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Osequestro da Independéncia \ Lilia Moritz Schwarez forte © objetivo deste artigo é rever a "lenda dourada da Independéncia’, que toma o final pelo comeco: a saida conservadora e monérquica como se fosse um dado inevitavel. Néo era, e vale a pena estruturar as bases dessa interpretacao muito calcada na experiéncia do Sudeste ~ em especial Rio de Janeiro e Sao Paulo - e na elaboragio da tela de Pedro Américo, chamada Independéncia ou morte, que foi, na verdade, um presente de filho para pai; uma tentativa de elevar a monarquia num momento de crise & que resultaria no seu final. The objective of this article is to review the “golden legend of the independence’, which takes the ending by the beginning: the conservative and monarchical exit 5 an unavoidable fact. It was not, and itis worth structuring the bases of this interpretation, very much based in the experience of the Southeast ~ especially Rio de Janeiro and Sao Paulo -andin the elaboration of Pedro Américo’s painting, called Independencia ou morte which was, actually, a gift from son to father; an attempt to elevate the monarchy ina ‘moment of crisis and which would result initsend. Palavras-chave: Independéncia do Brasil Pedro Américo; monarquia. Keywords: Brazil's independence; Pedro ‘Américo; monarchy. HABEMOS INDEPENDENCIA processo de Indepen- déncia brasileiro foi no minimo paradoxal, ainda mais quando comparado com 0 de seus vizinhos latino -americanos. O Brasil se transformava numa quase anomalia: império repiiblicas por todos os lados. limo, singular, diga mos assim, a “lenda da Independénci: num cereado de Também foi, mi criada retrospectivamente. Nela, assegu: rava-se um proceso continuo, como se fosse destino certo, cujo ponto de partida era a elevagao da colénia a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, quando a familia real portuguesa, fugida das tropas de Napoledo Bonaparte, mudou- ¢ provisoriamente para sua 11 nia tropical. Para completar, vale destacar como a recepeao futura do 7 de setembro guardou uma pintura, eriada muitos anos depois do evento de 18: cie de testemunho, um documento visual como uma espé- do ato de separagio com a metrépole. Trata-se da tela de Pedro Américo cha mada Independéncia ou morte, entregue a0 Estado brasileiro apenas em 1888: um ano antes da Proclamagio da Repiiblica. © momento nao era o mais adequado, ¢ obra teve que ficar fechada durante um bom tempo. Todavia, a saga do trabalho seria diferente. A pintura seria largamente explorada em varios momentos de nossa histéria, sobretudo nos anos da ditadura militar, que celebrou os 150 anos da Inde- pendéncia como se fosse um mérito seu, Este artigo ¢ em parte pautade no livre Brasil: uma biograta (So Paulo, Companhia das Letras, 2014, que tescrevi em coautora com Heloisa Statling, LILIA MORITZ SCHWARCZ ¢ professora do Departamento de Antropologia da FFLCH/USP autora de, entre outros, Lima Barret: triste Visiondro (Companhia das Letras. dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade € vinculou a figura fardada do principe Pedro I aos uniformes do Exército. A obra ajudou a criar, assim, um projeto de passado: um passado fardado. 0 objetivo deste artigo é, pois, rever essa “lenda dourada da Independencia”, que toma o final pelo comego: a saida conservadora € mondrquica como se fosse um dado inevitivel. Nao era, ¢ vale a pena estruturar as bases dessa interpre- tagdo muito caleada na experiéncia do Sudeste — em especial Rio de Janeiro © Sao Paulo ~ ¢ na elaboragao de uma tela que foi, na verdade, um presente de filho para p monarquia num momento de crise ¢ que uma tentativa de elevar a resultaria no seu final ECOS DO ATLANTICO Em 1814 a periclitante situagio poli- tica europeia, tio marcada por anos de guerra, parecia finalmente normalizada: foi nesse ano que se deram os tiltimos confrontos entre forgas aliadas e francesas © a derrota de Bonaparte. Tudo indicava © retorno da “velha e boa ordem” com o redobrado poder das realezas ¢ © comando politico da Santa Alianga, sobretude nos territérios continentais europeus. Porém, na contramao das tendéneias da época, estava o dominio portugués no além-mar. © principe D. Joao, teoricamente apenas de passagem pelo Brasil, optou por pos- tergar sua estada, até porque ia eriando raizes em seu territério americano. Afi- nal, 0 monarca portugués abrira os portos da colénia em 1808, elevara o Brasil & condigio de Reino Unido em 1815, assim como, apés a morte de d. Maria I em 1816, preparava-se para ser sagrado rei de Portugal, do Brasil e Algarves, com © titulo de d. Joao VI, tudo em plena colonia tropical (Lima, 1997, p. 21). No entanto, em pouco tempo a situa ¢40 mudaria completamente. No Brasil, insurreigdes como as de Minas em 1789, ada Bahia em 1798 © a de Pernambuco em 1817, entre outras, revelaram como os anseios por emancipagao animavam modelos que comegavam a ganhar um colorido local, a despeito das propostas serem profundamente diferentes. A essas alturas, a América inglesa estava pra- ticamente independente, afora as ilhas do Mar das Caraibas, a Guiana equato- rial € © dominio gelado do Canada. Na América espanhola, com excegao das Antilhas, a Independencia ja se deli neava como realidade. Ares revolucionérios comegavam a soprar também na propria metrépole por tuguesa, Nos primeiros tempos da invasio francesa, em 1807, ¢ sobretudo apés 0 momento em que d. Joao declarara guerra a Napoledo, em 1’ de maio de 1808, uma série de manifestagdes populares revelon adesdo a monarquia dos Bragangas, no lugar do jugo francés. A instabilidade politica em Portugal foi agravada por mais duas invasées napoleénicas: uma em 1809 outra em 1810, gerando mais, aversdo aos franceses. Todavia, apés a iiltima expulsio das tropas napoleénicas, no final da década de 1810, com a reto- mada da soberania Iusa nada explicava a permanéncia do soberano na América. Diante disso, as antigas demonstragées de fidelidade irrestrita a0 monarea por parte da populagdo portuguesa deram lugar indignagao geral. Para piorar, uma grande crise se aba- teu sobre 0 Estado portugues. A pro dugao agricola escasseava, 0 numerario esgotava-se, 0 papel-moeda perdia seu valor, assim como sumia o erédito inter- nacional. Parte das elites locais julgava que para reerguer Portugal seria preciso deter 0 processo de autonomia do Brasil (Miranda, s/d, pp. 37-8). © fato € que, privado dos recursos de suas possessées ultramarinas, sem os lucros do comér- cio colonial e humilhado pela dependén- cia em relagao a Inglaterra, Portugal se descobrin ocupando um lugar periférico dentro do seu préprio sistema imperial. A crise, que era econdmica € politica, s6 seria amainada com um gesto de grande poder simbélico: a volta do rei. Foi com esse espirito que em 1820 estourou a Revolugdo Liberal do Porto, erguendo duas grandes bandeiras de lnta. 0 constitucionalismo, a proposta de cria- 40 do conjunto de leis fundamentais do Estado incluindo a definigao do sis- tema geral de governo ¢ a regulagao dos direitos e deveres dos cidadaos — “Cortes e Constituigao” era a palavra de ordem que reunia politicamente os portugueses. E a defesa da soberania mondrquica que, nesse caso, significava © retorno imediato de d. Jodo VI, senio de toda a familia real, O movimento que comegava a se delinear em Portu- gal inserevia-se em um contexto mais amplo no qual se opunham duas cor- rentes. A primeira defendia 0 ideal da “Regeneragio” politica que pretendia sacudir 0 despotismo portugues, com seus adeptos se organizando em torno das propostas de liberdade, constitucio- nalismo ¢ liberalismo constitucional. A outra corrente reivindicava o “Restau- racionismo Realista”, projeto que pre- tendia a volta dos regimes monérquicos, conforme propunham a Franga e, sobre- tudo, uma coligagio formada pela Rtis- sia, Austria e Prussia, Mais conhecida como Santa Alianga, ela se reuniu no Congresso de Viena entre 1814 © 1815. Na conta desse ambiente bastante pola- rizado € que, em 1820, estoura em Portu- gal um movimento liberal, nacionalista constitucional, com um propésito claro: reestruturar © Império luso-brasileiro, sob a luz do constitucionalismo, ¢ manter em Portugal 0 centro politico ¢ administra- tivo desse mesmo Império. Aos othos dos brasileiros, porém, esse propésito tinha outro significado politico: indicava que a antiga metrépole continuava preocupada em garantir seus interesses coloniais. E © ambiente ganhou a colénia quando, em fevereiro de 1821, uma multidio reunida no Largo do Rossio, no Rio de Janeiro, exigin o juramento da futura Constituigé das Cortes de Lisboa Foi ficando evidente, porém, como a tentativa de recuperar a proeminéncia politica de Portugal incluia suprimir os privilégios adquiridos pelo Brasil durante 05 13 anos de permanéneia de d. Joo no Rio de Janeiro. Na realidade, a Revo- Iugdo Portuguesa incluia um paradoxo. Irrompeu tardiamente, numa conjuntura europeia jd sob os efeitos conservadores do Congresso de Viena, mas nao deixon de introduzir ideias ¢ priticas sociais novas. Também ambicionava erguer uma ‘monarquia constitucional que encerraria © antigo regime, embora sustentasse na figura do rei o polo aglutinador de sua comunidade. Finalmente, e ndo menos Davie USP Sto Pata 3 91532 aemaejane 202217 dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade importante, seus adeptos preferiam a regeneragao a ideia de revolugio! Em Portugal, 0 termo liberal vinha “das Cortes de Cédiz” ~ assembleia que, reunida na Esp 4 abolicéo do antigo regime ~ © servia para indicar um novo sujeito politico. nha em 1810, pretendia Um sujeito liberal, nesse momento, era aquele que desejava o bem da patria: amigo da ordem e das leis, acreditava era que a opinifo deveria ser livre ¢ que cle teria o direito de influir na administragio publica. Entravam nessa agenda politica, também, nogdes como contrato, Consti- tuigdo, autonomia © soberania parlamen- tar. Por fim, liberalismo nos termos da conjuntura portuguesa era conceito que permitia reconhecer 0 dircito do outro, através da Constituigao, Por outro lado, coube & imprensa que se publicava no estrangeiro, mas em lingua portuguesa, papel fundamental no sentido de conferir & causa revolucionéria nova importancia junto A opinido publica. Dos varios periédicos editados destacam-se 0 Correio Braziliense (ditigido por Hipo- lito José da Costa entre os anos de 1808 © 1822, editado na Inglaterra ¢ proibido em Portugal entre I811 e 1817), 0 Investi- gador Portugués em Inglaterra (fundado em 1812 com 0 objetivo de combater 0 Correio © que mudaria de orientagio a partir de 1814); 0 Portugués ou Merciirio Politico, Comercial e Literério (0 mais combative ¢ 0 mais censurado dos jornais, portugueses publicados na Inglaterra) e © Campeao Portugués ou 0 Amigo do Rei € 1 Para a Revolugo Portuguesa e suas consequencias no Bra ver: Neves (2003), AB Reve UHP+ San Panlown 199g 1612+ shinai do Povo (0 mais doutrinério dos jornais €, apesar disso, proibido no ano de 1819) Ja d. Joao parecia imune a todo esse ambiente, preferindo permanecer em sew pago de Sio Cristévio no Rio de Janeiro, mesmo se 0 prego fosse a adogao do regime constitucional em Portugal (Lima, 1997, p. 21). Em I de outubro as Jun- tas Provisionais anunciaram as primeiras medidas ~ reformas na administragao, alteragées na censura ¢ a preparagio para as eleigées dos deputados que fariam a nova Constituigao do Império. As Cortes foram definidas como nticleo de repre- sentagdo nacional, sendo as eleigdes regulamentadas. Firmados 0s objetivos da “Carta”, as Cortes constitucionais tra taram de consolidé-los durante os anos de 1821 & , sem alterar 0s alicerees basicos da monarquia As primeiras preocupagées dos depu- tados se concentraram, pois, no regi- mento interno das Cortes, na nomeagao de comissées ¢ no estabelecimento de um novo governo ~ a Regéncia. Os trabalhos comegaram em 26 de janeiro com novas determinagées claboragdo do cédigo civil e criminal, aboligio da Inquisigio, redugio do mimero de ordens religiosas ¢ anistia aos presos politicos. No plano externo, a pretensio era conquistar todo 0 Império para 0 ide rio da regeneragio. Tanto que, no caso brasileiro, Paré © Bahia aderiram ime diatamente & causa portuguesa. liberdade de imprensa, Diferentes facgées se digladiavam, no Brasil, em torno do tema. A volta do rei era defendida no Rio de Janeiro, sobre- tudo pelo “Partido Portugués”, formado basicamente por altas patentes militares, burocratas ¢ comerciantes, interessados no retorno ao antigo sistema colonial € na subordinagio do Brasil a metrépole. Opunha-se a essa posigéo 0 “Partido Bra- sileiro”, constituido por grandes proprie~ térios rurais das capitanias vizinhas a capital, financistas, militares, burocratas & membros do Judiciétio nascides no Brasil © que comegavam a delinear “um governo [J] independente de Portugal”. O terceiro partido, conhecido como “Demoerata”, almejava “governos provineiais indepen- dentes” incluia boa parte do clero e dos empregados puiblicos’, Nao obstante, esses ndo cram exa- tamente partidos, mas antes correntes de opinido, grupos que guardavam os mesmos interesses. Na verdade, a nogio de partido nesse momento traduzia uma concepgio de grupos que se posicionavam a favor ou contra alguma pratica politica. Existia ainda certo contetido pejorative porque 0 termo “partido” costumava aparecer associado a nogdes como fac- 40, seita, bando e A formagio de gru- pos partidarios envolvidos em desordens publicas. Por fim, ¢ a0 longo dos anos de 1821 e 1822, 0 conceito comega a ser associado as insatisfagdes da época. De uma maneira geral, esses diferentes partidos se viram reduzidos a duas cor rentes: a primeira, dominante na capi- tal do Brasil © composta de militares comerciantes lusos que se mantinham figis as Cortes de Lisboa; a segunda, que caminhou na diregdo oposta ¢ apostou na lideranga de d. Pedro. Cresceria também esse contexto o papel da magonaria, a 2 Ver Carvalho, Bastos & Basile (2012), Mariscal (1926). qual funcionaria como articuladora poli- tica, catalisadora de descontentamentos ¢ adepta, com o tempo, da segunda ver- tente (Fausto, 2001, p. 130). D. Joao, por sua vez, nem consentia em voltar, nem The agradava a ideia de mandar a Portugal o filho Pedro (Sousa, 1988, p. 139). Nesse contexto passam a circular também os “papelinhos” ou pan- fletos, manuscritos e impressos funda- mentais para a difusdo de opinides poli ticas*, que, nessa conjuntura, demonstram uma clara articulagao entre a emergéncia da opinio ptiblica ¢ 0 surgimento de um novo vocabulirio politico. Tais docu- mentos partiam sobretudo da Bahia e do Rio de Janeiro, ¢ propunham a conscien- tizagdo da populagao. Mas as posigées nao eram univocas: a Bahia, cujo grosso do comércio era realizado diretamente com Portugal e Africa, nfo concordava com a “intromisso” inglesa € por isso mesmo apoiow a politica das Cortes, a0 ‘menos num primeiro momento; j& 0 Rio de Janeiro, grande beneficiario da poli- tica joanina, faria de tudo pela perma- néncia de d. Pedro. De toda maneira, no inicio de 1821, d. Pedro seria informado das decisées sua partida, dada entio como definitiva. Entretanto, com o estado avangado da gra- videz. de d, Leopoldina, ¢ uma projetada separagdo dos dois, o principe nao partiu. Os acontecimentos, porém, se precipita 3 Movimento que remonta provavelmente 3 Idade Mé- dia, a maconariachegaria 20 petiodo modemo como ‘uma associacéo secreta, ntiabsolutistae vinculada ‘0s movimentos de emancipacao nacional 4. Ver Carvalho, Bastos & Basile (2012) dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade vam, ¢ d. Jodo viu-se obrigado a jurar a Constitnigdo em fevereiro de 1821; seu derradeiro ato no Brasil. Os decretos de Lisboa de 7 de margo determinaram nao 56 0 regresso do rei a Portugal ~ ficando © principe enearregado do Governo Pro- vis6rio do Brasil. © ambiente, que jé era frégil, entor- nou, Em 21 de abril de 1821, na entiéo Praga do Comércio, uma reuniio de cleitores do Rio de Janeiro foi inter rompida com gritos de © povo” ¢ “haja revolugao”, A multidao exigia que d. Jo’o VI jurasse a Consti- tuigdo de Cédiz de 1812, © que perma- necesse no pais. qui governa Enquanto 0 vacilante rei mais uma vez aquiescia, sew filho seprimia violentamente a manifestagio, cujas consequéncias ficariam relatadas no livro da viajante € preceptora dos principes, a inglesa Maria Graham, que lamentou as 30 mortes e os muitos feri- dos (Graham, 1990, p. 164). O prédio no centro da praca amanheceria no dia seguinte pichado, com os dizeres “Agou- gue dos Bragangas!” E assim, em 26 de abril de 1821, parte © restante da familia real, a excegao de d. Pedro e sua familia, que ficavam como um brago da monarquia no Brasil. Com a corte partia um séquito estimado em 4 mil individuos — entre ministros, oficiais, diplomatas © suas familias -, além dos deputados brasileiros. D. Pedro, com seus 22 anos, permane- cia no Brasil, herdando projetos politicos © grande desfalque®. A corte limpou os 5. Chado por Moras (1982, p. 124. 20, Revita USP+ S20 Psion 199+. 182+ sbi coftes: transportou as arcas do tesoure € 08 cofres do Banco do Brasil (Varnha gen, 1957, p. 57). S6 0 rei carregou em ouro amoedado e em barra mais de 60 milhdes de eruzados. E isso sem falar nos diamantes que estavam, como penhor, nas casas fortes do Banco do Brasil © monarca desembarcaria em Lis- boa no dia 4 de julho, ndo sem antes ter recebido as deputagdes da regéncia € das Cortes, As Cortes também proibi- ram a entrada de II conselheiros do rei, considerando-os “perigosos”. Na mesma data, 0 rei foi obrigado a nomear novo ministério, substituindo a regéncia, e assu- miu a monarquia constitucional, que Ihe dava um novo status politico E se d. Pedro seria primeiro tratado como marionete nas maos das elites bra sileiras, logo arregagou suas mangas Em sua primeira proclamagio, 20 que parece redigida pelo Conde dos Arcos, © governo interino sinalizava para uma série de reformas na educagao piiblica, na agricultura e no comércio, a despeito de deixar claro que exigiria o “respeito austero das leis e a vigilncia constante” As medidas préticas ndo eram muitas, mas 0 efeito, evidente. Enquanto isso, as Cortes passaram a pedir uma representagio brasileira a Portugal. A primeira reagao foi de oti- mismo: no apenas © Rio ¢ a Bahia, a nova e a velha capital do vice-reinado © do Reino Unido, se pronunciaram a favor do constitucionalismo. Até o Para, que compunha uma provincia de administragao separada, se entusiasmon pela revolugao, que foi saudada como a implantagao de um regime liberal que lutava contra 0 despotisino. Representantes de todo o mundo por- tugueés seriam chamados a se reunir com © propésito de redigir ¢ aprovar uma nova Constituigdo. As instrugées das Cortes de cidadaos eram considerados elegiveis a excecdo dos conselheiros de Estado e dos empregados da corte real. Determinou-se, ainda, a representagdo de um deputado para 30 mil habitantes © © direito de 0 12 de novembro eram claras: todos os Brasil ¢ as demais possessées ultramari- nas participarem (Fausto, 2001, p. 130). Partiram 65 deputados (apesar de s6 46 terem comparecido as sessées), para 100 de Portugal metropolitano, nove pelos dois cireulos de ilhas adjacentes (Madeira ¢ Agores) e sete pelas possessdes africanas € asidticas (Cabo Verde, Bissau ¢ Cacheu; Angola e Benguela; S. Tomé e Principe; Mogambique; Goa; Macau, Timor e Solor) (Lima, 1997, pp. 149-50)" Os deputados de Pernambuco foram os primeiros a chegar a Lisboa, segui- dos pelos deputados fluminenses ¢ os da Bahia. Mas foi apenas a deputagio de Sio Paulo? que fez a lipo de casa, levando instrug6es explicitas, onde se reconhecia a pena de José Bonifficio ¢ seus temas prediletos; a catequese dos indigenas. Todavia, a intransigéneia das Cortes levou a uma a aboligio da escravidio ¢ {6 Dados referentes as demais possessoes ultramarinas retiados de: Marques (1985, pp. 58-9). 7 Eram cinco deputados pelo Rio de Janeiro, seis por ‘Sto Paulo, um por Santa Catarina, nove pela Bahia, ‘ito por Pernambuco, ts pela Paraiba, rs pelo Rlo Grande do Norte, quatro pelo Ceari, dois pelo Pia, ‘dois pelo Maranho, quatro pelo Para, dols por Gois, dois pelo Rio Grande do Sul 11 por Minas e um pelo Espirito Santo, Hava ainda dois por Alagoas, dos por Rio Negro e um pela Cisplatina crescente resistencia; para aqueles que Viajaram a Portugal com a esperanga de la encontrar um debate sobre principios da igualdade perante a lei e acerca dos direitos do Brasil, a realidade mostrava- -se oposta (Fausto, 2001, p. 132) Deste lado do Atlintico a situagao era igualmente complicada, Enquanto em Pernambuco ¢ na Bahia os grupos dirigentes tinham motives mais imedia- tos para apoiar a politica portuguesa, no Rio de Janeiro as elites politicas divi- diam-se entre os grupos conservadores vineulados a Boniffcio e os mais radi- cais, que giravam em torno de Joaquim Gongalves Ledo. Também 0 principe a esas alturas oscilava entre dar ouvidos 4s queixas locais ou mostrar sinais de fidelidade a seu paif. © regente tinha ainda outros problemas pela frente: como sanear a situagao financeira que herdara. As dificuldades estavam vinculadas as circunstancias em que se dew a retirada da familia real e eram agravadas pela situagio do Banco do Brasil D. Pedro romanticos e politicos tenha se contagiado pela verdadeira mania nacionalista que comegava a tomar conta de boa parte dos deputados brasi- leiros em Portugal, e jé chegava ao Bra- sil, Essa mudanga de espirito era insu- flada pelas atitudes das Cortes, que, entre tinha também impetos Talvez por isso finais de setembro © outubro de 1821, expediram uma série de medidas que deixavam claros seus intentos: decidiu-se 8 Carta de d. Pedro, de 8 de junho de 1821. itada por Sousa (1988, p. 236), Revie USP Sto Pato 99g 1532+ semanas 202224 dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade pela transferéncia para Lisboa das prin- cipais repartigdes instaladas no Brasil; novos contingentes de tropas foram des- tacados para o Rio de Janeiro e em 29 de setembro é assinado decreto exigindo © retorno do principe regente. As Cortes também determinaram que as diferentes provincias do Brasil se transformariam em provincias ultramarinas de Portugal, desaparecendo © lugar politico do Rio de Janeiro ¢ a necessdria permanéncia de d. Pedro (Martins, 1987, p. 185). © ano de 1822 comegou com muitas dtividas e raras certezas, Partido Brasileiro concentrava esforgos. no sentido de assegurar a permanéncia de d. Nao A toa o Pedro no Brasil’. Com o tempo, também a princesa se converteria em uma das grandes influéncias favordveis emanci- pacdo e a desobediéneia do regente para com as Cortes: Leopoldina parecia temer © constitucionalismo portugués, permane- cendo fiel aos principios do absolutism. Mas faltava 0 Partido Brasileiro sensi- bilizar 0 regente com um ato simbélico. O movimento partiu de Rio de Janeiro, Sa0 Paulo © Minas, ¢ no dia 9 de dezembro, quando chegaram os decretos portugne- ses exigindo a volta imediata, criou-se © “Clube da Resistencia”. Foi Gongalves Ledo, do Partido Brasileiro, quem orien- tou 0 entio presidente da Camara para que entregasse ad. Pedro uma solicitagio formal para que ficasse no Brasil. Ao mesmo tempo, logo no primeiro dia do 9. Estas cartas de Leopoldina foram publicadas na Reis ta do Instituto Histoico sobo titulo “Cartas inéitas da {a Imperatrz d. Maria Leopoldina (1821-1826) (RIHGB, vol. 75, tomo 125, patel, 1912, pp. 109-77. © regente receberia carta de José Bonificio pedindo que permane cesse © “nao se tornasse escravo de um pequeno niimero de desorganizados”, No mesmo dia 9 de janeiro, d. Pedro recebeu no pago ~ numa audiéneia do Senado da Camara — um requerimento tomado por mais de 8 mil assinaturas, que pediam para que ele nfo deixasse 0 Brasil Apesar da forga dos atos, € preciso Iembrar que boa parte das clites ainda desejava manter-se unida a Portugal, guardando-se, porém, as franguias j4 alcangadas. Essa posigao advogada pelo ministério conservador, que defendia uma saida moderada ¢ se aglutinava em torno de Boniffcio, contava com a oposigao dos grupos radicais, que imaginavam um modelo diferente de representagao mais republicano. A despeito das divi- s8es entre os grupos, um processo mais estrutural € profundo ia se afirmando. E por isso que a contenda foi sendo deci- dida em duplo sentido ~ de dentro para fora, mas também de fora para dentro, HA quem diga que a essas alturas Por- tugal é que pretendia se livrar do Brasil € de suas provocagées. O certo € que se comegava a escrever, entio, uma espécie de lenda dourada da Independencia, na verdade construida sobretudo por Rio de Janeiro © So Paulo, UMA INDEPENDENCIA MONARQUICA E CONSERVADORA E possivel especular que, se no fosse por conta da politica das Cortes, com mais dificuldade teria se criado, no Brasil, um sentimento unificando as diversas provin cias. Mesmo a mais consolidada divisio interna tende a ceder diante de um ini migo externo, fato que acabou levando @ unido das diversas provincias e das facgées das elites brasileiras. B assim que se entende a eriagao de um exéreito brasileiro ~ Bxército de I* Linha, como foi chamado ~ logo apés as tropas por- tuguesas negarem-se a jurar fidelidade a d. Pedro, ou mesmo a formagao de um novo ministério, Entre os muitos decretos destaca-se a proibigio do desembarque da expedigdo de Francisco Maximiliano © Sousa, que, chegada ao Rio em 9 de margo, pretendia transportar 0 principe de volta para Lisboa, E a evolugao foi répida, Em fevereiro de 1822 a regido Sul do Brasil j4 for- mava um 36 bloco politico, estando Rio de Janeiro, So Paulo, Santa Catarina e até Minas Gerais em concordancia com relagiio A ideia de autonomia € A escolha do principe como figura central nesse pro- cesso. Impunha-se, assim, a Independén- cia, muito embora, teoricamente unidas para a emancipagio, as provincias con- timuassem divididas em seus interesses. Tgualmente tensas eram as sessdes das Cortes em Portugal, sendo os deputados brasileiros sujeitos a todo tipo de impe- dimento — varios deles, inclusive, nio juraram a Constituigao® No Brasil, a magonaria, ja presente na ocasio do “Fico”, foi crescendo. Por 14, as posigdes dividiam-se também entre os mais conservadores defendendo uma monarquia constitucional, com pequena 10 Correo do Ro de Janeiro, n° 5, 19 dejunho de 1822. representaco, ¢ os mais extremados asso- ciando a Independéncia a ideia de repti- blica © do voto popular Com 0 acirramento do processo, d. Pedro é mais uma vez pressionado no sentido de convocar, em 3 de junho de 1822, uma Assembleia Constituinte. E nesse ambiente que em 3 de junho sai © decreto de convocagio da Constituinte brasileira, O texto final era de José Boni- fécio, mas as ideias cram, em grande parte, de Gongalves Ledo. A palavra de ordem era “Independencia moderada pela unio nacional”, formula presente na pro- clamagao de d. Pedro do dia anterior, Um novo ato assinado pelo principe fez com que 0 consentimento do Executivo cen- tral brasileiro se tornasse indispensavel a validade das leis, ordens e resolugdes que nao paravam de chegar do governo de Portugal. Era o cumpra-se assinado em 4 maio de 1822. O certo € que o divércio litigioso ia se consolidando. © manifesto de I de agosto, redigido por Gongalves Ledo, mas atribuido a d. Pedro, anunciava a separagao. ros. Esté acabado 0 tempo de enganar os homens [. Nesse momento, porém, a facgao libe- ral de Gongalves Ledo jé havia perdido a lideranga, tendo sofrido sua maior derrota em 19 de junho, quando nao conseguin “Brasilei- impor a tese das cleigées diretas para a Constituinte (Novais & Mota, 1996, p. 54) 11 Pata uma visbo desse episbioe da atuagio dos gru- [pos mals radicals ver: Lelte (2000) 12 Rio de Janelro, Biblioteca Nacional, ms. |, 36, 28,009, .1."D.Pedto |, Principe Regente. Manifesto de inde Pendéncia, Rio de Janeiro, 1" de agosto de 1822" Davie USP Sts Pato 139g 1532+ semanas 2022 23) dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade E obra do ministro © manifesto de 6 de agosto, quando prevaleceu a saida monér- quica. “Perdido 0 Brasil, esta perdida a monarquia” “, assim rezava 0 manuscrite moderado. Ainda nesse més © principe decretou que as tropas da metrépole eram consideradas inimigas, além de recomen- dar aos governos provinciais no dar posse a empregados vindos de Portugal. Uma nova enxurrada de manifestos ia deixando claro como os projetos de autonomia vira- vam realidade. Faltava apenas 0 marco simbélico, ¢ ele se daria em Sao Paulo. “INDEPENDENCIA OU MORTE” NA REALIDADE E NA PINTURA DE PEDRO AMERICO Um proceso de ruptura carece sem- pre de um ato simbélico; um ato para ser lembrado, © mais inusitado, porém, & que, no caso da Independéncia, ele fica- ria guardado na meméria nacional sobre~ tudo em fungao de uma tela, encomendada (aliés) pelo monarca Pedro II. O certo é que tardava o ritual, e ele aconteceria em Sao Paulo, como nem mesmo os Andra- das ~ José Bonificio ¢ seus irmios to acusados de praticar um bairrismo paulista, poderiam sonhar. Depois de ter contornado problemas nas provineias do Rio de Janciro ¢ de 13 BNISOR C, 4, 1, “Manifesto do Principe Regente do Brasil 205 governos e nagoes amigas. 6 de agosto de 1822% in Cédigo Brasliense ou Colesao das Les, ‘alvards, decretos,caras réglas, etc. promulgadas no ‘Brasil desde a feliz chegada do principe Regente Nosso Senhor a estes estados com um Indice cronologico (1808-1837). Rio de Janeiro, Impressio Regia, Tipo- ‘fafa Nacional e imperil, 1811-1838. Minas Gerais, d. Pedro partiu em 14 de agosto de 1822 para Sao Paulo, acom panhado de pequena comitiva. Nesse meio tempo, a princesa Leopoldina era empossada na regéncia: cabia a ela presidir 0 conselho de ministros € dar audiéneias piblicas em lugar do esposo ~ sempre ao lado de José Boni ficio, 0 cabeca do gabinete © grupo vencia a viagem de maneira pausada, percorrendo em dez dias cerca de 630 quilémetros de distfncia entre Rio Sao Paulo, Passaram a noite em fazendas em Areias, Lorena, Taubaté ¢ Aguas Bran- cas, recebendo tanto homenagens como criticas aos adversdrios dos Andradas. Mais a frente, ao pequeno grupo se jun- tou a guarda de honra; uma guarda de capacete de dragdes e botas a Vecuyere (botas de escuceiro). Outras pessoas foram aumentando a comitiva até a entrada em Sio Paulo, no dia 25 de agosto: cidade pequena, de ruas pouco extensas, estrei- tas € tortuosas, cujos habitantes, segundo © iltimo alistamento censitério de 1822, ndo passavam de 6.920 almas. O principe partin de So Paulo s6 no dia 1° com des- tino a Santos, de onde sé retornaria na famosa manhi de 7 de setembro © objetivo de d. Pedro em Sao Paulo era apaziguar os animos depois da suble- vagio que ficou conhecida como a “Ber narda de Francisco Indcio”. 0 termo vinha de bernardinas ¢ correspondia as portu guesas bernardices, relativas & tradigao, em parte falsa, da ignorancia e simpli- cidade dos frades beneditinos diante da reforma de S. Bernardo. No Brasil, “ber- narda” tornou-se expresso corrente em 1821, sendo associada aos movimentos populares da Independéncia. A origem estaria em uma frase proferida por Tomas Ant6nio Vilanova Portugal, denominando bernarda, tolice, asncira, a revolugio constitucionalista do Porto em agosto de 1820. Os jornais da época divulgaram 0 dito, que se fixou no vocabulirio popular também com 0 sentido de motim € revolta popular. A “de Francisco Inécio” era na verdade uma série de motins que estou- raram depois de 1820, consequéncia da aguerrida politica interna paulista ¢ que atingia de perto José Bonifacio. O gover- nador Joao Carlos Augusto Oyenahusen se juntow ao brigadeiro Francisco Indcio de Sousa Queirds © tomou partido con- tra Martim Francisco, 0 que gerou uma série de insurreigdes que levaram & queda do irmio de Bonificio. Nao é 0 caso de perseguir os meandros dessa histéria, E suficiente saber que 0 vinculo de d. Pedro com José Bonifacio era tal que o prin- cipe encarou a “Bernarda de Francisco " como um desafio a sua propria autoridade: deu a Martim Francisco 0 Indci Ministério da Fazenda e resolveu visitar a provincia paulista a fim de aquieté-la, sempre em favor dos Andradas A viagem tinha, pois, objetivos politi- cos, mas a hist6ria tendew a lembrar ape~ nas do episédio que envolve d. Domitila de Castro Canto ¢ Melo, filha do coronel Joao de Castro Canto ¢ Melo. Domitila nascera em So Paulo ¢ era quase um ano mais velha que 0 principe. Amargava as consequéncias de um casamento frustrado, © andava sofrendo com as dificuldades que seu marido vinha Ihe impondo: acu- sada de adultério, tinha a guarda de seus trés filhos reclamada. Nao se sabe se ela possuia planos de pedir a intervengao do principe contra o ex-marido — tendo seu acesso sido facilitado gragas a presenga de seu irmao na comitiva ~ ow se o pri- meiro encontro foi golpe de sorte Dito por nao dito, conta a histéria que d. Pedro voltava de um bairro distante quando eruzou com uma bela mulher, que chegava carregada em uma cadei- rinha por dois escravizados. © principe apeou do cavalo ¢ saudou a desconhe- cida, cantando-Ihe a beleza (Sousa, 1988, 2° vol., p. 33). Se nos fiarmos no que diz 0 anedotério hist6rico, parece que a mulher de Felicio Pinto Coctho © 0 marido da prineesa Leopoldina encon- traram-se por acaso, Entretanto, até hoje nao se explica 0 que fazia Francisco de Castro Canto © Melo na comitiva do principe. O que, sim, se sabe é como entdo se iniciava um dos capitulos amo- rosos mais famosos da histéria brasileira, € que contou com a diligente cumpli- cidade do irmio, mas também do pai, da mde, dos irmaos, tios ¢ primos de Domitila; todos regiamente compensa- dos com mercés, distingdes © honrarias. Mas a hora de voltar para o Rio apro- Ximava-se e 0 retorno se faria sem grande alarde, mesmo porque a guarda especial de 30 jovens j4 havia sido dispensada € a missio do principe era, agora, cada ‘vez menos oficial. Além do mais, a esas alturas, a separagao politica estava pra- ticamente confirmada, restando apenas a formalidade do antincio. Logo que 0 principe partira em viagem, em 14 de agosto, José Bonifacio emitira circular a0 corpo diplomatico em que declarava a emancipagao. Faltava, entretanto, um evento que conferisse ao principe o Ingar principal. © motivo veio f¥cil: em 28 de agosto chegava ao Rio o brigue Trés Cora- eva UEP Sle Peto 88+ 1882+ aemaeahs 202228 dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade 6es, trazendo as rotineiras més noticias de Lisboa: ordenavam a volta imediata do principe, o final de uma série de medidas que consideravam ser privilégios brasilei- ros ¢ acusavam de traigdo os ministros que cercavam o regente. Sob a presidéncia de Bonifitcio, 0 con- selho de ministros reunira-se no Rio de Janeiro e a conclusdo era que chegara a hora, Tamanha era a pressa, que Boni- ficio recomendou ao correio, Paulo Ber gero, que juntasse quantos cavalos fossem necessérios. A partir dai, 0 que € lendae © que é verdade fica dificil de resolver; melhor nos fiarmos nos documentos. ‘As missivas nao encontraram 0 prin- cipe, porém, em local nobre. O regente, que tinha vencido a serra de Cubatéo montado numa besta baia gateada, enver gava uma farda comum. Para piorar, 14 pelo dia 7 de setembro, d. Pedro apre- sentava um estado de satide que, embora nio tivesse maior gravidade, era por certo desconfortével uma vez que nie encon- trava suas fungdes intestinais normali- zadas, e de forma intermitente era obri- gado a apartar-se da comitiva, alterar 0 ritmo da marcha ¢ parar a fim de aliviar a dor repentina. Precisava “prover-se”, conforme definia um dos companheiros de viagem, 0 corone! Manuel Marcon- des de Oliveira Melo". © momento nao era o mais indicado, mas © destino nem sempre escolhe hora certa. Logo que soube da chegada dos emis- sérios, Francisco de Castro Canto e Melo apressou-se a dar a noticia ao principe, 1M Chado por Sousa (1988, 2° vo, p. 36). 26 Revita USP~ S20 aslo 199+. 1292+ sbiimanjn num lugar chamado Moinhos. O major © irmao de Domitila legaria um relato engrandecedor sobre 0 7 de setembro* centrando detalhes na figura do principe € na sua propria. Diante da noticia, d Pedro teria saido em disparada em diregao a Sio Paulo. No sentido oposto vinham os mensageiros de José Boniffcio, que o alcangaram “no alto da colina préxima do Riacho do. Ipiranga” dizem 05 relatos, em cima de um pequeno declive de onde se podia avistar a pacata Foi, entio, cidade de Sao Paulo, mais ou menos as 16 horas, que recebeu a correspondéncia das iios do major Antonio Ramos Cordeiro. As cartas eram muitas: missivas de José Bonifiicio, de Anténio Carlos, da princesa Leopoldina (uma de 28 ¢ outra de 29 de agosto). D. Pedro teria, enti, lido em voz alta os documentos que determinavam o final de seu ministério e a convecagio de um novo conselho® Fez-se 0 ato. A cena aparece narrada em qualquer manual de historia do Brasil, mas vale a pena recriar sua teatralidade. Convocado pelo momento, d. Pedro for- malizou 0 que jé era realidade: arran- cou a fita azul-clara e branea (as cores constitucionais portuguesas) que osten- tava no chapéu, desembainhou a espada 15 "Memoria sobre a Independencia do Brasil pelo Major Francisco de Casto Canto e Melo, gentil homem da Imperial Cimara’, 1864, 1HGB, ata 400, doc 8. 16 *Meméria de Canto © Melo’, 1864, INGB, lata 400, ddoc.8. Ver também: “Fragmento de uma memoria sobre a Independéncia do Basi, onde se encontram alguns trechos sobre os servigos do Conselheto José Joaquim da Rocha’, Arqulve Nacional, Cédice 807, volume 3. 17 Gado por Sousa (1988, 2° vol. p. 3), “E tempo! [..] Independéncia ou morte! [..] Estamos separados de Portu gal [..J”. No relato de Canto © Melo, a cena é semelhante, mas com os presentes © gritoy “prestando juramento de honra que para sempre os ligava realizagao da ideia grandiosa de liberdade”™. Grandiosa, a meméria do irméo de Domitila tende, anos depois, a tomar 0 incerto como certo ea Independéncia como um evento popular. Existe ainda a versio do padre Belchior Pinheiro, que afirmou ter lido as cartas para d. Pedro ¢ que este The arrancara 0s papéis da mio ¢ pisoteara-os. Entio, seguindo os conselhos do bom amigo, logo se recompusera e, abotoando a farda, teria dito: “E agora, padre Belchior?”. Ao ec V.A. no se faz rei do Brasil seré prisioneiro das que esse teria respondide: Cortes ¢ talvez deserdado por elas. Nao hé outro caminho senio a independéncia © a separagdo”. Ao que 0 principe reage: “Eles 0 querem, terdo a sua conta, As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de rapa pois vero agora quanto vale 0 rapazi- ho”. ho e de brasileiro [..1 E continuou: “Amigos, as Cortes querem escravizar-nos ¢ perseguem-nos. De hoje em diante nossas relagdes estio quebradas. Nenhum lago nos une mais!”. Mais uma vez o script é um pouco diferente: “Lagos fora, soldados! Viva a independéncia, a liberdade ¢ a separagio do Brasil”, E ainda: “Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil”. Como se vé, cada narrador chama para si o papel 18 "Meméria de Canto e Melo’, 1864, IHGB, lata 400, doc. 8 de coadjuvante principal. HA pelo menos acordo quanto A divisa que a histéria guardou transformaria ~ seja na versio pessoal de Belchior, seja na interpretagio de Canto € Melo ~ no grande lema da ocasiao. E ainda que a cena — acompanhada por cerca de 38 pessoas — nio tenha de fato ocorrido dessa forma, a histéria trataria ‘“Independéncia ou morte” se de construir sentido ao momento, sendo © mote repetido em Sao Paulo ¢ no Rio, onde manifestagdes retomavam a legenda de Independéncia ou morte Facamos de longa histéria um breve telato, D Pedro foi acolhido no Rio de forma esfuziante ¢ com as noticias cres- cendo. A volta de d. Pedro foi bem mais ripida: se 0s corcios venciam normal- mente em nove dias 0 pereurso que sepa. rava Sao Paulo da capital do pais, o prin- cipe o fez em apenas cinco, tendo partido na madrugada do dia 9 © aleangado Sao Cristévao no cair do dia 14. D. Pedro chegava castigado pelas chuvas, ¢ trazendo um lago verde de fita no brago esquerdo (a cor dos Bragangas), logo acima de um Angulo de metal dourado com o famoso Iema gravado: Independéncia ow morte. No lugar do tope azul e branco insti- tuido pelas Cortes, agora era 0 verde © amarelo (cor da flor amarela recebida como presente de Domitila ow a cor da casa de Habsburge) que se impunham. E © Jago viraria moda, conforme atestam antincios do Volantim, oferecendo fitas verde-amarelas e outros “aderegos da ”. Crescia também 0 uso Independé: 19 BN/PR SOR 2 (1), 0 Fspelho. tse 1282+ teeta qucke 2022 27 dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade do verde-amarelo inscrito na nova ban- deira e nas armas. Circulava nas casas nobres, nos bragos das elites ¢ em obje- tos: xicaras, jarros, canecas, relégios de mesa, leques (Souza, 1999, p. 257) A aclamagao do primeiro impera- dor brasileiro no dia 12 de outubro teve agenda cheia: desfiles, acenos na varanda do palacete, Te Deum na capela impe- rial, beija-mao, teatros, touradas, dangas, bailes, licores, banquetes, cavalhadas pantomimas. No meio do Campo de San- tana dew-se a ceriménia que levaria a mudanga do nome do préprio local, desde entdo conhecido como Praga da Acla~ magio. Para além da diversio, 0 ritual procurava dar visibilidade a0 soberano e estabelecia vinculos da comunidade com a nova realidade politica. Era hora de tornar a data “memorivel”, reconhecer 0 poder instituido e a figura de d. Pedro. ‘Mas essa era uma emancipagdo singular no elenco das independéncias america- nas que tinham gestado repiiblicas ¢ nao monarquias. Além do mais, a emancipagao chegava sem mudangas radicais € colocava no centro do poder um rei: um monarea portugues € da casa dos Bragangas. Talvez, por isso mesmo, criou-se uma espécie de “lenda da Independén epopeia a partir de uma série de fatos perfilados © encadeados, como se a saida imperial fosse a tinica possivel. Nao era; tanto que varias outras provincias nao seguiram 0 exemplo de Rio ¢ Sio Paulo, ” que reconta a como a Bahia, que $6 aderin & Indepen. déncia em 1825, Sio Luis do Maranhio, que reconheceu a separagdo em agosto de 1823, € 0 Piawi, que derrubou 0 mito da separagao politica pacifica por conta da Batalha do Jenipapo, ocorrida no dia 13 de margo de 1823, e que levou & morte de centenas de pessoas Além do mais, essa saida conservadora ndo era a tinica possivel; alias, ela foi vitoriosa no lugar de outros projetos mais radicais ou mesmo de natureza tepubli- cana. O processo emancipatério nao se limita, pois, aos anos de 1820 a 1822 a fundagao do Império a partir da con- cepedo da construgao do Estado unitério uma yersao criada por publicistas que participaram do debate da Independén cia € foi construida do ponto de vista do Rio de Janeiro ¢ Sio Paulo, Em Pernam buco, por exemplo, sempre se discordow da diregao do movimento, considerada muito centrada nos interesses cariocas”. © mesmo proceso de silenciamento ocorre com as personagens femininas dessa histéria, que nunca ganham pro- tagonismo. Maria Leopoldina, que era naturalista, conselheira politica de d. Pedro Te articuladora da Independéncia, passou para a hist6ria como uma mulher traida ou como a cunhada de Napoledo Bonaparte. Domitila de Castro do Canto € Melo era conhecida no Primeiro Reinado por ter encantado 0 primeiro imperador do Brasil nio s6 por seus dotes fisicos. ‘mas também por sua inteligéncia, Dizia-se que ela sabia, como ninguém, administrar € negociar influéncias dentro da corte Ja na histéria nacional, porém, cla no passou de “amante de rei” E se a histéria tratou de apagar subordinar as mulheres da elite, o que dizer das personagens femininas perten- 20 Ver Mello (2004) centes a0 povo? Ai o borramento foi ainda mais radical. Maria Quitéria de Jesus, por exemplo, destacou-se nas guerras de Independéncia do Brasil, Iutando como combatente na Bahia, Alids, fingiu ser homem para poder entrar no Exéreito, uma vex que a instituigao s6 admitia integran- tes do sexo masculino, A jovem juntou-se entio as tropas que lutavam contra os portugueses, em 1822, ¢ utilizou 0 nome de seu cunhado: era 0 soldado Medeiros, Jj que somente homens faziam parte do Exéreito brasileiro, Semanas depois de entrar nos conflitos, Maria Quitéria teve sa identidade revelada, Mesmo assim, permaneceu servindo, por conta de sua habilidade com 0 manejo de armas Maria Felipa é baiana, negra e natural da Tha de Itapa rica, Tomou parte na Iuta pela Independén- outra protagonista cia do Brasil, na Bahia, comandando cerca de 40 mulheres que foram responsiveis por queimar 42 embarcagées portuguesas. A protagonista também ficou conhecida a partir de um episédio lendério, a “surra de cansangdo” (vegetal que provoca urtiga e sensagio de queimadura) usada para der- rotar os soldados portugueses. Joana Angélica se destacou, também na Bahia, por conta da coragem com que enfrentou as tropas portuguesas dispostas a invadir © Convento da Lapa, localizado no centro da cidade de Salvador. Joana Angélica de Jesus morreu em 1822, assas sinada por tropas portuguesas, Enfim, existem outras independéncias para contar. Mesmo assim é importante destacar como 0 7 de setembro repre~ senta um momento simbélico de um longo processo de ruptura iniciado até antes da vinda da corte, e que levou, ao fim € a0 cabo, a uma solucéo mondrquica, implantada bem no meio das Américas Além do mais, nossa emancipagio ndo deixou de ser comum em sendo tao particular, na sua saida imperial e con- servadora. Se 0 movimento foi liberal, porque rompeu com a dominagio colo- nial, mostrou-se conservador ao manter a monarquia, 0 sistema escravocrata ¢ 0 dominio senhorial. Além do mais, se todo © processo de emancipagao foi deflagrado pela vinda da corte, 0 que explica 0 for mato final € 9 movimento interno de ajus- tamento as pressdes de dentro ¢ de fora, ¢ sobretudo um processo de substituigio de metrépoles (Dias, 1986, p. 165). Por outro lado, se uma nova unidade politica foi implantada, prevaleceu uma nogio estreita de cidadania, que alijou do exercicio da politica uma grande parte da populagao € ainda mais a vasta populagéo de esera- vizados. Com isso, nogdes bastante frou- xas de representatividade das instituigdes politicas se impuseram, mostrando como a Independéncia criow um Estado, mas nao uma nagio. QUANDO UMA TELA VALE MAIS QUE UM DOCUMENTO Nos versos do Hino Nacional Brasi- leiro entoa-se o tao conhecido “Ouviram do Ipiranga as margens plicidas/ De um povo heroico o brado retumbante/ O sol da liberdade, em raios fiilgidos/ brilhou no céu da patria nesse instante”. Nas poueas linhas, a partir da selegéo de algumas palavras-chave, 0 inicio do hino evoca © episédio da Independéncia do Brasil Nao ¢ dificil transformar em imagens a Davie USP Sts Pata 13 p1532- semaine 202229 dossié Dieentendrio da independéncia: cultura e sociedade letra do compositor ¢ associé-la ao qua- dro Independéncia ou morte! de Pedro Américo, pintado em 1888, em que d. Pedro, montado a cavalo e de espada em punho, di 0 “grito” de liberdade as mar gens do Ipiranga, em Sao Paulo. Se a nar- rativa empreendida no hino e na pintura parecem harmoniosamente coincidir, elas encobrem, por sua vez, outras narrativas possiveis sobre a Independéncia do Brasil, para além do ato situado nas cereanias do Riacho do Ipiranga, da data do 7 de setembro, ¢ do proprio ano de 1822, Nao se destaca a real Independéncia, que se dew no Rio com a aclamagao. Também nfo aparece a pressao civil e popular; esta diltima apenas representada por um tropeiro, que de certa mancira representa © “espirito bandeirante” dos paulistas. Isso sem esquecer da centralidade conferida a0 entao principe d. Pedro. Pode-se dizer que, para além das nar- rativas textuais, que buscaram conformar uma certa histéria linear e evolutiva da historia da Independencia brasileira, cujo desfecho culminaria no 7 de setembro de 1822, a cristalizagio dessa memoria deveu-se igualmente as imagens, sejam elas pinturas, gravuras, litografias, escul- tras, produzidas ao longo do séeulo XIX. A fabricagio do 7 de setembro como gesto inaugural do Brasil independente foi uma operagio construida a partir de cirounstincias que faziam de Sao Paulo © centro nevralgico da politica nacional em finais do século XIX € inicios do XX. Para elevar 0 gesto realizado em Sao Paulo, ocultou-se uma série de even- tos anteriores que compée 0 processo de Independéncia, muito mais longo ¢ com- plexo do que o “grito”. Também nio se 3M Revise UEP San Panos n 199g 1692+ shinijo destacou toda a negociagao politica empre- endida logo apés o grito da Independén- cia, quando d. Pedro ja estava de volta a capital, Por fim, tratou-se de diminuir ‘outras independéncias”, para usarmos a expresso de Evaldo Cabral de Melo, que chamou a atengao para 0 proceso paralelo, © com certeza mais radical, que ocorria em Pernambuco, sobretudo a partir da revolugao de 1817, Com os disparos dos canhées resso- ando no Maranhio, ainda em 1825, por ocasido dos embates deflagrados quando da ruptura com a metrépole, pode-se afe- rir que 0 7 de setembro de 1822, com as lutas de independéncia na Bahia no mesmo ano, é 0 ponto de partida, ¢ nao © de chegada, desse longo caminho que culmina na separagao politica entre Bra- sil ¢ Portugal. Na verdade, com a tela de Pedro Américo consumava-se uma espécie de “sequestro da Independencia” Também se obliteraram os andaimes de construcio da prépria tela que era ins- pirada e fazia homenagem a pintura de Ernest Meissonier, chamada Friedland e datada de 1875, e que celebrava uma das muitas batalhas napoleénicas; nesse caso datada de 1807. Ja a versio tropical preferin destacar uma colina inexistente = mas que daria maior proeminéncia ao ato —, colocar d. Pedro vestido de maneira oficial, montado num possante cavalo cercado de uma imensa comitiva, a qual, como vimos, era bem mais modesta”. 21 Estou desenvalvend, junto com Catlos Lima e Lula ‘Stumpf, um vio sobre a tela de Pedro Amético, que ‘52 chamara O sequestro da Independencia e deve salt em 2022. Como se pode notar, imagens oficiais ndo so “consequéncia”, sfio “causa”. Nao se comportam como “produtos”, mas ajudam a “produzir” 0 seu contexto € outros. 0 certo & que, com o tempo, se pro- cedeu a uma selegio quase exchisiva da tela de Pedro Américo, transformada em cartazes, selos, moedas, de maneira a “naturalizar” © papel de Séo Paulo na Independéneia de 1822. Chama a atengao ainda © uso que os militares fizeram ¢ tem feito da pintura de Pedro Américo Em 1972, em plena ditadura militar, ¢ qnando se celebravam os 150 anos do 7 de setembro, a imagem de d. Pedro foi relida como se ele fosse um militar, ¢ nao um principe de origem portuguesa € ligado & historia do antigo regime. E hoje em ‘em 22/ago./1986, 1990. dia a representagao nao ¢ muito distinta, com © governo projetando um passado fardado, branco ¢ muito bem organizado. Um passado de ordem, sem dissengdes, violéncias ou civis comandando 0 pro- cesso de emancipagao. Esse € um projeto de passado; um projeto de governo. Que 2022 nos per mita imaginar uma Independéncia menos europeia, masculina e branca. Propenho, entéo, uma nova convocagio civica para imaginar um Brasil diferente, muito menos polarizado ¢ armado (literal ¢ metaforicamente), e, na via oposta, bem mais generoso, pois referido ao que & de todas ¢ todos nés, ¢ faz parte do espago civico que precisamos, com urgéncia, reconquistar © pactuar. CARVALHO, J. M. de; BASTOS, L BASILE, M. (orgs). As armas, cidaddos!: Panfletos ‘manuscrites da Independéncia do Brasil (1820-1823). Sao Paulo/Belo Horizonte, Companhia das Letras/Ed. 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