You are on page 1of 12
[issw: otor-araa CONSIDERACOES SOBRE A AVALIACAO DA GORDURA CORPORAL ATRAVES. DA DETERMINAGAO DOS VALORES DE DENSIDADE CORPORAL E DA, ESPESSURA DE DOBRAS CUTANEAS Dartagnan Pinto Guedes* Renan Maximiliano Fernandes Sampedro? RESUMO Objetirouse com este estudo, a0 realizar uma revisio da literatura especializada, oferecer substdios que pudessem servir de embasamento necessirio @ melhor compreensio do assunt, “wvaligo da gordura corporal”. Assim, num primero mo- ‘mento, procurow-se abordar aspectos bisicos relacionados coma determinagio da gordura subcutdnea, analisando as diferen- tes implicagdes na medida das espessuras de cobras cuxdnens. Na seqiiéncia, entow-se exantinar os principios Rorteadores da pesagem hidrostitca, como recurso nos céleulos da densidade corporal, procurando relutar suas aplicagdes ¢ lomitagdes na ‘valiagdo da gordura corporal. PALAVRAS.CHAVE: gordura corporal, densidade corporal, espessura de dobras cutaneas, 1 INTRODUGAO ‘A obesidade 6, sem divida alguma, iam dos mais impor tantes problemas de satlde pablica na moderna sociedade. Esta situagdo referese a0 fato do excesso de gordura & niveis criticos estar relacionado com indmeras doencas degenerativas, como por exemplo, diabetes, hipertensio, arteriosclerose, distrbios renais, osteoratrite, desvios posturais, além de contibuir para um aumento na ocortén- cla de cirrases (BROWNELL & KAYE®). Ainda, a obest dade também pode ocasionar consideriveis problemas psicoldgicos ¢ sociais. Através de estudos desenvolvidos por COATES & THORRESEN’, constats-se que agueles indi- viduos considerados obesos tendem a apresentar grandes distorgdes da propria imagem corporal, além de um baixo “auto-concelto”, associado a uma maior incidéncia de perturbagGes emocionais. Em suma, a obesidade poderd trazer, como conseqiiéncias, anormalidades tanto no aspec: to figico, como psicol6gico © sécioemocional, fazendo com que, numa populagHo obesa, seus integrantes tenham, lum nivel de vida significativamente inferior quando comps- rados com individuos ao obesos Por outro lado, considerando que @ prevengdo ainda ¢ ‘a methor terapia para a obesidade, acredita-se que sua ava- Tiago, procurando dingnosticar o excesso do adiposidade (© mais precocemente possivel, se toma de fundamental importancia no contexto de satide dentro da érea da edu: cago fisica. A tradicional definigao de obesidade para classificagio de populagdo é quando @ peso corporal excede a0 peso esperado para sug estatura e idade em 20% ou mais. Des se modo, 0 método mais usual na avaliagz0 do indice de gordura consiste de tabelas nas quais 0 peso corporal pode ser determinado com base na idade, sexo e estatura. Para 0 estabelecimento destas tabelas, utiliza-se da avaliagio de uma grande amostra de individuos pertencentes a uma po pulagdo de mesma idade, sexo e estalura, cujo 0 peso corporal médio é computado e considerado como 0 peso normal para todos os individuos daquela populaao. Entretanto, observa-se que este procedimento se toma bastante defasado quando sio exigidas avaliagdes bem ‘ais precisas, haja vista que © peso corporal consiste de um aglomerado de componentes como ossos, misculos, vis- eras, flufdos corporas, tecido nervoso e gordura, podendo cada vm destes componentes apresentar uma considerével variagdo na constituigé0 do peso corporal de um indivi duo para outro, Neste sentido, YOUNG*? destaca que num organismo humano normal, os componentes que causam maior variae ¢40 no peso corporal total seriam os misculos, ossos ¢ gordura. Ainda, para este mesmo autor, 0 que comprova a obesidade ¢ 0 excesso de tecido gorduroso, ¢ nfo 0 ex: cesso de peso, Deste modo, é possivel que, em certos casos, determinados individuos, com um elevado peso corporal, a0 serem comparados com suas respectivas estaturas, possam nfo ser considerados, necessariamente, obesos, fazendo com que, 0s altos valores do peso comporal sejam, Mestre om Cidecias do Movimento Departamento de Fundomentor em Edvcanio Fisica —CEFD Doutor am Fisiologia do Esforgo Professor do Centro de Educacio Fisica # Desporto de UFSM 160 GUBDES & SAMPEDRO resultantes de um grande desenvolvimento muscular associa do a uma solida constituigao 6350, ¢ nfo em fungdo de uma elevada quantidade de gordura. Fm contrapartida, nem sempre um maior peso corporal treduz um desenvolvimento favoravel dos componentes muscular ¢esquelético para uma determinada idade ¢ estatura, este maior peso corporal pode estar sendo compensado por uma excesiva quant: dade de gordura em detrimento aos outros componen- tes corporas, caracterizando assim, a obesidade Conseqiientemente, individuos que séo considerados besos pelas tabeles tradicionais de peso corporal e esta tura, podem ser simplesmente pessoas com um maior desenvolvimento musculoesquelético, ¢ inversamente, indi- viduos que sio considerados “magros” por apresentarem uum baixo peso corporal para sua estatura, podem, na reai- dade, mostrar um menor peso comporal em fungdo de de- ficiéncias no desenvolvimento muscular e/ou na minerali- zagto 6ssea,¢ ndo na quantidade de gordura ‘Um dos primeitos estudos a evidenciar a inadequagio da utilizagéo das tradicionais tabelas de peso corporal e esta- tura na avaliacio da obesidade foi realizado jé na década de quarenta por WELHAM. & BEHINKE?” que, utlzando- se de atletss profissionais de futebol americano, observa- ram um peso corporal médio 24,6% acima dos padroes normais para homens de mesma idade ¢estatura. No entan- to esses atletas foram considerados individuos realmente “magros”, no sentido de tere um baixo contetido de gordura medido através de procedimentos laboratorais. Assim, prontamente, foi constatado que a pritica comum de determinar o grau de obesidade através da comparagio do peso corporal com a média do peso para a mesma esta tura, sexo e idade era inapropriads para ums avaliagdo mais exata. Em conseqiiéncia deste fato, estudos mais atuais sobre a obesidade tendem 2 desconsiderar o peso corporal (otal, analisando © problema através de uma estimativa ais rea] dos diferentes componentes corporais, perticular- mente da gordura, para que se possa deteminar com maior previsio o indice de obesidade Considerando este aspecto, ¢ com o propésito de ofere- cer malores facilidades e clareza no momento da andlise, nos sltimos anos, tomow-se habitual, entre os estudiosos da area, considerar a composigao corporal sob 0 aspecto de um sistema de dois componentes ~ a massa corporal isenta de gordurae a pr6pria gordura corporal. ‘A massa corporal isenta de gordura ou 2 massa magea referee, teoricamente, a parte do peso corporal total que ppermanece apés toda a gordura ser removida, Sendo, entao, formada pelos sistemas muscular e esqueltico, pele, 6rgios, além de todos outros tecidos nao gordurosos. Desse modo, quando 0 conteiido de gordura € conhecido, a massa cor. poral magra pode também ser determinada pela simples subtrégdo aritmética do peso corporal e, consequentemen- te, ambos componentes, gordura e massa magra, podem ser determinedos paralelamente no organismo de um indivi duo. Por outto lado, para a avaliago da gordura corporal po dem ser utilizados tanto procedimentos de determinagaa direta como indireta. Segundo BEHNKE & WILMORE’, Semina, 6(3): 160-171, 1985 0s procedimentos de determinagZo direta seriam aqueles ‘onde o avaliador manipularia diretamente @ gordura do cor: po “in loco”, enquanto que, os procedimentos indiretos seriam aqueles utilizados a partir de princfpios quimicos e fisicos com 0 objetivo de extrapolagao da quantidade de gordura corporal Para a determinagao direta, 6 necessério que os dil rentes tecidos do corpo sejam cuidadosamente desseca- dos, © que normalmente é feito em animals. Contudo, apesar da alta precisto, os estudos em animais de laborato: rios sdo de utilidade limitada quando relacionados quanti tivamente com estudos da composi¢go corporal do homem. Estas limitagoes referem-se, principalmente, és diferencia (962s sexuais, onde, por exemplo, sabe-se que 0 sexo femini- no de qualquer espécie animal apresenta uma maior quanti- dade de gordure do que o masculino, sendo esta relagzo varidvel de espécie pars espécie e, sabe-se ainda, que estas, Giferengas no homem so aparentemente maiores do que fem alguns snimais de laboratério (SPRAY & WIDDOW- SON?*) Por este motivo, & sensato que 0 exato conhecimento da gordura corporal do homem e suas relevéncias meta blicas e funcionais sO devam aparecer, fundamentalmente, através de estudos no proprio homem. Como uma deter minagio diteta implica em ineisbes no corpo, no homem, obviamente, esse procedimento s6 toma-se possivel ser realizado em cadéveres, portanto, embora andlises da gor dure corporal weatizadas diretamente sejam fundamentais © oferegam © suporte tebrico para os métodos indiretos, so a8 técnicas indiretas que possibilitam, aos especialis tas, avaliar @ componente de gordura em individuos em vida, Para MENDEZ?®, a determinaggo indireta da quanti- dade de gordura corporal poder ser realizada através de cinco eritérios: a) quantidade de égua no corpo; bb) excregao urinéria de creatina; ©) concentragao de potissio no corpo; 4) provedimentos densimétricos;e ¢) medida da espessura do tecido subcutaneo. Objetivamente, através de estudos realizados por CURE: TON, BOILEAU & LOHMAN comparando a aplicabilida- de dos diferentes critérios indiretos de determinaggo da ‘gordura corporal, é possivel verificar que as discrepancias observadas entre os diferentes métodos so atribu das mais exatamente téenica de medida do. que as prprias varia ¢0es biolégicas. No entanto, a sofisticagdo destas metodo- Jogias, aliadss ao grande sacrificio por parte dos avaliados nna obtengd0 dos resultados, através da utilizagio de algu- ‘mas dessas técnicas, fizeram com que os procedimentos densimétricos e a medida da espessura do tecido subcuté neo fossem os procedimentos mais difundidos em nosso A utilizago dos procedimentos densimétricos 6, nor- malmente, operacionalizada através da técnica da pesagem Aidrostatica, bascando-se no principio de que a densidade a gordura corporal 6, consideravelmente, menor em rele: go a dos outros componentes do corpo. Assim, quanto 161 GUEDES & SAMPEDRO ‘uaior @ proporgo de gordura, menor seria a densidade de Yodo 0 corpo. Em contrapartida, a medida da espessura do tecido subcutneo, como provedimento da determinagao do componente de gordura, esté alicergada na observaga0, de que grande quantidade de gordura corporal total se ¢ contra debaixo da pele e, desta forma, a espessura da do- bra cutanea serviria para determinar 2 gordura localizada naguela regito do corpo. Conseqientemente, a grande diferenga da técnica hidrostética sobre a mensuraggo da espessura do tecido subcutdneo estaria em que os valores de densidade corporal traduzem as caracteristicas da gor- dura total, enquanto que os valores. das dobras cutaneas informam, ‘simplesmente, as ceracterfsticas da gordura localizada subcutaneamente, ‘Ao considerar todo este contexto, e ainda, a situagdo de que 0s valores de espessuras das dobras cutdneas, assim como da densidsde corporal, wém sendo utilizados em grande escala na determinagso da gordura corporal em ‘nosso pais, pretendeu-se com este estudo, ao realizar uma breve revisto da literatura especializada, oferecer sub sidios que pudessem servir de embasamento necessério a melhor compreensio do assunto. Assim, num primeiso momento, procurowse abordar aspectos bisicos relacio- nados com a avaliagdo da gordura subcuténea, analizando as diferentes implicagoes na determinagdo das espessuras de dobras cutdneas. A seguir, tentouse examinar os prin cipios norteados da pesagem hidrostatica, como recurso. ra determinagio da densidade corporal, procurando relatar suas aplicagoes e limitagdes no edlculo da gordura corporal 2. GORDURA CELULAR SUBCUTANEA. De inicio, as medidas de espessura das dobras cuténeas, segundo a literatura especializada, podem ser realizadas por meio de placas radiogrificas, ultrasonografia, ou ain- da, através de compassos especialmente construidos paraes- te fim. No entanto,’ através de inimeros estudos, obser- vase uma certaidentificagéo entre estas 8s técnicas Um dos primeitos pesquisadores a utilizar as medidas de raio X, como recurso na avaliagao da espessura do tecido subcuténeo, foi HAMMOND!®. Bste autor encontrou correlagdes em toro de 0,80 a 0,90 entre valores obt: dos, através desta técnica e, por compassos, chegando até mesmo, propor equagdes de regressdo vilides para vinos locais do corpo, com 0 intuito de transformar as Ielturas ‘por compassos em leituras por raio X. GARN'* também realizou um estudo comparativo entre a relagdo da espessura de dobras cuténeas analise as por raloX e por compastos. Para tanto, analisou valores de dobras cutdnees a nfvel da linha auxiller média, obtendo um nivel de concordancia entre os dois métodos bastante elevado, r = 0,8. O interessante deste estudo foi a existéncia de uma redugéo em aproximadamente 35% rnos valores da espessura das dobras cutfneas medidas por compassos, comparativamente com aquelas ralizadas com raio X. Desse modo, 0 autor propos uma multiplicagao nos valores de dobras cutineas medidas por compassos pela constante 1,3, no obtendo qualquer diferenga sig- 162 Seming, 613): 160-171, 1985 nificativa entre os dois métodes. Por outro lado, quanto z técnica da ultrasonografia, esta vinha sendo utilizada com maior freqiiéncia na avalia- go da gordura subcutinea de animais domésticos, no entanto, WHITTINGHAM? apés algunas modificagdes na :metodologia original, deixou uma favorvel impressao quan- to 20 seu uso em pequenos grupos de seres humanos, Passados alguns anos, BOOTH, GODDARD & PATON? levantaram a possibilidade das medidas por ultra-som da gordura subcutinea serem mais fidedignas do que por compasso. No entanto, nos estudos realizados. por SLO- |AN?S, estes achacos’ ndo se confirmam, sendo observa- das semelhangas bastante acentuadas entre os valores de dobras cuténeas medidas por ultrasom ¢ compassos.. Desse modo, somos levados, em principio, a considerar que, em fungio do menor custo, da rapidez na medida, e, ainda, pela relstiva simplicidade de interpretagio, atual- mente os valores de espessura das dobras cuténeas obtidas, por compasso é, sem diivida alguma, o método mais indi- cado, em temos priticos, para o estudo da gordura_sub- cuténea. No entanto, quanto a utilizagéo desses compss- 508, vérios tipos tém sido advogedos e utilizados, além do ue, sabe-se que as leituras obtidas por eles estao diretamen- te relacionadas com suas caracteristicas. Os primeiros compassos, usados para a avaliagdo da es- pessura das dobras cuténess no homem, surgiram no final do sBoulo pasado com RICHER (BROZEK & KEYS*). A pact de entao, iniimeros outros foram preconizados, sendo que, tr8s deles t8m recebido a preferéncia dos pes- quisadores, os do tipo HARPENDEN ¢ LANGE de proce- déacia estrangeira, eo do tipo CESCORF de fabricagio na- ional Dentre as diferentes caracteristicas apresentadas.por esses compassos, duas delas sGo de fundamental importtn- cia, a pressdo exercida por sua mola e a superficie de con- tato com a pele. Assim sendo, com © propésito de verifi- car a influéncia dessas caracteristicas no resultado dos va- lores de espessura das dobras cutneas, EDWARDS, HAM- MOND, HEALY, TANNER & WHITEHOUSE? ‘ealiza- ram um estudo onde foi constatado que as dimensdes das superficies de contato dos compassos nao é um fator importante a considerar, porém, que a pressto exercida nas dobras apresenta um significative papel, no somente na espessura observada, mas também, na consisténcia com a qual as medidas podem ser repetidas, Os autores observaram, aida, que a presséo ideal seria aquela dentro de um indice de 9 2 15 gimm?. Conseqiientemente, diante desse quadro, verificase que 0s {18s compassos citados, apesar de se diferencia- rem quanto 20 formato e dimensoes da superficie de contato, podem apresentar valores realmente confidveis, haja vista que a pressfo exercida por eles estariam dentro dos limites preconizados como ideal, 10 g/mm?, No entan- to, convém salientar que periodicamente faz-se nevessério uma aferigzo da pressdo exercida pelas suas molas, em raz30 do desgaste natural de seu proprio uso constante. Por outro lado, um dos principais estudo realizado sobre a validade da espessura de dobras cutineas determi- GUEDES & SAMPEDRO. nada por compassos, na avaliagZo da gordura subcutinea, foi realizado por LEE &NG*S. Os autores, 20 utiliza” remse de cadiveres, observaram um coeficiente de corre- lagdo, r= 0,84, entre leituras por compastos e a espessura do tecido subcuténeo medido diretamente, numa incisio realizada no mesmo lugar onde se colocou 0 compasso, Alicergados em todos esses estudos, a grande maioria da comunidade cientitica vers admitindo que a determi= nagdo das espessuras de dobras cutaneas, através de compas- 05, tem mostrado ser uma excelente opgo na avaliagao do indice da gordusa corporal, até mesmo em ostuds que exi- jam um alto nivel em termnos de precisao de medidas. Como ressalva, hi de se considerar, alguns fatores que pos: sam afetar seus valores, uns decorrentes da propria tée- nica de medida, outros, resultantes dos chamados erros “intra ¢ interavatiadores”. Os fatores de erros provenientes da técnica de medida seriam — aqueles observados no momento de destacar a gordura subcutinea dos tecidos mais pro: fundos, ou ainda, pela utlizag ‘trumento de medida, Inicialmente, 20 consultar a literatura especializada no assunto, encontrase um consenso geral entre os pesquise dores, em que © procedimento correto para medir a espes sura das dobras cutaneas seria destacar, firmemente, com os dedos polegar e indicar, uma poseo de pele juntamente com a gordura subcutinea, desprendendo a dobra cutanca do tecide muscular, seguindo seu sentido natural, quando, centio, a espossura é medida aplicando 0 compasso em sua base, 2 aproximadamente um centimetro do ponto exato de modida. Com isto, 0$ valores de espessura das dobras cutdness fo consignados através da composiggo de duas ccamadas, cada uma incluindo a pele e alguns tecidos sub- ccutaneos, contendo além da gordura, outras estruturas go adiposes. Quanto a influéneia da pele © dessas outras estruturas ‘ao adiposas no resultado das medidas de espessura das dobras cutaneas como recurso na avaliago da gordura corporal, muito se tem discutido. Jé em 1950, EDWARDS havia observado que, em média, a espessura da pele é de aproximadamente um milimetro. No entanto, LEE? mostrou que esta espessura pode variar de acordo com a dade © 0 sexo dos individuos que esto sendo avaliados, e principalmente, em fungao das diferentes regioes do cor- ‘po que esto sendo medidas. No entanto, um outro aspecto a observar, refere-se as diferengas sexusis no momento de destacar a gordura subcutinea dos tecidos mais profundos. Ainda, LEE & NGS, demonstraram em seus estudos que, aproximada- mente, até a faixa etéria dos 11 anos nfo existe qualquer Giferenga na comparagao dos valores reais da goxc subcuitinea, determinados através de incises no local, ¢ os valores obtidos por compassos entre ambos 0s sexos. Entretanto, aps esta faixa etéria, o sexo feminina apresen- ta valores através da leitura por compassos menores do que © masculino, para uma mesme quantidade de gordura real ‘Varias hipoteses podem ser levantadas procurando dos compassos coma ins: Seming, 6(3): 160-171, 2985 explicar este aspecto, porém, areditase que o fito da mu- lher apresentar uma pele, tooricamente, mais fina, além do que, as mulheres tenderem a epresentar um menor desenvolvimento muscular e, deste modo, provavelmente, sua pele ¢ a tensfo da tela adiposa se mostrarem com me- ror participagio nas leituras por compassos, melhor just fiquem essas discrepaincias. ‘Ainda, evidéncias de que a compressibilidade des dobras ccuttness, ov seja, a propriedade de elasticidade tanto da pele como da gordura subcutinea, também apresentar algome influéncia nos resultados de suas espessuras, toma se mais um facor 8 Considerar. BROZEK & KINSEY (1960) estudaram a compresiblidade das dobras eutaneas em su- jeitos do sexo masculino, ¢ observaram uma tendéneia para tum aumento com a idade, embora, isto tenha sido estatis sicamente sigificante em somente duas das quatro regides medidas, Provavelmente, este fato se estenda as mulires, tendo em vista que YOUNG, BLONDIN, TENSUAN & FRYER", observaram através de seus estudos que existem, aparentemente, pouca alteragZo no indice de gordura sub: ccuténea/gordura corporal total, avaliada respectivamente através de compassos e métodos densimétricos, em mulhe- tes alé a idade de 4550 anos, no entanto, em mulheres com mals idade, a proporgi0 de gordura no tecido sub- euténeo tornou-serelativamente menor Os autores procuraram afirmar, que este acréscimo com 2 idade do nivel de compressibilidade, possa ovorrer devido 4 diminuigdo na quantidade de Agua dos tecidos subeuts nos, Por outro lado, complementando 0 assunto, MALI NA?” afirma,ainds, que além da idade, o grau de compressi- bilidade, envolvido na medida da espessure das dobras etaneas, pode variar em fungio do local a ser medido, do sexo ¢ de individuos para individuos, podendo in- fluenciar, desse modo, em seus resultados. Em suma, os Tatores de ertos provenientes da t€cnica de medida, ‘na determinagéo das espessuras de dobras cutaneas através de compassos, podem se restringit a trés aspectos bisicos: 2) a influéncia do sexo, da idade € da reyido do corpo a ser medida, na consignacao da espessura da pelo; b) a maior ou menor participagso da tensto da tela adiposa, em consoquéncia dos diferentes niveis de desenvolvimento muscular; ¢ «) 8 partcipagao do indice de compressibitidade da pele fe da gorduza subcutinea nos resultados da leitura Quanto 20s erros intra e interavalialores, estes estio relacionados com a experiéncia com 2 propria técnica que os diferentes avaliadores deverio apresontar. Segundo LOHMAN?$ 0s erros intraavaliadores, podem ser defi- nidos como sendo as dificéncias de um mesmo avaliador em obter resultados idénticos em repetidas medidas de es pessura das dobras cuténeas num mesmo avaliado. Em con- trapartids, os ertos interavaliadores so caracterizados pelas discrepincias observadas numa série de medidas realizadas, rum mesmo grupo de sujeitos, por dois ow mais avalia doves Por outro lado, o nivel de experigncia que um avaliador deveré apresentar, para que as medidas por cle obtidas 163 GUEDES & SAMPEDRO sejam realmente vilidas, dificilmente pode ser pré deter minado, no entanto, admite-se que somente aps um longo tempo de pritica, é que se poderé adquirie a experisneia nevessiria a obtengao de valores realmente considveis. Neste sentido, BURKINSHAW, JONES & KRUPOWICZ (1973) realizaram um interessante estudo 20 comparar 05 valores de espessura das dobras cuténeas obtidos por trés diferentes avaliadores. Um deles apresentava virios anos de experiéncia com a téenica, enquanto os outros. dois eram relativamente inexperientes, Nas primeiras ‘medidas, os locais foram marcados na pele pelo primeiro avaliador, porém, nas medidas seguintes, cada avaliador identificou 0s locais por si mesmo. Quando os locais foram marcados, 0s valores encontrados pelos trés avaliado- res estavam em conformidade, entretanto, quando os locais, go foram marcados, os avaliadores menos experientes obtiveram valores médios em tomo de 2 mm matores do ‘que aqueles obtidos pelo avaliador mais experiente, Ainda, considerando este mesmo ponto de vista, além da experiéncia do avaliador com a téenica adotada, a mag. gnitude desses ertos pode variar depensiondo da regido a ser medida, além do indice de gordura apresentado pelo sujeito a ser avaliado. Quanto as regides a serem medidas, EDWARDS (1950) menciona a existéncia de 93 possiveis locais onde uma dobra cuténea posse ser destacada, No entanto, as dificul: dades do dosprondimento do tecida subcutaneo das estru- turas mais profundas, juntamente com a possiblidade dos tecidos de algumas dessas regibes serem demasiadamente fllbrose, fazendo com que as dobras cutineas apresentem baixa consisténcia em seus valores, fizeram com que este mimero fosse reduzido sensivelmente nos dias de hoje Por outro lado, em razfo da distribuiggo do tecido adiposo subcutaneo no ser uniforme em todo 0 corpo, MENDEZ?® chama a atengdo para a utilizagso de medidas de espessura de dobras cutaneas reslizadas em varios locais, para que se obtenha uma visio mais significativa quanto 20 seu comportamento de forma geral. Neste sentido, intimeros pesquisadores aconselham a utilizagao das dobras. cutdneas que satisfagam a tr8s condigbes essenciais 1) representagao de regides conhecidas por mostrarem sgrande variagao na gordura subcutanea; bb) regibes representativas tanto do tronco como das extremidades; ©) regides que apresentem facilidades de localizagao, Com 0 objetivo de verificar aqueles locais utilizados com maior freqlgncia entre os pesquisadores, quando de es- tudos catacterizando a distribuigdo e as dimensbes da gor- dura subcuténea em adultos de ambos os soxos, realizou- se um levantamento em inimeras pesquisas publicadas procurando evidenciar suas preferéncias. Como pode ser verificado através da tabela 1, entre as dobras cutaneas loca lizadas no membros, este levantamento demonstrou uma ni tida preferéncia por aquelas destacadas nas regites do triceps e da coxa. Em contrapartida, no tronco, as dobras cuténeas preferidas foram aquelas localizadas nas regides apular, abdominal ¢ supra-iac, Seming, 6(3): 160-171, 1985 TABELA | — Levantamento da utilizagao de espessura das dobras cutineas em diferentes. estudos de gordura corporal em adultos* Masculine Feminino Abdominal Ig 7 Suprailiaca 16 20 Axilar média u n Peitorsl 9 Subescapular 23 Tricipital 25 Bicipital 5 6 Coxa n n Joelho 4 4 Panturritha Medial 5 6 Face 5 6 * Foram considerados a partir de uma revisio em 27 estudos publicados. Quanto a0 indice de gordura apresentado pelo sujeito 2 ser avaliado, observa-se que, repetidas medidas em uma re 180, realizadas pelo mesmo avaliador, concordam, mais estreitamente, para valores menores do que para altos valores. Deste modo, é sensato admitir que 2 margem dos erros inter ¢ interavaliadores aumente proporcionalmente as dimens6es das medidas. Ainda, quanto a estas discrepén- cias, existe unanimidade, entre os pesquisadores da rea, para que a precisio de uma mesma medida seja tal que ‘um avaliador, ao repetir duas ou trés leituras consecu- tivamente, no encontre uma variagdo maior do que 5% cem seus valores. Especificamente quanto a0s_ertos_interavaliadores, provavelmente, estes venham também a correr pelo fato Ga no existéncia ue referéncias, quanto a exata locali- zagdo © definiggo de cada regia medida, Neste aspecto, RUIZ, COLLEY & HAMILTON®? ao analisarem a espes- sura da dobra cutdnea tricipital observaram que, se 0 ponto de aplicagao do compasso fosse em 2,5 centimetros proxi ‘mal, distal, medial ou lateraimente do ponto exato que a espessura da dobra cuténea deveria ser medida, poderia ccausar uma alteraggo na leitura de aproximadamente 2 a 3 mm, Portanto, baseandose nestas afirmagoes, e considerando possibilidade de cada avaliador, individualmente, dife- rir em suas localizagdes para qualquer regio de medida, © que é amplamente dmissivel, tendo em vista as dife- rentes padronizagbes existentes, acyedita-se que nio se pode descartar @ possibilidade de ocorréncia de etvos sistemdti- cos, denominados interavaliadores, quando da realizagdo de anilises comparativas entre sujeitos avaliados por dife- rentes pesquisadores. , diante desse quadro, uma questao surge: Como controlar os etros intra ¢ interavaliadores? Por tudo aquilo que foi colocado, percebe-se que isto é prati- ccamente impossivel, porém, o avaliador devers ter sempre algo em mente, procurar minimizé-los ao méximo. GUEDES & SAMPEDRO E, se isto & verdadeiro, como quantificar esses erros? JOHNSTON, HAMILL & LEMENHOW?° num impor tante estudo sobre 2 gordura subcuténes de populagoes infantis dos Estados Unidos, precuraram desenvolver um étodo com esta finalidade, 0 quil consistia do céleulo do desvio padrio das diferengas entre consecutivas medidas realizadas pelo mesmo avaliador (intra-avaliador), ou por diferentes avaliadores (interavaliador), dividido pela raiz, quadrada de dois. Em outras palavras, através da seguinte formula: onde: @ Xz sf medidas da espessura de dobras cut nneas realizadss pelo mesmo avaliador, ou por diferen tes avaliadores. través de um amplo estudo sobre a gordura corporal através da mensuragdo das espessuras de dobras cutaneas em universitirios, GUEDES!® procurou detenninar 0 in dice do erro intre-avaliador pare 0 pesquisador que realizou as medidas do estudo (tabele 2), encontrando valores que se indentticem com aqueles obsenados por LOHMAN?S, apés uma reviso. em indmeros. estudos. Desse modo, acreditase que estes possam ser os indices aceitiveis para os ert0s intracvaliadores em populagdes jovens Por outro lado, 20 serem considerados os errosintera valiadores, segundo a literatura, estes podem atingr in dices, aproximadamente, duas vezes maiores do que os exros intreavaliadores (JOHNSTON, HAMILL & LEMES HOW?®), Procurando analisar @ avaliegdo da gordura subcut nea sobre um outro ponto de vista, visos estudos inicia dos por EDWARDS'!, tém demonstrado que, quando tum grande ntimero de’ medidas du espessura de dobras ‘TABELA ~ Indices dos erros intra-avaliadores observado. ‘nas medidas de espessurs das dobras cutaneas realizadas em universitarios. omens Mulheres (N =10) (NW = 10) ‘Tricipital 0,83 0,94 Subescapular 0,56 087 Bicipital 0,54 0,69 Axilar Média 0,68 0,59 Supre-ilface 1,26 1s ‘Abdominal 1,07 104 Coxa 1,26 1,62 Panturrilha Medial 0,72 0,81 Semina, 613): 160-171, 1985 cuténeas so realizadas em diferentes sujeitos da popula do em geral, esses valores no seguem uma curvs de distri buigdo normal, demonstrando uma distribuigdo de frequén- cia, consideravelmente, assimétrica, com uma acentuada inclinaggo para valores mais elevados. Certamente, este fato implica que a maioria da pepulapdo apresenta uma quantidade “norma” de gordura subcuténea, porém, existe maior proporedo de sujeitos ccm excesso do que com caréncia deste tipo de gordura. Considerando este fendmeno, as possiveis generalizagoes, principalmente de ordem estatistica, que possain ser extra das de estudos desse tipo, deverdo ser ralizadas com extre- ‘ma cautela, 0 que levanta algumas davidas quanto a compa- ragdo pura e simples entre diferentes amostras dos. valores de espessura das dobras cutineas, obtidas pela leitura dire ta nos compassos. Por este motivo, para 2 realizagdo de uma simples andlise estética dos valores de dobras cutaneas, al: ‘guns pesquisadores, acentuam a necessidade de transfor mar o$ valores em termos absolutos para uma escala loge iitmica, procurando —“normalizar” a distribuigio. dos valores observados. ‘Ainda, quanto 2 interpretagdo dos valores de espessura das dobras cutineas, MCARDLE, KATCH & KATCH?® destacam a existéncia de duas alternativas. & primeira, seria considerar os valores da espessura de cada dobra cuta nea separademente, oferecendo informagdes quanto a dis tribuiggo relativa da gordura subcutinea de regio para regio, num mesmo individuo. Por outro lado, 2 segunda alternativa, seria 2 utilizagdo do somatério dos valores ob- servados em varias regides, refletindo uma indicagdo quanto A gordura subcuténea total. Neste caso, esses mesmos autores aconselham que, quanto maior 0 némero de regides medidas, maior representatividade se teré da gor dura subeutinea total. Reforgando esta hiptese, DURNIN & RAHAMAN? afirmam, que a utilizagao de méltiplas dobras cutdneas pode, também, reduzir os efeitos dos erros de medida, aque se tomam eriticos, quando somente um ou dois valores esto sendo usados na estimativa da gordura subcutanea total 3. GORDURA RPORAL TOTAL No hi divide de que um dos métodos indiretos de maior validade, utilizado na avaliagZ0 da quantidade de gordura corporal total, envolve a determinagio da den- sidade corporal. Por outro lado, define-se densidade cor- poral como sendo a relag0 do peso total pelo seu volume, sendo que, com base nos principios propostos pelo mate, matico grego ARQUIMEDES, hi milhares de anos atrés, © volume corporal pode ser determinado por intermédio de ‘uma pesagem hidrostética Neste sentido, a técnica da pesagem hidrostitica est alicergada no principio de que o volume de um objeto agual a perda de seu peso quando totalmente submerso. Conseqtientemente, o volume corporal pode ser computado a pattir do cileulo do peso corporal real, ou seja, 0 peso do individuo determinado em condigées de meio ambien- te, € do peso corporal medido durante sua total imersio 165

You might also like