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A Teologia Pratica e seu lugar na Igreja Introdugéo tema do lugar da teologia prética na igreja nao 6 ‘explorado nos manuais e ensaios de Teologia Pratica, que dedicam maior reflexdo as questées metodol6gicas e, especialmente, & questo do sujelto da Teologia Pratica. Em grande medida, a auséncia da tematica do /ugar da teologia prética 6 fruto do intenso didélogo que a Teologia, em geral, estabeleceu com as cléneias humanas da modemidade, que dedicarar muito maior atengéo ao sujelto, & histéria @ & epistemologia (teoria do conhecimento e da cléncia). Por outro lado, a cartografia do espago eclesiastico n&o se revela prédiga no tocante & teologia, quase que totalmente elocada &s instituigSes de educagio tealégica, as instituigdes ecuménicas, ou aos espacos de suspelta, tendo em vista que @ reflexdo teoldgica aparentemente teria, oua tendéncia de beirar & heterodoxia, ou a tendéncia de ser mera teoria, impedindo que a pratica ministerial missionétia se exerca com criatividade. Nesie breve ensaio néo poderel responder a todas as questées que giram ao redor do tema do lugarda teologia pratica na igreja, restringindo-me a apontar —apés uma breve discussao sobre a Teologia Prética ~ possibilidades de tratamento do tema, a partir de dulio Paulo Tavares Zabatiero" um olhar semistico sobre 0 espago eclesiastico. O que caracteriza o olhar semistico ¢ a busca pela significagao, pelos meios mediante os quais o sentido 6 produzido, difundido e recebidot. Assim, Irel perguntar pelo sig do do lugar destinado & teologia prética na igreja, que considero ser um tugar ndo-central, nem periférico, mas um que pode ser designado de espago liminar. Por fim, dedicarel atencdo aos efeitos de significacdo e poder que decorrem da mudanga da teologia de um espaco liminar para um espago central na vida eclesiéstica. 1. Teologia Prética: em busca de uma definigao Teologia Prética é discurso eritico e construtive sobre ‘ago cristé no mundo presente. Fundamenta-se no discernimento da ago de Deus no mundo presente, e se constréi em didlogo - cr oe construtivo - com os discursos sobre a agdo néo- ie ‘e sobre a ago antforista no mundo presente. Aracionalidade da Teologia Prética é a de uma teoria oritico-discursiva da agao; e sua finalidade é ‘contibuir para o aperfeigoamento da apo cristéino mundo, em resposta cristica -na energia do Espirito, Santo - & ago presente de Deus no mundo. Teologia Pratica 6 teologia, na medida em que "o * Doutor em Teologia.Ditetor da Feculdade Taoléyica Sul Americana, jzabatero@ uolcom.br 240 objeto da somisica, diziamos, 6 a eigiicaga. © programa do trabatho do semictcista decorte disso: sort o de dar conta (com a ajuda de modelos @ constr) das condigSes de apreensso ¢ da produpio de sentido. Ora, 0 sentido esta am toda part, tanto nos rdtcas, tanto nos objetos culureie que produzimos como nas reakdades naturals que intrprotamos [.] para ‘o semicteista tratar-se-d, na reaidade de tentar explcitar a emergéncia do sontido no dmbito da comunisagsioem geral, qualquer que seja, seu campo de exereicio - soca, inter-ixvidual ou mesmo puraments ‘ntotir’- 0 qualsquor quo sejam também os tpos do euportes: Fingtistco, evidentemente, mas também plistco, gestual, espacial ofc. Tal objetivo requer uma teola geral da Inguagem, quo cabe- precisamenta & samitica geral consul” (LANDOWSKI;E. A Sociedade Rlletila, S40 Paulo, Educ!Pontes, 1992, pp. 58 6 60) ‘scureas como em no Belo Horizonto, vt, nt, p 7-5; 2° som. 2002 REVISTA TEOLOGIAPRATICA- FTE 7! objetivo titimo da retlexdo e construgao teolégicas 6 prético, néo especulativo™; e, na medida em que ‘primeito & 0 compromisso de caridade, de servigo. ‘A teologia vem depois, é ato segundo". O que distingue a Teologia Pratica das demais divisées da teologia (Sistematica, Histéria, Biblica) é que ela se configura como teologia da praca, como teologia que trata da ago da Igreja em resposta a agao de Deus. esta temdtica que constitui a forma delimitadora de ‘seu espago no campo do discurso teotégico, em didlogo permanente com as demais formas @ articulages da Teologia. Teologia Prética ¢ discurso’, a¢do comunicativa, atividade de comunidades néo de individuos jsolados e, como tal, se constrét a partirde didlogo de reflexdo. E preciso superara nogao de que teologia. 36 6 feita por tediogos, por “profissionais” que se isola da comunidades e vivem em meioa livtos, textos * KAUFMAN, G. D., 1993, p. 490 4 GUTIERREZ, 6.1993, p. 24 Como uma sociedade 6 sompre dvidida em grupos soci @ computadores. © papel de tedlogos na igreja & parithar a refiexdo, estimular o pensamento e a ago criticos e construtives® . O didlogo exige sempre, por um lado, espelhar, mostrar a imagem de outro - no encontro face-a-tace, a fim de compreender a outra pessoa e aquilo que ela diz e faz; por outro, exige voltar-se para trds de si, pensar ponderada e cuidadosamente sobre os nossos proprios concettos, valores, sentimentos, de modo que 0 didlogo seja significative e transtormador. Como discurso sobre & ago crista, 0 sulelto privilegiado da Teologia Pratica 6 a comunidade cristé em ago no mundo, para a qual a Teologia Pritica servird como meio @ expresso de discermimento” simultaneamente critico € cconstrutivo (v. Fim 12,1-2; Cl 1,9-12). € discurso erftico, na medida em que a agao cristé no mundo néo pode se conceber como perteita, completa ou absoluta, o que seria idolatria® — @ este om interesses dvergontes, nao ha uma perspectiva Gnica sobre uma dada questo, Os heviducs, en seu esos, defendem una ou a posed gered no nar da socacade am que vvem. © duro ‘ sempre arena em que tam esz0s ponte de via om aposio, Um dele pode se dominate, isto 6, poceconar com aadeséo de. ‘ndere maior de pessces. Isso, no entanto,ndo elimina ofato de que concepgées contri se articular sobre um mesmo assur, Um “Geouts 6 sempre, poi, a mateacagao do ura mancia social de considerar uma queda” (SAVIOLL, FP. & LORIN J. Uicdas de texto: leitura 0 radegdo, SEo Paulo, Aca, 1966, p. 20) {0 telogo 6 o heme da comuricago na rea i carega uma tnguagem elgiosatreamonte cit, resuitace de ua lorga isin CConnece eentenas de palavras e sabe usd. ‘Quando tala, faz com que a lingua da Igreja cule. [.] Os tediogos sé agente de comuricagio: agom no duplo plano dos ertios que se convertam & sua vocagio @ do mundo que asia & espera de und alsa Gomprooreivel Ele no sfo os condutoces da avangetzaqSo, mas somento os especiaists em palawas, Porém, no se evangsiza semente com pelaras. © Evangeio6levado por pessoas viva, nas quai a id, os als ¢ os comportaments esisracem as Palavas (0s discursos, as intervengées, cs apelosrecebema sua forga da pessoa. Os evangalizadores to pessoas comuns qv vem infensamenie © Evangelho.” (COMBLIN, J, 1986, p. 982, 987) + Enlendomes por decernimanto eft a sca concrete da votat de Deus, no somente pera ser cptada, mas tambim ars $9¢ realzada, Entendemos o dscemimenio, portanto, no 96 pontualments, mas tarbém como um processo no qual a venice de Deus vcadeada vei também a vortad do Deus ponsada,"(SOBRINO, J.°O segumerto do Jesus como discrrimento cristo" Jesus na “América Latina, Seu sgniicade para a (& 6a cristiogi, So Paulo, Loycla/Voze, 1985, P 199) ‘“imposevel amar o que 6 Dau posivamenta, 0 conhcinento de Deus no 6 ono-conhacimanto, mes sim um desconhecmneno, no retorene a Deus, odo progreato de conhecimento 6 paradoxalmento um progesso de desconhecmeto:oearinho val em rego de ravaa, oe drogio &negegio do tudo o que cromos saber ouprovar de Deus. a catno dos istic, de todos os que experiments 1 Dove como uma tisimadura om sua exténea, a prova da nate edo desert. £0 carnho que nes fra da uso, do imagine, para proxmar-nos da vrdade que nos conduz om diego & protuncade dens meses, Aprende acorhecor a Deus, m primero oar a cata momento, digl-nos em dregio a née mesmos,é aprander a conhecer‘nos, a eccitaro que procade de nés @eabéo clear A cada passo, conhecer a Deus é lvrar-nos de noses faloos deuses, 8 -RewsTATEGLOGAPRANCA-FRTESH pré-fabicados:cada dia, imagens fantasiosas ou sublimadas ¢o Belo Horizonte, vf; mt p 7-15, 2° som, 2002 um risco que a igreja sempre corre, na medida em 1s do ser humano é considerar que uma das tendén a si mesmo como agindo sempre corretamente, deixando os erros para 0s outros. A agao crista deve ‘ser acompanhada constantemente do discemimento do agitda comunidade crista, na busca de kfentificar (08 nossos erros @ Os nossos acertos. Por mais amadurecida que seja.a comunidade cristé, sua ago cestard sempre aquém da plenitude do agir divine ao qual 6 resposta pessoal no tempo e no espago. Ao mesmo tempo, porém, € discurso construtivo pois no se restringe @ descobrir e apontar erros, mas, buscando sempre responder de forma positiva & ago de Deus®, que tudo criou e a tudo vivifica com a Sua justa e amorosa presenga, visa construircomunidades de reconciliagéo, amor e justiga. As comunidades crisis sero, assim, protétipos do Reino de Deus, sero primicias do Reino, espagos onde as pessoas poderéo encontrar amizade, companheitismo, sentido para a vida e, especialmente, poderéo encontrar Deus presente e atuante. Porser teo-logia, 0 eritério ultima para a elaboragtio, A Teologla Priica @ seu lugar na fgreja da Teologia Pratica nao 6 a préptia acao crista, néo 6 a praxis crist8, mas, sim, a ago de Deus". De outa forma, ao invés de teologia, torna-se uma técnica, apenas um modo de fazer, uma estratégia. A verdade da Teologia Pratica deve estar em correspondéncia com a ago de Deus que tanto est imanentemente presente neste mundo e na Igreja, ‘quanto transcende a toda a realidade criada; o Deus trino, forma verdadeira da com-unidade na diversidade, amorosamente Amigo e Reconciliador do universo (Ef 2,11-22; Cl 1,16-20). Enquanto teo- logia, 0 discurso teolégico pritico esté inserido na hist6ria humana e parilha de todas as caracteristicas da historicidade humane. Particularmente, deve ser tessaltado 0 caréter provisério e dialogal de toda elaboragao teolégica, sob 0 risco de a teologia transformar-se em letra morta." Por ser cristé, 6 discurso cujo paradigma da aco no se encontra na Igreja, mas em Jesus Cristo, Alfae Omega de toda a criagdo, cuja presenca ative no mundo presente é articulada e configurada pelo préptio eu, Tudo sto nfo & Deus, Desta mansira, Dous ngo est aqui cu all, Deus est constantemente em outro lugar. Em dtimo temo, Deus Divino, 1882, p. 28) ‘ausente, Resta-nos o nada, na nguagom de So Jodo da Cruz." (VILANOVA, E. para comprenderia tctogia, Estella, Verbo “4A toalogia nfo &ciéncia de um cbjeto que he permanece estrarho ou indiforonto: la 6, miito mais, eabedora, conhacimento que 62 ‘une A experiéncia prazerosa @ amante, Iminaeo que vem do fundamento @ prrrompe na busca @ @ abre &profundidade de Deus, Ela 6 ‘act’ do Espo peselo’ de cralura, ,justamente, enquanto tal, tora-ee terbém ago do homem e palo do Mitéro, que entra ‘a hurikdade das palavras huménas.” (FORTE, 8. A teologie como companhelra, memétia e profecia, Séo Poul, Pauinas, 1801, p. 195) 8 clancia se enzerra na imanBnca;@ tecogia, enquanto fala de Deus, rio pode renunciar & Transcendéncia. O sentido cistéo de Luma prtica ndo 6 dado pela prépria pation. Para que se possa descobrir as pegadas de Deus no mundo, na pética, na experéncia, 6 necessério que ndo se considers este mundo como fechas, como se as dnicas expicactes e relidades passives lassem as empitices } O crstanismo esta inexoravelmente unido a Cristo, a Cruz a ressurrelcfo. Aose separar disso, a teologa se pare Isto a une as Escrturas e & Traci¢go posterior. Nenhuma argumentagéo pode dizer-se cisla se ndo pode se unir a Cristo por meio da ‘primera linguagem que @intepretou. A ortoprinis no pode substi os demas ertéros.*(REFOULE, F. "Nuevas orientactones de la toologia’ Selecciones do Todlogia, Buenos Aires, 1974, 0.50, pp. 94 96) **-Uma posigé teolégca transforma sua unifsteradade meramente fina am grave ero, cas0 nao acolha acontrabalango,o uigamento .¢ 0 aprimoramento que os pontes de vista opostoe costumam trazer. Eno sores historicos, a vardade aparece no diilogo, nascendo leticamente do confronto dos opoetce @ do nove © mals rico consenco que pode surgi desse controntono Espirito. Aconseqatnca Imediata da verdade de nossa fiilude histdrica eda agéo do Esplio Santo entre nés é que a condigio essancial para a verdade dentro ‘da comuridade 6 a fiberdade do debate feckégica. A ‘ortedoxia’reprecenta um consanso histético, a sor contrabalangado, cricado © _aperfeigoado por meio de debates posterores & medida quo as situagdes cultucis se transformam, as interpretazSes do Evangelho ‘mudam @ 2 relatividade até mesmo daquele consenso se toma evidente, Somenta na atuagéo dinémica do Eopiito Santo alravés de leronies perspectivas da Ire total & que @ ortodoxia se toma “ortodoxa" @ no no absolut de uma perepeciva dentro do todo." Bolo Horizanto, 1, m1, p 7-18, 2eatn. 2002 ReNsTA TEGLOGIAPRATICA- FATEH - {OIOHTANE s = = a = = Espirito Santo que a tudo e todos permeia como luz e vida, @ que energiza a comunidade crista para ser agente historica da vontade divina. A Teologia Prética, neste sentido, visa construir um saber discursivo que nos permita seguir a Jesus®, imité-Lo e caminhar ‘em sous passos (Mc 1,16-17; | Pe 2,21; Ef5,1-2). Por ser teologia da ago crista no mundo, s6 pode serfeita em permanente co-relaeao discursiva com 0 ‘mundo em apao; tanto a agéo ndo-ctisté, ou seja, aquela agao que reflete o agir de Deus, mas néo se configura @ partir das comunidades e instituigSes cristas; quanto a ago entendida como antreristé, ou seja, aquela que se configura de forma contraria a0 paradigma cristico, e que a tradigéo crista nomeia como pecado. Nas palavras de Jesus, a teologia prética deve ser sal da terra e luz do mundo, e para, sé-lo, precisa dialogar, precisa estar na terra e no mundo, mas sem ser do mundo (Jo 17,11-18). E, sendo discurso sobre a ago cristé no mundo presente, & con-textual”, articulada a partir dos limites e possibilidades da ago no tempo @ espago especiticos da comunidade cristé que a realiza. Por ser reflexo cristé no mundo, e teologia pratica sera discurso missiondrio, evangelizador, discurso que alimenta e nutre a prética missionéira da igreja."* 2.0 lugar da Teologia Pratica na igreja Para um observador comum, os espagos de uma igreja se apresentam com certa clareza: 0 espago Itérgico, no quel se dao os cultos, as celebragbes, a pregagao e os antincios institucionais @ eciesi is;0 ‘espago educacional, no qual se retinem grupos de crentes, divididos geralmente por faixas etarias, a tim de aprender mais sobre a sua 16; 0 espaco institucional, aquelas salas e lugares dos templos 20s, uals comumente 0 visitante néo tem acesso, ¢ no ‘qual se realizam es reuniées acministrativas e politicas da igreja; 0 espago comunional, no qual as pessoas se encontram, conversam, se abracam, partilham um cafezinhio, ou um ché, ¢ se despedem; ¢, tinalments, ‘0 espaco missiondrio, no qual a igreja realiza a sua atividade em beneficio das pessoas que néo fazem parte deta, seja através da evangelizaco, soja através de varios ministérios diaconais. Nota-se, nesta bre sima cartogratia do espago eclesial, a auséncia de um espaco propriamente teolégico. O observador atento, porém, perceberia que essa auséncia nao é plenia, na medida em que a teologia se faz presente, de uma ou de outra forma, no espago litirgico (sermao, canticos), no espaco (GILKEY, L. “0 Espirito e a descoberta da vordade através do didlogs”, In WV. AA. A expannca do Eepinto Sento, Petplis, Vozes, 1979, pp. 209-204) 1 A toologia vive da oragio, sempre de nove afmertando-sa nela através da escuta obodionte da Palavra do advento: rando, 0 teélogo ‘conformar-se-d com Cristo, a0 eeu misttia de etema ecclhida do amor fonal. A telogla, ensamenta reflexive da fe, tem consttuivamente nacessidace da oragio. A teologa, enim, condiz& oragdo. Ela, pensemento do encontr com ainiciatva de amor do Deus vivo, abre-sa, ‘orando, As surpresas do Alfssimo e, orando, conhece sempre novos inicio, na experiéncia vivifcante da escuta religiosa da Pelavra ‘santa, Euma vez que a experiéncia do orar em Deus ¢ por exceldncia a dalturia, pode-se dizer que a taclogia nasce da itugia, vive dela, ‘desemboca nela. Na turgla, 0 discus tecldgico toma-se hina: na tecloga, © canta Iitirgleo toma-se discutso, raciocinio 8 dilogo.” (FORTE, 8. A teologia como companhaira, memdra @ profacia, S80 Paulo, Pauings, 1981, p. 1976.) 7a contextuaizagéo do evangelio & possival pela apo do Espiito Santo no povo de Deus. Na medida em qua a Palavra de Deus ¢@ ‘encama na igraja, 0 evangelho toma forma na cultura. € isto relate o propésio de Daus:aintaneo de Deus ndo 6 que o Evangotho se reduza a uma mensagom verbal, mas que se ancarn na grja@, através dela, na historia, Aquele Deus qua sempre felou aos homens a partir de dentro da situa hetérica designou a igrela como o instrumento para a marifestago do Jesus Cristo ern mefo aos homens. A ‘contentuatzagio do evangelho jamais pode cor lavada a cabo Indopendente da contextualizago da igraja na hitéra." (PADILLA, C. R. Mivetio Integral. Ensaios sobro 0 Pcno o a lgreja, So Paulo, FTL-BiTemética, 1992, p. 14) © conhocimanto de um lingusjr no dé aos tedlogos o dom do Evangalha, Contudo a sua miesio 6 importante para articular, orgenizar ‘desde dono uma sociedade cst, uma comunidad crit orfentada para aavangolizagio. A eciocia faz aigagdo entre os evangelizadores 0 mundo que evangelizam, entre os préprios evangolizadores @ entre estos a Wacicdo da grea de todos os ternpos. (COMBLIN, J. A Belo Horizonto, v1, 1. ; 2° com. 2002 j educacional (contetido, reflexo), no espago institucional (discusses doutringrias) e no espago missionério (pregagéo, discernimento). A presengausente da teologia no espago eclesial nos leva, entéo, a sugerir que @ teologia ocupa, na Igreja, um espacoliminar. A partir do olhar semidtico,o limiar “implica lugares de transito ou de passagem, intersticios, intervalos vazios ou hiatos, e quaisquer formas de descontinuidade, ontolégicas ou funcionais, mais ou menos duradouras, mas que se manifesta ‘sempre por alteragdes no plano espacial e portenséio entre diregées opostas."® As varias caracteristicas do limiar podem ser percebidas na espacialldade da teologia na igreja. Ela ‘cupa um lugar de passagem, transitando e sendo transitada pelas demais atividades da vida ectesial. Dependendo do valor que a comunidade outorga & teflexao teolégica, essa passagem pode ser de curtissima ou até de longa durago (neste caso, a teologia chega a ser institucionalizada na igreja, ‘ocupando um lugar especial no espago educacional, através de institutos biblicos e seminérios). Em muitos Cenétios, a teologia ocupa um lugar vazio, um hiato, ‘sendo reconhecida apenas como perigo pare a vida eclesial e institucional. E rejeitada como teoria que contradiz a prdtica, como uma reflexéo sem experiéncia, esta sendo — juntamente coma eficécia numérica — 0 critério Ultimo da verdade. A descontinuidade é outra caracteristica do lugar da ‘teologia na igreja, especialmente da teologia pratica, ha medida em que est submetida as flutuagdes de animo e valorizagao da reflexio teol6gica em geral. Um exemple de valorizagao positiva da teologia na igreja € a recepgao da chamada teologla da rosperidade em circulos protestantes brasileiros. ‘Como ela vern ao encontro dos anseios consumistas ‘orca da palavra, Petépolis, Vozes, 1888, pp. 9925) " DEL PINO, D. “Do limiar: estudo introdutr A Toologia Pritica @ sou lugar na lgrje da religiosidade contempordinea, ¢ alegremente acolhida e celebrada, tomando-se, até, no eixo da vida de instituig6es e comunidades eclesidsticas. Um outro exemplo de acolhida favordvel da teologia nos espagos eclesiais pode ser encontrado no Protestantismo de Misséo brasileiro, @ a esse caso quero dedicar uma atengao especial agora, namedida em que é responsdvel em grande medida pela construgéo da identidade confessional e institucional de varias Igrejas ~ sendo, por um lado, celebrada e, Por outro lado, questionada como a fonte do engessamento eclesial, exigindo movimentos ‘constantes de renovagéo. No que segue, apresento Uma breve anélise critica dos riscos institucionais e identitarios que a teologia oferece ao deixar oespaco liminare chegat ao centro de poder da Igreja. A conexéo entre saber e poder foi analisada profundamente por Foucault em relagio & cconstituigdo da ciéncia moderna @ as disciplinas ¢ isciplina do corpo e da mente humanos nas sociedades ocidentals modemas. A sua andlise mostra que 0s sujeltos do saber formam uma minoria celitista que contribui para a manutenggo das relagées entre saber e poder, mediante 2s quais o saber-azer 6 saber-poder e poder-saber. Partindo de uma iferente perspectiva, em busca de resposta para um problema também diferente do examinado por Foucault, Habermas tece concluséo similar: “o que conduz a0 empobrecimento cultural da pratica comunicativa cotidiana no é a diferenciagio e 0 desenvolvimento das distintas esferas culturais de valor conforme seu proprio sentido especttico, mas, sim, a ruptura elitsta entre a cultura dos experts ¢ os contextos da ago comunicativa.”** No caso do Protestantismo de Miss&o, pode-se perceber esta in DEL PINO, D. (org) Semidtica: othares, Poro Alogre, EDIPUCRS, 2000, p. 97 ™ HABERMAS, J Teoria de la accién comunicative. Crea de la razén hinclonalista, Taurus, Mack, 1987, p. 469 alo Horizonte, ut, 0.1, p 7-15, 2 sem, 2002: ewsraTectoota Prnica- FATEH Tf caracteristica presente na viséo “clericalista’ das memibresias “eigas" das Igrejas em geral. Cabe 20s pastores (em varias denominagées, apenas homens podem ser ordenados 20 ministério pastoral) © ministério (monopéli) da Palavra. Falando do pipito, 08 pastores possuem autoridade doutrindria similar Ado Papa - so infaliveist Certamente isto nao é crido nem afirmado explicitamente nas igrejas, mas tacitamente praticado. Quando uma comunidade discorda do seu pastor, substitui-o por outro cuja palavra seja “inalivel’. Parece-me que as raizes deste “dlericalismo" estejam tanto na cultura religiosa de nosso povo, quanto na mentalidade consumista da sociedade contempordnea: 0 pastor pago para produzir os bens espirituais que o rebanho consume, {feliz e bem disposto. (Isto & tanto mais visivel quanto mais nos aproximamos das correntes fundamentalistas e “mdgicas” dentro do Protestantismo de Miss&0). Em varios casos, a teologia e 0 ministério tornaram- se exclusividade dos ministros ordenados (presbiteros docentes), dos quals a Igreja exige a formaceio do bacharelado em teologia, preferenciaimente em seus préprios Seminérios. Para ministros oriundos inima de outras lgtejas, ou formados em escolas nao da denominagao, é exigido um processo de reciclagem teolégica anterior & sua admisséo no quadro ministerial da igreja. A formago dos pastores nos Semindrios segue um padréo curricular e conceptual de cotte “iluminista”, privilegiando o dominio, pelo estudante, do saber teolégico e técnico necessério para desempenharas funges pastorais. Saber esse que néo é construido a partir da préxis ministerial missionéiia da Igreja edos estudantes, mas coletado a partir dos contetidos previemente definidos nas respectivas disciplinas cientificas que compéem 0 curriculo escolar. Uma das conseqdéncias desta situagéo é o empobrecimento tecl6gice dos membros das comunidades ¢ sua relativa incapacidade de patticiparativamente na construgdo do saber teokigico edo agirministerial da Igteja. Guardadas as devidas proporgées, esta situago corresponde aa diagnéstico equivalente, aplicado & saciedade como um todo: Em grande parte, isto explica a chamada “crise da Escola Dominicat" - uma vez que ela nao “diploma ninguém pata nada", ou seja, alunos e alunas da Escola Dorninical nada esperam da mesma a ndo sero fato de que serdo alunos/alunas por toda a vida. Outra conseqiiéncla da clericalizagéo do sujeito da ago é a marginalizaggo da muther, dos idosos idosas, dos/das jovens e das criangas. A mulher $20 reservados os trabaihos que a sociedade tiploamente associa & figura feminina. A mulher pode ser diaconisa, ou sefa, assistente social, decoradora © zeladora do templo, auxiliar na preparagso da Ceia {p40 e vinholsuco de uva); pode ser missionéria (mas ndio executar os atos pastorais); pode ser professora de Escola Dominical, ou em classes de criangas, ou ‘em classes de mulheres; pode ser regente de corel ou patticipante do mesmo; pode até ser lider de ‘alguns dos departamentos da igreja local, mas sempre subordinada a diregao masculina “oficial” da mesma. Situagdo similar é a de jovens, idesos e criangas - ne igreja possuem apenas os espagos “socialmente aceitdvels” para os mesmos. A excego ocorre apenas ros casos em que homens idosos, ou jovens, ocupam as fungées de presbitero (regente ou docente), fungdes que passam a determinar a identidade da pessoa que a possul. Intimamente ligada & crise do sujeito, 0 Protestantismo de Misséo enfrenta outra dificuldade crucial: a distorgéo comunicativa. Em seus debates com Gadamer, Habermas invoca a nogéo de “comunicagdo sistematicamente distorcida” para estabelecer 0s limites do projeto hermenéutico. Apresenta trés critérios'” que. delimitam uma it ‘Todas as clagSes a eoguir véem da p. 43, de HABERMAS, J. Diaética @ harmendatica, Para a critica da hermenéutica do Gadamar, | 12.-ncistA TEOLOGIARRATICA- FATES ‘Belo Horizont, vi, #4, p 7-18, 28 som. 2002 ee comunicacéo sistematicamente distorcida: (1) “no fel dos simbolos lingUisticos, a comunicagéo distorcida faz-se perceptivel pela aplicagfio de regras que se desviam do sistema de regras da linguagem publica’; (2) ‘no nivel do comportamento, um jogo de linguagem deformado faz-se perceptivel peta rigidez @ pela compulsio & repetigao"; @ (3) “e se nds, por fim, observamos em conjunto o sistema da comunieagao distorcida, entéo chama a atengéo a discrepéncia peculiar entre os nivels da comunicagéo: est desintegrada a usual congruéncia entre simbologia lingiistica, agdes e expressdes associadas”. Como resultado dessa distorg&o, “sempre se autonomiza af um contetido excomungado do uso public da linguagem. Este contetdo exprime uma intengéo que é incompreensivel segundo as regras da comunicacao publica, e neste sentido esté privatizado e permanece inacessivel até mesmo ao autor a quem ela deve ser imputada.” No ambito individual, a comunicagao sistematicamente distorcida expressa as patologias Psiquicas. No ambito social, expressa as patologias sécio-econémicas, Desta forma, Habermas retomao problema, central no marxismo, da ideologia/talsa consoléncia, ¢ 0 reveste de novas categorias, lingUfsticas. Todavia, ao fazé-Io, no desacopla a linguagem da realidade social, pois 6 esta que, enquanto sistema, em uitima andlise gera a comunicagao sistematicamente distorcida. Ao aplicar esta categoria analitica’a critica do Protestantismo de Miss4o, vou me concentrar na “crise do pilpito”, onde podemos perceber os trés sintomas descritos por Habermas, que resultam em Uma situag&o paradoxal: émbora haja a crenga em uma certa “infalibilidade" da pregagao, enquanto expresso da Palavra de Deus, ela fica aprisionada as regras do mercado de bens simbélicos - ndo s6 no mbito da comunidade local, mas principaimente ‘no Ambito social amplo. L& PM Editores, Porto Alegre, 1967 Belo Horizonto, v1, 4, p 7-15, 2 60m. 2002 A Teologia Pritica e seu lugar na lorofa: Anteriormente, mencionei o problema da “‘naliblidade” do pilpito, aqui abordo novamente a questo da prédica, buscando colocé-ta no contexto dda rubrica da dlistorgo comunicativa. A questéc em jogo no é a andlise de conteuidos especitices do sermBes ou outras alocugdes pastorais, embora esta seja uma tarefa importante e potencialmente capaz de revelar dimensdes semanticas comumente consideradas inexistentes no Protestantismo de Missa, A questo fundamental, nos limites desta rellexdo, 6 a “aura” que envatve a fala pastoral desde ‘© ptlpito. O membro de uma igreja do protestantismo de missio, comumente, cré que 0 sermao é uma ‘™mediago especial da Palavra de Deus para sua vide. Do sermao espera conforto, motivac&o, exortagao, ensino, desatio; espera que Dous fale comele através do serm&o. Nada estranho quanto a estas expectativas, que estdo presentes nas varias denominagdes que compbem 0 Protestantismo de Missa, Pelo contratio, so expectativas positivas, teoldgica e biblicamente justiticaveis. E isto, porém, que torna mais grave @ distorgio comunicativa do pilpito, Vejamos. © Protestantismo de Missao herdou da Reforma a centralidede da Palavra no culto, que é expressa basicamente através da posigo de honra ocupada pelo sermao na liturgia. Nao tem, porém, a mésma ‘tengo para com os sacramentos (ordenangas, em algunas tradig®es eclesidsticas); bem como desculda dos demais aspectos no logocéntrices do culto: simbologia, expresso corpérea, o siléncio, a meditago, etc. Todas as partes do culto sao pensadas e realizadas om fungao da prédica, e, por um lado, & comum ouvir criticas a cultos nos quais as miisicas cantadas nao apontam para o serméo, ‘ou dele n&o derivam. Por outro lado, e de forma paradoxal, no hé muito culdedo para como contetido das musicas (hinos e corinhos) cantadas durante o evsraTEOLooINPRATICA- FATE OH 13: culto. Percebe-se, neste aspecto, uma certa esquizofrenia litirgica. Embora 0 sero ocupe 0 lugar de destaque na ordem do culto, a “preparagéo” da congregagao para ouvi-o abedece a imperatives de gosto musical e mercado de bens simbéticos. Esta “esquizotrenia" contribui para o agravamento da crise do pulpito. Embora a prédica seja “infalivel” - pois na prética geral tem sido impossivel contesté-la, debaté-la ou tornar mais participativa sua preparagao @ execugéo, restrita aos pastores ¢ alguns lideres seletos - seus efeitos concretos na vida das pessoas so muito pequenos e, por outre lado, opastor sujelto da prédica, se torna sujeito & prédica. Comumente ‘ouvimos pastores questionando @ qualidade da resposta de seus rebanhos as prédicas. Enquanto pastores, em gerel, esperam de suas prédicas que ‘ocasionem transformagées na vida das pessoase das suas comunidades, os efeitos das mesmas, no cotidiano, s&o bastante restrits, tendendo a relorgar © status quo religioso da comunidade. Nao é incomum, portanto, que os pilpitos rendam-se a0 mercado de bens simbélicos, e a prédica - embora ‘ocupe 0 lugar central da liturgia - seja basicamente reflexo das idéias, valores ¢ comportamentos ditundidos por outros meios de comunicagdo, de corte massivo. Pois, ao ser impermedvel ao debate © & participagéio mais ampla da comunidade, a prédica torna-se um ponto de canfito entre comunidade @ pastor, no qual nd é raro que o pastor seja um “retém” dos gostos da comunidade que, em titima andlise, detém 0 poder de-sustentar financeiramente com dignidade o pastor que a satistaz, ¢ de demitiraquele 14-reneraeoLoainer que nao tem o necessiirio “hope”. Pode-se dizer, finalizando, que embora a prédica seja revestida de uma “aura” sagrada, sendo objeto de grandes expectativas por parte dos membros das, igrejas, ela ndo s6 fica reduzida ao trabalho specifica do pastor - seu sujelto-, como também, por paradoxal que seja, fica subordinada acs imperatives do mercado de bens simbélicos/religiosos, especialmente o vinculado a programas religiosos de radio e televisdo, e aos produtos musicais - discos, fitas, Cds. Assim, além de contribuir para a manutengo dos sintomas e sinais da irracionalidade no mundo de vide do protestantismo de misséo, a crise do pilpito também opera negativamente na construgéo do sujeito eclesial, atribuindo & Palavra de Deus aspectos @ contelides que, mais propriamente falando, derivam das regras do mercado de bens religiosos. Palavras Finais Este artigo busca oferecer pistas para uma reflexéo sobre a teologia, a teologia pratica e 0 seu lugar na igrela, desde uma perspectiva semiético-discursiva. Duas tensées esto claramente presentes nele: a tons entre teologia e teologia prétioa, e a tenséo relativa & valorizagao da teologia na igreja. Ao enfocar os riscos da ocupagéo dos espagos de poder naigreja pela teologia, deixei inexplorado todo 0 campo das possibilidades ricas da teologia prética na vida da igteja em sua condi¢do liminar, Fica 0 convite & exploragéo dessa tematica, Belo Hortzonta, v1, nt, p 718, 28 sem. 2002: A Teologia Prética ¢ seu lugar na lgra REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS COMBLIN, J. A forza da palavra, Petrépolis, Vozes, 1986 DEL PINO, D. “Do limiar: estudo introdut6rio’, in DEL PINO, D. (org.) Semistica: olhares, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2000 FORTE, B. A feologia como companheira, meméria e profecta, S40 Paulo, Paulinas, 1981 GILKEY, L. “O Espitito e a descoberta da verdade através do didlogo", In VV. AA. A experiéncie do Espirito Santo, Petrépalis, Vozes, 1979 GUTIERREZ, G. Teologia da Libertag4o, Perspectivas, Petropolis, Vozes, 1983, HABERMAS, J. 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