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yet Mh, B42 HO EDITORA QUARTIER LATIN DO BRASIL. L 7694 ear eerar nie ee (3 U 0b i DES eee Coordenagio editorial: Vinicius Vieira Diagramasio: Paula Passareli Revisio gramatical: José Ubiratan Ferraz Bueno, ‘André Ricardo Gomes de Jesus ¢ Juliana Hass Capa: Miro Tssamu Sawada MIRANDA, Jorge; SILVA, Marco Antonio Marques da (coordenagio). Tratado Luso-Brasileiro da Dignidade Humana ~ Sio Paulo : Quartier Latin, 2008. ISBN 85-7674-348-5 1. Direitos Fundamentais. , Dignidade da Pessoa Humana I. Titulo Indices para catélogo sistemitico: 1. Brasil: Dieitos Fundamentais ‘TODOSOSDIREITOS RESERVADOS. Piss sepia ou pail porque meio proce, pine: posses ros icles forgo, _eprrios, floors vider Veda a memoviaio elouaecupersio total opus bm como ncduso de uquer pre desta br em qualquer stead present de dado, ln probit pias trbém carrito rf dabrae sete. Anse dos dit ato ¢puneomo crime (at. 14 prigalsdo Cigo Pena), com pena de pris emt, busca spreensocindenzaes vera (ars 101 110d ei 9 610, de 19.2 198, Lei dos Diets Autor). DiREITOS FUNDAMENTAIS E MEIO AMBIENTE ‘SUMARIO: 1. © paradigma constitucional. 2. Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilbrado. 3. A crescente complexidade das questdes ambientais ¢ a necessiria ‘wansverslidade. 4 A incvitabilidade da polucio eda degradagio ambientas, a ireparabilidade eirreversbil o dano ambiental e a relevancia das fungbes preventiva e promocional do Direit. 5. A énfase & lucratividade como estratégia para estimulo&protegao ambiental. A trbutasao ambiental eo instrumentos econdmicos sua Jmportancia na tutela preventiva do meio ambiente. 6. Considerages finas, Referéncias bibliogificas. Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida [SJ Desembargadora Federal ~ TRF 34 Regido (SP/MS) Professora Doutora de Direito Ambiental da PUC/SP Diretora Academica do Departamento de Direito Ambiental da Escola de Magistradas da Justica Federal da 3' Regio 11930 - Digeras FuNDAMENTASE MEIC AMBIENTE 1. O PARADIGMA CONSTITUCIONAL A Constituigdo Federal de 88, batizada com 0 cognome de “Cidada’”, foi prédiga no reconhecimento de direitos e garantias fundamentais, nao apenas individuais, mas coletivas, definindo de forma bem clara, desde o seu preambulo, a vocacéo do Estado Federal Brasileiro: um Estado Democritico de Direito e um Estado do Bem Estar Social, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais ¢ individuais, a liberdade, a seguranra, 0 bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a ustiza como valores supremos de uma sociedade frater- na, pluralista e sem preconceites. Neste diapasio, a cidadania, a dignidade da pessoa humana! e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa aparecem logo no artigo inaugural, como fundamentos do Estado Brasileiro, sendo-the atribuido, coerentemente, os altos e desafiantes designios de construir uma sociedade livre, justa e solidé- ria, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalizacio, reduzir as desigualda- des sociais ¢ regionais, e promover o bem de todos, sem qualquer discriminagi Reafirmando, em diferentes oportunidades e sob diferentes matizes, o principio nuclear da isonomia, a Carta Federal cuida de assegura, logo a seguir, nos arts. 5°, 6° ¢ 7, a todos os brasileiros e estrangeiros aqui residentes, a gama variada de direitos e garantias fundamentais, individuais e coletivas (lato sensu), j4 consagrados em documentos ¢ cartas intemacionais, cujo rol vem sendo sucessivamente acrescido com o surgimento de novos direitos, quer pela ampliacio dos bens objetos de tutela juridica (satide, educagio, trabalho, moradia, lazer, meio ambiente, comunicagio, patriménio genético, entre outros), quer pela ampliacao, diversificagao e especificagio dos titulares desses mesmos direitos (mulheres, criancas, deficientes, idosos, entre outros)’, A ordem social mereceu um titulo especial, assim como a ordem econémica ¢ financcira, ¢ entre seus objetivos sio reiterados alguns dos principios fundamentais do Estado Social brasileiro: garantir o bem- estar ¢ a justica sociais (art. 193 e seguintes). Dignos de clogios sio, entre outros, os capitulos referentes & seguridade social (abrangendo as Areas da satide, previdéncia ¢ assisténcia sociais), 4 educacio, 4 cultura, a ‘comunicasao social ¢ ao meio ambiente. A atual ordem constitucional nao sc limitou a reconhecer os direitos fundamentais individuais ¢ cole- tivos de forma ampla, foi além, preocupando-se em protegé-los contra alteragBes ¢ supressdes, e em dar- thes maior garantia ¢ efetividade: elevou-os & condigéo de cléusulas pétreas (art. 60, § 4°), atribuiu cficdcia imediata as normas definidoras de direitos ¢ garantias fundamentais (art. 5° § 1°). Esta ultima providéncia tem uma importéncia impar, na medida em que todas essas normas, quer definam direitos ¢ garantias fundamentais individuais, quer coletivas, deixam de se revestir de cardter ‘meramente programitico, e, sempre que possivel, passam a ser consideradas normas de eficécia ime plena ou contida. 1 “A dignidade humana nao pode ser reduzida 3 condicSo de puro conceto® (COMPARATO, Fébio Konder. A afimacao histérica dos direitos humanos. 3* ed, Sio Paulo: Sariva, 2003 p. 226). O respeito 3 dignidade humana, ..€ patrimdnio de suprema valiae faz parte, tanto ou mais que algum outro, do acervo istrico, moral jurdico e cultural de um povo" (MELLO, Celso Antonio Bandera de, Disricionatiedade Adminisraiva e Contole Judicial. Revita de Dito Pbico,Sio Paulo, n. 32, p. 18, novidez. 1974. p. 20) “A dignidade pressupte 2 autonomia vial da pessoa, a sua aviodeterminacio relatvamente ao Esado, as demas entidades pablias € s outras pessoas" (MIRANDA, Jorge. Manual de Direio Consttucional, tomo IV, p. 168/168), “A dignidade da pessoa humana € © reconhecimento consitucional dos limites da esfera de intervencto do Estado na vida do cidadio e por esta raz40 nos direilos fundamentals, no Ambit do poder de punir do Estado" (SILVA, Marco Antonio Marques da, Dignidade da Pessoa e a Declaraci0 Universal dos Direitos Humanos. Revista da Academia Pausia de Magstrados, Sto Paulo, p. 137-141, 01 jan. 2000; Revista Dignidade do Programa de P6s Graduagto em Direo da Unimes, io Paul - SP, v,1, nn 1, pe 147-154, 2002) “tela, a cigidade, ‘© primero fundamento de todo o sistema consttucional posto e o imo arcabouco da guarida dos direitos individu. Dignidade € um conceito que foi elaborado no decorrer da historia e chega 20 inicio do século XX! repleta de si mesma como valor supremo, construido pela razio jurica. A dignidade nasce com a pessoa. € Ihe inal Inerene 8 sua essncia..Eiste vida sem dignidadet (NUNES, Rizzatio. O Principio Constitucional da Dignidade ds Pessoa Humana. Sto Paulo: Saraiva, 2002, p. 49 ¢ 52) 2 Gat. 1% inciso I, ev. GF, an. 38 incisos. 4 BOBBIO considera também a atrbuicio de dteitos a sujeios dversos do hamem, como os animals, ouvo {aior de prolferagto dos direitos undamentas (A Era dos Direits, 9 ed, Rio de Janel, Campus, 1992, p. 68). ‘Consusto Yarsua Moromizaro Yostion - 1131 Observa-se, ademas, que em virias oportunidades, a atribuigao do direito fundamental vem acompanhada do cosrelato dever do Estado, deixando o diploma constitucional de forma expressa e bem clara a obrigatorieda- de da intervensao estatal na definisao, promogao e implementacio das politicas publicas nas areas respectivas (econémica, social e cultural). A participasio da coletividade, de forma direta, e nao apenas indireta, na gestio dos bens ¢ interesses que lhes slo afetos, € outra importante novidade ¢ avango constitucional. 2. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. Estreitamente relacionado a dignidade da pessoa humana, fundamento do nosso Estado Democritico de Direito, ¢ 0 direito 20 meio ambiente ecologicamente equilibrado, de cuja efetividade dependera a sadia qualidade de vida de todos nés. Com efeito, a protesio do meio ambiente nao é um fim em si mesmo, mas se volta para um objetivo ‘muito mais amplo e complexo, que ¢ o de assegurar qualidade de vida, com desenvolvimento econdmico- social, para as presentes e futuras geracées. E muito elogiado o art. 225 da Constituisdo brasileira, que adota as concepcdes mais avancadas em termos de tutela ambiental, e que, no entanto, nao tem se revelado muito eficaz, na pritica. O direito 20 meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental na medida em que é-voltado a assegurar a vida e a dignidade da pessoa humana, preservando a saiide, a seguranca, 0 S0ssego, 0 bem-estar da coletividade, e outros valores, sem os quais nio se pode falar em vida humana digna. Dai identificar-se no reconhecimento desse direito fundamental também um fator de “transformagio social”, tendo em vista que na licio de Fabio Konder Comparato a construcio de um verdadeiro Estado Democritico de Direito nao se pode dar sem o respeito aos atributos essenciais da pessoa humana. Sendo um direito fundamental, o direito 20 meio ambiente equilibrado, assezurado a todos pela Cons- tituigio, € inaliendvel, imprescritivel e irrenuncidvel 3. A CRESCENTE COMPLEXIDADE DAS QUESTOES AMBIENTAIS E A NECESSARIA TRANSVERSALIDADE® No entanto a degradaclo e a poluigéo ambientais vim ganhando dimensSes preocupantes ¢ alarmantes, ¢ tornam-se fenémenos cada vez mais diversficados, complewos e de dificil entrentamento. O que se tem atualmente é uma verdadeira orquestrasio de ataques simuleineos ¢ em larga escala 3 natureza (poluigio atmosférica, poluigio hidrica, poluicio do solo, desmaramentos, perda da biodiversidade, caga e pesca predatérias), que, por sua vez, reage ¢ contra ataca com violéncia. Basta se arentar para as frequentes catistrofes climéticas (inundagdes, secas, verdes ¢ invernos muito Figorosas, incremento do efeito estufa) nas mais diferentes regides do planeta. E 0 grau de complexidade das quest6es ambientais pode ser melhor dimensionado quando se atenta para o fato de que sio aspects conjunturais ¢ estruturais que deram origem e contribuem para o agrava- mento da degradagio ambiental, quais sejam, a explosio demogrifica; a industrializagio; a urbanizayio acelerada ¢ desordenada; a economia capitalistaaliceryada na privatizagio das Iucros ¢ na socializagio dos Prejuzos; o problema social da pobreza e de sua urbanizayo; a megulopolizayao crescente, notadamente nos paises pobres e superpopulosos*. i. nossa teye de doutor egrafaglo ambiental, PUCISH, 2001 1132+ Diert0s FUNDANENTAS ENO ANBIENTE go através da industializasio vio atender maior demands e consume decoren, oa caine nm lado, pela utilizagio em larga escala de recursos naturais, como maténia-peima € ‘Outros insumos, inclusive para z : 5 amento dos recursos nao renovéveis € com a capaci a geragio de enerpia;e sem a preocupasdo com 0 esgo ein a tiede mitada de regenerigo dos recurs enories: Deouto ado pelo ee en como pela maior durabilidade, toxicdade e periculosidade, notadamente dos residuos sintéticos, Destas breves consideraées pode-se infeir que continua sendo um grande desafio, na ordem econdmica capitalists, a implementasio do principio do desenvolvimento sustentve, o grande mote do ambientalismo, tendo em vista 2 dificil conciago entre desenvolvimento econdmico-social e protecio do meio ambiente. Exempla imaisilustrativo €a resisténca dos Estados Unidos em assinar 0 Protocolo de Quioto, retardando sua entrada em ‘igoro que foi poste somenteem 16 defeveriro de 2005, com aratifcagao pela Rissa, que também resisty sgyandemente & assinatura. A adesio ao Protocolo importa para os paises desenvolvidos dele signatarios restrigdes 4 produgio industrial para fins de estabilizasao das emissbes dos gases do efeito estufa. Por isso mesmo, hoje tem-se a correta percep¢4o de que as questoes ambientais estdo intrincadas com as quests econémicase sovais, ¢ que a eftividade da proto ambiental depende do tratamento globalizado ¢ conjunto de todas elas. Nesta linha de entendimento, € digna de encdmios a visio holistica e adaptada a realidade brasileira preconizada pela Politica Nacional de Educacio Ambiental, institufda pela Lei n° 9.795/99, ao definir como um dos objetivos fndamentais da educaco ambiental o desenvolvimento de uma compreenséo inte- grada do meio ambiente em suas miliplasecomplexasrelajes, envolvendo aspects ecolégices,pscoldgicos, legais, politicos, socais, econémicos,cienifcos,culturaiseétco# Referida Politica nao ignora, ademais, as peculiaridades da realidade brasileira ao estabelecer também centre seus principios a abordagem articulada das questées ambientaisloais, regionais, nacionais e globais, 0 reconbecimento eo respeito a prioridade ea diversidade individual e cultural (act. 4°, VI). E coerentemente propugna, como um dos objetives fundamentais da educagio ambiental, o estimulo @ ‘ooperasio entre as diversas regites do pais, em néveis micro e macrorregionais com vistas & construgao de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos principios da liberdade, igualdade, solidariedade, democra- ia, justia social, esponsabilidade e sustentabilidade (art.5°, V). E também expressamente prevista a obrigatoriedade de o Poder Piblico, nos termos dos arts. 205 e 225 a Constituigio Federal, definir politicas publicas que incorporem a dimensdo ambientaP. A propésito, ¢em sintonia com esta imposicao legal, o Ministério do Meio Ambiente, de forma elogisvel, insere a transveralidade como uma das quatro diretrizes que definem suas ages. Como discursou a entio ‘Ministra Marina Silva na abertura da Conferéncia Nacional do Meio Ambiente, gueremos que (a consiéncia ambiental) seja compreendida pela socedade brasileira e situada nas asées de govern: néo coma a preocupasio exclusiva de um setor, um Ministério, mas como um componente de todos os setores. A politica ambiental do governo deve estar na Ministerio des Transportes, da Agricultura, de Minas e Energia, em todas as asées de todos os stores. Desa forma, poderemos plansjar a infracstrutura pensando desde o principio nas quetéesscioambientais eno mais somente quand, uma vex 0 projeta pronto, o Governo tiver de submeté-lo ao proceso de lcenciamento ambiental. Aliés, a dimensao ambiental deve ser incorporada no apenas nas politicas ¢ ages de governo, mas ‘também nas politicas e agbes da iniciativa privada e de todos os cidadios, e com a preocupacio de que © desenvolvimento sustentével seja implementado no sentido do desenvolvimento humano, expressio mais abrangente divulgada pela ONU nos iltimos anos e que contempla, adequadamente, quatro dimensoes complementares ¢ integrais: 1) pressupée que o crescimento econdmico, por ampliar a oferta de bens € = ee 7 teint 9.795/89, an. 8 bein 9.755959, an. 9 In Jusiga & Cidadania,edicdo 42, janeiro de 2004, p. 7/8, oo —_ ‘Consurto Yarsuoa Morommzaro Yosuina - 1133 cervigos & disposico da populasio, é uma condigdo necessiria, mas nao suficiente para o desenvolvimento Jnumano; 2) que este nao ocorre num contexto de exclusio social, pois tem de se processar em beneficio das pessoas; 3) que estas tém de ter acesso a informagdes, conhecimento ¢ bens culturais para a sua propria promogao; 4) que a forma de crescimento econdmico atual nao venha a comprometer a gama das oportu- Fidades das geragdes fururas, ou seja, 0 desenvolvimento humano pressupée a sua sustentabilidade”. ‘A Declaragio de Johannesburgo sobre Desenvolvimento Sustentavel (04/09/2002) reconhece que a Jumanidade etd em uma encruzilhada, e que deve ser feito um esforgaconcreta a fim de responder pasitivamente a necessidade de produzir um plano pritico e vistvel que deve gerar a erradicasaa da pobreza e 0 desenvolvimento Jumano (item 7). Reconhece, ainda, que a erradicagdo da pobreza, a mudansa des modelos de produsio consumo, e a protesdo e administragao da base de recursos naturais para o desenvalviments econamico e social sao abjetivos transversais de, e requisites essenciais para, o desenvakvimente sustentacel (item 11). ‘Merece mengio a visio equilibrada acerca do desenvolvimento sustentivel em face da realidade brasilei- ra, manifestada pela Ministra Marina Silva, naquela mesma oportunidade: Mei Ambiente nia é um entrave ao desenvolvimento, é a garantia de um desenvolvimento adequads. A floreta, o pantanal, os rics, mar, nada disso impede o Brasil de desenvolver energia, indistrias ou transportes, de gerar empregas e maradis, de distribuir renda e justica social. Ao contrério, a natureza é a fonte de todas essas riguezas. Sé prec z coisas de modo adequado, a tomar os cuidados necessdrios, a seguir as le ‘A mudanga de padrées de produgio e consumo ressaltada pela Declaracio de Johannesburgo é uma necessidade premente e pressupde a adocio, pelos empreendedores de Sixteraas de Gestaic Ambiental (SGA) ¢, principalmente, dos Programas propagados pela ONU sobre Pradusio Limpa (PL) ¢ Producto Mais Limpa (P + L)". Produtos e processos de produsic, com maior responsabilidade 3 novas estratégias competitivas utilizadas por empresas vencedoras para de negécios, com vantagens ¢ beneficios diretos e indiretos para o mei salutar pritica de auditoria ambiental periddica tende a ser disseminads, desvin da certificagio ambiental de onde se origina. E € exigéncia constitucional, entre nds, a elaboragio de Estuds Prévis ae Im: obter 0 licenciamento ambiental para a instalagio de obra ou atividade potencialm ficativa degradacio ambiental, de cuja relevancia tém que ser conscientizados os empreendedores do setor privado ¢ o setor piblico. A prevengo da poluicdo é a melhor alternativa, tanto do ponto de vista da maior efetividade da prote- ‘0 ambiental, como do ponto de vista do empreendedor, evirando que este, com sua atividade, cause danos ‘20 meio ambiente e venha a softer o concurso simultineo da triplice responsabilidade (vil, administrativa ¢ penal) em matéria ambiental! cular causadora de signi- 10 Paulo R, Haddad; © desenvolvimento humano, Kal da Tarde, 31 de agosto de 1998, p. 2 11 In usa & Cidadana cit p.7s 12, Insere-se dento desta perspectva o sistema de geréncia de qualidade € de plareiamento dincplinado pelas norms da Sere ISO 14000, que tem como objeto a obtencdo pela emprens da cestitcaido andvena! Certscats ce Cento Amdvental, 13 A ProdugaoLimpa (PL ea Producdo Nis Limp Pst) adam os princpos da preven 2 visio Pista € a preccypaydo com 2 economia de materas, gua e energia. A Preducio Limp contempla ene us elements tambem o Principio da Precaugdo € © pio do Cantiole Democratico. A Prodk30 Nis Lima tem coms mola meta a ndo-geragd0, rego ou reciclagem de residuos, reduzindo 0 despenicio de recurs natura energa € manera pM, 14 “Produgie e Teenoloyis Lina", in Bolcbm Pancnas Vance, Amo EX ~ ni 43 ~ mangos, 15 Redugdo de casos de proshgdo © aumento de eiiéncia e competi, reg das infages aos pads ambien previtos ra egislag do; diminuigdo dos aces de acdentes ambventass melRovia day candies de saude € de seguranca do trabalhador: tmelhovia ta imagem da empresa nts a consumidores, fomecedoves pase publica: ampliag3o das penpectivas de mercado interna ¢ extemo: aces falitado a has de finaniamntss me welaionaments cam os dxgdos ambient, com a mia e com 4 comunidade CProdugdo mais Limpa", Dingell Maketle de Olivera 16 Env nosso sistema jr, @ pol, pea fica 6 jnalica AMke ser obvigad a resuray, ecupeTar, compensar elu indenizar ‘mylamente ano eaaks a0 mis ambiente indorsed cul. sem prea da possibildade de repondet, ainda, pela pica de innagdes aninisatias e pena € cero que a chamada Let de Crimes Ambienas (Lent 8.605738) contempla Denti process penais pa 0 «380 de CMR AD prea de pa 30 do dana ambiental, extando js superada a poltmica Iniclal em toma da responsabiizac$o penal da pessoa jubea,plenamentevidvel eonsttuciona e lexalmente entre nbs. 1134 - Digrros FuNDAMENTASE MEIO AMBIENTE 4. A INEVITABILIDADE DA POLUIGAO E DA DEGRADAGAO AMBIENTAIS, A IRREPARABILIDADE FE IRREVERSIBILIDADE DO DANO AMBIENTAL E A RELEVANCIA DAS FUNCOES PREVENTIVA £ PROMOCIONAL DO DiREITO © cere das quest6es ambientas reside nos problemas de poluis4e poe daszo ambientais, que sio fenbmenosinevesneiy na medida em que toda atividade econémica e social é em maior ou menor gray, poluente. De fato, basta percorrer os olhos pelos diversos stores ds pea ; 2) no setor primério temos as atividades extrativas e de produgio de bens, que tantos impactos negat- cos causam ao meio ambient: a minerao (ovo, ulizaao de meres, ex) dssmiatamento€ qui- Taadas de Areas verdes preservadas ou nio; a atvidade agropecuiria (ntilizagdo indevida de agrotéxicos, horménios, antibidticos, ete); a pesca e a caga predatérias. 4 1) no setor secundétio sparecem as indstis de transformasao (Sderingicas, pewoquimicas, metaingica, smecinica,téxtilalimentciz)responséveis pela chamada poluigo industrial, uma das mais complexas ¢ graves, que provoca a poluigdo atmosférica, da 4gua e do solo, pela emissio de gases, firmaga, ruidos, langamento de resfduos sélidos, iquidos, etc. Basta lembrar que a polico atmosférica esti diretamente relacionada aos fendmenos preocu- antes da chuvafcida e do efeito estuf, ese titimo decomente da destruisao da camada de oz6nio. {0 no setor tercidrio, a diversas modalidades de prestagao de servigos também aparecem como poluen- tes: comércio (lixo, poluigao sonora, visual); transporte (poluicao atmosférica, derramamento de éleo), saneamento bésico (lancamento de esgoto sem tratamento, disposico indevida do lixo); satide (Lixo hospi- talar), turismo (degradacio dos ecossistemas), etc. Os danos provocados aos diferentes aspectos do meio ambiente (natural, cultural, artificial e do traba- tho) pela poluigao ¢ degradacio ambientais sio, muitas vezes, irrepardveis ou de dificil reparacio, colocan- do-se o problema da irreversibilidade da situago danosa. Disso decorre, como se vem destacando, que o fundamental é a prevengao ¢ a precaugao”, erigidos em principios fandamentais da protesio do meio ambiente. Nessa seara, mais do que nunca tem aplicabilida- de o adagio “mais vale prevenir que remediar”; ou o alerta do Forum de Direito Ambiental Internacional realizado em Siena, na Itilia, em 1990: O modelo “reaja e corrija” deverd ser complementar de uma abordagem “preveja e previna’, o que reforcard a seguranca nas questdes globais do meio ambiente. _Outra nao € a preocupacao da Constitui¢ao quando impée para o Poder Piiblico a j4 mencionada exigncia do Estudo Prévio de Impacto Ambiental “para instalagio de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradacao do meio ambiente”; o controle da produgao, comercializagio emprego de “técnicas, métodos e substincias que comporterisco para a vida, a qualidade de vida c o meio ambiente”; a promogio da “educaséo ambiental em todos os niveis de ensino e a conscientizacao publica para a preservasio do meio ambiente” (art. 225, § 1°, IV, V e VI, destaque n0ss0). 5. A ENFASE A LUCRATIVIDADE COMO ESTRATEGIA PARA O ESTIMULO A PROTECAO AMBIENTAL. A TRIBUTACAO AMBIENTAL E OS INSTRUMENTOS ECONOMICOS! SUA IMPORTANCIA NA TUTELA PREVENTIVA DO MEIO AMBIENTE’? eee sere € sociais no apenas causam poluigao e degradagio ambientais, mas por tadas ¢ prejudicadas. E o que esta autora denomina de “efeito bumerangue’” a 17 Aplcase 0 principe 5 Cole o Brno da pecans quando nie Bi prov eties do dano eu dn necesidade de adogso de meas de rte «corer esting compote fice pa is an Stn ean cee, lee be rota sb» vi, co 0 sane, isco de poluigio acidental ¢ ¢ interesses” (Gomes Canotilho). As medidas de A egll al — CConsurto YaTsupa MoRomizATo YosHion - 1135, {Uma industria, por exemplo, por orga de liminar, pode ser obrigada a reduzir sua produgao para diminuir semissio de poluentes;é preocupante a redugio sensivel dos cardumes dos peixes e crusticeos mais consu- ‘midos, em razio da pesca predatéria, como é o caso no Brasil, da sardinha e da lagosta. Se a poluigéo afeta e prejudica as atividades econdmico-sociais, ¢, portanto, a lucratividade, base da economia de mercado no mundo capitalsta, constitui estratégia fundamental para motivar a adesio dos empreendedores aos programas de proteso ambiental, mostrar-Ihes as vantagens econémicas do contro- Je da poluigéo e como é possivel tornar rentivel, economicamente, a preservagio ambiental. E virias sio as iniciativas nessa area, como destacado: a certficagao das empresas que atendem as exi- Jas das normas da Série ISO 14,000, sendo os empreendedores atraidos pelas vantagens que a ados0 do Sistema de Gestio Ambiental propicia a sua empresa, seus produtos e servigos, aos empregados e aos consumidores"; a concessio de incentivos tributdrios e financiamentos subsidiados para projetos que con- tribuam ou que sejam compativeis com a preservacio ambiental; estimulos ao turismo ecolégico, & pesca e caga esportvas, & adosao do selo verde, entre outros, Muitos sio os exemplos na érea da tributagdo ambiental, que se revela instrumento bastante eficiente no estimulo a tutela do meio ambiente porque, “meselando os sentidas impositivo (fiscal) eseletivo (extrafiscal) do principio ambiental do poluidor-pagador, a li tributdra tem condigdes de proceder a um dicrimen legitimo entre ipouideres e ndo-peluidoes, deforma a ‘premiar” estes titimes, que, satsfzendoo esprito consttucional, oientado ipara a promosdo do euillbrioeclégico (art. 225 da Constitugio),colaboram para a preservajdo ambiental. Ideal- mente, o diferencial de carga tributéria simbolizard o reconbecimentoestatal da relevincia ou irrlevincia ambiental das decisies pessoais, profisionais ou empresariais dos administrades enguanto contribuintes™ 6. CONSIDERAGOES FINAIS As politicas ambientais devem se valer mais incisivamente dos instrumentos uibutatios ¢ econdmico- financeiros, com o objetivo primordial de incentivar a observancia de seus principios e preceitos, € no Ambito da prevensao preferencialmente, Nao basta para a efetiva reversdo do preocupante quadro de de- gradagao ambiental em escala global, perfilhar a l6gica do principio poluidor-pagador, baseada na imposi- fo de pesados dnus a0 poluidor e ao degradador como forma de desestimulo. O éxito e a efetividade da protecio ambiental dependem da associagio de medidas de desestimulo a degra- dacao ambiental e de medidas de incentivo & prevengao, calcadas em atrativos econémico-financeiros. A emprei~ tada nio € ficil, existindo siscos de inversio dessa légica, diante da ampliacio dos custos da prevengio e da flexbilizarao e minimizasio dos custos da reparagio ¢ da repressio, desde a vigéncia da Lei n° 9,605/98. ‘dos bens ambientais «suas implicagbes", In: Tutela dos intereses dfusos © coetivos, 1* ed, 2° Juarez de Olivera, 2006; TORRES, Heleno Taveira. (Coord). Dito Tributirio Ambiental. Sto Paulo: Malheiros, 2005. p, 527-564. 19 Trabalho que ex sendo feo pela Confederag30 Nacional de Inds, orientando “as empresas em seus esfrcos de adaptag3o para © uso ‘acional dos recursos naturals, na preven;30 e no atamenio dos eventuas danos causados 20 meio ambiente pelasaividaces ind ‘4 sa, sempre buscando a melhoria continua. & a CNI ress, na apreseriagdo da recdicio da publicagio, 0 propbsto de “au Se1orprodutivo em seu esorgo de torarse mals compeitvo, mantendo e ampliando seus mercados, no pas eno exterior”. 20 José Marcos Domingues de Oliveira, Dito Tibutirio e Melo Ambiente, 2 ed, rex. amp, Rio de janeiro, Renovar, 1999, p. 45. “Embora incipient, a experéncia brasileira tem precedents dignos de nola,lembrados pelo autor, como aliquoas diferencias do Pl para cenosvelculos movidos a gasona (25 a 30%) e para vetculos movidos a éleol (20 25%), providéncia que originariamente {eve 0 objetivo de incentivar a produsio domestica de Alcool carbuante, mas velo a contibuir para a diminuiglo dos niveis de poluigdo atmoslérica, vansmudando-se em incentivo ao consumo de combusivels *limpos* (Decreto n® 755/93, revogado. V. Decreto2.092/%6 em vig; inicalmene, IencSo de ITR para a chamada reserva legal, ea onde 0 cone raso de drvores € poibido {Lei 5,068/72, an. 5%, revogado pea Ler 884714, por sua ver revogada quaseintegralmente (as, 1 a 2 e 25) pela Lei n? 9.393/ 196), aualmenteexclusdo, da fea tibutsvel, das Areas de presevag2o permanente de reserva legal previsas na Lent 4.77165 (Lei 1 9,393/96, an, 10, § 1%, I); a previsto, na leglslacao que insitulu a Poltica Nacional para a Agricultura, da tributagdo e dos Incentives ficals entre os insirumentos voltados 3 Implementacio de seus objtivos de protegdo do melo ambiente, promogao do ‘Uso racional e estmulo & recuperagdo ambiental (Lel r# 8171/91, a. 3%, Ile at 4, XIV, 1136 - Dirtrros FUNDAMENTASSE ME]O AMBIENTE Nio se pode ignorar os aspectos positivos e os aspectos negativos da utilizacio dos instrumento, t tiriose econémico-financeios, dai anecessidade de sealer deles de forma criteviosa. A efiiencn tal e a eficigncia econdmica figuram entre os crtérios exigidos desde a ECO 92. jen Embora a legislagio ambiental brasileira tenha um cunho marcantemente protetivo-repressivo, gg ser introduzidas cada vez mais técnicas de estilo (faiitagdo ou atribuisio de incentives), privteya 2 0 controle ativo, que se preocupa em fvoreer as agdesvantajosas mais do que desfvorcer se nocivas ao meio ambiente. Os estimulos ¢ incentivos tributdrios e econémicos em geral sio anteriores hi concomitantes degradagio ambiental, e, desse modo, sao menos onerosos que corrigi-la Posteriorment. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARAGAO, Maria Alexandra de Sousa. O principio do poluidor pagador: pedra angular da politica comunitiria do ambiente Coimbra: Coimbra Editora, 1997. (Studia Ivrdica, 23). COMPARATO, Fabio Konder. 4 affrmacio histrica dos direitos bumanos. 3. ed. rev. ¢ ampl. BOBBIO, Norberto, 4 era des diretes. Tradusio de Carlos Nelson Coutinho. 9. ed. 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