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A vivéncia do Projeto de Intervencao nos polos presenciais do Programa Escola de Gestores da UFOP: a experiéncia em Guaxupé, Ipatinga e Uba Arlana Campos Débora Prado Marcia Freitas Shirley Cristine Ricoy Soares Introducao Vivemos atualmente um momento impar, em que a educagao piiblica brasileira se consolida na garantia do direito de todos & Educagdo Bésica. Hoje discute-se a expansio ¢ a qualidade. Ocorre que ainda hoje nao resolvemos o problema do ensino fundamental em termos de qualidade, ainda nao erradicamos 0 analfabetismo, demoramos a universalizar 0 ensino ¢ mantemos um déficit educacional grande. Essa oferta requer acima de tudo, qualidade nos servigos educacionais, a partir de préticas interativas, participativas ¢ democraticas. Nao basta assegurar a vaga/matricula na escola, é preciso que o ahio tenha frequéncia escolar e aprendizagem significativa, pautada na pratica da educacao como direito social inaliendvel. Nesse cenério, todas as unidades escolares sao convidadas a revisar sua pritica educativa e, portanto, muitas sd as propostas de mudanga de paradigma. Destaca-se, a importancia da autonomia escolar na definicao dos mecanismos que assegurem educagao de qualidade, expressos no Projeto Politico Pedagégico (PPP). Frente a essa liberdade de elaborar seu proprio PPP cada unidade escolar define sua identidade. Neste contexto, tendo por base uma concepgao democratica de gestio escolar e buscando propiciar uma reflexio teérico-pratica entre os contetidos ¢ atividades propostas nas disciplinas do curso, a realidade cotidiana e as especificidades de cada escola, foi proposto aos cursistas, a formulagao de um Projeto de Intervengao na escola com estreita vinculagao com o Projeto Politico Pedagégico ou a gestao da mesma. Dessa forma, os diversos projetos-intervengao foram realizados numa agio conjunta, partilhada entre o diretor ¢ 0 coletivo da escola e tiveram como objeto: a) a construgio do PPP da escola naquelas unidades que ainda nao tinham; b) a re-elaboragio do PPP, ou de partes do mesmo, nas escolas que j4 o tinham; ¢) uma situagao problematica e relevante na escola, vinculada ao PPP ou a gestao da mesma, Abordaremos aqui, sobre os principais temas tratados nos referidos projetos-intervengio dos Polos de Guaxupé, Ipatinga € Uba. Inicialmente, apontamos tradugdes sobre 0 conceito de democracia e sua interface com a escola e a gestdo pedagégica. Boa parte dos projetos de intervengao propostos pelos alunos, remetiam A necessidade de elaborar ou reelaborar o PPP com o envolvimento dos profissionais da escola e a comunidade escolar. Apontamos nessa discussio alguns critérios necessérios para se oportunizar © envolvimento dos leigos nas decisdes que envolvem a pratica educativa escolar. Neste sentido, apresentaremos o proceso de formacao dos conselhos escolares ~ instancias nao s6 reconhecida como instrumento da gestdo democratica, mas legalmente garantida pela LDB. Técnicos, especialistas, professores, funcionarios, familias, alunos ¢ comunidade em geral podem debater sobre a oferta e a qualidade da educagio em cada unidade de ensino, podendo também deliberar sobre as d os conselhos escolares contam com o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, cujo objetivo principal é fomentar a implantagao e 0 fortalecimento dos Conselhos Escolares, no sentido de fortalecer a gestio democritica e participativa na educagao. No quarto item procuramos fazer um dislogo bibliografico sobre a integragao familia e comunidade escolar. Em meio as propostas de intervengao dos Gestores Escolares, essa tematica constituiu 0 terceiro objeto de estudo e intervencao na escola, mais formulado pelos alunos. 0 dialogo que propomos leva a reflexao que a relagio iisdes tomadas. Atualmente i) ax, lad Gpescola de gestores familia/escola, torna oportuno a transformagao da realidade escolar © 0 desenvolvimento da educagao para a cidadania, Discutiremos que a democracia faz parte de um processo histérico e cultural que envolve a definigao de quem deve participar das decisoes. Defendemos também que o ambiente escolar tem 0 potencial de fomentar o desenvolvimento de habilidades necessarias, para o exercicio da democracia dialégica. Apontamos qual seria a contribuigao do Projeto Politico Pedagogico (PPP) para o debate sobre a democracia ¢ como a forma de sua implantacao reflete 0 tipo de gestao da escola. Tradugées sobre a democracia ¢ a gestio democratica escolar Embora a palavra Democracia tenha um significado bastante difundido ~ governo do povo ~ o que se entende pela sua realizagao tem uma longa historia, Na historia ocidental desenvolveram-se a “Tradigdo classica ou Aristotélica’, a “Tradigao Medieval” ¢ a “Tradigéo Moderna” A tradigao Aristotélica das trés formas de governo, 0 “Governo do povo", a “Aristocracia” ¢ a “Monarquia”, tem sua histéria remota narrada por Herédoto sobre o diélogo entre Otane, Megabizo Dario acerca da futura forma de governo do reino da Pérsia sendo que a Democracia & considerada uma forma corrupta de governo (BOBBIO, 1998). Platao (2006) descreve, na Reptiblica, cinco formas de governo aristocracia, timocracia, oligarquia, democracia ¢ tirania, sendo que somente a aristocracia é considerada boa e a democracia é descrita como a “menos boa das formas e menos ma de Governo”. A tradicéo romano-medieval postula que independente de quem fosse o detentor da soberania formal do governo, a fonte deste poder emanaria do povo, sendo que este apenas constituiria a outro como seu procurador. Nesta perspectiva existem dois poderes do Estado ~ 0 legislativo eo executivo. Ao poder legislativo, um corpo de cidadaos, compete fazer as leis ¢ até mesmo depor o governante. poder executivo seria delegado pelo povo ao seu representante. O legislador é a causa primaria e 0 executivo a secundaria. 0 povo faz a lei a partir do legislativo ¢ 0 executivo faz cumprir estas leis, portanto, uma democracia representativa. & 4 38 escola de gestore: te ‘A tripartigao aristotélica ¢ a forma de ver 0 poder legislativo © executivo pela tradigio romano-medieval foram acolhidas pela tradicao do pensamento ocidental, A teoria do Contrato Social de Rousseau (1996), por exemplo, sustenta-se no principio de que 0 poder legislativo deve ser assumido diretamente pelos cidadaos. Para ele denomina-se Republica a forma como se organiza o Estado ou 0 corpo politico, sendo que a Democracia insere-se como uma das possiveis formas de governo. O ideal igualitirio de Rousseau deve se realizar na forma da vontade geral configurando assim a democracia numa perspectiva participativa como método de organizagao coletiva ‘Vemos neste breve percurso histérico que uma boa parte daquilo que consideramos democracia, estabelece-se na relagio a quem ela inclui ou exclui das decisdes. O que ela é, muda A medida que as pessoas desenvolvem diferentes concepgoes do que significa ser um povo auténomo ou de quais habitantes de um determinado territério devem participar plenamente (MARKOFF, 2013) A discusso sobre a aio democratica participativa pode se estender para além de instituigdes comumente tratadas como espagos privilegiados do exercicio da democracia, tais como 0 Senado, Congresso ou Assembleia legislativa. A sociedade civil ¢ incorporada nos discursos piblicos com a criagao de ambientes (foruns, eleigdes, plebiscitos, associagdes, dentre outros) que possibilitem a participacao ativa nas tomadas de decisdes, configurando assim praticas de uma democracia participativa ou dialégica (ROBERTSON, 2008). Estaperspectivadialégicadademocraciaexigequeseusmembros fagam mais do que participar da escolha de seus representantes, mas sejam capazes de identificar problemas, perceberem-se ¢ aluarem como gestores da sociedade (REICH, 2007). Pensando no ambiente educacional escolar alguns autores propéem que a escola contribua para a formacao destes cidadaos com a promogio de valores ¢ a criagao de ambientes de aprendizagem que oportunizem a vivencia pritica e ativa dos alunos e a comunidade nos debates, sobre temas discutidos no cotidiano da escola ou em deliberacdes, sobre assuntos que afetem os tempos e espacos escolares (ROTH € DESAUTELS, 2002). se A®eescola d $hescola de gestores Alguns autores (p. ex. VEIGA, 1995; ASBAHR, 2005; VASCONCELOS, 1998) sugerem que no ambiente escolar a claboragio do Projeto Politico Pedagégico (PPP) favorece a existéncia de um projeto coletivo de escola. Para tanto a gestao € tomada de decisio acerca da produgao e gestio PPP nao pode estar centralizado nos especialistas e gestores. No levantamento de dados realizado nos Polos de Guaxupé, Ipatinga e Uba os gestores indicaram a preocupagio em envolver a comunidade escolar, o conselho escolar, os professores e demais funcionarios na reelaboragao do PPP e seu cumprimento. Outra demanda também relacionada a gestio democratica & a criagio € fortalecimento do Colegiado com foco na formagao de novas relagdes e poder de decisio no espago escolar. Estes dados sugerem que o planejamento das acdes pedagégicas ainda estéo nas maos dos especialistas e que a comunidade escolar nao participa diretamente das decisdes. Este cendrio sugere que a gestio democratica na escola, como vemos hoje, é mais representativa do que participativa. Envolvendo a comunidade escolar na discussio dos rumos da escola JA esté consolidado no discurso educacional que o Projeto Politico Pedagégico (PPP) é a propria organizacao do trabalho escolar e que abrange a concep¢io, realizagao e avaliagao do projeto educativo envolvendo diversos atores (VEIGA, 1998). Neste sentido Todo projeto supde rupturas com o presente futuro, Projetar significa tentar quebrar um estado confortavel para arriscar-se, atravessar um periodo de instabilidade © buscar uma nova estabilidade em fungio da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visiveis os campos de agio possivel, comprometendo seus atores e autores (GADOTTI, 1994, p. 579) promessas para 0 Assim o PPP nao é simplesmente um amontoado de planos © agrupamento de pessoas. Envolve a associagao dos atores & 4 37 escola de gestores te envolvidos ¢ do compartilhamento de objetivos. Pensando nas pessoas envolvidas nos objetivos educacionais da escola, podemos citar professores, coordenadores, gestores e alunos, mas também, pais e a comunidade atendida pela escola. A elaboragao do PPP & uma agao intencional, com a explicitagao de compromissos. Quando estes so definidos coletivamente, comunga com a perspectiva de uma democracia participativa © projeto politico-pedagégico, a0 se constituir em proceso democratico de decisdes, preocupa-se em instaurar uma forma de organizacao do trabalho pedagégico que supere os conflites, buscando eliminar as relagdes competitivas, corporativas ¢ autoritirias, rompendo com a rotina do mando impessoal ¢ racionalizado da burocracia que permeia as relagSes no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentarios da divisio do trabalho que reforga as diferencas e hierarquiza os poderes de deciséo (VEIGA, 1998). Resgata a escola como espago piiblico, lugar de debate e do diflogo. Assim na discussao dos rumos da organi: aprendizagem que o PPP propde, novos atores devem assumir © problema, levantando temas para discussio ¢ redefinindo as possiveis consequéncias do projeto (CALLON, 2010). Posto isto, estratégias devem ser pensadas para criar na escola ambientes de didlogo envolvendo a participagio efetiva da comunidade. Alguns autores (CALLON et tal, 2010; LATOUR, 2012; LAW, 2012; LAW, 2000) sugerem que os Féruns de debates oportunizam tal participacio e apontam quais os critérios que devem ser observados para que os nao especialistas, alunos ¢ professores, sejam incluidos nas discussoes 0 Forum surge com o custo de levantar alguns conilitos. Mas 0 conflito e a controvérsia podem fortalecer a democracia, pois forgam 0 estabelecimento do debate e invocam recursos e a mobilizagao de aliangas. Entretanto, como podemos avaliara qualidade das decisbes, tomadas a partir dos Foruns? Como os Féruns podem influenciar na investigagao de estados possiveis de mundo e na composicao de SALON, 2010, p. 155)? coletivos ss A®eescola d $hescola de gestores A abordagem dos temas a serem discutidos nos f6runs inicia~ se a partir das observagdes ¢ reflexes da realidade escolar. Para Callon (2010) (..) comega a partir dos problemas encontrados pelos atores, acompanha-os nas anélises que produzem, ¢ nas solugdes que inventam; esforga-se a ajudi-los no esclarecimento das ligies mais gerais que podem ser estabelecidas com base do aciimulo de experincia” (p. 154) Assim na disci sao ¢ elaboragio do PPP os temas mais controversos podem ser discutidos em forma de frum aberto com a comunidade escolar. Entretanto a realizagao do forum nao garante por si sé a emergéncia de uma democracia dialégica. Formas de manipulagdo podem se manifestar tais como, ouvir a comunidade para antecipar reagdes, deixar as pessoas falarem, mas nao considerar suas opinides nas tomadas de decisoes. Utilizar o debate para legitimar uma decisio “é uma questao de levar as pessoas a falarem, a fim de silencié-las de forma mais, eficaz” (CALLON, 2010, p. 155). Considerando a escola um espaco formador, os educadores devem ser os primeiros a resistir ao silenciamento dos grupos envolvidos na escola. Uma reflexio importante é pensar em até que ponto a comunidade ¢ convidada para se expressar, compartilhar seus pontos de vista e negociar? E, ainda, quais critérios estao sendo utilizados na elaboragio do PPP e se eles restringem a entrada destes grupos no debate. Questées importantes devem ser consideradas: que grupos sao incentivados a participar das discussdes e compor o coletivo da escola? Os pais, 0 Conselho Escolar, os alunos? Qual a constituigao deste coletivo ¢ a intensidade da participagio? Com que frequéncia ¢ ocasides sio chamados? Até que ponto, 0s grupos com acesso a discussao tém 0 poder de modificar ou propor mudangas na escola? Nao basta, portanto, mobilizar os grupos para participarem de reunides pontuais. A comunidade deve ser ouvida e perceber que o seu papel sera ativo na discussio sobre os rumos da escola. & 4 59 escola de gestores te Se em todo debate é na verdade, permeado por assimetrias, geralmente transmitidas e reforcadas pelos rangos da democracia representativa ¢ delegativa, na escola, nenhum segmento deve monopolizar a discussio. £ preciso mobilizar tempo, dinheiro ¢ formagio para estruturagao de coletivos em que a democracia dialégica seja estabelecida, para que “as vozes fracas sejam capazes de fazer-se ouvir, ¢ 0 mais rapidamente possivel, para que possam ser dadas a possibilidade de terem um papel ativo na composi¢io do coletivo". “allon et tal (2010) aponta quatro critérios de implementacao do debate na democracia dialégica ou participativa: Formagio: igualdade no acesso ao debate (1), Transparéncia durante o processo (2) ¢ Clareza das regras (3). Sobre o critério Formagao: igualdade de acesso ao debate, para que os atores possam entrar, de fato, no espaco publico, mediadores ¢ facilitadores de debates tem o papel de facilitar e traduzir os temas discutidos. Isso ¢ necessario, pois pais, maes € alunos devem entender os temas do PPP (curriculo, avaliacao, organizacao, etc) para fazerem suas escolhas. Nao basta, portanto, garantir um quérum da reuniao, a igualdade de acesso pressupoe © entendimento das questdes discutidas e ages como criar uma palestra ou oficinas para esclarecimentos sao necessérias. A transparéncia durante 0 processo é possibilitada com 0 registro das contribuigdes e das posicdes tomadas, de forma escrita (por atas) ou com um video. Assim sera possivel reconstruir a riqueza dialégica de um debate e acompanhar as diferentes vozes envolvidas. Para evitar manipulagdes, 0 que necessariamente beneficia os mais fortes do processo, as diferentes agdes ¢ operagies que se concretizaram devem ser conhecidas antecipadamente por todos os participantes. Este terceiro critério é a da Clareza (e publicidade) das regras do jogo. O acordo sobre como proceder nao deve deixar nenhum ponto obscuro e, uma vez obtido, é um compromisso firme; nao deve haver nenhuma questio que faga voltar com as regras acordadas entre as partes envolvidas (CALLON et tal, 2010, p. 163). ‘A gestio democratica @ um principio consagrado pela Constituicao vigente e abrange as dimensdes pedagégica, administrativa ¢ financeira. Tornar 0 espaco escolar realmente 6 A®eescola d $hescola de gestores piiblico exige uma ruptura histérica na pratica administrativa da escola, que inclui a implementagao de procedimentos que favorecam o acesso da comunidade escolar ¢ a sua inclusto nas discussdes sobre 0 Projeto Politico Pedagégico. A criagao de foruns na escola considerando os critérios de igualdade de acesso, transparéncia e clareza, possibilita a ampliagao da participagao dos representantes dos diferentes segmentos da escola nas decisdes/agdes administrativo-pedagogicas ali desenvolvidas. Conselhos escolares: criacdo e fortalecimento As origens atribuidas aos conselhos populares sto muitas, sua origem ¢ natureza sto diversificadas, todavia, é possiv afirmar que sao fruto de longa construgao histérica. A historia de sua construgio se confunde com a historia da democracia e da politica. Tais conselhos exerciam a democracia direta com um papel de realizar a representagao de grupos como estratégia para solucionar tensdes e conflitos resullantes das diferencas de interesses. Os papéis, formas de organizacao ¢ fungdes atribuidas aos conselhos sao diversos, no entanto, na sua origem radica sempre o desejo de participacao na formulacao e na gestio das politicas piblicas A concepgio dos conselhos no Brasil se instituiu com forte influéncia das cortes europeias, que, no regime mondrquico, concebiam o Estado, como “coisa do Rei”. Mesmo com o advento da Repablica (Res publica ~ expressio latina que significa coisa do povo, coisa publica), a gestao da “coisa publica” continuow fortemente marcada por uma concepgao patrimonialista de Estado. Essa concepgao, que situava o Estado como pertencente a autoridade ¢ institufa uma burocracia baseada na obediéncia a vontade superior, evou a adogao de conselhos constituidos por “notaveis’, pessoas dotadas de saber erudito, letrados. Era comum que os conselhos de governo, compostos pelos letrados, eruditos e notaveis servissem aos governantes. Naquele tempo, e até recentemente, o saber popular nao oferecia ulilidade & gestao da “coisa piblica’. Esta pertencia aos “donos do poder’, e se serviam dos “donos do saber” para administré- Ia, discutir e deliberar sobre as coisas e bens comuns. & Akescola de gestores o te Até a década de 1980 predominaram, no Brasil, os conselhos de notaveis. O critério de escolha de seus representantes era sempre © “notério saber’, os conselhos tinham cardter governamental, de Ambito estadual e nacional, especialmente nas areas de educacao, satide, cultura e assisténcia social. Uma das principais atribuigdes desses conselhos era assessorar 0 governo na formulagio de politicas pblicas, mas assumiam um carter técnico especializado € sua atuagio se concentrava nas questées da normatizagao dos respectivos sistemas (BRASILIA, 2004, p. 16). Apés a década de 1980, com o fim da ditadura no pais e com a redemocratizagao os movimentos populares passaram a exigir maior participagio na gestao publica. Os grupos ¢ movimentos populares existentes, até entdo. tinham um carter combativo e de enfrentamento ao Estado. Segundo Gohn (2000), enquanto, nos anos 1970, existia consenso de que se deveria criar um contrapoder ao Estado, um poder popular e independente, nos anos 1980, com a redemocratizagao, os movimentos passaram a ser interlocutores do Estado. Ou seja, de contestadores do poder, passam a parceitos e interlocutores na medida em que oferecem novas possibilidades de construgio da democracia no pais e passam a ocupar espacos de representacao nas instncias de discussao e deliberagao sobre a “coisa piblica”. Atualmente, na sociedade complexa (VELHO, 1999) e com o processo de democratizacao do piblico ha a imposigao e ampliagao dos mecanismos de gestio das politicas piblicas. Coma criagao das politicas setoriais cuja definicao é discutida em conselhos préprios © com abrangéncia variada: unidades da federagdo, programas de governo, redes associativas populares e categorias institucionais (BRASILIA, 2004, p. 19). A participacao comunitéria se inseriu, efetivamente, nos debates da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988) que geraram a institucionalizagao de conselhos gestores de politicas piblicas no Brasil. Tais conselhos tém carater de acao politica, aliam o saber erudito com o saber popular, por meio das representaces das categorias sociais de base. Como expressio de uma nova institucionalidade cidada, nascem os conselhos de gestao de politicas piblicas setoriais, caracterizados como conselhos de cidadania, sociais ou populares. ‘A participagao cidada nesses espagos marca a construgao de um novo projeto de sociedade que concebe o Estado como patriménio oe ax, lad Gpescola de gestores comum ¢ a servigo dos cidadaos. Hoje os conselhos representam uma estratégia privilegiada de gestao e de democratizagao das agbes, do Estado e expressio da sociedade organizada, Como espagos de interface entre Estado ¢ sociedade os conselhos tém fungao mediadora e assumem uma nova institucionalidade. Nos espagos da federagio temos conselhos municipais, estaduais fou nacionais, responsaveis pelas politicas setoriais nas areas da educagio, da saiide, da cultura, do trabalho, dos esportes, da assisténcia social, da previdéncia social, do meio ambiente, da cia ¢ tecnologia, da defesa dos direitos da pessoa humana, de desenvolvimento urbano. Em diversas areas ha conselhos atendendo a categorias sociais ou programas especificos” (BRASILIA, 2004, p. 19) Neste contexto foram também organizados os conselhos de educagao, que fazem parte do sistema de ensino formalmente estabelecido pela Constituigao (1988) e pela Lei de Diretrizes Bases da Educagao Nacional (1996). Cury (2000) explica 0 conceito de conselho a partir da origem etimoldgica do termo: Conselho vem do latim Consiium. Por sua vez, consilium provém do verbo consulo/consulere, significando tanto ouvir alguém quanto submeter algo a uma deliberagdo de alguém, apés uma ponderagao relletida, prudente e de bom-senso, Trata-se, pois, de um verbo cujos significados postulam a via de mao dupla: ouvir e ser ouvido. Obviamente a reciproca audigio se compe com 0 vere ser visto e, assim sendo, quando um Conselho participa dos destinos de uma sociedade ou de partes destes, o préprio verbo consulere ja contém um principio de publicidade (CURY, 2000, p47). Desta forma, Cury nos auxilia a compreender um conselho de educagio como uma instancia de representacao que fala diretamente ao governo em nome da sociedade, utilizando-se de pareceres e de deliberagdes, em defesa dos direitos educacionais da cidadania fundados na reflexio ponderada pela discussio democratica, prudente e a favor da coletividade. Os conselhos de educagao se inserem na estrutura dos sistemas de ensino como mecanismos de gestao colegiada, para tornar presente a expressao da vontade da sociedade na formulagao das politicas e das normas Ak. 68 Hpescola de gestores educacionais ¢ nas decises dos dirigentes. Além dos conselhos existentes nos espagos da federacao, como os conselhos municipais, estaduais e federal de educacio, ha também os conselhos escolares, {que se constituem como estratégia da gestao democratica de cada tunidade publica escolar. A LDB atribui A Unido a responsabilidade de coordenar a politica nacional de educagao e busca respeitar a autonomia das unidades federadas afirmando que “os sistemas de ensino terao liberdade de organizagao” (art. 8°), ao mesmo tempo estabelece um principio e duas diretrizes, nos arts. 14 e 15 para a implantagao da gestdo democratica: Art. 14°, Os sistemas de ensino definirio as normas da gestio democritica do ensino publica na educagio basica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes principios: I- participagio dos profissionais da educacao na elaboracio do projeto pedagégico da escola; - participagio das comunidades escolar ¢ local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15°. Os sistemas de ensino assegurario As unidades escolares piiblicas de educagio bisica que os integram progressives. graus de autonomia pedagégica e administrativa e de gestio financera, observadas as normas geras de direito financeiro piblico (LDB, 1996). Assim, observa-se que esta assegurado que as unidades escolares garantam a participagao dos profissionais e da comunidade escolar como estratégia da gestdo democratic e instrumento de tomada de decisio. O conselho escolar traz, consigo a fungao de ser a vor, € 0 voto dos diferentes atores da escola, internos e externos, desde os diferentes pontos de vista, deliberando sobre a construgao e a gestio de seu projeto politico-pedagégico. Dentre esses atores a participacao das familias na edueacao formal dos estudantes pode ir muito além do acompanhamento de boletins e de conversas com professores. O envolvimento direto dos pais no dia a dia da escola, acompanhando questoes ligadas & administragao e ao ensino, pode ser vital para a melhoria da educacao - ¢ os conselhos escolares sto formas legitimas de participagdo e deliberagdo, inclusive sobre questdes sobre financiamento. Assim como a participagao do corpo docente também nao deve se restringir as ages do processo educativo o ax, lad Gpescola de gestores desenvolvidas dentro da sala de aula. O professor precisa compreender o processo democratico de aprendizagem na troca de conhecimentos que efetivamente se constréi na pratica do cotidiano escolar entre os pares, a comunidade, a familia ¢ os estudantes. A articulagao do conselho escolar ¢ da gestao da escola é fundamental para o funcionamento e organizacao de cada unidade piblica de ensino. O conselho escolar ¢ um instrumento eficaz ¢ eficiente na busca da gestdo democratica, uma vez que tem na sua composigao representantes dos estudantes, dos docentes, dos funcionarios, da diregio, moradores do entorno da escola e das organizagdes que jé existem na comunidade. Nao é um érgao aut6nomo e externo escola que vem para criticéla, mas ele é um instrumento que faz parte da escola, faz parte de seu funcionamento. ‘Tem a fungao de fazer um acompanhamento responsavel de todo 0 proceso educativo, que abrange desde 0 aspecto pedagigico até o burocritico. Assim, penetramos no campo de organizagao do cotidiano escolar. Ao permitir a participagao das diferentes partes envolvidas no processo educative 0 conselho escolar busca compreender © descortinar a rede de relagdes existentes nesse espago que se apresenta como relevantes fontes de renovacao do ensino ao evidenciar convergéncias, rupturas ¢ conilitos presentes no interior da escola, © debate e a transparéncia das ages aucxiliam em uma anilise qualitativa do processo educativo que favore: compreensao das tensdes inerentes a uma sociedade capitalista, como a nossa, que vive em constante transformagio, onde os grupos sociais sao mutdveis, as instituigdes, leis ¢ visbes de mundo sio provisorias e passageiras. Assim, para dar conta desta sociedade que valoriza e reivindica a participagao e enfrentando o desafio de consolidag fortalecimento dos conselhos 0 governo federal criou o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. © Programa tem por objetivo fomentar a implantagio eo fortalecimento dos Conselhos Escolares, por meio da elaboragao de material didatico especifico ¢ formacao continuada, presencial © a distancia, Os beneficiarios diretos do Programa sao: técnicos das secretarias estaduais e municipais de educagao e conselheiros & 4 6 escola de gestores te escolares, de acordo com as necessidades dos sistemas de ensino, das politicas educacionais, e profissionais de educagao envolvidos com gestao democratica. Diante da realidade atual e da organizagao em que se encontram as escolas, nao sio raras as experiéncias nas quais os conselhos escolares sao praticamente inexistentes ~ existem como uma formalidade, mas nao funcionam, efetivamente, como uma estratégia de gestio democratica. Essa afirmagio pode ser evidenciada no curso de Gestao da Educagao Basica, ministrado pela Escola de Gestores da Universidade Federal de Ouro Preto, que nos trabalhos e discussdes realizados pelos alunos (gestores escolares) afirmam, em muitos casos, nao haver um conselho escolar efetivo e atuante. Desta forma, 0 governo federal considera necessario 0 investimento na inducao da criagao ¢ fortalecimento dessas instdncias para atingir os objetivos propostos pelo Programa, quais sejam: a) Ampliar a participacao das comunidades escolar € local na gestao administrativa, financeira e pedagégica das escolas piblicas; b) Apoiar a implantagao eo fortalecimento de conselhos escolares; ¢) Instituir, em regime de colaboragao com os sistemas de ensino, politicas de implantagao e fortalecimento de conselhos escolares; d) Promover em parceria com os sistemas de ensino a capacitagao de conselheiros escolares; e) Estimular a integragao entre os conselhos escolares; f) Apoiar os conselhos escolares na construgao coletiva de um projeto educacional no ambito da escola, em consonancia com 0 processo de democratizacao da sociedade; g) Promover a cultura do moniloramento ¢ avaliacao no ambito das escolas, para a garantia da qualidade da edueagao. “Tal iniciativa avanca no sentido que Paulo Freire (2002) afirma: Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vive em torno da escola, ¢ dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mao, também. Tudo 0 que a gente puder fazer nesse sentido 6 pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se pe diante de nés, que é 0 de assumir esse pais democraticamente (FREIRE, 2002). 6 A®eescola d $hescola de gestores Assumir democraticamente 0 pais significa” participar ativamente da construcao da sociedade, tomando conhecimento das decisdes tomadas pelos representantes populares e fazendo parte do proceso decisério participando das instancias de discussao ¢ deliberagao, que no ambito educacional sio os conselhos escolares presentes em cada unidade de ensino. A escolaéo espaco privilegiado de exercicio da vida cidadi. A participacdo nestes espagos faz parte do processo de produgio de nossa propria existéncia e visa a qualidade da educagao ¢ da inclusdo universal, como preconizado no Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. A educagio é socialmente referenciada quando beneficia a todos ¢ nao promove alguns e discrimina a maioria (BRASILIA, 2006). Desafios da gestdo escolar: integracao familia e comunidade escolar Ao longo da histéria a soberania do Estado suscitou diversas desigualdades sociais, politicas e educacionais. Sendo compreendido como uma organizacao politica regulamentadora, coercitiva ¢ de controlo social de um determinado territério. O Estado sofreu mutagdes particulares na transigdo para a modernidade referente & sua configuragao, natureza e fungoes: [...] 0 Estado tem j uma longa duragio histérica. Tendo isso em conta, ¢ nao esquecendo que s6 podera ser bem caracterizado por referéncia is mutagies particulares que foram ocorrendo na sua configuracio, naturezae fangSes,o Estado sera aquigenericamente entendido como a organizagao politica que, a partir de um determinado momento histérico, conquista, afirma e mantém a. soberania sobre um determinado territério, ai exercendo, entre outras, as fangies de regulagio, coergio © controle social fungies essas também mutaveis e com configuragées especificas ¢ tornando-se, ja na transi¢éo para a modernidade, gradualmente indispensiveis ao funcionamento, expansio ¢ consolidagio do sistema econémico capitalista (...] (AFONSO, 2001, p. 17) Nesse contexto, os pressupostos do sistema de ensino estiveram ajustados a uma estrutura burocratica ¢ centralizadora de poder. Desta forma, 0 dominio decisério esteve limitado as esferas & 4 or escola de gestores te governamentais que determinavam as agdes administrativas © pedagdgicas que ocorriam nas escolas. Competia a escolas & tarefa de executar tais programas e projetos de administracao, independente das necessidades politica, econdmica, cultural ¢ social da comunidade escolar. Na modernidade as perspectivas em desenvolvimento visam viabilizar 0 processo de democratizagao, por meio da educacao. Sendo essa, a base para o exercicio da cidadania e identidade de uma nagao de sucesso. Segundo Veiga (1998), a escola deve ser o lugar de concepgao, realizagao e avaliagao de seu projeto educativo, dessa forma, necessita autonomia para organizar seu trabalho administrativo e pedagégico. Este deve ter como base as necessidades da comunidade escolar e 0 fortalecimento das relagdes entre escola e sistema de ensino. Ha décadas os diversos segmentos da sociedade vém reivindicando a democratizagio da educagao piiblica e de qualidade. Esse movimento se intensificou na década de 80. A constituicao federal de 1988 estabeleceu A educagao brasileira, os principios de obrigatoriedade, gratuidade, liberdade e igualdade. Sendo direito garantidas as criangas, conforme determina a lei no art.” & dever da familia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder piblico assegurar, com absoluta prioridade, a afetivacao dos direitos 4 vida, & sade, & alimentagao, & alimentagao, & educagao, ao esporte, ao lazer, a profissionalizagio, a cultura, 4 dignidade, ao respeito, a liberdade, a convivéncia familiar e comunitaria (BRASIL, 1998). Como reflexo das diversas lutas ¢ dos movimentos na Constituigao Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional n° 9394/96, a gestao escolar passa a adotar uma postura mais democratica. Dentro disso, abre-se espaco para a integracio entre familia e escola, na solucao dos problemas processos de aprendizagem em conformidade com as necessidades da escola. A LDB destaca que os profissionais da educagio sao os responsaveis pelos processos de aprendizagem ¢ ressalva a agao integrada entre escola e familias. Assim, expressa em seus artigos: “ A®eescola d $hescola de gestores Art. 12, Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns eas do seu sistema de ensino, terao a ineumbéncia de: (.) VI-~ articular-se com as familias ¢ a comunidade, criando processos de integragio da sociedade com a escola; (..) Art. 13. Os docentes incumbir-se-Ao de: (.) VI~ colaborar com as atividades de articulagao da escola com as familias © a comunidade, Art. 14, Os sistemas de ensino definirdo as normas da gestio democritica do ensino piiblico na educagéo basica, de acordo com as suas peculiaridades ¢ conforme os seguintes principios: [.] Il participagao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1994) Nos artigos dessa lei fica instituido que os estabelecimentos de ensino, promovam a articulagao com as familias, a fim de criar processos de integracao entre sociedade e escola. Da mesma forma, © artigo 13 da LDB, ressalta que as atividades propostas pelos docentes, estejam em conformidade com a articulagio entre a escola, as familias ¢ a comunidade. © Estatuto da Crianga e do Adolescente (ECA) estabelece 0 dever da comunidade, sociedade e poder publico em assegurar direito & educagac: ‘Art. 4°£ dever da familia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder piblico assegurr, com absolutapriovidade, a cfetivaio dos direitos referentes& vida, & saide, 4 alimentagio, & educagio, ao esporte, ao lazer, & profissionalizagio, & cultura, & dignidade, a0 respeito,liberdade e a convivéncia familiar e comunitazia Paragrafo tinico, A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber protecio esacorro em quaisquer circunstancias ) precedéncia de alendimento nos servigos piblicos ou de relevineia publica; ¢) preferéncia na formulagio e na execugéo das politicas sociais pablicas; €)destinagio privilegiada de recursos piblicos nas areas elacionadas com a protecio a infanciae juventude (BRASIL, 1990). Ressalta ainda, a necessidade da parceria familia/escola e determina as obrigatoriedades dos pais em matricular os filhos nas escolas, assim como, o direito de participar das propostas educacionais: a escola de gestores ° Capitulo TV ~ Do Direito Educagéo, & Cultura, ao Bsporte © a0 Lazer. Paragrafo tinico. Edireto dos pais ou responsiveis ter ciéncia do processo pedagégico, bem como participar da definigio das propostas educacionais ‘Art. 95. Os pais ou responsivel tém a obrigagao de matricular seus filhos ot pupilos na rede regular de ensino Art. 56.Os dirgentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicario ao Conselho Tutelar os casos de 1 maus-tratos envolvendo seus alunos WL — reiteragio de faltas injustiicadas © de evasio escolar, esgotados os recursos escolares: TIL elevados niveis de repeténcia (BRASIL, 1990). A Lei de Diretrizes e Bases da Educagio Nacional (LDB), em conformidade com o Estatuto da Crianga do Adolescente (ECA), anunciam ¢ aferem a educagao das criancas e dos adolescentes como uma agio unificada dos agentes escolares € pais ou responsiveis. Esse novo ambiente juridico-institucional estabelece um periodo de solidificagao de direitos individuais e sociais dos alunos e suas familias. Nesse contexto, uma organizacao escolar funciona por meio da cooperacao. Esse didlogo deve ser fundamentado nos esforgos de todos os envolvidos no sistema educacional, 0 que abrange escola, professores, especialistas, familia, sociedade e alunos. Refletir sobre a funcio social da educacao ¢ da escola, envolve a problematizagao da escola que temos, na tentativa de viabilizar a escola que desejamos. Nesse sentido, ¢ fundamental a articulagao entre todas as partes da escola, a criagao de espagos em que seja viabilizada a participagao de todos no exercicio do jogo democratico (DOURADO; MORAES; OLIVEIRA apud SILVA, 2006, p. 3). Isso envolve a contribuigao de varios segmentos da comunidade escolar: professores, pais, estudantes, funcionarios, familia e toda a comunidade escolar. © objetivo dessa parceria é a construgdo e avaliacdo dos projetos pedagégicos, na administragio dos recursos da escola, nos processos decisérios e na consolidagao de um projeto de gestdo democratica na escola (OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, 2006, p. 3) Para Regattieri e Castro (2009), 0 proceso escola/familia nao deve compreender somente a negociagao ou cobranca de ra A®eescola d $hescola de gestores responsabilidades das familias. Para tal, torna-se impreseindivel que os sistemas de ensino ¢ escolas compreendam as condigdes das, familias dos alunos. Ignorar esse cuidado, na etapa inicial, pode provocar desencontros e nao aceitacao dos familiares aos projetos de aproximagao da escola, Essa integragao € um requisito importante para alcancar a melhoria no processo ensino-aprendizagem. Segundo Paro (2003) a convivéncia humana motiva no aluno 0 desejo de aprender, Sucinta um acordo entre o educando, observados ¢ estimulados a serem sujeitos da propria aprendizagem. Da mesma maneira, trazer os familiares para 0 convivio da escola, apresenta Ihes a importancia da sua participagio e compromisso com a vida escolar do aluno. O que leva a uma escola piblica em conformidade com os seus interesses de cidadaos. Aeescola temo dever de incentivar a participagao e o engajamento da familia/comunidade nos projetos da instituigao, assim como, reconhecer a importancia do auxilio da familia no projeto escolar. Essa acolhida gera o exercicio do seu papel da familia na educacio, no desenvolvimento € sucesso profissional de seus filhos e na transformagao da sociedade, Sendo a escola o espago privilegiado para o desenvolvimento das ideias, erengas e valores. Deve ir alé da apreensao de contetidos e buscar a formagio de cidadaos criticos e agentes de transformacao (POLONIA E DESSEN, 2005, p. 303-312). Segundo Paro (1997, p. 30), a escola precisa oportunizar 0 contato com os pais, a fim de passar informagoes importantes sobre os objetivas, recursos, problemas e questoes pedagégicas. Desta forma, a familia assimila o comprometimento com a melhoria da qualidade escolar e desenvolvimento humano do seu filho. Sendo assim, o intuito deste t6pico foi compreender, por meio do levantamento bibliografico, as demandas dos Gestores escolares, em viabilizar propostas de interveneao, que aproxime as familias dos alunos & comunidade escolar. Esse estudo indica que a familia’ escola representa. instituigdes do desevolvimento humano, que necessitam de uma maior aproximagao de particularidades € similaridades, visando A superagio dos desafios apresentados no contexto educacional. Essa aproximagao pode atuar de forma progressiva no crescimento fisico, intelectual e social do cidadao, na medida que compartilha fungdes sociais, politicas e educacionais, de influencia direta na formagao do cidadio. & 4 n escola de gestores te Consideragées finais A Lei de Diretrizes e Bases da Educagao Nacional (Lei 9394/94), em sew artigo 12, inciso I, prevé que “os estabelecimentos de ensino, respeiladas as normas comuns ¢ as do seu sistema de ensino, terao a incumbéncia de elaborar ¢ executar sua proposta pedagégica’. Este inciso redimensiona conceito de escola e explicita que esta nas maos dos sujeitos que fazem a escola definir a organizagao do seu trabalho pedagogico. Esti clara a ideia de que a escola nao pode prescindir da reflexao sobre sua intencionalidade educativa (visio de mundo, de homem, de conhecimento, de escola, de processo ensino-aprendizagem, de relagio professor-aluno e de avaliagio). A escola como parte integrante da soc conta a fungao social da escola publica e seu papel formador, precisa refletir sobre sua pritica pedagégica, revendo suas posturas e objetivos e buscar, coletiva e colaborativamente a sua reestruturag4o perante as novas demandas ¢ sob a luz da legislacao e da normatividade Este capitulo abordou sobre os principais temas tratados implementados nos projetos-intervengao no contexto do curso de Especializacao em Gestao Escolar, nos Polos de Guaxupé, Ipatinga e Ubi, dentre eles a elaboracao e/ou reelaboracdo do PPP da escola, a criagao e fortalecimento do Conselho escolar e a integragao familia ¢ comunidade escolar, com foco na formagao de novas relagdes ¢ poder de decisdo no espago escolar. 0 Projeto Politico Pedagégico torna-se elemento fundamental para a escola por ser norteador da organizacao de agdes, visando a0 sucesso do ensino-aprendizagem, finalidade maior da escola como instituigdo social. F. um instrumento orientador de toda a dindmica de funcionamento do contexto escolar. Neste sentido, as pessoas envolvidas em tal contexto, necessariamente, precisam participar de todo o seu proceso de construgao ¢ (re)construgao permanente, pois, o seu processo de redimensionamento perpassa por varias situagdes que podem ser de natureza harménica como também conflituosa e que implica em redefinigdes constantes. Nesse ambito, 0 projeto politico pedagdgico se configura no objeto prioritario de atencao, estudo, elaboracio e permanente reconstrugdo. Aces precisam ser criadas ¢ discutidas coletivamente dade, tendo em ” ak la d Gpescola de gestores para que sejam superados os problemas que alligem a realidade cotidiana das escolas. Portanto, cabe ao gestor escolar, envolver procedimentos que contemplem em direcao a construcao do PPP, buscando democraticamente desenvolver um trabalho coletivo que se volte para as questdes sociais. Algumas estratégias sao indicadas para envolver a comunidade escolar na discussio dos rumos da escola, favorecendo assim, ambientes de diélogo colaborativo com participagao efetiva da comunidade: A criagao de féruns de debate na escola considerando os critérios de igualdade de acesso ao debate, transparéncia durante o processo e clareza das regras, possibilita a ampliacao da participacao dos representantes dos diferentes segmentos da escola nas decisdes/acdes administrativo-pedagégicas ali desenvolvidas. A criacao e o fortalecimento do conselho escolar e da gestao da escola & outro quesito fundamental para o funcionamento ¢ organizagao de cada unidade piiblica de ensino. O conselho escolar da vox funcionarios administrativos, gestores, pais, moradores do entorno da escola e das organizacdes que jé existem na comunidade, deliberando sobre a construgdo ¢ a gestao de seu projeto politico- pedagégico. Dessa forma, 0 conselho escolar ¢ um instrumento eficaz e eficiente na busca da gestao democratica e instrumento de tomada de decisio. E importante também, reconhecer a importancia do auxilio da familia no projeto escolar e incentivar a participagao e 0 envolvimento da familia/comunidade nos projetos da instituicdo, tomando oportuna a transformagio da realidade escolar e 0 desenvolvimento da educacao para a cidadania Sabemos que a gest’o democratica participativa na escola esta diretamente relacionada com a qualidade da educacao, Na pratica, a construgao da democracia na escola é uma construgao coletiva, que presume mudanga na forma de conceber os objetivos e fins da educagao, as relacdes que se estabelecem no contexto escolar € a fungao da escola enquanto instituigao social. Portanto, a participagao de todos os envolvidos no proceso educacional é de fundamental importancia para que de fato a escola seja democratica, que colabore para a formagao integral do individuo, com uma visio global da realidade, na perspectiva da pluralidade cultural brasileira e voto aos diferentes atores da escola, estudantes, docentes, & 4 8 escola de gestores te Referencias bibliograficas AFONSO, A. J. Reforma do estado ¢ politicas educacionais: entre a crise do estado-nagio © a emergéncia da regulagio supranacional. Educ. Soc, Campinas, v2, n.75, 2001. Disponivel em: http://www-scielo.br BOBBIO, N; MATTEUCCI, N; PASQUINO, G. Dicionério de politica. Brasilia: Ed. da Universidade de Brasilia, 1986, BRASIL. Constituigao da Repiblica Federativa do Brasil. Brasilia. DF: Senado Federal: Centro Grafico, 1988, BRASIL, Estatuto da Crianca e do Adolescente. Lei n® 8.069/90, Brasilia, 1990. BRASIL. Lei de Diretrizes ¢ Bases da Educagao Nacional: n° 9394/6. Brasilia, DF: 1996, BRASIL. 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