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Declaracao Universal dos Direitos Humanos -— Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, vocé deve apresentar os seguintes aprendizados: ™@ Descrever 0 momento histérico mundial antecedente a Declaragao Universal das Direitos Humanos. ™@ >Reconhecer a Declaracao Universal dos Direitos Humanos como um. importante instrumento na defesa dos direitos humanos Analisar os dispositivos da Declaracio Universal dos Direitos Humanos. Introducgao Estudar a Declaragdo Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é analisar 05 principais valores da humanidade, para que todos os seres humanos do planeta consigam ter no minimo uma vida com dignidade. Assim, neste capitulo, para melhor entender a DUDH, vocé vai analisar © momento histérico em que ela tomou forma e vai estudar seus dis- positivos, identificando e compreendendo seu papel e sua importéncia no Direito. Origens da Declaracgao Universal dos Direitos Humanos Os direitos humanos, nao raras vezes, desafiam estudiosos de diversos Ambitos do conhecimento— como a Filosofia, a Sociologia, a Histéria, o Direito, dentre muitos outros — a investigarem os precedentes histéricos e a desvendarem os seus conceitos iniciais, tudo isso com a finalidade de entender o processo de surgimento, protegdo, abrangéncia e universalizagdo desses tdo importantes direitos, cujo marco, no plano internacional, deu-se com a positivagdo da DUDH. Assim, de uma forma geral, 0 estudo acerca dos direitos humanos apresenta importantes caracteristicas, como historicidade, universalidade, essencialidade, 790 J | Peclaracao Universal dos Direitos Humanos irrenunciabilidade, imprescritibilidade, inviolabilidade e efetividade. Isso porque 08 direitos humanos sio fruto de um desenvolvimento social e juridico, visto que tal protecdo surgiu de forma progressiva, 4 medida que se desenvolvia 0 conceito ¢ o reconhecimento de que todas as pessoas humanas sao iguais ¢ merecem, dessa forma, isonomia de direitos e protegdo minima efetiva, Esse reconhecimento, apesar de parecer ébvio na contemporaneidade, no aconteceu de forma igualitdria nem simultaneamente ao redor do planeta. Na verdade, esse reconhecimento ¢ essa protegao so fruto de conquistas histéricas, construidas gradualmente, devido a luta de movimentos sociais em prol da dignidade da pessoa humana. Sobre a genealogia dos direitos humanos, é importante citar as palavras de Bobbio (1992, p. 30), que sintetiza essa importante aiscussao filos6fica [J para a realizaco dos direitos do homem, sio frequentemente ne- cessaias condigdes objetivas que nao dependem da boa vontade dos que os proclamam, nem das boas disposigdes dos que possuem os ‘meios para protegé-los, Mesmo o mais liberal dos Estados se encontra na necessidade de suspender alguns direitos de liberdade em tempos de guerra; do mesmo modo, o mais socialista dos Estados no teré condigdes de garantir o direito a uma retribuigao justa em épocas de carestia, Sabe-se que o tremendo problema diante do qual esto hoje os paises em desenvolvimento é o de se encontrarem em condigdes econd- micas que, apesar dos programas ideais, no permitiam desenvolver a protegdo da maioria dos direitos sociais. O direito do trabalho nasceu ‘coma Revolucio Industrial e é estreitamente ligado a sua consecugio. Quanto a esse direito, ndo basta fundamenté-lo ou proclamé-lo, Nem tampouco basta protegé-lo, O problema da sua realizagao nao é nem filoséfico nem moral. Mas tampouco é um problema juridico, E um problema cuja solugio depende de um certo desenvolvimento da so- ciedade ¢, como tal, desafia até mesmo a Constituigdo mais evoluida © poe em crise até o mais perfeito mecanismo de garantia juridica. A efetivagdo de uma maior protegdo dos direitos humanos esté ligada a0 desenvolvimento global da civilizagao humana, Dessa forma, é necessario entender o momento histérico no qual foi cunhado um dos mais importantes documentos de protegdo 4 humanidade, a DUDH, que inaugurou uma nova era de direitos e protegao. Declaragéo Universal dos Direitos Humanos Apés a Segunda Guerra Mundial, principalmente devido as atrocidades contra seres humanos nela cometidas, surgiu a necessidade de uma nova declaragao de direitos de cunho inclusive internacional, como explica Dallari (1993). O processo teve inicio em 1945, por meio da Carta das Nagées Unidas (1930), com uma norma internacional “[..] destinada a fornecer a base juridica para a permanente ago conjunta dos Estados em defesa da paz mundial” (DALLARI, 1993, p. 178), que serviu de pano de fundo para, em 1948, ser aprovada a DUDH. Saiba mais Desde 1945, a palavra holocausto adquiriu um significado novo e terrivel: 0 assassinato em massa de cerca de 6 milhdes de judeus europeus (bem como de os membros de outros grupos perseguidos, como 0s ciganos e os homossexuals) pelo regime nazista alemao durante a Segunda Guerra Mundial. Saiba mais no link abaixo. https://g00.gl/WSF9j7 Segundo Silva (2000), os principios da universalidade ¢ da indivisibilidade dos direitos individuais so os ideais da DUDH, que acabou por divulgd-los em todo o mundo e por ressaltar a condigo de pessoa como requisito para a dignidade de todos. Portanto, com a DUDH, surgiu um novo conceito de pro- tego dos direitos humanos e iniciou-se, por consequéncia, o desenvolvimento da positivagdo internacional das normas relativas 4 proteszio desses direitos mediante inimeros tratados internacionais. Assim surgiu o chamado sistema normativo positivo global de protecao dos direitos humanos, composto por instrumentos de abrangéncia internacional especificos e gerais. Um importante instrumento na defesa dos direitos humanos A DUDH, aprovada em 1948 pela Assembleia Geral das Nagdes Unidas, em Paris, destaca-se como um importante instrumento de defesa dos direitos humanos no plano internacional, colocando esses direitos sob outro paradigma: o da necessidade do reconhecimento dos direitos fundamentais e da dignidade humana como fundamentos da liberdade, da justiga e da paz mundial, fazendo 792 J | Declaracao Universal dos Direitos Humanos prevalecer a liberdade individual, a igualdade entre os seres humanos ¢ 0 ideal democritico como formas de atingir 0 progresso econémico, social ¢ cultural, conforme expée Silva (2000) Fique atento Para Douzinas (2007, p. 19}: [..Jos direitos humanos se tornam o prinefpio de libertagao da opressio © da dominagio, o grito de guerra dos sem teto e dos destituidos, 0 programa politico dos revolucionétios ¢ dos dissidentes [.] Os direitos numanos sao 0 fado da pés-Modernidade, a energia das nossas socie- dades, 0 cumprimento da promessa do Iluminismo de emancipagio © autorrealizagao. A DUDH inaugurou a forma como hoje entendemos os direitos humanos, uma vez que primou pelos principios da universalidade ¢ da indivisibilidade desses direitos ¢ acabou por difundi-los pelo mundo inteiro, Assim, abriu minhos para todo um sistema normativo positivo internacional de protegao colocou o Direito Internacional em um novo patamar, o do Direito Internacional da Cooperagao da Solidariedade, no lugar do Direito da Paz e da Guerra. Zarca (1997, p. 9) explica que a DUDH: | traz um aspecto fundamental para a compreensdo da modernidade. Um dos tragos essenciais dessa modernidade nao reside exatamente na definigao do homem como sujeito de direitos? Sujeito ao qual se ligam, simplesmente porque é um ser humano, ou seja, naturalmente, direitos. Ora, essa defini- Gao do homem como um ser portador de direitos nio é atemporal, ja que foi inventada pela filosofia moral e politica moderna, constituindo uma de suas principais inovagdes. Poderiamos dar virias formulagGes sobre a importan- cia dessa inovagdo, Mas, eu ficarei com apenas uma: a transformagdo da nogao renascentista de dignidade do homem na nogdo de homem como ser portador de direitos no século XVIL. Transformagao significa conservagao e ‘mudanga. O que se conserva € a ideia de uma especificidade que caracteriza 6 homem enquanto tal ¢o distingue de todos os outros seres naturais. O que muda profundamente € que a jmktmzew nsqmtmw se refere menos ao lugar do homem na hierarquia dos seres, jd que o homem tem sua prépria liberdade de se constituir naquilo que ele é, e muito mais & nogdo do homem como ser portador de direito que define muito mais um dado do que uma responsabi- lidade sobre aquilo que ele serd. Declar Dessa forma, baseado em valores essenciais, pode-se dizer que o principal objetivo da DUDH ¢ que os seres humanos, universalmente, ou seja, onde quer que se encontrem, consigam ter, no minimo, uma vida com dignidade, inde- pendentemente de nacionalidade, sexo, idade e cor. Dai a grande importancia dessa Declarago no plano internacional e como instrumento de protegiio aos direitos humanos. Dispositivos da Declaracao Universal dos Direitos Humanos Como vimos, a DUDH foi aprovada em 10 de dezembro de 1948 pela Assem- bleia Geral das Nagdes Unidas, em Paris. A sua aprovagao se deu por meio de uma resolugdo, a Resolugao ONU n’, 217-A, destacando-se como um importante documento de defesa dos direitos humanos no plano internacional, Devido 4 grande importancia desse instrumento na protegdo dos direitos humanos, precisamos analisar os seus dispositivos legais. Fique atento ‘A DUDH fol aprovada como resolugSo, ndo como tratado internacional Preambulo Preambulo é a introdugdo, a declaragao inicial dos termos de um dispositive legal. E no preambulo que vém expressos os principios, valores ¢ objetivos que fundamentam 0 texto legal. O predmbulo da DUDH se inicia trazendo a dignidade como elemento inerente & pessoa humana e, junto com a isonomia, fundamenta o idedrio de liberdade, justiga e paz no mundo. Preambulo Considerando que 0 reconhecimento da dignidade inerente a todos os mem- bros da familia humana e dos seus direitos iguais e inaliendveis constitui o fundamento da liberdade, da justica e da paz no mundo (ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) }0 Universal dos Direitos Humanos 139 140) | Declaracao Universal dos Direitos Humanos Contudo, nos paragrafos seguintes, o predmbulo expde a necessidade de consciéncia da humanidade e de se proteger os seres humanos das atrocidades praticadas pelos préprios seres humanos, de maneira universal: Considerando que © desconhecimento ¢ 0 desprezo dos direitos do Homem conduziram a atos de barbarie que revoltam a conseiéneia da Humanidade e que 0 advento de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar € de crer, libertos do terror e da miséria, foi proclamado como a mais alta inspiragio do Homem; Considerando que é essencial a prot tum regime de direito, para que o Homem nao seja compelido, em supremo recurso, drevolta contra a tirania ¢ @ opressio (ORGANIZACAO DA NAGOES, UNIDAS, 2009, documento on-line) o dos direitos do Homem através de preambulo demonstra, na parte final, a necessidade de se universalizar de maneira isonémica a protegdo aos direitos humanos fundamentais, como forma de promover o desenvolvimento das relagdes entre as nagées, indepen- dentemente de onde se encontre o individuo: Considerando que é essencial encorajar 0 desenvolvimento de relagdes amistosas entre as nagées; Considerando que, na Carta, os povos das Nagdes Unidas proclamam, de novo, a sua 8 nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres ¢ se declaram resolvidos a favorecer 0 progresso social e a instaurar melhores, condigdes de vida dentro de uma liberdade mais ampla; Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperago com a Organizagio das Nagdes Unidas, o respeito universal ¢ efetivo dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais; Considerando que uma concepgio comum destes direitos ¢ liberdades é da mais alta importancia para dar plena satisfagdo a tal compromisso: A Assembleia Geral proclama a presente Declarago Universal dos Direitos Humanos como ideal comum a atingir por todos os povos ¢ todas as nagdes, a fim de que todos os individuos e todos os érgios da sociedade, tendo-a constantemente no espirito, se esforeem, pelo ensino ¢ pela educagdo, por desenvolver 0 respeito desses direitos e liberdades e por promover, por me- didas progres a sua aplicagao universais ¢ efetivos tanto entre as populagdes dos préprios Estados-Membros como entre as dos territérios colocados sob a sua jurisdi- so (ORGANIZAGAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) vas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento Declaracdo Universal dos Direitos Hum 11 Os arts. 1° e 2° da DUDH proclamam o direito a liberdade e 4 igualdade de todos os seres humanos, consagrando assim os principios da igualdade material ¢ da liberdade, sem qualquer discriminagao: Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Sao dotados de razio e consciéncia e devem agir em relagdo uns aos outros com espirito de fraternidade, Artigo 2° ‘Todos os seres humanos podem invocar os direitos ¢as liberdades proclamados na presente Declaragao, sem distingao alguma, nomeadamente de raga, de cor, de sexo, de lingua, de retigido, de opinigo politica ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outta situagao, Alem disso, no sera feita nenhuma distingo fundada no estatuto politico, juridico ou internacional do pais ou do territério da naturalidade da pessoa, seja esse pais ou territério independente, sob tutela, auténomo ou sujeito a alguma limitagdo de soberania (ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line). Fique atento Igualdade material no significa tratar todos de forma igual, mas tratar os iguais de forma igual e os desiquais de forma desiqual, de forma a igualar as possiveis diferencas, Os arts, 3°, 4° e 5° da DUDH consagram os direitos fundamentais a vida, 4 seguranga juridica (diferente da seguranga publica) ¢ liberdade, proibindo a escravidio e a servidao, assim como o aliciamento das pessoas (¢ vedada a tortura ¢ 0 castigo cruel ou degradante): Artigo 3° TTodo individuo tem diteito a vida, a liberdade © a seguranga pessoal Artigo 4° [Ninguém seré mantido em escravatura ou em serviddo; aeseravaturae trato dos escravos, sob todas as formas, so proibides. Artigo 5° Ninguém sera submetido a tortura nem a penas ou tratamentos crudis, de- sumanos ou degradantes (ORGANIZAGAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) 142) | Declarago Universal dos Direitos Humanos Os arts. 6° ¢ 7° da DUDH anunciam o principio da isonomia formal que, diferentemente da igualdade material, estabelece a necessidade de igualdade entre as pessoas (igualdade perante a lei), bastando nascer humana para fazer jus ao reconhecimento ¢ tratamento como ser humano, proibindo inclusive 0 incitamento de discriminago a qualquer ser humano, o que viola a DUDH: Artigo 6° Todos os individuos tém direito ao reconhtecimento, em todos os lugares, da sua personalidade juridica. Artigo 7° ‘Todos so iguais perante a lei e, sem distingdo, tém direito & igual protegio da lei, Todos tém direito a proteeao igual contra qualquer discriminagao que viole a presente Declaragdo ¢ contra qualquer incitamento a tal discrimina- 90 (ORGANIZAGAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) Os arts, 8°, 9°, 10 e 11 trazem as garantias processuais e materiais das pessoas humanas: os remédios constitucionais de garantia a direitos protegidos pela DUDH; 0 devido proceso legal; a vedagio & prisio arbitrdria, a detengdo ou ao exilio arbitrarios; a isonomia processual; a imparcialidade do magistrado; a publicidade dos atos processuais; a presungao de inocénci: a legalidade e a irretroatividade da lei penal, salvo em beneficio do réu. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdigdes nacionais, competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituigdo ou pela Lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° ‘Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigagSes ou das razdes de qualquer acusagdo em matéria penal que contra ela seja deduzida, Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo pil- blico em que todas as garantias necessérias de defesa Ihe sejam asseguradas. Declaracio Universal dos Direitos Humanos } | 143 2. Ninguém seré condenado por ages ou omissdes que, no momento da sua pritica, no constituiam ato delituoso a face do direito interno ou interna~ ional. Do mesmo modo, nao seré infligida pena mais grave do que a que era aplicavel no momento em que 0 ato delituoso foi cometido (ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line). Oart. 12 proclama o direito a vida privada, a intimidade e a inviolabilidade de correspondéncia e domiciliar: Artigo 12° Ninguém sofrerd intromissdes arbitrérias na sua vida privada, na sua femilia, no seu domicilio ou na sua correspondéneia, nem ataques & sua honra e repu- tagdo. Contra tis intromissbes ou ataques toda a pessoa tem direito& prote da lei (ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) Oart, 13 proclama o direito a liberdade de ir e vir (liberdade de locomogiio), consagrando o direito de transitar pelo pais e de sair e voltar quando quiser: Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residéncia no interior de um Estado 2. Toda a pessoa tem o dircito de abandonar o pais em que se encontra, incluindo o seu, e 0 direto de regressar a0 seu pais (ORGANIZACAO DA NACOES UNIDAS, 2009, documento on-linc). O art. 14 consagra o direito ao asilo politico, excepcionando os casos que ndo comportam esse direito, quando o individuo é legitimamente perseguido por crimes de direito comum ou quando se trata de atos contrarios aos objetivos e principios das Nagdes Unidas: Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita & perseguigao tem o direito de procurar ede beneficiar de asilo em outros paises. 2. Este direito nao pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por atividades contrérias aos fins & 0s principios das Nagdes Unidas (ORGANIZAGAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line), art. 15 trata do direito a nacionalidade como um direito humano, que deve ser assegurado a todos as pessoas: 144] [ Declaragao Universal dos Direitos Humanos Artigo 15° 1. Todo o individuo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade (ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line). Oart. 16 protege o direito a constituigdo de familia, considerando a familia como um nucleo natural e fundamental da sociedade, ressaltando a igualdade entre os cénjuges no casamento: Artigo 16° 1. A partir da idade nabil, o homem ¢ a mulher tém o direito de easar e de constituir familia, sem restrigdo alguma de raga, nacionalidade ou religido. Durante o casamento ¢ na altura da sua dissolugao, ambos tém direitos iguais. 2. O casamento ndo pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos, 3. familia 6 0 elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito a protecdio desta e do Estado (ORGANIZAGAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) O art. 17 consagra um direito de primeira geragao, que € o direito a pro- priedade sem interferéncias do Estado: Artigo 17° I. Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito a propriedade, 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade (ORGANI- ZACKO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) Os arts. 18 ¢ 19 explicitam o direito A liberdade de pensamento, opiniao, expresso, crenga e consciéneia também como um direito humano e universal: Artigo 18° Toda a pessoa tem direito & liberdade de pensamento, de consciéneia e de religido; este dircito implica a liberdade de mudar de religio ou de convie- edo, assim como @ liberdade de manifestar a religido ou conviegao, sozinho ‘ou em comum, tanto em piblico como em privado, pelo ensino, pela prtica, pelo culto ¢ pelos ritos. Artigo 19° Todo 0 individuo tem direito a liberdade de opinigo e de expres implica o direito de nao ser inquietado pelas suas opinides e 0 de procurar, receber e difundir, sem consideragdo de fronteiras, informagdes ¢ ideias por qualquer meio de expressio (ORGANIZAGAO DA NACOES UNIDAS, 2009, documento on-line). fio, 0 que Declaracio Universal dos Direitos Humanos J | 145 Oart. 20 traza liberdade de reuniao e de associagao pacifica, nio podendo ninguém ser obrigado a fazer parte de uma associagao: Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito a liberdade de reunifio ¢ de associagao pacificas, 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associagdo (ORGANT- ZACAO DA NACOES UNIDAS, 2009, documento on-line). Os arts. 21 e 22 consagram o direito a utilizagao dos servigos pitblicos e & seguranga social ¢ 0 direito de se fazer representar diretamente ou indireta- mente pelos mesmos, assim como asseguram o direito ao voto e a participagao politica no pais. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na diregdo dos negécios pi- blicos do seu pais, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda.a pessoa tem direito de acesso, em condigdes de igualdade, as fungdes piiblicas do seu pais. 3. A vontade do povo & o fundamento da autoridade dos poderes piblicos: & deve exprimir-se através de eleigdes honestas a realizar-se periodicamente por suftdgio universal e gual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto, Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito a seguranga social; ¢ pode legitimamente exigir a satisfagdo dos direitos econémicos, sociais e cul- turais indispensdveis, gracas ao esforgo nacional e a cooperagao internacional, de harmonia com a organizagio os recursos de cada pais (ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line) Os arts. 23° e 24° consagram os direitos trabalhistas, como o direito de ter um trabalho em condigdes justas, de escolher o trabalho, de protego contra o desemprego involuntario, de igualdade de condigdes no trabalho, de remu- nerago justa e satisfatéria, de liberdade de associagao em sindicatos, bem como o direito a repouso e lazer, a uma jornada limitada e a férias periddicas ¢ remuneradas. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, a livre escolha do trabalho, a condi- es equitativas c satisfatérias de trabalho e protegao contra o desemprego. 2. Todos tém direito, sem discriminagdo alguma, a salério igual por trabalho igual 146) | Declaracao Universal dos Direitos Humanos 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneragdo equitativae satisfatoria, que Ihe permita e a sua familia uma existéncia conforme coma dignidade huma- na, € completada, se possfvel, por todos os outros meios de protegao social 4, Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos scus interesses, Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso ¢ aos lazeres, especialmente, a uma limitagdo razoavel da duragio do trabalho e as férias periddicas pagas (OR- GANIZACAO DA NAGOES UNIDAS, 2009, documento on-line), Dos arts. 25° ao 29° so assegurados os direitos sociais; ou seja, esses artigos estabelecem uma vida socialmente digna como um direito humano, incluindo 0 direito 4 educagao, inclusive gratuita, nos periodos elementares ¢ fundamentais, assim como a possibilidade de acesso a todos & instrugio técnico-profissionalizante e instrugdo superior baseada no mérito. Asseguram também como direitos humanos a cultura ¢ o pleno desenvolvimento da perso- nalidade, devendo 0s direitos e as liberdades serem limitados apenas pela lei. Artigo 25° I. Toda a pessoa tem direito a um nivel de vida suficiente para Ihe assegurar A sua familia a saiide e o bemeestar, principalmente quanto & alimentagao, a0 vestuario, a0 alojamento, & assisténcia médica ¢ ainda quanto aos servigos sociais necessarios, e tem direito 4 seguranga no desemprego, na doenga, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsisténcia por circunstancias independentes da sua vontade 2. A maternidade e a infancia tém direito & ajuda e 4 assisténcia especiais. Todas as criangas, nascidas dentro ou fora do matriménio, gozam da mesma protegdo social Artigo 26" 1. Toda a pessoa tem direito a educagdo. A educagao deve ser gratuita, pelo ‘menos a correspondente ao ensino clementar fundamental, O ensino elementar € obrigatério, O ensino técnico ¢ profissional deve ser generalizado; 0 acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em fungdo do seu mérito. 2. A educagdo deve visar & plena expansio da personalidade humana ¢ ao reforgo dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favo- recer a compreensio, a tolerdncia e a amizade entre todas as nagées e todos 6s grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nagdes Unidas para a manutengao da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de edu a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso cientifico e nos beneficios que deste resultam. 2. Todos tém direito protegdo dos inte esses morais e materiais ligados a qualquer produgao cientifica, literaria ou artistica da sua autoria Declaracio Universal dos Direitos Humanos J | 147 Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social eno plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos ¢ as liberdades cemunciadas na presente Declaragao. ‘Artigo 29° 1.0 individuo tem deveres para com a comunidade, fora da qual ndo € possivel o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercicio deste direito e no gozo destas liberdades ninguém esti sujeito seno is limitagdes estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover © reconhecimento ¢ o respeito dos direitos e liberdades dos outros ¢ a fim de satisfazer as justas exigéncias da moral, da ordem piblica e do bem-estar numa sociedade democratica 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderdo ser exercidos contraria- mente ¢ aos fins ¢ aos principios das Nagdes Unidas (ORGANIZAGAO DA NACOES UNIDAS, 2009, documento on-line), O art. 30, ultimo dispositivo da DUDH, assegura uma interpretagao ampla das protegdes asseguradas nessa Declaragao pelos Estados, proibindo de forma autilizagdo das garantias e liberdades como forma de destruigdo dos. expres direitos assegurados na propria Declaragao: Artigo 30° ‘Nenluma disposigdo da presente Declaragdo pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou individuo o direito de se entregar a alguma atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir 60s direitos ¢ liberdades aqui enunciados (ORGANIZACAO DA NACOES. UNIDAS, 2009, documento on-line) Referéncias BOBBIO, N. A era dos direitos, Rio de Janeiro: Campus, 1992 DALLARI, D. A. Elementos de teoria geral do Estado, 17, ed, Sa0 Paulo: Saraiva, 1993, DOUZINAS, C. Ofim dos direitos humanos. S40 Leopoldo: Unisinos, 2009, ORGANIZACAO DA NAGOES UNIDAS. Declaragdo Universal dos Direitos Humanos. 2009. Disponivel em: . Acesso em: 5 jul. 2018. SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positive, 18. ed. Sao Paulo: Malheiros, 2000, ZARCA, Y.C. Ainvengao do sujeito de Direito, Porto Alegre: L&PM, 1997. (Filosofia Politica Nova série, v.))

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