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A METODOLOGIA DE PESQUISA IMPLEMENTADA PELA REDESIST Marcelo Pessoa de Matos Fabio Stallivieri 1. INTRODUCAO ‘A RedeSist (Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais), realizou desde sua criagdo, em 1997, mais de cem estudos empiricos sobre Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovatives Locais (APLs). O conceito de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais desenvolvida pela RedeSist vém sendo utilizada tanto para melhor compreender as caracteristicas e dindmica das mais diversas ativiaes produtivas no escopo do novo paradigma produtivo, quanto para orientar politicas piblicas. © uso de tal nogdo ~ ao destacar o papel central do conhecimento, inovacio e aprendizagem interativo como fatores de competitividade sustentada — exige a elaboragdo de mecanismos de coleta de dados que possam captar dimensbes nfo encontradas nas estatisticas baseadas em divisdes temtitoriais e setoriais tradicionais. Neste sentido, o desenvolvimento das diversas andlises empiricas com base num quadro de referéncia comum tem suprido a lacuna decorrente da auséncia de informacdes sistematizadas sobre o tema, possibilitando a construgdo de um painel representative de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais no Brasil. Os estudos desenvolvidos englobam APLs de todas as regides do pais e contemplam uma gama variada de atividades produtivas, que abrange setores de extrac2o mineral, da industria de transformac%o (com atividades tradicionais — téxtil, vestuario e caleados, por exemplo — e outras de maior contetido tecnolégico — como a aeroespacial e telecommunicagdes), bem como atividades agro-industriais e de servicos, incluindo turismo e atividades intensivas em cultura, ‘A metodologia da pesquisa desenvolvida pela RedeSist vem sendo aperizigoada a0 longo do desenvolvimento dos projetos realizados com diversos parceiros. Buscou-se continuamente reavaliar tal instrumento metodolégico a partir da discussdo e avaliagdo critica dos participantes da RedeSist ¢ das agéncias de fomento envolvidas nos diferentes projetos. No periodo de 2002-2004, no ambito do projeto "Sistemas Produtivos e Inovativos Locais de MPME: uma nova estratégia de agdo para o Sebrae", apoiado pelo Sebrae, a RedeSist reformulou os instrumentos metodolégicos empregados. Buscou-se redesenhar 0 questionario aplicado em empresas, compatibilizando as perguntas as informagdes das principais bases de dados secundarios do IBGE, tais como a Pesquisa Industrial Anual (PIA) e a Pesquisa Industrial de Inovagdo Tecnolégica (Pintec). Os resultados desta tiltima rodada de revistio e aperféigoamento do instrumental metodolégico sto apresentados e discutidos no presente texto, No item que se segue é apresentado 0 quadtro referencial que fundamenta os esforgos de pesquisa empirica, enfocando os prineipais conceitos e objetivos associados a pesquisa em APLs. No terceiro item, destaca-se a forma de defini¢ao dos casos estudados. O item quatro ressalta a forma de caracteriza¢io dos APLs. No quinto item define-se os atores a serem entrevistados nas pesquisas de campo e a construcao do plano amostral, No sexto item ressaltam-se os instrumentos utilizados aa pesquisa de campo. O sétimo item demonstra como as quesides de pesquisa referentes 20 cariter sistémico dos processos produtivos e inovativos podem ser elucidadas com o uso da metodologia adotada pela RedeSist, Por fim, sdo apresentadas as consideragdes finais. 2. POR QUE 0 FOCO NA INOVACAO E EM SISTEMAS DE INOVACAQ ‘Uma questio chave que tem preocupado muitos cientistas sociais ha mais de dois séculos é a definicao dos fatores determinantes para o crescimento econdmico e o desenvolvimento de diferentes sociedades, reinos, cidades-estado, paises, etc. Tal questio ¢ central tanto para o entendimento dos processos histéricos que levaram ao atual cenirio de paises mais e menos desenvolvidos, quanto para nortear politicas que possam contribuir / dinamizar tal processo. Sobremdo com as contribuicbes de Karl Marx no século XIX ¢ de Joseph Schumpeter na primeira metade do século XX, estabelece-se 0 reconhecimento de que um determinante central do desenvolvimento econdmico é o processo de inovagao. Como jé reconhecido anteriormente por outros economistas clissicos, como Adam Smith, foi o process de progresso cientifico e tecnolégico e sua aplicago as atividades produtivas que possibilitou os grandes avangos como aqueles experienciados pela Inglaterra em sua revolugio industrial, Da mesma forma, as sucessivas ondas de transformagdes das estruturas econémicas tém tido como um dos seus determinantes centrais a introdugdo de um conjunto de novas tecnologias que geraram amplo impacto sobre os mais diversos setores produtivos (Freeman e Perez, 1988). Se, por um lado, um conjunto de novas tecnologias tende a se difindir ao longo do tempo, por outro lado, diferentes localidades e/ou paises t8m se mostrado mais hébeis na criagdo, no uso e na busca pelo continuo avanco destas tecnologias. Ou seja, por um lado, as tecnologias de mecanizacio da produgio e de forca motriz introduzidas na Inglaterra do século XVIII ja constituem elementos amplamente difundidos, por outro lado, diferentes paises e localidades apresentam maior ou menor grau de dominio em tecnologias mais recentes (e.g. eletrinica, TICs, biotecnologias, nanotecnologias, etc.). E 0 maior dominio destas tem se traduzido em importantes diferenciais competitivos, favorecendo seu maior desenvolvimento econdmico. Se 0 dominio de campos tecnoldgicos (entendido como a capacidade de gerar, fazer uso e promover 0 avango nestas reas) constitui um determinante central do desenvolvimento ¢ se a inovagdo é 0 processo através do qual este dominio se traduz em aplicagdes produtivas, entender estes elementos & promové-los constitui uma diretriz central para esforgos de politica, Dado este reconhecimento, diferentes esforcos tedricos e analiticos tem buscado entender os determinantes dos avancos cientificos e€ tecnolégicos e da inovagdo tanto no nivel de empresas individuais quanto em perspectivas mais amplas. Neste contexto se desenvolve © conjunto variado de esforgos analiticos que ¢ atualmente agregado sob © termo Economia da Inovagdo. Destaca-se neste conjunto a abordagem evoluciondria ou neo- schumpeteriana. Este referencial busca analisar quais so as condicionantes, motivagdes e processos através dos quais inovagdes sto geradas, difundidas ¢ apropriadas e como contribuem para transformar a estmutura econémica (2, por extensio, social), tomando como ponto de partida uma perspectiva conereta do mundo sécio-econdmico em constante mudanca, marcado por incerteza e agentes diferenciados, organizagdes complexas ¢ limitadas em suas capacidades (Nelson e Winter, 1982; Freeman, 1987). Baseado na observacdo das diversidades existentes entre os diferentes paises e regides em termo de suas caracteristicas histéricas, linghisticas, culturais e sociais especificas e que influenciam diretamente a configuracdo da estrutura politica e institucional de cada pais. expoentes no desenvolvimento da teoria evolucioniria elaboraram o conceito de Sistemas Nacionais de Inovagio. Destacam-se os trabalhos, em meados dos anos de 1980, de Christopher Freeman e Bengt-Ake Lundvall. A constituicao deste referencial se beueficiou de mmitas influéncias, destacadamente aquelas advindas do campo do pensamento estrumuralista 2 as importantes contribuigdes feitas neste campo por pensadores latinoamericanos. Estes identificam na mmudanga estrutural 0 potencial de incorporar os beneficios avangos do progresso técnico e entendem que a promogio de tal processo tem que se dar a partir do entendimento das tajetérias histéricas especificas e dos contextos sociais, culturais, econdmicos, institucionais e politicos de cada sociedade (Prebisch, 1949; Myrdal, 1958; Furtado, 1961). ‘Um Sistema de Inovaeao engloba o conjunto de organizagdes que contribuem para o desenvolvimento da capacidade de inovacao de um pafs, regio, setor ou localidade. Constitui-se de elementos e relacdes que interagem na produgio, difiisio € uso do conhecimento (Freeman, 1982, 1987; Lundvall, 1985 1992, e Nelson, 1993). A forma como estas estrutras se articulam influencia e dé contomos especificos as diferentes estruturas econ6micas, a forma de organizacdo intema das firmas e dos mereados e ao sistema inovativo (Lastres et al., 2003). Em primeiro lugar, tal abordagem sublinha as diferentes trajetérias de desenvolvimento de paises, destacando a co-evolucio das estiuturas produtivas € das capacitagdes das organizagdes e individuos Isto implica em uma transformacao lenta e articulada da estrutura produtiva e de conhecimento, estando os processos de aprendizagem e de mudangas estruturais no ceme deste processo. Em segundo lugar, tal abordagem enfatiza que conhecimentos importantes para o desempenho econdmico sto enraizados em um local. Tal perspectiva parte da concep¢ao do conhecimento e seu grande componente tacito, conforme detalhado abaixo. Um terceiro fator destacado por esta abordagem é a importincia das interagdes e relagdes entre os agentes, dado que nem individuos nem organizagbes produzem e inovam sozinhos. Como pano de fundo destas interagdes esta o arcabouco institucional particular e os demais elementos sociais e culturais especificos de um pais, derivado de seu processo historico de desenvolvimento (Freeman, 1995). De forma mais especifica, no que diz respeito as caracteristicas singulares de cada pais na configurag’o da atividade econdmica e de sua capacidade endégena de inovagdo, tem-se apontado para a importncia da proximidade geogrifica entre os agentes como fator relevante para o desenvolvimento de capacitagdes especificas. Diversas contribuigdes teéricas tém possibilitado uma mellior compreensdo da importancia da proximidade geogréfica, reinterpretando aspectos como especializacio e competitividade dentro de uma perspectiva de interagdes (Cassiolato e Szapiro, 2003). E neste contexto que se insere 0 referencial aualitico de Arranjos Produtivos Locais, 0 qual se constitui em um instrumento para entender os processos produtivos, de geracdo difusto de conhecimentos ¢ de inovaco na dimensdo local e para propor/direcionar esforgos de politica que busquem promover tais processos e com isso impulsionar 0 desenvolvimento socioecondmico local. 3. CONSIDERACOES SOBRE APLs 3.1. referencial de Arranjos Produtivos Locais - APLs A abordagem analitica e metodoldgica de Arranjos Produtivos Locais constitui uma alternativa ao foco tradicional de setores econdmicos e empresas individuais por englabar, de forma articulada, os mais diversos agentes produtivos, institmcionais ¢ sociais que caracterizam qualquer sistema de producto (RedeSist, 2008), De acordo com a definigo proposta pela RedeSist', Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos representam findamentalmente um quadro de referéncias, a partir do qual se busca compreender os processos de geraedo, difiisto e uso de conhecimentos ¢ da dinmica produtiva e inovativa. © enfoque abrange conjuntos de atores econdmicos, politicos ¢ sociais e suas interacdes, incluindo: empresas produtoras de bens e servigos finais e fornecedoras de matérias-primas, equipamentos € outros insumos; distribuidoras ¢ comercializadoras; trabalhadores € consumidores; organizagdes voltadas & formacio e treinamento de recursos humanos, informacao, pesquisa, desenvolvimento e engenharia; apoio, regulaclo e financiamento; cooperativas, associagdes, sindicatos e demais érgaos de representagdo. Tal visto sistémica abrange atores e atividades produtivos e inovativos: ‘© com distintas dindmicas e trajetérias, desde as mais intensivas em conhecimentos até aquelas que utilizam conhecimentos endégenos ou tradicionais; + de diferentes portes e fungSes, originatios dos setores primirio, secundizio e terciério, operando local, nacional ou internacionalmente. O termo Arranjos Produtivos Locais — APLs surge como uma adaptaco e contracao do termo original Sistemas Produtivos e Inovativos Locais — SPILs. A adaptacdo se deve & opedo pelo termo Arranjo em substituigdo ao termo Sistema, o que contribui para sublinhar que toda e qualquer configuragao produtiva (mesmo aquelas desarticuladas, nas quais nfo se apresente um sistema complexo) é foco deste referencial. Mas é importante sublinhar que mesmo nestes casos € essencial se adotar uma perspectiva sistémica, ou seja, buscando entender como se articulam e interagem os diversos tipos de agentes existentes. A contrac se dé pela supressdo do termo Inovativo, tomando a sigla mais simples, sobretudo em seu uso por parte de organizagdes de apoio e promogio. Também aqui é importante sublinhar que isto no minimiza a relevncia da inovacdo neste referencial analitico. Ou seja, mesmo * Ver www.sinal redesist esti br fazendo-se referéncia a um Arranjo Produtive Local — APL, adota-se uma visio sistémica dos processos produtivos e inovatives. © referencial de APLs di especial destaque esfera local, dado que as atividades produtivas e inovativas so diferenciadas temporal e espacialmente, refletindo 0 carter localizado da assimilacao e do uso de conhecimentos e capacitagdes, resultando em requetimentos especificos de politicas. Este referencial também sugere um recorte por conjunto ou area de atividade, circunscrevendo-se a0 conjunto de segmentos e atividades produtivas correlatas e relacionadas (como, por exemplo, 0 conjunto de atividades relacionadas a indiistria de couro e calcados, de madeira ¢ méveis, de pesca e beneficiamento de pescados ou de eletroeletrénica, etc.)” A partir das contribuigdes de Alfred Marshall sobre os distritos industriais’, diversas contribuicdes tedricas vém sendo desenvolvidas, tendo como foco configuragdes produtivas, envolvendo diferentes atores em Ambito local. Embora andlogas, estas apresentam énfases distintas de acordo com os fatores considerados importantes *. Identifica-se como caracteristicas comuns a estas estruturas produtivas os seguintes pontos: proximidade geogrifica, especializacao setorial, predomindncia de pequenas e médias empresas, estreita colaboragdo entre firmas, competicao entre firmas baseada na inovagdo, identidade sécio-cultural com confianca, organizacdes de apoio ativas na prestacfo de servicos conmuns, atividades financeiras, etc., além da promogao de govemnos regionais e municipais (Schmitz, 1999). Portanto, os estudos desenvolvidos pela RedeSist a partir do referencial de APLs privilegiam fatores consideradas de importincia central para se entender e influenciar a dindmica das atividades produtivas envolvidas, tais como os processos inovativos, os processos de aprendizagem, cooperagio, govermanga © enraizamento (tertitorializarao). Seguem algumas consideragdes sobre estes fatores. 3. Processos Inovativos A capacidade de inovar constitui um aspecto fundamental da competitividade de organizagdes, regides © paises. Defini-se a competitividade como a capacidade de uma organizagao formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar uma posicdo sustentivel no mercado (RedeSist, 2008). A competitividade sustentada e dinémica depende principalmente da capacidade de aprendizagem e de criacdo de competéncias desenvolvidas pelos agentes para produzir e inovar. Esta Este recorte sugere uma similaridade com 0 conceito de sistemas setoriais de inovaglo (BRESCHI; MALERBA, 1997; MALERBA, 2002), 0 qual sugere que particularidades relativas & base de conhecimento, @ natureza dos processos de aprendizagem, és temologias basieas, as earacteristicas dos insumos, aos padres de demanda, a estrutura empresarial, entre ‘outras, permitem conceber sistemas ce inovagdo eircunscritas a setores especitioos. Todavia, 0 recorte proposto no escopo da metodologia de APLs nio adota, no que diz respeito aos agentes produtivos, uma delimitagdo setorial e sim se propde a englobar o conjunto amplo de atividades produtivas direta e indiretamente relacionadas a um dado micleo produtivo, ‘conformando uma complexa rede ou complexo produtivo. ? Marshall criow o conceito de distrto industrial para se referir & eoncentragio espacial de pequenas firmas voltadas para a rmanufatura de produtos especificos na Inglaterra do periodo. Apesar das limitagdes de economia de escala de tais distitos, tendo en vista seus reduzidos custos de transagio ¢ suas expressivas economias extemas, Marshall earacterizou os distitos Jndvstrias ingleses da época como a ilustraco mais eficieate do capitalismo (Freentan, 1999). * Cadeias produtivas, clusters, distrtos industriais, milew inovativo, polos e parques cientificos e teonolégicos, entre outras. Para uma revisto destas abordagens, ver Lemos, 2002. concepedo de vantagem competitiva sustentivel e dinimica se coloca em oposigao A nogto de “competitividade esptiria” (Fanjzylber, 1988) ou “estatica”®. O objetivo estratégico de busca de vantagens competitivas, que propiciam um maior poder de mercado, induz 0 agente econdmico a despender esforcos para a introducao de novos produtos e processos, bem como de inovagdes organizacionais. Dada sua posigdo privilegiada, em caso de sucesso da inovagao, este pode dispor de um Iucro (extraordinério) de monopélio, mesmo que temporétio (Nelson e Winter, 1982). No limite, a inovacdo conduz a destnicao de estruturas e a criagdo de novas estruturas, sejam estas indiistrias, mercados ow arranjos institucionais, em um processo cunhado por Schumpeter (1942) como “destruigao criadora” e que, modernamente, ¢ denominado dindmica evolucionaria. Diferentemente de formulagdes neoclassicas, a tecnologia e, de forma mais ampla, o conhecimento niio silo considerados exdgenos ao sistema econdmico. O desenvolvimento e implementagdo de novos produtos, processos e modelos organizacionais envolvem custos e tempo em esforcos mais ou menos sistemsticos de busca. Segundo Dosi (19882), 0 processo inovativo envolve a busca, a descoberta, a experimentagdo, 0 desenvolvimento, a imitagdo e adogdo de novos produtos e processos produtivos e formas organizacionais. Este processo envolve um alto grau de incerteza, dado que no é possivel prever ex ante o resultado obtido. Isto se da pelo fato de existirem problemas técnico-econémicos cujas solugdes so desconhecidas e devido & impossibilidade de se determinar, de forma geral, com preciso as conseqiiéncias de tais atos (Dosi, 1988b). ‘As atividades inovativas podem ser definidas como as variadas etapas cientificas, tecnolégicas, organizacionais e comerciais com fins de viabilizar a inovacio. Abrangem todas as atividades relacionadas ao desenvolvimento e implementagao de produtos, processos ¢ elementos organizacionais, incluindo os investimento em novas formas de conhecimento. Estas atividades slo desenvolvidas tanto dentro como fora da empresa, neste caso sendo intemalizadas através da aquisigao de um servigo. Dentre as principais categorias de atividades inovativas, pode-se citar: (i) pesquisa e desenvolvimento (P&D) intemo ou sua aquisicao externa; (ii) aquisicdo de outros conhecimentos externos: (iii) aquisi¢ao de miquinas e equipamentos; (iv) treinamento e outras formas de ampliagdo de capacitagdes; (v) introducdo das inovagdes no mercado (pesquisas e testes de mercado, adaptagao do produto a diferentes mercados e propaganda); (vi) projeto industrial e outras preparacdes para efétivar a produgao e distribuicao de inovacdes. A qualquer momento, verifica-se a coenisténcia de idéias que se tomarmo inovagbes de sucesso & aquelas que nao, bem como o uso de tecnologias obsoletas e de tecnologias mais avancadas. Ao longo do tempo, a selego opera sobre o conjunto existente de produtos, processos e modelos organizacionais, 20 mesmo tempo em que novos sto introduzidos, evitando a tendéncia a um equilibrio. Portanto, a competicdo pela introdugto de inovacdes envolve um alto grau de isco, dado que “vencedores” “perdedores” so definidos apés 0 comprometimento de grande quantidade de recursos (Nelson e Winter, 2002). * Segundo Fanjzylber (1988), a compettividade esparia € baseada em precos reduzidos possibilitados pelo pagamento de salirios baixos, © uso intensive de recursos naturais sem uma perspectiva de longo prazp, assim como o uso de txas ‘cambiais e de juros com finalidades comerciais de curto prazo. Para além de um foco resttito a inovagdes radicais na fronteira tecnolégica, destaca-se a importincia de inovagdes incrementais. Conforme proposto por Abemathy e Utterback (1978), inovagdes radicais implicam no desenvolvimento de produtos, processos ou formas de organizag3o da produto inteiramente novos, enquanto que inovaedo incremental se refere as melhorias que nao alteram a estrutura industrial, mas que pode gerar maior eficigucia técnica, aumento da produtividade e da qualidade, redugdo de custos, como também a ampliac&o das aplicagdes de um produto ou processo (Freeman, 1995; Lastres et al., 2005 e Lastres e Cassiolato, 2005). Portanto, as inovagdes podem ser classificadas de acordo com seu grau de novidade, na medida em que tazem significativas transformacdes com relacdo aos pardmetros existentes (radicais) ou apenas transformacdes menores a0 longo de trajetérias e pardimetros definidos (incrementais). Usualmente esta categorizaco sé é aplicada s inovacdes de produto e proceso. A partir das definigdes apresentadas acima, desdobra-se uma categorizacio de tipos de inovacio, empregados nas principais pesquisas de inovagao. Em primeiro lugar, as diferentes inovacdes podem ser classificadas de acordo com sua esséncia tecnologica ou ndo-tecnolégica. Tal recorte est presente na miaioria das pesquisas de inovagdo e surge da primazia tadicionalmente dada ao avanco tecnoldgico® neste campo de pesquisa. No ambito das inovagdes tecnolégicas, uma segunda dimensio de classificagdo distingue entre inovagdes de produto (incluindo bens e servigos) e inovagdes de proceso (organizacao da produc&o, uso de insumos, tecnologias, méquinas e equipamentos, etc. que resultam em melhoria do proceso produtivo sob algum parimetro relevante, como custo, velocidade, eficiéncia no uso de insumos e de energia, impacto ambiental, etc.). No Ambito das inovacdes ndo-tecnolégicas se encontram as inovacdes organizacionais, como aquelas relacionadas a estratégias corporativas, gestio, estrutura organizacional, marketing, etc. Como seri discutido abaixo, crescente atengdo tem sido dada a estas formas de inovagio enquanto importantes determinantes da competitividade de uma organizagto. Quadro 1 - Categorias de inovacio tradicionalmente enfocadas em estudos de inovagao Tnovacies de produto | Tnovagdes incrementais | Thovagbes radicals de w ; novas para aempresa_| de produto produto Tnovagdes temolegiens Py ovagies de processo | Inovagdes incrementais | Tnovagdes radicals de novas para aempresa_| de processo processo Tnovagdes Inovagdes Organizacionais Inovagdes naio-tecnolégicas | Organizacionais (estrutura organizacional, estratéias corporativas, Novas para aempresa_| gestio, comercializagao, marketing, etc.) Fonte: Elaboragio propria © Tecnologia ¢ um term que envolve o conhecimento téenico e cientifico e as ferramentas, processos e materiais eriados efou utilizados a partir de tal conhecimento. A énfise dada aos grandes avancos tecnolégicos esta diretamente associado ‘com 0s fundamentos desta area de pesquisa, que buseava, antes de tudo, entender o papel das grandes teenologias na transformagio das estruturas produtivas e do sistema econdmico. Os primeiros pesquisadores que trazem para o centro da Mytelka (1993) formaliza tal concepeo da inovaedo caracterizando-a como 0 processo através do qual 0s produtores buscam e introduzem produtos ou processos que sio novos para os mesmos, independente de serem ou nfo novos para seus concorrentes. O reconhecimento da importincia de inovagdes "imitativas" e incrementais se mostra especialmente relevante para o caso de APLs em paises menos desenvolvidos e, particularmente, no caso de uma especializacao produtiva centrada em setores considerados tradicionais. Nestes casos, pequenas melhorias de produto, processos, formas organizacionais e estratégias de marketing se revelam fandamentais para a manutenc&o da capacidade competitiva (Lastres et all, 2008). Em termos de implicagées para politicas, RedeSist (2008) destaca que o foco exclusive em setores de alta tecnologia e em inovagdes na fronteira tecnolégica desconsidera (e tira do foco de potenciais politicas de fomento) a maior parte das empresas em paises como o Brasil. Considerar também inovagdes incrementais, mesmo que se trate de produtos ou processos novos apenas para a empresa que as implementa, se revela relevante para determinar um ponto inicial sobre o qual politicas de fomento possam agir, estimulando o incremento das capacitagdes existentes. 3.3. Conhecimento ¢ os Processos de Aprendizagem ‘A solugdo dos mais diversos desafios e problemas produtivos e tecnol6gicos implica no uso e aplicacao de conhecimentos adquiridos pelos agentes produtivos. Estes conhecimentos podem ser tanto formais, de facil codificagao e transmissio, quanto informais’, que nfo sto facilmente transferidos e sto adquiridos através de priticas cotidianas. Eles também podem ser universais, aplicaveis a uma ampla gama de tecnologias, ou especificos, aplicaveis a uma tecnologia em particular; de caréter piblico, disponivel a todos os agentes, ou privado, apropriado e construido por agentes individuais. 0 conhecimento nao deve ser visto somente como informagio processada, mas também como um processo de busca de respostas a problemas identificados pelos agentes, estimulando, pela cumulatividade, o desenvolvimento de novas solugdes (FRANSMAN, 1994). De aconlo com RedeSist (2008, p.3), nos ASIPLs, o aprendizado® constitu fonte findamental para a transmissio de conhecimentos ¢ a ampliagdo da capacitagdio produtiva e inovativa das empresas ¢ iscussto a tecnologia o fazem para explicar as grandes transformagdes ocorridas durante a primeira (Adam Smith) © seaunda (Karl Marx) revolugdo industrial Lundval e Johnson (1994) propuseram uma diferenciacao entre formas de conhecimento em que © Know-what — ‘conhecimento acerca dos fitos - ¢ o Know-why — conhecimento ciéntifico sobre as leis da natureza — so considerados formas de conhecimeato em que as informagées so decodificaveis, ou seja, conhecimentos formais. Ta o Know-how expertise ou capacitagio de como fazer algo — e o Know-who — conhecimento de quem sabe 0 que fazer e como fazer ~ sto e dificil eodificagio podendo ser considerados formas de conhecimentos essencialmente téitos, "entre as diversas formas de aprendizado, o interativo ¢ considerado fundamental para a transmissio de conhecimentos — particulamente 0 ticito - sendo, portanto, central a dinamica de inovagio. Ainda que as empresas permanegam como centros de processos de aprendizado e de inovacdo, estes so influenciados por contextos mais amplos. A natureza ea intensidade da interacdo entre diferentes atores refletem as condicdes do ambiente econ6mico e também social, culsural e institucional. Assim, a anilise da dinimica institucional de arranjos e sistemas produtivos locais constitu-se em elemento ‘crucial para a compreensio do processo de capacitagao produtiva e inovativa local (RedeSist, 2008, p.7). outras organizagSes. A capacitagdo inovativa possibilita a introdugio de novos produtos, processos, métodos e formatos organizacionais, sendo essencial para garantir a competitividade sustentada dos diferentes atores locais, tanto individual como coletivamente. © conhecimento difere da informacao, sendo entendido como as capacidades e capacitagdes de um individuo ou grupo social que se tomam relevantes na busca de solugdes para determinados problemas (Steinmueller, 2000). © conhecimento pode ser classificado como codificado ou ticito. O conhecimento codificado pode ser estocado, copindo e transmitido facilmente através de infia- estruturas de informactes, por meio do registro em mamuais, normas procedimentos. Este tipo de conhecimento é mais formalizado e pode ser transmitido com um baixo custo através de longas distancias. Por outro lado, 0 conhecimento técito nfo @ formalizado, no podendo ser facilmente transferido. Este tipo de conhecimento é constituido pelas crengas, valores, saberes e habilidades ou competéncias dos agentes & organizagdes (Cohendet © Steinmueller, 2000). Neste conjunto esto incluidos: saberes nfo codificados sobre os processos produttivos; saberes gerais e comportamentais; a capaciclade para resolugdio de problemas ¢ tomada de decisdes em um ambiente de incerteza. Este conhecimento esti implicito e incorporado em individuos, organizacdes e até regides, apresentando forte especificidade local, decorrendo da proximidade territorial e/ou de identidades culturais, sociis e empresariais (Cassiolato e Lasttes, 1999). Portanto, este nao pode ser vendido ou comprado no mereado, sendo que sua transferéncia geralmente ocorre pela interagao entre os agentes (Nelson e Winter, 2002 e Cohendet e Steinmueller, 2000). © aprendizado refere-se aquisic@o e A construgdo de diferentes tipos de conhecimentos, competéncias e habilidades, nao se limitando a ter acesso a informacdes. O conceito de aprendizado geralmente esta associado a um processo cumulative através do qual as organizagdes (através de seus recursos humanos) adquirem e ampliam seus conhecimentos, aperfeigoam procedimentos de busca e refinam habilidades em desenvolver, produzir e comercializar bens e servicos. As varias formas de aprendizado, relevantes 20 processo de inovagto e ao desenvolvimento de capacitagdes produtivas, tecnologicas & organizacionais, podem ser categorizadas como (Lundvall e Johnson, 1994; Malerba, 1992): © Fomnas de aprendizado a partir de fontes internas 4 empresa, incluindo: aprendizado com experiéncia propria, no proceso de produco (Jearning-by-doing), comercializagio € uso (learning-by-using); na busca de novas solugdes em suas unidades de pesquisa desenvolvimento (learning-by-searching); € ‘© Formas de aprendizado a partir de fontes externas, incluindo processo de compra, cooperag%o & interagdo com: fornecedores (de matérias-primas, componentes e equipamentos), concorrentes, licenciadores, licenciados, clientes, usuarios, consultores, sécios, prestadores de servigos, organismos de apoio, entre outros (/earning-by-interacting and cooperating): @ aprendizado por imitacdo, gerado da reproducdo de inovagdes introduzidas por outras organizagdes, a partir de: engenhatia reversa, contratagdo de pessoal especializado, etc. (learning-by-imitating). AS fontes externas, por sua vez, podem ser classificadas de acordo com o tipo de fontes/interlocutors: 10 © Agentes produtivos do mesmo segmento de atuagio (interagao horizontal), de segmentos para traz © para fiente nas cadeias produtivas (intera¢io vertical) e outros segmentos complementares e prestadores de servigos Agentes da infraestrutura de ciéncia, tecnologia e capacitacdo © Outras fontes, como instincias de interaco coletiva formais ¢ informais e formas, otganizacdes de representagdo e apoio, meios codificados, como publicacdes, patentes, etc Para Lundvall e Johnson (1994), aprendizagem é um processo essencialmente social e interativo que depende do contesto institucional para possibilitar a criago e transmisstio de conhecimentos. Portanto, 2 proximidade entre os agentes, em terms de seu contexto social e institucional, se revela um elemento potencializador dos processos de aprendizagem. Especificamente, para a transmissio de conhecimentos ticitos, a proximidade entre os agentes em termos fisicos se revela fundamental, uma vez que este proceso s6 pode se dar pela estreita interagdo entre os agentes. Segundo Lastres et al. (2005), a interagao possibilita que as capacitaches dos agentes transmissores e receptores sejam calibradas, adaptadas e incrementadas mutuamente. Como apontado por Dosi (1988b), 0 cariter cumulative e parcialmente ticito do conhecimento implica que as capacitagdes sejam, maiormente, locais & especificas a cada organizagao, Considera-se, portanto, que parte findamental do processo de aprendizado vincula-se & propria existéucia (e operacdo) de capacicades produtivas ¢ inovativas. Além disto, ainda que as empresas permanecam como centro dos processos de aprendizado e de inovacto, estes sto influenciados pelos contextos mais amplo onde se inserem. Em outras palavras, processos de aprendizado e de inovagto jamais ocorrem num vicuo institucional. A natureza e intensidade das interagdes entre diferentes atores tefletem as condigdes do ambiente econémico e também social, cultural e institucional. Assim, a andlise dos processos formais e informais de aprendizagem, considerando o ambiente institucional que © influencia e identificando potenciais formas de dinamizer estes processos so essenciais para a compreensao do processo de capacitacao produtiva e inovativa e seu fomento (RedeSist, 2008, p.6). 34. Processos de Cooperacao A consolidacao de priticas de cooperagdo constitui uma importante forma de intensificar e ampliar os potenciais impactos da interagio entre os agentes em APLs. Britto (2004) sugere que a cooperagao possa levar a trés impactos basicos. Em primeiro lugar, a consolidaco de priticas de cooperacdo é um mecanismo eficaz de processamento de informagdes, possibilitando aglutinar competéncias complementares ¢ aumentar a eficiéncia produtiva e o potencial inovativo dos agentes envolvidos. Em segundo lugar, a cooperaco permite enffentar turbuléncias do ambiente econémico e identifica novas oportunidades. Por fim, praticas cooperativas podem levar, a longo prazo: & facilitagao da comunicaco entre os agentes, possibilitando uma melhor integracto de competéncias: a consolidacdo de principios de “confianga miitua”; e a uma maior sincronizagao das agdes estratégicas dos agentes envolvidos. Segundo Cassiolato (2002) e Lemos (2003), em APLs identificam-se diferentes tipos de cooperacdo, incluindo a cooperagéo produtiva que busca a obtencdo de economias de escala © escopo e a u cooperagao inovativa, referente a redugio de riscos, custos, tempo, dinamizando potencial inovativo do atranjo, RedeSist (2005) destaca que a cooperagao, nestes espagos, pode ocorrer mediante © Intercimbio sistematico de informagdes produtivas, tecnolégicas e mercadolégicas (com clientes, fomecedores, concorrentes e outros); * Interagdes de varios tipos, envolvendo empresas e outras instituigdes, por meio de programas comuns de treinamento, realizagao de eventos / feiras, cursos e seminérios, entre outros; ‘© Integragio de competéncias, por meio da realizagao de projetos conjuntos, incluindo desde melhoria de produtos € processos até pesquisa desenvolvimento propriamente dita, entre empresas ¢ destas com outras instituigdes. ‘A exemplo do exposto acima para os proceso de aprendizagem, as articulagdes em iniciativas cooperativas podem ser qualificadas de acordo com o tipo de parceiros envolvidos: ‘© Agentes produtivos do mesmo segmento de anuagtio (cooperaco horizontal), de segmentos para traz 2 para frente nas cadeias produtivas (cooperagdo vertical) e outros segmentos complementares e prestadores de servigos © Agentes da inffaestrutura de cigncia, tecnologia e capacitagio © Outras fontes, como instincias de interago coletiva formais e informais, organizagbes de representacio e apoio. A cooperagao entre agentes em APLs potencialmente possibilita a divisto dos esforgos e custos do processo inovativo e 0 compartilhamento do risco associado a estas atividades, além de representar um meio eficaz para 0 aprofundamento do aprendizado por interacao. Em muitos casos, especialmente no caso de empresas de menor porte, os custos e riscos associados implicam a impossibilidade de empresas individuais se dedicarem a tais atividades, representando a ago conjunta uma altemativa 1003). vidvel para o desenvolvimento de novos produtos e processos produtivos (Lemos, 3.5. Articulacao entre os agentes e o ambiente local ‘Uma dimensto central do referencial de pesquisa em APLs diz respeito as articulagdes entre os agentes € 0 “ambiente local” e, especificamente, com 0 variado conjunto de organizacdes e fatores que conformam um sistema inovativo local. Nos estudos com o emprego deste referencial, a anilise da importincia da dimensio local ganha destaque. Busca-se entender em que medida as caracteristicas do ambiente local, a mo-de-obra, os agentes produtivos, a infia-estrutura fisica, de financiamento ¢ de conhecimento, as instituigdes de representaco e fomento, bem como as demais facetas do tertit6rio, influenciam © contribuem para o desenvolvimento de capacitagbes produtivas © inovativas, a competitividade/atratividade e o desempenho econdmico da regido. Portanto, trés aspectos de pesquisa se mostram centrais: a territorializacdo, o enraizamento e a governanca 12 © gru de territorializagéio (dimensio territorial) da atividade produtiva local também influencia na configuragio ¢ dinimica do ananjo, pois se refere aos ativos especificos do local que podem diferencié-to de outras aglomeragdes. Segundo Lastres @ Cassiolato (2005, p.2), na abordagem dos APLs, a dimensio territorial constitui recorte especifico de anélise e de ago politica, definindo 0 espaco onde processos produtivos, inovatives e cooperativos tém lugar. A proximidade geogtifica - levando ao compartithamento de visdes e valores econdmicos, sociais e culturais - constitui fonte de dinamismo local, bem como de diversidade e de vantagens competitivas em relago a outras regides. Na idéia de teivitorializagao, a proximidade geogrifica desenvolve ativos especificos, gerando spillovers’ e extemalidades positivas. Jé.o grau de enraizamento diz respeito geralmente as articulagbes e ao envolvimento dos diferentes agentes dos APLs com as capacitagdes © os recuzsos humanos, naturais, técnico-cientificos, empresariais e financeitos, assim como com ovtras organizagdes e com o mercado consumidor local, Elementos deteminantes do grau de enraizamento incluem: o nivel de agregagao de valor, a origem e 0 controle (local, nacional ¢ estrangeiro) das organizacdes ¢ o destino da produgdo, tecnologia e demais insumos (RedeSist, 2008. p.3) Por fim, a governanca se refere aos diferentes mecanismos que caracterizam e balizam os processos interativos e de tomadas de decisdio em esferas coletivas nos APLs. A governanga se refere aos modos de coordenacao entre os diferentes atores — 0 Estado em seus diferentes niveis, empresas locais, otganizagdes de representacio e promogio, cidadios e trabalhadores etc. — e suas atividades, que envolvem da producto A distribuicho de bens e servigos, bem como 0 processo de geragio, uso e disseminacdo de conhecimentos e de inovagdes (Cassiolato € Szapiro, 2003 e RedeSist, 2005). Para Vargas (2002), a dindmica dos arranjos nao deve ser desvinculada das formas de govemanga. A governanga permite analisar a influéneia de atores locais ¢ extemos na coordenagdo dos sistemas de produgao e na trajetéria de desenvolvimento da capacitagto produtiva e da capacidade inovativa das empresas Cassiolato e Szapiro (2003) relacionam duas formas de govemanea nos arranjos produtivos: formas hierérquicas, em que a autoridade é intemalizada dentro de grandes organizacdes; e as formas de redes, constatando-se um elevado mimero de relagdes extemas entre um amplo niimero de agentes, sem que nenhum deles seja dominante. Deve-se entender sob que sistemas de coordenagao se estabelecem as relagdes de cariter local entre empresas e instituigdes. Markussem, apud Cassiolato, et al (2002) classificam os arranjos de acordo com sua governanca, a partir da idéia de existéncia ou no de uma firma ou instituigdo local que governe as relagdes técnicas e econdmicas a0 longo da cadeia. Portanto, ‘4 auséncia de uma forma local de governanca (forma de rede); ou existe uma grande empresa como ponto central (forma hierirquica). ® spillovers relacionam-se com o “efeito vazamento” no qual, pela proximidade geogrifica, eertos couhecimentos “vazam” ‘de uma empresa para outra. 13 3.6. Dimensoes Aualiticas Centrais do Referencial de APLs A importincia crescente atribuida & consolidagdo de priticas cooperativas e aos processos de aprendizado por interagdo esta vinculada a visio sistémica do proceso de inovacdo. Nesta perspectiva, 2 capacidade de geracio, difusdo e utilizaco de novos conhecimentos consolida-se como um proceso que transcende a esfera da firma individual e passa a depender da continua interagdo entre firmas e destas com outras organizagdes e instituigdes que constitem sistemas de inovacdo em diferentes Ambitos (Vargas, 2002). Em particular, esse modelo interativo de inovacio ressalta a relevincia da interacdo entre firmas ¢ demais instituighes e, portanto, o papel dos vinculos e redes envolvendo diferentes organizagdes. A aglomeragao territorial de empresas em toro de arranjos ou sistemas produtivos ¢ inovativos localizados tende a facilitar o engajamento destes atores em processos de aprendizado interativo. Neste tipo de ambiente, 0 conhecimento tende a se tomar incorporado no somente nas qualificacdes individuais e nos procedimentos e rotinas das organizagdes, como também no proprio ambiente local ou nos vinculos de interagdo entre os diferentes atores e desenhos institucionais. A habilidade das empresas em criat conhecimento vai capacité-las a interagir com os demais atores locais num processo de aprendizado coletivo, no qual conhecimentos que s40 em parte codificadas e em parte ticitos sfo ttocados e utilizados. Neste aspecto, capacitagdes localizadas se refletem no conhecimento incorporado em individuos, empresas e na prépria estrutuza institucional presente em sistemas produtivos locais. ‘Nao obstante essa percepedio sobre a importincia crescente que assumem as praticas cooperativas € 0 aprendizado localizado no ambito de aglomeragdes produtivas, verifica-se que existem ainda lacunas consideriveis na andlise tanto das formas de mensurago destes processos como do seu impacto efetivo sobre © desempenho inovativo de empresas articuladas em tomo de APLs. Neste sentido, é possivel ressaltar algumas “dimensdes” fundamentais do processo de consolidagao de priticas interativas seus desdobramentos em termos do fortalecimento de mecanismos coletivos de aprendizado. A partir do detalhamento dessas dimensdes, é possivel avaliar as possibilidades de um determinado arranjo evoluir a0 longo de uma trajetdria “virtuosa” de fortalecimento da capacitagao inovativa dos agentes nele inseridos. Como ponto de partida para esta discussto, cabe destacar trés suposigdes basicas que orientam 0 esforgo de investigagio realizado. A primeira delas baseia-se na constatago de que os APLs constituem um /ocus de aglutinagao e criagto de competéncias, por meio de processos coletivos de aprendizado institucionalmente condicionados. A segunda suposi¢Ao decorre naturalmente da anterior € pressupde que o mapeamento e avaliagdo das relagdes interativas é fundamental para a compreensto das caracteristicas dos processos de aprendizado em APLs. A terceira suposigfo procura instrumentalizar a anterior, ressaltando a articulacdo existente entre consolidacdo de priticas cooperativas, aprofimdamento do aprendizado por interagdo e 0 fortalecimento da competitividade capacitagdo dos agentes (BRITTO, 2004). Adicionalmente, & importante considerar que os APLs nao devem ser concebidos como estruturas monoliticas, nas quais as forcas que comandam uma determinada “dindmica intema” apontam necessariamente para uma “convergéncia” ou “equalizagio” das estratégias e dos niveis de capacitacao 14 dos agentes em seu interior. Pelo contririo, as evidéncias sugerem que estes arranjos sio estrutums: intrinsecamente complexas e heterogéneas, cujos agentes possuem caracteristicas assimétricas, vinculadas 4 consolidago de competéncias técnicas e cognitivas especificas, que condicionam as possibilidades de interag3o muita entre eles"”, Estes agentes articulam-se através de redes de relacionamentos que conformam uma determinada “estrutura de govemanca”. Em funedo das caracteristicas desse sistema, define-se um determinado grau de interdependéncia técnica e uma logistica intema ao arranjo, vinculada 4 presenga de diversos tipos sinergias entre as diversas atividades realizadas. Portanto, a necessidade de mensurar os processos interativos relacionados 4 aprendizagem, inovacao & cooperacio em APLs, justificam os esforcos para a constuco de metodologias de pesquisa que possibilitem a compreensio da dindmica especifica referente a estas estruturas. Um conjunto de quesides relacionadas a arranjos e sistemas produtivos locais deve captar as especificidades da dindmica relacionada a cada estrutura e simultaneamente preservar a comparabilidade dos resultados obtidos, seja com outros arranjos, seja com os resultados de pesquisas realizadas no pais e no exterior. Em relagdo a aprendizagem interativa Cassiolato e Britto (2002) destacam que a partir do detalhamento da conformacdo institucional que estimula (ou entrava) o aprendizado em escala local, & possivel avangar, do ponto de vista analitico, no sentido de um melhor detalhamento das diversas “dimensdes” dos processos de aprendizado. No detalhamento dessas dimensdes, é fundamental considerar a necessidade de captar-se 0 fendmeno investigado através do levantamento de informagdes empiricas. Resumindo, os estudos de APLs buscam: i) avaliar a cooperagdo, a aprendizagem e a inovagio nos APLs; ii) captar a “dindmica intema” destes processos do ponto de vista sistémico, indo além da andlise de estratégias e desempenho de firmas particulares; iti) captar as caracteristicas e contetidos dos relacionamentos e os estimulos gerados a partir dos mesmos - arranjo como uma “rede de selacionamentos”; iv) analisar as articulagdes entre os agentes © 0 “ambiente local”; v) fomecer elementos para a andlise da “trajetéria evolutiva” dos arranjos;: vi) possibilitar a andlise dos processos de “convergéncia” e “divergéncia” no interior dos arranjos; vii) identificar os pontos “fortes” e “fracos” dos arranjos, bem como facilitar a realizagao de andlises comparativas; e viii) oferecer elementos para a implementacao de politicas eficazes de apoio a arranjos produtivos locais e sua posterior avaliagao (Britto, 2004), 4. DEF ICAO DE CASOS A selegio dos casos estudados pela ReceSist tem seguido critérios variados. Em parte por influéncia de estudos pioneiros desenvolvidos com base no referencial de sistemas de inovacao, os primeiros esforgos de pesquisa foram direcionados para casos que apresentam uma trajet6ria virtuosa de desenvolvimento e em atividade nas quais, usualmente, se verifica uma dindmica inovativa mais © Esta caracteristica tende a ser ainda mais marcante uo caso brasileiro, dada a “heterogeneidade estrutural” inerente a base industrial, que se reflete em expressives diferenciais de eficitncia e eapacitaco em termos inter e intra-setoriais (Fecraz et al, 1996). 15 préxima da fronteira tecnolégica. Mas isto nfo implica que se deva priorizar estes tipos de casos. Justamente buscando ampliar 0 foco de anilise © adaptar o referencial conceitual empregado & realidade da estrutura produtiva brasileira, diversos casos nas mais diversas regides do pafs foram analisados, abarcando atividades manufatureiras, agroindustriais e de servigos. Como o referencial de APLs é, antes de tudo, uma forma (um método) de anilise, entende-se que qualquer atividade produtiva possa ser tratada a partir deste referencial. ‘Uma discussdo relativa a definicto dos casos esti relacionada & tendéncia de selecto para anélise daqueles vistos como os mais desenvolvidos, estruturados ou virtuosos. Certamente tal critério de escolha induz a anélises que descrevem APLs com intensas relagdes de interagao entre agentes, complexas infra-estruturas institucionais e de conhecimento e atividades inovativas de significative impacto. Todavia, argumenta-se que esta pritica pode restringir as possibilidades de andlise, desconsiderando o grande universo de arranjos pouco estruturados, que, justo por se caracterizarem desta maneira, talvez sejam os merecedores de maior aten¢io. O desenvolvimento do conceito de APLs busca alargar a definite do objeto de anilise, com a incluso de diversas realidades. Portanto, € englobada qualquer forma de atividade produtiva, mesmo nos casos em que no se verifica significativa interagZo e articulago entre os atore e que, por meio da articulagdo de seus atores e da aplicago de instramentos adequados, possam construit e reforgar processos de aprendizagem, cooperagao e inovagao. Especialmente, destaca-se que, tendo em vista as parcerias desenvolvidas com agentes formuladores de politicas para APLs, a pritica de selecionar os “vencedores” pode induzir a um dispéndio de esforgos recursos (na forma de politicas de apdio € promosio) justo para aqueles casos que menos necessitam. Diversas técnicas tém sido desenvolvidas para identificar APLs com 0 uso de dados estatisticos Podem-se citar indicadores construidos a partir de dados georeferenciados, como o coeficiente locacional (QL), indice de concentraco HH, etc., bem como a aplicacdo das téenicas de evonomettia espacial, Tais esforgos partem da premissa equivocada de que, tanto para a implementacZo de politicas de apoio, quanto para a seleedo de casos a serem estudados, uma certa representatividade (ou peso relativo) de um setor de atuagdo em um espago geogrifico represente um ctitério consistente para distinguir 0 que constimi um APLs e 0 que nfo. Porém a definicfo de APLs nfo pressupte a existéncia de critérios de demarcagdo entre 0 que so APLs e 0 que nao; o referencial de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais constitui um modo de andlise da atividade produtiva Lastres et al. (2005). Como argumentado em Cassiolato e Lastres (2003), onde existe alguma atividade produtiva, existe um arranjo em volta; por mais fragmentado e desestrumurado que seja. ‘Uma outra critica que se coloca diz respeito as unidades temitoriais adotadas, tais como municipios ou microrregides, as quais se referem os dados secundarios empregados'’. A delimitacao de possiveis APLs a estas unidades desconsidera a complexidade das diferentes estruturas produtivas. Por um lado, estas estruturas produtivas transcendem unidades politicas (de municipios ¢ estados), podendo levar & ® As referidas metodologias e tipologias tém sido construidas tradicionalmente a parti de dados extraidos da Relago Anual de Informagbes Sociais — RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego, 16 exclusto, fagmentagito e desconsideragio de importantes partes destas. Por outro lado, estas estruturas abrangem uma gama variada de atividades produtivas direta e indiretamente articuladas™. Nao ha critérios deterministas pata a selecdo de attanjos e sistemas produtivos e inovativos locais a serem estudados ou como objeto de politicas de apoio e promogio. A amplitude do canceito adotado permite que APLs dos mais diversos sejam analisados, nao se restringindo a espacos nos quais os indicadores ja mencionados (QL, por exemplo) sejam elevados. Em termos de identificagao e delimitaco dos possiveis APLs, enfatiza-se a importincia do conhecimento dos pesquisadores daquelas realidades, de forma que sejam evitadas demarcacdes arbitrérias em termos de delimitacao espacial e de setores de atividade e atores relevantes. Em termos da selegdo de diferentes “tipos” de APLs, sugere-se que esta deva seguir a prioridade que é colocada em cada caso de acardo com as caracteristicas de possiveis programas de pesquisa em que estes estudos se insiram ou de acordo com a prioridade de politica posta: se o objetivo primeito a capacitagao para inovag2o com impactos em termos de desenvolvimento tecnolégico e insergiio em mercados, ete; ou se 0 objetivo se aproxima da criagdo de emprego e renda e fomento do desenvolvimento local, ete. 5. CARACTERIZACAO DOS APLs © foco em APLs representa uma unidade de anilise que vai além da visto baseada na organizacao individual (empresa), setor ou cadeia / complexo produtiva, permitindo estabelecer uma ponte entre 0 territrio e as atividades econdmicas. Parte-se do principio que a nog&o de APLs engloba tanto a no¢aio de cadeia e complexo produtivo quanto a de cluster ou distrito industrial e, pode ser estendida para uma ampla gama de espagos geogrificos no qual ocome a producdo de algum tipo de bem, tangivel ou intangivel. Sugere-se uma visio sistémica da atividade produtiva e inovativa, considerando-se, portant, toda uma multiplicidade de atores econdmicos, politicos e sociais que contribuem para dar contomos especificos as atividades desenvolvidas neste ambiente. Levando em consideracao este leque de atores e as muitas possibilidades de inter-relagdes entre estes, incorpora-se na anilise 0 espaco onde ocorre o aprendizado, sio criadas as capacitagdes produtivas e inovativas e fluem os conhecimentos ticitos. Percebe-se que © conceito de APL engloba as diversas dimensdes das atividades produtivas & inovativas, indo além dos conceitos geralmente empregados em estudos referentes a economias regionais e, mais especificamente, a aglomeragdes produtivas. O entendimento do cariter sistémico destas atividades traz, em contrapartida, a necessidade de averiguar as formas assumidas pelos processos interativos realizados entre os diferentes atores presentes nos espagos locais. Nota-se que 0 foco da analise é muito mais abrangente que o estudo da cadeia produtiva, uma vez que se busca entender todo 0 contexto no qual ocorre a produgdo e a inovago. Por outro lado, 0 conceito também ® 4 dificuldade de se “identificar” APLs a partir de dados secundavios fica evidente ao se considerar a perguata de qual setia a classe de atividade pertinente para se identificar um APL, por exemplo, de bioteenologia ou de metal-meednica ‘Casos estudados pela RedeSist evidenciam a multipla gama de segmentos que compdem wm APL deste tipo, 7 permite estudar espagos regionais menos estruturados, muitas vezes caractetisticos de paises em desenvolvimento, que no so abarcados pelos conceitos de Clusters e Distritos Industriais. © uso do conceito de Atranjos Produtivos Locais, a0 destacar o papel central do conhecimento e da aprendizagem, exige a elabora¢io de mecanismos de andlise que possam captar dimensbes nfo encontradas nas estatisticas baseadas em divisdes territoriais e setoriais tradicionais. Um passo inicial desta metodologia consiste no desenho do arranjo ou sistema produtivo e inovativo local a ser estudado, Este desenho deve levar em conta as atividades principais que norteiam a producao no APL: © conjunto de atividades de apoio, prestagao de servicos e de fornecimento de matérias primas e bens de capital; as organizacdes de apoio, representac2o, ensino, treinamento, pesquisa ¢ promogdo; os atores locais ou externos que exercem 0 papel de coordenacao das atividades: e as instimicdes piiblicas. Ou seja, a anilise deve ir além da cadeia produtiva e do complexo produtivo e abarcar todos os atores que direta ou indiretamente interagem com os agentes produtivos locais, Porém, deve-se ter clareza que o desenho de um APL deve levar em conta as especificidades locais, sendo possivel que em algumas circunstincias a quantidade e tipos de atores relacionados ao arranjo seja mais reduzida, bem como, em outras esta quantidade e tipo pode ser de uma amplitude maior. A Figura 1 procura resumir, de forma genérica, o desenho de um APL Figura Caves coast © Cones fue nee ee Cottente Geo Ftc, Sos eta Cema Nase ecincae Teaclopa : Desenho de um Arranjo ¢ Sistema Produtivo e Inovative Local ‘Orgaszagdes de Organzates de ‘aoiae Tresness Eno Orgmigies No Pein Corerauneats t Pata © agtes cn Agimcas Nesom de emogiee Fone 3 Fomeceore dete | PE Bosom Buse Atividade Produtiv | ——- Mercado, Principal /“Niieleo Central Representantes, Distribuigio e tt Prestadores de Servigos — Flano de Bens Serigoe laa Cain Complexs Prodio Agentes Soca, oliat © consis Flows de labmagies san Asendices APL Fonte: Elaboragao prépria 18 Nota-se que um APL engloba, além da cadeia / complexo produtivo, outros atores sociais, politicos e econémicos presentes no local. Em relagdo a cadeia / complexo produtivo, destaca-se a importancia de identificar e analisar os diversos fluxos tangiveis e intangiveis. Para este ponto é fundamental ter uma nogdo pormenorizada de quais so os fornecedores presentes no local e se estes esto atuando no fornecimento de matérias primas, bens intermediarios, equipamentos, outros insumos € servigos, ou seja, atuam efetivamente no suporte da atividade produtiva principal do sistema, Ainda em relago aos fornecedores & importante analisar as interacdes extra-mercado que ocorrem entre este elo do complexo € os demais componentes do sistema (atividade produtiva principal e arcabouco institucional). Uma dimensto central de anilise diz respeito & multiplicidade de atividades produtivas que constituem 0 19 micleo do APL, considerando a forma como a produgio dos bens / servigos ocorre e, em conseqiiéncia, 0s tipos e a intensidade dos relacionamentos estabelecidos entre estes agentes e com os demais agentes locais. Por fim, mas ainda relacionada & cadeia / complexo produtivo, deve-se observar as formas de distribui¢do e comercializagao dos bens / servigos produzidos no espago local, quais agentes que atuam nestas atividades e as formas de interagdo desenvolvidas com os demais componentes do sistema. Quanto ao arcabouco instimicional, nota-se que os APLs geralmente envolvem a participaso e a intera¢do nfo apenas de empresas e suas variadas formas de representaco e associagio, como também de diversas outras organizacdes. Neste conjunto estio agrupadas as organizacdes piiblicas ¢ privadas voltadas para: formagao e capacitagdo de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia e de politicas de promocao e financiamento, incluindo um amplo conjunta de agentes. Entre estes podemos citar as universidades, organizagbes de pesquisa, empresas de cousultoria e de assisténcia enica, Srgios piblicos, organizacdes privadas e no govemamentais, entre outros. A analise deve considerar as organizagdes presentes no local ¢ 0 grau de articulagdo destas como os demais agentes que integram o sistema. Ressalta-se, novamente, que a metodologia desenvolvida pela RedeSist leva em considera¢o as caracteristicas especificas de cada espaco local estudada. Neste sentido, é fundamental ter clareza que 0 desenho de cada APL pode assumir especificidades e configuragdes singulares. Nota-se, através da experiéncia acummlada pelos diversos estudos empiricos desenvolvidos, que mesmo no caso de APLs relacionados a uma mesma atividade a configurago (desenho) do sistema pode e em muitos casos assume uma conformacao impar. ‘Um exemplo especifico pode ser dado com o auxilio de 5 estudos de APLs de confecsdes realizados pela RedeSist. Nota-se que os sistemas posstiem especificidades, o que implica em que os desenhos dos APLs sejam em muitos casos significativamente distintos. Em certos espagos, este desenho engloba um. niimero mais elevado de agentes, principalmente no que conceme a fornecedores. Por exemplo, em certos sistemas, nota-se a presenca de um conjunto de produtores de equipamentos para a indtistria de confecedes, que interagem em larga escala com os produtores de bens finais locais, gerando sinergias mais elevadas. Por outro lado, existem sistemas no qual nto esto presentes produtores de equipamentos, reduzindo-se significativamente este tipo de interago. Com relagao as atividades produtivas do niicleo central, em muitos casos verifica-se uma densa teia de relagdes de subcontratacao, onde diferentes empresas realizam etapas distintas do processo produtivo; em outros casos as empresas realizam intemamente diferentes etapas ou apenas poucas etapas so realizadas no espaco do APL. Ou seja, 0 desenho do complexo produtivo presente no local e, bem como de todo APL, assume uma vasta amplitude e depende diretamente do grau de complexidade das caracteristicas locais. Estas caracteristicas sto maximizadas quando estudamos APLs referentes a atividades distintas. Existem diversos exemplos nos quais podemos identificar estas especificidades. Em estudos de APLs relacionados a indistria metal-mecénica, por exemplo, em muitos casos a linha que divide os fornecedores (bens ¢ servigos) e os agentes que atuam no nticleo central de atividades é muito ténue, tendendo a desaparecer. A atividade final se confande com os servicos prestados e com o fornecimento de bens intermediirios, sendo que a dificuldade de separar produtores de bens finais e fornecedores 20 elevada, Um exemplo tipico nesta indtistria consiste nos servigos relacionados & usinagem, sendo que as empresas que atuam nesta atividade podem ser consideradas tanto fomecedoras de servicos quanto participantes do micleo central de atividades Neste sentido, ressalta-se a impossibilidade de se propor uma forma padrao de desenhar estas estruturas (€ este ndo é 0 objetivo da metodologia desenvolvida pela RedeSist), uma vez que as caracteristicas relacionadas ao sistema sao singulares. Nota-se que se levando em consideragao a multiplicidade de organizacées que conformam o ambiente institucional de cada estrutura, esta dificuldade é ainda mais presente. Portanto, destaca-se, como um primeiro passo metodolégico que pemnite nortear o restante da andilise proposta, consiste na identificagio das estruturas presentes no APL. A partir deste levantamento, & possivel inferir 0 que deve ser priorizado, estudado e explorado e quais so 0s atores relevantes. Este levantamento inclui a identificag’io da cadeia / complexo produtivo no qual se insere a atividade principal em foco, além de envolver uma perspectiva mais ampla que pode set definida como o desenho do sistema, levando em consideragdo as miiltiplas articulagdes com outros setores de atividade, como setvigos relacionados & produgdo, atividades relacionadas & comercializagao, financiamento, etc, bem como os vinculos com outras organizacées (infraestrumura de C&T, organismos de promogdo, ensino e pesquisa), presentes ou no no local. 6. DEFINIGAO DE ATORES A SEREM ENTREVISTADOS E CONSTRUGAO DE PLANO AMOSTRAL™ ‘Uma dimensdo de extrema relevincia na metodologia de pesquisa desenvolvida pela RedeSist, refere-se 8 pesquisa de campo a ser realizada nos APLs. Como ja destacado, o conceito de arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais constitui uma importante ferramenta para o entendimento do cariter sist8mico dos processos produtivos e inovativos. Logo, uma visio mais apurada destes processos exige que se realize pesquisa de campo em cada APL estudado. Em funcio destas caracteristicas deve-se avangar em duas dimensdes relacionadas & pesquisa de campo, quais sejam, a defini¢do dos atores a serem entrevistados e a construgio do plano amostral Como destacado na seco anterior os APLs podem assumir distintas configuracées, dependendo do tipo © complexidade das atividades realizadas em cada estrutura, bem como em fungo das especificidades locais. © préprio conceito em questo ressalta que estes arranjos incluem a presenga de empresas produtoras de bens e servigos finais, formecedoras de equipamentos e outros insumos, prestadoras de servigos, comercializadoras, clientes, etc., cooperativas, associagdes e representagdes — e demais organizacdes voltadas a formacio e treinamento de recursos humanos, informacdo, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promogao e financiamento. Portanto, com base no conceito, podemos ter uma idéia inicial da amplitude de atores que devem ser entrevistados nas pesquisas de campo. Esta deve incluir entrevistas, ou melhor aplicagio do ® parte desta segto & baseada na Nota Téenica Metodolégica n. 2, desenvolvida no ammbito do Programa de Pesquisa Micro « Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil (Campos & Nicolau, 2003). a questiondrio desenvolvido, com as empresas que attam na atividade central (micleo central) do APL em questo, bem como com seus fornecedores (de bens e equipamentos) e prestadores de servigos. Ja para as demais instituigdes © organizagdes que atuam nos APLs foi desenvolvido um roteiro de entrevistas, para o melhor entendimento da atuagdo destas nos espagos locais. Este ferramental de pesquisa & discutido no proximo item. Dado 0 fato de que, conforme observado no item anterior, 05 diversos APLs dificilmente apresentam a mesma estrutura, sugere-se alguns procedimentos para a melhor delimitacio de cada arranjo. Um primeiro procedimento consiste em uma ida preliminar a campo, na qual deve-se fazer um levantamento das atividades que integram cada sistema, dos fomecedores e prestadores de servicos presentes no local e das organizacdes / instituigdes que atuam no apoio as atividades desenvolvidas Destaca-se que este primeiro procedimento é findamental para a elaboragio de uma amostra consistente que expresse da methor maneira possivel a amplitude de atividades e atores existentes no local. Neste sentido, nesta primeira ida a campo, deve-se identificar os diferentes setores de atividades que integram 0 “nicleo central” de atividades do atranjo, elaborando a lista de empresas em cada segmento. Este levantamento pode fazer uso de diferentes fontes de informacdes, como por exemplo, a Relacto Anual de Informagdes Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, naqueles APLs em que hi um maior grau de formalizacdo das atividades'*. Em contrapartida, os cadastros desenvolvidos pelas organizacdes / instituigdes de apoio também podem ser usados, para reforgar a anilise anterior, ¢ principalmente para os casos em que o grau de informalidade é elevado. ‘Uma pesquisa por amostragem assume que a partir da selegao de parte dos elementos de uma populacdo (amostra) pode-se analisar e inferir propriedades para o todo (populacdo). Portanto, 0 conceito de amostra, refere-se ao subgrupo de uma populago selecionada para a participarao na pesquisa / estudo. As técnicas de amostragem podem ser probabilisticas ¢ nio-probabilisticas. A Amostragem Nao-Probabilistica ¢ uma técnica de amostragem que nfo utiliza selecao aleatéria. Ao contririo, utiliza o julgamento pessoal do pesquisador para a seleg2o dos atores a serem entrevistados (ex.: amostragem por conveniéncia, amostragem por julgamento, amostragem por quotas, amostragem tipo bola-de-neve). Jé a Amostragem Probabilistica consiste numa técnica em que cada elemento da populacdo tem uma chance igual e fixa de ser incnido na amostra (ex.: amostragem aleatéria simples, amostragem sistematica, amostra estratificada, amostragem por conglomerado)". Em grande parte das pesquisa em APLs procedimentos amostrais ndo-probabilisticos tém se mostrado ais tteis e/ou instrumentais.Isto se deve a dois fatores. Em primeiro lugar, uma primeira aproximagao do pesquisador ao objeto de estudo, o APL, muitas vezes permite identificar atores que exercem papeis chave, por coordenarem etapas produtivas, por possuirem diferenciais competitivos, por terem influéncia em instancias coletivas de governanca, etc. Isto sugere que a construgdo da amostra seja induzida, de forma a incluir estes atores importantes. Em segundo lugar, nos casos em que se verifica grande homogeneidade dentro de um subconjunto de atores (por exemplo, N empresas do segmento A), ™ Uima vez que a RAIS 36 capta informagdes referentes ao emprego e estabelecimentos formas * Para um detalhamento sobre tipos de amostragem, ver Barbetta (2002) ¢ Malhotra (2001), a realizagdo de um grande mimero de entrevistas neste subconjunto pode aporter pouca informagio adicional ao estudo. Em terceiro lugar, dadas eventuais dificuldades para a obtengao de um cadastro completo e atualizado de agentes produtivos, as respostas obtidas de entrevistados permitam identificar novos atores importantes a serem incluidos na amostra (amostragem tipo bola-de-neve), Portanto, com algum grau de flexibilidade, sugere-se que seja construida uma amostra que seja representativa dos diferentes tipos de agentes presentes no APL, de forma que os resultados obtidos permitam apontar potenciais caminhos para a evolucio do APL que sejam consistentes com suas caracteristicas especificas. Estes procedimentos referem-se as atividades produtivas de cada APL, mas como jé destacado, sabe-se que 0 entendimento do cariter sistémico dos processos produtivos ¢ inovativos de um arranjo requer a compreensdo de outras dimensdes. Portanto, em relagdo as institui¢des / organizagdes presentes nos APLs sugerem-se que estas sejam entrevistadas em sua (otalidade, uma vez que geralmente este nimero é reduzido, Portanto, de forma reduzida, podemos destacar que a metodologia desenvolvida pela RedeSist observ: para a realizagdo da pesquisa de campo, todos os agentes que interagem em nivel dos APLs, indo além das empresas que atuam nas atividades centrais dos arranjos e focando também, seus fornecedores de bens e servicos, bem como, as mais diversas organizagdes / instituigdes que atuam no local. 7. INSTRUMENTOS DA PESQUISA DE CAMPO © instrumental empregado nas pesquisas de campo realizadas pela RedeSist consiste de um questionario e de roteiros de entrevista. O questionario é direcionado aos agentes produtivos que constituem mticleo do sistema local (mas podendo ser estendido a outros agentes econémicos relevanies), enquanto que os roteiros de entrevistas trazem questdes especificas relacionadas & atuag0 e envolvimento de outras organizagdes (tais como de ensino e pesquisa, apoio e promocéo, representagdo, etc) com as atividades do APL. © questionario foi elaborado de forma a ser compativel com as principais pesquisas de inovagio, principalmente com a Pesquisa Industrial de Inovagdo Tecnoldgica, elaborada pelo IBGE, alm de abordar uma série de outras questdes ressaltadas no escopo do programa de pesquisa. O questionario se divide em cinco blocos de questdes. + 0 primeiro bloco é direcionado a identificagdo da empresa, investigando questdes como porte, origem e estrutura do capital e pessoas ocupadas. Além destas questdes, incluiu-se um grupo especifico de perguntas dirigidas as micro e pequenas empresas. Tais perguntas procuram captar a origem, desenvolvimento, caracteristicas dos sécios fundadores, dificuldades associadas 4 operacio de empresas de pequeno porte, nos moldes dos estudos sobre empreendedorismo. * O segundo bloco investiga questées relacionadas ao processo produtivo, a qualificacdo da mao-de- obra e a capacidade competitiva, além de buscar identificar a evolucdo ao longo do tempo do faruramento, nimero de empregados e destino das vendas. 23 «No terceiro bloco estdo inseridas as questdes que permitem estabelecer uma comparabilidade com pesquisas de inovacdo. A base deste bloco de questdes foi elaborada a partir de contribuigdes consolidadas nesta area de pesquisa, tais como o Manual de Oslo e 0 Mammal de Bogoté. Sao abordadas questes como os esforgos inovativos do empreendimento, os gastos envolvidos, os resultados atribuidos a tal esforco, as atividades de aprendizado e cooperacdo com diversos agentes © 0 efeitos destes processos interativos sobre as capacitagdes do empreendimento. * © quarto bloco tem como foco as carcteristicas especificamente ligadas a0 ambiente local, investigando aspecios relacionados 4 estrutura produtiva, governanca e vantagens especificas © © quinto bloco de questdes tem como foco as politicas ptiblicas direcionadas as atividades produtivas. E investigado se o empreendimento tem conhecimento ¢ se participa de programas ou acdes especificas para 0 segmento em que atta promovidas pelo govemo federal, estadual municipal, pelo Sebrae e por outras organizagdes publicas, bem como sua avaliago sobre tais instituigdes. Tendo em vista a riqueza e 0 detalhamento que a nota técnica sobre um estudo empirico deste tipo poderia ter, sugere-se que a aplicaco do questionario nao tenha que se limitar unicamente 4 marcacio dos espacos destinados para tal. Em muitos casos, é interessante considerar os detalhes reportados pelo entrevistada ao responder a uma pergunta ou perguntar por estes, enriquecendo a entrevista e 0 relatério sobre 0 caso estudado de detalhes nfo contemplados explicitamente nas perguntas. Em muitos casos, este tipo de detalhe tem se relevado fundamental para a compreensio de processos e dinimicas especificas de um APL, como, por exemplo, caracteristicas especificas de um novo produto que pode remeter a programas de cooperagdo para o seu desenvolvimento e o envolvimento de universidades, associagdes, etc. A contemplacio de tais detalhes pode, por exemplo, fomecer informagdes especificas sobre linhas de crédito utilizadas e politicas piblicas, comelacionando perguatas colocadas em diferentes partes do questioniio e dando, assim, maior materialidade & andlise Além do questionério a ser aplicado junto aos agentes produtivos que compéem o APL sto empregados trés roteiros de entrevista a serem aplicados junto a outros agentes. * © primeiro roteiro de entrevista € especificamente direcionado para instituigdes de ensino pesquisa, tais como escolas técnicas, universidades, centros tecnolégicos, etc. © roteiro sugere perguntas que buscam identificar as principais atividades e linhas de pesquisa, caracteristicas dos cursos oferecidos e os principais parceiros e clientes + © segundo roteiro de entrevista tem como foco entidades de representagio, avaliando sua atuagio junto aos agentes produtivos, demais organizagdes e 0 poder piblico como instincia de intermediagio e, possivelmente, de coordenacdo das diversas agdes de fomento. Destacam-se as questdes que abordam o esforco da organizagao para o estimulo ao desenvolvimento da capacitacto teenologica dos associados ¢ aquelas relacionadas as caréncias identificadas pelas empresas associadas ¢ pela propria organizagao para o desenvolvimento do APL e as sugestdes que desta anilise podem emergir para a formulago de politicas de aumento da capacidade competitive do APL. © Oterceiro roteiro é direcionado a organismos de promogio, avaliando as agdes de promocio (como capacitagio profissional e treinamento técnico; apoio a consultoria técnica; linhas de crédito; incentives fiscais; bolas: apoio a empresas emergentes ou incubadoras; etc) direcionadas ao APL. ‘Sao abordados os objetivos e metas, os organismos participantes e suas fungdes, a metodologia adotada, a origem e aplicagdo dos recursos financeios e 0 estigio de desenvolvimento dos projetos. Os roteiros de entrevista constituem guias com algumas questdes basicas consideradas relevantes. Propde-se que estas questdes bisicas levem a outras questdes especificas a cada caso, contribuindo para aprofundar a discussto e dando a esta maior detalhamento. Adicionalmente, ressalta-se que muitas questdes colocadas nos trés roteiros de entrevista se revelam complementares a perguntas presentes no questionério descrito acima, ao abordarem as mesmas questdes sob as duas éticas — no questionirio sob 2 tica dos empresérios e nos roteiros de entrevista sob a dtica de instituigdes de ensino e pesquisa, organismos de fomento e representagto, etc. A contraposigto destas duas visdes permite identificar de forma mais precisa os potenciais acertos @ fragilidades das agdes, projetos, e politicas, permitindo oferecer sugesides de politica para o fomento do APL com maiores chances de sucesso 8. TRATAMENTO DAS INFORMACOES, Desde as primeiras pesquisas realizadas pela RedeSist, as anilises dos APLs, a partir dos dados informagdes levantados em campo, tem se baseado maiormente em um enfoque qualitativo. Seguindo ‘uma das principais tradigdes tebricas que fundamentam o referencial conceitual de APLs — 0 da teoria evolucioniria —. priorizou-se uma anélise apreciativa da realidade, buscando entender a dinémica produtiva, inovativa e os processos interativos dos agentes nos APLs dentro de um contexto amplo, influenciado por tajetGrias histéricas e fatores sociais, culturais e institucionais, alm do proprio contexto macroeconémico. Em um segundo momento e em grande parte respaldado pelo aprendizado feito anteriormente, tem-se avancado na identificagdo de que informacdes quantitativas podem ser extraidas das pesquisas e como constmir indicadores capazes de identificar os processos produtivos, inovativos e de interagao que ocorem nos APLs. A partir da construgdo destes indicadores, tem se desenvolvido um esforgo de emprego de técnicas de anilise de dados que contribuem para dimensionar os processos mencionados ¢ desenvolver uma perspectiva comparativa entre diferentes APLs. Estas duas dimensdes complementares de andlise — a qualitativa e a quantitativa ~ so abordados abaixo. 8.1. Anilise qualitativa Para nortear a anilise dos casos, com vistas a responder as questes colocadas pelo presente programa de pesquisa, propde-se uma forma de se estruturar uma nota técnica que incorpore, de forma sistematizada, as diversas informagdes coletadas. E sugerida a seguinte estrutura: () Panorama intemacional ¢ nacional — neste item sugere-se a anélise dos principais aspectos da dindmica da indistria ou das indistrias nas quais esto inseridas as empresas do APL a ser estudado, focalizando em particular a estrutura da oferta e padrio de concorréncia e os regimes tecnolégico nas respectivas indiistrias nos Ambitos nacional e intemacional. Tal discussio se mostra de suma relevincia, dada a necessidade de analisar e compreender a dinamica produtiva e inovativa em um APL dentro do contexto econémico ¢ tecnolégico do qual faz parte, constituindo, assim, a ponte entre o local, 0 nacional e o global. (ii) Perfil do arranjo ou sistema produtivo e inovativo local — descri¢do das caracteristicas do APL dos diferentes atores que o integram, enfocando sua origem e desenvolvimento, a caracterizacto dos principais atores do segmento produtivo, as instituigdes de coordenacao e a infra-estrutura do conhecimento. Soma-se a esta anélise a discussio do desempenho recente do APL e as estratégias competitivas adotadas, bem como as politicas de promocdo existentes. ii) Capacitagao produtiva e inovativa - anilise dos mecanismos formais ¢ informais para a aprendizagem, a dindmica da aprendizagem interna & firma, os processos de aprendizagem no atranjo e os vinculos com o sistema de inovacao local, nacional e global. (iv) Perspectivas e proposicdo de politicas para promogo do arranjo ou sistema — neste item sio apresentadas as conclusdes do estudo, enfocando as principais potencialidades e desafios enfientados e as propostas de politicas que possam direcionar e estimular o desenvolvimento do arranjo, enfatizando os estimulos & capacitacao produtiva e 4 inovacao de forma a constituir uma competitividade dinamica. ‘As principais questdes de pesquisa levantadas pelo referencia conceitual ¢ metodolégico proposto podem ser respondidas através da conjugagio das diferentes informagdes coletadas. Apesar do foco dos questiondios e dos roteiros de entevista estarem no individuo (tanto empresa quanto agente nto- econdmiico), 0 tratamento e a conjugagto das diversas informagdes busca apresentar informagdes que privilegiam a dimensio e os processos coletivos, provendo uma visto sistémica dos processos existentes em um APL. Além dos dados secundarios e informacdes extraidas de bibliografia especifica, convergem para tal caracterizagdo as informagdes obtidas na pesquisa de campo (aplicago de questionarios e realizacao de entrevistas) ‘Um ponto inicial de andlise consiste da caracterizacao dos atores econdmicos e ndo-econémicos que constituem o APL. O questionério aplicado junto aos agentes do segmento produtivo traz uma série de questdes relativas ao porte da empresa, a estrutura de seu capital, a caracteristicas especificas de seus sdcios findadores, a fomecedores de insumos © equipamentos, as caracteristicas dos mercados 26 consumidores, bem como 4 evolugdo ao longo do tempo do mimero de pessoas ocupadas, faturamento € destino das vendas. Questdes relacionadas as dificuldades enfientadas na operacio das empresas & relativas aos fitores considerados determinantes para a manutengao da capacidade competitiva convergem com as anteriores, permitindo tragar um perfil da estrutura produtiva e das estratégias competitivas dos atores. A partir das informagdes obtidas através de entrevistas com instituigdes de ensino e pesquisa, entidades de representagao e organismos de promocao é possivel tragar um perfil do arcabougo institucional e da infra-estrutura de conhecimento presentes no APL, avaliando a relagao destes agentes com as atividades produtivas e os impactos sobre as estratégias competitivas eo desempenho produtivo e inovativo. Como destacado no referencial de anélise, os processos de aprendizagem, através dos quais é ampliado o estoque de conhecimentos ¢ sfo incrementadas as capacitagbes, constituem um foco central de anilise, APL representam uma instincia de mediagto entre agentes, que permite a ampliagto da capacidade de absoreao de conhecimentos potencialmente titeis para o reforco da eficiéncia ¢ da competitividade e que possibilita a “formatacdo” de conhecimentos, através da integragao de competéucias complementares. Veritica-se a existéncia de unliltiplas formas de aprendizado em ASPLs, cada uma delas apresentando uma dinimica prépria e com resultados especificos, ‘Um dos focos de andlise € 0 aprendizado interno & firma. Dentro deste conjunto, destacam-se os processo de aprendizagem decorrentes da prdpria rotina de atividades da empresa (learning-by-doing e learning-by-using). Estes podem ser identificados a partir de questdes que investigam a importincia de diferentes reas da empresa (como Area de produto, vendas e P&D) enquanto fontes intemas de informagao (questao 4 do bloco 3), ‘Uma outta dimensio relevante de andlise dos processos de aprendizado diz respeito ao seu carter coletivo, ou seja, os processos de aprendizado por interacdo, Enfitiza-se a anilise das diversas formas de interago entre os agentes, bem como da influéncia de aspectos relacionados & conformagao institucional do ambiente local que condiciona estas interacdes. Quanto a estes processos, busca-se captar as caracteristicas e os conteiidos dos relacionamentos, bem como os estimulos gerados a partir dos mesos. Esta énfase ressalta a visio de APLs como uma “rede de relacionamentos” que potencializa a geracao e difusdo de conhecimentos em ambito local. Tal instincia se mostra de fundamental importincia para avaliar a geracdo e difisio tanto de conhecimentos ticitos quanto aqueles codificados. Quanto mais complexos se apresentem tais conhecimentos, mais se enfatiza a importancia da interago entre os agentes para a sua difusdo (Britto, 2003). Principalmente, em relagao & capacitagao para inovar, destaca-se a importincia dos processos interativos, dado que dificilmente agentes econdmicos realizam esforgos inovativos de forma isolada (Cassiolato et al, 2003). Questdes que investigam a importincia da imteragio com diferentes tipos de agentes econdmicos e no- econdmicos, permitem obter uma aproximagdo dos processos de aprendizagem por interagao (leamin; by-interacting). Quanto a estes aspectos, destacam-se as questdes que buscam avaliar a importincia de agentes econémicos, instituigdes de ensino e pesquisa e outros tipos de agentes enquanto fontes de informacao para o aprendizado (questo 6 do bloco3), bem como enquanto parceiros em relacdes de cooperagao (questdo 8 do bloco 3). Além da importncia da interagdo com tais agentes, averigua-se se a7 tal interago ocorre de maneira formal ou informal, partindo do principio de que relagdes formais tendem a ser mais duradouras ¢ levam a resultados mais significativos. Um outro ponto em relagdo & inferac%o com tais agentes diz respeito & localizacao destes, partindo da premissa de que a existéncia de tais agentes no ambito local ou préximos a0 APL traz 0 potencial de uma interago mais estreita, possibilitando um processo mais intenso de geraco e difuisdo de conhecimentos, especialmente aqueles de cariter ticito ¢ especificos aquele ambiente, ‘Ao se analisar os processos de aprendizagem por intera¢ao, destaca-se a importancia da infra-estrutura institucional local, com énfase na inffa-estratura de conhecimento, enquanto potencial agentes geradores e difusores de conhecimentos. A conjugagdo das informagdes obtidas através de entrevistas Junto a estes agentes e aquelas obtidas junto as empresas referentes 4 interacto com os primeiros pemnite avaliar o grau de articulagdo existente entre estes grupos de agentes. Neste sentido, um ponto especifico diz respeito & adequagto da inffa-estrurura de conhecimento em relagao 4s demandas colocadas pelas estratégias tecnolégicas das firmas, dado a relevancia da interagio universidade- indistria para a geragao e difiisto de novas tecnologias. Outra importante forma de aprendizagem esté relacionada aos processos de treimamento e capacitacao de recursos humanos em APLs. Para identificar tais esforcos investiga-se, através do questionétio (questo 5 do bloco 3), se as empresas despenderam esforgos de capacitagdo de recursos humanos (tanto em termos do realizacdo de treinamento como da politica de contratacdo de novos quadros) ¢ a importincia das diferentes formas adotadas. Tais informagdes podem ser contrapostas com aquelas relacionadas ao nivel de escolaridade da mao-de-obra local (questiio 2 do bloco 2) e aos requisitos apresentados pelas empresas quanto a sua qualificacao (questo 3 do bloco 4), permitindo avaliar a qualidade e adequagdo da mao-de-obra em relagdo ao padrio de especializacao produtiva e tecnologica das empresas no APL, bem como a estratégia das empresas quanto a este aspecto. Adicionalmente, informagdes obtidas a partir de entrevistas junto a instiwicdes de ensino e pesquisa permitem identificar a infra-estratura de ensino (ensino de primeiro e segundo grau, cursos téenicos & profissionalizantes oferecidos, ete) que pode contribuir para 0 esforgo de capacitagdo. Tais informagdes podem ser conjugadas com informagdes obtidas a partir de entrevistas junto a instituigdes de ensino e pesquisa, identificando-se a infra-estrutura de conhecimento (cursos oferecidos, etc) que podem contribuir para o esforco de capacitagio. Permite-se, assim, avaliar a contribuicto oferecida pelo sistema educacional local (tanto em termos de educac4o formal como técnica) para 0 desenvolvimento de recursos humanos, bem como o grau de articulagdo existente entre o setor empresarial e a inffa-estrutuza educacional local para promover tal desenvolvimento. Adicionalmente, aponta-se para a importincia dos processos formais de aprendizado, caracterizados como a criacdo de conhecimentos tecnoldgicos intencionalmente desenvolvidos em cooperagito, através da montagem de uma certa divisio de trabalho quanto as atividades inovativas, as quais podem, ou ndo, estar consubstanciadas em atividades formais de P&D (leaming-by-searching). Destacam-se, quanto a estes processos, diversas questdes relevantes para a avaliagao empirica. Uma importante dimensto & 0 grau de “formalizacao” do esforco inovativo consubstanciado em gastos formais de P&D e demais atividades inovativas (questio 4 do bloco 3). Considerando que esforeos 28 continuos e sistematizados de busca possam conduzir a resultados mais expressivos, © questionario traz ‘uma questio (questo 2 do bloco 3) que investiga as diversas atividades desenvolvidas, avaliando se estas Sto realizadas de forma rotineira ou ocasional, Dado o cariter essencialmente coletive dos esforgos tecnolégicos, investiga-se, através do questiondrio, se os agentes se envolvem em relagdes formais ou informais de cooperagao que se traduzem em esforgos tecnolégicos conjuntos, como, por exemplo, o desenvolvimento de novos produtos e processos (questo 9 do bloco 3). A anélise dos diferentes parceiros envolvidos em relagdes de cooperago, a localizagdo destes, 0 grau de formalizagao das relagdes estabelecidas (questdo § do bloco 3), as estratégias adotadas, bem como a articulacao com a inffa-estrumira de conhecimento, permite identificar o grau de assimetria convergéncia ou complementaridade das estratégias tecnolégicas desenvolvidas no APL e seu potencial de gerar efeitos amplos sobre a competitividade do conjunto. Além de investigar os processos de geragio e difiisto de conhecimentos, o presente programa de pesquisa procura identificar potenciais impactos destes esforcos em termos de incremento de competéncias ¢ eficiéncia. Para tal, so investigados os potenciais impactos dos processos de aprendizagem e treinamento, em termos do aumento do estoque de conhecimentos relevantes para a atuagdo da empresa, bem como melhor utilizagdo de tenicas produtivas, equipamentos, ete (questo 11 do bloco 3). Da mesma forma, averigua-se se os processos de cooperacao conduziram & aquisi¢do de novos conhecimentos, bem como se tais esforcos possibilitaram uma melhor performance do empreendimento em termos do seu processo produtivo, inovativo, de comercializacao, etc. (questo 10 do bloco 3). Como destacado no referencial conceitual e analitico de APLs um elemento central de andlise ¢ 0 desempenho inovativo dos agentes. Considera-se a definicao ampla de inovagao conforme proposta por Mytelka (1993), de acordo com a qual inovagio é tida como a introduco de produtos, processos ou formas organizacionais novos para empresa, independente de serem novos para o mereado ou setor de atuagao, Neste sentido busca-se captar esta dimensio ampla do desempenho inovativo, apresentando questes (questo 1 do bloco 3), que abordam a introdugo de inovagdes novas apenas para a empresa, para o mercado nacional e para © mercado intemacional ou setor de atuacdo. Em termos de impactos da introduco de inovacdes sobre o desempenho das empresas, sto consideradas na anflise tanto medidas quantitativas (participagdo nas vendas de produtos novos ou significativamente methorados), quanto qualitativas (avaliacao de potenciais impactos em relacdo a aumentos de eficiéncia, impactos sobre a participagdo em mereados, reducdo de custo de fatores, etc) (questdes 2 e 3 do bloco 3). Busca-se, assim, obter informacdes de outputs e impactos que vio além daquelas usualmente consideradas em pesquisas de inovacio, tais como indicadores bibliométricos e de patentes (Santos, et al, 2003) Adicionalmente, aponta-se para a importancia da identificaco das articulacdes entre os agentes € 0 “ambiente local” e, especificamente, com o sistema de inovagao local. Busca-se analisar a importincia da dimensio local para o desenvolvimento de capacitagio produtiva e inovativa e as relagdes entre 0 ambiente inovativo e 0 desempenho econdmico da regito. De forma ampla, busca-se identificar quais aspectos do ambiente local sto tidas como vantagens para a localizagdo das empresas (questo 1 do bloco 4) e qual é a intensidade das transagdes comerciais realizadas localmente (questo 2 do bloco 4).

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