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ESCRAVIDAO E RACISMC Tipoloflas e ideologias radals Raizes histdvieas dos antagonismos raclals ‘A historicidade do. presense RACA E POLITICA ‘Signifiado politico dos pmblemas racials “Antagonismos conflltos raclais . Condigio racial © desigualiade econdmica A politica das relagtes ravais Problemas raciais e contratigses estruturals Aptndice (0 MARXISMO E A QUEST/O RACIAL . 0 us 159 159 161 155 169 a5 181 EGUNDA EDICAO. PREFACIO A S ‘A conghistal da. democracia)passt pela@uestéo racial? A formaaka da pov, enquanta ima oletividade de dads, Compreende também a progressin superagio das dosigual dades raciais. As conquistas democraticas, em termos poli- ticos, econdmcos e culturais, esario incompletas se as Dosshes, familias e grupos socnisstiverem separados DOr [uous dsHigUNTUtdoe? acontece que a Wueslao racial om preende aspectos fundamentais da questo social. ‘No se trata de eliminar as diversidades, a riqleza di\ rmultiplicdade. Ao contréro, tratuse de evitar que a5 dk \ Srrsidados siream para encobrir ss desigualdades. O pro blema estd em desvendar e superar as desigualdades ine- Fontes As relagbes socials que dividem, bierarquizain vu lena, O'colordo de mulipiciéde 6 uma manifestaco ssencil da demberaci, se as rehgBes socials nfo estve- fem atravessndas pelas Gesigulines) x iva é que ao coloa © debate sobre 1 que: io facial Yesenvolvido neste liv, Examinar as mazes € 5 manifesiagdes do racismo pode ser uma forma de foes Tear alguns dos obstaculos A concaista da democrsci, ota ediglo estd ncreseidn do soendice. A revisho goral do texto permitueliminer as tabeks e corrigi uma ot ot frm expressio, So Paulo, janeiro de 1987 Octavio Larni i PREFACIO A PRIMEIRA EDICAO ‘Toda anélise sobre as relagtes entre escravtura e capits: fismo, nas Américas e Antilhas, tende a gira: em torno de Ryumas questoes bésicas. Independentemerte das contri ‘pulgdes historicas e tedricas das monogratias © ensaivs, em feral os ascritos sobre escravidio e capitaliimo focalizam (Guestdes tais como as seguintes : Como e po: que o capita, fiiho rls, desenvolve e destroi a escravatura? Quando e amo ds contradigoes interaas e externas, emcada ums Gas formagbes sociais escravistas, passam a desenvolver-se ¢ Tpanifestar-se de forma irreversivel, ou revolucionérias, Pro- Vocando 2 extingio do regime de trabalho estravo? Em que wetdida es peculiaridades da formagio socil escravista © Go processo abolicionista, em cada pais, influenciam, ou Goterminam, as pecullaridades das formas que sob o mercanti- ‘lismo os Iucros eram bastante elevados. ‘As nagées se jactavem cinicamente com cada ignominia que Ihe servitse para acumular capital. Vejamos, por exeimplo, os Ingénuos fanais do comérelo, do probo A. Andersox. Al trombetela-s como triunfo da sabedoria palitiea ter a Inglaerra, na paz de Utrecht, extomuido dos espanhds, com o tratado de Astento, o privilégio de fexplorar 0 trifico negreiro entre Africa e América Espanhola, 0 Qual ela realizara até extdo apenas entre Africa e fndlas cident Inglesas. A Inglaterra conseguiu a concessio de fornecer anualmen te A América Espanhol:, até o ano de 174%, 4.800 negros. Isto servi ‘ao mesmo tempo, para encobrir sob o mato oficial o contrabando britanieo, Na base do ‘nifico negreiro, Liverpool teve um grande creseimento. O tricico constltaia sew snéted de acumulagdo primal- tiva.. Liverpool empregava 15 navios no Tafico negreiro, em 1730; 58, em 1751; 74, em 176); 96, em 1770, ¢ 132, em 1792. ‘A inddstria algododra téxtll ao introcuzir a escravidao infantil ‘na Inglaterra impulsiosava ao mesmo tempo a transtormacio da fescravature negra dos Bstados Unidos que, antes, era mais ou menos ppatriareal, num sistema de exploragio mércantil. De fato, a esera~ ‘Vidi dissimulada dos assalariados na Europa precisava fundamen- tar-s» na escravatura, em disfarces, no Wovo Mundo (). (+) Karl Marx, O copital, 3 livros, trad de Reginaldo Sant’ Anna, Ealtcra Civillzagho Brasileira, Rio de Jazeiro, 1968 a 1974; citagho 0 Livro 1, vol. 2, p. 87-878. ESCRAVIDAO E CAPITALISMO 7 Estes sio os elementos do paradoxo: © mesmo processo de acumulago primitiva que na Inglaterra estava criando algumas condigées historico-estruturais bdsicas para a for magao do capitalismo industrial, produzia no Novo Mua- do a escravatura, aberta ou disfarcada. Ocorre que a aci- mulagio primitiva foi um proceso, de ambito estrutural ¢ internacional, gerado por dentro do mercantilismo. Pen- 0 que é conveniente especificar um pouvo melhor v con- ceito. Convém lembrar que a categoria acumulagdo primi- tiva enyolve um conjunto de transformacdes revolucions- rias, a partir das quais se torna possivel desenvolvimento capitalists. A acumulacio primitiva poderia ser consid?- ada proceso social, isto é, politico-econdmico, mais ca- racteristico da transicac do feudalismc ao capitalismo. Como processo de ambit estrutural, a acumulagdo primt- tiva envo'veu principalmente a forca de trabalho e 0 capi- tal, nos seguintes termos. Quanto & forea de trabalho, 0 que ocorreu foi um divdrcio generalizado e radical entre 0 trabalhador e a propriedade dos meios de produgéo. His- toricamente, esse fendmeo ocorreu tanto na agricultura como nos grémios e corporagées de oficios. Ele se deu em concomitincia com a criazéo de valores culturais e padroes de comportamento que compreendiam os principios da ci- dadania, principalmente a faculdade de oferecer-se livre- mente no mercado, sem 1s limitagdes ou amarras das ins- tituigdes gremiais, patriarcais, comunitérias ou outras. Quanto ao capital, o processo de acumulagao primitiva en- volveu in‘ensa acumulagio e concentragio do capital, in- clusive dos meios de producso. Apotadc na ampliagso e intensificagéo do comérco internacional, nos quadros do mercantilismo, 0 capital comercial reproduziu-se em ele- vada escala. ‘As descobertas de ouro e ie prata na Amérca, 0 exterminio,.2 ‘escravizagio das populacbes hnéigenas, forcadas a trabalhar no fn- terior das minas, 0 infclo da enquista e pilhagem das tndias Orlen- tais © @ transformagio da Africa num vasto campo de cacads Inerativa sho os acontecimentos que maream ot albores da er dt producio capltalista. Esses processos idillcos so fatores fundamen. tals da acumulacto primitiva () ‘Marx, Op. cit, Livro 1, vol. 2, p, 888, 18 ESCRAVIDAO E RACISMO Se part nna ere al eos tonite por ery pel ee ee eee eee ee eect ig cas a ears © tratamento que se dava aos nitivos era naturalmente mais terrivel nas planagdes destinadas ayonas ao comércio de exporta- ‘co, como as das Indias Ocidentals, entos paises rioos e dnsamente Doveados, entreguse & matanga © A puhagem, como Mexie © indies Orientals © sistema colonial fez prosperar + comércio e a navezagho. AS sociedades dotadat de monopbllo, de que 4 falava Lutero, ram po- erosas alavancas de concentragho docapltal. As colbnlas assegura- vam mereado As manufaturas em exjansho 6, gragas a0 nonopolo, lima acumulacao acelerada, As riquems apresadas fora di Europa pela plthagem, escravizagto e massaqe reflulam para a netropole Onde Se transformavam em capital Foi o capital comercial que comandou a conwlidagio a generalizagio do trabalho campulsério no Novo Mun- do, Toda formacéo social escravista estava vinculada, de maneira determinante, ao comércio de prata, oun, fumo, aguicar, algodio e outros proditos coloniais. Esses vin- ‘culos, protegidos pela agao do Estado e combinaios com 5 progressos da divisiio do trabalho social e da tecnolo- ia, constituiram, em conjunto, 1s condigses da transicéo ara 0 modo capitalista de produgdo. Assim, para compre- ender em que medida o mercantlismo “prepara” » capita: Uismo, € necessario que a andlise se detenha nos cesenvol- © Tider, p. 98-860 (6) Ibider, p STL Quanto A violmcia nerente_a0_ecravieme vigente no Brasii"Tersive, © iastimvsa sorte € a de um cativo! Se ‘Some, & sempre a pore mais vil umia: te vest, 0 pana o mais {Eromiro eo trajo 0 mals deapredva, se dorme, o Feito € fultas era i'd odd una ea Gute tataho & cone “lida sem soncog o-descango inquieto e assustaae, 0 atvio fous ¢ guise nent “quando se tscuiéa, fee’ quaydo fale, ‘essa: guage ae pose, tents, stra du frags forge Jorge Bench Boonomia erst dos sonuores na govern dou enon {tivo brasllro ce 1700) Baltorial Gajbo. S80 Paulo, 17. p22 () Karl Mars, Op. cit, Livro 1, wl. 2, p. 87 ESCRAVIDAO E CAPITALISMO 19 Vimentos das forgas produtivas ¢ das relagtes de produgéo. Mas para compreender esses desenvolvimntos & preciso situd-los no Ambito das transformagées esrruturais englo- badas ma categoria acumlacio primitiva. Nesse sentido é que @ acumulagio primitiva expressa as cendigfes histdri. cas da transigtio para o capitalismo, Foi se 0 contexto histérico no qual se criou o trabalhador lirre, na Europa, © 0 trabalhador escravo, no Novo Mundo. Sob esse aspecto, pois, o escravo, negro ou mulato, indio ou mestigo, esteve na origemn do operdrio. # claro que esse enfoque nilo pretende dtsprezar, ou es- ‘quecer, as condigdes particulares em que se constitufram e desenvolveram as distintas formagbes so:iais no Novo ‘Mundo. Essas condicées particulares foran responsdveis pela fisionomia singular assumida pela plavtation do Sul dos Estedos Unidos, a encomienda do Mésico, o engenho de agicar do Nordeste do Brasil e outras formas de orga- nnizago social técnica cas relagdes de produgto basea- {das no trabalho compulsorio ("). Ein euda iso (rata, ot 0, fumo, aguicar, algodo etc.) entravam en jogo exigén- clas especificas de capital, tecnologia, terre, mio-deobra, diviséo do trabalho social, forma de organizacio e mando etc. Entravam em linha de conta a concentmedo maior ou ‘menor das terras térteis, os depdsitos minemis, o vulto e a organizagao dos empreendimentos, a preexistencia ou nao de maocle-obra local, © custo da compra e manutengio do escravo trazido da Africa ete. Na base do arabouco de ca- a formigao social, no entanto, havia dote slementos fun damentais: 0 trabalho compulsério e o vinculo com 0 ca- pital comercial europeu. Desde 9 século XVI, quando se iniciou o :ratico de afri- ‘canos para 0 Novo Mundo, ao século XIX, quando cessou esse tréfico e terminou a escravatura, teriam sido trans ortados da Africa cerca de 9.500.000 neg:os. Desses, & ‘maior parte fot levada para o Brasil, que importou 38 por (©) Quanto a encomienda fe outras formas de omganizagio socal 4a producto bascadas no indigena, consultar: Suara. e Judith E Villamarin® tndian labor in ‘eainland’ colonial Spanish Americ, University of Delaware, Newatk- Delaware, 1975 20 ESCRAVIDAO E RACISMO ccento do total. Outros 6 por cento foram lrvados para os Estados Unidos, Nas Antihas britfnicas ertraram 17 por cento, e também 17 por eento foram As coltnias francesas da area do Caribe, Por fim, outros 17 por ceato foram leva- dos As colénias espanholis. Cuba recebeu 702.000 africa nos, ou seja, mais do que qualquer cutra cclénia espanho- Ja; a0 passo que 0 México importou cerea de 200,000 (") ‘Ao mesmo tempo, foi amplo ¢ intenso o intercémbio co: mercial entre as metrépoks européias e as suas colénias no Novo Mundo. Esse conércio era comandado pelo capi- tal comercial, controlado pelos governos e empresas esta- tais e privadas metropolitinas. Ao longo de ‘odo 0 periodo colonial — e principalmense nas épocas do apogeu da pro- dugio de prata, ouro, agivar, fumo, algodds © outros pro- dutos — foi bastante elevada a exportacdc de excedente econémico para as metrdpoles. Tanto por neio das admi- nistrages metropolitanas nas coldnias, com por intermé- dio das empresas e do camércio privado, 15 exportagées Colonials exceaiam as importagoes. Apenas uma parcel do excedent gerado nas coldaias permanecia di, para a con- ‘tinuidade dos empreendinentos, das transzedes © das es- truturas de administracdo ¢ controle (*). Ussas relacdes ( Robert W. Fogel ¢ Stanley L. Engerman, Time on the cross (The ecoramics of American negro slavery), 2 vas, Litde, Brown and Company, Boston 197%, primeto volume, cap. Consultar tam- bem: Mauricio Goulart. vcravidae africana no Bros, Livraria Mating Eton. Sio Paulo oo: Rolando Mela, Breve Mafia Gea esclostut em amertca atm, Spaces, Meal, 1973; Maye Ma Morner aiad, rags» ambi socal of ta Huaponoamérica ‘Kivoe "Goes; dartnar Ram, te vara Baltora Criizeedo Brasileira, Rio de Janeiro, 198; Roger Bastide, es Amérques notrer, Payot, Paris, 1907 (ina econdmica anhla Baltora Nacional, Sho Paulo, 1267, Mierison, The Ozford Mutory ¢f the Amencan vorsity Press, New ork, 1065,esp. caps. X11, X{it ¢ XIV; Lawrence ESCRAVIDAO F CAPITALISMO a ‘econbmicas, orgenizadas segundo as exigéncias do mercan- tilismo, foram a base sobre a qual se formaram as socie: dades coloniais. Em esséncia, pols fol 0 capital comercial ‘que comandou @ constituigo eo desenvolvimento das for- ‘mug6es socials buseudas 10 Lraballo compulsdrio nas col6- nias européias do Novo Mundo. A exploracao do trabaino compulsdrio, em especial do escrivo, estava suboriinada 205 movimentos do capital comercial europeu. Est® capi: tal comandava a processo de acumulagio sem preccupar ‘se com 0 mando do processo de jrodugéo. O comerciante europeu se enricuece compranco barato — com as vanta- gens da exclusividade que a metsépole mantém sobre os negéeios da colénia — e vendendy mais caro. O dinheiro ‘se valoriza no proceso de circulapéo da mercadoria. Qualquer que seja a organizacio sodal das esferes de producto ‘donde stem az mersadorias trocadas por Intermédio dos corerclan- tes, © patriménio destes existe sempre como haveres em dioheiro © teu dinhetro exerce sempre & fungae desapital A forma desve cap tal € sempre D - MD: 0 ponto de purtida é o dinheiro, « forma Independents do valor-de-troea, @ 9 obtive autonome € o aumen- to do valor-de-troca. A propria troca 3e mereadorias eas opers- ‘q6e8 que a propiciam — separadas ni produgho efetuadat por ‘towprodutores sto apenas melo de acrescer a riquecs, mas ¢rique- ‘ua forma scelal geral, 0 valorestroca (© movimento do capital mercantil €D - M = D; por Isso, 0 Iucro - Mercantil and the Antioan revolution”, pxblicado {Eikar)) Ploatal nterretaions of American comparada de “Ateneo Baltorial, Buenos ‘ren, 1849; Stanley 3. Stein e Barbara f Steln, The colonial heritage Of Latin Ameren 'Exsays on economic dependence In perspective), ford University Press, New York, 180, asp. caps. 11’ V; Deme~ tio Ramos Peres, Historia de la colosacign epatiola en América, Ealclones Pégaso, Madrid, 1997, esp. liv TL () Karl Marx, 0 capita, ctado, Linro 3, vol. 5, p. 376 eC F2) ESCRAVIDAO E RéCISMO ‘Comprar barato, para vender éaro, ¢ a 1d do comézcio. Nho «trata portanto de trocar equlvatentes (*). © desenvolvimento auténomo € prepinderante do capital como tapltal mercantil signifies que a. prodigio 80 se. subordna a0 pital, que o eapita: portanto se desenvive na base de uma forraa social de! producto a ele estranha © dele independente () Essas reflexes indicam claramerte que o que singular za a hegemonia do capital mercanti é que ele torna auto- omo, ou substantiva, 0 processo de clreulacéo, subordt: aando 0 proceso de producfo. Tato assim que a yrodt gio de mercadorias pode darse so) as mais diversas for- ‘mas de organizacio social e técnica das relagées de produ- po: seja nos grémios, corporagéss e¢ manufaturas seja ‘nat haciendas, encomiendas, fazendas, engenhos ¢ plan. tations. Notese, no entanto, que na época em que o capital mer- cantil é autOnomo e preponderante relativamente ao pro- ‘eess0 produtivo, as mercadorias nile sfo trocadas com ba- se em seus valores, equivaléncias ot segundo as quaatida. es de trabalho social nelas contidos, A equivaléncia ontre slas € fortuita, ji que 0 comereiante se dedica pura e sim: 7 Thom, a8 (biden, p. $77 Quanto os caractetsticos do mercantimne « ts relate 2 Cina. Cerit europa sam nce ae ates {sescravidho no Nora Mundo, consular: Erle Willams Captetror ‘slavery, Capricorn Beoks, New York ‘#6; Thomas Mune ct Pe Suet de inotaterra por et tometcio sxionor—Diseure seen dl Ermer de Inpaterte conan Tas Ohonaies a Se asst astonetes, Indo ce Couure eonémia’ Stsion “Sie ae Malton, £t lorecinonto dat capitation: y otter stsayor de sto: ‘i econdmtc, trad, Alverto Uastren evista Ge Occdente Me ie, sis” Karl Pointy. Dahomey nd as hove rade, Unters 1, Fondo de Cultura Beonbmica, México, (4; Evie Hobsbawn, 2 forno @ los origenes ue ta revolucidn tnduwtrial, trad. de Ofelia Cas tlle Enrique Tandeter, Sigio Veintiunc Ealtores, Buenos Alves 1911: Maurice Dobb, 4 evoluodo do capitdiamo, 3 edicho. til. de ‘attonso Blacheyre, Zahar Biitores, Rlo ce Janeiro, 1913, esp cap "A acumulagto de capitals e mercantlismo", Christopher Hil Reformation to industria revolution (A sclal and economic nbtory of Britain: 1590-1780), Weldenfeld’ & Niolson, London, 1968 ESCRAVIDAO E CAPITALISMO 2 plesmente a comprar buralo © vender caro. Ele opera no Ambito do mercado europeu, da comereializicio dos pro: ‘dutos provenientes do Novo Mundo e outras parte do sis: tema colonial europeu surgido com o mereanilismo, Bene- fleia-se do monopolio colonial, caracteristico do mereanti- lismo, para aumentar mais ou menos & vontade seu lucro ‘comercial, Nessas condicées, ¢ secundario o valor real da ‘mereadoria, em termos de contabilidade de custos, ou tra- ‘patho social nela cristalizado. Esse valor, seja qual for & ‘manelra de avalié-o, somente tem importfinei para 0 dono da plantation, engeriho ou outras unidades yrodutivas ba- seada no trabalho compulssrio ou formas de cooperagao simples, Para 0 capital mercantil, era bastarte secundaria forma d> produgéo do fur, agiicar, algodio, prata, ouro @ outros produtos. Mesmo porque, io apogu do capital comercial, 0 comerciante nio domina 0 proresso produiti- ‘vo, mas sim 0 processo de circulagao. oo ce pieaaene aaraemmesce pereer ee maces sa acon ee a pe ee eee ree ener enn eae eens eee ies oie oe cert he nner eat Seersenretncs Tyumen cma snr nie gene el ape ad orioh,arann cy A SRE ED, Seder mown ine eae rere rat caress eee acer eee ec pale te ere ene ce Sean einen cued ane Sart oe Soler eet Peer oie SMO areas es ae ae X importante ahservar cue por sob 0 processo de cir- culagao de mercadorias, governado pelo captal mercantil, encontram-se wirlas formas de producéo. A dspeito de que © Iuero do comerciante se realiza no comérco, ele nfio po- GH) Kar Marx, 0 capita, cltado, Livro 3, vol 8, p, 579-3. ata ‘ltagdo, bern como as tee anteriores, foram tetiradas do cap. intiti- lado "Obvervagoes historieas sobre 0 eapital mereaatil Consulta também: Christopher Hill Op. oi; e Maurice Dobs, Op. cit “ SCRAVIDAO E RACISMO de razarae no se: com base om guantdades crescen tes de mercadoris, F estas ato produdas nay Gite, uropiias no Novo Mando, pitepaimnte sob Gs Iodiidades do trababe corpus: ind eis fe tm problema rl. 3m dina huskies, luero do somerciane etd 0 sobre sate ong Sob trabaho realizado pele neproe'0 tnd sbesgnen ee Imes escrevlsados. Ose, em um nei" aoe, "ue conprando barals« vendendo mb caro fs no shia, € pres Gus eis pe C gL Be miato,¢ presto aue ele pone comprar quant 0 Wolume, & presteza, 3 quantidade e outros requisiios —— € claro que 0 comercimte pode ampliar e dinamizns os ‘Sous negdcios; melhorar a sua competitivdade e ou a sus margem de uero, hhesse Ponto que a tscravatura e as cutras formas de {rabalko compuledrio s+ situam. © capital comercial are sorve quantidades crestentes de meroadbrias. Para que ‘social 0 téeni das relagden ae forcas produtivas. eco cee, oe Bm sua andlise das contigges que produsram a escrava- tura no Novo Mundo, Mare ressaita dois poutos, Sin ne ‘ao lugar, lopeniiiade de terras bata ou dove a, © gue Dermitiria que assalariado, ctr peice Soe udesse abandonar a plarfation, o engenh« ott tee dade produtiva, para tormar-se Sitiante, a0 menos produ- indo oessencial & propria subsisténcin. Emscgimdo ng, ESCRAVIDAO F CAPITALISMO 25 €m varias colénias européias no Nov» Mundo. Nas colénias ‘em que havia indigenas, estes foram submetidos alguma forma de trabalho compulsério, nas aldeias, redugies, en- comiendas ete. Para evitarse que ‘les se evadissom dos locais de trabalho, ou sofressem de maneira demasiado destrutiva as condicdes de trabalhc exigidas pela produ: ¢40 colonial, os indios do Novo Mundo foram submetidos 8 formas especiais de trabalho compulsério. Em algumas situng6ea, @ cscravetura era aburlu e organizada como tal, em outras ela era latente, social e temicamente organtsada > forma diversa daquela (*), Além dos africanos trazldos para o Novo Mundo, também grupss nativos foram sub- Teetidos & escravidio aberta. No conjunto das colonias eu- ropéias no Novo Mundo, a adminisraggo metropolitana onganizouse princizalmente com trés finalidades. Primel- 0, evitar e combater a penetragio des interesses de oulras tetrdpoles, no espirito do exclusivismo ou monopdlio ca- Tecteristico do mercantilismo. Segundo, controlar ® cir. cillagdio do trabalhador escravo, sob ‘odas as formas, para Serantir a producéo colonial e assegurar a vigéncia do sis. tetma politico-social cujo fundamento era o trabalho esora- virado. Terceiro, garantir a continuidade e a regularidade ds exportayao do excedente economizo produzido na col0- nia, excedente esse essencial & reproducéo e ampliagse do capital mereantil metropolttano, Mas 6 fundamental reconhecer, airda, que a escravidao fo) também um grande negéeio para cs comerciantes ingle- Ses, holandeses, franceses, espanhdis, portugueses e outros igados 20 tréfico de negros da Afrca 20 Novo Mundo. Havia vultosos capitals metropolitams envolvidos no 00 méreio de escravos, vinculando assim a metrépole, a Afr! ‘cue ws colonias do Novo Mundo. A dinfmica do’ capital ‘mercantil envolvido no tréfico era un elemento importan- ‘te na manutencdo e expansio da escrivature nas colonies. A produgio das colénias, por sua vez, era comandads a ) Kear Marx, O capital, citado, Livro 1, vol. 2, cap. XXV, inttu- lado “Teoria moderna ia colonizagto”, p. 889-804; Brique Seno, Historia det captaliame en Méstco, lindo, sp. cap. V, s00re O tek ‘balio\em “Le Repdblicn de los Bepafioley” p. 188-208, 26 ESCRAVIDAO E RACISMO partir da dinamica do capital mercanti!, cuja area se reall zacio e reproduefo era a Europa. Assim ¢ que se intensif ca a acumulacio primitiva e, a» mesmo tempo, consol dam-se e expandem-se as formas de organizacao social téenica do trabalho compulsério. Pouco a pouco. esses en- cadeamentos ertre a Europa, a Africa e 0 Novo Mundo adquirem outros desenvolvimentos, principalmiente com 0 ‘erescimento da produgio manvfatureira. Em conjunto, ‘essas relagdes econémicas interracionais acelera a acu ‘mulagio de capital na Inglaterra devido & posicé> privi- legiada que esse pais passou a ocipar no mereantilsmo e, ‘em seguiida, no capitalismo industrial nascente. Wittiams: Neswe comérclo triangular, a Inglaterra — ot mesma ‘manelra que a Franga.s a América Coonial ofereeia ascxport oes ¢ os navies; a Africa oferecla 1 mercadoria humeia: ¢ Plantavions as mavtrias-primas colonids. 0 nevio negreito navega va da metrépole com a carga de maniéaturados. Estes eran troca dos lucrativamente por negros na Aftca, negrot esses qie era comereiados nas plantations com mais lucro, em troca de produtos foloniais que eram transportados a metropole. Quando ¢ volume do coméreio cresceu, a toca triangula: fol suplementada, mas nko suplantada, pelo intercambio direto ertre a metropole e is tndlas Ocidentais, comereando-se manufaturalos da metrépole dhetamen- te com a produgte da colonia (), “HA: Entre 170 ¢ 1780 0 comérelo exterior inglés quase dobrou: « triplicow nos vine anos seguintes. A frota também dabrou. N ‘mestoos anoe 1700-1780 ocorreu uma udanga no mapa eemomico, no qual a Europa era ainda o mais inportante mercado ¢ que em ‘cada coldnia constituiuse uma formagao social mais ou menos delineada, homogénes ou diversificada, Uma forma- ho social excravista era uma sociedade orgaaizads com ‘base no trabalho escravo (do negro, indio, mestgo etc.) na qual o escravo e 0 senhor perenciam a duas castas distin- tas; sociedace essa cujas estruturas de dominaéo politica e apropriagao econdmica estavam determinada: pelas exi- zgencias da produgdo de mais-valia absoluta, Nesus forma (es sociais, as unidaces produtivas — como os engenhos de agucar ne Nordeste do Brasil e as plantaticns do Sul dos Estados Unidos, por exemplo — estavam organizadas de maneira a produsir e repredusir, ou criar e recriar, 0 escravo e o senhor, a mais-valia absoluta, a cultura do se nhor (da casigrande), a cultura do escravo (di senzala), as técnicas de controle, repressio e tortura, as doutrinas 28 ESCRAVIDKO E RACIMO Juridicas, religiosas a: de cunho “darwinista” sobre as de- sigualdades raciais e outros elementos. A alienagio do tra. ‘balhador (escravo) caracteristica dessss formagées socinis implleava que ele era fisica e moralmente subordinada ro senhor (branco) em sua atividade produtiva, no produto do seu trabalho e em suas atividades -eligiosas, lildicas e ‘outras, Nessas condigées, as estruturas de dominagéo eram, a0 mesmo tempo e nicessariamente, allamente repressivas © uriinterais, estando presentes em todas as esferas priti- ‘eas 2 ideologicas da vida do escravo (negro, mulato, indioe ‘mesiigo). Assim, a formagdo social ese-avista era uma s0- cledade bastante artinulada internamente, motivo porque ‘ela podo reaiatir algun tempo As contndigées “exlernus"; ‘Ot &s contradiges internas poueo desenvolvidas. ‘Desie fins do século XVIII comecou a desenvolver-se al- gum tipo de antegonismo, entre as exigincias do capitalis mo ¢ as da formagio eocial escravista. Para compreender 4 duragdo desse antagonismo, é indispensivel compreen- Ger @ fisionomla da formagio social estravista como uma estrutura politico-ecorémica singular; 10s primeiros ter ‘Pos, nfio era apenas um apéndice do sis‘ema mereantilists, depois, a partir do siculo XVIII, ndo se manteve apenas ‘um spéndice do capitelismo em expansio. ‘Nes termes modernos.s plantation em gen surgia fob of aus Plolos burgucses, para supra indGstria com matériea-primas bara- as; mas as conseqiénclis mio foram sempre harménicas com « sodledade burguesa (). -A tocledade de plantation, que havia comieado como aptnilice 4o canitalismo Inglés, terninow por ser uma podernaa civil famplamente autGnoma, com ambigbes 0 possbilidades aristocrat. fas, embora permanecenée vineulada ao" mundo eapltallsta pelos lagos da produeto mereantl. O elemento essendal desta singular c- wilzagio era o dominio & senhor de escraves, possibilitade, pelo ‘contre do trabalho, A esrravatura fot a base do tipo de vida eco- Busene D. Genovee, The politcal ecommy of slavery (St rf er ty ofthe slave south), Pantheon Books ESCRAVIDAO F CAPITA.ISMO 29 rnémica¢ soelal do Sul, dos seus problemas tensbes especias, das ‘Shas pecullares leis ce Sesenvolvimento (" A verdade & que toda pesquisa soire a escravatura no Novo Mundo enfrenta-se, de alguma maneirs, com ns im plcagées hlstérieas © tedriess da problemdtica expressa has categorias mod de produgfio e formagGo social. Os ensaios, as monografias e os estuéos comparativos de David Brion Davis, Bugene D. Genovese, Herbert Aptheker, E,Pranklin Frazier, Gunnar Myrdal, Robert W. Fogel, Sa ley L. Engerman, Brerett C. Hughes, Yerbert Blumer, Oart IN, Degler, Magnus Morner, C. R. Bower, Herbert S, Klein, Sergio Bagu, Demetrio Ramos Perez, Enrique Semo, Vere- ‘na Martinez: Aller. Jaan Martinez Alte", Ciro F. 8. Cardoso, Czio Prado Jtinior, Florestan Pernaades, Celso Furtado, ‘André Gunder Frank, Eric Williams, Emila Viotti da Cos- ta Femando H. Cardoso, Stanley J. Sein, Fernando A. No- vais e outros orientam-se no sentido 4e compreender a es- cravatura em suas articulares e contradigoes com o siste- ‘ma econdmico mundial. Mesmo quanto alguns desses at- tores no trabalham explicitamente com as nogies de mo- 4c de produgio e formagio social, ¢ inegével que as 18s andlises, sugestdes ¢ hipéteses repreiontam contribuigies ‘de malor ou menor valor para a discursto e a pesquisa das articulagSes entre a escravatura do Novo Mundo © o siste- ‘ma econdmico mundial. Iniciaimente, ao longo dos sécvlos XVI @ XVIL, tratave-se do relaclonarento entre o mercer tilsmo e as distintas formas de trabdho compulsério; de- pels, ao longo dos séculos XVIII e XIK, tratava-se do ence- deamento e antagonismo entre escrevidio ¢ capitalismo. Em todos 0s casos, no entanto, é importante assinalar que 0s autores menclonados apresentam ubsidios histériccs e tedricos para a interpretago dos encadeamentos entre as formagées sooinis prevalecentes nas dversas colOnias sme- (GF) Toidom, p. 15-16 A propbsito dos morimentos epertis de te rentes formagies sociai ercravistas: Bugese D. Genovese (organl- ‘2alor), The slave econcmien, 2 vols, John Wiley & Sons, New York, 1918; Florestan Fernandes Cireuto.fechalo, Hucitec, Sto Paulo, O76, cap. 1, Intitulado "A socladade excravita no Brasil” 30 ESCRAVIDAO E RACISMO sicanas © aniilhanas © 0 mod de produsio p:evalecente em Ambito mundial, com nticeo dindmico na Europa. © que parece nao haver ainéa, entre esses e aitros cien: Listas sociais, ¢ um consenso suficientemente :onsistente Sobre essas ¢ outras categoria: envolvidas na historia poli- Hoo-economica das sociedades do Novo Mundo. Ciro F. S Cardoso, Juan Martinez, Aller > Verena Martine:-Alier, por ‘exemplo, utilizam 0 conceito de “mado de produgio escra- vista”. Fernando A. Novais stgere a nogio de “modo de ‘producio colonial”, Celso Furtado emprega os conceitos de ‘semifeudal” e “feudalismo’. Sergio Bagu também con. sider splices ax nos de “formas feds” “Teudall André rejeita esas e outras nogbe, preferin- do considera: 9 Novo Mundo sempre nos terms do eon. colto de “capitalismo”. Enriqe See ufirina gie R80 se ode falar em modo de produnio escravista nas colonias da Espanha, 2 sugere as nocss de “‘semifeudal” e “feuda- lismo”, como Bagu, Furtado e autros. Vejamos, + titulo de exemplo, os termos de alguma: formulagdes de Semo, Sob ‘varios aspectos, elas contém os principais elenentos da controvérsia sobre as caractersticas e os movirrentos das formagoes soviais baseadas no trabalho compulssrio. ‘Apesar da exensho da eacravatin dem outro tip meiteta « lateie), a soiednde novochspaniza nunca passow be wn oso de rodupo exraista, Nho ne eve eaquecer ue a ercavidho pe ealieadn Go ilo seviu pare ida de pratebarata tuna Bas ‘ope em plena revolugo aéclo-ecowmica © Tangara) bases de Unidad econdnicas semitone no Mexico 'sescravicio gereralzada no fe da seciedade nov-hispica um sterascravista,aecim como’ capital comercil'c urease 4s 'antga Roma nao converte eats num empére caplet, Aes ‘vidio negra nos Estados Unidos langow a basen o lsenvol ‘mento do captalsmo présiustria a eecavidno India, serv {a Nova Espanta: pars impustone: Sargonents oa'enectsee 5o qual‘ feualtma aparece catsiaments enrcagnto en's ee, Ditalsmo embrimtrio dependente Assim como as plantations escravistas dos Estados Unidos nao foram a base ce lim mode de predugko escravista, ras. sim do ‘esenvelvimento do capitalism, a emomiemda — spear ta sun for. (Enrique Semo, Op. cit, p. 206-210. ESCRAVIDAO E CAPITALISMO a1 ma tripurara ae exploragio — verviu para a estado de uma os- {rutura baseada na propriedade privada, na qual feulallsmo © eap!- tallsmo emfrionarior se entrelacam Devido a uma série de {atores J& apontados, a eenomia da Nova Espanha contava, desde o principio, com um desenvolvimento im- portante da producio mercantl. Isto tem Indusido a erro a mals de um histerlador, que, confundindo prodigho mereantl com eapl- {alismo, fals-nos em enomionda "capitalista”, hackmda “eapitalls- ta'"e cbrajes “eapitalistas”, em pleno século XVI, pague estas unl- dades achavamse ligadas a um mercado ¢ produsiam em parte Nao me parece oportuno fazer, neste ensiio, uma dis- ‘cusséo critica dessas ¢ outras interpretagée: e hipdteses, relativamente aos encadeamentos entre fornagio social ¢ modo de produgio; ou gobr0 © cardter colonial, escravista, ‘semifeidal, feudal ete. das relagées de produeao na époce ‘colonial eno séoulo XIX, apds as crises e lutas de indepen- déncia, Essa é matéria para ser examinada, ¢ maneira sis- temética ¢ especial, em outra ocasido. Ela implica a pro- ria compreens4o das categorias: capitalisms, feudalismo, ‘mereantilismo, escravismo, modo de produsio, formagao social, relagSes de produc, forgas produtivas e algumas outras. Pereceme oportuno, no entanto, fazer algumas su- gestdes, nm medida em que envolvem diretanente a com- preenstio da historia politio-econémica da tsoravidio. ‘Convérn repetir aqui: as formagSes socisis baseadas no trabalho compulsério, criadas no Novo Murdo, nascem ¢ esenvolvern-se no interior do mercantilisme; ou seja, na ‘epoca e £0 @ influencia do cupltal mercantil entso predo- minante ¢ ascendente na Europa. Ao mesmo tempo que se (=) Hider & Zit consult também: Serio Tamu Op. cit p am.tis! C'S Abeadnurians GF 8: Cardoso, ft Gag, 5. © Ga Tava e €. Lata, Bfodon de profuccdm en Arca Lana, Ea\- lone Pasado y Presente, Cogopa, 1913; Juan y Verena Mainex: ‘ale, Cub: cour ccd jrieolopt an Aeron ‘Andre G. Pants, Capatativm and unde in dn Sloth frie eam, NewYork, a8? . 2l-ba\ Celso Furtado, FramnNag ecnbrncs da dménar Lawn, Eia wattor Rio de June, [Simp 9690" Fernando A Noval Butratura e dinsmiea do antigo diutents golniat tsucule XVEXVIIN), Cadernes Cetrap, S40 Paul, isp Fe

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