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psicoY Wal 2 pp 285-254, abejun 2001 Aconstituigéo da maternidade em gestantes solteiras Angela Helena Marin ‘nines tran do rai Gnas BS Bras Aline Grill Gomes Rita de Cassia Sobreira Lopes Cesar Augusto Piccinini LUnivercidade Federal do Rio Grande do Sul Porto digre, RS Brat RESUMO A gravidez provoca intensas enogdes a vida da mulher eincita mudangas de diversas ordens, o que, por sis, ja faz com que «se periodo seja vivenciado com algumas dificuldades, que tencem a se intensficar quando o pai do bebe nao esta presente, Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi investigar a constituigao da matemidade em gestantes solteiras. Participaram, nove mtheres primiparase soteiras que estavam no tltimo trimestre de gestagao. A analise de conteido qualitativa revelow. ‘quea constituigao da matemidade em umes solteras esteve associada tanto a trausformagdes corporais, como psicolégicas sociais, que acabaram por interferir no ambito intrapsiquico e inter-relacional da gestante. A vivéncia da matemidade apareceu ligada a seutimentos de tristeza, raiva e solidao ¢ a dividas sobre o desejo de flear com o bebé. Pereebeusse, também, um gradual processo de aceitagao da gestacao, especialmente se a gestante contava com 0 apoio de familiares. Por fim, ¢ plausivel pensar que mesmo que ser mie solteira possa implicar em uma sobrecarga de tarefas. especialmente tia gestagiio e nos primeiros anos de vida da crianga, a ausénecia do pai no pode ser entendida como determinante para © prgjuizo da relagao mae-beba, pois essa cependera de como a mie vivencia esta falta e a transmite para a crianca, Palavras-chave: mie solteira; gestagtio: matemidade. ABSTRACT Maternity constitution in single pregnant women Pregnancy causes intense emotions in women’s lives and encourages changes of several orders, which by itself already shows that this period is experienced with some diffleulties, which can intensify when the baby’s father is not present ‘Thus, the purpose of this study was to investigate the formation of single motherhood among pregnant women, Participated in nine primiparous women who Were unmarried and in the last trimester of pregnaney. The qualitative content analysis revealed that the formation of single mothers into motherhood was associated with both the body changes, such as, psychological and social, which eventually interfere in intrapsychic and inter-relational pregnant women. The experience ‘of motherhood appeared linked to feelings of sadness, anger and loneliness and doubt about the desire fo keep the baby It was noticed, too, a gradual process of acceptance of pregnancy, especially if the mother had the support of fam snetbers. Finally, tis plausible to think that even being a single moter could est in an overoad of tasks, expecially luring pregnancy and early yeas of childhood, ther father's absence can not be understood as a determinant forthe loss ofthe mother-baby because this will depend on how the mother experiences this failure and transmits o the child ‘Keywords: single mother: pregnancy: maternity, RESUMEN La constitucion de la maternidad en gestaames solteras E] cmbarazo provoca intensas emocioncs en la vida de la mujer ¢ incita cambios de diversas ordenes, lo que, por si solo, ya hace con que ese periodo sea vivenciado con algunas dificulrades, que se pueden intensificar cuando el padre del bebe no esta presente, En ese sentido, el objetivo de este estudio fue investigar la coustitucion de la maternidad en gestantes solteras. Participaron nueve mujeres primiparas y solteras que estaban en el titimo trimestre de la gestacion. El andlisis de contenido cualitativo revel6 que la constitucion de Ia maternidad en madres solteras estuvo asociada tanto con las transformaciones corporales, como con las psicoldgicas y sociales, que acabaron por interfer en el aubito intra psiquico y de relaciones de las gestantes. La vivencia de la matemidad aparecié relacionada a sentimientos de tristeza, ‘enojo. soledad y a dudas sobre el deseo de estar con el bebé. Se percibe, también, un gradual proceso de aceptacién de la gestacién, especialmente si la gestante contaba con el apoyo de familiares. Por fin, es posible pensar que al mismo tiempo que ser made soltera posa implicar en una sobrecarga de tareas, especialmente en la gestacion y en Jos primeros aflos de vida del nino, la ausencia del padre no puede ser entendida como deteminante para el prejuicio de la relacion rmadre-bebé, pues esa dependerd de como la made vivencia esta falta y Ia transmite ala erianza, Palabras-clave: madre soltera: gestacién: matemnidad. A consti da meceridade om getaressoltirat INTRODUCAO A gravidez & um periodo marcado por diversas mudangas significa para a mulher uma experiéncia singular, repleta de intensos sentimentos (Brazelton ¢ Cramer, 1992: Klaus ¢ Kennel, 1992: Raphael-Leff. 1997, 2000). Ela se caracteriza como uma época de transicao que envolve importantes reestrumuragoes na identidade e nos papéis exercidos pela mulher, bem como incita a revivéncia de experiéncias anteriores (Maldonado, 1997), Constituir-se como mie & anterior a gestacdo de um filho e comega desde as primeitas relagdes € identificagdes da mulher, passando pela sua ado- lescéncia e 0 desejo de ter um filho (Aragao, 2006: Brazelton ¢ Cramer, 1992: Missonnier e Solis-Ponton, 2004; Szejer e Stewart, 1997). Contudo, na gravidez que a maternidade adquire um caréter de exercicio, na medida em que ja existe de fato 0 bebé, Alguns autores compreendem a gestacio como ‘um momento de preparagao psicolégica e constituicao da matemnidade (Smith, 1999: Raphael-Leff, 1997: Brazelton ¢ Cramer, 1992: Szejer ¢ Stewart. 1997: Bibring, Dwyer, Huntington e Valenstein, 1961).A visto de Stainton (1985) vem de encontro a esta concepsao, pois critica a utilizagao do termo “nova mae” somente no periodo pés-natal. Segundo 0 autor, desde a vida intrauterina a relacio entre pais e fillhos comeca a configurar os papéis paterno € materno. Também 0 estudo de Piccinini, Gomes, De Nardi e Lopes (2008), que investigou os sentimentos de gestantes em relagao 4 matemidade, corroborou essa ideia, indicando que nna gestagao as mulheres j4 estavam experimentando a matemidade propriamente dita, visto que se sentiam completamente voltadas para o bebé. tanto nos aspectos objetivos da sua vida, como na organizagao de espago e de tempo, quanto nos aspectos subjetivos. como sentir a responsabilidade de se cuidar, alimentar-se ¢ conduzir a sua vida presente e furura tendo nitidamente a presenga constante dependente de um filho. E por este movimento de voltar-se para o bebé, que os autores ressaltaram que a gestante ndo pode ser considerada ‘uma furura mie: a natureza de seus pensamentos e sentimentos € atual e caracteriza uma relagao e um espaco psiquico dedicado ao bebé jé neste momento. Diante de todas as mudangas e revivéncias, a experigncia de gestar exacerba a sensibilidade da mulher, tomando-a suscetivel a desequilibrios emocionais (Raphael-Leff. 2000). Assim, a gravidez pode tanto desencadear uma crise emocional e um desfecho patoldgico, como promover um potencial de resolusao de conffitos (Bibring e Valenstein, 1976: Maldonado, 1997). No entanto, mesmo quando o 247 periodo gestacional nao engloba intercorréncias, outras, sitnagdes conflitivas podem vir a se somar ao contexto da gestagao e as dificuldades tendem a se intensificar. Uma destas situagdes é a falta de apoio social. especialmente a falta do apoio do pai da crianga. © apoio do pai da crianga tem sido indicado como ‘o mais importante durante a gestagiio e os primeitos meses de vida do bebé (Dessen e Braz, 2000). Brazelton (1988) fez referencia ao papel do pai como fonte de ajuda mie, auxiliando-ana visualizagao do bebé como tm ser separado de si mesmia, bem como no desenvolvimento da competéncia matera em amamentar ou alimentar a crianga. Assim. a presenga do pai e o reconhecimento de que o bebé é também fruto do seu desejo auxiliariam, amie a compartilhar a responsabilidad da criagao & dos Exitos ow fracassos com a crianga, o que tende a minimizar seus sentimentos de ansiedade e incapacidade frente a esse novo papel. Além disso, segundo Stem (1997), a figura paterna tem papel importante na construcao do apego da mae com seu bebé, Este autor compartilla com Winnicott (1971) as ideias de que, se a mae se sentir amada como mulher pelo pai da crianga, ela tende a cumprir mais adequadamente as tarefas de set mae. Corroborando esses esttidos, Brazelton ¢ Cramer (1992) apontaram que © apoio amoroso do pai ajuda a mulher a desenvolver sta fanga0 maternal, Embota 0 pai exerca papel importante durante a gestacdo, principalmente devido ao apoio que pode prestar a mae, algumas configuragdes familiares que co-existem atualmente na sociedade ocidental nao con- tam com a presenga patema, como as familias de mies solteiras. A expressto familias de mées solteiras s¢ te- fere, no presente estudo, as familias constituidas de uma mulher que no mantém relagao estavel com um com- panheito e, desde 0 inicio da gestagao, assumin a res- ponsabilidade de ter um filho sem o comprometimento do pai biol6gico ou de alguém que o substituisse. Estudos brasileiros realizados com mies solteiras tém indicado que, de modo geral, a gravidez dessa mulheres ocorre de forma nao planejada e transcorre sem 0 apoio do pai da crianga, Por exemplo, o estudo de Souza (2002). que investigou a histéria e a vivencia de mies solteiras de classes populares brasileiras, constatou que nos sets depoimentos temas referentes a desumanizagao, preconceito, estigma. solidao. humilhagao, pobreza e desamparo, apontavam para uma vivéncia negativa da maternidade, O estudo realizado pot Ferrari (2001) endossou esses achados ao examinar as implicagdes da anséncia patema nas expectativas & nos sentimentos sobre a matemnidade de maes tambem, brasileiras. solteiras e casadas. que responderam a entrevistas e foram observadas interagindo com seus _PSICO, Port Alegre, PCRS, 42,2. 2, pp 246-254, gbrjun 2011, 248 bebés de trés meses de idade. A autora constatou que a experiéncia da matemidade foi mais softida para as mies solteiras, que relataram sentimentos de tristeza, ansiedade e revolta, ‘A vivéncia da gestagio por gestantes solteiras, também foi investigada por Siegel (1998), que com- parou as percepgdes em relacio a0 periodo gestacional © a constinticao da matemidade em quatro erupos de mies americanas, trés deles de mées solteiras (as que conceberam através de intercurso sexual. as que adota- ram e as que conceberam através de inseminagao artificial) © um de mies casadas (que conceberam através de intercurso sexual). Os resultados deste estuudo apontaram que o tinico grupo que manifestou alguma angistia importante em relago a maternidade foi o de maes solteiras que engravidaram de forma acidental através do intercurso sextal, Assim, constatow-se que as dificuldades e angistias vivenciadas pelas maes solteiras estavam mais relacionadas ao fato dea gravidez no ter sido planejada, do que a matemnidade per se. ‘Também Keating-Lefler e Wilson (2004), buscaram entender como era se tomar mie solteira nos Estados Unidos e constataram que elas procuravam reformmular suas vidas no sentido de assumirem 0 papel de mae, buscando desenvolver ma nova definigao e identidade para si mesmas e, assim, construirem wm novo curso de vida. Para isso, o apoio social e a resiliéncia pessoal foram apontados pelos autores como facilitadores do processo. Frente ao exposto, & plausivel pensar que a cons- timigdo da maternidade em gestantes solteiras tende a ser vivenciada de forma particular, especialmente devido a auséncia de um companheiro. Além disso. constata-se um nimero cada vez maior de familias de mies solteiras na sociedade brasileira. Assim sendo, © objetivo deste estudo foi investigar a constituigao da matemnidade em gestantes solteiras, METODO Participantes Participaram deste estudo nove gestantes primiparas, noviltimo trimestre de gestagao, sem problemas de saitde, com idades entre 19 e 28 anos (M=23 anos; dp-3.1). Todas eram solteiras e assumiram a responsabilidade de ter um fillo sem 0 comprometimento do pai biolégico ou de outro companheiro que 0 substituisse. As participantes eram de niveis socioeconémicos variados e residiam na regiao metropolitana de Porto Alegre. Em termos de escolaridade, as gestantes apresentavam, emisino findamental incompleto (11,196), ensino médio incompleto (22.2%) e completo (55.6%). € ensino superior incompleto (11.1%). Houve uma variagao em -PSICO, Porto Alegre PUCRS, v4 2,9. 246-254, ob jun 2001 Maria, AH. et termos do status ocupacional das gestantes, segundo a escala de Hollingshead (1975), variando entre profissdes de baixo starus (77,8% das mies estavam. em profissdes classificadas de 1 a 4) e de alto stanus (22.2% em profissdes classificadas de 7 a 9). ‘A amosira foi selecionada, com base nos critérios deseritos acima, dentre os participantes do “Estudo Longitndinal de Porto Alegre: da Gestagao 4 Escola” @iccinini, Lopes, Sperb e Tudge 1998). Este estudo inicion acompanhando 81 gestantes primiparas que nao apresentavam intercorréncias clinicas, seja com elas, ‘mesmas ou com o bebs. Os maridos ou companheiros também foram convidados a participar do estudo caso residissem juntos em situacdo matrimonial. Os participantes representavam varias configuragdes familiares (iucleares. monoparentais ou recasados). cram de diferentes idades (adultos ¢ adolescentes) € possufam escolaridade e niveis socioecondmicos variados, O estudo envolven varias fases de coletas de dados desde a gestacdo até os sete anos das criangas (gestagdo. 3°, $°, 12°, 18°, 24°, 36° meses & 6° e 7° anos de vida das criangas). O objetivo era investigar tanto os aspectos subjetivos e comportamentais das interagdes. iniciais pai-mae-bebé, assim como o impacto de fatores iniciais do desenvolvimento nas interagdes familiares, no comportamento social de criangas pré-escolares ena transigao para a escola de ensino fundamental © convite inicial para participar do estudo ocorreu quando a gestante fazia pré-natal em hospitais da rede piblica da cidade de Porto Alegre (51.2%). nas unidades sanitarias de satde do mesmo municipio (7.396), através de antincio em veiculos de comunicagao (26.8%) e por indicacao (14,6%). Para fins do presente estudo, foram considerados apenas dados obtidos na gestacio. Delineamento, procedimentos e instrumentos Utilizou-se um delineamento de estudos de casos coletivos (Stake, 1994) para investigar os sentimentos maternos ea constituigao da maternidade em gestantes solteiras. No terceiro trimestre de gestagao, apés 0 contato inicial com a gestante, explicava-se 0 objetivo do estudo e realizava-se a Entrevista de Contato Inietal (GIDEP, 1998a), que investigava se a gestante atendia aos critérios de inclusdo no estudo. com destaque para sua idade gestacional e seu estado de salide, Uma ‘vez passada esta etapa, a gestante era visitada em sua residéncia, quando assinava 0 Termo de Consentimen- 10 Livre e Esclarecido (GIDEP, 1998b) e respondia a Entrevista de Dados Demogréficos (GIDEP, 1998c), usada para obter informagdes demogrificas adicionais, tais como idade, escolaridade. estado civil. ocupagao. A constiuigdo da maceridade om getarescalteiras religido e grupo étnico. Além disto, ela era solici- tada a responder A Entrevista sobre a Gestagdo € as Expectativas da Gestante (GIDEP, 19984). Esta entrevista estruturada era composta de oito conjuntos de questdes relacionadas tanto ao beb§ como A matemidade e examinava, por exemplo, as percepedes da gestante em relagao ao planejamento da gravidez, stia aceitagao, seu estado de humor predominante durante a gestagao e sobre a gravidez no contexto da relagao com 0 pai do bebé e demais membros de sua familia, Além disso, investigavam-se as percepgdes € fantasias da gestante sobre o bebé ea matemidade. Para fins do presente estudo, foram consideradas apenas as questées relacionadas & matemidade. Cada tépico investigado era apresentado inicialmente a gestante em forma de uma questao ampla (Exemplo: Eu gostaria que ‘tu me falasse sobre a tua gravidez, desde o momento que tu ficaste sabendo até agora). Caso a resposta da gestante nfo fosse muito explicita, eram entéio usadas outras questdes que ajudavam a esclarecer os tépicos investigados (Exemplo: Como estis te sentindo em relagio As mudangas do teu compo? Como tu te imaginas como mae?). RESULTADOS A anilise de contefido qualitativa (Bardin, 1977: Laville e Dione, 1999) foi utilizada para examinar os sentimentos matemnos e a constituicaio da matemnidade em gestantes solteiras. Para fins de anilise foram consideradas quatro categorias temiticas denominadas: Sentimentos em relagao 1) as transformagdes corporais: 2) as transformagbes psicol6gicas: 3) a0 apoio recebido: ©, 4) ao tomar-se mae, as quais foram dividas em sub- categorias. Estas categorias e subcategorias basearam- se em uma estrutura similar, proposta por Piccinini, Gomes, De Nardi e Lopes (2008), que se apoiaram na literatura Brazelton e Cramer, 1992: Raphael-Leff. 1997: Szejer e Stewart, 1997) e nas respostas das gestantes as mesmas entrevistas utilizadas no presente estudo, Dois dos autores deste esmdo classificaram sepa- radamente 05 relatos das mies em cada categoria & subcategoria e, em casos de discordéncia, recorreu-se ‘um terceiro juiz, Eles também decidiram conjuntamente quais 0s relatos que melhor ilustravam cada categoria e subcategoria. A seguir apresenta-se cada uma das categorias teméticas e subcategorias, exemplificadas com verbalizagdes das proprias maes, ‘A primeira categoria, Sentimentos em relagdo as transformacdes corporais, serefete as percepyoes queas gestantes experimentaram a respeito das transformagies ocorridas no seu corpo durante periodo gestacional. 249 ‘Um dos sentimentos verbalizados pelas gestantes foi o de satisfagao, que aparecen em razao delas se sentirem, valorizadas em sta feminilidade, especialmente quanto ‘a capacidade de gestar: “Eu me achei muito mais bonita depois que en fiquei grivida, Eu aprendi a gostar de ‘mim, que era uma coisa que nao gostava muito, né? Eu me sinto assim muito mais mulher agora, porque antes ett era uma pessoa commm, e hoje em dia me sinto completa, Eu 16 toda hora othando [...] de vez em quando en pego o espelho para ficar olhando para a barviga” (Gi); “A bartiga jé era algo que procurava exibir desde o inicio e até hoje, vira e mexe, eu t0 levantando a blusa pra verem a minha barriga” (G6). Nesta mesma direc2o, também foram manifestados seutimentos de conformidade diante das mudangas corporais percebidas: “No comeco a roupa nao servia, mas agora jé t6 acostumada” (G4); “Eu converso com ela [bebé]: ‘pode deixar a mae bem gorda, tu estando com satide para mim é a conta!”. No momento et niio 16 me importando!” (G7). Por outro lado, as participantes também se sentiram insatisfeitas com as transformagbes comporais sentimento este que se traduziu através de incémodo e vergonla: “Teno incémodos, porque eu sempre tive a pele oleosa, entao desde o inicio [da gestaao] en tive espinha pelo corpo inteiro. Ai isso me incomodava muito, eu vivia me cogando, eu tinhs horror daquilo. Eu ime sentia mal, ew tava até com vergonha de ti toda hora espremendo” (G1): bem como por meio de preocupagao e restrigao as atividades habituais: “Sera que a gente fica gordinha assim? Por que eu sempre me cuidei, né? Bu andava bastante de bicicleta, camiinhava, praticava esportes. Agora nao posso. meio corta um pouco as atividades que a gente faz. Mas vamos ver, né? Tomara que eu volte a minha forma como era antes” (G2). Por fim, as gestantes também expressaram estranhamento diante desta vivéncia: “Eu era bem magrinha, nfo tina nada de bariga. E estranho, né? Té com esse barri- iio” (G8). ‘A segunda categoria, Sentimentos em relagdo és transformagoes psicoldgicas, contemplon 0 modo ‘como as gestantes se sentiram em relagao as mudangas psiquicas desencadeadas pela gravidez. O principal sentimento manifestado foi o medo de prejudicar 0 bbebé em fimeao de momentos de tristeza, nervosismo e instabilidade emocional: "Eu procurei controlar porque dizem que faz mal probebé, né? Instabilidade emocional da mie, Entio eu procurei controlar o méximo pra nfo deixar que outtas coisas me emocionassem, demais' (Go); “Eu s6 ficava muito nervosa, eu chorava muito © todo mundo dizia ‘ai, nao adianta tw ficar assim, & ppior para o nené, tu ficar chorando”e dai eu fii melhio- rando” (Gi) _PSICO, Port Alegre, PCRS, 42,2. 2, pp 246-254, gbrjun 2011, 250 A terceira categoria, Sentimentos em relaciio ao apoio recebido?, englobou os sentimentos vivenciados diante do apoio do pai do bebé e do apoio dos familiares das gestantes. Quanto ao apoio do pai do bebé, sentimentos de satisfagio foram evidenciados: “A gente se liga, conversa, as vezes ele té aqui, eu vou la” (G3), Sentimentos de cunho mais negativo também apareceram nas falas das gestantes, como os de insatisfagao: “Olha se eu fosse esperar [0 apoio do pai do bebé), por Deus que eu morria. En vivia a vida toda, motria e ele nao dava nada, Eu nao espero nada dele!” (G1); ¢ até mesmo evitacdo, ou seja, desejo que o pai nto se aproximasse dela e nem do bebé: “Gostaria tanto que ele nao chegasse perto...se eu pudesse evitar. Teve uma época que ett até imaginava que ele mor esse, sabe?” (G1): “Nao consigo nem olhar para a cara dele” (G8). ino que diz respeito ao apoio dos familiares, as gestantes se consideraram satisfeitas com a atengio recebida, sentindo-se. por conseguinte. aliviadas e ‘tranquilas frente a gravidez e ao bebé: “Ninguém virou ‘cara pra mim [da familia), sempre todos disseram: se precisar de alguma coisa, estamos ai.. Ainda bem! No inicio a gente fica meio nervosa, nio sabe 0 que faz. Por que era s6 en que estava sabendo daquela gravidez. Ai depois que a gente conta [para familia] parece que a gente fica mais aliviada e agora eu t6 levando numa boa” (G2); “Preocupagdo, no comego, et senti, Pensei: ‘agora eu t6 gravida... o que fazer? Nao 18 trabalhando e tudo", Mas dai eu tive 0 apoio da familia e fui melhorando” (G4). As gestantes também manifestaram surpresa diante da reagio dos familiares © do apoio por eles oferecido, devido a uma pré-concepgao de que a familia nao aceitaria bem sua gravidez: “Eu achei que ela [mae] ia fazer um esciindalo. Ai o meu pai logo depois entrott em casa e ela disse: “tu nem sabe que a M. veio contar [riso]; ela ta gravida’. Nossa meu pai ficou feliz da vida. Eu achei que contar para o pai é sempre mais dificil, né? Ah mett Deus, ele ficot realizado” (G3); “Pensei que todo ‘mundo [familia] ia me apunhalar. Mas foi o contritio, todo mundo apoion porque todo mundo € contra 0 aborto, “Nao! Abortar nem pensar, porque a gente da um jeito, se tu precisar de alguma coisa a gente te ajuda’ (G6). Por outro lado, sentimentos de insatisfagao. traduzidos por raiva, chateagio e tristeza, também estiveram presentes nas verbalizacdes das participantes: “A minha familia toda veio caindo em cima de mim, ‘Um vinha aqui e falava tima coisa, outro vinha aqui e falava outra coisa, Eu sé vinha pro quarto e chorava” (G5); “A mie mao falava comigo, Passava por mim nao dava nem bom dia, nem boa tarde. Aquilo me -PSICO, Porto Alegre PUCRS, v4 2,9. 246-254, ob jun 2001 Maria, AH. et deixava com mais raiva ainda, Ai et tinha mais raiva da crianga” (G1). A quatta e tltima categoria, Sentimentos em relacdo ao tornar-se mde, se refere aos sentimentos das gestantes diante da noticia da gravidez, sobre 0 proceso gestacional ¢ as expectativas para depois do nascimento do bebé. A noticia da gravidez foi vivenciada de forma negativa, principalmente devido a condigao de serem mies solteiras. Sentimentos tanto de nervosismo, susto, desespero: “Quando eu souibe [da gravidez] eu fiquei assustada, porque a primeira coisa que et pensei foi que eu nfo tava com o gui, eu nao tava com o pai da crianga, Pensei: nao vou ter apoio nenhum, eu Vou ter que passar toda a minha gravidez sozinha. Eu me assustei com a situagao” (G7): “No inicio, eu fiquei muito nervosa, porque nao morava com 0 pai [do bebé)” (G4); “Pra mim foi um choque quando eu descobri até porque eu nfo tava namorando. Eu entrei em desespero” (G6); como de negagio & dio foram evidenciados: “Porque parecia que eu nao tava gravida, eu queria botar na minha cabega que eu nao tava grévida coisa nenhuma. Eu tava bem agressiva no inicio da gravidez. Eu ndo gostei mesmo. No inicio eu odiei* (G1). Ademais, 0 sentimento de solidao também se destacou nos relatos das gestantes: “Bah! que eu fago? Me ajuda, eu t6 sozinha nessa ai agora” (G2), Diante da noticia da gravidez, também apareceu um sentimento de ditvida, tanto em relacao 4 possibilidade de aborto, que foi reforgada pelo pai do bebé: “Eu até pensei em tirar. Eu até comuniquei o pai da crianga ‘que eu queria tirar e queria que ele me ajudasse e ele disse que era para eu ver um nome de um remédio & falar para ele que ele me ajudaria a comprar” (G7); quanto a ficar com o bebé depois do seu nascimento: “Eu queria dar [bebé]. E que ele [bebé] virou a minha vida de cabega para baixo no inicio” (G2). Além disso. também se evidenciou o sentimento de frustragao. em um primeiro momento, consigo mesmas: “Ficava pensando que eu tava errada porque eu podia ter evitado, podia ter usado camisinha, foi tdo por impulso mesmo. Eu devia ter pensado em tudo isso, ‘mas eu nfo pensei (G1)”: e também pela necessidade de mudangas nas suas vidas: “Foi uma hora imprépria, Eutava esperando tenminar a faculdade. Eu, ia terminar a faculdade” (G9): “Comecei a chorar na hora: ‘Meu Deus, meu mundo acabou’, Pensei na faculdade, na ‘minha familia” (G6). No processo da gestacdio, verificaram-se alguns motivos que levaram as participantes a aceitar & a se vincular ao bebé, como, por exemplo, vé-lo na ecografia: “Tava passando na televisdozinha eeu fiquei olhando ¢ assim eu aceite!” (G7), “Senti o bebé mexer A constiuigdo da maceridade om getarescalteiras (durante a ecografia]. Ai eu passei a mo na bartiga, ele tava mexendo. Quanto mais ett passava a mao, mais ele mexia, Foi ai que eu comecei a gostar dele” (G1); e perceber a aceitagio da familia: “Ai eu contei (.-] uma barra pra mim, mas aceitaram numa boa [a familia]. a mae mais ainda, Agora eu t6 aceitando mais e Vou tentar criar da melhor maneita possivel” (G2), As gestantes também relataram que a aceitagao da gravidez foi vivenciada de maneira gradual: “No inicio, eu fiquei muito nervosa porque nao morava com © pai [do bebé], mas depois en contei para ele e fui me adaptando. Procurei 0 médico, procurei fazer os exames, tudo certinho, Agora, t6 bem contente, feliz!” (G4); “Agora eu me acalmei um pouico, mas eu andava muito nervosa pelos acontecimentos com o pai dele [bebé]. Agora et me conformei mais” (G9): ot mais dificil: “Eu nao gostei mesmo, no inicio eu odiei. Eu s6 fui comecar a gostar depois. mas eu custei muito a me adaptar a crianga, porque eu nao gostava dela” (Gi). Houve também relatos que denotaram uma aceitacto mais integrada da gestagto: “Muitas coisas que eu fazia, eu nao faco mais. Ser mae & bem diferente. 14 comegou a mudar, A gente jé se sente mais madura, mais adulta, com mais responsabilidade” (G4). ‘Além disso, as gestantes tenderam a estabelecer. a0, Tongo do proceso gestacional, uma relagao de maior exclusividade com o bebé: “Entao vou ficar tao connja, ‘vou ficar tio ciumenta que nfo vou querer que ninguém, chegue perto, Eu vou ter que me cuidar muito com isso. Eu tava to radical que eu dizia as vezes: ‘ndlo vou deixar pegarem o meu filho no colo [...] pegar 0 meu filho naio™ (G1): “Daqui pra frente é eu e meu filho, eu assumo” (G6): “Eu sozinha criando ela [bebé], posso levar ela la, ele [pai] ir li em casa ver ela, mais € 56 eu eaB. [bebé}” (G4) No tocante as expectativas para depois do nascimento do bebé. os sentimentos das gestantes envolveram responsabilidade: “Mudei bastante de um tempo para c4 e creio que eu vou mudar mais ainda depois que eu ganhar met filho, porque eu vou ter que ser uma pessoa responsivel. Eu nao vou ser mais uma guria, eu vou ser mde!” (G7); desejo de se doar e ser uma boa mae: “Ser uma boa mae é poder dar 0 que ett tenho de melhor” (G8); “Eu penso ser uma mae ‘maravilhosa para ele [bebé}” (GS); sentimento este que chegou ase manifestar como um modelo idealizado de mie: “Queto ser amével 24h” (GS): “Eu quero pelo ‘menos suprir tudo, todo meu lado, lado de pai e mae. E {sso que eu quero fazer” (G1). or outro lado, apareceram também sentimentos de inseguranga em relagao aos cuidados do bebé: “Eu fico imaginando assim uma criancinha chorando e tu sem saber 0 que fazer. Eu acho que vou entrar em colapso. 251 Vai ser dificil, vai ser bem dificil” (G3); incapacidade: “Como é que eu vou cnidar dewm nené?” (G4): e medo de uma possivel rejeigao do filho pela nao aceitagao inicial da gravidez: “Espero que ele cousiga me petdoar. As vezes ett penso que a crianga sente que foi rejeitada” (G1). DISCUSSAO Os resultados do presente estudo sugerem que a constituigaio da matemnidade em maes solteiras esta associada tanto a transformagbes corporais, como psicologicas e sociais. que acabam por interferir no Ambito intrapsiquico e inter-relacional da gestante. As mudangas corporais vivenciadas durante a sgravidez servem para impor visualmente essa realidade 0s outros e até A propria gestante (Raphael-Leff, 1991). Emm relagdo a estas mudangas, as gestantes solteiras deste estudo manifestaram sentimentos de satisfagao, valotizagao e conformidade, Elas sentiram que seu corpo grivido despertou uma vivéncia de feminilidade e completude até entio no experienciada. Nesse sentido, Aulagnier (1990) postula que o narcisismo da mulher durante a gestagdo se toma como que “incrementado” pelo fato de conter tim bebé dentro de seu ventre, O sentimento de conformidade, por sua vez, parece denotar uma aceitacao da mulher em relagao a gestagao e ao bebé, mesmo que no principio elas tenhiam se sentido estranhas pelo expressivo aumento de peso. Por outro lado, Szejer e Stewart (1997), satientam que as modificagdes do corpo podem ser vividas como uma experiéncia desestabilizante e angustiante, que tencem a ameacar a autoimagem damulher. As gestantes do presente estudo manifestaram esta angiistia através de vergonha, medo de nao voltar a ter 0 corpo que tinham antes da gravidez. além das restrigbes aos seus, habitos. Os autores também apontaram que a relagaio do casal tem grande influencia sobre a autoestima da mulher, O olhar do homem pode vir a amenizar 0 desconforto ou a inseguranca dela em relagio a sua propria imagem. Assim sendo, é plausivel pensar que © fato das gestantes do presente estudo nao contarem, com a presenica de um companheiro pode no ter thes dado a oportunidade de aceitarem com mais seguranga seu corpo transformado, No que tange aos sentimentos acerca das trans formacdes psicologicas, a tristeza, o nervosismo & a instabilidade emocional predominaram nas ver- balizacdes das gestantes. Pode-se pensar na relagao disso com 0 fato da gravidez nao ter sido planejada & a consequente culpa gerada por esta situacdo. Dai se explicaria o medo manifestado por elas de prejudicar _PSICO, Port Alegre, PCRS, 42,2. 2, pp 246-254, gbrjun 2011, 252 © bebé, pois, conforme salienta Missonnier © Solis- Ponton (2004), hé uma fusto nao sé biolégica, mas também psicoldgica, entre mae e bebe, A mie empresta seut corpo e seui psiquismo para o desenvolvimento do seu filho e, portanto, pode se sentir responsdvel por um ‘bom ou mau desfecho. Na terceira categoria, que se refere aos sentimentos, quanto ao apoio recebido, evidencion-se que as gestantes se sentiram apoiadas pelos pais dos bebés, ‘mesmo ndo mantendo uma relagao amorosa com eles. Nesse sentido, parece nao ser necessariamente © casamento que proporciona a mie se sentir apoiada pelo pai, mas a relagdo estabelecida entre eles acerca da parentalidade do bebé Por outro lado. as gestantes também manifestaram sentimentos de insatistago acerca do apoio patemo que aparecet: tanto como um lamento por nao poder contar com 0 pai em relagao aos cuidados do bebé quanto como um sentimento de raiva intensa do pai, inclusive afastando-o dela mesma e até do bebé. Pode-se pensar que esta postura esti ligada a um fimcionamento mais nareisico, no qual a mae pensa mais em si do que no filho, querendo que o pai morra ou se afaste, por interesses proprios, sem considerar que © bebé vai ficar sem a figura patema. Uma das possiveis explicagdes para esta postura advém de uma necessidade de estabelecer uma relagao de cunho mais simbiotico com 0 bebé, 0 que pode estar ativamente prejudicando a entrada e a participagao do pai (Lamb, 1981) Quanto ao apoio recebido pelos familiares. as gestantes referiram satisfagdo @ até mesmo surpresa, pois imaginavam que seriam repreendidas por eles devido & condigao de serem solteiras e estarem gravidas. E plausivel pensar que o fato das participantes nao se sentirem correspondendo as expectativas de seus pais e até mesmo da sociedade, as fizeram esperar uma espécie de punicdo, que nesse caso estaria representada pelarejeigio familiar. Assim. baseado em uma possivel decepgao consigo mesmas, se surpreenderam com uma atinide de apoio e incentivo pela manutengao da gestagao. Todavia, as gestantes também expressaram sen- ‘timentos de insatisfagao em relagao ao apoio recebido dos familiares, sentindo-se pouco respaldadas por eles neste momento dificil de suas vidas. Ressalta-se a concepgio de Stem (1997) acerca da importancia da matriz de apoio no desenvolvimento da gestagao e da relagtio mae-bebé. E possivel pensar que nessas familias, os sentimentos de raiva, chateacao e tristeza da gestante pela auséncia de apoio familiar possam recair também sobre o bebé, podendo prejudicé-lo em termios desenvolvimentais, -PSICO, Porto Alegre PUCRS, v4 2,9. 246-254, ob jun 2001 Maria, AH. et A quaata e iltima categoria, sentimentos em relagao 0 tomar-se mae, revelon que desde o recebimento da noticia da gravidez, a matemidade jé foi vivenciada de forma mais negativa pelas gestantes deste estudo. Os sentimentos manifestados envolveram desespero, ddio. negagio, soliddo, entre outros, o que corrobora os estudos de Souza (2002) e Fertari (2001), que apontaram que a constimticao da matemnidace em gestantes solteiras tende a ser mais dificil e soffida, Nesse sentido, apareceu, inclusive, um desejo por parte das gestantes em nao ficar com seus bebés, seja por aborto ot doagao depois do nascimento. Esse desejo pareczu estar relacionado ao fato a gravidez mio ter sido planejada para aquele momento de suas vidas. e talvez nem com aquele companheiro. © que intensificou significativamente as dificuldades da matemidade (Siegel, 1998). No entanto, durante oprocesso da gravidez percebeu-se que alguns aspectos auxiliaram as, gestantes solteitas a aceitarem, pelo menos em parte, 0 tomar-se mae, Um dos motivos pelos quais isso ocorret foi aecografia. Segmido Gomes e Piccinini (2007). através deste exame a mite tende a se vincular mais intensamente a0 bebé na medida em que consegue visualizi-lo e ter certeza de sta existéncia, Emrazio da subjetividade de como é vividaa gestagaio, percebernse que 0 processo de aceitagao da gravidez foi desde mais gradual até mais dificil, dependendo, provavelmente, das condigdes psiquicas e familiares de cada uma delas (Maldonado, 1997). Ainda sobre 0 ‘proceso gestacional, una das formas evidenciadas pelas participantes para se aproximar do bebé foi estabelecer ‘uma telagao mais simbistica com ele, excluindo outras pessoas, inclusive o pai da crianga ‘No tocante as expectativas para depois do nascimento do bebé, apareceu, de forma geral, um sentimento de inseguranga e de dificuldade sobre como iriam educar seus filbos sozinhas. Para compensar essa sensagio de incapacidade, parece te sido necessirio um movimento de idealizagao da matemidade, como se elas precisassem se ver totalmente dispontveis para suprir todas as demandas da ctianga e como se pudessem assumir a fungao de mae @ de pai. Com isso, corre-se o riseo de que esses papéis fiquem indiscriminados, abrindo espago para uma relagao simbidtica, como ja mencionado, na qual as fragilidades da ae e a falta do pai ficam encobertas por ima onipoténcia dde que ela sozinha pode dar conta do filho. Assim, também, se compreende o sentimento manifesto pelas patticipantes deste estudo de medo de que o filho, mais tarde, nio as perdoem por terem inicialmente rejeitado a gravidez ou por tla vivenciado de forma conflitiva E possivel pensar que ser mae solteira pode implicar em uma sobrecarga de tarefas e é preciso que equipes de safide estejam atentas a essa situagdo, em. especial na gestagao e também nos primeiros anos de A constiuigdo da maceridade om getarescalteiras vida da crianga, em que o apoio social tende a ser ainda mais relevante. Isto se faz particularmente necessario em sittagdes de caréncia econdmica, social e afetiva, que podem exacerbar, expressivamente. as dificuldades encontradas pelas maes solteiras. Espera-se que esse estudo desperte nos psicélogos e demais profissionais de satide o interesse pelo assunto para que se dediquem a0 relevante trabalho de acompanhar as maes. especialmente as solteiras que podem apresentar alguns riscos com relagao a construcao da sta maternidade. Porém, a falta de comprometimento do pai nao pode ser entendida como um determinante para un fracasso ua relagdo mie-bebé e/ou no desenvolvimento da crianga, Isso ird depender de como a mae vivencia a falta do pai e a transmite para o fillo. © importante € que a flngdio patema seja preservada pela mae ¢ transmitida, de alguma maneira, ao fillio, pois assim ela até mesmo poder ser exercida pelo proprio pai ou por ‘um substituto, mantendo a distingao entre matemnidade e paternidade Por fim destaca-se que o estudo sobre gestantes, solteiras continua sendo um campo a ser explorado sob diferentes enfoques. Assim. novos estudos tomam-se necessérios para entender a psicodinémica envolvida neste contexto ¢ as conseguintes repercussdes na relagao mie-bebé, REFERENCIAS, Aragio, R, 2006). De me para fila: transmissao da materidade. in Melgasa, R. (Org) tica na atencao ao bebs: pricandlise, said € eiicacao. S80 Paulo: Casa do Psieslogo. Aulagnier, P (1990). Lim anérprete em busca de sentido. Sto Paulo: Escuta Bardin, L. (1977). andlise de conteido. (L. Reto e A. Pinheiro, ‘rad,) So Paulo: Edigdes 70/Livraria Martins Fontes. Brazelton, TB. (1988), Gravider: 0 nascimento do apego (D. ‘Batista, rad). In TB. Brazelton, O desenvolvimento do apego: uma familia em formagdo (pp. 15-50) Porto Alegre: Ares Medicas. (Original publicado em 1981), Brazelton, TB, & Cramer, B.G, (1992). A formaglo do apego 1 pai (MB. Cipolla, tad). In TB. Brazelton & B.G. Cramer (Orgs). as primeiras relagdes (pp. 39-50) Sto Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1990). Bibring, G. & Valenstein, A. (1976). 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Speci om Prcslopt Cica (EDP istics ce Ensno « Pesquns em Pactra) ‘Ria de Casa Sobveua Lopes ~ Dovor pla Uaiverty College London (Gspntr) Peeeiaiora do ND Professors Curr de Be Gradua Pscologi da UFRGS. (Cen pure PiccnaiPriclogo PAD em Pacoloia pela Univesity Colese {mon ingles). Dengan do CNPq Professor da insti de Palos x Unverstade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS) Enviar correspondéaca para Angola Helena Naxia Inst de Pacolona~UFRGS. en muro sealoe 2600 ein 12 (CEP 90035.003, Poo Alege RS, Bas Erma marinangelshQemal coms

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