA, CULTURA DIGITAL entre uma cultura consolidada, com seus processos de produgao e di- fusiio jd conhecidos e profissionalizados, em conflito com uma cultura mais aberta, com modelos de negécio ainda em discussao e bastante ‘menos conhecidos. | Vejamos: uma editora de livros impressos, atuante na capital mineira, encomenda a um organizador um livro que retina relatos de experiéncias de professores com ferramentas digitais em sala de aula. Tais relatos, além de narrarem, o mais detalhadamente possivel, as condigdes ¢ a sequéncia das atividades com Tics na escola, também mostram os resultados e as produgdes dos estudantes. A apresen- taco desses resultados conta com telas, textos, imagens, remixes, printscreens de telas de softwares, etc. Quando os relatos chegam para os organizadores, sito lidos, ava- liados, organizados, padronizados e comegam a compor 0 texto o nal do livro. A partir de todos os textos, escreve-se uma “Apresentacao” No entanto, quando esse original é entregue & editora, passam-se uns dias (com 0 texto em anilise) e vém os retornos da avaliagao dos edito- res: 6 necessdrio retirar todas as imagens, especialmente aquelas obti- das de sites, blogs, ferramentas como Google, Apple, Mauricio de Sousa, reprodugées dos textos dos alunos em ambientes virtuais e tudo o mais que houver nesse sentido. A alegacdo se baseia na lei de direito de autor em vigor no pais e em termos de uso de sites e ferramentas. F. preciso pedir autorizagdes impossiveis (imagens de andnimos que aparecem em sites) e recolher termos de concessao. Se as bases do trabalho com Tics na escola eram, justamente, as da cultura digital (compartilhar, colaborar, remixar, samplear, cortar- -e-colar, fazer pastiche, recriar ou editar — no sentido mais amplo), as bases da produgao do livro impresso so as da autoria individual e cla: ramente atribuida, do direito patrimonial ao texto, do direito moral & criago de um autor identificdvel, da edigdo autorizada documental- mente, do crivo de um editor. 0 organizador da obra teve de informar cada autor de capitulo sobre a decisio editorial. Os capitulos foram, entio, editados e reti- 24 ESCREVER, HODE

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