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ARTIGOS OS TEMBE-TENETEHARA, A EDUCAGAO ESCOLAR INDIGENA E OS TERRITORIOS ‘THE TEMBE-TENETEHARA, THE ETNOEDUCACIONAIS! NDIGENOUS EDUCATION AND ETNOEDUCACIONAIS TERRITORIES Eneida Corréa de Assis? Resume: © objetivo é refletr sobre a importanca da educacto escolar como instrumento politico para alcangar outtos ‘patamares da vida social, com a possibilidade de intervic ua vida commnitira, mediante o fertalecimento da ‘dentidade. O processo de lta por edueagdo de qualidade e acesso ans demas nivel de ensino tem levado os ‘Tembé-Tenstebara a realizar ages junto a0 MPF em busca do diilogo com as insttuigdes de govemo. O modelo dos Temtéries Emoedicaciouals pode ser una das possibilidades de encamiahamento das questoes relativas& educapho escolar enfrentada pelos Tembé-Tenstehara Palavras-chave: Tewbé-Tenetehara, Teritrios Etoeduesciomss. Observatério da Educagdo Escolar Indigena, Abstract: ‘The ain isto reflect onthe importance of education asa political tool to reach new heights of socialite, with the possibilay to itervene in community life by strengthening ideatity. The process of struggle for quality education and access to other levels of education, bas led these people to perform actions with the MPF to seek dialogue with government institutions. The model Etoedveacional Territories may be one of the possiblities of routing issues faced by school education Tembé-Tenetehaca ‘Key-vwords: Tembé-Tenetehara, Educacional Temfories. Observatory of Indigenous Education, INTRODUCAO. © Documento Base relativo 4 1 Conferéncia Nacional de Educacdo Escolar Indigena ( I CONEED, em sta apresentacdo, esclarece que a mesma foi demandada por liderancas€ professores indigenas, com 0 objetivo de ter um espaco onde a andlise da oferta de educacio escolar pudesse ser feita ©, com base nos resultados, “propor diretrizes para seu avanco em qualidade e efetividade, revelando o interesse estratégico dos povos indigenas pela escola no "A pesquisa que sustenta este tabalho é financiada pela (CAPES INEP/SECADI através do Programa Observatétio da ucagao Escola: Indigena/OBEDUC. *Doutora em Ciéncia Politica, professora de Antopologia da Faculdade de Ci8neias Soeiais, Programa de Pés-Graduacio fem Cigneia Politiea (PPGCP), Program de Pés-Graduagto fem Cifocias Sociais/Antropologia (PPGCS), Coordenadora do Observatério de Educagio Escolar “Indigena dos Tewitérios —-Euoeducaciouais = Amazbnicos UFPAUEPA'UFRA: Coontemdora do Grupo de Estudos sobre Populagses Inligenas (GEPI) — UFPA, E-mail: eneidaassis@utpa br contexto das relagdes interétnicas”. (BRASIL, 2009, p.13). A I Conferéncia Nacional de Educagdo Escolar Indigena, realizada em Luziania-Goiis em novembro de 2009, considerada um marco historico para os povos indigenas brasileiros, reunit delegagdes de diversos povos indigenas do Brasil para discutir, junto com gestores ptiblicos, a edhicacao que thes estava sendo ofertada. O anseio ‘em superar as barreiras representadas pela redugdo do ensino a0 nivel Fundamental, que ainda persiste em alguns grupos, 0 desenho de um Ensino Médio que refletisse as necessidades locais amplas, o ingresso no Ensino Superior em condigdes equilibradas com as exigéncias da vida universitiria, e a necessidade de um Sistema de Educacio Indigena que pudesse, de fato, concretizar 0 que esti previsto nas leis nacionais € intermacionais, foram —_reivindicages que refletiram as mudancas politicas pretendidas pelos povos indigenas, no que se refere a conquista de direitos e, em particular, a educaedo de qualidade, © amadurecimento das propostas foi fruto de uma longa discussio ocorrida nas conferéncias de 82 (Os Tembé-Tenetehara, 2 ecticacao escolar incigena ¢ os terrtorios etmoeducacionals educaio realizadas em trés_ momentos Conferéacias nas. Comunidades Educativas, Conferéncias Regionais e Conferéncia Nacional. Esses eventos possibilitaram 0 debate das questdes locais e regionais, bem como a colocacio das mesmas na agenda do encontro nacional, € foram espagos de participagio diretae manifestagdo de atores que vivem a educacdo. A reflexiio sobre a representacdo, conquistas e buscas de melhorias a curto, médio e longo prazo permeou as discussdes que se realizaram em aldeias ¢ locais previamente indicados. No Estado do Paré, foram —realizndas —_conferéncias preparatérias em Belém e Marabi, seguida da Conferéncia Regional em Belém, que reuniu delegacBes dos povos indigenas para discutir a proposta dos Territérios Etnoeducacionais instituidos pelo Decreto n°. 6.861, de 27 de maio de 2009 (BRASIL, 2009). A inseguranea quanto a essa modalidade de gestio, desejo de esclarecimento sobre as bases que apoiam os regimes de colaboragdo que _incluem compromissos e responsabilidades institucionais, foram os pontos de maior tensio nessa conferéncia, ‘Nessa duas tiltimas décadas, os Tembé Tenetehara, que vivem na Terra Indigena Alto Rio Guama (TIARG), localizada a nordeste do Estado do Para, tém se empenhado na hita por melhorias das condigdes de educagao junto as Secretarias de Educagio Estadual ¢ Municipais com apoio da Fundagdo Nacional do indio (FUNAI) e do Ministério Piblico Federal (MPF). trabalho intenta refletir sobre a importéncia da_educagio escolar compreendida por esse povo Tupi, como instrumento que Ihes garante a condicdo para alcancar outros patamares da vida social, mas, sobretudo, a possibilidade de intervir internamente na vida _commnitéria mediante 0 fortalecimento da identidade, Nese sentido, observa a proposta dos. Territérios Etnoedueacionais como um modelo de politica piiblica cuja exigéncia para sua criagdo € funcionamento esté no compromisso formal das instituigdes, mediante a agio da Pactuagdo dos Territorios. Isto & mediante a _gesidio compartilhada entre Sistema de Ensino de Educacto Basia, Universidades, Redes Federal ¢ Estadual das Escolas de Formagao Técnica e Tecnolégica, organizagBes indigenas_¢ indigenistas, como intuito de aprimorar a oferta de educacto de qualidade sem descuidar da satide, gestio ambiental, desenvolvimento sustentivel € cultura (BRASIL, 2009. p. 19). Considerando que 0 ——_‘Territério Emoeducacional Tembé ainda nao foi instalado, supde-se que 0 seu funcionamento pode ser uma das possibilidades de encaminhamento das questdes relativas educacdo escolar enfrentada pelos Tembé-Tenetehara Na parte inicial, reflete-se sobre a educactio escolar entre 0s Tembé-Tenetehara e a experiéncia do projeto Observatério de Educacdo Escolar Indigena. Em seguida, focaliza-se a politica dos Territérios Emoeducacionais como instrumento para o encaminhamento positive da sittagao escolar vivida pelos Tembé, finalizando com as consideragies finais. OS TEMBE E A EDUCACAO ESCOLAR, INDIGENA: 0 OBSERVATORIO DE EDUCACAO ESCOLAR INDIGENA. Considerada uma das chaves para acessar outros niveis em sua escalada cidada, a educagao escolar tem ocupado um lugar importante nas demandas indigenas para a melhoria de suas condices de vida. Sem escolaridade, fica comprometida a gestio de seus territérios, a administragao de suas associagdes, a formacao de técnicos indigenas em saide, saneamento e atividades produtivas para atuar no interior das aldeias. Além disso, 0 sonho do curso superior se torna cada vez mais presente entre os jovens suas familias, Nesse contexto, os Tembé- Tenetehara, doravante designados apenas como Tembé da TIARG, apesar de terem mais de trezentos anos de contato, a presenga da escola tem registro inicial apenas nos anos 1940, sob a acto do Servigo de Protecao a0 indio (SPD). O fincionamento da escola ao longo desses anos se caracterizou por descontinuidades que abrangiam longos periodos de paralizagio das aulas, em vista da desisténcia dos professores. Segundo alguns ancidos Tembé, as escolas com vida mais regular foram aquelas nas quais as esposas dos Chefes de Posto se ocuparam dessa fungao, Construir a historia da educagdo escolar dos Tembé implica entender também 0 proceso histérico da regido fronteiriga dos atuais Estados do Pari e Maranhao. Essa regio & habitada por varios povos Tupi, Timbira ¢ Jé que sofreram 0 impacto de diversas frentes de _expanstio, causando modificacdes de carater sociopolitico € Rov. Teoria @ Prdtiba da Eaucacto, v 16. 2p 81-87, MalvAgosi0 2073 assis cultural, Em 1863, 0 Presidente Francisco Bausque, em Relatério apreseatado & Assembleia Legislativa da provincia do Pari, informou que os indigenas formavam populagdes que Vagueavam sem rumo, desnorteadas em vista da crueza do contato, Nessa sittagio também se encontravam os Tembé, razio pela qual Brusque os fez reunir em uma aldeia e forneceu a eles apoio para suas rogas, bem como o ensino pritico da doutrina crista (BRUSQUE, 1863, p. 13. Microfilmes/SPI- MPEG). E a partir do século XIX que a historia desse povo Tupi se insereve no cenirio do nordeste do Pari, Antes inciuidos no grupo Tupi Tenetehara, habitavam a regio do Alto Rio Pindaré no Maranhio desde os séculos XVII e XVII, quando, no século XIX, extratores de copaiba e regatdes avancaram sobre a regito, ocasionando a dispersto dos Tenetehtara. A partir dessa debandada, formou-se o grupo Tembé, que ‘ocupou as bacias dos rios Gurupi, Capim, Guama @ Moju (WAGLEY; GALVAO, 1961). Segundo Gomes (2002), 0 termo tembé significa “tabio” na fala Tupi da época, em virtude de um rembetd em forma de cilindto de resina ou taquara ‘A fundacio do Posto Indigena Pedro Dantas, atual aldeia Canindg, na regio do Gurupi em 1927, marcou a presenga do Servico de Protegio ao Indio (SPI) na regio, tornando-se 0 futuro centro ce referéncia dos Tembé do Gurupi. Por volta de 1930, na regio do Rio Guamé, foi criada a cidade de Capito Pogo, para acolher os retirantes nordestinos que fugiam da seca. A ago predatéria que jé vinha ocorrendo anteriormente tanto no Gurupi quanto no Guamé se intensificou, aumentando 9 quadro epidémico da regio. © Interventor do Pari, General Magalhaes Barata, criou a Reserva do Alto Rio Guamé, mediante 0 Decreto n°. 307 de 21 de marco de 1945, seguida da instalaga0 do Posto Guama na atual aldeia Sede, como uma forma de resolver os sérios problemas que afligiam os Tembé (PARA, 1945). A presenga da escola foi garantida como uum dos trabalhas dos Postos, mas a histéria da instituigao nos dois grupos também seguiu ritmos diferentes. O registro desse percurso se apresenta com lacunas, por conseguinte, a histria da educacdo escolar entre os Tembé da TIARG ainda esti por ser escrita, (ASSIS, 2011). Com a substituicao do SPI pela FUNAL, a educago pemmaneceu sob a responsabilidad do érgio indigenista. Conforme as informagdes de Paixtio (2006), 0 setor de educagdo da FUNAT- 83 Belém era formado por uma equipe sob a diregao geralmente de um antropélogo, uma orientadora educacional, a programadora de ensino e as professoras que eram contraladas na condicto de auxiliares de ensino. As programadoras faziam a conexto entre o sefor administrative e 0 campo, fomecendo o suporte pedagégico as mesmas. Esse processo nem sempre ocorria como planejado, devido a falta de apoio financeito suficiente para o transporte, combustivel e alimentac#o, enfim, a logistica era um quesito que impedia a realizacao das agdes a contento. ‘Além disso, a constincia de metas que nao foram alcangadas, como, por exemplo, éxito no processo de ensino-aprendizagem, auséncia de uma politica de formacio e qualificacéo dos profissionais de ensino, morosidade e pouca flexibilidade nas decisdes relativas educagdo revelavam uma instituigio que _apresentava problemas quanto a0 exercicio da eficiéneia do trabalho. Por outro lado, a educagio escolar ofertada aos povos indigenas tinha como objetivo central favorecer a integracto, Nas questdes relativas ao ensino-aprendizagem, tanto. 0 profissional da educagéo quanto 0 ambiente escolar exerceram influéncia sobre a qualidade do ensino e, consequentemente, na trajetéria do aluno que experimentou anos sucessivos de repeténcia, Os professores apesar de, em sua maioria posstirem 0 magistério completo, nao recebiam treinamento para o ensino nas aldeias. As escolas eram risticas e sem equipamento suficiente para trabalho do professor. Apesar disso, em algumas delas, a dedicagio dos professores foi fundamental para 0 éxito alcancado, ot seja, conseguiram ensinar a ler, fazer contas, escrever 0 home e, naquelas aldeias onde nao se falava pormgués, 0 aluno indigena iniciava seu aprendizado. (PAIXAO, 2006, p. 54-57) A situagao observada demonstra que essa educacdo estava fora das fontes de financiamento especificas, porque 0 Estado brasileiro reconhecia essa_modalidade de educacdo com o objetivo tinico de inculeagao de valores préprios da sociedade dominante. Da mesma maneira, os sujeitos que dela faziam parte tinham limites e fungbes definidas, sendo assim entendido pela sociedade como um todo, Conforme opinam Bourdieu ¢ Passeron (1975), a inculeagio de habitos favorece a internalizacto de valores simbélicos dominantes, que se perpetuam apés a interrupedo da agdo pedagégica. Nesse caso, a acto politica movida pelas instituigdes de Estado, Rov. Teoria @ Prdtiba da Eaucacto, v 16. 2p 81-87, MalvAgosi0 2073 a4 (Os Tembé-Tenetehara, 2 ecticacao escolar incigena ¢ os terrtorios etmoeducacionals SPL, FUNAI, que se estendeu por geragdes, criou, no seio da sociedade e em determinados nichos politicos, a resisténcia & incorporae’o positiva de demandas que apontassem para outras agendas paradigmas. Entendemos que, apesar do aparato legal que sustenta hoje a educagdo escolar indigena, ela ainda & penalizada por essa situacdo de path dependence que catrega, prejudicando os possibilidades e oportunidades do futuro (NORTH, 1998). Segundo Grupioni (2008), com a Constituigdo de 1988, um novo horizonte se desenhow para a educacdo ofertada aos povos indigenas, em face das mudancas de cariter juridico-politico que alteraram 0 modus corrente da pritica da assimilagao pela afirmacio da convivéncia e respeito A diferenga. Com ela, adotou-se a ideia de um pais phuricultural pluriémico, e aos povos indigenas, 0 reconhecimento 4 diferenga cultural, do indio como pessoa e membro de uma coletividade (SOUZA FILHO, 1999). No entanto, na pratica, as conquistas sto arduas, como ocorre no ambito da educagao, AS SECRETARIAS DE EDUCACAQ. Os Niicleos de Educagao no interior das secretarias tiveram trajetorias diversas, Esses setores tinham por objetivo a criagao de ‘mecanismos mais eficientes para viabilizar a politica de educago proposta pelo Govemo, (VALADARES: MACIEL, 1996; SILVA LIMA, 1996). No Estado do Para, a entrada da educagao escolar indigena se realizou a partir de 1989, com a negociagao entre os Parkatejé e a Secretaria de Estado de Educacao (SEDUC) para instalagao de uma escola de 5* a $* séries. Com a assinatura de uum convénio com a participagao da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). foi criado 0 Programa de Educaco que perdurou entre 1989 & 1993, quando 0s Parkatejé pediram para suspender 0 projeto, retornando as atividades escolares em 2003. Em 1995, foi instalada a Se¢ao de Educacdo Escolar Indigena (SET) na Divisio de Curriculo do Departamento de Ensino de I° Grau (DEPG), com 0s téenicos que fizeram parte do Programa Parkatejé, com a tarefa inicial de mapear as escolas em aldeias, identificando as condigdes de funcionamento ¢ a situacdo sociolinguistica, Em 2003, a antiga seedo se toma parte da Secretaria Adjunta de Ensino (SAEN), em conformidade com as diretrizes da Secretaria de Educagdo Continuada, Alfabetizacioe —Diversidade (SECAD). No mesmo ano, a secio se toma Coordenagio de Educagio Escolar _Indigena (CEEIND) subordinada 4 Diretoria de Educagao, Diversidade, Inclusiva e Cidadania. Um dos projetos levados a cabo pelo setor foi a “Escola Itinerante”, iniciada em 2003, com o propésito de formar professores indios em um espaco de quatro anos. Enfrentando problemas de varias ordens, 0 projeto comegou a formar os _primeiros professores em 2012 A MUNICIPALIZACAO E A REACAO DOS TEMBE Em 2002, ocorren a municipalizagdo das escolas, criando mais um ponto de tensto em um proceso escolar pouico amadurecido, Troncarelli (2010), a0 se referir A receptividade e a0 reconhecimento da existéncia e responsabilidade pela educacdo escolar indigena, cita o fato de que foram convidados pelo MEC para assinar 0 Termo de Cooperacéo entte MEC, SEDUC e SEMECs, para a melhoria da Educagéo Escolar Indigena no Para, prefeitos e secretirios de educacdo de 25 municipios, entretanto. destes apenas sete ‘municipios enviaram representantes. (TRONCARELLI, 2010, p. 32-34) Esse fato aponta para as _implicagdes politicas © administrativas oriundas da municipalizaglo, e que tém desgostado os indigenas, pois, em alguns municipios, ha rivalidades contra eles. Além do que, as decisdes de um prefeito, por exemplo, nao € uma politica de estado, mas de governo, o que significa que, a0 término do mandato, retoma-se ao ponto 22t0. A altemnativa tam sido a pressdo, com a intervengao do Ministétio Publico para fazer valer as leis. Em 2003, durante a Audiéncia Publica requerida pelo Tembé da TIARG & Procuradoria da Repiiblica e 2 Procuradotia Regional dos Direitos do Cidadio, na qual _participaram representantes do MEC, SEDUC-PA, FUNAL Universidades ¢ alguns prefeitos de mmnicipios com —populagio indigena, as_liderancas apresentaram suas demandas concementes & implantacto do Ensino Médio, viabilidade ou nao da municipalizacao da educagao, representacao no Conselo Escolar ¢ criagio da categoria escola indigena. Em outros momentos a partir dessa data, como ocorrido recentemente, as reivindicacdes Rov. Teoria @ Prdtiba da Eaucacto, v 16. 2p 81-87, MalvAgosi0 2073 assis referentes educago ainda envolvem a regularizacdo das escolas nas aldeias, formacdo de professores indigenas, educacdo _continuada, oferta de Ensino Médio adequado & realidade indigena e de qualidade, cursos de informatica, participagao no Conselho Estadual de Educagao, metas projetadas e ndo alcangadas de forma satisfatéria, Com a entrada de jovens Tembé na Universidade, um novo front de luta se descortina, pois € um campo novo com novos atores institucionais e novas regras de relagdo. A atuacio mais préxima aos Tembé do Guami e do Gurupi, pelo Observatorio de Educagao Escolar Indigena (OFEI), tem permitido acompanhar a diseussio da educacio, percebendo que ela é vista hoje como um dos pilares para 0 fortalecimento da identidade. Portanto, precisa atender ao que é importante; com isso, 0 contetido programético tem feito parte de seus debates em torno da edueacio. TERRITORIOS ETNOEDUCACIONAIS: ‘UMA PROPOSTA PARA SUPERAR BARREIRAS. O pacto federativo que estabelece Estados Municipios com limites e jurisdigdes traz em si, como firma Aloisio Jorge Monteiro, a nogao politico-juridica de territério desde os tempos do Estado Moderno, Em seus termos: “O territério marcava e definia 0 Estado-Nagdo, enquanto este © moldava como Estado territorial e territério estatizado” (MONTEIRO, 2009, p.40). Hoje essa nogdo mmdou, os espagos se entrecruzam, os territérios se transnacionalizam, sem perder seu aspecto estatizado. Essa ¢ uma das razdes do modelo de —gestio. = dos. ‘Territérios Emoeducacionais. O mesmo autor considera que a aprovacao da Lei 11.645/2008 que estabelece a obrigatoriedade da temética Historia © Cultura Indigena na rede de ensino fez com que o movimento indigena ganhasse impulso para a realizagao das conferéncias de educacao e buscasse a concretizacio do Subsistema de Educacio Escolar Indigena. (MONTEIRO, 2009). ‘Nessa _perspectiva, ¢ possivel pensar que implantar uma diseiplina no curriculo escolar que trate da histéria e cultura indigena, 4 semelhanca do que ocorren com a afro-brasileira, é colocar, na agenda das geragdes estudantis, um tema esquecido, recuperando 0 lugar devido a esses povos e &s populagdes na hist6ria do pais? Os debates na I CONEEI se sustentaram em eixos teméticos que abordaram vatios temas: a) Educagto Escolar, Territorialidade e Autonomia dos Povos Indigenas; b) Priticas Pedagégicas Indigenas; ¢) Politicas, Gestio e Financiamento da Educagio Escolar Indigena; d) Participagao ¢ Controle Social; e) Diretrizes para a Educacdo Escolar Indigena, Com isso, a I CONEEI se apresentou como um espaco pedagdgico-politico capaz de favorecer um relative esclarecimento dos pontos nevrilgicos da educagio escolar. A efetivacdo da politica exige que as instituicdes envolvidas ajam, de forma que a concertagio seja harménica, superando as diferencas.e desigualdades, evitando, com isso, as clivagens que se observam, por exemplo, na articulacao do MEC com 0 Conselho Nacional de Secretirios de Educagio (CONSED), no sentido de “consolidar a institucionalizagdo da educacio escolar indigena no Sistema de Ensino Estadual”. (BRASIL, 2009, p. 16) ‘Ao lado disso, a criagdo de institui¢des, como a Secretaria de Educagio Continuada, Alfabetizagao, Diversidade e Inclusdo (SECADI), © programas como Programa de Apoio a Formacio Superior e Licenciaturas Interculturais Indigenas (PROLIND), visando a formacdo superior e 4s Licenciamuras Interculmrais Indigenas, e o Programa Nacional de Alimentagao Escolar Indigena do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagio PNAEV/FNDE prepararam caminho para a _proposta dos Territérios Emoeducacionais. No Documento da I CONEEI, & esclarecido que 05 Tertitétios nao correspondem a divisdes politicas administrativas do estado nacional. Trata-se, antes de tudo, de uma gestio compartilhada entre os Sistemas de Ensino, Universidades, Rede Federal e Estadual das Escolas de Formagao Técnica e Tecnolégica, organizagdes indigenas e indigenistas © demais Srgios, com vistas a educagdo escolar, sem descuidar da satide, cultura, gestio ambiental (BRASIL, 2009, p.16-18) Ao inchuir a nogao de territério as politicas, piiblicas de educagdo, Freitas ¢ Harder (2010) consideram que 0 Estado brasileiro sinalizou a intengo de implementar um novo modelo de gestio, favorecendo a articulacdo entre os diferentes niveis da educacto piiblica, desde o ensino fundamental até o ensino superior. Um dos pontos centrais da discussio para viabilizar a proposta tem sido o financiamento da educactio. Rov. Teoria @ Prdtiba da Eaucacto, v 16. 2p 81-87, MalvAgosi0 2073 86 (Os Tembé-Tenetehara, 2 ecticacao escolar incigena ¢ os terrtorios etmoeducacionals A Constintigio de 1988, através da LDB, previa, no seu artigo 78, que a educagao escolar indigena entrava nos encargos do Sistema de Ensino da Unio, cabendo aos estados e municipios tratarem eminentemente dos niveis de ensino. Os dados apresentados pelo Educacenso revelaram que a Unido nao tem cumprido sua parte de maneira responsivel em relacdo a ‘manutencdo e a0 desenvolvimento da educagao escolar indigena. As escolas indigenas foram sendo enquadradas no mesmo formato dos niveis de ensino nio indigenas, com o agravante de no serem amparadas por linhas de fomento especificas para a modalidade. Ao lado disso, 0 processo de estadualizacio e municipalizacso produziu resultados perversos quanto ao flixo do financiamento, engessando as acdes. As técnicas de gerenciamento da educagdo também tém sido demasiadamente prejudiciais 4s escolas indigenas, visto que essas escolas ndo funcionam como as demais. No Relatorio de Teixeira (2011), Educagao Escolar Indigena no Orcamento Piiblico do Estado do Paré/OEEL, apresenta-se que 0 financiamento da educacio de forma descentralizada, realizado pelo MEC na década de 1990, foi expresso em politicas de transferéncia direta de recursos as unidades escolares, 05 quais, mediante os conselhos escolares, tinham por objetivo por em pritica 0 modelo de gestio democratica, Sobre esse aspecto, Castro (2007) diz que os fundos de financiamento da educagio também foram descentralizados, pasando por um proceso de federalizagao e pulverizacao. (CASTRO, 2007). O EDUCACENSO INDIGENA 2010, no Estado do Pard, mostrou que 73% das escolas indigenas nfo eram regularizadas nem possttiam conselho escolar, sendo apenas anexos de escolas de sedes de municipios. Na Terra Indigena Alto Rio Guamé, funciona também salas de aula, que, por sta vez, sto ligadas escola de uma aldeia- polo, segundo a denominacto atribuida pela FUNASA. As salas de anla com mimero reduzido de alunos tém sido consideradas invidveis por alguns dirigentes municipais, pela dificuldade em entender que a dinimica de ocupacto e defesa da terra precede as exigéncias detinidas pelo modelo do sistema escolar. Também cabe ressaltar que as escolas indigenas, em algumas Terras Indigenas, esto situadas em territérios descontimuos, as vezes abrangendo mais de um municipio ou estado, Tal situacto torna precério nio sé 0 financiamento da educagto escolar indigena, como também enseja uma situagao tensa entre os municipios e estados por terem de inserir, em seus orgamentos, os custos de manutencao de escolas que esto fora de sua jurisdicio. Por essas caracteristicas, a descentralizagio entre os entes federados por estados © municipios e a pulverizagio das politics de geréncia dos financiamentos da educagio podem nao ser benéficas aos povos indigenas, como seria esperado. (TEIXEIRA, 2011), ALGUMAS CONSIDERAGOES © Observatitio de Educagdo Escolar Indigena pode ser entendido como _outra ferramenta de suporte para a preparacdo de recursos humanos em edcacdo escolar indigena, tanto no nivel interno das instituicdes de ensino que dele fazem parte quanto no nivel das aldeias, A participacdo dos professores indigenas na condicio de Bolsistas tem favorecido a troca de experiéncias, permitindo que se compreenda a realidade de seu cotidiano escolar. A pesquisa que esti sendo realizada com os povos Tupi do Estado do Para, entre eles, os Tembé-Tenetehara tem favorecido 0 acompanhamento mais préximo de questdes emergentes, entre elas, a educacao, ‘A formacao de professores, a construcao de uma educacio escolar que tenha como base o cariter intercultural, que esteja em ressonancia com as balizas legais ainda é um devir. Portanto, consideramos que, apesar das dificuldades, dos embargos que poderdo surgir, a proposta de um Territério Emoeducacional Tembé pode ser uma altemativa viivel, mediante o regime de colaboracdo, uma das caracteristicas do modelo de democracia brasileira Referéncias: ASSIS, EC. de, Relatério Parelal de Atividades. Observatorio de Educagio Escolar Indigena dos Tenitérios Etnoeducacionais Amazonicos. Bem: UFPAUEPAUFRA, 211 BOURDIFU, P; PASSERON, IC A reprodugto. Ekementos para uma teoria do sistema de ensino, Rio de Jnneito: Franeiseo Alves, 1975, BRASIL, Decieio u*, 6.861, de 27 de maio de 2009. 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