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3 O Sistema Estatal ¢ a Elite Estatal -{ + Existe um problema preliminar em relagdo ao Estado que & raramente considerado, mas que requer alengao se se deseja focallzar, de maneira correla, a discussio a respeito da sua natureza e do seu papel. E’ 0 fato de que «o Estado» nao & um objeto de que ele nao existe como tal. O «Estado» significa um admero de determinadas ins~ lituigses que em seu conjunio consiituem a sua realidade e que interagem como partes daquilo que pode ser deno- minadg o sistema estalal. Néo se trata absolutamente de uma quest&o académica. Isso porque o lratamento de wma das paries do Estado — em geral 0 governo — como se fora o préprio Estado in-- troduz um enorme elemento de confusio no debale sobre a natureza e a incldéncia do poder estatal ¢ tal conlusio pode acarretar amplas conseqiléncias polllicas. Porianto, se se acredila qué o governo é realmente o Eslado, pode-se acreditar também que a obtengdo do poder governamental -equivale a aquisigao do poder eslatal. Tal crenga, baseada em amplas suposigées a respeito da natureza do poder es lalal, estd repleta de grandes riscos e desapontamentos. A Fim de entender a natureza do poder estatal, ¢ preciso antes de tudo distinguir e em seguida relacionar os varios ele- mentos que inlegram o sistema .estatal. Nao é de surpreender que governo e Eslatfo apare¢am freqlienlemente como sindnimos. Isso porque & o governo que fala em nome do Estado. Era ao Estado que se reieria Weber quando afirmou, ‘numa frase [amesa, que para exlstir ele deveria , e deixar os assunlos politicos» para os polllicos profissfonais, Ou, alfernaliva- mente, «despolitizar> os assuntos em debate. Karl Mannheim observou certa vez que .* Algumas das consideragdes .acima se aplicam a todos os demais clementos do sistema estalal. Elas se aplicam, por exemplo, a um tercelro elemento, o mililar, ao qua) se po- derla acrescentar, deniro dos nossos objetivos aiuais, o para- militar, as forgas de seguranga e a politica do Eslado e que constituent em seu conjunlo aquele ramo que se ‘dedlea fyndamentalmente ao «manejo da violéncia». Na maiorla dos paises capilalistas, ease aparelho coercitivo Constitui uma organizac¢io ampla, espalhada e poderosa, cujos Itderes profissionais sao homens de sfates elevado e grande influéncia, dentro do Bistemma eslatal e da sociedade. Em “‘nenhum Jugar toi a inflagdo da organizagio mililar mais acentuade, desde a Segunda’ Guerra Mundial, do que nos E.U.A., pais que até entao estava altamente orientado para a vida civil.’ O mesmo tipo de inflagao teve lugar também nas forgas de aseguran¢a internay, ndo sé nos Es- fados Unidos. E’ bem provavel que nenhuma vez anlerior- mente, em quélquer pals capilalista, excelo na {talia fas- cisla e na Alemanha nazista, uma proporgao (Jo grande de pessoas esteve empregada em atividades policiais e re- pressivas, deste ou daquele tipo. Qualquer que scja o caso na pralica, a posigao constitu- Clonal formal dos elementos administrativos e coercitivos é& a de servit o Estado servindo o governo do dia. Em con- traposigae, nfo conslitui dever constitucional formal dos jui- zes, pelo menos nos sistemas politicos de (ipo acidental, servir aos abjetivos de seus governos. Eles sao conslitucio~ nalmenle independenles do executive politico e protegidos, contra ele pela seguranca de posse e outras garanlias. De fato, o conceito de independéneia judicial esta stupondo nao Meynaud, La Tecinocratic, p._ 68. “Ch Mills, A Etite do Poder, Zahar Editores, Ric, cap. 8. 70

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