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Dialogando com Clio Mauad X Copytighs © by Fiiode Soa Less Reina Vara da Cuba Bustamante al Dineitos deta efi reserva a MAUAD Eto Lila Joaquim Silva, 9%, 5° andar — Laps fe Janeiro — I~ CHP 2021-110 ol (21) 3479-7622 — Fx: (21)3479-7400 ‘wwwmnnd corte sauadG@moued com be Proje Gro Nolo de AnteMana Paora tra da Capa Pir Migaard ‘to, 189 en soe a MaayarSepveszet Mace — Dp srg #°Cop ‘Arista desconhocido Co death dnote *Serophage doe Me”, rete do 2. (kor Mise Loure, Pais France Revi Birbara Maas Ge Baast. Css. 00ncho an Fon Snowwo Nace os Bones Las, RS _ sled com Cio | Yio de Sua Lei, Rein Maris da Cobs Bustamante legumes) Ro Sie Mad X, 208, (Coctoca d tabulios apes ne VIN Cio de Dstt cn tri Ani Dinlpeno com ho Stoe do LIMA, raza dre x seta e223 28 de oc io |. Huse ania - Congresnn 2, Lisa © hieéria - Congress. 4 Cita material ‘Sens Maruman Reins Maida Cos ils Debts en Hsin atin, 208 Ride acto SUMARIO 1S ANOS DO LHLA/UFRS Node Themst APRESENTACAO: Dinloganda com Clio — Propostas e resultados — 9 Pui de Souza Lessa e Regina Maria da Cunha Bustamante DIALOGOS INTERDISCIPLINARES Dsafios hermenéaticos: sogties de tempo e tradigdo em Hans-Ge ‘Compo e envelhecimento na cultura brsileira Mirian Goldene » le Sanctis. Histéria Antiga ¢ antifescisino — 41 s( Antonio Dabdab Trabulsi HISTORIA E CULTURA ESCRITA HMicwplifos c atte: didlogos ¢om a Histéria — 61 Margaret Marchiori Bakos © odissow aileta entre os fescios: os jogos em Homero — 77 Lua doplicidad intrinseca de Apolo. Minidad, otredadl y poder as marcas Moria Cecilia Colombant Logos Giunaikos — 111 Maria Mega de Andrade LOGOS GUNALKOS Maria Mega de Andrade Nao, 6 mais querido dos homens, de forma alguma pratiquemos ‘otros males, Pots até ito & muito a colber, misers safra.E demais ‘ador, nfo ensanguentemos Ide, ancifos, a vossas cases: no sofas por vossos feites, era devido © que Fizemos. Bastassem-nos estas ores, suportariames, mniscrosferidos por grave garta de Nume. Bis ‘que afirma « palavea de muller, se & que o valha considerar Bssas sAo as palavras de Clitemnestia em Agamenmon, de Esqnilo (wv. 1645-1661), epiaddio final; adaptado da traduglo de Jaa Torrano, Estamos nés autorizados a comecar um palavreado, qualquer que 1 partir de um simples verso, de um jogo com palavras em grego € suas possiveis tradugdes? Que o sa. Bis que 180 nos encontramos num espa {0 de autorizagses, mas de experimentas. F o que proponho aqui, breve- meate, é um experimento, Fim uma pega cujo ema € 0 retomo do mais forte guerreive ao la Agamenon, eo destino eoohecido que aguarda, o papel de Clitemnestea 6 fundamental. A esposa do rei guerteiro prepara uma armadilha co as- sassina, com a cumplicidade do “mais querido entre os homens”, Egisio, (© coro dos argivos, bravos, mas ancidos, se digladia, se debate, quase aremete em dicegio & cena, ¢ 0 espace do teatro quase, apenas quase se rofesora adjunta do Laborairio de Histéria Antiga (Chia) do Departamento ‘de Historia edo Programa de Pés-graduagdo etn Historia Comparada (PPGHC) da UPR osrina & Onna Bs submete ao rompimento das fronteiras. Ai, entto, intervéin Clitemnest dispersando 0s cidados. Pouca depois, a pega acaba, ¢ 0 logos gunaikos ue interveio e estabeleceu-se quando reinava a instabilidede, sobre esta Instabilidade no resolvida repousaré. Sabemos qual é a sequéncia da (Oresieia, sademos que 0 homicidio ser vingado e que Atena vied intervir ho veredito final, transformando Erinias do sangue em Euménides (as «de bom-aume), No fimn das contas, valia a pena considerar a palavra mulher? Ela prevateceu aos moldes das asseinbléias herdicas da Hliada, ¢ ‘oem acondo com 0 modelo politico do dialogo, do convencimento, da ddeliberagio. Palayna de mulher, palavra negativa ‘Algum tempo depois, Furipides fez enconsr o drama de Medeia —ou de Taso? —em uma tragédia que, entre nds, 6, por demais, lembrada. A Medeia que mata os préprios filhos e foge em uma apotoose aterradora persegue o imaginario dos gregos por muito tempo, Mas 0 que nos cha- ‘ma a atengao ¢, aqui também, um momenta de absoluta instabilidade, «em que o que esté em questia nflo é mais a relagto (civiea) entre o pove © Seu rei, mnas a relagdo (contratual) entre uma esposa e seu marido. A quedra desses lagos é interpretada por Medeis e suas companheiras, as mulheres corintias, como 0 rompimento de um juramento, um perjirio. Isso basta para que dois lados se digladiem: um, feminino, defendendo © “juramento do leito"; outro, masculino, politica, defendendo as leis da cidade, espécie de welfare state contra o elemento disruptive que Medcia representa como polis, feiticeira e mulher. Se as palavras de CClitemmnestra iniervém no fim, o canto das mulheres de Corinto abre o conflte: ESTROFE: De sacros rios retornam as Aguas /¢ Justia ainda traz tudo de volta, / Entre homens ha tramas dolosas, | confianga dos ‘OF Foniextos funeririos essa nossa indagagdo exploratiria do ambito do legos gunaikas como horizonte de controle politico da palavru’ Tete- ‘mos que desatar, aqui, um né. rando pela tomada dos espapcs Tineririos na perspectiva do idlogo ¢ da exposicto que promovem, de preferéncia a associngaio com © contento ritual doméstico, Somente com relaedo a esse primeiro pon- to, jé veremos como, na perspectiva da exposigao, da publicizapao, a presenya © a manifestapao das mulheres em espagos funerérios foram alvo de iniervengdes dos poderes da cidade a0 longo do processo de for: ‘mag da politeda democrética—a crer nos testemunhos romanos tardios de Cicero, “De Legibus”, e Plutarco, Sd/on, Regulave-se a presenga de 8 nos fanerais © procurava-se controlar & ostenlagao pablica de riqueza, tio destrutiva para os princfpios igualitérios da poliieia, A vor © presenga femininas parecem ter sido associadas, aqui, a este display da riqueza e do prestigio de familias importantes, sendo alve, portanio, de limitagbes. Mas essa 6 s6 uma face da mocda. Hé outras, por exemplo, se leva: mos em considerapao, para além da estentagto piblicn da riqueze de Ccertas familias, a eseritura funersria, a epigrafia dos momumentos, Tal vez soja diditico mencionar a este respeito uma diferenga de abordagem 16 Maer Mi or Asonse entre os periodos arcaico ¢ clissico, mais precisamente entre os sémata do séeulo VI a.C. e 05 monémata do sbeulo IV a,C. dedicados a mulheres, Isso porque, nos monumentos areaicos, as epigrafos dedicadas « mulhe- res costumam ser curtas, dirigidas 4 noticia de uma marie ou de uma Esto 6 0 séma de Archiase sua amada inn; Fucosmiides 0 fez bolo; © 0 iio Félimo colacon sabre ele a poca, Atica (Mesogeia); pees demimore,¢. $504. (B. 169) ‘Sou o séina de Mirrina, que mosreu da peste. Atica, sul, démos Ce- hale (at. Keratea); pré-temistocles ¢, 525-500 e.C. (I 170a) Nosses breves exemplos do periodo areaivo (que nfo valem como modelo), observa-se que hi uma preocupacio em dar vor a0 séma, acom= panhada ce uma também frequente preocupagdo em indicar a autoria da bra (a escultura funerdria). O monumento parece, ao menos a ista, terprecedéncia sobre a escritura, Um dos exemplos mais utilizados do periodo vem a ser o sénma ie Frasikleia, a seguir: a de Frasikleia: serei para sempre chamada koré que os ieuses me deram este nome em lugar do cassmento. Ariston Pirio me fez, ‘Arica, Demos Mitrinunte, sée. VI 2.C.; base de estdiua Kore: BE 80) Criosamente, esse s#ma difere, sensivelmente, de exemplares do mesmo periodo, Nelo, o monumento ainda parece ser o que importa, as- sim como autor da obra, Mas entre o monumento eo autor, a moga home: rageada, Frasikleia, fala airaves da eseritura do séma, através do epitéfi, ‘embora este discurso em primeira pessoa possa ainda ser disfargado sob ‘estrutura arcaica do epitifio; &a fala da moga que se evoca, ou & ainda 0 séma, a estitua da koré que se anuncia como tal? Frasikleia carregard Para sempre 0 nome de koré, “moca virgem”, ou para sempre 0 nome dda toré, estatua funeriria de figura feminina jovem, cortespondente 20 kouros, “rapaz, masculino? Esse tipo de monumentalidade acompanha o desenrolar das leis suntudtias que uma tradiego faz remontar a Solon, AAS estétuas vdo desaparecer da paisagem, de modo que umm longo perio do, entre 480 ¢ 430 a C., praticamiente desconhece 0 monumento privado. Hiss Cuaums Barn, 7 ‘Apos esse periodo, as novas estelas funeririas que vio se espalhar pela Atica sto de um tipo novo, verdadeitos mmrémata, “memoriais”, simbolos dlestinados & memétia (in memorian) em que nao importa mais tanto 6 signo distintive, 0 marco de sepattamento (um sinal disso ¢ o desapare- cimento da autotia), No final do petiodo clissieo, quando rosparevem os monuincntos flineririos nas neerépoles atenienses, essa confuséo enire a escritura © ‘© sma nio vige mais. 0 monumento yai se distanciando da fala, do dliscurso promunciado pelo epitéfio, estabelevendo-se entre ambos regis tins diferentes, quero dizer, entre 0 regime visual a0 qual “responds” 0 ionumenta (simbolo, homenagem, lembranga) 0 registro oral pela vor do leitor (interna ou exieriorizada) de um speeeh act (se isso puder ser separido, © que acredito ser apenas umn procedimento heuistico). Nos monumentos funeririos do peciodo clistico, o discurso se especializa, num desenvolvimento que chegari ao periodo helenistico na forma po. Gtica do epigrama, coisa que nds identifieariamos a iin gSnero literdtio lespecifico, I a esse speech act que devemos presiar a atencio gota, entre os diversos exemplos de dedicaydes a mulheres, apenas alguns tém orearacterstca um discurso em primeira pessoa, composto para representar ‘fala da mulher homenageada. A maior parte & eomposta por dedivetérias em ‘eresira pessoa, Vou utilizar aqui, em primeiro lugar, un epjgraonamisto, do {qual gosto nuito, principalmente pelo paralelo que é possivel raga entre cle eum fala ds personagem de Aleeste ua poga de Buripide Saucagds, tienulo de Mélita, Jazagui uma mulher de valor. Amar te de seu amante, homem Onésime, eras a melhor. Por isso agora cle continua famentando a tua morte: eras umn boa snilher, — stu ‘dagSes também, mais querido dos homons, ama os meus, Estla i= neriria prov Pirou, 0, 360 a.C. (GV 1387) “Aleeste ~ (-) Nao pedirel um dom equivalente em retibuigto pois nada & mais precloso que a vida, mas soliitoo que ¢ justo, como vers. Pos tu amas ost fos tanto quanto ov, se tens bom juizo, Cvide ealfo para que em mi- nha ets oles permanesam os mestese nfo tome cura mulher que seria para les madiasta, menos nobre que cue qus, com Inve, se voltaria conta nossos fihos”* (EURIPIDES, Alessi vv, 280 o s5g3). Ver ANDRADE, 2003. 8 Marts Moa ne Aronane Mais uma vez, temas que ter toto 0 cuidate para nao generalizar, nto a regras em exemplares tinicos, como & 0 caso do epiito dedicado | Melita, Nao sabemos, por exemplo, o estatuto dessa mulher — apenas que era casada, tina filbos ¢ era “boa”, chresté, O epitifio traza figura de Melita para um didlogo, em que ela se refere ao seu homem ou sew ma- rido (anér) como “o mals querido”, requisitando que ele “ame os dela’ © que, colocado em contexto, pode sigaificar os filhos do casal, Muitas perguntas pociem ser feiias somentea partir desse pequeno teeho, como, Por exemplo: quem ¢ 0 autor ou o eomanditério do epigrama? Curioso € ue esse comanditério fez inscrever un dialogo em gue a muller requ sita um determinado lugar para seus filbos no faturo do pai, ow n0 futuro dda casa do pai, cuja expeciativa seria normalmente a de que se casaria novamente ¢ tetia outros filhos. Ao reivindicar amor aos filhos, Melita, melhor dizendo, a figura feminina expressa no epitifio de Mélita, reivin ddica um lugas, uma posisfio, ¢ nfo seria equivocado dizer um “poder”. Formulas hordieas, teatrais, reutilizades como o philiat‘andrun, “mais «qustido dos homens”, mansira de Clitemnestra ditigirse a Egisto, ov 0 “emois phileis”, “ama os meus”, medo como « porlerosa figura de Alees- te dirige. conceriado Admeto, Msis curioso ainda 6 que Mélita cesta morta, ¢ quem reproduz esse discurso de autoridade feminina nto & ‘a prépria mulher, mas 0 comanditirio da pega! De uma frigil requisicto de direitos, poderiamos passar a um espago socialmente mutorizado d i das mulheres: espago que, embora gerencindo pelas fatnlias ¢ seus rtuais, era, essencialmente, pibico. Sobre isso, se nso bastasse 0 que jé evocamos sobre o paralelo entre as leis funerdrias ea formagao da polis democratic, podemos ainda citar cexemmplos da expectativa de exposigio e publicizayao insexitos no prdprio epitifio, como no caso que se segue: QUERIPE, O melhor elogio que eatre es homens pode alcangar urna mulher, no mais alto grau o havia alcangado Queripe em sua motte, Aos meus fllhos deixou a lembranya de sua virtude, Esela fmeritia prov. Pireu, c. 385 2.C. (GY 891) A expectativa do epigrama de Queripe no deixa dividas sobre 0 ceardier agonistico expositivo da inscrigdo: uma competigao entre mu Histien 5 Coun Escnta 9

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