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Educagao em Direitos Humanos: uma nova identidade paraasociologia? m~— Dijaci David de Oliveira A educacao em direitos humanos parte da premissa de que é possi vel a constituicdo de uma sociedade mais justa e solidéria. Ou seja, € possivel construir uma sociedade que reconhega a diversidade como componente indissociivel das relagGes sociais (Benevides, 2000; Can- dau, 2007). Para tanto, torna-se necessario assegurar que a educagio (universal, de qualidade acessfvel) figure como um direito humano ‘e que 0 direito a ela seja um instrumento que dé continuidade ao pro- cesso de humanizacio (Eco, 2000). A despeito dos fortes apelos em relacio a esses dois pressupostos, nem a educasio é, de fato, um direito acessivel a todos, nem ha certeza de que ela dara conta do processo de humanizagio (Slorterdjk, 2000). Todavia, considero que o ceticismo ‘quanto a essa questo nio deve ser encarado como uma negacio dessa perspectiva favordvel, mas sim como um alerta para que se tenha um olhar critico em relacdo ao papel da educacao no processo de constru ‘do de uma cultura de direitos humanos Concretamente, temos diante de nés uma miriade de desejos incertezas em relacZo aos ideais da educagio. Nao ha como discutir cada uma das proposigées. Para ser mais direto, tomarei a leitura da Declaracio Universal dos Direitos Humanos (DUDH). Nela é possivel destacar que 0 proceso educative ocorre, do ponto de vista formal, sobretudo por meio do sistema de ensino, ¢ que ele deve ser um dos pilares do processo de difusio da educacdo para os direitos humanos (Brasil, 2007, p. 27): A presente Declara¢ao Universal dos Direitos do Homem como o ide al comum a ser atingido por todos os povos ¢ todas as nagGes, com. 1 objetivo de cada individuo e cada érgio da sociedade, que, tendo sempre em mente esta Declaracio, se esforce, através do ensino e da educacio, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adosio de medidas progressivas de carSter nacional ¢ internacional, por assegurar ‘efexivos, tanto entre os povos dos prdprios Estados Membros, quanto centre 08 povos dos teritérios sob sus jurisdicso, seu reconhecimento ¢ a sua observincia universais ¢ A partir deste dispositivo, foram discutidos e aperfeicoados novos instruments que assegurassem uma formagio de/para/com direitos humanos. Isto se daria, em especial, por meio de um sistema de ensino que certificasse como principio a formagio para a cidadania, No caso especifico do Brasil, € 0 que prevé, por exemplo, o artigo 205 da Cons- tituigdo Federal: Art. 205, A educagio, direto de todos e dever do Estado e da farm seri promovida ¢ incentivada com a colaborasio da sociedade, visan- do a0 pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercicio dda cidadania e sua qualificaglo para o trabalho, (Brasil, 2008) © desdobramento ocorre ainda em outros mecanismos legais Assim é que, praticamente sem alteragdes, o mesmo texto se encontra na Lei de Diretrizes e Bases da Educacio Nacional (LDB): [42 | Dijae: David de Olvera Ensino de Sociologia Art. 2° A educaclo, dever da familia ¢ do Estado, inspirada nos prin ipios de liberdade ¢ nos ideais de solidariedade humana, tem por f nalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para 0 exercicio da cidadania e sua qualifcagio para o trabalho. (Brasil, 1996) Fora a leitura geral, gostaria de destacar que a ConstituicZo tem © pleno desenvolvimento da pessoa como premissa para o exercicio da cidadania, Diferentemente, a LDB parte dos principios ¢ ideais de liberdade e de solidariedade humana para assegurar o pleno desenvol- vimento do educando ¢ o seu preparo para o exercicio da cidadania. 0 direito, na Constituigio, & objetivado e fruto da construgio historica Jas premissas da LDB estio bem mais préximas da perspectiva da DUDH, pois esta pressupde a existéncia de direitos naturais que devem ser reconhecidos ¢ universalizados para que sejam assegurados, com- partilhados e respeitados por todos. Com 0 mesmo entendimento que a Constituigio, outros desdo bramentos nas politicas nacionais reforgam a perspectiva da educagio ‘como meio de assegurar a manuten¢io dos principios universais, Entre cesses desdobramentos, observasse, por exemplo, o Plano de Desenvol- vimento da Educacio (PDE), 0 qual define esta como “uma face do pro cesso de soci lizacio ¢ individuacdo da pessoa, que tem como objetivo a construgio da autonomia, isto é, a formacio de individuos capazes de assumir uma postura critica ¢ criativa frente a0 mundo” (Brasil MEC, s/d, p.5). Uma diferenca singular jé comega a se destacar, pois 0 PDE aponta para a autonomia e para um posicionamento critico e criativo dos individuos (Brasil, 2007). Todavia, ainda que prevalega aqui apenas a btica dos direitos individuais, nio se deve esquecer que os direitos hu manos, desde o advento da Convencio de Viena (1993), figuram como indivisiveis e interdependentes; ou seja, 0 direito de uma comunidade no se faz negando direitos desta ou daquela pessoa (Lafer, 1998) Todos estes documentos basilares do sistema normativo brasi leiro fazem eco a intimeras outras reflexdes sobre o papel da educa ‘so. Assim, ao longo da historia diversas pesquisas tm comprovado {ducssi0 em Diretos Humans: uma neva identidade pars a sociologis? a importincia do processo de ensino. Deste modo, a escola tem con: tribuido para consolidar valores socialmente compartilhados e asse gurar aos individuos possibilidades diante dos desafios da sociedade (Mills, 1951; Hasenbalg, 1979; Osério, Soares, 2005) Nese sentido, o ensino ideal deve ser aquele que prepara nao ape- nas para o trabalho e a cidadania, Ser cidadio, em sentido amplo, pode implicar até ser alheio aos problemas e desafios sociais, ainda que se espere (¢ se indique) que o significado de cidadania abranja a partici pacio. Isso decorre do fato de que a pessoa tem a liberdade de decisio. A despeito das escolhas feitas pelos cidadios, cabe ao processo jo da autono- de ensino estimular uma formacio para a constr mia (aprender a ser), da criatividade (aprender a fazer) ¢ da erftica (aprender a pensar). Quando esse processo € examinado, pode-se considerar que alguns passos j4 foram executados no processo de individuag4o, mas ainda h4 outros desafios pela frente; entre eles, © proceso de socializagao (aprender a conviver) (cf. Delors, 1998). Este Ultimo, por sua vez, desdobra-se em pelos menos duas perspec- tivas: humanizar para agir conforme os membros de sua comunida- de e em respeito a diversidade, e ainda, em uma esfera mais ampla, socializar como pritica de humanizacio (ser membro de uma comu: nidade universal). Se a primeira etapa do processo de socializagao ~ ser membro de uma comunidade ou sociedade ~ ocorre com relativa facilidade dentro dos niicleos familiar, escolar ou de vizinhanga, o mesmo nao se pode dizer do processo mais geral de humanizacdo, Tornar-se ser humano, compreendendo o respeito 4 diferenca e ao outro, requer um aprendizado que muitas vezes escapa as capacidades histéricas vividas por muitas pessoas. Essa é uma boa razdo para que muitas priticas sejam estimuladas por meio de mecanismos internacionais, regionais e mesmo locais. Assim, desde o advento da DUDH (1948), inimeros outros do- cumentos surgiram tendo como proposicio o alargamento do es Laas | Dijae: David de Olvera Ensino de Sociologia pectro dos direitos humanos. Entre eles, destacam-se a Convencio Sobre os Direitos da Crianga (1989); a Convencao Interamericana para Prevenir, Punir ¢ Erradicar a Violéncia Contra a Mulher ~ Con ven¢io de Belém do Para (1994); a Declaragio de Hamburgo (1997), as ConvengGes n.° 138/1973 e n.° 182/199 da Organizac: ional do Trabalho; a Conferéncia Mundial Contra 0 Racismo, a Dis Interna criminagdo Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerancia (Durban, 2001); 0 Programa Mundial de Educacao em Direitos Hu. ‘manos (2003); 0 Plano Nacional de Educacio em Direitos Humanos (2006); a Declaracio de Yogyakarta, sobre a aplicagio da Legislacio. Internacional de Direitos Humanos em Relacio & Orientagio Sexual 4 Identidade de Género (2006). Isto para citar apenas alguns exem- plos de documentos internacionais Todos esses documentos possuem algo em comum: construir € consolidar valores sociais em defesa de uma sociedade que se paute pelo respeito ao outro ¢ pela valorizacao da diversidade; enfim, pela convivéncia pacifica entre todos os individuos. Mas, como dar conta dese forte desafio? f possivel trabalhar a escola como um espago de construgo desses valores reclamados pelos intimeros planos, tratados e convencies? Quem poderia aceitar esse desafio? 0s desafios da educasao em Sociologia Partindo do pressuposto de que a demanda por direitos faz parte do debate a respeito do processo de ampliacio da cidadania, é sobre cesta categoria que recaem as preocupagdes de reflexdo no ambito es- colar, Assim, nao resta divida de que a cidadania é um tema que deve ser abordado por todos. Entra no c ‘em todas as disciplinas, oferece apoio aos estudantes para lidar com a ‘riculo como tema transversal e, dinamica da sociedade, sua cultura e sua vida politica. Todavia, nao se deve perder de vista que o conceito de cidadania tem se restringido a0 Ambito do Estado-nacio, enquanto os direitos humanos vio além dos Estados, seu horizonte ¢ o planeta. Educsgi0 em Diretos Humans: uma neva identidade pars a sociologis? Mas é dessa preocupaso com os valores da cidadania que emerge a demanda por mais espaco de reflexio no processo educativo. Assim, a reconhecida deficiéncia na formagio em cidadania tem induzido a sugestio de muitas mudangas, ou de novas propostas curriculares, no sistema de ensino, o que se percebe a partir de iniimeras recomenda- ges vindas do Congresso Nacional, em especial. Berger (1987) e Lenoir (1998) afirmam que um problema social 6 um dilema de todos. Assim, ao se tomar um problema social qual quer, certamente cada disciplina tem uma contribuigio, conforme a sua perspectiva. Ninguém é, necessariamente, dono ou dona das questdes sociais. Caberia, portanto, a cada uma das disciplinas exis- tentes apresentar seus pontos de vistas e suas contribuigdes para a compreensio dos problemas que afetam a sociedade. No caso da So: ciologia, transformando o problema social em problema sociolégico Da mesma maneira, também cabe 4 Sociologia ¢ 4 Filosofia debruca remse sobre as questdes sociais. Segundo Lenoir (1998), nesse caso cabe & Sociologia, especificamente, transformar os problemas sociais em problemas sociolégicos, ou seja, utilizar todos os seus recursos tebricos € metodolégicos para compreender e dar respostas 2 eles. Essa, certamente, é a tnica da aprovacio da Sociologia ¢ da Filoso: fia no ensino médio. Essas disciplinas foram chamadas a enfrentar os desafios da construcio de uma escola cidada, uma escola plural; enfim, ajudar a construir um pensamento critico, Portanto, cabe a elas tomar os problemas sociais existentes e trabalhé-los em busca de uma melhor compreensio. Historicamente, a Sociologia j4 integrava 0 quadro de discipli nas de uma parte da rede nacional de ensino. Sua inser¢io mais ex pressiva tem ocorrido, sobretudo, desde a criacio dos Parimetros Curricular Nacionais (PCN) (Brasil, 2000), consolidando-se gradu- almente por meio de varios desdobramentos decorrentes dos deba- tes a respeito dos PCNs. Assim, a presenga da Sociologia repercutiu nas Orientagdes Curriculares Nacionais (OCN) ¢ culminou com a [461 Die: David de Olvera Ensino de Sociologia aprovasio, pelo Conselho Nacional de Educagio (CNB), do Parecer CEB/CNE n.° 38, de 7 de agosto de 2006, dispondo sobre a inclusio obrigatéria dessa disciplina como componente curricular do ensino médio, em todo 0 territério nacional. Por fim, a incluso definitiva veio com a modificagio da LBD pela lei n.* 11.684, de 2 de junho de 2008, que tora obrigatéria a presenga da Sociologia em todos os anos do ensino médio (Brasil, 2008) Nessa perspectiva, a Sociologia destaca-se como forte candidata a tomar como objeto boa parte da expectativativa de construgio da cidadania ¢ de didlogo sobre os seus principios. Esse nio sera seu ob jeto exclusivo — uma vez que se espera uma abordagem desse tema em todas as outras disciplinas -, mas a Sociologia o ter4 como um privilégio, devido 4 sua histéria de inserc4o na leitura dos problemas sociais. De certa forma, isso est implicito no processo que levou & sua aprovacio; ou seja, historicamente ela foi chamada para aprofundar fesse tema € espera-se que 0 faca. Devemos voltar-nos agora para a realidade da Sociologia € questionar 0 que as instituigées de ensino superior fizeram ( des- de 2006) ou estio fazendo para dar conta da demanda de formacio de novos profissionais. Quantos novos professores serio necessarios para atender as demandas do ensino médio? Qual o status da licen ciatura em Sociologia no ensino superior? Os novos profissionais possuem uma formagio adequada para enfrentar os desafios do en sino médio? De que forma a Sociologia pode ou deve incorporar as preocupagies presentes nas diretrizes curriculares do ensino médio? B ainda, quais os desdobramentos possiveis e necessrios para essas, disciplinas, tomando-se como referéncia as OCNs, para que, enfim, concretizem sua presenga no ensino médio? Este cenirio, sem du ida, € muito amplo ¢ complexo € requer muito mais espago para anilise. Contudo, a partir dessas preocupagdes, desenvolvo uma re- fexio sobre o curriculo. Educsgi0 em Diretos Humans: uma neva identidade pars a sociologis? Diversas leis em busca de uma disciplina: as abordagens de EDH. Ao longo dos tltimos anos, 0 Legislativo, organismos do Estado ¢ organizacées multilateriais tém elaborado varios instrumentos e do: cumentos que, em menor ou maior grau, consolidaram uma agenda em favor dos grupos socialmente segregados. A elaboracao desses me- canismos tem pleiteado uma formagio mais consequente, dentro do sistema de ensino, quanto a alguns problemas sociais. Algumas dessas demandas repercutiram sobre o sistema de ensino, mas muitas delas nio influiram em nada sobre as praticas educacionais, Essas demandas surgem da perplexidade com os problemas vivi- dos pela sociedade, mas também da preocupacdo com que esses temas sejam objeto de reflexio, Sabe-se das dificuldades de incluso concreta de muitos desses assuntos para que cheguem a sala de aula, Porém, pode-se questionar: até que ponto a presenga da Sociologia ¢ da Filo- sofia no ensino médio poderia incorporar muitas dessas preocupaces? Diante dos intimeros desafios na articulagio externa para a consolidacio da Sociologia e da Filosofia na educacio bisica, ainda ha um forte compromisso interno com essa meta. Refiro-me 4 con- solidaco de um projeto curricular nacional. Essa preocupacio ja foi objeto de virias discusses ¢ de reflexdes as mais diversas, Entretan- to, esse debate nao se esgotou, até porque, entre outros problemas, ainda nfo se chegou a um programa consensual, nao se avancou na definicdo dos caminhos mais adequados para a abordagem da Socio: logia no ensino médio. A despeito dos desafios, este parece ser 0 momento oportuno para a apresentacio de todas as demandas sociais, juntamente com a perspectiva dos cientistas sociais. Pode-se, e deve-se, colocar mais proposigdes visando a construcio do curriculo de Sociologia, no sentido de avangar rumo a uma nova identidade para essa discipli- na, Para construir esse curriculo, é preciso levar em consideragio a trajetoria cientifica da disciplina, a construcdo dos grandes referen: [asus Die: David de Olvera Ensino de Sociologia ciais teéricos, seus precursores ¢ conceitos mais importantes. Porém, nao se deve fechar os olhos para os documentos nacionais ¢ interna. ionais resultantes da articulagio de movimentos sociais e debates académicos que tentaram discutir os problemas sociais em meio & formulagio das politicas nacionais. Assim, trazer para o debate os planos nacionais e os documentos normativos relacionados com os fendmenos que compdem a realidade do pais leva a Sociologia, em sua construcio curricular, a ter mais “a cara do Brasil” Entre os varios documentos nacionais e internacionais, destacam. se alguns. No campo da infancia ¢ da juventude, encontram-se refe réncias explicitas & necessidade de o sistema de ensino reservar espago para os direitos de eriangas e adolescentes, Isso esté evidente na lein.* 11.525/07, que estabelece: § 5° O curriculo do ensino fundamental incluira, obrigatoriamente, contetido que trate dos direitos das criangas e dos adolescentes, tendo como ditetriz a Lei n.* 8.069, de 13 de julho de 1990, que insticui o Estatuto da Crianga e do Adolescente, observada a producio e distri buisio de material didético adequado (Brasil, 2007). Muito embora a referéncia indique uma abordagem no ensino fundamental, cabe 4 Sociologia indagar quanto 4 oportunidade de am pliagao deste debate, tendo como base a reflexio sobre sua inser¢4o no campo da Sociologia da infincia e da juventude (violéncia intrafami- liar, conflitos geracionais, meninos de rua, socializagio ete.) © mesmo pode ser inferido em relagdo aos temas raciais. Ainda hoje o pais depara-se com uma demanda social mal resolvida. Trata-se da inclusdo dos contetidos de historia e de cultura afrobrasileiras no sistema de ensino. A lei n.° 10.639/03 e seus desdobramentos definem a obrigatoriedade, no ensino médio, de temas como relagGes raciais ¢ historia ¢ cultura afticanas. Prioritariamente, as disciplinas Educa- do Artistica e Literatura ¢ Histéria Brasileira devem contemplar es sas preocupagées (Brasil, 2003). Mas, conforme resolugio do CNE, a Educsgi0 em Diretos Humans: uma neva identidade pars a sociologis? abordagem desses novos temas deve se estender a todos os niveis de ensino (Goncalves e Silva, 2004). Entre as perspectivas apontadas pela resolugio, afirma-se que: $1" A ducagto das Relagdesfxnico-Racias rem por objetivo a div: sa¢io ¢ producio de conhecimentos, em como de aides, posturas fe valores que eduquem cidadios quanto & pluradade émico-racal, tormando-os capazes de interagir ede negocia objetivos comuns que garantam, a todos, respeito aos dteitos legase valorizacio de dent dade, na busea da consolidacfo da democraca basleira § 20 Ensino de Histria e Cultura Air-Bradleirae Afficana tem por objetivo o reconhecimentoe valorizacio da identdade, hrs e cultura dos afrorbrailetos, bem como a gavantia de reconhecimento igualdade de valorizaso das rainesaficanas da nagion rasileira, 20 lado das indigenas, européias, asiticas (Goncalves Silva, 2004). Como se pode perceber, a8 perspectivas propostas por essas di- retrizes possuem grande proximidade com os marcos tedricos meto: dologicos da Sociologia. Essa disciplina, ao longo de sua histéria, pro: moveu uma reflexio a respeito dos valores sociais, das identidades e do reconhecimento das diferencas, além dos significados e conflitos sociais originados da falta de respeito a diversidade. A Sociologia pos- sui uma longa historia de pesquisa ¢ reflexdo sobre as relagdes raciais. Este é, sem diivida, um momento oportuno para levar suas reflexes para o ensino médio. ‘Também permanecem “6rfios”, sem espaco para abordagem no sistema de ensino, os temas referentes as relacdes de género ¢ a orien taco sexual, Tal como ocorre com os temas relagdes raciais e direitos de criangas ¢ adolescentes, j4 existem claros indicativos para que a te- _mitica ¢ 05 problemas sociais relativos a género e orientacdo sexual se- jam objeto de leitura, reflexao e aprendizagem dentro das salas de aula, © programa Brasil Sem Homofobia, conforme o item referen te a0 Direito 4 EducacZo, tem como objetvo “Elaborar diretrizes que orientem os Sistemas de Ensino na implementacio de ages que com- [set] Die: David de Olvera Ensino de Sociologia provem o respeito ao cidadao e d ndo-discriminasdo por orientagdo sexu al” (Brasil, 2004, p. 22). Uma preocupacio similar est presente na lei 11° 11.340, de 7 de agosto de 2006 [Lei Maria da Penhal. Seu objetivo € ampliar o espaco de enfrentamento da violéncia doméstica ¢ de todas, as formas de discriminagio contra as mulheres, Isso fica evidente no artigo 8, inciso IX, que estabelece, entre as medidas de prevencio, a necessidade da abordagem do tema no sistema de ensino: IX o destague, nos curriculos escolares de todos os niveis de ensino, para os contedidos relativos aos direitos humanos, # eqiiidade de géne +0 € de raga ou einia ¢ a0 problema da violéncia doméstica ¢ familiar contra a mulher (Brasil, 2006, p17) Tal propésito é complementado pelo Plano Nacional de Politicas para as Mulheres (PNPM). No campo da educagio, o PNPM tem como objetivo estimular uma formacao educacional nao sexista. Para tanto, prope a incorporacdo das perspectivas de género, raga, etnia ¢ otien- taco sexual no processo educacional de todos os niveis de ensino. Uma das preocupacdes expostas no PNPM é contribuir para a eliminac3o dos esteredtipos (Brasil, PNPM, 2006, p. 15). Virias questdes podem ser le vantadas, visando esclarecer quem fara esse debate, quem o levard para as salas de aula ¢, ainda, quem acumulou pesquisas ¢ reflexdes sobre tais temas, Entretanto, nao ha diivida de que a Sociologia se apresenta ‘como forte candidata para levar essas reflexdes as salas de aul. Finalmente, h4 0 Programa Mundial de Educacio em Direitos Humanos (PMEDH) ¢ seu desdobramento, o Plano de Agio do Pro- grama Mundial de Educag3o em Direitos Humanos. Para dar prosse _guimento aos objetivos estabelecidos pela Carta de 1948, a Organiza- ‘do das NagGes Unidas (ONU) determinou que 0 Alto Comissariado das Nagdes Unidas para 0s Direitos Humanos (ACNUDI) elaborasse um documento no qual as nagées assumiriam compromissos com a universalizacZo dos direitos humanos. A partir dos trabalhos desse co missariado, criaram-se o Programa Mundial de Educagio em Direitos {ducsgi0 em Diretos Humans: uma neva identidade pars sociologis? Humanos (PMEDH) ¢ o Plano de Aco do PMEDH, aos quais 0 Brasil aderiu, Por meio desses programas, espera-se que os paises signatarios assumam € cumpram 0 desafio de inserir as tematicas de direitos hu- ‘manos no processo de ensino, em todos os niveis. Portanto, com todos esses mecanismos legais, hé uma enorme demanda de novas abordagens para o sistema de ensino. Se algumas delas j4 vém sendo atendidas por uma disciplina, no significa que nao possam ser objetos de outra. © desafio é saber como ~ e por quem elas podem ser encapadas, se tém (ou nio) condigées de contribuir para a construgio de novas priticas sociais, e, também, de que modo « Sociologia poderia incorporar essas demandas para a construgio do seu programa curricular. Nao ha dividas sobre a identidade da Sociologia com os temas propostos nos virios instrumentos legais relatados. Essa ciéncia, desde suas origens, vem desenvolvendo debates e investigacdes sobre os te fo se trata de tomar o debate de EDH como abordagem specifica para a Sociologia, mas, sim, de té-la como um de seus pilares. [asa ss | Die: David de Olvera Ensino de Sociologia Referéncias BENEVIDES, M. V. Educasito em Direitos Humanos: de que se trata? Palestra de abertura do Seminario de Educa¢io em Direitos Humanos. Sio Paulo, 18 few, 2000, BERGER, P. Pespectivas socilégicas: uma visio humanistica, Tradugio de Do- naldson M, Garschagen. 13. ed. io Paulo: Companhia Kditora Nacional, 1987. BRASIL. Lein.* 11.684, de 2 de junhe de 2008, Altera 0 artigo 36 da Lei n.* 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educacio nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatorias nos curriculos do ensino médio, Brasilia: Didrio Oficial da Unido, n. 104, seco 1,p. 1, 3 de junho de 2008, BRASIL. 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