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Eni Puccinelli O Pontes SUMARIO Reflexes Sobre A Siuagi Teica das Cit [speialmente, dP As Cigncias Hi N imanas ¢0 “Momento Atual ns A Aplicagio dos Concsitos da Lingusica para a Melhor dhs Técnicas de Andlise de Conte speificidade de uma Disiplina de Interpetagso Andie de Discurso na Fran Posto Sindical eTommada de Partido mas Ciencias Humanas Soc As Masas Populares sto um Objet Inanimad? Anse de Discurso e Informa. Sobre os Contests Epistemalé Anil de Discurso. Hs uma Via par Linguistica Fora do Logicismo do Sociologia? Bibl LER MICHEL PECHEUX HOJE! dr ndepemceens se oeginet eer cl Phe) ‘Comeso este veo com as epigrafes, nas primeira piginas, de dois autores ingleses, Dadas certas condiges da produgio de M. Péchews, me parece préprio trazer algo da literatura ingles ois autores: Keats e Shakespeare, No que diz um, o sentido da beleza, no outro a ronia ("tongue in cheek”, dizem os ingles Este timo esti no gosto de Pécheus, e na andlise de discurso, pelo joke e pelo Wits. O primeiro, porque nao se pode pen a linguagem sem pensar a beleza. A lingua brincando com ela A cada releitura, um sentido, insistence, e faz sempre presente em relagio a este autor, Michel Pécheux: ele pensa Politicamente, O politica ~ ¢ mesmo a politica ~ no lhe vem Por acréscimo. E constitutivo de seu pensamento. Essa € sem vida uma qualidade marcante da sua autoria. Mas no fica Xi, Hid muitas outras qualidades e vou mencionar apenas mais tuna, que me impressiona: com aleicura de Michel Pécheux, nds amos um método para pensar a lingua, aslingua, as linguagens ts sentidos, os sueitos, o mundo, Por mals que os posiivists| Tfemamento sobre inguage. Fer docs o quad das Setjto, como entidon.Incdmodo. Difei, Sempre ainda a orb nacabad. No entant, fio que acontceu de mais saan no tela 3X ma Fangs Alargrseo capo da flea ces designing (Langage.37,1973), di M, Péchews uma homenagem sec autor, Minha homenager, desde que Ge pum sempre a aberuura pars novesflexbes. Como de ‘le de dicuno prposta por Péceax éum campo aber ficodenquccompreene endo exe autor € 0 queda desenol- Te seotvo:Socialar agi aque te aces. Tear 0 4 linguagem; meser com os auromatismos, com 2 ilusio de transpargncia, fcr se movimentar telagdo dos sujitos com os sentidos , quem sabe, com o mundo, Pelas plavras que tenho tuvido, isso acontece iniimeras vezes. O prazer em ouvi isso € parte da relasio com este autor com a qual pude constcuir tum discurso que me permite produzir o conhecimento que me fascina: oda linguagem, em que o politico €o sujeito io partes dele, Na andlise de dscurso pratico uma rlagéo de consstencia com minha prépria hirer, Mais do que isso: encontrei 2s condigdes para produsiealém do ldo, desenvolver esse campo de anise abrindo sempre novas possbildades para o presente 0 futuro, no conhecimento da linguagem. Este lio, portato, é mais uma das homenagens cotidia- nas que tenho feito a Michel Pécheux, © fundador da andlise de discurso. Eno é outto o sentido de minha homenagem: conocer, fazer conhecer a linguagem, conhecendo textos de Michel Pécheux Ikra Roe €a que tenho proposto em meu tabalho sobre Nisa das ida ingulsics, quando cc o ue lam em “rcepto do autor no Bas” Na penpectva, que a minha, lilo com obra deste aus sempre pat de uma posigfo Cabal cm perpectiva Nos asontnor conor aut para sutra, Descolonivara vida intelectual no € uma minha pre no €pequeno osc, quando alo h minha volta, dos qu tstblecem com o que vm de fora uma relaio de adlgs0 ingles ede submis, propis ecg do colonizado. Este conjunto de textos que reunimos neste vr, presenta, cm grande medida, as reflexes necesitias a Michel Pécheux para preduzira madanga de terreno que ee se propunhs para laborar TVandlise de discurso, Para sso, ele movimenta 0 tempo todo os discursos de diferentes campos cientficos — em romno da noo ‘dc sujeito, de cigncias humanas, de ideologa, de sociedade, de politica, etc—e de diferentes teorias. Nesse sentido, ext livro tomas um excelente observatdrio da constitu e claborasio dle uma teoria, de um método e da caracterizago tebrica de um objeto. Desse modo, podemos considera, nes litura, também x importincia desses textos para os que se dedicam &histria das ideas ¢ especificamente & histria das ideis lingulsicas. Nao 1 comum aos que colocam sua mochila has costae acm A procura de uma origem perdida ~ de fazerem tuma histria sem a leisura do arquivo, ou sea, sem a consulta do discurso documenta. Nic falaremos 6 em homenagem. Nosso objeto de reflexio aqui sio os textos de Michel Pécheus, 0 fundador da chamada Escola Francesa de Andlise de Discurso. Textos estes menos lic dos porque menos conbecidos, publcados em revisas de pouca cireulagio, ou apresentados em coléquios e mesmo em joonas. Textosraros publicados hi mais tempo que outros. Textos que cram antes de tudo textos de reunides de trabalho, Textos de inven: “Qual € esta stuayio de pensamento em que vist 0 [que nao se v2”, Textos de tomada de posigio. E queremos aqui ‘rostrata importancia da leitura desses textos. Propomos uma ‘evomada. Mas como est na propria anise de discuso,retomar ino € repeti. Repett nio éreproduzt: Nao esquesamos que, nos anos 1960, anos da entrada em. ‘ena da anilise de dscurso proposta por M. Pécheux, a questao do revisionismo jf era uma q tno tema da leitura, da interpretacio, elaborado por di intelectuais (Althusser, Lacan, Barthes e outro). sido muito presente. Presente E essencal ero Capital, dra ento Althusser (2007). Con tinuando,diza ele: “deve acrsentar que énecesri eesencial er ‘ester Lénin e odes or grandes textes, nows ow antigo, aos qs Sedeveaexperiéncia da lta de clases do movimento operrio inter: sencial estudar os testes pico do movimento op ‘reoluciondvio em sua relidade seus problemas e coniradies: seu psad e acima de tudo, su hiséria presente (grifo meu) Pois € disco que se tata quando colocamos a questio do revisionismo: do passado, mas também do present, da lecur. Propomos pos le esses extos cm sua histria presente. Eo que significa isso: significa conftontar-se com o revisionism. Let (Michel Pécheax)lentamente, como diria Nietsiche Se tomamos Rancitre’, comentando alguns aspectos da posigo de Vidal-Nacquet em sua ertica ao negaivismo', ele diré {que uma das caract istcas da cultura contemporines é taxar de incxstentes as realidades soins, pliticas, ieais, cultura bioldgicas que se acreditava serem as mais bem estabelecidas (Ranciére, 1995). Mas eu vejo isso como uma constante. Sempre hi um momento em que ser modemo, ser atual, critica 0 jt ‘xtabelecido como inexistente’.E 6 nesseengano que sc instal 0 revisionismo. Deum lado, 0 telativo, de outro ndo transparén cla do real, Eu dria: ene ees, eem todo lugar, a interpreta. 0 sisco da leieua: 0 revisionismo, 5 res gn ssi ds Bagir~ cutras plat dit Mel Pensando a leitura, como a estou propondo, 0 revisionismo estéem, ao ler um autor fundador como Pécheux (poderia ser Saussure ou qualquer outro.) interpreté-lo como jf estabele ido e, portanto, hoje, inexistente, A pergunca, na verdade,& como significar a leitura desses textos na atualidade? Como refiroacima, na fala de Althusser, como eles sgnificam na sua ia de reflexdo? hisedria presente? Como produzem uma hist Como 0s lemios hoje? Como significamos © que Ii esté posto se sabemos que os sentidos no tém origem assinalével e cam pouico esto jt Hi? Ele tem seu ugar na histéria do conhecimento do discuso. Mas cle também texto dispontvel Ieturapar 0s que trabalham Iojenaandlise de discuso. E é este modo deler que nos interes Ler Michel Pécheux hoje. E acrescentamos um complicador: hoje, no Brasil. Porque os sentidos em que ele fezlfaz sentidos rio &nahistria Id mas na nossa histéra aqui que se apresenta ‘como eelevante esse modo, & que colocamos & disposigio do leitor bras lero eses textos de M, Péchews. E podemos assim refltr sobre a aralidade de sua leitura desde o que dz sobre propagandas governamentas que nos permite ‘er em nosso presente, no que fi no Basil a campanhaeleicoral, fo descolamento do discurso, pea propaganda (marketing), deta ‘modo que o que realmente deveria ser significado fica sem signi fcagio politica real, "Se é bom para eles por que nao seria bom para nds, $6 & dio aquilo que anecipa-se como o que se quet ouvir EPéchetux em su texto, nos fz compreender iso, ilando de propaganda politica em se exgotar, como se tem visto hoje em ‘iros tabalhos que giram em toene do mesmo, no discurso sobre « midiae publicidade. Ele Fiz iss, elegantemente, propondo-nos pensar esa questo olhandoas formas histércas do assujetamento do individuo que se desenvolveram com o capialsmo, como um: ‘mancira nova de geri os corpos as pits. Por outro lado, m viros deses seus teats, que eu chamaria de textos de trabalho, veremos desenvolvida asus cra a una “ie ‘mantic universal nio-ambygu, lingua “ideal” suscetvel de regular a produ a interpretago dos enunciads”.Parindo dat nos indica, fam inimens de suas formulas, a airmago do nto esabilizadoe do sujio a equivaco, quando olhamnos com os olhos do nals de cds, Seguda de uma eaborago fina dos eios da politica na linguagem,retomando sempre a conn histrica. No se pode falar das mass populares, de mudanca pola, da evoluo, enim, ‘como diz ele da hisia, como algo natural, em termos de psoas e coins, de sujcitos objets, de intengss ede estado das coi Esaasnio sia disingbestransparentes que aparecem na lin- {gua sem qualquer ambiguidade: nao se pode, segundo Pécheux, ddesconsiderara constituigio esencalmente idcogica do dscurso cedo sentido, Mas se reta, eentioflamos do politico, apagando © politico, ou simplesmente nem falamos dee, nos contentando ‘com uma porigio formalist ou logicsta, ou enti, socilogisa No deixa deenfientar a dificil tart, sujita a desizes, de tematizara questi da teoria marxista, Mas nfo o faz paraapon- ‘armeramente uma simples defiiéncia teérica, ou paralivar-se da teria, Firme em sua fundamentagio na anlise de discurso, flee a rexpeita da forma pela qual 0 "cialismo exten” (si0 palavras del) inscreve sua relagio na istria do desenvolvimento Ao capitalism, Nao deixa nunca de pensatosuicito,ahistéria, lingua, a linguagem, o discurso, E é por esa via, que critica ‘2 que procedem a uma aplicacio meraférica da Linguistica que seviria de caugio a um empreendimenta de andlise geral do Tneeligivel humano, a uma impossvel ciéncia da ralidade, a cléncia das citncas existentes. Dal sua prop osa, tio presente em seu trabalho tesco, da "mudanca de terreno” ‘Com uma clareza ¢ uma insisténcia admiriveis, Michel Pécheux, como se poder ler também nests texto, rele, dis ‘cute, tra concluses sobre a relacio da lingustica as cigncas hhumanase sociis, Analisao estado atual (anos 70 do século XX apenas?) dessasciéncias,analisa as suas bases cientificas, produz pontos de eferéncia heuristicos, aprofunda-se no que édiscurso © ‘cia, Nao podemos esquecer que un dos seus objetivesinicias| fra pensar a questio da linguagem edo simbslico na psicologia, Este asunto extra aqui presente em viros de seus textos. Fle se recusa aprender a questi da linguagem, e & ele que o diz, entre ‘o campo da biologia e oespago da liga em uma fenomenologia prico-bioligca de estratégias pragmaticas do sujeto falant, com- tormando ao mesmo tempo a existncia do simbico e do real da lingua, eado imagindrio onde sereconhece o sujito, Desconhece, dizele,aexisténca de relagiesidcoldgicas em que este imaginirio vem sinvestiredenegar o vinculo entre ideologia desejo de saber € desejo do sueito, Faz larga critica dpsicolingutstica e 20 debate Piaget Chomsky. E lembremos que, no Brasil, na época em que também nasca ese desenvolvia a analise de discurso, ram estes fs autores da psicolinguistica, da aquisigo da inguagem, domi- rants, e que se “enriqueceram” com os tabalhos de Bakhtine Falando da meméria, Pécheux nos mostra a necessidade de refer sobre oexatuto socal da meméria como condigio de seu fancionamento discursive partir da producio e interpretacio de reds de tacos. Assunto que seri retomado, em especial quando fala de interdiscurso. Aqui merece destaqueo parigrafo de um de seus textos ~"Metifora eInterdiscurso”, que tive o prvilégio de traduait: "nosso empreendimento supe, parece-me,levarasério anogo de materalidade discusiva, enquanco nivel de exsténcia Sécio-histrica, que nfo é nem a lingua, nema literatura, nem mesmo as “mentalidades’ de uma época, mas que remete is -ondigGes verbas de exstencia dos objets (cietiicos, estticos, ideoldgicos) em una conjuncurahistérica dada”. Em seguida le prope ndo se resting, prior, estudo do material textual aos ‘objecos lteririos consagrados mas a interrogar os processos de construgio da referencia discursiva compreendend os discursos cientiico, técnica, politicos e estticos. 18 Por iso, de meu ponto de vista, nio se jusificam as poses retrivas nemos toma i died de pesquisidoresque dispar eur tbjetos de analise como propricdades privada: esses sio os obetos tdaandlise de discurso So matetasde reflex para todo analista de discurso: os escritosasimagens os dtos as nas tecnologia, foros, osilncioe muitos outros, cada qual com suas especiicidades, seus

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