You are on page 1of 5
7 Mimos e jograis da Idade Média A instituigdo teatral da Antiguidade, como a descreveros, ‘com a sun complexaestrutura organizativa com a imagem que essa implicava, € destruida pela queda do Império Romano e cexpressio na civilizagdo greco-romana, remonta a 467 d. C. para o Ocidente europeu. ‘A actvidade teatal de cardcter oficial perpetuou-se duran- te mais tempo no Império do Oriente. Em Bizincio, o centro desta actvidade era o hipédromo onde, juntamente com com- petigdes desportivas,tinham lugar representagSes mimicas de Dreves cenas ligeiras, até de carécter realista, bem como de poemas ou inclusive de tragédias clissicas. Além disso, parece que, nesses representagdes, a acgdo mimica era separada 4 representacio: 0 texto era declamado por um cantor, 20 [asso que os actores se imitavam a executar aog6es mudas que o ilustrvam, Esta formula 6 jé conhecida, na medida em que a Ppantomima romana da época imperial baseava-se nel De resto, também no Ocidente, os eruditos, que, de cera forma, conservaram a meméria do teatro antigo, tiveram sempre este tipo de imagem do mesmo. Um comentirio & Ars Poetica ‘de Horicio que remonta 0 século x1, 0 Tractatus Vidobonens prope um esquema em dois pélos: 0 recitatore as personae ‘agentes et loquentes de uma representagio, isto é, um esquema {que 08 actores no se limitam 2 simples pantomima, mas onde € necessiria a presenga de um narradot. Isto significa que a idea de representogdo jé nfo se baseia num texto estruturado 4e forma dramstica, composto apenas por deixas dialdgicas, mas sim numa narragio em que se incluem partes recitadas - : HOLINARY, Gay. Hatten doferio Lisboa, » Cisse Jo, L010 2 JOGRAIS DA IDADE MEDIA TEATOAR, no ¢ improvével que esta imagem tenha nascido, em certa medida, da sintese de uma meméria erudita e da observagio td algo que os eruditos, mais ou menos obscuramente, pensa- ‘vam poder associar ao conceito de teatro. Com efeito, nos :mosteiros continuava-se a copiar as comédias eas tragédias da latinidade clisica, e a monja Hroswita (935-973) testemunha {que Teréncio ainda era tido por muitos: lido, mas nto repre- sentado, como provavelmente eram concebidos para a leitura (os textos da propria Hroswita, considerada o nico verdadeiro autor dramético da Alta Idade Média, Seja como for, a activi ‘dade teatral institucional, isto 6, entendida como actividade que se desenvolve regularmente em edificios projectados ou adap- tados para o fim, com a contribuigio de virios especialistas e _gragas ao financiamento do Estado ou de particularesricos ests ‘menos presente na Alta Kdade Média, Assim, a ideia de teatro ‘omna-se indefinda e nebulosa, mas capaz de reagrupar um mais vasto e diversificado numero de fensmenos, visto que, se se perdeu a imagem da instituigio, nio se perdeu 0 conceito de fungdo teatral, als, a «theatricay a dada alvura introduzida entre as profissdes por aquele grande sistematizador da cultu- ‘a que foi Hugo de Sdo Vitor (m. 1141): na sua ideia, a «thea- irica» & a profissio do divertimento, til para restaurar a “laettia, que © homem perdeu com o pecado original. Hugo de Sdo Vitor pensa que a funcio teatral deve realizarse em lugares a ela reservados: nfo teatros, mas simplesmente esp 60S islados do luir da vida séria e quotidiana. Apesar de nio ‘er uma ideia precisa de teatro, Hugo de So Vitor reconhece ‘existéncia e a liceidade da fungio. © teatro, poder-se-4 con- cur, nfo existe como coisa em si, existem antes 0s teatrantes Esta apreciagio, ndo preconceituosamente negativa, foi parti- Tada por outras figuras abalizadas, como Thomas de Cabham ‘co proprio Sdo Tomés de Aquino, no entanto, permanecew uma, excepgao & regra aradoxalmente, nestes séculos de eclipse da institvigio {eatral, houve um grande desenvolvimento do que poderemos 4 teatralidade generalizada, Nao se trata, obviamente, zr HISTORIA DO TEATRO, 4a sobrevivéncia das formas mais simplificadas da linguagem teatral, mas da perpetuidade e, als, da minuciosa difusto da categoria dos profissionais do especticulo que os eruditos reconheciam ser herdeiros directos dos mimos e dos actores latinos, agraciando-os com o titulo de histriones, com © qual a latinidade elissica definira os actores de teatro: originaria- mente a palavrasignficava dangarino, mas Cicero usou-a num sentido mais geral, e Plinio tem expressGes como «histrio tra ‘gediarum, hstrio comediaruny. Porém, 0s nomes com que sero chamados em baxo latino fe, mais tarde, nas vérias Hinguas volgares so muito variados: Joculatores, mimi, scurrae, e, mais tarde, ainda menestiers & ‘roubadours (isto é, menestéis e trovadores) Estes nomes nio correspondem, se excluirmos talvez os dtimos dos, a fungdes substancialmente diferentes, antes 30 conjunto das fungdes cexercidas por tais personagens. O mais difundido foi segura mente joculator (bobo, jongleur), no qual € evidente a raiz de Jjocus, jogo, que identificars, também nas linguas germina, ‘oconceito de acgo teatal ede actor: Spiel-Spieler, Play-player, 0s verbos relativos. Joculareur é, portato, aquele que se dedica ao jogo, mas desde o século v1 que o termo parece ter sido aplicado aos clérigos e aos monges «fugitivos» vagabun- dos, a quem se censuravam as tupitudes que faziam com pala- ras e gestos e o facto de serem «adios», ou seja, sem uma ‘morada fixa e unm lugar estavel na sociedade. Por conseguinte, © termo surgi imediatamente conotado em sentido negativo. De rest, a histéria dos jogras e dos actores em geal, a0 longo de toda a Idade Média e ndo s6, € a historia da sua con- denagéo, A sociedade romana j haviaaribuido um status social ddegradado, mas os Padres da Igreja (Santo Agostino, Tertlia- no, Sto JerSnimo) inauguraram a longa luta que a Tgreja levard ‘2 cabo durante séculos contra 0 teato, lula essa ainda ni ter- minada no século xv, Compreende-seo significado desta lu, na sua origem, se tivermos presente a revolugo cultural prota- {gonizada pelo crstanismo primitivo com a negacio absoluta dd cultura elissica, da qual o teatro era a expresso mais mun sc sists MIMOS & JO0RAIS DA IDADE sténa Janae diabélica;e que se explicita, posteriormente, no Ambito tla ideologia social e moral da nova sociedade erista, Com cleito, as condenagdes oficiais € oficiosas repetem-se: nos sf- nodos e nos coneilios (Tours 813, Paris 829; Eichstadt 1435), ‘bem como nas obras dos teblogos e dos moralistas de Sto Joi CCriséstomo ao bispo Alberto, de Jolo de Salisbiria a Pedro, 0 Canxor. (© motivo destas condenagdes, muitss vezes inerivelmente daras — assistr a um espectéculo & «vitium immanen, os jograis| so «infames», «instrumenta damnationisy, ete. -, no & gené- ico, hi de facto referéncias bastante especfficas, tanto é que estas condenagées se tornaram as melhores fontes para © ‘conhecimento da actividade jogralesca, [Na medida em que so infinitas vezes repetidas, as conde- nagGes eclessticas provam, por um fado, a sua inffeécia, mas, por outro, a amplitude do fenémeno. Diz-se que nas grandes Festas senhoriais se chegavam a juntar s centenas de jograis pura exibirem o seu talento peculiar. Assim os descreve um Fomance do séulo xm: «E eis que avangam os jograis. Todos se querem fazer ouvir. Poderiam ouvie-se cordas de instrumen- tos modeladas em todos 0s tons. Quem conliece uma nova so- rata para viola, uma cangio, um discurso ou um lai exibe-se 0 mais possivel,(..] Um recta versos, outro acompanhs-o com 44 misiea; um pe as marionetas a dangar, outro exibe-se com as facas; um caminha de gatas, outro faz eambalhotas; um {danga com uma taga nu mio; outro dé salts. So todos muito hhabilidosos.[...] Um narra a histria de Priamo, outro a de Piramo.» (Que os jograis eram um elemento constante da vide quoti- diana, e quase parte da paisagem, esti provado também pela frequéncia com que aparecem nas artes figurativas: nos eédices com iluminuras, bem como, ¢talvez.com maior frequéncia, nos capitis esculpidos das igrejas, em que assumem obviamente Formas animaleseas e demoniaeas, © em muitas outras escultu- ras decorativas. Deviam ser particularmente numerosos em Espanta: as caleiras dos palicis e dos conventos so feitas em isTORIA DO TEATRO {Forma de jogral,e na Universidade de Salamanca hi uma esea- dda em cuja decoragdo 0s jograis estio retratados em diversas poses. ‘As condenagies baseavam-se essencialmente em ts8s cons tatagses: o jogral é «gyroveguss, eturpis» e «vanus>. Ao pri= reir terme jf izemos uma breve refertncia: set gyrovagus no significe apenas ser vagabundo, mas também estar & margem © inclusive fora da organizagio social. Os jograis nfo 8m um sus, tal como nio tém uma casa, o seu posicionamento é caracteizado pela ambiguidade: watravessam todas as classes sociais, mas nfo pertencem a nenhma delas. So prOximos dos poderosos na corte, mas no so homens dos poderosos. Acom- ppanhantes dos mercadores nas fetus, no esto, no entanto, como ‘0s mercadores ou attests, inseridos em alguma estutura social, ‘organizada ereconhecida» (Casagrande-Vecchio). Talvez também para fugira esta condenasio, a partir do século x, procuraram uma defesa pelo menos profissional, unindo-se em corporugtes « contfarias, como a famosa Puy d’Amas. ‘Mas, por outro lado, & justamente esta condenagio que cselarece aquele conccito de teatralidade difusa aque serecorreu no inicio: 0 jogral nfo encena o espectéculo num lugar deter- ‘minado. oferece-o. Tal como o vendedor ambulante, apresenta- se nas feras, bem como onde se redine um pouco de gente, nas tayemas, por exemplo, ou simplesmente nos trivios. Mais, ele entra nas casas, predominantemente nas dos ricos, onde alegr fs banguetes ¢ muitas vezes simplesmente a vida quotidiana, tomando-se seurra, 0 bobo; e, ainda, na casa dos burgueses & até mesmo dos camponeses, por ocasio decelebragies caseiras, como os casamentos, 0s baptismos, ou todos os acontecimentos de algum modo faustosos. (0 jogral é igualmente «vio», pois a sua suposta arte é vazia 4e contedido ténico: € cultor do uso, do empirismo, relative ‘mente & aprendizagem determinada por normas e regas fxadas| pelas autoridades; e,além disso, a sua actividade nada produz de sill. Na verdade, como vimos, Hugo de Sa0 Vitor reconhe cia que 0s jograis iam ao encontro de uma exigéncia real do 2 presen rsteenati co mesa MINOS & JOGRAIS DA 1DADE MED: hhomem, a de estar alegre, mas « maioria contrapae a inutlida- de do divertimento a seriedade da catequese ¢ do ensino. E 0 que € vio é mundano, e 0 que é mundano ¢ diabslico. A mun- \danidade jogralesca também é efectivamente testemunhada do onto de vista literiri, porque se é verdade que os jograis & (0 goliardos constituiam uma categoria em cujo interior & di fieil agar fronteias, os seus textos apresentam-se muitas vvezes como a inversio, numa perspectiva parédica, dos valores auténticos ¢ espirituais que a Igreja procurava impor. Jograis © goliardos nunca faltavam naquelas festas profanas e profana~ ddoras que em Dezembro invadiam as igrejas e que, segundo Inocéncio Il as transformavam indignamente em teatros ¢ em lugares de orgia e pecado. jogra é também, e essencialmente, ups. Este termo no 6 genericamente depreciativo, mas significa justamente que o Jogral, 0 mimo, é aquele que desvirtua (Jonpet) a imagem natu- I. Besta € a condenacio ideologicamente mais grave. O cris- Uianismo admite, e lids sugere, reprimir @ natureza,limitando a satisfago dos desejos e das necessidades para humilhar a came, mas ndo admite que se possa alteé-la, na medida em que, enquanto obra de Deus, & sublime e perfeita. Os pecados contranatura no (8m perdio, nem compreensio ¢ uma mesma condenagio abrange o actor que transfigura 0 seu corpo, 0 luxo © maquilhagem das mulheres, as pritieas anticoncepcionais, a sodomia e, em éltima instineia, a investigagio cientifca, Esta ccondenagio diz ainda respeito 2 outros tipos de disfarces, de ‘uma outta forma e num contexto diferente, que podemos, no fentanto, defiir, em sentido lato, teatrais: a festa popular e, principalmente, a grande festa carnavalesca. Difundida em toda 1 Europa em esquemas frequentemente muito semelhantes, a festa do Camaval tem entre os seus elementos constitutivos precisamente o disfarce e a méscara, E a Igreja mio condena tanto 0 ritual que, no fundo, & 0 processo sacrificial da antiga divindade terrestre, quanto 0 préprio disfarce que, contra a atureza, transform o homem em mulher ea mulher em homem, © ambos em animais « HISTORIA DO TEATRO E 0 actor, o jogral, & precisamente aquele cuja actividade profissional consiste no revolvimento da forma humana, € no 6 porque esse se disfarga de animal ow mulher, o que por si envolve corrupgio mora, ou seja,hipocrisia e advlagio, mas também porque usa o seu corpo, exibindovo contra a norma natural ¢ social. E, com isso, entramos na questio do estilo Jogralesco, tal como sparecia aos moralistas da época: 0 gesto prevalece sobre a palavra, aids, substitui-, arrogando-se uma Tungfo que ndo era sua. Além disso, o gesto perde a sua fun- cionalidade prética directa e teansforma-se em gesticulagio absurda e desalinhada, O homem perde a sua dignidade, que consisteexactamente no controlo e na pacate (a propria pres- sa segundo Dante, «olhe a nobreza a todos os actos), para se {ornar epiléptico, pereorrido pelo estremecimento da loucura, endemoninhado ¢ come que possesto ~ pelo diabo, obviamen- te. E, por seu turo, a palavra, na lengalenga insensata torna-se ‘puro jogo de sons, e perde, portanto, também ela asus Fungo signifieante: as palavras sobrepBem-se num jogo de pura habi- lidade sonora, segundo um ritmo que nio € o do discurso légi- co, mas, pelo contri, o da fabulagio absueda ‘© excesso de gestculagho e de vocalidade parece, por con- seguinte, er sido a marca extlistica dos jograis, contorcionist cantores,acrobatas,iusionistas, exbicionistas de animais ames- trados ow mimos que fossem. Contudo, ainda assim, esta série de habilidades to aumerosaediversiicada €redutora Os jograis so mais do que isso. ‘Ao conttario do que pensavam os moralistas, of jograis também s8o profissionais da palavra significate, nas suas vérias aceps6es,e principalmente da palavra critica e da palavra nar- rativa. Pagos muitas vezes para difamar, os jograis so, no entanto, quase necessaiamente,oespiito crftico do corpo social; (0 camponeses s0 0 alvo preferencial da sua fice, muitas vezes, vioenta ironia; a sétira contra o vilio surge depois do ‘ano 1000 nas camadasaristocriicase burguesas. A famosa obra Ditados de Matazzone da Caligano, jogral ombardo que, pro- vavelmente, vive por volta de meados do século xm, étalvez i DMIMOS E JOGRAIS DA IDADE MEDIA _ ‘0 seu mais ilustee testemunho, Este comportamento valeu sos Jogris a fama de servos do poder, mas usaram muitas vezes a liberdade da palavra que a eles, tal como aos loucos (com os ‘quais so praticamente identificados, o jogral enverge muitas vores as vestes do foo), Ihes era concedida para variar 0 ob- {ectvo e também discorrer, em termos satiicos, sobre as classes ‘mais altas eo individuos poderosos. Além disso, a sitira tina ‘uma fungi informativa o jogral, que, mais do que os outros, sabia o gue sueedia no mundo precisamente em virtude da sua crrincia, desempenhava um pouco a fungio de jornalista. Mas é na pele de narrador que o jogral encontra um pouco ‘de crédito também junto dos eruditos © moralistas menos rgidos. ‘Thomas de Cabham, bispo de Salisbéria, por volta de 1300, ou seja, num period jé muito taro, distingue tres tipos de jograis: (0s que transformam e transfiguram os seus corpos com gestos e sallos abjetos, tirando ou pondo méscaras horrveis; os que seguem as cortes dos grandes dizendo oprdbrios dos ausentes; © of que cantam para celebrar as gestas dos principes e dos santos. Estes io verdadeiros cantores populares de cantigas, uilizados de quando em quando para levantar © moral dos soldados em campanka, ou, nas igrejas para contar os milagres © 0 martirio dos santos ~ e sobre eles o bispo inglés fazia um juizo benévoto. CCantores populares de cantigas. E ¢ ficilimaginar que dos sus repertrios fizessem parte as Chansons de gestes, com 05 tielos de Carlos Magno e do rei Artur, bem como aquelas cur las histrias, muitas vezesridiculas ou inénicas,Fabulas ou fe- Dlvaux,cujas personagens se ambientam geralmente no dominio da vida quotidiana, burguesa ov popular que, mais tarde, ser ‘do Ambito da farsa. Contos, portant, de aegdes, em que di logo entre as personagens intervenientes tem uma parte rele- ‘ante: a narragio jogralesca € uma narragdo com fortes realees snimicos e, aliés, € muito provavel que 0 narrador se transfor :masse em verdadeiro actor sempre que 0 texto o sugeria. Como se dizia, a0 inicio, os mesmos erudites consideravam 0 teatro tuna alterfneia entre a acgdo € a narragto, eertan nisTORIA DO TEATRO. infuéncia do que podiam ver quotidianamente na obra dos jogris,considerados uma versio simplificada do teatro wer dadeiro» e antigo. A atesé-o, de resto, 0 epitéio latino do mimo Vitalito: «Eu imitava o fost, o gesticulare falar dos imerlocuores, e terse-4 acrediado que muitos se exprimiam através de uma nica boca [.] Assim, © di funesto rapton comigo todas as personagens que viviam no meu corpo.» (0 transformismo do actor faz com que & narragio resvale em ‘rama, um drama narrado interpretado por um nico actor mas em diferentes personagens. De um modo geral, 0s jograis actwavam isoladamente, no ‘ntanio, no eram raros 0s casos de minésculas compantias de caricter predominantemente familie, em que colaboravam vie rios especalistas: «qual jogral pelas ruas andava/os filhos dangavam ¢ ela a harpa tocavay diz 0 canto do Buove de An- tona, Naturalmente nstes casos, podia ocorrer uma aco of nica mais complexa. E € aqui que se deve procurar a origem dos Jeux do século xm, como o Jeu de la Feuilé ¢ o mais fa moso Jew de Robin et de Marion, autético melodrama em ‘miniatura de Adam de la Halle (9. 1288). Todavia, estamos agora no limiar de ume nova era: 0 teatro volta a ter 0 seu papel institucional e a par das repesentagées sacra, encontra- ‘mos outras formas de espectéculo nas quais os jograis prova: velmente paricipavam, mas que ram organizadss por ours, pela sociedade de flies que representavam farsas e otis, ou ‘or confarasreligiosas,cuja expresso dramdtica se concentra 10s milagres (miracle play, miracles de Notre Dame), em que 4 parte reservada & temitica religiosa & parcial, redizindo-se rita vezes & imervengio de um santo ou ds Virgem que, quase deus ex machina, resolvem a sitago da melhor manci- 1; €, nas moralidades (moralités, morality plays) cujsperso- rnagens eram personificagdes de entes abstactos (a Vida, a Mone, a Virude, et.) Mas 0s jograis nio desapareceram, permaneceram actvos ainda por varios séeulos em varios contexts e em novassitus- 48es econdmicas: condimento alegre das feiase dos banguetes ‘MIMIOS B JOGRAIS DA IDADE MEDIA continuou a representar de vérias formas aquela teatralidade sifasa ant-institucional que se insere no quotidiano e que, hd alguns anos, voltou a aparecer nas pragas das cidades © nas cestagdes ferrovidrias das éreas metropolitanas.

You might also like