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Titulo original: The Copernican Revolution (©1957 by the President and Fellows of Harvard College Publicado por acordo com a Harvard University Press “Traduglo de Maria Costa Fontes Reviso de Tradusfo de Artur Mor Revisto Tipogréfica de Artur Lopes Cardoto ‘Capa do Departamento Grifico das Edigfes 70 Depésito legal n.*40.752/90 Direitos reservados para todos os paises de lingua portuguesa or Edigdes 70, Lda, DIGOES W,LDA. — Av. Elias Garcia, 81 /e — 1000 L1sn04. ‘Teefs. 76 27 20/76 27 92/76 28 $4 Fax: 761736 ‘Telex: 64489 Texros P DELEGAGKONo NonTE: "DI¢DES 0, 1LDA. — Rua da Rasa, 173 — 4400 VILANOVA DE GAIA Telef. 3701912/3 DICOES 7, BRASIL. LTDA, Rua Sto Francisco Xavier, 24-4 (TUCA) 20550 RIO DEJANEIKO, RI “Tell. 2843942 ‘Telex: 40385 AMLIB Esta obra est protegida pela Lei. Nlo pode ser reprodurida, ‘no todo ou em parte, qualquer que sja 0 modo wilizado, incluindofotocépiae xerocdpia, sem preva autorizayo do Editor. ‘Qualquer transgressdo Let dos Diretos de Autor sera passive! de procedimento judicial Berges The (or Thomas S. Kuhn A REVOLUCAO COPERNICANA A Astronomia Planetaria no Desenvolvimento do Pensamento Ocidental edicdes 70 PREFACIO. A histéria da Revolugiio Copernicana jé foi contada_muitas vores mas nunca, que eu saiba, com o mesmo alcance e objectivos que aqui se apresentam. Embora 0 nome da Revolugdo seja singular, © acontecimento foi plural. O seu Amago foi uma transformagio de Astronomia Matematica, mas também inclui mudangas conceituais em Cosmologia, Fisica, Filosofia e até Religido, Estes aspectos ‘individuais da Revolucdo tém sido examinados repetidamente e, sem os estudos resultantes, este livro néo poderia ter sido escrito. A pluralidade da Revolucio transcende a competéncia do trabalho estudioso individual a partir das fontes primirias. Mas tanto os estudos especializados, como os trabalhos elementares bascados falham necessariamente uma das caracteristicas mais fascinantes ¢ essenciais da Revolugio. — uma caracteristica que advém da sua propria pluralidade. Devido & sua pluralidade, a Revolugiio Copernicana oferece uma oportunidade ideal para descobrir como, ¢ com que efeito, os conccites de campos muito diferentes se entrelagam numa tri linha de pensamento. O préprio Copérnico era um especialista, um astrénomo matemitico preocupado em corrigir as técnicas esotéricas das tabelas de calculos das posi¢des planctirias. Mas a orientagio da sua pesquisa foi muitas vezes determinada por desenvolvimentos ‘Bastante estranhos a astronomia. Entre estes estavam as mudan medievais das analises a meteoritos caidos, a renovagdo renascen- tista de uma antiga filosofia mistica que considerava 0 sol como a imagem de Deus, ¢ as viagens atlanticas que alargaram os horizontes tecrestres do homem renascentista. Aparecem mesmo filiag&es mais fortes entre campos distintos de pensamento, no perfodo a seguir & publicacéio do trabalho de Copérnico. Embora 0 seu De Revolutio- nnibus consista”prineipalmente em formulas matematicas, tabelas ¢ dliagramas, s6 poderia ser assimilado por homens capazes de criar uma nova fisica, uma nova concepcdo de espaco. ¢ uma nova sobre a relaciio do homem com Deus. Lacos criativos interdiscipli- nares como estes desempenham muitos ¢ va io de Copérnico. Explicagées especializadas sio pelo objective como pelo método de examinar a natureza destas TigagSes ¢ 05 seus efeitos sobre o aumento do conhecimento humano. No entanto. esta explicagio da Revoluciio Copernicana destina-se ‘a mostrar o significado da sua pluralidade ¢ essa questo é prova- velmente a novidade mais importante do livro. © desenvolvimento da questio tem, no entanto, necessitado de uma segunda inovagio. Este livro viola repetidamente limites institucionalizados que sepa- ram a auditncia da «citnciay da auditncia da «histérian e da «Filosofia». Ocasionalmente pode parecer que sto dois livros, um ocupando-se da ciéncia, 0 outro da histéria intelecttia. ‘A com da cigncia com a histéria intelectual, é. no entanto, essencial na abordagem da estrutura plural da Revolugio de Copér- ‘nico. A Revolucao centrou-se na astronomia. Nem a sua natureza, 6 seu ajustamento no tempo, nem as suas causas podem ser com- preendidas sem um bom entendimento dos pormenores ¢ conceitos que foram os instrumentos dos astrélogos planetérios. As observagdes astronémicas € as teorias formam assim a componente «cientificay cessencial que domina os meus dois primeiros capitulos e sio uma recorréncia na continuacio desta obra. Nao consituem, no entanto, a totalidade do livro. A astronomia planetéria nunca foi uma explicagdio totalmente independente com os seus préprios padrdes imutiveis de exactido, justa proporgiio e provas. Os astrénomos cram também formados noutras ciéncias e estavam ligados a varios “sistemas filosdficos e religiosos. Muitas das stias crengas nito astro- ‘némicas foram fundamentais, primeiro. no esbogar e. depois, no formular da Revolucdo Copernicana. Estas crencas nfo astronémi- cas constituem a minha componente de «historia intelectual», que, depois do segundo capitulo, emparelha com a cientifica. Dado 0 objectivo deste livro, ambas siio igukamente fundamentais, Além disso. nio estou muito convencido de que as duas compo- nentes sejam realmente distintas, Excepto em trabalhos ocasionais, a combinago da ciéncia com a histéria intelectual é rara. Inicialn pode até parecer incongruente. Mas néio existe incongruéncia intrin- 10 | seca. Os conccitos cientificos sio ideias.e, como tal, sio 0 _da histéria intelectual. Raramente t8m sido tratados desse modo. ‘mas apenas porque poucas historiadores tiveram a formagio técnica para Tides com materiais de fonte cientifica. Eu proprio estou convencido de que as técnicas desenvolvidas por historiadores de idcias podem produzir um tipo de compreensio que a ciéncia. de outra forma, no teria. Embora nenhum livro clementar possa documentar completamente essa tese, este deve fornecer pelo menos uma evidéncia preliminar. Decerto que ji fornecet algumas provas. O livro nasce de wma série de ligées dadas em cada ano desde 1949 num dos cursos de General Education na arca cientifica do Harvard College c. assim aplicada, a combinacio de materiais técnicos ¢ de histéria intelec- tual tem tido bastante sucesso. Como os estudantes deste curso de General Education nio tencionam continuar o estudo da ciéncia, os factos € teorias téenicas que aprenderam funcionam principalmente como paradigmas. mais do que como bits (unidade de informacio computadorizada). Além disso. embora os materiais técnicos cienti- _ficos sejam essenciais, raramente funcionam até que sejam colocados nessa estruttira, no entanto, 0 sistema de Copérnico ou qualquer gutra teoria cientifica tem relevancia ¢ interesse para uma audiéncia | muito ma do que. cientifi . Embora 0 meu Primeiro objective ao escrevé-lo fosse fornecer textos para o curso | de Harvard ¢ outros como ele, este livro. que néio é um compéndio. € também dirigido ao leitor em geral _ Muitos amigos e colegas através dos seus conselhos e criticas ajudaram a dara forma a este livro. mas nenhum deixou uma marca com a dimensio ¢ 0 significado da do embaixador James B. Conant. Trabalhar com cle persuadiu-me de que o estudo histérico poderia Produzir uma nova espécie de entendimento da estrutura ¢ fungio da pesquisa cientifica. Sem a minha propria Revolugo Copernicana que ele apadrinhou. nem este livro nem os meus outros ensaios da ria da citncia teriam sido eseritos. O senhor Conant também leu 0 manuscrito, e os seus primeiros capitulos mostram muitos sinais das suas eriticas produtivas. Outros que reconhecerio aqui ¢ além os efeitos das suas sugestées titeis so Marie Boas. I. B. Cohen, M. P. Gilmore. Roger Hahn: G. J. Holton. E. C. Kemble, P, E. LeCorbeiller. L. K. Nash ¢ F. G. Watson. Cada " um aplicou talento critico a pelo menos um capitulo: varios leram 0 manuscrito todo na sua versio iniciat: ¢ todos me salvaram de cometer erros ¢ ambiguidades. Os conselhos de Mason Hammond ¢ de Mortimer Chambers deram as minhas traducdes ocasionais de Jatim uma seguranca que nao possuiriam de outra maneira. Arnolfo Ferruolo deu-me a conhecet 0 De Sole de Ficino ¢ mostrou-me que a atitude de Copérnico para com o Sol é uma parte integral da tradigfo renascentista, ainda mais Sbvia nas artes e na literatura do que na ciéncia. As ilustragdes demonstram a perici mas dificilmente a paciéneia com que Miss Polly Horan traduziu ¢ retraduziu as minhas vagas orientagées em simbolos comunicativos. J. D. Elder e 0 pessoal da Harvard University Press deram-me uma orientagdo simpitica € constante na transmutagao ardua de um manuscrito para a tipogra- fia, que no esté conforme nem com as regras de publicagdes, cicntificas nem histéricas. O indice atesta o trabalho e a inteligéncia de W. J. Charles. A generosidade conjunta da Harvard University ¢ da John Simon Guggenheim Memorial Foundation facilitaram os anos de auséneia durante os quais a maior parte do meu manuscrito foi preparado inicialmente. Também estou grato A University of California por uma pequeno subsidio na preparagio final do manuscrito ¢ por {8-10 imprimido, A minha mulher foi uma participante activa ao longo do desen- volvimento do livro, mas a participagio é a menor das suas contribuigées. Fithos intetigentes. especialmente os dos outros, sto os membros mais turbulentos de qualquer ambiente familiar. Sem a sua tolerfincia ¢ pacigncia este nunca teria sobrevivido. Tos Berkeley. Cali Novembro 1956 nia INTRODUGAO Na Europa a ocidente da Cortina de Ferro, ainda prevalece a educagio tradicionalmente literdria. Uma mulher ou homem culto é uma pessoa que adquiriu o dominio de varias linguas e reteve um conhecimento de arte ou literatura curopeias. Ao dizer conheci- mento no me refiro ao dominio escolar de antigos e modernos cldssicos ou a um juizo critico sensivel de estilo ou forma; estou antes a pensar num conhecimento que pode ser prontamente abor- dado numa conversa, numa reuniao social. Uma educagdo baseada ‘numa tradigéo literdria cuidadosamente cireunscrita tem varias van- tagens Sbvias: a distinggo entre os cinco a dez por cento da popula. Go que é educada assim © os outros torna-se evidente quase Auto- ‘maticamente quando senhoras ¢ cavalheiros conversam. Para aqueles que realmente apreciam a arte, a literatura e a misica, existe um confortivel sentido de solidariedade, Para os outros que se sintam compelidos a entrar numa discussio nao € necessdrio muito esforgo Para manter fresca uma quantidade de conhecimentos dolorosa- mente adquiridos na escola. O prego de admissao na tradigao cultu- ral de uma nagdo europeia € pago uma tinica vez quando se é Jovem. Teoricamente, este prego sao oito ou nove anos de trabalho duro em escolas especiais, cujos curriculos se centram nas linguas ¢ |iteraturas grega ¢ romana. Digo teoricamente, uma vez que, na pratica, © estudo de linguas modernas, nestes século, tem feito incursdes no est. do do grego ¢ algumas vezes também no conhecimento do latim, Mas ‘nem estas mudangas alteraram fundamentalmente a ideia bassica de que 4 educago desses poucos é a consequéncia de longos anos de traba- Iho devotado ao estudo das linguas e da literatura da Europa, 13 como porque é que estudiosos — brilhantes, devotados e completa- mente sinceros — da natureza teriam levado tanto tempo para aceitar a disposigio heliocéntrica dos planetas. Este livro niio é um superficial do trabalho de cientistas; & antes uma longa a fase do trabalho cientifico. onde o Ieitor cuidado- samente pode aprender a curiosa interligagio entre a hipdtese ¢ a cexperiéncia (ou observagiio astronémica) que é a esséncia da cigncia moderna, mas largamente ignorada pelos nao cientistas. No entanto, no € a minha inteng&o neste prefacio apresentar, sob a forma de capsula, um resumo das ligées sobre o entendimento da citncia que devem retirar-se da leitura do que o professor Kuhn escreveut. Ao contrério, desejo registar a minha convicgaio de que a abordagem da ciéncia apresentada neste livro é a aproximacio necessiria para que a tradigtio cientifica tome 0 seu lugar, a0 mesmo nivel da tradicfo literdria, na cultura dos Estados Unidos. A citncia tem sido um empreendimento cheio de enganos ¢ erros assim como de triunfos brilhantes: a cigncia tem sido uma tarefa levada a cabo por seres humanos muito faliveis ¢ varias veves altamente emocionais; a citncia nio é seniio uma fase de actividades criativas do mundo Ocidental que nos deu arte, literatura ¢ misica. As mudancas dos pontos de vista dos homens sobre a estrutura do universo retratado nas paginas seguintes, afectam de alguma maneira as perspectivas de todas as pessoas instruidas dos nossos dias: 0 assunto em questo €, 86 por si, de grande significado. Mas além da importincia desta revolugo astronémica particular. 0 modo como ‘© professor Kuhn tratou este assunto merece atengio porque, a no ser que esteja muito enganado, ele aponta o caminho que deve ser seguido para que a ciéncia passe a fazer parte da cultura dos nossos tempos. James B. Conant \ Capitulo 1 O ANTIGO UNIVERSO DE DUAS ESFERAS Copémico eo A Revoluglio Copernicana foi_uma revolucto de ideias, uma_ transformacio do conceito que o homem tinha do universo ¢ da sua | . Mais uma ver se pensou que este cpis6dio” “da histérin do Renascimento proclamara uma viragem na época no desenvolvimento intelect x No entanto, ‘Tevoluciio baseava-se nas minticias mais obscuras ¢ rec6nditas da pesquisa astronémica. Como pode ter tido tal importincia? O que significa a frase «Revolugio Copernicanay? Em 1543, Nicolau Copérnico propds-se aumentar a exactidfio ca simplicidade da teoria astronémica transferindo para o Sol muitas fungées astronémicas anteriormente atribuidas & Terra. Antes da sua Proposta, a Terra fora o centro fixo sobre 0 qual os astrénomos calculavam os movimentos das estrelas ¢ dos planetas. Um século mais tarde, 0 Sol tinha, pelo menos na astronomia, substituido a Terra como centro dos movimentos planetirios, ea Terra perdera a sua posigio astronémica tinica, passando a ser um dos muit planetas méveis. Muitas das principais descobertas da astronom moderna dependem desta transposigzio. Uma reforma nos conceitos fundamentais da astronomia é, portanto, 0 primeiro propésito da Revolucio de Copérnico. 19 A reforma astronémica nfo é. no entanto, a tinica finalidade da Revolugo. Outras alteragGes radicais no entendimento do homem sobre a natureza se scguiram & publicacio do De Revolutionibus de Copérnico, em 1543. Muitas destas inovacdes. que culminaram séctilo ¢ meio mais tarde com a concepeio de Newton sobre o universo, cram resultados nfo previstos da teoria astronémica de Copérnico. Copémnico sugeriu o movimento da Terra com a inten¢éio de melhorar as técnicas usadas para predizer as posi¢des astronémi- cas dos corpos cclestes. Para as outras ciéncias, a sua sugestio Ievantou simplesmente novos problemas e, até estarem resolvidos. 0 conceito dos astrénomos sobre 0 universo era incompativel com 0 dos outros cicntistas. Durante 0 século devassete. a reconcilingao destes outros cientistas com a astronomia de Copérnico foi um motivo importante para a fermentagio intelectual agora conhecida como revolugiio cientifiea. Ao longo da revolugdo cientifica. a cincia ganhou um novo papel importante que. deste entiio. tem desempenhado no desenvolvimento da sociedade ¢ pensamento ocidental. Mesmo as suas consequéncias para a ciéncia no empobrecem os prépositos da Revolucio. Copérnico viveu ¢ trabalhou durante um periodo cm que as mudangas ripidas na vida politica, econémica ¢ intelectual preparavam as bases da moderna civilizacdo europeia € americana. A sua teoria planetiria e a sua concepeio associada de um universo_centrado no Sol foram os agentes da transigho da Sociedade_ocidental_medieval_para afectar 1 relagiio do homem com o universo ¢ com Deus. Iniciada ‘como uma revisiio pouco técnica ¢ altamente matematica da astro- nomia clissica, a teoria de Copérnico tornou-se um foco das tremen- das controvérsia 0. Filosofia e teoria social. que, durante 08 dois sécutos seguintes a descoberta da América. determinaram o tcor do espirito moderno. Homens que acreditavam que o seu local terrestre era 86 um planeta que circulava ceeamente por entre uma infinidade de estrelas avaliavam esse local no esquema césmico dum modo muito diferente do dos seus predecessores, que viam a Terra como um centro iinico eriado por Deus. A Revoluco Copernicana foi. por isso. também parte de uma transigzo na ‘homer ocidentat.— SS Este livro €a historia da Revolugio Copernicana em todos estes tres significados pouco separiveis — astronémico. cientifico ¢ filosé- fico. A Revolucio como um episédio no desenvolvimento da astro- nomia planetairia sera. necessariamente. o nosso teria mais desenvol- 20 “moderna. porque pareciam ccala de valores do vido. Durante os dois primeiros capitulos, conforme descobrimos 0 que se pode ver a olho nu no céu ¢ como os astrénomos reagiram Primeiro ao que af viram, a astronomia e os astrénomos serio Praticamente a nossa tinica preocupacio. Mas uma ver. que tenha- mos examinado as principais teorias astronémicas desenvolvidas no mundo antigo, a nossa atengo mudara. Ao analisarmos a forca da antiga tradigiio astronémica ¢ ao explorarmos as necessidades de uma quebra radical com essa tradigZo, iremos descobrir gradual- mente como é dificil restringir o alcance de um conceito cientifico estabelecido a uma ciéncia tinica ou mesmo as citncias como um grupo. Por isso, nos capitulos trés ¢ quatro, estaremos menos Preocupados com a astronomia em si do que com o meio intelectual ¢, mais superficialmente, social e cconémico dentro do qual a astronomia era praticada. Estes capitulos tratarfo. primariamente. as implicagdes extra-astronémicas — para a ciéncia, a religiio ea vida do dia-a-dia — num importante esquema conceitual astronémico. Mostrarfio como_uma_mudanca_nas_concepeées_da_astronomia matemética pode ter consequéncias revolucionirias. Finalmente, nos ‘ivés iltimos capitulos, quando voltarmos ao trabalho de Copérnico, & sua recepeio e a sua contribuicio para um novo conceito cientifico do universo, lidaremos com todos este tépicos ao mesmo tempo. Sé a batalha que estabeleceu 0 conceito da terra planetiria como uma premissa do pensamento ocidental pode representar adequadamente o significado completo da Revolufio Copernicana no espirito moderno. Devido aos seus resultados técnicos ¢ histéricos. a Revoluciio de Copérnico esté entre os episédios mais fascinantes de toda a histéria da cigncia, Mas tem um significado adicional que transcende a sua matéria especifica: ilustra um processo que. actualmente, precisamos muito de compreender. A civilizacio ocidental contemporinea é mais dependente, tanto no que se refere & filosofia do dia-a-dia como” ‘20 po_que comemos. de conceitos cientificos do_que_qualquer ilizagiio passada. Mas & pouco provavel que as teorias cientificas {que tém tanta importincia na nossa vida didi sejam definitivas. O ‘desenvolvimento do conceito astronémico de um universo no qual as estrelas, incluindo 0 nosso Sol. esto espalhadas aqui ¢ além ao longo dum espaco infinito, tem menos de quatro séculos de idade. jf est4 desactualizado, Antes de esse conceito ser desenvolvido por ‘Copérnico ¢ pelos seus sucessores, outras nogdes acerca da estrutura do universo foram usadas para explicar os fenémenos que o omem observava no céu. Estas teorias astronémicas antigas diferiam radi- 2 calmente das que defendemos koje mas. no seu tempo. muitas delas reecheram 0 mesmo crédito que hoje damos as nossas. Além disso. acreditava-se nelas pelas mesmas razdes: forneciam respostas plausiveis para questdes que pareciam importantes. Outras cigncias oferecem exemplos paralelos de transitoricdade de erencas cientificas. Real- ‘mente. os conceitos basicos de astronomia tém sido mais estaveis do ute muitos outros. -A_mutabilidade_dos_scus_conceitos_fundamentais_niio_é_um_ argumento para rejeitar a citneia. Cada nova teoria cientifica con- “serva o fimago do conhecimento fornecido pelas suas predecessoras ¢ | acrescenta-o. A ciéneia pro} tcorias antigas por || novas, Mas uma época como inada pela citnein, rnecessita de uma perspectiva a partir da qual possa examinar as crengas cientificas que levaram tanto tempo a ser confirmadas. ¢ a histéria fornece uma fonte importante de tal perspectiva. Se puder- mos descobrir as origens de algum conceito anterior, teremos mais capacidade de avaliar inteligentemente as suas hipéteses de sobrevi- -vencia. Este livro trata principalmente de conccitos astronémicos. mas estes sfio muito parecidos com os que sio empregues em muitas outras citncias ¢, ao obscrvarmos 0 seu desenvolvimento. Podemos aprender algo sobre as teorias cientificas em geral. Por ‘exemplo: O que é uma teoria cientifica? Em que deve basear-sc para merecer 0 nosso respeito? Qual é a sua funcio, a sua utilidade? Qual € 0 seu poder de permanéncia? As andlises histéricas podem nio Fesponder a questées como estas. mas servem para as ilustrar ¢ ar-thes significado. Porque a teoria de Copérnico €, em muitos aspectos, uma teoria cientifica tipica, a sua histéria pode ilustrar alguns dos processos, pelos quais os conceitos cientificos desenvolvem e substituem os seus predecessores. Nas suas consequéncias extracientificas, no entanto. a teorin de Copérnico nao é tipica: poucas s cientificas tem lesempenhado um papel tio grande no pensamiento nfo cientifico. Mas também nio é tinica. No século XIX, a teorin da evolucio de Darwin levantou semelhantes questées extracientifieas. No nosso proprio século. a teoria da relatividade de © as teorias Psicanaliticas de Freud proporcionam pontos de controvérsia dos quais podem surgir reorientagdes muito mais radicais no pensamen- to ocidental. O préprio Freud salientou os efeitos paralelos da descoberta de Copérnico de que a Terra cra meramente um planeta © sua propria descoberta de que 0 inconsciente controlava muito do comportamento humano. Tenhamos ou no aprendido as stias 2 somos_os herdciros intelectuais de homens como Copérnico. in. Os nossos processos fundamentais de pensamento foram lados_por-eles. assim como o pensamento dos nossos filhos ‘ou netos teri sido reformulado por Einstein ¢ Freud. Precisamos de mais do que um entendimento do desenvolvimento interno da ciéncia. Devemos também compreender como a um cientista. a um problema “Tnsignificante- pode, em dada O Céu nas Cosmologias Primitivas A maior parte deste livro tratard das observagées ¢ tcorias ¢ do impacte destas sobre o pensamento cosmolégico antigo ¢ moderno, isto é, sobre o conjunto de concepedes do homem quanto & estrutura do universo. Actualmente, consideramos como um dado que a astronomia afecta a cosmologia. Se qucremos saber a forma do universo. ¢ a posi¢&o que a Terra nele ocupa, ow a relagiio da Terra com 0 Sol ¢ do Sol com as estrelas. consultamos o astrénomo on talver o fisico. Eles fizeram muitas observacées pormenorizadas do céu ¢ da Terra; os seus conhecimentos do universo sio garantidos Pela exactidio com que predizem 0 scu comportamento, A nossa concepcio do dia-a-dia sobre 0 universo. a nossa cosmologia Popular € um produto das suas pesquisas conscienciosas, Mas esta associagio estreita da astronomia ¢ da cosmologia ¢ tanto tempori como geogrifica, Todas as civilizagdes ¢ culturas de que temos conhecimento tém tido uma resposta para a questiio: «Qual é a estrutura do universo?» Mas 6 as civilizagdes ocidentais que des- cendem da Grécia helénica prestaram mais atengio ao aspecto do eéu para descobrir essa resposta. O impulso de construir cosmolo- gias € muito mais antigo ¢ primitivo do que a necessidade de fa7er observagdes sistematieas do céu. Além disso. a forma primitiva do impulso cosmolégico € particularmente informativa porque esclarcce tacos obscuros das cosmologias mais técnicas ¢ abstractas que hoje cm dia sio familiares. Embora as concepcdes primitivas do universo disponham de variagdes considerdveis, sio todas configuradas primariamente por acontecimentos terrestres. acontecimentos que chocam quase ime- diatamente com os inventores dos sistemas. Em tais cosmologias, 0 eéu € esbocado simplesmente para fornecer uma moldura para a Terra. € esté povoado de figuras miticas cujo nivel na hierarq 2B

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