You are on page 1of 30
| ‘onGaNizadORA Edna Scremin-Dias Joanice Lube Battilani | Andréa Licia Teixeira de Souza | Silvia Rahe Pereira | Cristiane Kalife Paulo Robson de Souza Helma Jeller | Satis eles ts so) WE Qu PRODUCAO DE SEMENTES DE ESPECIES FLORESTAIS NATIVAS Manual SUMARIO INTRODUGD .... ‘QUEESTA SENDO REGULAMENTADO PELA LEN 1.71/2003, QUE DSPOE SOBRE O TEMA NACIONAL DE SEMENTESE MUS... “AREAS DE COLETADESENENTES.... 7 SELECHO EMARCACAO DE MATRIZES 2.1. Selegio de Matrizes 2.1.1. Objetivos da producdo de sementes 2.2, Marcagio de Matrizes ... 2.3. Identidade Botanica das Espécies Florestais Nativas.. 2.4, O Herbério 3. COLHEITA DESEMENTES 3.1. Epoca de Colheita 3.2, Métodos de Colheita. 3.3, Cuidados Especiais Durante a Cotheita 3.4, Rendimento de Cotheita 4. BENEFICAMENTO E ARMAZENAMENTO DE SEMENTES. 4.1, Extragdo das Sementes .. 4.2. Secagem das Sementes INTRODUGAO ‘Uma situagao preocupante hoje, no Brasil, € a destruigao crescente e continua da vegetagio nativa visando a implantagio de culturas agropastoris ou a extrago madeireira, sem a manutencio das éreas de reserva legal e protegao permanente. Problema igualmente sério é o desmatamento, com posterior abandono do solo, deixando-o descoberto, sujeito a0 ‘empobrecimento € & erosio. Felizmente, observa- mos que nas iiltimas décadas a conscientizagao enfocando a conservacao dos bens naturais vem crescendo e é, cada vez maior, 0 ntimero de entida- des e pessoas trabalhando na preservacao ¢ recupe- ragiio de ambientes naturais. E sabido que o manejo sustentével dos recursos naturais pode gerar renda, sem a necessidade de destruir as florestas nativas. Atividades agropecudrias podem ser desenvol das de forma conservacionista se forem integradas a sistemas florestais, promovendo uma melhor pro- tego do solo ¢ das Aguas, preservando a fauna ainda gerando renda extra ao agricultor. No entanto, para aqueles que ainda insistem em alterar as éreas destinadas & reserva legal e as con- sideradas de preservacao permanente, a fiscaliza- do realizada pelos érgios ambientais, como TBAMA e Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, 0s tém obrigado a recompor a vegetacio nativa lo- cal. A tendéncia é que seja exigido, cada vez mais, 0 cumprimento da Lei sobre a manutengao dos recur- sos naturais. Portanto, 0 aumento da demanda por sementes ¢ mudas de espécies arbéreas nativas € premente em todo o territ6rio nacional. Infelizmente, ‘na maior parte do pafs, 0 setor produtor de sementes ce mudas ainda é pequeno e incipiente, nfo atenden- do satisfatoriamente essa demanda, Para tentar fomentar e organizar o setor de pro- dugio e comércio de sementes e mudas de drvores nativas nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, foi criada a Rede de Sementes do Pantanal. ‘Além desta, sete outras redes estiio sendo estabe- lecidas nos demais biomas brasileiros, visando orga- nizar o setor produtivo de esséncias florestais nati- vas. O grande desafio € capacitar coletores de se- mentes e produtores de mudas dentro da legislacio vigente sem esquecer 0 enfoque da conservacio ambiental, uma vez que esse processo envolve a certificagao de sementes e mudas, a manutencao da diversidade genética das populagdes recuperadas, a protecdo da fauna, dos solos ¢ dos mananciais hidricos. 0 QUE ESTA SENDO REGULAMENTADO PELA LEI N° 1071/2003, QUEDISPOE SOBRE OS Com 0 objetivo de garantira identidadee a quali- dade de sementes, estacas ou demais propagulos que sio produzidos, comercializados e utilizados em todo o territério nacional, foi estabelecido o Sistema Na- cional de Sementes e Mudas. © principal objeti- vo desse Sistema é disponibilizar materiais de propa- gacio vegetal de qualidade e com garantia de pro- cedéncia ou identidade, A elaboracdo deste Sistema foi coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuétia e Abastecimen- to (MAPA) ¢ esté amparado pela Lei n° 10.711, de 05 de agosto de 2003, (© Artigo 47 desta Lei autoriza o MAPA a esta- belecer mecanismos especificos e, no que coube~ rem, excegdes ao disposto na Lei, a regulamentar a produgao e 0 comércio de sementes de espécies florestais, nativas ou exéticas, ou de interesse me- dicinal ou ambiental. A Lei esta sendo regulamenta- da e a elaboracao da proposta contou com a partici- ago dos técnicos do MAPA e com 0 apoio de pes- quisadores e demais profissionais ligados as Redes de Sementes Florestais. Todo produtor de sementes e mudas deve- 4, em curto ou médio prazo, se enquadrar nos STEMA NACIONAL DE SEMENTES E MUDAS termos da referida Lei e do Regulamento, para comercializar as sementes ¢ mudas de essén- cias florestais nativas. A implantagio integral do regulamento nao ser uma tarefa facil, devendo-se percorrer um longo caminho até fazé-1o valer plena~ mente como instrumento disciplinador do setor, Conhecendo-se a realidade nacional do setor de sementes e mudas de esséncias florestais nativas, 0 Capitulo XII do regulamento trata das espécies flo- restais, de interesse medicinal ou ambiental, ¢ espé- cies sem comprovacao da origem genética. Este capitulo aborda as peculiaridades das espécies nati- vas, estabelecendo normas e mecanismos especifi- cos e, no que couber, as excegdes que serio aplica- das, sem prejufzo ao disposto no regulamento geral, Neste manual so apresentados os aspectos prin- cipais do regulamento, especialmente aqueles rela- cionados a dreas de coleta, selegio e marcacio de matrizes de espécies florestais. Além disso, so fornecidas informagdes e procedimentos técnicos para colheita e manejo de sementes, visando contri- buir para a melhoria na qualidade das sementes flo- restais ¢ 0 fortalecimento do setor no ambito da Rede de Sementes do Pantanal. 1 AREAS DE COLETA DE SEMENTES As dreas de coleta de sementes devem ser cons- tituidas de comunidades florestais naturais de ampla extenso e que preferencialmente ainda nfo tenham sido exploradas pelo homem, para o plantio de cultu- ras agricolas e pastoris. Também no devem ter ser- vido para a extragdo de madeira ou minerais, ou ain- da, ndo devem estar muito préximas a centros urba- nos. Infelizmente, essa no é uma situagdo facil de encontrar, uma vez que a maioria das formagées vegetacionais do pafs sofreu ou sofre sérias pertur- bagdes antrépicas, como desmatamentos, corte se~ letivo de espécies florestais, fogo, etc. As reas de grande extensio sto necessérias, pois contém ntimero significativo de espécies arbustivas e arbéreas distintas, garantindo assim o sustento de animais que exigem diferentes tipos de recursos alimentares. Esses animais, por sua vez, garantem a polinizagao de intimeras espécies ¢ também a dispersao de suas sementes para lo- ‘ais vizinhos, contribuindo para a sobrevivéncia e, por vezes, a ampliagdo dessas populagdes de plan- tas, Essa relagdo entre animais e plantas é extre~ ‘mamente importante para os dois grupos, mas, principalmente, para plantas que sao polinizadas por animais. s animais, geralmente insetos, aves ou morce~ gos que carregam o pélen das flores de uma arvore para as flores de outra drvore, contribuem para “mis- turar” os genes de diferentes individuos (arvore-pai € drvore-mae') ao longo das geragées, dando ori- ‘gem a plantas fithas com maior diversidade gené- tica, ou seja, geneticamente pouco semethantes en- tre si, quando comparadas as plantas cujos ascen- dentes so muito aparentados. Em geral, essas plan tas mais “misturadas” tém maior capacidade de adap- taco a ambientes diversos e, as vezes, so bem mais, resistentes a pragas € doengas. Devido & manuten- ‘io dessas qualidades ao longo das geragdes, mes- mo que outra planta-filha morra devido as adversi dades naturais, a possibilidade de varias outras re~ sistirem, perpetuando a espécie, é maior. Enfim, es- sas diferengas existentes em cada geragao de plan- tas filhas, decorrentes da mistura dos genes dos pais € miles com pouco ou nenhum parentesco, contribu- " Plantas como o jenipapo, a embatiba,o jaracatis eo buriti possuem sexas separados, ou seja, existe a érvore masculinae a feminina, ‘Mesmo para as espécies que possuem os dois sexos na mesma planta, em certos casos hé mecanismos de retardo da abertura das ‘lores masculinas em relag as femininas, 0 que favorece o cruzamento de plantas diferentes. u em para a manutencdo da populacao de uma deter- minada espécie. Portanto, para a coleta de sementes que serio destinadas 3 recomposi¢ao de éreas degradadas, quan- to maior a diversidade genética das mudas produzi- das, melhor. Dessa forma, niio é adequado estabele- cer freas de coleta de sementes em remanescentes florestais muito pequenos, pois 0 ntimero de frvores pertencentes a uma espécie pode ser muito pequeno ea diversidade genética provavelmente também seri pequena, gerando mudas geneticamente “homogéne- as”, com pouca mistura de gens, com chances me- nores de adaptagao as diversidades ambientais. ‘Acrescente-se que a extracdo de madeira ¢ ou- tras atividades econOmicas podem diminuir a diver- sidade genética da floresta sob exploragao. Por isso, freas de Reserva Legal (RL, que correspondem a 20% da propriedade rural) e Areas de Preservagao Permanente (APP, que correspondem & vegetacio de nascentes, das margens de lagoas e cursos d'égua, veredas, topos de morros e encostas, dentre outros) sto bons locais para marcar érvores matrizes e co- letar sementes, ja que sto éreas naturais e, geral- mente, no perturbadas pela aco do homem, Sistema Nacional de Sementes © Mudas (SNSM) prevé varias categorias de Area de Cole- ta de Sementes (ACS), cuja valorizacio do produ- to (sementes ou propdgulos) produzidos nestas ére- ‘as aumenta & medida que se intensifica o controle ‘genético da populagio — natural ou plantada -, for- mada por espécies nativas ou exéticas. No SNSM sio previstas varias categorias de produgio, que sfio listadas abaixo em ordem de valor econdmico: 1, Area Natural de Coleta de Sementes (ACS- NS); 2. Area Natural de Coleta de Sementes com Ma- trizes Mdentificadas (ACS-NM); 3. Area de Coleta de Sementes com Matrizes Selecionadas (ACS-MS); 4 Area Alterada de Coleta de Sementes (ACS-AS);, 5. Area Alterada de Coleta de Sementes com Ma- trizes Identificadas (ACS-AM). | | 2.1. SELECAO DE MATRIZES Arvores matrizes so exemplares de uma determi- nada espécie que irdo fornecer as sementes e/ou propdgulos para posterior comercializagao e producd0 de mudas, Matriz é a planta fornecedora de material de propagagaio sexuada (sementes) ou assexuada (es- tacas, gemas) que, quando selecionada, permite-se determinar a origem do material genético, fornecen- do a localizagdo geografica da populagio vegetal dos individuos fornecedores de sementes. O ideal é que as arvores selecionadas sejam sadi- ‘as, com copa frondosa e com produgio de frutos de boa qualidade, vigorosos. Antes de iniciar a marca- ‘cio de matrizes é importante definir © proveder @ jdentificagao botfinica correta das espécies que se- rio marcadas, tendo em vista 0 posterior uso e/ou comercializagéo das sementes. Uma identidade bo- {nica incorreta (ou seja, nome cientifico errado) pode prejudicar o consumidor final e pode ocasionar trans- tornos financeiros para o comerciante de sementes & mudas. Ao escother as espécies matrizes € preciso: + Conhecer a época de floragéo e frutificacio de ‘cada espécie matriz para melhor planejar as idas ‘a0 campo e as condigées de armazenagem; 2 SELEiO EHNA DENATRIES + Conhecer o tipo de fruto que cada espécie produz, a fim de defini as técnicas de colheita e extragio das sementes, reduzindo custos durante a operacio. + Conhecer os hébitos dos agentes polinizadores © dispersores da espécie escolhida (vento, insetos, morcegos, beija-flores, animais terrestres etc.), fim de favorecer a manutengao da populagao des- ses animais com conseqtiente conservacao da po- pulagio vegetal, diversidade genética e melhoria na produgio de sementes por drvore. 2.1. Objetivos da produgio de sementes produtor que investe na produgo de sementes ‘emudas pode optar por diferentes linhas de atuagio, dependendo do seu objetivo. A produgio pode desti- nat-se a fins diversos, a saber: + Restauragdo ambiental (recomposigao de éreas degradadas); « Arbotizagio de éreas urbanas/paisagismo; + Produgio de madeiras e derivados; + Instalagio de pomares (inclusive aqueles cujo obje- tivo € 0 aproveitamento comercial de sementes); + Artesanato. Restauracio ambiental — Se o objetivo final ou ‘a demanda de producdo das sementes e mudas for para atender aos processos de restaurago ambiental ou recomposigao de dreas degradadas, quanto maior a variabilidade genética e a plasticidade fenotipica (ou seja, possibilidade de surgirem individuos dife- rentes das plantas matrizes), methor. E que, em um ambiente natural, 0 plantio de mudas (de uma mes- ma espécie) com grande diversidade genética, evita que a rea restaurada tenha plantas geneticamente semethantes ~ como dito anteriormente, plantas alta- mente aparentadas podem ser pouco resistentes as adversidades ambientais. Outro aspecto a ser considerado no processo de produgaio de sementes para obtengao de mudas des- tinadas a restauragdo ambiental, refere-se a diversi- dade de produgao. FE desejavel que, no processo pro- dutivo, sejam inclufdas espécies que ocupam diferen- tes estiigios sucessionais na formacao da floresta, ou seja, € importante coletar sementes de espécies pio- neiras, espécies intermedisrias ¢ espécies-climax. As espécies pioneiras sio aquelas que necessitam de maior quantidade de luz. para crescerem e, por isso, sio as primeiras a ocupar reas degradadas, como a embaiba (Cecropia pachystachya) e a periquiteira (Trema micrantha), As espécies intermedisri também devem ser produzidas, pois se estabelecem na tea restaurada apés a instalaco das pioneiras, sendo muito importantes para 0 crescimento inicial das plantas que virdo logo a seguir, as espécies-cli- ‘max (estas crescem bem na sombra ou dela neces- sitam na fase inicial de crescimento, e geralmente exigem solos mais nutricionalmente ricos e timidos ¢ se desenvolvem nos tiltimos estigios da recomposi Gio florestal, natural ou artificial). Fins comerciais — Quando o objetivo da produ- do de sementes ¢ mudas é a implantagio de siste- mas agroflorestais ou de pomares (para obtengiio de frutos e sementes comestfveis), produgdo de pecas de artesanato, paisagismo, madeiras, resinas, éleos etc, o interessante € que as plantas matrizes possu- am caracteristicas semelhantes ¢ que essas se mani- festem nos individuos descendentes, garantindo uma relativa uniformidade na produgio desejada, 14 Dentro da atividade produtiva escolhida, a padroni- zagio das matrizes é conveniente para o aumento da producao e para melhor se prever os resultados. Ci- tando como exemplo a produgio de madeira, no & conveniente selecionar como matrizes érvores que te~ ‘ham tronco tortuoso, pois as mudas filhas provavel- mente herdarao essa caracteristica, que no € conve- niente para a produgao de derivados madeireiros. Ao contrétio da produgo de mudas para recupe- rao ambiental, quando o interesse € a obtencio de produtos florestais o tamanho da érea de coleta pou- co importa: © que se busca silo matrizes que apre- sentem as caracteristicas desejadas, mesmo que se- jam poucos 0s individuos selecionados. 2.2. MARCACAO DE MATRIZES: A identificaco botanica das espécies arb6reas é extremamente importante, pois algumas espécies so muito parecidas entre si, ocasionando confusdes quanto & correta identificagdo das mesmas. Sendo assim, sempre que tiver diividas quanto & identifica- io botanica, procure auxilio de um pesquisador em uma universidade ou empresa de pesquisa (ver item 2.3), Além disso, dependendo do clima edo solo, uma mesma espécie pode ter individuos (érvores) muito diferentes na aparéncia (principalmente porte), por se desenvolverem em pontos distantes, com carac- teristicas ambientais distintas. ‘Também no deve ser considerado somente 0 nome popular da planta, pois duas ou mais esp istintas de plantas podem ter 0 mesmo nome, as vezes na mesma regido geogréfica E necessério ter certeza da identidade da espécie coletada para evitar de se misturar num mesmo lote sementes de espécies diferentes. Na diivida, 0 correto enviar uma amostra da planta, com folhas e, principal- ‘mente, flores e frutos, para o herbério mais préximo, visando & obtencio da identificagdo correta da planta ‘com o nome cientifico e familia. Para isso, € suficiente ccoletar dois ou trés ramos da planta que contenham fo- Ihas, flores e, se possfvel, frutos, e prensé-los entre pa- pele papel, deixando-os secar ao sol ou em estufa a aproximadamente 60°C (ver detalhes & pagina 16). > 1 No caso de coleta em nossa regio, esse material deverd conter os dados do local de coleta (ver p. 29) ce ser enviado para um dos herbérios oficiais do Esta- do de Mato Grosso ou de Mato Grosso do Sul, cujos enderegos se encontram no final deste manual. A identidade da espécie € ponto de partida para desen- volver os trabalhos de maneira regular perante a le- gislagao, ‘Todos os procedimentos citados esto previstos no Sistema Nacional de Sementes e Mudas. De acor- do com SNSM, considera-se identificaglo 0 pro- cesso pelo qual a semente ou a muda ¢ identificada (nome cientifico), de acordo com as exigéneias do regulamento; ¢ semente identificada é a categoria de material de propagagao de espécie vegetal flores- tal (nativa ou exética), coletada de matrizes com mar- cagio individual ou nfo, com identificagao taxonémica, cuja localizacio (latitude, longitude e al- titude) € conhecida. Apés a determinagdo botinica da espécie, deve-se definir 0 mimero de matrizes a serem marcadas. Se a rea escolhida for natural, nao perturbada por agdes do homem e contiver uma populagio de aproximadamente cem érvores da espécie escolhida, o aconselhdvel € que sejam selecionadas 50 drvores e destas, marcam-se 12 matrizes. Ano ap6s ano pode-se fazer um rodizio e escolher outras 12 drvores dentro das 50 ante- riormente escolhidas. No entanto, se a rea escolhida ndo apresentar as condigdes mencionadas acima, é necessério que se escolham reas préximas que contenham a espé- cie em questo, marquem no ménimo 12 matrizes com suas sementes faga um tinico lote. Nessas con- digées, caso nao seja possfvel marcar 50 drvores, 0 ideal é a marcagio de, no minimo, 20 drvores mati 2es por espécie. Deve-se evitar coletar sementes de arvores da mesma espécie que estejam muito proximas, pois estas podem ser aparentadas ou irmis. Por isso ideal € estabelecer uma distincia minima de cem metros entre uma drvore matriz e outra da mesma espécie, para se garantir uma maior variabilidade genética do lote de sementes, Para diferenciar a matriz. numa populagao utili- zam-se placas de metal ou plistico, numeradas de modo crescente. Estas espécies devem estar catalo- gadas em fichas de identificagao (Anexo 2), que de- vero ficar dispontveis para consulta e conter os se- guintes dados: Sobre a matriz + Nome da espécie; + Nome popular; + Localizagio da matriz; + Estado de satide (fitossanitério) da matriz; + Altura e didmetro do tronco na altura do peito; + Bpoca de floragio; + Principais polinizadores, quando houver, + Epoca de frutificagiio; + Tipo de fruto (por ex. seco ou carmoso); + Data de coleta; + Nome do coletor Sobre a area de coleta + Municipio/Estado; + Como chegar ao local; + Latitude, longitude, altitude (se posstvel); +Relevo, solo; * Tipo de vegetacio; + Estado de conservacio da vegetagio. ‘© modelo de ficha para registro das dreas de e« leta e das matrizes, apresentado no final deste manu- al, poderd ser modificado de acordo com as necessi- dades de cada coletor ou da drea de coleta. 2.3. IDENTIDADE BOTANICA DAS ESPECIES FLORESTAIS NATIVAS ‘Todas as espécies florestais nativas que serio produzidas no viveiro deverio ter sta identidade bo- tinica confirmada. A identidade botanica de uma plan- ta consiste em seu nome cientifico, que é mundial- mente reconhecido. © nome popular de uma espé- ce, muitas vezes, é utilizado somente numa regio, podendo existir para uma mesma espécie nomes po- pulares distintos, dependendo do local em que ela ocorre. 15 Quem determina o nome cientifico correto de uma Planta é um pesquisador da drea de Taxonomia Ve- getal. Este pesquisador tem conhecimento aprofundado das caracteristicas das folhas, flores, frutos e sementes, inclusive de alguns detalhes tio Sutis que uma pessoa leiga no consegue ver, mas ecessdrios para diferenciar uma espécie da outra, Para a identificagdo botinica, além dos conhecimen- tos que o pesquisador especialista jé tem, ele utiliza ‘ografia especializada para realizar o trabalho, Ag vezes, 0 material boténico que ele coletou ou que al- guma outra pessoa coletou ¢ encaminhou para o herbario, néo se enquadra em nenhuma outra descri- Ho de espécie vegetal publicada no meio cientifico, Neste caso, pode se tratar de uma nova espécie, ou seja, nunca descrita pela Ciéncia. Confirmado 0 ineditismo, € dado um nome cientifico correto, que serd divulgado em publicacées cientificas acessivei a todos os demais especialistas do mundo. As vezes, podem existir varias espécies com 0 mesmo nome popular e, se niio houver a determina. ‘80 botanica correta, podemos estar produzindo no viveiro, uma espécie que no € de interesse do con. sumidor e comercializarmos “gato por lebre”, m mo que involuntariamente. Portanto, antes de coletarmos fiutos e sementes ara comercializagio, € necessério que se tenha cer- teza da identidade botdnica, para que no sejam gas- tos tempo e recursos na produgio de uma espécie no desejada. Para evitar esse problema deve-se enviar partes da planta para um especialista identificé-la. A. melhor forma de proceder a determinacao botiinica é enviar as partes da planta que contém os érgiios de ‘eprodugao sexuada, coletando-a como se segue: * Coletar ramos com fothas e flores (se possivel também frutos). Os ramos devem ter aproxima- damente 30 cm de comprimento (Fig. 1)s * Colocar esse material entre folhas de jornal, ou ‘mesmo dentro de uma lista telef@nica velha, pren- sar, amarrar e deixar secar preferencialmente a0 sol, de dois a trés dias (Fig. 2); * Trocar os jornais a cada dia, se eles ficarem muito timidos; 16 * Depois de seco, o material deverd ser encaminha- do ao herbério mais préximo para que a identifi- cacdo seja feita por especialista Figura 1 - Procedimento de coleta de ramo florido para fortorizaglo, utlizando tesoura de jardim. Deve-ee pretens fesoura que tenha trava de seguranga, para evilar science durante 0 transporte, ‘Convencionou-se usar duas palavras em latim para dar nome as diferentes espécies, e o especialista que, Pela primeira vez, deu o nome para aquela espéci deve ter seu nome ou parte dele mencionado logo ap6s 0 nome da nova espécie. Exemplo: Annona coriacea Mart; 0 nome da espécie vem seguido de abreviatura do nome do autor da identificagao, 0 na- turalista Karl P. von Martius, 2.4. O HERBARIO O herbario é uma colecao de plantas catalogadas, Conservadas e identificadas de acordo com procedi- ‘mentos convencionais, Pode servi como uma cole- ‘$20 de referéncia para trabalhos de identificago e de ‘comparacio de espécimes vegetais. O herbétio rece- be as plantas secas © prensadas vindas de diversas regides do Estado, bem como de outros estados ou paises. Estas plantas sao previamente identificadas, catalogadas, costuradas ou coladas (com fita adesiva especial) em cartolinas, constituindo as exsicatas, Essa identificagao se baseia, principalmente, em caracterfs- ticas morfol6gicas de folhas, flores e frutos. Essas eexsicatas so armazenadas em armérios especiais or- Figura 2 - Herborizago de ramo flordo para posterior deter- ‘minagao botanica, utlizando jomal (esquerda) e prensa de ma- otra (dretta) sganizados por familias botdnicas, que por sua vez es- tio tepresentados por géneros, e estes pelas espécies, tudo em ordem alfabética, Junto as exsicatas, anexa-se uma etiqueta de iden- tificago como a mostrada abaixo. ‘Staenite|imapes tae gus tan|coletar elposterioes mente enviar uma planta para identificago, 0 coletor informe 0 local exato € a data da coleta, além de outras caracteristicas que possam auxiliar 0 pesqui- sador a determinar a espécie, tais como a cor que a flor e 0 fruto apresentavam quando foram coletados, se exalavam cheiro agradével, adocicado ou desa- gradavel, 0 aspecto da casca da arvore, a presenca de resinas ou latex, etc. Ressalta-se que, quando as matrizes (grupo de individuos que fornece as sementes para sua produ- o) possuem a identidade botanica conhecidae con- firmada por especialista, sua produgo entra em uma categoria mais valorizada no meio produtivo, confor- me determinado na legislacao florestal. Alguns herbérios cobram uma taxa pela determi- ago botdnica para pessoas que siio do meio produ- tivo, ou até de pesquisadores de outras instituigdes. No entanto, uma vez que a espécie de interesse foi confirmada por especialista e depositada em um herbério, nunca mais serd preciso fazer a determina- edo daquelas matrizes novamente, pois serio forne- cedoras de sementes enquanto durar sua producao, ‘Além disso, haverd um ntimero de registro de herbrio que cortesponde ao niimero da exsicata de sua ma- ttiz, que vocé pode informar em sua produgio. No Anexo 1 sio informados os enderecos de al- guns herbérios nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, para onde podem serenviadas as plan- tas para identificagao. MODELO DE ETIQUETA DE IDENTIFICAGAO BOTANICA initio da Educa Universidade Federal de Mato Grosso do Sul HERBARIO CGMS Faia or SSE Nome vulgar Nome dolar Data Norte do SetrminBdae Data Pais Estar Tan Tocal do lela [Coordonadas geograRoas “Anibiente (cerrado, mata cllar ete,) Forma de vida ou Rabitor Cor da flor Porte da planta (altura): ‘Outras observagdes (cor do fruto, odor da for, prosonga de latex, cor da semen): A colheita representa uma das etapas fundamen- tais no proceso de produgdo de sementes de alta qualidade, Esta produgo pode destinar-se & obten- io de mudas para o plantio de espécies madeirei- ras ou produtoras de resinas, létex ou outros fins comerciais, ou para recuperacio de reas degrada- das e conservagao de recursos naturais. Assim, & ideal que o proceso de colheita de sementes seja feito em Srvores selecionadas e marcadas previa- mente, as matrizes, seguindo os critérios que ga- rantam a obtengiio de sementes de alta qualidade. Além disto, o produtor de sementes deve planejar a colheita quanto A época de frutificago a quanti- dade de sementes necessérias para a produgdo de mudas, seguindo rigorosamente as recomendagdes técnicas, evitando transtornos de custos adicionais e perdas de produgio (ressalte-se que, na maioria dos casos, 0 coletor poderd ficar um ano aguar- dando a nova producao). produtor deve registrar sua produgao no Mi- nistério de Agricultura, Pecuéria e Abastecimen- to, que emitira o Certificado de Procedéncia ou Identidade das sementes produzidas, bem como registrard 0 técnico Controlador ¢ a Entidade Controladora da producio, e 0 profissional res- ponsdvel pela coleta de sementes, 0 Coletor de 3, COLHEITA DE SEMENTES Sementes. A Lei n° 10.711 de 05 de agosto de 2003, que dispde sobre o Sistema Nacional de Se- mentes e Mudas (SNSM), est sendo regulamen- tada e, nos préximos anos, direcionaré todo o sis- tema produtivo das esséncias florestais nativas no Bra O sucesso do sistema produtivo de sementes depende do conhecimento técnico de todo 0 pro- cesso, que envolve principalmente informagdes sobre a época de florago, maturagiio dos frutos, das caracteristicas de produgao de sementes e das condigdes climaticas durante 0 processo da colhei- ta, Por outro lado, as condigGes fisicas da érea produtiva e as caracteristicas das érvores impli- cam na escolha dos materiais e equipamentos ide- ais a serem utilizados. O preparo da equipe é fundamental para que a colheita seja efetuada dentro do perfodo de tempo necessério e dispontvel, visando nao perder a quali- dade do produto, principalmente quanto ao periodo de germinagdo. Uma equipe bem treinada implicaem maior produtividade e menor risco de acidentes. No caso dos produtores de sementes para fins comerci- ais, bons produtos mantém a boa imagem da empre~ sano mercado. 19 3.1. BPOCA DE COLHEITA Durante os estégios de formagio e da maturagio dos frutos © sementes, estes passam Por varias alteragoes estruturais relacionadas a0 famanho, peso, cor, forma, grau de umidade e den- sidade, que refletem as mudangas bioquimicas ¢ fisiolégicas do ovario © do évulo apés a fecunda- $80 deste. A época ideal para a colheita é aquela em que as sementes atingem o ponto de maturagao fisiol6gica, que confere a maior porcentagem de germinagio e vigor. A determinacio do ponto de maturagio dos frutos para muitas espécies ¢ feita observando-se as mudanas de coloracao que, ini- cialmente, sdo verdes, passando por varias tonal dades de amarelo, vermelho, marrom ou preto. Esta ‘mudanga de cor é normalmente acompanhada pelo endurecimento da casca, em casos de frutos lenhosos, ¢ aumento de tamanho e variagées no eso dos frutos e sementes. A densidade dos fru- {os e das sementes diminui, uma vez que o teor de umidade decresce nestas estruturas, cia da maturagio. em decorrén- A época de maturagio dos frutos pode variar corresponder ao periodo 0s estiver madura, 32. METODOS DE COLHEITA A decisio sobre o método de colheita a sere regado depende da altura, da forma e da acessbili dade da frvore, além das caracteristicas dos frutos, Deve-se, também, considerar a pritica do pessoal envolvido nessa tarefa © 0s equipamentos dispon. veis. Inicialmente, ¢ importante proceder & limpeza toda a drea onde serd feita a colheita, a fim de faci litar 0 recolhimento dos frutos que, porventura, cat rem no chao. Para a colheita dos frutos e/ou das se- ‘mentes os métodos mais comumente usados sio a retirada dos frutos diretamente do chao, ou por meio da colheita em drvores selecionadas especificamen- te para este fim, Colheita em Arvore ~ Os frutos sao colhidos diretamente das copas das drvores, com 0 uso de ferramentas e utensilios apropriados: 4) Podiio — ferramenta que consiste de um cabo longo de madeira ou metal, em cuja ponta é inserido um cortador de galhos ou gancho. Seu aleance ¢ li- ‘mitado pelo comprimento do cabo, mas é de fécil Manejo, baiKO custo © nO agresenta Sy completo de alpinismo na coleta de futos ¢ rams fries. ‘umas as outras, atingindo até 30 metros de altura. 0 principal inconveniente € que as érvores devem ser relas para permitir perfeito e seguro ajuste e apoio da escada. Pode ser utilizada em conjunto com o podio, Indicada para as espécies que nao suportam a injtitias causadas por outros métodos (Fig. 5). ) Esporas — podem ser empregadas em érvo- res de qualquer forma, com excegao das palmeiras. Requer treinamento para seu uso e de acessérios como cinturdes de seguranca, capacetes e correias que circundam a érvore. Esse método permite maior agilidade e facilidade de manobras, inclusive com 0 podio. Figura 5 - Posicionamento da escada para uso na coleta de frutos e ramos floidos. @) Equipamento de alpinismo — utilizado para rvores de grande ou médio porte, apresenta facil dade de transporte na mata, peso reduzido e de fécil uso, Requer treinamento especial para uso, ¢ deman- da pouco esforgo fisico. O equipamento é composto or conjuntos de cordas estiticas ¢ fitas (fabricadas especialmente para escalada), ascenders (Fig. 6), bauldrier ou cinto de escalada (Fig. 7) € mosquetées (Fig. 8) — atencHo: todo esse equipamento é de seguranga; deve ser adquirido em casas espe- adas ¢ id@neas. Para evitar acidentes fa- tais no se deve improvisar. O coletor langa a corda através dos ramos, fincando-a numa extret dade, Na outra sio fixados, com 0 uso de mosquetdes, as fitas e o bauldrier, presos por nés especiais. A su- bida ¢ efetuada com o auxilio dos ascenders. €) Blocante ao tronco — método de baixo custo que utiliza apenas cordas de alpinismo, o bauldrier e fitas. Com nds especiais ¢ feito um conjunto de lagos e cordas que envolvem a drvore e que sio utilizados nos pés ¢ na cintura do coletor, como um cinturiio de seguranga (Fig. 7), Colheita no chiio — Consiste na coleta dos fru- tos e/ou sementes que caem no cho, préximos as Figura 6 ~ Ascender, equipamento prdprio para escaladas 21 Figura 7 - Cinto do oscalada (baulder) Arvores matrizes. Este método é recomendado nos seguintes casos: (1) quando a colheita da érvore em pé porescalada ou escada niio for posstvel; (2) quando se tratar de frutos grandes, que caem ao solo sem se abrirem; (3) quando se tratar de sementes que néio sio disseminadas pelo vento; (4) quando se tratar de finatos e sementes que nio so atacados por animais. ‘A queda dos frutos e/on das sementes pode ser ace- lerada sacudindo-se 0 tronco ou os galhos da érvore, com o auxilio de uma corda chumbada atirada entre 08 galhos ou de equipamento vibratério acoplado a0 tronco da 4rvore. Colheita em arvores abatidas — Este é um caso extremo de colheita em que os frutos e/ou as semen- Figura 8 - Mosquatio com trava de soguranga 2 tes siio colhidos de drvores derrubadas que esto sendo exploradas comercialmente. Para isso é ne- cessario que a exploragdo coincida com a época da colheita. Deve-se ter cuidado de colher apenas 0s frutos maduros de arvores selecionadas, resguardan- do, desta forma, a qualidade fisiolégica das sementes e sua identidade genética, 3.3. CUIDADOS ESPECIAIS DURANTE A COLHEITA Para que a colheita seja realizada de maneira efi- ciente, deve-se tomar o cuidado para nao danificar 0 tronco e ndo quebrar 0s ramos que contenham os frutos jovens ao escalar a drvore, pois estas injtrias poderdo comprometer seriamente as préximas co- theitas. Deve-se, também, evitar cortes dristicos dos ga- Ihos para ndo comprometer as produgées futuras e afetar o desenvolvimento da planta, Outro aspect importante é a limpeza e a manutencio da dea, que facilita a colheita, minimiza os problemas fitossanitarios e evita perda de frtos por entre 0 sub- bosque. Qs euidados com 0 manuseio dos fratos apés a colheita, durante 0 proceso de secagem © beneficiamento, sao de fundamental importancia para evitar contaminagao por agentes patogénicos, asse- ‘gurando assim a qualidade da semente. Outro fator que deve ser observado durante a colheita de sementes refere-se & deiscéncia (abertu- ra) dos frutos. Para as espécies com frutos indeiscentes (que niio se abrem e no expdem as sementes) a colheita pode ser iniciada apés as se- mentes terem atingido sua maturidade aparente (Figs. 9 € 10). No caso de frutos deiscentes (que se abrem expondo as sementes) esta deve se dar um pouco antes, de modo a evitar grandes perdas com a dis- persiio das sementes que ocorre com a abertura dos frutos (Fig. 11). Em relagio A colheita em éreas naturais, néio € aconsethdvel a retirada total das sementes, para que Figura 8 - Frutos secos (A), alados e indeiscentes de Perogyne nitens (amendoim-do-cerrado). Em (B) sementes ‘oxtraidas dos frutos. (Barta = 1 cm) Figura 10 - Fruto carnoso @ indeiscente (A) de Ganipa ameri- ‘cana (jenipapo). Em (B) datalhe das eementes extraldas co fruto. (Bara = 1 om) no haja comprometimento na reprodugao das érvo- res € conseqiientes riscos de declinio da populacio natural, Além disto, a remogao de grande quantidade de sementes pode reduzir a disponibilidace de alimen- tos aos animais que, tendo o nimero de espécies populagGes diminuidos, podem prejudicar a diversi- dade genética vegetal (no caso dos polinizadores) © a manutenco da prdpria floresta (especialmente no caso dos dispersores de sementes, como a cutia e os morcegos comedores de frutos), dentre outras con- seqlléncias. Esse cuidado deve ser redobrado quan- Figura 11 - Fruto seco o dolscanto (A) (paratudo ou ipé-amarelo). Em (8) detalhe das sementes, ‘aladas, extraidas do futo, (Barra = tom) Figura 12 - Frito camosos o indolscontes (A) de Enterolabium ‘contoisiquum mbuva). Em (B) deta das sementes extaidas dos fruoe. (Barra = om) do se tratar de fragmentos florestais onde 0 equili- brio da comunidade de plantas ¢ frégil. 3.4. RENDIMENTO DE COLHEITA ‘A anotagao do niimero de sementes por fruto e a relagio fruto/sementes (quantidade de frutos, em qui- lograma, necessaria para obter um quilograma de sementes) so pardmetros que podem auxiliar na pre- vyistio de futuras colheitas, bem como no conhecimento das matrizes. 4. BENEFICAMENTO E ARMAZENAMENTO DE SEMENTES A colheita de sementes no campo, geralmente, no fornece o material em condigdes de ser direta- ‘mente utilizado ou armazenado. As sementes, a0 chegar do campo, esto envolvidas pelos frutos ou parte destes, além de apresentarem diversas impu- rezas, galhos e folhas que devem ser removidos para que as sementes possam apresentar condigdes de- sejaveis para sua utilizagao, armazenamento e comercializagao, A grande diversidade morfolégica dos frutos sementes das espécies florestais nativas dificulta 0 emprego de técnicas padronizadas no processamento © beneficiamento das sementes. As técnicas empre- gadas para realizagio destes processos sio rudimen- tares, e de certa forma “artesanais”, dependendo de cada espécie, © manejo dos frutos e sementes entre a colheita € a produgtio das mudas compreende etapas de ex- ‘trema importincia que consistem na extragio das sementes dos frutos, secagem e separagiio das se- ‘mentes para eliminago das impurezas. O conheci- ‘mento das caracteristicas fisiol6gicas da semente (que variam de espécie para espécie) é de fundamental importancia para nao se perder a produgio, com consequléncias graves para 0 produtor e o consumi- dor final. Por exemplo, sementes de ip@s (Tabebuia spp.) 0 jacarandé-mimoso (Jacaranda cuspidifolia) tem baixa capacidade de conservacao: como sio dis- seminadas pelo vento, possuem pouca substincia para conservar a semente e para nutrir a plantinha nos primeiros dias de vida; por isto, dever ser plan- tadas logo apés a colhei A maiotia das espécies florestais apresenta pro- dugio irregular de sementes, 0 que impossibilita 0 suprimento anual capaz de atender as necessidades dos programas de produco de sementes. Torna-se, enlo, necessério 0 uso de ténicas que permitam manter a viabilidade das sementes pelo maior perfo- do de tempo possfvel. Nesse sentido, o conjunto de operagdes apés a colheita das sementes, visa me- Ihorar e aprimorar as caracteristicas dos lotes de sementes para serem armazenados. O armazena- mento propicia condigdes ideais na manutencao da qualidade fisiolégica © vigor das sementes até sua utilizagio. 4.1, EXTRAGAO DAS SEMENTES Para a extragdo das sementes, on seja, para a re- tirada das sementes dos frutos, sio utilizadas diversas téenicas que variam em fungdo dos tipos de frutos. s frutos podem ser camosos, secos (deiscentes ou 25 indeiscentes), fibrosos, alados, grandes ou pequenos (Quadro 1). Os equipamentos e/ou técnicas utilizadas para fins de extragio das sementes devem ser ade- quados para 0s diversos tipos de frutos. ‘Quadro 1 - Alguns tpos de frulos, quanto A consisténcia Frutos carnosos — © processo de retirada das ‘sementes dos frutos carnosos com casca mole pode ser manual, com 0 auxilio de facas ou por meio de ‘méquinas despolpadoras. No processo manual para Casca mole sembatiba (Gecropia spp) on cuseaete “tee Leo ad nag Oe ami = jenipapo (Genjoa americana) jaracalia (Jacaratia spinosa) Fro cameeoe (bop ssn, Cat por ran fou com ne ‘itl care) na (eaeeeban Saga Ins (Tabebuia spp.) (abrem e liber ser igicos (Anadenanthera spp.) Sarda oenipean) codro (Cadre sss acarandé-mimoso ( Jacarande cusp) Frutos secos Indetscentes ‘as semantes) (Fig. 9) (permanecem fechados, no liberam «retirada da polpa, dependendo da espécie, deve-se previamente submergir os frutos em dgua por perio- dos de 12 a 24 horas para amolecer a polpa e depois roceder 4 maceragio, esfregando-os na peneira, A. seguir, as sementes, ainda na peneira, devem passat or uma répida lavagem ém gua corrente. Recomenda-se que ap6s este processo, 0 mate- tial seja colocado num outro tanque para a elimina ‘so do material restante por meio de separagao por flutuaco. As sementes vazias e/ou deterioradas flu- ‘tuam, juntamente com os restos dos frutos; as se~ mentes em boas condigdes afundam. Apés este pro- Cesso as sementes estardo prontas para serem sub- metidas & secagem. A maceragio e 0 despolpamento dos frutos so- bre peneiras so métodos muito eficientes para 0 Jaracatié (Jacaratia spinosa), 0 jenipapo (Genipa americana, Fig. 10) ¢ os araticuns (Annona spp.). Outro método consiste em deixar os frutos amon- toados sobre sacos plésticos por alguns dias até ciar a decomposico da polpa para facilitar a sepa- ago das sementes por meio da lavagem em égua cotrente, Este processo é muito utilizado para frutos 26 Para frutos que apresentam mas polpudae compacta, como xis sp.), © jatobé (Hymenaea (Dipteryx alata), 0 proceso ‘mentes é feito mecanicamente fetir com os espinhos (fibras © agulhas) que reco- brem os carogos. Frutos secos — Os frutos secos que liberam as, sementes (frutos deiscentes), como os angicos (Anadenanthera spp.) e os ipes (Tabebuia spp.), deve ser colhidos antes da sua abertura, acompa- nhando a mudanga de coloragdo do fruto ¢ 0 inicio do processo de abertura, para que niio haja muita perda de sementes (Fig. 11). A retirada das semen- tes para o armazenamento ¢ feita utilizando a seca- gem dos frutos em ambientes préprios, sobre lonas ao sol, sombra, meia sombra ou em secadores, de~ pendendo das caracteristicas das espécies. A seca gem a sombra é preferivel, quando ha divida com relagdo & tolerdncia da semente & secagem a0 sol, ‘que pode variar entre as espécies. O periodo de se- cagem varia para cada tipo de fruto, mas em geral é em tomno de dois a trés dias, até os frutos se abrirem e liberarem as sementes. Apés este perfodo, € ne- cessério efetuar a agitacio dos frutos para liberagio total das sementes e proceder 3 retirada das impure- zas. Este processo pode ser efetuado por meio de peneiras e por catagao manual. Para frutos secos que ndo liberam as sementes (indeiscentes), como a canafistula (Peltophorum dubium), 0 barbatimao (Stryphnodendron adstringens), a sucupira-branca (Pteradon emarginatus) e © quebracho (Schinopsis balansae), recomenda-se a abertura com auxilio de facas e te- soura de poda para a retirada das sementes (Fig. 15). Para algumas espécies, devido a dificuldade na retirada das sementes, € recomendado que nfo faga a extragio, devendo os frutos serem armazenados ou semeados, diretamente. Por exemplo, para a aroeira (Myracrodruon urundeuva), © guavité (stronium spp.) e 0 louro-preto (Cordia glabrata) recomenda-se a secagem dos frutos em local som- breado ¢ ventilado, seguida de peneiramento em malha fina para retirada das sépalas que acompa- inham os frutos. Neste caso, na comercializacdo deste produto é recomendavel que esta necessidade de ‘manter as sementes junto ao fruto seja esclarecida na embalagem, evitando-se questionamento quanto aidoneidade do produtor. 4.2. SECAGEM DAS SEMENTES Por ocasiao da maturidade fisiol6gica as semen- tes maduras e/ou recém-colhidas apresentam-se com © maximo de vigor e alto contetido de umidade. O processo de secagem & uma operagao necesséria, pois oalto teor de umidade € uma das principais cau- sas da queda do poder germinativo e do vigor para.a maioria das sementes. Portanto, a secagem visa re- duzir 0 teor de umidade das sementes em niveis que possibilitem uma melhor adequago das sementes para 0 seu armazenamento e, consequentemente, manter 0 vigor germinativo por mais tempo. ‘A semente pode ganhar ou perder umidade para ‘ambiente até atingir um equilibrio (denominado de equilibrio higrosc6pio). De acordo com a composi- do quimica das sementes, estas apresentam dife- rentes teores de umidade no ponto de equilfbrio, po- dendo ser classificadas em dois grandes grupos: Sementes ortodoxas: + suportam secagem e redugio da umidade entre 2 4.8%, sendo varidvel para as diferentes espécies; + podem ser armazenadas por periados mais longos; + podemos citar como exemplo os angicos (Anadenanthera spp. e Albizia spp.), a copaiba (Copaifera langsdorfii), 0 cedro (Cedrela fissilis) © 0 jatobé (Hymenaea courbaril). Sementes recalcitrantes: ‘+ muito sensfveis & secagem, apresentam altos te- ores de umidade (entre 30 a 70%); + perdem rapidamente a viabilidade quando sub- metidas & secagem ¢ umidade abaixo de 12 a 31%, dependendo da espécie; * podem ser armazenadas por periodos curtos que variam de um a seis meses; + siio exemplos: as sementes de ingas (Inga spp.), das gabirobas (Campomanesia sp., Myrcianthes Pungens), da mangaba (Hancornia speciosa), do alecrim-de-campinas (Holocalyx balansae), da pitomba (Talisia esculenta) e das canelas (Ocotea sp. e Nectandra sp.). O proceso de secagem para as espécies flores- tais nativas deve ser lento e gradativo, com utiliza- a «ode temperaturas variando de 30 a 40°C. O pert- ‘odo de secagem depende da espécie, da temperatu- ra usada durante a secagem, do contetido de umida- de inicial e das condigdes desejadas para armazenamento. ‘A redugao do contetido de umidade das sementes durante 0 armazenamento € necesséria para diminuir ovataque dos insetos e incidéncia dos microorganismos para reduzir a velocidade de deterioracdo das se- mentes. Neste caso, 0 termo deterioraciio se refere a todae qualquer alteragio degenerativa que ocorre com, a qualidade das sementes em fungdo do tempo e da perda do poder germinativo. Os procedimentos adequados nas fases de reti- rada, secagem e armazenamento das sementes po- ‘dem diminuir muito, as taxas de deterioracao destas. 4.2.1. Métodos de secagem ‘Secagem natural — As sementes so submetidas a secagem a pleno sol, meia sombra ou sombra, em terreiros de secagem ou em peneiras (Fig. 13 ¢ 14). ‘As sementes devem ser colocadas em camadas com espessura variando de 3 a Sem, em fungao do tipo de semente. Utilizam-se, para acondicionar as sementes, tabuleiros de madeira e encerados (lonas), que nor- malmente so colocados em terreiros cimentados. Durante todo o proceso da secagem deve-se promo- Figura 14 - Uso de lonas ou encerados para sacagem das sementes 28 ver o revolvimento das sementes e protegé-las da umidade, cobrindo-as com lonas durante a noite para evitar o orvalho e chuvas, bem como para manter a temperatura por mais tempo. O tempo de secagem das sementes vai depender das condigées atmosféri- cas, do contetido de umidade inicial e da umidade de~ sejada das sementes durante o armazenamento. Secagem artificial — 6 um método mais répido, independente das condig6es climéticas, no entanto € mais dispendioso. E feito em estufas e/ou secado- res providos de termostatos regulados para tempe~ ratura de 30 a 40°C, dependendo da espécie, A se- cagem pode ser continua ou intermitente, de acordo, Figura 13 - Separagio de impurezas do lots de sementes, Uilzando peneita, também apropriada para secagem de se- mentee (aumento de ventiagio) Figura 15 - Processamento de frtos secos indelscontes para retirada das sementes com o perfodo de ventilagio de ar quente dirigido para junto da massa de sementes e frutos. A seca- gem intermitente, para a maioria das espécies, pode causar menos danos que a continua, uma vez que 0 processo de secagem para as espécies florestais deve ser lento e gradativo. As sementes podem, também, ser submetidas a um congelamento e, a seguir, secadas a vécuo (processo chamado de liofilizacao). 4.2.2, Retirada das impurezas Parte das impurezas € eliminada durante a extra- io e secagem das sementes. Porém, muitas des- ‘sas imputezas podem permanecer (em geral sto se- mentes de outras espécies, sementes chochas, ima- turas, mofadas, atacadas por insetos e outros an mais etc.); daf a necessidade de se fazer uma remo- ‘go mais cuidadosa dessas impurezas (Fig. 13). Dentro de um mesmo lote, o tamanho das se- mentes indica a qualidade fisiol6gica e 0 vigor, que sto caracteristicas relacionadas com o potencial de armazenamento. Assim, a remogdo das sementes menores pode methorar a qualidade do lote, prine palmente se 0 objetivo final nao for a recuperagio de freas degradadas. ‘O beneficiamento das sementes é realizado com 0 objetivo de promovera homogeneizacio e melhorar a qualidade do lote de sementes no que se refere a0 tamanho, peso, forma, textura, cor. Este processo & ‘comum para espécies agricolas ¢ florestais exéticas ¢, freqiientemente, realizado por meio de méquinas de beneficiamento, tais como secador rotativo de ar forcado, tinel de ventilacZo, classificadora de peneira vibrat6ria € mesa gravitacional, entre outros equipa- mentos. Para espécies nativas, tal processo geralmente € efetuado manualmente, utilizando-se peneiras de varios tamanhos ¢ catacdo manual, mas também pode ser feito com auxilio de méquinas de beneficiamento. Apés a homogeneizacio, os lotes de sementes

You might also like