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Maricato Advogados Associados Rua ltapolis, n? 1468, Pacaembu, CEP: 01245-000, Sao Paulo/SP, Telefax (11) 3661-5093, e-mail: maricato@maricatoadvogados.com br EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO EXCELSO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL se yy San aT (ADI. 4103 | DISTRIB! ‘GENTE PEDIDO DE LIMINAR ASSOCIACAO BRASILEIRA DE RESTAURANTES E EMPRESAS DE ENTRETENIMENTO — ABRASEL NACIONAL, qualificada na inclusa procuragio, por seu advogado infra-assinado (doc. 1), vem, respeitosamente, @ presenga de Vossa Exceléncia, com fundamento no art. 103, IX, da CF, propor COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR contra os arts. 2°, 4° e 5°, incisos Il, 1V e VIL, todos da Lei Federal n° 11.705, de 19 de junho de 2008, pelos fundamentos que passa a expor: 1, DO OBJETO © objeto da presente & a declaragio de inconstitucionalidade de determinados dispositives da Lei Federal n° 11.705, de 19 de junho de 2008 (a chamada Lei Seca), proclamando-Ihes a nulidade ¢ afastando-as definitivamente do ordenamento juridico patrio Os dispositivos legais impugnados, como sera demonstrado, violam os principios constitucionais da legalidade, da razoabilidade, da proporcionalidade, da isonomia, da individualizagao da pena, além dos atinentes 4 liberdade econémica e livre iniciativa. Em razéo do iminente risco de dano a direitos constitucionais fundamentais, e em face da relevancia da materia e de seu especial significado para a ordem social ¢ seguranga juridica, requer-se também a concessdo de medida liminar para suspender temporariamente a eficacia e aplicabilidade dos textos legais ora atacados, concedendo-Ihe os efeitos ex func e erga omnes, 2. DA LEGITIMIDADE ATIVA E PERTINENCIA TEMATICA A Requerente é uma entidade nacional de classe, com seccionais em 24 estados da federagdo, congregando estabelecimentos de bares, restaurantes e similares de todo 0 Brasil (www.abrasel.com.br). A Requerente, conforme seu Estatuto, tem como objetivo defender ¢ propiciar 0 desenvolvimento desse setor da atividade econémica, que é fundamental para o crescimento econdmico e social do pais, pois gera renda, servicos, tributos, é o que mais cria empregos e pequenos empresarios, ¢ 9 mais eficiente em incluso social, além de ser considerada a mais procurada e apreciada atragdo turistica das grandes e pequenas cidades. A jurisprudéncia deste Excelso Supremo Tribunal Federal ¢ cristalina quanto a legitimidade ativa da ABRASEL para propositura de ago direta de inconstitucionalidade, como se observa na seguinte ementa: “ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ~ Legitimagéio ativa ~ “Entidade de classe de dmbito nacional” — Compreensdo da “associagdo de ~ Reviséio da jurisprudéncia associagdes” de clas: do Supremo Tribunal. 1. O conceito de entidade de classe é dado pelo objetivo institucional classista, pouco importando que a eles diretamente se filiem os membros da respectiva categoria social ou agremiagées que os congreguem, com a mesma finalidade, em dmbito territorial mais restrito. 2. E entidade de classe de dmbito nacional ~ como tal legitimada @ propositura da agdo direta de inconstitucionalidade (CF, art 103, IX) — aquela na qual se congregam —associagdes__regionais correspondentes a cada unidade da Federagdo, a fim de perseguirem, em todo o Pais, 0 mesmo objetivo institucional de defesa dos interesses de uma determinada classe 3. Nesse sentido, altera o Supremo Tribunal sua jurisprudéncia, de modo a admitir a legitimagdo das “associagdes de associagées de classe”, de dmbito nacional, para a agdo—direta’— de inconstitucionalidade” (STF; ADI-AgR 3153/DF; Relator p/ Acérdao: Min. SEPULVEDA PERTENC! Julgamento: 12/08/2004; Orgdo Julgador: Tribunal Pleno). Ha também, no presente caso, pertinéneia tematica, considerada esta como a relagdo de adequacio e necessidade entre a finalidade institucional da entidade requerente e a questo constitucional objeto da agao direta. Isso porque, na medida em que os dispositivos legais ora impugnados estabelecem severas restrigdes a0 comércio de bebidas alcodlicas ¢ desproporcionais punigdes aos consumidores destes produtos ¢ estabelecimentos, gerando grave crise econémica e inseguranga juridica no setor de bares, restaurantes e similares, é de rigor reconhecer que o objeto da presente agdo guarda pertinéncia tematica com as finalidades institucionais da Requerente 3. DOS FATOS Em 22 de janeiro de 2008, foi publicada a Medida Proviséria n° 413, a qual passou a proibir a comercializagdo de bebidas alcodlicas em rodovias federais, bem como obrigou os comerciantes a colocarem cartazes esclarecendo a proibigéo, com o que estabeleceu gages material ¢ formalmente inconstitucionais, gerando grave crise Posteriormente, o legislador federal converteu a MP 415 em lei, aprovando a Lei Federal n° 11.705, de 19 de junho de 2008 (a chamada Lei Seca), acrescentando, ao ensejo, diversos outros dispositivos com 0s quais promoveu alteragdes no Cédigo de Transito Brasileiro (CTB), criando desproporeionais punigdes aos consumidores de bebidas aleodlicas, agravando ainda mais a crise no setor dos bares ¢ restaurantes. Tratava-se de fato corriqueiro no comportamento humano tomar um ou dois copos de chope ou taga de vinho. Desde a antiguidade clissica até os dias atuais, a humanidade sempre apreciou bebidas alcodlicas, sendo o seu comércio um setor importantissimo da atividade econémica para o Brasil, com milhares de empreendedores ¢ empregados, tendo sido sempre estimulado pelos diversos governos. Isso, até 0 dia 20 de junho deste ano, quando entrou em vigor a mencionada Lei Federal n° 11.705, Repentinamente, 0 que era corriqueiro para, no minimo, 90 milhdes de brasileiros ~ a maioria da populacdo adulta -, se tornou um crime, como se por um “passe de magica” fosse possivel modificat-se toda uma cultura popular milenar, formada ha centenas de anos, além de concluir que as pessoas estavam em estado de delingiiéncia antes da lei. Referida lei, no s6 perenizou as inconstitucionais restrigdes ao comércio de bebidas da MP 415, como também alterou o Cédigo de Transito Brasileiro (CTB). estabelecendo contetido abusivo & inconstitucional, sendo a nova lei, portanto, ilegitima, além de excessivamente draconiana, ferindo principios basilares do Direito e da Justiga, atentando contra garantias & liberdades fundamentais. ‘Atendendo a determinagao legal, agentes da policial rodoviaria federal ¢ das policias civil e militar dos Estados se puseram em campo ¢ passaram a fiscalizar, multar e prender comerciantes € motoristas. Conforme noticiaram os jornais de todo o Pais, em pouces dias centenas de comerciantes foram muliados e motoristas presos E preciso deixar claro que a Requerente também se preocupa com os problemas do consumo de bebida alcoélica por motoristas, acha justa a inquietagdo governamental, mas nem por isso © arbitrio pode prevalecer. A pretexto de coibir 0 consumo de bebidas alcodlicas por motoristas, a lei ora impugnada, extrapolando os objetivos para os quais foi criada e os limites da razoabilidade proporcionalidade, acabou por punir inocentes comerciantes, seus funcionarios e milhares de passageiros que transitam pelas rodovias federais todos os dias, além de levar & prisio motoristas que, embora tivessem consumido quantidade infima de lcool, insuficiente para influenciar negativamente as sua habilidades como condutor de veiculos, passaram ser consider ados criminosos e a softer pesadas sangées. Com base na lei em referéneia, as autoridades policiais de todo pais estio obrigando cidadios a soprarem um tal “batmetro”, a0 ensejo de verificarem se o mesmo bebeu em excesso, 0 que, no caso da lei, poderia ser até o licor de um bombonzinho comercial (fato jd demonstrado em testes nas TVs € divulgado na imprensa), ou 0 liquido contido num anti-séptico bucal, ou mesmo um creme de papaia com licor de cassis como sobremesa, situagdes que eram consideradas normais € licitas antes da lei Porém, quem se recusa a soprar o tal bafémetro, ou 0 faz, sendo constatada qualquer concentragdo de dleool, por menor ou insignificante que seja, é multado em R$ 955,00; tem o carro apreendido; € perde o direito de dirigir por um ano. Ja o bar ou restaurante estabelecido na faixa de dominio de rodovia federal ou em terrenos contiguos a faixa de dominio com acesso direto a rodovia que comercializar bebida alcodlica para consumo no local é multado em R& 1.500,00 (¢ o dobro desse valor, com a suspensio da autorizagao de acesso a rodovia por um ano, no caso de reincidéncia). Em muitos casos, 0 cidadio € detido, levado & delegacia, preso em flagrante e indiciado em inquérito policial, como tem sido divulgado pela midia. Dessa forma, diante de tantas violagdes a direitos ¢ garantias fundamentais dos empresirios de bares ¢ restaurantes, seus funcionarios e seus consumidores, ¢ da completa destruigio deste importantissimo setor da atividade econémica, nao restou alternativa ao Requerente, sendo propor a presente ago direta, objetivando a declaragao de inconstitucionalidade de determinados dispositivos da Lei n° 11.705/08. Passaremos, agora, «= @_—sapontar = as inconstitucionalidades de cada um dos dispositivos legais ora atacados. 2. DAS INCONSTITUCIONALIDADES DA LEI FEDERAL N° 11.705/08 2.1 DAS INCONSTITUCIONALIDADES DO ART. 2° DA LEI FEDERAL N° 11.705/08: Assim dispée 0 art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08 ¢ seus pardgrafos: “Art, 2° Sdo vedados, na faixa de dominio de rodovia federal ou em terrenos contiguos a faixa de dominio com acesso direto a rodovia, a yvenda varejisia ou o oferecimento de bebidas alcodlicas para consumo no local. §1°- A violagdo do disposto no caput deste artigo implica multa de RS 1,500,00 (um mil e quinhentos reais), §2°~ Em caso de reincidéncia, dentro do prazo de 72 (doze) meses, a multa sera aplicada em dobro, & suspensa a autorizagéo de acesso a rodovia, pelo prazo de até I (um) ano. §3°- Nao se aplica o disposto neste artigo em drea urbana, de acordo com a delimitagéo dada pela legislagdio de cada municipio ou do Distrito Federal”. 6 2.1.1 Da Violacao ao Principio da Isonomia: E inconstitucional oferecer tratamento diferente entre estabelecimentos comerciais que vendem bebidas alcodlicas na cidade ¢ nas rodovias federais. © art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08 &, evidentemente, uma resposta do Governo Federal as noticias de acidentes causados por motoristas bébados. Mas esses acidentes também nao acontecem nas cidades? Sendo bem claro: por que os bares ¢ restaurantes do centro da cidade poderdo continuar vendendo bebidas alcodlicas e os das rodovias federias n’io? Ora, se 0 governo pretende acabar com a facilidade de os motoristas de veiculos consumirem bebidas alcodlicas, que proiba ento a venda do produto em todo 0 Pais, ¢ nao apenas nos que esto nas margens das rodovias. © tratamento diferenciado entre estabelecimentos simplesmente em razo da sua localizagao é obviamente anti-isonémico . Conforme nos ensina 0 eminente professor CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO (Contetido Juridico do Principio da Igualdade, Malheiros Editores): “A Lei nao deve ser fonte de privilégios ou perseguigdes, mas instrumento regulador da vida social que necesita tratar eqiiitativamente todos os cidadaos. Este é 0 contetido politico-ideolégico absorvido pelo principio da isonomia e juridicizado pelos textos constitucionais em geral, ou de todo modo assimilado pelos sistemas _ normativos vigentes” A isonomia possui objetivo duplo: de uma lado, serve como garantia individual contra perseguigdes; de outro, serve para tolher favoritismos. Mas nem todas as pessoas ¢ situagdes sio iguais a merecer tratamento igual. Aj reside a notéria afirmagdo de Aristételes, assaz de vezes repetida, segundo a qual “a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguai E preciso, portanto, definir qual seja o critério do discrimen. Qual o elemento apto a diferenciar os desiguais? Ha formas e formas de desigualé-los, mas nem todas podem ser aceitas ou descartadas aprioristicamente. As distingdes sao recebidas como compativeis com a cléusula igualitéria sempre que existir um vinculo de correlacao légica entre a peculiaridade diferencial acolhida por residente no objeto, e a desigualdade de tratamento em fungao dela conferida. Tem-se que investigar, de um lado, aquilo que é adotado como critério discriminatério; de outro lado, cumpre verificar se ha justificativa racional, isto é, fundamento légico, para, 4 vista do taco desigualador acolhido, atribuir o especifico tratamento juridico construido em fungdo da desigualdade proclamada. Finalmente, impende analisar se a correlagiio ou fundamento racional abstratamente existente €, in concreto, afinado com os valores prestigiados no sistema normativo constitucional. © festejado professor Bandeira de Mello (obra citada) leciona ainda que o quid determinante da validade ou invalidade de uma regra perante a isonomia é 0 vinculo de conexao légica entre os elementos _diferenciais__colecionados _(fator_de__discrimen) ea desequiparacao procedi No presente caso, contudo, nfo hé nada que possa justificar racionalmente o tratamento diferenciado entre estabelecimentos comerciais que vendem bebidas alcodlicas na cidade e nas rodovias federais, razio pela qual o art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08 é inconstitucional, n&o se admitindo esta abomindvel e aleatoria discriminagao, vedada pelo art. 5°, caput, da Constituigo Federal. 2.1.2 Da Falta _de_Razoabilidade, Proporcionalidade_e quidade: O art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08, além de inconstitucional, é indtil, pois 0 que no falta no Pais & punigo para quem dirige bébado. Se a intengGo é acabar com acidentes, por que ndo aplicam as leis j4 existentes? O referido dispositivo legal impugnado atinge o inocente, quando, na verdade, leis nao faltam para PUNIR O INFRATOR © motorista que quiser beber em viagem pode perfeitamente passar no supermercado, na padaria, ete., e comprar bebida para levar consigo, ou, se esta na estrada, pode sair da mesma e rodar menos de cem metros além da faixa de dominio da rodovia federal vedada, onde nao faltarao bares para beber. O art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08, além de nao coibir 0 consumo de bebidas alcodlicas por motoristas, ainda pune de forma injustificada os estabelecimentos de bares e restaurantes € os passageiros que seguem pelas rodovias. Imagine a hipétese de um 6nibus de viagem com 40 passageiros ¢ 01 motorista: a pretexto de prevenir 0 consumo de alcool pelo motorista, pune-se os 40 passageiros e todos os proprietarios e funcionarios de bares e restaurantes estabelecidos nas margens das rodovias federais. Deste ponto de vista, o art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08 € desproporcional e desarrazoado, sendo, _portanto, inconstitucional_ por viola’ o DEVIDO PROCESSO LEGAL SUBSTANTIVO. Além disso, a Lei Federal n° 11.705/08 nao deu tempo suficiente para que os estabelecimentos comerciais pudessem se adequar a norma sem prejuizo de eventuais estoques. Por que no aplicar as punigdes existentes, em vez de punir o empresario responsdvel e 0 passageiro? Tao sé porque, ja observaram as autoridades, punir os inocentes que ficam na formalidade é mais facil. Isso vem acontecendo diariamente nas cidades e estados do Pais. Por dbvio, fiscalizar os estabelecimentos comerciais localizados margem das rodovias é mais facil que fiscalizar o motorista alcodlatra, visto que a multa & de R$ 1.500,00 e a reincidéncia admite multa no valor de RS 3.000,00 ¢ suspensiio da autorizacéio para acesso da rodovia por um ano (§§ 1° ¢ 2° do art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08) Alias, como tem acontecido em tantos outros casos, © Poder Pablico, nos seus diversos niveis, impotente diante do avango da criminalidade, est4 acostumando a bater e punir 0 honesto — no caso, comerciantes que pouparam e¢ investiram, criaram empregos e prestam servigos, geram tributos e renda. Por todo o Pais, vereadores tentam fechar bares dizendo que esto combatendo locais fregiientados por marginais. Chegara © dia em que fecharemos as escolas, pois nelas os jovens comegam a usar drogas, em vez de prender os traficantes. Esta mais do que constatado que o maior nimero de acidentes com vitimas fatais ocorre nas rodovias federais em conseqiiéncia da mé-conservacio das mesmas. Deveria, entéo, ser editada uma lei para fiscalizar e punir as autoridades piiblicas que se omitem em cumprir o dever de conservar e restaurar as rodovias. Essa sim surtiria bons efeitos. A beira de estradas, como Vossa Exceléncia deve saber, no existem bares, mas sim restaurantes e churrascarias, locais onde as pessoas param para comer, sendo a bebida apenas um acompanhamento. Ninguém para s6 para beber. No maximo, a proibigao deveria ser apenas para motoristas. Dezenas de milhares de Gnibus circulam pelas estradas ¢ todos estes passageiros, que nada tém a ver com a proibigao do consumo de Alcool, também estarao proibidos de beber. © dispositivo legal ora impugnado apenas reitera conduta que, infelizmente, vem se tornando corriqueira nas cidades do pais: se ndo se pode acabar com os marginais, acabemos com os locais onde eles freqiientam, ainda que sejam legais ¢ socialmente importantes. ¥: uma admissio de incompeténcia, impoténcia, como ocorre com 0 fechamento dos bares, por exemplo, em horarios cada vez mais cedo. Pune-se os inocentes, 0 dono do negécio, os funcionarios que sero demitidos, todos os demais passageiros que viajam, as pessoas que residem proximo da rodovia, etc., para evitar o inevitavel: 0 consumo de bebida alcodlica por motoristas irresponsaveis, que continuardo adquitindo-a 4 100 metros da faixa de dominio da rodovia O REMEDIO E MAIS PREJUDICIAL QUE A PROPRIA DOENGA E O PODER JUDICIARIO NAO PODE ACEITAR TAMANHA INJUSTICA. O postulado constitucional do PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE, corolario, seja da cliusula do devido proceso legal (art. 5°, LIV), seja da igualdade (Art. 5°, caput), ou mesmo do §2° do art. 5°, da Constituigio Federal, & amplamente aceito pela 10 jurisprudéncia do STF, conforme se pode verificar pelo julgado abaixo trazidos a colagio: “O Estado nao pode legislar abusivamente, eis que todas as normas emanadas do Poder Piblico tratando-se, ou ndo, de matéria tributéria — devem ajustar-se & cldusula que consagra, em sua dimensdo material, 0 principio do substantive ‘due process of law’ (CF, art. 5% LIV). O- postulado da proporcionalidade qualifica-se como pardmetro de aferigao da prépria constitucionalidade material dos atos estatais, Hipétese em que a legislagdo tributdria reveste-se do necessdrio coeficiente de razoabilidade”™ (STF; RE 200.844-AgR; Rel. Min. CELSO DE MELLO; DJ 16/08/02). Da jurisprudéncia do STF depreende-se a possibilidade de controle da RAZOABILIDADE das leis e atos normativos, fixando, a partir da clausula do DEVIDO PROCESSO LEGAL SUBSTANTIVO, a pecha de inconstitucionalidade das normas nao razoaveis. Os Principios da Racionalidade e da Razoabilidade so os mecanismos adequados 4 identificagdo concreta das situagdes em que o legislador ou 0 administrador piblico ultrapassa o campo de apreciagdo que the é conferido, descambando para o arbitrio puro. O PRINCiPIO DA RACIONALIDADE prosereve a ilogicidade, 0 absurdo, a incongruéneia na ordenagio da vida privada; fulmina, portanto, os condicionamentos logicamente desconectados da finalidade que legitima a interferéncia do legislador na matéria ou desproporcionais em relagio a ela. As opcées legislativas devem se apresentar como escolhas racionais, aptas no sé a conduzir aos efeitos -jados, como a fazé-lo do melhor modo possivel O PRINCIPIO DA RAZOABILIDADE ~ cuja io na idéia de racionalidade nao se pode negar ~ incorpora valores 9s a0 universo juridico, fulminando as opgdes legislativas desatentas desses padrées. E inconstitucional a restriggo imposta pela norma juridica aos individues quando, as perguntas: “por que foi ela instituida?” ou “por que tem essa intensidade?”, a resposta ndo for outra sendo: “porque © legislador assim quis". O interesse piiblico e 0 proveito social ~ identificaveis a partir de padres de razoabilidade - sio a tinica justificativa possivel para os atos do Estado. A vontade do legislador nao tem valor por si, mas apenas na medida em que, observados os limites da ordem juridica, vem pautada nos padrdes conhecidos da racionalidade. O PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE em sentido estrito (que equivale ao principio da “justa medida”), significa que uma lei restritiva, mesmo adequada e necessiria, pode ser inconstitucional, quando adote “cargas coativas” de direitos, liberdades e garantias desmedidas, desajustadas, excessivas ou desproporcionais em relagio aos resultados obtidos. No presente caso, pune-se os inocentes, 0 dono do negécio, os funciondrios que serio demitidos, todos os demais passageiros que viajam, as pessoas que residem préximo da rodovia, etc., para evitar 0 inevitavel: 0 consumo de bebida alcoélica por motoristas irresponsaveis, que continuardo adquirindo-a 4 100 metros da faixa de dominio da rodovia. Quanto ao PRINCIPIO DA PROIBICAO DO EXCESSO (ou da proporcionalidade em sentido amplo), constitui um limite constitucional & liberdade de conformagio do legislador. A Constituigao, ao autorizar a lei a restringir direitos, liberdades e garantias, de forma a permitir ao legislador a realizagio de uma tarefa de concordancia pratica justificada pela defesa de outros bens ou direitos constitucionalmente protegidos, impde uma clara vinculagdo ao exercicio dos poderes discricionarios do legislador cujos aspectos fundamentais sio ‘os seguintes: 1) entre o fim da autorizagdo constitucional para a emanagao de leis restritivas e 0 exercicio do poder discricionario por parte do legislador ao realizar esse fim deve existir uma inequiveca conexio material de meios e fins; 2) no exercicio de seu poder ou liberdade de conformagio dos pressupostos das restrigdes de direitos, liberdades © garantias, o legislador esta vinculado ao principio material da proibigao do excesso. Neste caso, como em muitos outros, é imperative que a JUSTICA aplique Principios de Direito, pois vivemos todos em um Estado Democratico de Direito. Cabivel também, no caso em tela, a referéncia ao bio art. 5° da Lei de Introdugao ao Codigo Civil, que dispde que isa que ela se dirige e velusto e “Na aplicagdo de lei, 0 juiz atenderd aos fins soc as exigéncias do bem comum’ Ocorre que, se prevalecer, o art. 2° da Lei Federal n? 11.705/08 trara como conseqiiéncias: I -- criagdo de grande oportunidade para a instalago e o aumento da corrupgao no setor, que, até entdo, nao era tolerada; I — aumento da informalidade, que, de uma forma geral, ja atinge niveis superiores aos das empresas formalizadas; Ill — aumento do desemprego e intolerdvel redugao da renda do trabalhador do setor; IV — potencial contribuigdo para o aumento da taxa de inflagdo, da taxa basica de juros do BACEN e freio no indice de crescimento econémico do PIB, justo agora que o Governo Federal tenta fazer decolar 0 PAC ~ Programa de Aceleragao do Crescimento; V — indugao de faléncia generalizada no setor; VI — grave queda no mercado turistico brasileiro. Como sustentar, em vista destas graves ameat o art, 2° da Lei Federal n° 11.705/08 atende ao interesse coletivo?! E ébvio que a norma ora atacada ¢ inconstitucional, pois suas conseqiiéncias, como visto, sio absolutamente desproporcionais e descoincidentes com os interesses publicos. 2.1.3 Da Violacio aos Principios da Liberdade Econdmica, da Liyre Iniciativa_e_da Minima Intervencio Estatal_na_ Vida Privada: A Constituigio Federal consagrou 4 atividade econdmica determinadas normas basicas, que devem ser respeitadas como sendo da mais alta importéncia para o desenvolvimento nacional. Entre elas, hoje esto, incontestes, as da livre iniciativa, da liberdade econdmica, do livre mercado, livre concorréncia, etc., todos previstos no art. 170 © seguintes da Constituigdo Federal O Estado de Direito ¢ governado por uma fundamental finalidade: fazer com que 0 exercicio do poder politico nao elimine a liberdade individual. A sociedade que o Estado de Direito quer construir & aquela onde os individuos disponham do maximo possivel de liberdade e onde, ndo obstante, se possam realizar os interesses piblicos. Ao Estado de Direito nfo basta a submissio das autoridades publicas a lei ~ sendo, ¢ evidente, a superioridade da lei seria um fim em si, Fundamental que o sistema sirva a preservagao da liberdade. Por isso, a lei no pode tudo. A propria Constituigao Ihe prescreve limites: os direitos individuais e coletivos que protege, de modo implicito ou explicito, os quais hao de ser preservados, ainda quando o legislador preferisse suprimi-los, em nome de um entendimento pessoal do sentido do interesse publico. Decerto que a garantia de direitos em favor dos individuos — preocupagao central do sistema do Estado de Direito — néo impede o Estado de regulé-los por via legislativa. Porém, os condicionamentos que da lei resultem para os direitos sé serao legitimos quando vinculados & realizagio de interesse publico real, importante ¢ claramente identificado. Todo con namento é constran; ento sobre a liberdade. Esta, sendo valor protegido pelo Direito, sé pode ser cumprida quando inevitavel para a realizagao dos interesses puiblicos. Dai a enunciagio do PRINCIPIO DA MINIMA INTERVENCAO ESTATAL na vida privada. Por forga dele, todo constrangimento imposto aos individuos pelo Estado deve justificar-se pela necessidade de realizagdo do interesse piiblico. O legislador nao pode cultivar o prazer do poder pelo poder, isto é, constranger os individuos sem que tal constrangimento seja teleologicamente orientado. © Principio da Minima Intervengdo Estatal na vida privada exige, portanto, que: a) todo condicionamento esteja ligado a uma finalidade publica, ficando vetados os constrangimentos que a ela n&o se vinculem; b) a finalidade ensejadora da limitago seja real, concreta e poderosa; c) a interferéncia estatal guarde relagao de equilibrio com a inalienabilidade dos direitos individuais; d) nao seja atingido 0 contetdo essencial de algum direito fundamental. Deste ponto de vista, o art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08 é, a evidéncia, materialmente inconstitucional. 1.4 Da Violacao ao Direito Adquirido: Para tentar atrair investidores externos, autoridades brasileiras “correm o mundo” prometendo, entre outras garantias, a SEGURANGA JURIDICA, ou seja, que os investidores ndo serao surpreendidos por legislagdes que obstaculizem o desenvolvimento de seus empreendimentos. De fato, quem investe suas valiosas poupangas em empreendimentos, apés analisar a legislagio que rege a atividade, se submete a ela, obtém autorizacdo para explori-la e, portanto, tem o direito de elementar de explori-la, isto é de nao ser surpreendido por leis que dificultem o negocio e até coloquem em risco a sobrevivéncia da empresa. Nao precisa ser comerciante para saber da importéncia do comércio de bebidas nos bares e restaurantes de todo o Pais, & também no de beira de estradas. O minimo que um estabelecimento fatura com bebidas chega a 30%, fato publico e notério. Impossivel, pois, no concluir pelo fantastico prejuizo que sofferd o negécio por uma norma que the retira, no minimo, 30% do faturamento, do item de maior lucratividade. Nada mais justo que o comerciante que se estabeleceu em estradas, e que fez um “contrato” com o Estado, possa exercer seu coméreio dentro das leis existentes quando de constituigao do empreendimento, reconhecendo-lhe 0 direito adquirido de explorar seu negécio, ou que seja indenizado pela sua proibigao, jé que as regras do jogo esto sendo mudadas contra ele. O Presidente da Reptblica, que tanto viaja ao exterior para tentar trazer investimentos empresariais para nosso Pais, sempre enfatiza a SEGURANCA JURIDICA. Pois esta deve ser também um direito do pequeno empresario brasileiro. A conelusio € que o art. 2° da Lei Federal n° 11.705/08 viola 0 direito adquirido dos empresarios de bares, restaurantes € similares estabelecidos em rodovias federais de explorarem seu ramo de atividade, para o qual investiram poupanga de uma vida toda, com afronta direta ao art. 5°, XXXVI, da Constituigdo Federal. 2.2 DAS INCONSTITUCIONALIDADES DO ART. 4° DA LEI FEDERAL N° 11.705/08: O art. 4° da Lei Federal n° 11.705/08 e seus pardgrafos trazem as seguintes previsdes: “Art. 4° Competem a Policia Rodovidria Federal a Jiscalizagéo e a aplicagao das multas previstas nos arts, 2° ¢ 3° desta Lei §1°~ A Unido poderd firmar convénios com Estados, Municipios ¢ com o Distrito Federal, a fim de que estes também possam exercer a fiscalizagaio e aplicar as multas de que tratam os arts, 2° e 3° desta Lei. §2° = Configurada a reincidéncia, a Policia Rodoviéria Federal ou ente conveniado comunicaré 0 fato ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes - DNIT ou, quando se tratar de rodovia concedida, @ Agéncia Nacional de Transportes Terrestres - ANTT, para a aplicagdo da penalidade de suspensdo da autorizagdo de acesso & rodovia. Ocorte que, na Constituigdo Federal, tampouco na legislago que rege as fungées da Policia Rodovidria Federal, nao consta que esse Orgao teria a fungao de fiscalizar 0 comércio em geral, com poder para multar 0 comerciante. © Estado tem érgaos préprios para fiscalizar comerciantes e, de fato, sao fiscais, ¢ ndo um érgao policial, que devem fazer esse papel. O policial rodovidrio foi previsto para aplicar multas decorrentes de infragao de transito (art. 20 da Lei n? 9.503/97), O Decreto n° 1655/95, que regulamenta a profissdo, nao estende os poderes do policial a tanto. Os policiais rodoviarios, que ja nao conseguem punir 0s motoristas alcoolizados, agora com a fungdo desviada para mais essa 16 atividade ~ fiscalizar estabelecimentos ~, menos tempo tertio para impedir esta grave infragdo de transite. O foco de atengiio da PRF é a conduta das pessoas na propria rodovia, especialmente na condugao de seus veiculos, relacionadas 4 seguranga piblica ¢ as normas de transito, sendo de se registrar, a propdsito, que essa atribuigdo é detalhada no Cédigo de Transito Brasileiro. Ao inserir no ambito de atribuigdes da Policia Rodovidria Federal atividade que esté fora da sua competéncia, o Governo Federal dilui ainda mais os seus recursos, afastando-a da possibilidade de cumprir satisfatoriamente sua verdadeira fungao. Enfim, a Policia Rodoviéria Federal nao tem competéncia constitucional para fiscalizar os estabelecimentos comerciais localizados as margens das rodovias federais, como o que 0 art. 4° da Lei Federal n® 11.705/08 desvia suas fungdes _constitucionalmente estabelecidas no art. 144, capur e §2°, da Constituigdo Federal. 2.2 DAS INCONSTITUCIONALIDADES DO ART. 5°, III, DA LEI FEDERAL N° 11.705/08: © art. 5°, Il, da Lei Federal n° 11.705/08, trouxe alterago ao texto do art. 276 do Cédigo de Transito Brasileiro, no concernente ao limite maximo de concentracdo de dleool considerado técnica e juridicamente razoavel para que o condutor possa dirigir um veiculo. Vejamos 0 quadro comparativo do novo texto do art. 276 do CTB. - ART. 276 DO CTB 705/08 ntes da Lei Federal n° 11.705/08 | Depois da Lei Federal n° 1 Art, 276, A concentragao de seis | “Art, 276. Qualquer concentragao | decigramas de dlcool por litro de de éleool por litro de sangue sujeita | sangue comprova que 0 condutor se 0 condutor as penalidades previstas | acha impedido de dirigir veiculo no art. 165 deste Codigo. automotor. | Pardigrafo tinico. Orgdo do Poder Parigrafo tinico. QO CONTRAN | Executivo federal disciplinard as estipularé os indices equivalentes | margens de toleréncia para casos |para os demais testes __ de | especificos.” Laleoolemia.” ! 4 Em primeiro lugar, espantoso observar 0 extremo rigor com que o legislador promoveu a alteragao legislativa, como se “do dia para noite” tivesse constatado que todos os acidentes de tansito com condutores alcodlatras foram provocados em raziio do elevado limite de concentragiio de Alcool por litro de sangue, reduzindo drasticamente a quantidade maxima de seis decigramas para zero. © argumento ¢ falacioso, uma vez que os acidentes de transito provocados pela influéncia do alcool ocorrem somente a partir da concentragao de 8 decigramas de alcool por litro de sangue, como é 0 limite em paises considerados mais civilizados, como os EUA e a Inglaterra. 2.2.1_Da__Falta__de__Razoabilidade, _ Proporcionalidade, Equidade e Legalidade Percebe-se que o limite legal de consumo maximo de Aleool previsto no art. 276 do CTB anterior & Lei Federal n° 11.705/08 ja era bastante dristico, e, no entanto, a lei nunca fora fiscalizada ou aplicada. Agora, desceram o limite a zero, ¢ tentam aplicé-lo de forma bombistica e ilegal, propiciando, também, muito mais estimulos e meios & corrupgao. Por sua vez, 0 art. 165 do CTB, mencionado pelo art. 276, prevé as punigdes para o condutor flagrado com qualquer concentragéio de dleool por litro de sangue: “Art. 165. Dirigir sob a influéncia de dleool ou de qualquer outra substincia psicoativa que determine dependéncia Infragdio - gravissima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspenséo do direito de dirigir por 12 (doze) meses Medida Administrativa - retengGo do veiculo até a apresentacdo de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitagao Como se verifica facilmente, ha total contradigio entre a NORMA PRIMARIA (fato tipico) e a NORMA SECUNDARIA (penalidade), tornando © novo art. 276 do CTB inconstitucional por violagao ao Principio da Legalidade do art. 5°, II, da Constituigao Federal. 18 Esta claro, pois, que o texto do art. 276 do CTB, alterado pelo art. 5°, II], da Lei Federal n° 11.705/08, é um atentado a legalidade e aos principios da razoabilidade e da proporcionalidade, um monumento ao arbitrio e 4 mentalidade tacanha, moralista, oportunista, de certos politicos brasileiros, cujo unico objetivo parece ser o voto do povo desinformado. Igualmente equivocada é a tentativa de combind-lo com © art. 165, pois este fala que a punigao & para quem dirige sob influencia do alcool, ¢ 0 art. 276 a quem possui qualquer concentraeao de dlcool no sangue. Qualquer concentragao de ‘ileool no sangue é bem diferente de estar sob influéncia do alcool. Por esse novo texto do CTB, o art. 276 prevé que quem tiver qualquer dosagem de alcool no sangue poderd ser punido com as penas do art. 165. Nao se diz que é uma dosagem que pode influenciar, afetar, comprometer a lucidez, ou algo parecido, mas sim qualquer concentragéio, ou seja, qualquer quantidade. Evidente, pois, que quem comer um bombom com licor ou tomar um remédio que contenha alcool, ou até usar um anti-séptico bucal, por exemplo, poderd ser punido, uma vez que se trata de qualquer concentragdo detectada, apesar de essa infima quantidade dleoo! nao influenciar negativamente a conduta do motorista ao volante. Até 0 padre, depois de tomar o vinho na missa, poderd ser detido, multado, quiga preso. Percebe-se que 0 novo art. 276 do CTB, além de absurdo, no esté coerente com o art. 165, que prevé a punig&o, pois este afirma que ela deve ser dirigida apenas contra quem DIRIGE SOB A INFLUENCIA DO ALCOOL. Na divida, na antinomia de normas, prevalece a interpretacio que mais beneficia 0 cidadio, qual seja, a que pune apenas que dirige sob a influéncia de alcool. E obvio que nfo ¢é qualquer quantidade que influencia 0 motorista. Como os politicos que aprovam estas leis n&o se preocupam em fazer antes pesquisas sérias, preferindo medidas pirotécnicas. 0 conceito de decigramas fica prejudicado, assim como a aplicagdo do novo art. 276 do CTB. 19 Pela norma, quem tiver qualquer concentraga Alcool por litro de sangue, deverd ser multado em R$ 955,00 (quase dois salarios minimos, varias vezes a multa por cruzar sinal_vermelho com 0 carro), tera 0 veiculo apreendido e cassado o direito de dirigir veiculos. Esta medida esta sendo aplicada, ¢ no é coerente com o previsto do art. 165, que pretende punir quantidade de leool que influencia_o condutor, mas o mais rigoroso art. 276 fala em qualquer concentragao de dleool Nem se diga que 0 Deereto n° 6.488, de 19 de junho de 2008, que regulamenta os noves arts. 276 e 306 da Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997(CTB), disciplinando a margem de tolerancia de Aleool no sangue e a equivaléncia entre os distintos testes de alcoolemia, teria estabelecido o limite razoavel de duas decigramas por litro de sangue, pois este prevalece apenas enquanto nao for editada resolugao do Conselho Nacional de Transito~ CONTRAN, definindo as margens de tolerancia de Aleool no sangue. Talvez percebendo o excesso do art. 276 do CTB, alguém tenha sugerido subjetivamente adotar um minimo, por conta propria. O fato é que a irregularidade é flagrante. Segundo a unanimidade de experts, e os préprios policiais que esto aplicando a lei atacada nfo negam, um tinico copo de chope_ou_vinho pode _ultrapassar esse limite. Nas pessoas com até 50 quilos, meio copo de chope poder determinar até o ilicito penal. Qualquer concentragdo de alcool pode advir de um anti-séptico bucal ou bombom licoroso, ou creme de papaia com cassis. ‘A multa para quem come um simples bombom de licor ou toma um copo de chope & excessivamente elevada, para um ato considerado normalissimo até o dia anterior da lei, to rotineiro, 10 inocente ¢ inofensivo, 0 que revela a sua desproporeionalidade. A punico ficou muito maior do que para quem anda na contramio, faz racha nas Tuas, se excede em velocidade, equivalente a dois salarios minimos, sendo que a maioria da populagdo mal ganha um. Um motorista que usa seu carro para trabalho ou lazer poder perder o direito de dirigir por um ano, por tomar um simples copo de chope num lugar qualquer, num casamento, numa comemoracio com amigos, atender a um convite na empresa ou em casa, tomé-lo em um almogo ou jantar, 0 que ¢ habito de bem mais da metade da populacio 20 adulta do pais, certamente de mais de 80 milhdes de brasileiros, fato que Vossa Exceléncia deve conhecer no convivio social. Se 0 limite encontrado é sumamente ridiculo, insignificant, a aplicagao da lei viola a razoabilidade, e pode levar familias a passarem fome ou profissionais a perderem seus veiculos, pois como pagé-los, como trabalhar, sem poder exercer profissio. O Cédigo de Transito Brasileiro, destinado a regulamentar essa atividade social e econémica, © fluxo de veiculos, acabou ficando mais rigoroso que 0 Cédigo Penal. Existe ainda o fato danoso da apreensao. Todos sabem que 0 Poder Publico carece de meios para apreensdo de veiculos, mesmo dos que cometem infragées graves pelas cidades e estradas, quando os apreende, levam para lugares onde nao ha vigilancia e onde furto e roubo sdo rotinas. A norma em tela é, pois, contraditéria com o artigo que prevé a punigdo, e ndo pode ser usada ou permanecer no ordenamento. ‘Acrescem-se as inconstitucionalidades do novo art, 276 do CTB, alterado pelo art. 5°, IH, da Lei Federal n° 11.705/08, as mesmas violagdes aos Principios da Liberdade Econémica, da Livre Iniciativa e da Minima Intervengao Estatal na Vida Privada, apontadas acima (t6pico 2.1.3). 2.2.2 Da _Violacio aos Principios da Isonomia_e da Individualizacio da Pena: O novo art. 276 do CTB, alterado pelo art. 5°, IIT, da Lei Federal n° 11.705/08, viola o Principio da Isonomia, previsto no art. 5°, caput, da Constituigdo Federal, porquanto pune com 0 mesmo rigor sujeitos que incorreram na sua regra, mas em intensidade e gravidade diferentes. Como visto, 0 art. 165 do CTB, mencionado pelo art. 276, prevé as punigdes para o condutor flagrado com qualquer concentracio de __dleool__por _litro__de _sangue: Infragdo gravissima; Penalidade - multa (cinco vezes) @ suspensdo do direito de dirigir por 12 (doze) meses; Medida Administrativa - retengdo do veiculo até a apresentagdo de condutor habilitado e recothimento do documento de habilitagdo. A gravidade da infragéo, a penalidade e a medida administrativa so exatamente os mesmos, tanto para o condutor flagrado com concentragao de 3 decigramas de alcool por litro de sangue (e que nao esta sob influéncia_de_dfcool, haja vista o anterior art. 276 do CTB considerava razodvel até 6 decigramas), quanto do condutor flagrado com 10 decigramas de dlcool por litro de sangue (e que oferece muitissimo mais risco para a sociedade, pois se encontra em situagdo de embriaguez completa). O novo art. 276 do CTB, alterado pelo art. 5°, III, da Lei Federal n° 11.705/08, também pune igualmente, sem qualquer distingdo, tanto a embriaguez acidental, quanto a quanto 4 dolosa; tanto a incompleta, quanto 4 completa. Deste ponto de vista, a norma impugnada afronta também o Principio da Individualizagéo das Penas, prevista no art. 5°, XLVI, da Constituigdo Federal. Esta medida esté sendo aplicada, e ndo & coerente com © previsto do art. 165 do CTB, que pretende punir quantidade de Aleool que influencia o condutor, mas © mais rigoroso art. 276 fala em qualquer concentragao de alcool Nem se diga que 0 Decreto n° 6.488, de 19 de junho de 2008, que regulamenta os novos arts. 276 e 306 da Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997(CTB), disciplinando a margem de tolerancia de Alcool no sangue e a equivaléncia entre os distintos testes de alcoolemia, teria estabelecido o limite razoavel de duas decigramas por litro de sangue, pois este prevalece apenas enquanto nio for editada resolugtio do Conselho Nacional de Transito- CONTRAN, definindo as margens de tolerancia de Alcool no sangue. Segundo a unanimidade de experts, e os proprios policiais que estdo aplicando a lei atacada ndo negam, um tinico copo de chope_ou_vinho_pode_ultrapas: ¢ limite. Nas pessoas com até 50 quilos, meio copo de chope podera determinar até 0 ilicito penal. Qualquer concentragdo de alcool pode advir de um anti-séptico bucal ou bombom licoroso, ou creme de papaia com cassis. A multa para quem come um simples bombom de licor ou toma um copo de chope é excessivamente elevada, para um ato considerado normalissimo até o dia anterior da lei, to rotineiro, to inocente e inofensivo, o que também revela a sua quebra da isonomia. A punigao ficou muito maior do que para quem anda na contramAo, faz racha nas ruas, se excede em velocidade, equivalente a dois salérios minimos, sendo que a maioria da populagao mal ganha um. 2.3 DAS INCONSTITUCIONALIDADES DO ART. 5°, IV, DA LEI FEDERAL N° 11.705/08: O art. 5°, IV, da Lei Federal n° 11.705/08, trouxe alteragdo ao texto do art. 277 do Codigo de Transito Brasileiro, no concernente a inconstitucional delegag’o de competéncia de técnicos para agentes de transito para caracterizago da embriaguez, e da absurda punico contra aquele que se _nega_a_produzir_prova_contra_si, estabelecendo-Ihe a mesma punig¢do que um condutor em embriaguez extrema, completa ¢ dolosa, pelo simples exercicio regular de direito. Vejamos o quadro comparativo do novo texto do art. 277 do CTB. —_ “ART.277DOCTB ‘Antes da Lei Federal n® 11.705/08 | Depois da Lei Federal n° 11.705/08 | <4rt. 277. Todo condutor de veiculo | “Art. 277. | automotor, envolvido em acidente de | transito ou que for alvo de fiscalizagao | § 1° Medida correspondente aplica-se de transito, sob suspeita de haver| 0 caso de suspeita de uso de _ excedido os limites previstos no artigo | substdincia emtorpecente, t6xica ou de anterior, ser submetido a testes de | efeitos andlogos. alcoolemia, exames clinicos, pericia, ou outro exame que por meios téenicos | $ 2° A infragdo prevista no art. 165 ou cientificos, em aparethos | deste Cédigo poderd ser caracterizada jomologados pelo CONTRAN, | pelo agente de trdnsito mediante a) permitem certificar seu estado, | obtengdo de outras provas em direito admitidas, acerca dos notérios sinais Pardgrafo nico. Medida | de embriaguez, excitagdo ou torpor correspondente aplica-se no caso de | apresentados pelo condutor. speita de uso de substéncia entorpecente, téxica ow de efeitos | $ 3° Serdo aplicadas as penalidades ¢ andlogos.” ‘medidas administrativas estahelecidas | no art, 165 deste Cédigo ao condutor | que se recusar a se submeter a| qualquer dos procedimentos previstos | no caput deste artigo." 2.3.1 Da_Inconstitucional_Delegacdo de Competén: Caracterizacio da Alcoolemia: para Quanto ao § 2° do art, 277 do CTB, a inconstitucionalidade & evidente, além da completa falta de ética, ndo se podendo admitir a previsio da delegacdio de competéncia de téenicos para agentes de transito para caracterizagao da embriaguez. ‘A delegagdo de poderes desvia a fungdo do agente de transito, dando-Ihe poderes completamente incompativeis com a sua fungao e formagao. Por outro lado, vivemos uma realidade onde a violéncia extrema se tornou rotina, noticiada nos jornais diariamente. Bairros ¢ morros de grandes cidades esto em poder dos marginais ¢ neles © Estado tem 0 acesso proibido. Nossas cadeias estdo entupidas e muitos, marginais deixam de cumprir pena, inclusive por estarem os tribunais abarrotados e as condenagdes demorarem mais que o tempo de prescrigao. O Estado, apesar de arrecadar o dobro de vinte anos atras, deixa o cidadao sem protegao, a tal ponto que hoje em dia, para citar 0 exemplo dos bares e restaurantes, eles mesmos tém que cuidar de sua seguranga, assim como da satide ¢ educagaio de seus funcionarios Numa realidade como essa, a policia deveria estar sendo usada em fungdes prioritérias, enfrentando graves problemas que ocorrem, as cadeias destinadas aos marginais, 0s tribunais estarem processando-os, ¢ nao ao chopista trabalhador, pai de familia, cidadio brasileiro. Pela lei, se levada a sério, boa parte da policia passaria a ser usada para reprimir quem toma um copinho de vinho, deixando de fazer seu efetivo trabalho, o que ¢ inadmissivel. vidente que ndo se faz. referéneia aqui a punigao do infrator, do irresponsavel que dirige embriagado, mas ndo ¢ a este apenas que a lei é dirigida, mas a 80 milhdes de brasileiros. Outra pritica que sera comum em decorréncia dessa lei, ¢ notoriamente ilegal, é a vigia dos bares e restaurantes por policiais, conforme declaragdes de oficiais e delegados aos jornais. Os policiais ficariam nos estabelecimentos, observando quem estaria bebendo, para depois prendé-los, quando estes pusessem seus carros em movimento, conforme anuncia a midia. O risco é que a delegacio de competéncia de técnicos para agentes de irinsito para caracterizagao da embriaguez, prevista no inédito § 2° do novo art. 277 do CTB, possa instalar um clima de Estado Policial, com 0 uso abusivo do FLAGRANTE PREPARADO, © governo extrapola e gera esse tipo de comportamento, que sequer no apogeu da ditadura militar chegou a existir. Nao é sem razao que a pauta atual da sociedade brasileira, proclamada pelo proprio Presidente do STF, € 0 risco da formagao de ESTADO POLICIAL. Pode-se dizer que se trata de flagrante preparado e irregular, pois o policial, de uma forma ou de outra, estaria permitindo todo © ato ilicito, em vez de evité-lo, apenas para punir 0 cidadio, Como dito tépico 2.2, a Lei Federal n° 11.705/08 desvia as fangdes constitucionalmente estabelecidas para os agentes policiais no art. 144, caput, da Constituigdo Federal, devendo ser declarada a inconstitucionalidade do § 2° do art. 277 do CTB, ineluido pelo art. 5°, IV, da Lei Federal n? 11.705/08. 2.3.2 Da _absurda_punic&o contra _aquele_que se _nega_a roduzir prova contra si (“Teste do Bafémetro”) O § 3° do art. 277 do CTB, incluido pelo art. 5°, IV, da Lei Federal n° 11.705/08, chega as raias do absurdo ao estabelecer que “serdio aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Cédigo ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste artigo”, como se quem exercesse a prerrogativa constitucional e nao se auto-incriminar pudesse ser punido com a mesma sangdo de um condutor em embriaguez extrema, completa e dolosa Conforme divulgam os érgios da midia, todos os cidadaos brasileiros passam a ser obrigadas a assoprar “bafometros” (aparelho de ar alveolar pulmonar - etilémetro) se assim os policiais exigirem. Os policiais se baseiam na alteragio do CTB, onde diz que as mesmas punig6es previstas no seu art. 165, supra referidas, devem ser aplicadas a quem se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no art. 277, caput, do CTB, no caso, assoprar um “bafometro”. Esta exigéncia, além do excessivo rigor da lei ¢ das arbitrariedades em sua aplicagao, ¢ também juridicamente uma anomalia, outro absurdo, flagrantemente inconstitucional. E principio de direito que ninguém pode ser obrigado a fazer prova contra si mesmo. Atenta ainda contra o direito a intimidade e a imagem do cidadao, que nao pode ser submetido a praticas vexatérias com as quais nio concorda e que podem ser consideradas invasivas e até humilhantes. O inciso LXI_do_art. cidadao se recuse a fazer prova contra si ° da CF permite que_o Pela primeira vez, em 508 anos, tenta-se introduzir no pais métodos, conceitos, princépios comuns a Inquisi¢do, algo como as ordalias, Mais um pouco e introduzem a fogueira para as bruxas. Pelo rigor da lei, nao se estabelece nem presungGo de culpa, que poderia ser ilidida, mas culpa mesmo, e sem nenhuma prova. O artigo da lei e a ordem que esté sendo dada pela policia, obrigando o cidadio a assoprar o “bafémetro”, sdo ambas inconstitucionais. E, se ndo cumprir, pode tanto ser multado como levado a delegacia ¢ indiciado em inquérito, como tem sido divulgado pela midia, & ter seu carro apreendido, ser proibido de ditigir por um ano, etc., 0 que também é uma absurda inconstitucionalidade. A possibilidade de alguém ser castigado por erro & enorme. Os “bafometros” so sabidamente equipamentos sujeitos 4 falhas Pessoas maiores na estatura e indice de gordura terao menos possibilidades de serem punidas que as menores, devido ao fato do alcool se espalhar pelo corpo. Também é mais que evidente que pessoas que usam anti-sépticos bucais ou comem um bombom ou sobremesa contendo licor podem ter detectado 0 tal limite de alcool que pela lei se toma ilicito, como vem denunciando os jornais. Mais uma vez se mostra a irracionalidade, a falta de razoabilidade e isonomia da lei Portanto, 0 § 3° do art. 277 do CTB, incluido pelo art, 5°, IV, da Lei Federal n° 11.705/08, € flagrantemente inconstitucional, e é mais inconstitucional ainda quando pune o motorista com multa e penas de apreensio de carteira de habilitagao © apreensio do veiculo, ¢ até flagrante por infragio penal, se ele se recusar a atender ordem ilegal da autoridade policial para produzir prova contra si mesmo, 0 que, alids, também é um direito. 26 © advogado TALES CASTELO BRANCO, ex- membro do Conselho Nacional da OAB, em O Estado de S. Paulo, de 28- 2008, classifica o teste do bafémetro como uma agressio a intimidade ¢ a imagem do cidadao, ¢ que a lei cria um estado de terror entre as pessoas. ANTONIO CLAUDIO MARIZ DE OLIVEIRA, ex-presidente da OAB-SP diz que a lei é “irreal” no mesmo jornal. Ambos deixam claros os excessos e conseqiiéncias da lei, e que ninguém pode fazer prova contra si mesmo. 2.4 DAS INCONSTITUCIONALIDADES DO ART. 5°, VIII, DA LEI FEDERAL N° 11.705/08: O art. 5°, VIII, da Lei Federal n° 11.705/08, também trouxe alteragao ao texto do art. 306 do Cédigo de Transito Brasileiro, no concemente 4 previsdo de crime de transito consistente na condugao de vefculo automotor sob influéncia de alcool, Vejamos o quadro comparative do novo texto do art, 306 do CTB. ‘ART. 306 DO CTB _ | Antes da Lei Federal n° 11.705/08 | Depois da Lei Federal n° 11.705/08 | | “Art. 306. Conduzir veiculo| “Art. 306. Conduzir — veiculo automotor, na via publica, sob a influéncia de dlcool ou substincia de efeitos andlogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Penas - detengdo, de seis meses a trés anos, multa e suspensdo ou proibigdo de se obter a permissdo ou a habilitagdo para dirigir | veiculo automotor.” neste artigo.” automotor, na via piblica, estando com concentragéo de dlcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influéncia de qualquer outra | substancia psicoativa que determine | dependéncia. Penas - detengéio, de seis meses a irés anos, multa e suspensdo ou proibigdo de se obter a permissdo ou a habilitagéo para dirigir veiculo automotor. a O Poder estipularé Pardgrafo _tinico. Executive _ federal equivaléncia entre distintos testes de alcoolemia, para feito de caracterizagdo do crime tipificado a Embora tenha estabelecido valor fixo para o limite maximo de decigramas, este valor nao é razodvel nem proporcional para criminalizar tal conduta téo inocente até a véspera da lei impugnada Por este dispositive, nada razoavel, um motorista que toma dois copos de vinho ou de chope, ou uma dose de whisky ou destilado qualquer em uma comemoragao, um almogo ou jantar, pode SER DETIDO, INDICIADO, PROCESSADO E CONDENADO A PENAS DE SEIS MESES A TRES ANOS DE PRISAO, além de softer as punigdes administrativas do art. 165 do CTB anteriormente mencionado. Sao undnimes as afirmagdes dos médicos e especialistas, nao desmentidas pela pelos policiais que est4o aplicando a nova lei, que esse limite de 6 decigramas so atingidos com apenas dois copos de chope ou de cerveja Estamos em um pais em que temos mais que o dobro de presos que as vagas existentes nas prisdes, centenas de milhares de ordens de prisdes para serem cumpridas. Onde irtio os muitos cidadaos motoristas que, cumprida a lei, serdo detidos? Seré mesmo razodvel e proporcional se_prender qualquer brasileiro que tomar 2 copos de chope, certamente mais de 90 milhdes de pessoas, condené-lo, tirar-Ihe a primariedade, incluir seu nome livre dos distribuidores penais? Se 1% desses bebedores (900 mil) tomarem os dois chopes em algum casamento ou jantar de familia, e forem flagrados, serdo condenados e poderao cumprir pena alternativa, perdendo apenas a primariedade, mas se 1% desses 1% (90 mil) forem flagrados uma segunda vez, irfo ser encarcerados? Onde? Teremos tanta policia, tanto tribunal, tanta cadeia? E nem se duvide que trilhamos esse caminho, pois os jornais do dia noticiam que, somados, centenas de prises foram feitas em algumas poucas cidades. E isso porque nao se tem noticias dos mais de 5,5 mil municipios restantes. ‘A pena para quem toma dois copos de chope é excessivamente elevada para um ato considerado normalissimo até o dia anterior da lei, tao rotineiro, to inocente e inofensivo, o que também revela a violagio aos Principios da Isonomia e Individualizagio das Penas, previstos no art. 5°, caput e XLVI, da Constituigao Federal Nao pode permanecer em nosso ordenamento juridico uma norma inconstitucional, que viola a razoabilidade e a proporcionalidade, assim como o interesse piiblico, pela afronta a cultura e aos costumes populares, absolutamente corriqueiros ¢ licitos. Além de draconiana, a lei é desastrada, injusta, initil. Desde os primérdios da civilizagdo se sabe que quando uma norma procura punir amplas camadas da sociedade, seus costumes, modos de vida, apenas funcionam contra alguns, e depois so esquecidas, caem em desuso. No minimo, teriamos que ter um periodo de adaptagio, educagdo, convencimento, etc. Uma lei destinada a punir 90 milhées de brasileiros, talvez puna alguns milhares de infelizes, mas evidentemente nao poderd punir todos. Os adeptos da “lei seca”, nfo obstante o desastre apés sua aplicagdo nos EUA (todos conhecem a historia de A! Capone), jamais tentado novamente no mundo, mostram nimeros tristes sobre mortes no transito. Cabe esclarecer que a Requerente nao é contra a punigdo de malfeitores, mas colocar o chopista no mesmo plano de um delingtiente é um exagero que em nada ajudaré a combater as mortes no transito, apenas criar um clima de inseguranga e agravar a crise no setor de bares e restaurantes. Proibir a bebida equivale a proibir a fabricagao de facas, porque algum a usou para matar outrem; proibir escolas, porque é nelas que os jovens, em geral, comegam a usar drogas; decretar 0 toque de recolher nas cidades, para reduzir 0 ctime a noite; etc. Os problemas, enfim, tem que ser enfrentados com cuidado, educagao, equilibrio, bom senso, confiando-se nos cidadaos, punindo apenas culpados, jamais acabando com atividades econémicas, com direitos legitimos, por meio de uma simples “canetada”. A lei em comento ¢ uma LEI SECA DISFARCADA, UMA PROIBICAO TOTAL DE BEBIDAS, pois mais de 95% sao consumidas por ffeqiientadores de bares e restaurantes, ou em comemoragées, quando as pessoas véo a residéncia dos outros ou locais onde ha eventos e, ent&o, tém que se transportar de carro. A porcentagem das pessoas que bebem em casa sozinhos ou t&o préximos que podem ir a pé é minima. O pais nao tem politica de transportes piblicos. As autoridades sempre favoreceram os automéveis, 0 transporte individual. Qualquer crise no setor automobilistico e imediatamente providenciam favores fiscais. Os orcamentos das grandes cidades privilegiam o fluxo de veiculos, e os transportes publicos so, na maior parte das vezes, precarios, inseguros, demorados. Os taxis so carissimos, pois as autoridades jamais tiveram coragem de enfrentar os lideres dessa categoria e negociar tarifas mais baratas, para serem mais usados e, assim, permitir menor acesso de veiculos as ruas, com 0 que todos, até taxistas, ganhariam. Enfim nao temos politicas que favorecem transportes publicos. Nas grandes cidades eles param a meia-noite e milhdes de citadinos nao querem dormir a essa hora, querem se divertir, e tem direito disso. Numa situagdo dessas, a referida lei equivale a LEI SECA TOTAL, e isto é uma infragdo constitucional, um atentado a economia, ao direito ao lazer e a livre escolha, ao principio da razoabilidade e da proporcionalidade, um escarnio, um delirio, uma burla que a sociedade nao pode suportar e que tem que receber um basta. A lei seca total é uma estultice, uma estupidez provada pela historia. O exemplo classic do resultado € a figura do “Al Capone”, em Chicago, nos EUA, o qual estabeleceu verdadciro império da mafia, gragas 4 lei seca e a sua completa inefetividade para mudar a cultura popular secular: 0 direito a um copo de chope no fim do dia, apés muitas horas de trabalho estressante. 3. DO DIREITO AO LAZER DOS 80 MILHOES DE BRASILEIROS QUE AGORA CORREM O RISCO DE SEREM CONSIDERADOS DELIQUENTES E PRESOS Cerca de 140 milhdes de brasileiros sao adultos, destes, mais de 90 milhées, provavelmente muito mais, bebem pelo menos dois chopes, no minimo uma vez por més. Nao estamos falando dos parlamentares que aprovaram essa lei infeliz. Estes, sabidamente, participam de muitas comemoragdes ¢ muitos bebem, em geral, mais que essa quantidade diariamente. Fis, entéo, 0 nimero de candidatos a prisdo, doravante, com a criminalizagdo do chopinho no Brasil: 90 milhées de 30 brasileiros. E, até um dia antes da lei, essa era a quantidade de “delingiientes” que estava a solta. Provavelmente todos sao candidatos também a infratores da normas, 0 que atinge todo o prestigio e respeito que merece o sistema juridico. Que pessoa conhecida do Iustre Julgador ndo bebe nada? Sim, tém algumas. Mas a maioria bebe algo, nos almogos de fim de semana, as vezes com a familia, nas comemoragdes de casamento ¢ aniversario, de nascimento de uma crianga, A bebida esti historicamente relacionada a comemoracées, faz parte da civilizagao, & algo do cotidiano das pessoas e, moderadamente, como ja provado cansativamente, faz até bem & satide. No entanto, no é por saiide que as pessoas bebem, mas por prazer, entretenimento, como parte da atividade social, tanto que mais de 95% bebem nessas ocasides, € ndio em casa, sozinhos. Muitas o fazem nos bares e restaurantes do pais. Mais de 100 milhdes de brasileiros freqiientam um bar ou restaurante no minimo uma vez por més. E nesses estabelecimentos que os jovens se encontram, se conhecem, trocam informagées, falam de suas experiéncias, enfim, VIVEM SUAS VIDAS. Esse prazer, esse lazer, essa descontragdo, essa sociabilizagaéo, corre o risco de ficar inviabilizada, tendo em vista as normas draconianas da lei. Como pode um direito tao elementar ser posto em risco? 4. DA DESTRUICAO DE UM SETOR ECONOMICO QUE OCUPA MAIS DE DEZ MILHOES DE BRASILEIRO‘ As leis excessivamente draconianas sao frutos de precipitagdes, incompeténcia ou demagogia eleitoreira, de indigéncia moral ¢ intelectual, da inapeténcia para enfrentar problemas com equilibrio. A lei atacada podera destruir um setor da economia que no pais: > tem cerca de dois milhdes de pequenos empreendedores; > gera mais de 6 milhdes de trabalhadores diretos; > eria pelo menos mais uns 3 milhdes de empregos indiretos; > & 0 canal mais efetivo de incluso social e do primeiro emprego; > atende ao lazer e presta servigos a mais de cem milhdes de brasileiros; > € um dos maiores contribuintes no recolhimento de tributos; > € a atragdo mais procurada e melhor apreciada pelos turistas, domésticos ¢ internacionais. Sim, este é 0 universo envolvido por hum milhao de estabelecimentos existentes no Brasil, conforme pesquisas da Revista dos Bares e Restaurantes, confirmados por outros institutos especializado: pelos pontos de venda das grandes empresas, por informagées do fisco, ete A margem de erro é de 10%, Todos esses estabelecimentos vendem bebidas ¢ alimentos. Bebidas em restaurantes representam 30% e em bares mais de 60% do faturamento. E 0 item mais lucrativo, tanto que alguns bares vendem petiscos, sanduiches, pratos, a prego de custo. A lucratividade total desses negécios nunca chega a 10% do faturamento. Com a nova lei, a maioria das pessoas nao esta bebendo mais NADA, e com isso a receita com bebidas caiu em mais da metade, e a lucratividade evaporou completamente, entrando todos em fase de prejuizos. Exceto os estabelecimentos que servem apenas almogos e tem comida por quilo, todos os demais esto correndo risco de fechar as portas, sem excegdo, gerando prejuizos imensos. Além dos empregos gerados diretamente no setor, existem no pais milhares de fabricantes de bebidas alcodlicas. Hé todo um setor de fabricantes e distribuidores de vinho que estavam conseguindo espacgos no mercado brasileiro ¢ internacional (manter exportagdes sem mercado nacional para conseguir escala é impossivel) ameagado, mais de cinco mil empresas distribuidoras de bebidas, dezenas de milhares de adegas de pequeno porte, toda a industria nacional do vinho, mais de dez mil fabricantes de destilados, etc. Toda a sociedade esté ameagada com essa hecatombe na economia e no modo de vida do brasileiro anunciado pela lei, que sem davida atingira a todos. Prejudica ainda o Estado imensamente, com a perda de tributos, de empregos, de turismo. Nas grandes cidades bares ¢ restaurantes so opgdes de lazer, responsaveis por parte da alegria possivel. Sem alegria, sem equilibrio, tristes, com bares ¢ restaurantes falindo, as cidades nado perderao turistas? Por sua vez, segundo a vazios e fi CLT, o Estado poderd ter que pagar pelas demissdes que provocar ¢, segundo 0 Cédigo Civil, ter que indenizar os empreendedores por seu ato mediocre e desastrado. DO PEDIDO DE LIMINAR Esta claro, pois, que a lei ora impugnada ¢ um monumento ao arbitrio, ¢ inconstitucional, fere prinefpios basilares do Direito, ¢ a forma como vem sendo aplicada vai mais longe ainda, atentando contra a liberdade individual, a imagem, a intimidade e outros direitos fundamentais do cidadao. Se o fumus boni iuris consiste nas manifestas violagdes Constituig%io Federal, o risco de dano esta nas arbitrariedades que a policia vem cometendo para aplicd-la, E dever do Poder Judicidrio proteger os cidadiios contra esse risco. Assim, em razdo do iminente risco de dano a direitos constitucionais fundamentais, ¢ em face da relevancia da matéria e de seu especial significado para a ordem social e seguranga juridiea, requer-se a concessdio de medida liminar para suspender temporariamente a eficdcia € aplicabilidade dos textos legais ora atacados, concedendo-lhe os efeitos ex tune e erga omnes 6. DO PEDIDO FINAL Por todo 0 exposto, é a presente para requerer: concessao da liminar acima requerida, IL - a notifieagdo das autoridades das quais emanou a lei impugnada para apresentar informagdes que entenderem cabiveis, bem como do Advogado-Geral da Unido e do Procurador-Geral da Repiblica, para se manifestarem. III - a procedéncia total do pedido, confirmando-se a liminar deferida e declarando-se a inconstitucionalidade dos arts. 2°, 4° e 5°, incisos III, IV e VIII, todos da Lei Federal n° 11.705, de 19 de junho de 2008, proclamando-Ihes a nulidade e afastando-os definitivamente do ordenamento juridico patrio. Protesta provar o alegado por todos os meios em Direito permitidos, sem excegao. Da-se a causa o valor R$ 1.000,00. Pede Deferimento. Sao Paulo, 03 de julho de 2008. PERCIVAL MARICATO OAB/SP 42.143 DIOGO TELLES AKASHI OAB/SP 207.534 DOCUMENTOS ANEXOS: €o, Estatuto e Ata de Elei¢ao; gais impugnados; Doc. 3: Noticias da imprensa sobre os absurdos e 0 excesso de rigor da nova lei, que ferem a razoabilidade e os costumes da cultura popular, inclusive mostrando que um simples anti-séptico bucal ou bombom de licor é responsavel pela superaciio do limite de Alcool.

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