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Copyright © 1982 by Carlos Drummond de Andrade hendeiros de Mério de Andrade | ‘Todos o8 direitos deste edicdo reservados & LIVRARIA JOSE OLYMPIO EDITORA S.A. Rua Margués de Olinda, 12 Rio de Janeiro — Repiblica Federativa do Brasil Printed in Brazil / Impresso no Brasil Pepxo AUGUSTO CIP-Brasil, CatalogacSo-natonte Sindicato Nacional dos Baliores de Livros, RI. ses okies oe 8 ita ‘Bibliografia 1. Carias brasileiras T. Andrade, Carlos Drummond. de, 1902. IE Tale DD 869.96 82-0441 CDU-869..0(81)-6 ... foram escritas com tama- ho amor, tamanha integra- Gio, to decisdrias como esses ‘momentos raros de que a gen- te “nunca se esquece na vida”. MARio DE ANDRADE ’ I S. Paulo 10 de Novembro, 1924 ‘Meu caro Carlos Drummond ‘34 comecava a desesperar da minha resposta? Men Deus! Escolher vestidos extravagantes mas bonitos pré mulher cum amigo que vai ao tal baile. E escrever uma conferéacia sem valor mas que divirta pra uma festa que damos, o pianista Sousa Lima? e eu no Automével Clube, sexte-feira que vem. tatoo en tudists tatase de ter copia religion pre, com & ‘vida, isto € viver com religio a vida, Eu sempre gostei muito de viver, de mancira que nenhuma manifestagdo da vida me 6 3 indiferente. Ea tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto enta- siasmo e carinko no escrever um distico que vai figurar nas paredes dum bailarico e morter no lixo depois como um 10- mance a que daréi a impassivel eternidade da impressio. Eu acho, Drummond, pensando bem, que o que falta pra certos mogos de tendéacia modcmista brasileiros é isso: gostarem de verdade da vide. Como néo atinaram com 0 verdadeiro jeito de gostar da vida, cansam-se, ficam tristes ov entio fingem alegria 0 que ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu nfo posso compreender um homem de gabinete ¢ voeés todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem um pouco de gabinete demais, Meu Deus! se eu estivesse nessas terres admirdveis em que vocés vivem, com que gosto, com que re- ligiio eu caminbaria sempre pelo mesmo camiaho (néo hé mesmo caminko pros amantes da Terra) em longas caminha- das! Que diabo! estudar € bom e eu também estudo. Mas de- pois do estudo do livro e do goz0 do livro, ou antes vem 0 estudo e gozo da acéo corporal. Eu neste ponto nfo aconselho nada porque nisso a gente nfo se muda por causa de conselhos alsios, mas um dos desastres que impedem a felicidade, que é naturalideds, de voots esté af: em casa Tendo, redagio de jor- nal, café com amigos sobre tal livro, tal esoritor, escrever coisas depois, talvez cinema ¢ depois farra com mulheres. Isso nfo 6 Vida que se level Isso € vicio. Esti muito bem com todas as utras formas de vida juntas, mas assim soziahos e continuados 6 miséria, decadéncia © infelicidade na certa. E horrivel. Veja bem, eu nfo ataco nem nego a erudico e a civilizagio, como fez 0 Osvaldo * num momento de erro, a0 contrério respeito-as © 4 tenho também (comedidamente, muito comedidamente) as minbas fichinhas de vivo tudo. Que pas- seios admiréveis eu fago, singuém munca esté 36 a nfo ser em especials estados , TarOs, em, que 0 cansego, preocupasies, dores demasiado fortes tomam a gente e hi essa desagregacio dos sentidos e das partes da inteligéncia ¢ da sensibilidade, Entio a gente fica s6 por milhtes de amigos que tenha ao lado. Se no, nfo. Um sentido conversa com outro, 8 razio discute com a imaginative etc. e € uma camaradagem sublime de pessoas to fntimas como nenhuns Castor e Pélox ‘desis ®. E entao parar ¢ puxar conversa com gente chamada baixa ¢ ignorante! Como € gostoso! Fique sabeado duma coisa, se no sabe ainda: 6 com essa gente que se aprende a sentir 4 © nfo com a inteliggncia e a erudicio livresca. Eles 6 que con- servam 0 espirito religioso da vida e fazem tudo sublimemente ‘num ritual esclarecido de religiéo. Eu conto no meu “Carnaval carioca” ™ um fato a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns negros dangando o samba. Mas havia uma negra moga que dangava melhor que 0s outros. Os jeitos eram os mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade mas cla era melhor. $6 porque 0 outros faziam aquilo um pouco decorado, maquini- zado, olhando 0 povo em volta deles, um automével que pas sava. Ela, no. Dangava com religifo ®. Nao olhava pra lado nenhum, Vivia a danga. E era sublime, Este é um caso em que tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou o que milhées, milhées 6 exagero, muitos livros néio me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade. Bom! no 6 preciso ainar a vida pra ser feliz dentro dela ¢ ainda tenho umas coisinhas pra the dizer ¢ perguntar. Primeiro vocé me fala numa carta que es- revi a0 Martins de Almeida®, Ora ou jé cscrevi dus © da segunda nfo veio resposta. Nido sabe se ele a recebeu? Se nfo, fico seriamente triste porque era longa, nfo era pensada, nfo, mes era to min daa de soragi e eu me horrrizo de me pensarem ingrato ou indiferente, Ele que me escreva qualquer Toise A_carta foi regstrada pra averida Paraopeba 272. So- gundo: li seu artigo. Est& muito bom, Mas nele ressalta bem © que falta a vooé — espirito de mocidade brasileira, Esta bom demais pra voc’. Quero di tido, sereno, acomedado, ‘est muito bem pensante, refle- ‘muito bem mobiliada do meu coracéo eu Ihe digo que isso é uma pena. Eu sotto com isso. Carlos, devote-se ao Brasil, junto comigo. Apesar de todo o ceticismo, apeser de todo o pessimismo e apesar de ja ingénuo, seja bobo, mas acredite que um sacriicio lindo. O natural da mocidade € crer ¢ muitos ‘mogos nfo créem. Que horror! Veja os mocos modernos da ‘Alemenha, da Inglaterra, da Franca, dos Estados Unidos, de toda a parte: eles créem, Carlos, ¢ talvez sem que 0 f conscieatemente, se sacrificam. Nés temos que dar ‘que ele nfo tem e que por isso, até agora nfo temos que dar uma alma ao Brasil'e para isso todo sacrificio € grandioso, é sublime. E nos dé felicidade. Eu me sacrifiquei 5 inteiramente ¢ quando eu penso em mim nas horas de cons- ciéncia, eu mal posso respirar, quase gemo na pletore da minha felicdade, Toda a minha obra € transit6ria e caduca, eu sei. E eu quero que cla seja transitéria ", Com a inteligtacia nfo vaidade hoje 6 de Ser transitério. Estracalho 2 minha obra. Eserevo Iingua imbecil, penso ingénuo, 86 pra chamar a aten- fo dos mais fortes do. que.ew pra este monstro mole. inde- iso ainda que € 0, Brasil. Os génios nacionais nfo sto de sfria de onde podem descortinar e reveler uma nagdo. Que me importa que a minha obta nfo fique? £ uma vaidade idiota penser em ficar, principalmente quando no se sente dentro Go corpo aquela fatalidade inelutével que move a mio dos dia se aventurarem até aqui. E até logo. Vou Ihe mandar uma 6 eépia do “Notumo"*, é s6 minha itma ter um tempinho © passard a versalhada a’ mfquina. Othe, a Estética publicou um poema meu, “Dangas”, que eu acho que tem alguma coisinha Sentro, Reflita e mande me dizer. ‘Um abrago do 1, Conservatério Dramético e Mu- go Segall uma das selas. As outras Seal de Seo Paulo, onde ema 1917 decocades por nfo sei quem, mi MA se diplomou no curso de Pia- to iio, gem aleria, sem Beleza, © fazia Stabelocimente, ondo também er ‘seu itmafo Renato, falesido ee ee san Ne Guthovaiada da Spas et Gocter ao bootie, Sum EG deta Som nt sto gee hiv Mos care dae pe HS cera cunts cara pas ‘inte anos depois, MA fala de sua Sezgugtioss imposbtidade de so ssuntos de sus especialideds, 1 8 tlepaa ‘de velo" sequerado elo Horizonte. Teaho por ele Mato-Dentro que & dos nomes 15. Ronald de Carvalho (Rio, rada por Telé Porto Ancona Lo- om, até loge, No te eauesa ha, (So Las, MA, 21VLi865 de continnar me escrevendo. Tae rmuitas vezes nfo digo tudo o que deveria dizer. Isso € mau u ‘on seria mau se eu tivesse a pretensio de dar valor ao meu pensamento. Nao sei se € bom, se € mau. Nao tenh pra ter pretensbes. E bom por outro lado, porque ccussées, resposta e eu tenho um fraco pelas cartas. Ge cartas, Mas vamos & 8 © prati Sidera a matéria de que € feita n mocidade, Ora isso de voce estudante, em exames, mocinho, envergar sereno fraque, pi- i Dalila dizer trés coisas justas ¢ sérias, so é que me aborreceu. Provou inte- ligéncia. Provou Mas nfo provou peraltice, vide, vi talidade, fraqueza juvenil. Voc€ diz que foi injusto. Uma in- justicinha apenas. Eu queria injusti fezia mal. Aos quarenta anos de recolhé-lo no céu dos 'vé que é esse todo o mal que aquela fez a voce! Anatole ainda ensinou outra jou a gente a ter vergonba a decadén- tale his- desprezo, desdém ou indiferenga. Davida pas 6 aguela davida que eagendra a curiosidade ea pesquisa, mas a que pergunta: serd? irdnica ¢ cruza os ‘bracos. E 0 que no é menos pior: ¢ literato puro. Fez lite- is. B agin dessa com que voce mesmo ‘escangalhou os pobres mogos fazendo de~ Jes uns gastos, ums frouxos, sem atitudes, sem coragem, duvi- dando se vale a pena qualquer coisa, duvidando da felicidade, duvidando do amor, duvidando da £6 duvidando da esperanca, sem esperanga nenhuma, amargos, inadaptados, horrorosos. Isso & que esse filho-da- Foi grande? Foi. Foi talvez ‘mesmo genial nalgumas péginas. Pouquinhas, gracas a Deus. Foi elegante, fino, sutil? Foi, foi, foi. Mas também foi filho-da- ‘puta, porque as grandezas que engendrou nio bastam pra pagar 12 tum s6 dos males que fez. Voce diz que ele ensinou voce @ do ser exigente com a vida... Como isso! se voce se contessa um inadaptado e tem um etrado desprezo pelo Brasil e os Drasileiros. O mal que esse homem fez a voce elo cheior io de inteligentices, abstragdes em tetra de I, filosofia escrita: nada prético, nada a sua época, Nao foi um pi sua época, Drummond, nfo € a época dele, ¢ foi e é outros gatunos da laia dele que roubaram a voc8 as riquezas da fe- cidade, que s5 pode existir nesta terra pela adaptagio, pela equilforio, Ele nfo é um passadista, mas, contradigfio entre a minha filosofia das “Dancas” ‘ataque 20 ceticismo. Nao bé contradicio, Drummond, Aliés nem € bem ceticismo a filosofia que ressuma das “Dan- t Sou cinico, n&o hd divida, Mas é um cinismo ‘que se parece muito com a franqueza atual. mecou a escrever ¢ a dancar as “D: dadeiramente aconsciente, estavam escritas as “Dangas”, que no sei quem escreveu. Depois o trabatho de poli-las que durou meses. Oue tem ali muito de mim 6 certo. Revelam pra quem ar um softimento muito dofio. Nao ha alegria ne- $6 0 Graga? com a mania de pregar a alegria, i. Elas so dolorosas, perversas, um max momento 1B ‘que passou, um tumor que esvaziei, Compare-as com o “No- fumo” e verd se o esvaziei inteiramente ou nfo. Se voc’ en- ‘contra: um laivo ‘de amargura ou perversidade no “Noturno” me diga porque hei de apagé-lo imediatamente. Ironia, tem. Essa ironia brincalhona de amoroso, de camarade, mas perver- sidade nfo. O cinismo continua. Mas cada vez se apura mais, 6 um que-bem-me importal que me liberta de todas as covar- as, que me deixa sem-vergonha, com essa herdica beleza de fafinnar: Deus existe. A mulher existe. A esperanca existe, A Patriamada existe. Suponhamos que nao existam. Mas a feli- ‘cidade nio est na existéncia ou inexisténcia deles, esti ne firmativa, aa crenga, em nds, Assim também as “paisagens porque é'um estado-de-alma. A mesma pal dela num passeio e indiferente num negécio. A paisagem é in- culta dum modo geral, no hé divida, Mes pra vocé ela & jnculta em relagéo A Gare @Orsay © a0s bouguins que o Sr. ‘Anatole France escarafunchava nos cais horas a fio, pra depois literatura. A mesma paisagem que a voce des- horas de intensa felicidade. © que nés todos queremos (0 que pelo menos imagino que ‘todos queiram) & obrigar este vetho ¢ imoralissimo Brasil dos incorporar-se ao movimento universal das idéias. jandeira, ‘enquadrar, situar a vida ma- procurando 0 equilfbrio entre os . Se lembra da Paulicéia®? ou_universalismo. O nacionalismo convém as massas, 0. uni- aver as elit ‘udo errado, Primeiro: nfo existe universalismo. O.que hf mau. : 0 Bra brasileiros — ou regionalismo Ex6tico. Nacionalismo quer simplesmente dizer: ser nacional. © que mais simplesmente ainda significa: Ser. ‘Ninguém que seja verdadeiramente, isto é, viva, se relacione com © seu pas- 16 sado, com as suas necessidades imediatas pric iri se relacione com o meio © com "fom a fan et que seja verdadeirame despaisamento provocado ps contaminagio de costums macaqueagio que exis por causa da leitw igeifos por causa da ingénita os seres primitivos, ainda, doenga que foi chamada moléstia de Cha; de que todos estamos ti x ‘E_preciso comegar esse trabalho de abra- sileiramento do Brasil, dizia en noutra carta, a um rapaz de Pemambuco*. H agora reflita bem no que eu cantei.no final do “Noturno” © voc€ compreenderé a grandeza desse nacio- nalismo universalista que eu prego. De que mancira n6s_po- demos concorrer pré gran humanidade? E sendo fran- S0 jest na civilizagio. O lero. O dia em que nos ‘nosso acorde, entio seremos usados na harmonia da civilizacdo. Mo comproende beri? Porque também ese universaliemo que guer acabar com as pétrias, com as guerras, com as racas, etc. é sentimentalismo de alemao. Nao é pra ja. Esté longissimo. eelva is is civilizados que ‘és as nossas casas de Belo Horizonte e S. Paulo. Por uma simples razdo: nfo hé Civilizagdo. HA civilizagdes. Cada uma 15 se orienta conforme as necessidades ¢ ideais dams raca, dum meio ¢ dum tempo. Dizer por exemplo que os egipcios da 18. dinastia representam um degrau da civilizagio antiga que 1880, como os franceses do sée. Go sé. 20 etc. Me diga se dep epete que nfo encontra n0 se em apoio A minha (sua) atitude me absolve”. Néo & 0 corado co falso consigo mesmo no principio. Nada agos cruzados, Nada de dizer: nacional. A graga divina de- 1m os tratadistas catélicos. Voos ‘costume, niio ‘as outras. gera- , tenho esperance ‘vergonha nenhuma. Teno um grande orgulho disso. Rio de todas as civilizagées, porque jé tenho a minha pessoal. Estou exausto € ainda no falei nos seus versos... Gostei. i prosa por enguanto seja mals segura que os seus versos. No entanto a prosa 6 mais diffell que a poesia. & muito simples: a sua prosa vem da ci ‘ilizagGo que morrea com a guerra, Vocé ainda & muito civi- lizado antes-da-guerra, pra cair de chofre no primitivismo deste séc. XX, que provocou o lirismo de certos alemées, rustos © franceses atuais. Isso € natural. Estou me lembrando daquela 16 frase que escrevi no prefécio da Paudicéia, “Ninguém se liberta duma ver das teorias avés que bebeu”. Comigo se deu a mesma coisa. Paulicéia 6 uma mistura de simbolismo até parnasianis- riticos de poesia no Brasil... No Minka Terra i «que eu invejo, hé poe- . Mas como voce ainda esté muito inteligente de cabeca pra cair no lirismo, repare que hf muita coisa que é contado com meméria em vez de vivido com fsensagdo evocada, Disso um tal ou qual elemento prosaico que diminui a variedade do verso-livre porque o confunde com a prose, Todos nés temos isso. Eu tomei o partido de escrever forma € perfeito. No “Orozimbo” a piada (0 sei, nflo gosto muito disso, Tenho-a impressiio de ‘escreven aguilo s6 pra acabar. Pode ser que me en- gan fo meio do caminho” € formidével. E 0 mais forte exemplo que conhego, mais bem frisado, mais psicolégico de ccansago intelectual ®. Como pratico com 0 Manuel Bandeira © © Luts Ar eles comigo, mando-te os teus versos com ‘lgumas sugesties. Mas. quero que eles voliem pra mim. Pre- cso deles em minha casa enguanto no se publicam. E até logo. Lembrangas 20s amigos. ‘Um abrago do coragiéo Mério de Andrade POLITICA Ele vivia isolado na sua casa; seus amigos abandonaram-no ‘quando rompeu com o chefe politico. jornal governista ridicularizava os seus versos, ‘as versos que ele sabia bons. Sentia-se diminuido na sua gloria, enquanto erescia a dos seus rivais, que apoiavam a Camara em exercicio. 10 que ninguém aqui percebeu porque, Deus int Entrou a beber licores fortes, ¢ desleixou os seus versos, J néio tinkia discipulos. 56 os outros poetas eram imitados. Uma ccasio em que pe tna dinhcro E teve vontade de se atirar. 11924) (Observagtes de M. de A.:) isolado em casa amigos abandonaram-no dos rivais ‘Que abundancia francesa de possessivos! CONSTRUCKO Um grito pula no ar como um foguete, vindo da paisagem de barro timido, calica e andaimes hirtos. O s0l cai sobre as coisas como wma placa fervendo, Um sorveteiro corta a rua. E 0 vento brinca nos bigodes do constnutor. como placa O sorvetciro Que abundancia francesa de uns! NOTA SOCIAL, © poeta chega na estorao cesses cometimentos de todo dia, uma ovacdo 0 persegue ‘como uma vaia. Bandas de miisica, foguetes, ruldo de gente, jonjom dos automdves, os bravos. . © poeta esté melaneblico. Numa drvore do passeio piiblico (methoramento da iiltima administragto), uma drvore verde, prisioneira de grades, canta uma clgarra. Canta uma cigarra que ninguém ouve um hino que ninguém aplaude. Canta, numa gléria silenciosa. © poeta entra no elevador, © poeta sobe, © poeta fecha-se no quarto, (1924) © poeta esté melancélico. O grito £1923] come fonts na esto gots ds regina, Bravo cometimentos no gosto PASSA UMA ALEUADINHA Passa wma aleijadinha, toda curvada no seu vestide de chita (uma coisa nas méos do destino) Vai apoiada as muletas, que batem na caleada, vai apoiada,.'. vai coxeando. E ninguém a vé na sua tortura muito real, ninguém @ vé fugindo dos autos, recuando, tropecando, Insistindo. todo mundo tem negdcios, amores, aperitivos ‘a tomar. A aleijadinha vai coxeando. ‘Sibito, um bonde dispara. 4 aleijadinha corre... as muletas caem... Ela torce o corpo, desamparada, e rola nos paralelepipedos. ‘Mas logo se levanta (foi apenas um sustot) acha uma muleta aqui, ouira acold, ¢ Ié vai toda curvada, coxeando. [1924] acold Que palavra horrivel! $6 se emprega em livros didéticos. Deixemos isso pra Portugal. MA publica'o ensaio “Da fadiga intelestual”, que assim comeca: ssago intelectual certos eee oe Sree eta e, alltat nal oe mee Pelee ee gr re Tea ere Pah m Carlos Drummond * Tongamente a sua carta, O artigo eu jf nha Tio. Muito bom. Osvaldo® tambi 34 seguiu pro Papier S. Paulo 21/1/925 NOTAS Dediceteia em th via Lealdade, Rua da. Boe, Vista, es eee a 62 (OC, 1). Como sé vé, MA mio 2. A Bscrava Que Nido # tsaure. inka editor. Bepositrios em Sio Paulo, Livre 5. Oswald de Andrade a

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