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——————————————————__— @~ LjyouAE LITERATURA: MACHADO DE ASSISNASAIA DEAULA, em que a capital da Replica Rio de Janeizo, que atingiza meio milo de 3 A MISERIA HUMANA CONTRA O SISTEMA habitantes no final do Impéri, continuava a ser essencialmente agricola Com uma consciéncia ritiea agusada, desconfiado do progressismo do final do séealo XIX, Machado demonstrava uma verve ciustica, mas nfo de sencantamento. Acima de tudo, ndo perdeu totalmente as ilusdes, mostraya= ver crente no futuro: “Na crise moral deste fim de séeulo, a decretagio da consciéncia é um grande ato politico deste fim de século” Leiamos a crénica de 9 de abril de 1893 como se o Mestre a tivesse cs crito diretamente para oletor de hoje, pensando sobre outro fim de século, Alexandre Huady Torres Guimasies! sobre novas ilusdes particulares, necessias neste momento: “Pode criarse Elaine Cristina Pra dos Santos? ssi uma geracfo capaz. de encarar os tremendos problemas do futuro refazer o carter humano” (Machado de Assis, 1996: 222) Lembre-se letor de Machado, o leitor deste capitulo, que o significa do da exerta varia de acordo com sua prépria viveneia, que nio atua inde= yenlentemente mae & mn dos elementos da comunidade interpretstiva du histdria da escravidéo tem origem hist6rica em raizes pro- 1 fundas da Antiguidade remota, pois se encontra na Meso~ onforma o modo como o Ieitor compreende o texto. A ideia de interpreta potimia, entre os hebreus, entre os gregos, entre 0s roma~ fo diseurida aqui é de quea verdade teria €caeidoseSpic:fatos roxton ros, entre os celtas e entre virios outros povos. Mas 6 a Shras passam a ser conhecidosnio por interpretagdesisoladas«porticularey imagem da escravidio resgatada pelos impérios coloniais mas sim pelo conjunto delas, também pelo dislogo e discussie das inden interpretagbes fits em diferentes momentos: interpretagbes se avolumamy std guardada em nossas memérias P sao mais abrangentes por incluirem as anteriores, ainda que em desarmonity Com o declinio do cométcio, basicamente de especiarias, promovid * eciatias, promovido pe- Jos europeus com os asiat c ee op asiaticos ¢ com os africanos, tanto 0s mercadares quan- falava em 10 de julho de 1892, falacé hoje, ala sempre e, com sua genial dade, dira que tem horror a toda superioridade, x de agora as crdnicas machadianas. Aquele q to as monarquias eurupeias vol s ree ;peias voltaram os olhos para as coldnias americanas, onde, scb © regime mercantilista, mantinham a posse das terras coloniais, ‘mas declararé, indubitavel: = exploravam essas terras e, assim, acumulavam riquezas p: tr6pol ara as metrépoles mente, sua transcendentalidade: jue fortaleciam seu pod iam seu poder, Deve-se lembrar que, em fungio dos intere ‘Alem diseo,nasc com certo orgulho, que hé agora hé de morrer comigo. Néo) paar to que os fatos nem os homens se me imponham por si mesmos, Tene hor ‘Eu é que os hei de enfeitar com dois ou trésadjetivos, wma dias necessidades metropolitanas, as colénias eram organizadas por sua ex- ploragio e por seu pow toda superioridade. eeoey Fee povoamento. 1 pied clissia, 8 Mas gales de estilo, Os fatos eu que os hei de dell vramcaondentes os homens, cu & que os hei de aclamar extraordindvios (Mach Mestre em Comunicago ¢ Letras pel o Letras pela Universidade Presbiteriana Macke sho. m Letras pela Universidade de S¥o Palo, ae Shas 109685) irae ‘So Paulo, Profesor no curso de Letras da Universidade Presbite- Mestrae doutora em Letras pela Universidade de So Pa yw do Universidade Presbiteriana Mackenzie , a Professora do cutvo de Le LINGUA © LTTRATURA: MACHADO DE ASSIS NA SALA DE AULA —ay >A wstaia HUMANA CONTRA O SISTEMA ay As col6nias de exploragio, no caso do Brasil, experimentaram com A mascara de folha de flandres, em primeiro lugar, € ferro a0 pescogo énfase o mercantilismo, uma ver. que nelas se encontravam pedras & suanhaim descriglo particular. © narrador incumbe-se de mostrar a forma e tais preciosos, além de vastas extensdes de terras que possibilitavam 9 utilizagao desses instrumentos. Em terceira pessoa, 0 narrador aproxima sgrande produgéo agricola destinada basicamente ao mercado extemo. Es ( leitor do tempo e do espaco por meio de relatos histdricos sobre fatos da coldnias, diferentemente das de povoamento, enriqueceram as metré scravidio de tal forma que os escravos eram apresentados em um processo Ale “coisificagio”: “O sentimento da propriedade moderava a ago, porque dinheizo também 46”, ccuropeias e, para tanto, valeram-se em larga escala do trabalho escravo indios e de negros. Entretanto, nessa amostragem, que ocupa os trés primeiros pardgrafos, io Sabe-se que os primeiros a ser utilizados como trabalhadores escra aqui no Brasil foram os indios. A partir do século XVI, quando ganl surgem alguns elementos de fundamental importneia para a interpret vulto a exploragao de ouro e de pedras preciosas na regidio das Minas Get de "Pai contra mae”, a mio de obra escrava se modificou, pasando a ser explorada, em mi (O primeiro pardgrafo finaliza-se com a seguinte participagio do narrador: Mas nao eaidemos de méscaras”. Machado de Assis introduz 0 leitor na tta- Jno da escraviddo, uma vez que o fav. participe por meio da 1° pessoa do plural quando utiliza 0 verbo cuidar: Hé dé se acrescentar a qualificagio da mascara, \lenominada “grotesca”, © que manifesta um posicionamento do enunciatario, scala, a composta pelos eseravos negros advindos do continente africind, Os dados que retratam 0 niimero de escravos negros africanos importa para terras brasileiras encontram variagies, Hé diversos estudiosos que af tam a proporgio de trés negro para cada branco no peridlo de maior incidén do tnifico negrerro. Mas, para citar Theodor Adorno (2000; 120), que se no caso, a questées como os trotes a violgacia e as mortes ocorridas duran Fssa mesma participagio € marcada no inicio do 2 parigrafo, quando : re no conto o seguinte fragmento: “O ferro ao pescoco era aplicado aos perfodo nazista, “o simples fato de citar ntimeros jd é humanamente indig overavos fujdes, Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também 3 diveita ou 3 esquerda, até ao alto da eabeca e Fechada atris com chave”. Por Inecio do verbo, agora utilizado na 2" pessoa do plural, no modo imperativo, Machado de Assis reconvoca o leitor, fazendo-o imaginar, portanto, visuali- ya ctiar uma imagem mental do ferro ao pescoso. A escravidio s6 encontrou seu fim legislativo no Brasil em 1888, por da Lei Aurea, Entretanto, por virios anos, a aboligio ganhou apoio e forgt correntes antiescravocratas ede leis comoa do Ventre Livre ea do Sexagensi Machado de Assis trata, entre outros, do tema da escravi A participagio do leitor, do enunciatirio, & de extrema importincia “Pai contra mae”. Neste conto, caracterizado como uma narrativa bi Sem perceber, ele adentra o hist6ria e vivencia, experimenta mentalmente cuja agio ¢ extremamente curta, carregada de um tom acentuadamente i 9 ormras de opressio destinadas a0s escravos. Por meio da ironia, da pers- pectiva do narrador e da participagio do leitor, Machado constréi uma critica tis virias facetas do ser humano ¢ do sistema social vigente na época em que nico, pode-se observar claramente que o autor se vale de uma nitida divis * contextualizagio da escravidio e de seus instrumentos e * historia de Candido Neves (e Clara) versus Arminda. Nos cinco primeiros pardigrafos, Machado de Assis trata, primeiram a narrativa foi escrita. Sorrateiramente,leitor do conto machadiano passa aser sensibilizado funtes mesmo de a historia fuleral da narrativa ser apresentada e desenrola- «la. A sensibilizagao é de extrema importancia a0 final do conto, pois, a par te, de alguns instrumentos da escravidio como: “o ferro ao pescoyo, outt ferro a0 pé; havia também a mascara de folha de flandres”. do 6° pari igrafo, as descrigies desaparecem da composigio e ficam guarda apenas na meméria dos leitores, que a ela retornario para posicionarem diante dos futuros fatos expostos. Além dos instrumentos elencados no texto, outros eram utilizados los escravocratas, como a peia, que era presa ao tornazelo do escravo com a nalidade de dificultar sua fuga; 0s anjinhos, uma espécie de algema que pos ser apertada gradualmente e era fixada nos polegares; a palmatéria, espa camento, 0 estupro e, entre outras, as mutilagies, como a amputagio de sei A questio financeita também é abordada pelo autor quando cuida fuga dos escravos, tema que percorre todo o conto publicado no ano de 1 em Retiquias de casa velha:O sentimento da propriedade modetava aa porque dinheiro também doi” A partir do mote da fuga dos escravos, chega-se ao trabalho, & é desonroso, de captura dos negros fugidos Ora, peuat excravos fugidos era um oficio do tempo. Nio seria aobre, mas ser instrumento da forga com que se mantém a lei » propriedade, trazia ‘outra nobreza implicita das agies reivindicadoras. Ninguém se metia cm tal off por desfasto on estudo; a pobreza, a necesidade de una acega, a inaprido pal outros trabalhos o acaso ¢ alguma vex @ gosta de servir também, ainda que ‘outta via, davam o impulse ao homem que se sentia bastante 4 desondem, Ho para por onde ‘A demarcagio espacial da narrativa evidencia a cidade do Rio de Janei ‘As marcas da geografia fazem-se presentes em fragmentos como: “Apen comprado no Valongo”, “entrar por um dos becos que ligavam aquela a R da Ajuda [...] na dizegio do Largo da Ajuda”, “saiu de manha a ver eindagat pela Rua e Largo da Carioca, Rua do Parto ¢ da Ajuda, onde ela parecia an« segundo 0 antincio". O espago social da cidade carioca vem servir de censii 420 conflito, onde se desenrola a histéria de Candido Neves, Clara, Armin e seus respectivos filhos. 7 Dentro desse cenério, onde se apresentaram os instrumentos da e vidio, Machado de Assis introduz as personagens. A construgio das persoe A wiséata HUMANA CONTRA O SISTEMA hhaygens nao imediata, mas wai no ritmo da sucessao dos fatos ocorridos. Des- 0 forma, 108 poucos, as personagens sio confeccionadas no corter do conto, A primeira personagem a ser apresentada ¢ Candido Neves, em fi Jin, Candinho. Homem de defeito grave. A principal personagem masculina thy historia classificada como alguém que portava “defeito grave", uma vez que “ndo aguentava emprego nem oficio”, mas, por carever de estabilidade, , nfo se encaixando em nenhuma. Entre chegou a tentar varias profis: clas, tentou a tipogafia,o comércio,o trabalho em cartério, foi continuo, foi carteivo, entre outros empregos. Finalmente, Candido cedeu & pobreza quando assumiu o oficio de pegar ravos, profissdo que possiilita a relagio com o relato inicial do conto. Amigo de patuscadas,cria em Deus, era forte, gil, cinha boa meméria, sabia que os protos fugidos com ele nio brincavam, mas nao lhe faltava gosto de rocar de offcio, Durante sua construsio, mais préximo do final do conto, nota-se sua brutalidade, “e acabou dando um murro na mesa de jantar", surgida pola possibilidade da perda de seu filho para a roda dos enjeitados. Também é caracteristica de Candido a contradicio, patente em sua fala e sous atos, demarcada, como se percebe, no dislogo mantido com a escrava Ar tninda: “—Voc® que tem culpa, Quem Ihe manda fazer filhos ¢ fugir depois?” Observa-se a contradigio na fala da personagem, uma vez que Candido sta que era também fez seu filho sem pensar nas consequéncias, tendo em hhomem sem emprego fixo, sem remuneragéo equilibrada, fato impeditivo pura. a educagio de uma crianga. _ Sua esposa, Clara, é apresentada como drfé, pretendente a casamento, de poucas amigas, muito crente em Deus e tio resignada a ponto de, no de- correr da narrativa, aceitar a doagio do filho.{A ironia é uma marea constante ‘no conto machadiano, a ponto de denunciar os interesses escusos por tris «das agbes aparentemente nobres das personagens. “Amigas de Clara, menos por amizadeque por inveja tentaram arredé-la do passo que ia das” A iol tachadiana revela-se pela intengio verdadeira da amizade que se express ha intengio das amigas: nao pelo fato de o noivo nio ser muito apegado ao trabalho, mas sim por terem inveja de nao terem um pretendente seque “> LINGUA E LTERATURA: MACHADO DE ASSES NA SALA DE AUIA, na 2° A séay HoMANA CONTRA 0 SISTEMA Da mesma forma, Machado de Assis articula ironicamente com 0 no uma vex mais, aponta a falta de responsabilidade e de brilhantismo de do casal: “No davam que comer, mas davam que rir, € riso digeria-se se Clara‘ ponto de rir juntamente com o marido de tudo: "O casal ria a pro- esforgo”. Pode-se constatar que os nomes das personagens formando 0 ea jpisito de tudo, Os mesmos nomes exam objeto de torcados, Clara, Neves, remetema tons claros, os quais demarcam a condigio social de libertos e qu ICindida; nao davam que comer, mas davam que rir, ¢ 0 riso digeria- no caso especifico, induzem a crer em um tom pejorativo, principalment forgo. Ela cosia mais, ele saia a empreitadas de uma cousa e outta; pelo uso do diminutivo, como o apelido da personagem masculina, inio tinka emprego certe”” Conforme o dicionério de Francisco Rodrigues dos Santos Sarai (2006; 175}, 0 name Candido, etimologicamente, vem de candidus-a-a adj. (de candere): brane, alvo, cindido, vestido de branco, radioso, brilhant No tridngulo formado — Candido Neves, Clara e tia Monica — uma personagem se destaca por ser apresentada como a mais forte, tia M6nica: la cosia, euidava da sobrinha Clara ¢, ainda que de mé vontade, ajudava’o Segundo a estudiosa Cabral [fonte?], nome Céndido foi grandemente ee ee pularizado pelo titulo de um livro de Voltaire, sitira ao otimismo de Leibni ge eas A comparacio entre ambos é pertinente, pois eles ironizam um sistemar ti o atimismo desenfreado; 0 outro, o sistema da escravidio em que negros: Suss falas sia esclarecedoras de sua personalidade pratica ¢ forte: — Vooés, se iverem um iho morrem de fom, disse ata 3 sobrinha, I — Vooés verio a triste vide, suspizava ela, tratados como objetos. Os dois demonstram um mundo onde esté mui distante de se viver uma vida melhor, © Candido machadiano nao zevela candura que expressa a Mas ‘anger nv naceem também’, porguntou Clara. — Nace nome, pois ele ¢ Candinho, reforgado pelo diminutive, 0 que in acham sempre alguma cousa certa que comer, ainda que pous ca tod nia e pessimismo machadiano, acenti ; ‘Ourras personagens vém completar 0 quadre, Excetuando a da personagem diante do aborto da escrava, de sewcaréter desuma See een een Erste den Gis waste «adi de seu? ono" pis ae socrava Arminda, que se destaca mais & frente do canto, elas desempenham ee eee ee ee Jpcis de menor relevancia, Ha o primo sem nome de Candido Neves, 0 jumbém sem nome credor de trés meses de aluguel, o farmactutico que Quanto ao “restante”, nada o incomodava, o que delineava a marca vido do filho do protagonista masculino durante a seu profundo egofsmo, ao ser expresso de uma forma tao irdnica e, ada e 0 senhor de Ar ninda, Observa-se que essas sio personagens tipo, que representam estados gue nao dizer, pessimista por meio de seu sobrenome Neves (do lati nix-nivis- sf. brancura, alvura), como um registro a um coragio peiais, fungoes de trabalho e nunca mudam suas acies reagdes. frio e gelado diante de uma mae que agonizava e perdia seu filho dia da monstruosidade da agao no de um radioso Candido Neves, mas um frio ¢ desumano Candido Neves. Em “Pai contra mae”, por meio das filosofias que, grosso modo, rege- 1 « Escola Realista como 0 determinismo, o darwinismo, 0 pessimismo, a s\cologia, entre outras, Machado aprofunda-se, mesmo que a primeira vista Quanto a jovem esposa de Candido Neves, Clara, cujo nome tem i paresa, na crueldade de uma relagio que gera outras relagies e que tem gem latina, clarus-a-um (Santos Saraiva 2006: 231), apresentando « mo pano de fundo a ideologia pela qual se sobrepuja aquele que tem a con- significado esclarecido, luminoso, radiante, brilhante, claro. Entretant ilo dese portar de modo mais forte, mais habil, Sio vencedores, portanto, jovem € 0 préprio contraste de seu nome, pois, ironicamente, Mach mais poderosos, os mais espertos (> LiNcUA E LITERATURA: MACHADO DE ASSIS NA SALA DEAULA ep Essa ideia estd estampada, também, na filosofia do humanitismo, q tem como principal pensador a personagem Quincas Borba, presente romances Quincas Borba e Memérias péstumas de Bris Cubas Apiis @ apresentagio das personagens, ages se sucedem no conto, sum: © casamento de Candido com Clara, surge a gravidez, emerge a Jamitosa situagao financeira do casal, a pobreza mental de Clara é dest a asticia € os interesses de tia Monica sao grifados pelo narrador, assim 6 destacada a servidio de Cndido dentro do sistema socioecondmico vigent No conto, determina-se 0 espaco temporal da narrativa: “Hd meio culo”, No Brasil dessa época,a ideia de liberalismo econdmico, que abra © periodo da colsnia pré servou diferentes fases ndependéncia até os primérdios da Repil E caracteristica de sua fase inicial a tentativa de se desfazer do despotis régio, do absokutismo, visando ao regime federalista. Todavia, quando os di liberais alcangaram as esferas do poder, puseram-se contra as pretensées de cratizantes dos mais radicais, evidenciando uma conjungio peculiar no pais uni, 4 €poca, a defesa do liberalismo e mantinha o regime escravocrata, Do contexto hist6rico brasileiro, emerge um liberalismo de caractel ticas muito peculiares: apesar de a sociedade escravista brasileira estar distante do contexto liberal europeu, em vista de aqui se possurem ba objetivos dispares, observa-se que, nos dois continentes, as ideias de libe lismo e democracia se dissociam, Esse trago &evidenciado na prosa machadiana, que, em alguns mome emerge com tons criticos tal qual o trazido pelo narrador em: “Nio fig ¢ monstrado que a escravidio chegue a desmoralizara tal ponto qualquer O paradoxo entre os ideais liberalistas e 0 regime escravocrata era tentado pelo proprio vértice da pirimide econdmica, alicergada na légica dominagio aliada ao sistema de plantagem, que lutou contra as imposi inglesas e sustentou o tréfico mesmo quando proibido, fazendo com quem ‘moos ilegalmente engajados nesse comeércio levantassem suas vozes em A snsiin MUMANA CONTRA © SISTENA 9, «da reabertura oficial de suas atividades, acabando por servir inclusive as Ca- marae brasileras, de instrumento a manutengio do trabalho escravo negro. Diante dessas antiteses, Candido necessita de dinheiro para seu sustento, dle sua esposa e de seu filho. Resta-the, portanto, langar-se 8 captura de es- c1avos, Nessa dinimica, Céndido é alimentado e alimenta a manutengio do regime escravoerata, a manutengio da divisio social, abendo-Ihe a pior parte do trabalho, aguela que os proprietarios raramente assumiam de forma direta Por exercer a atividade de cagador de escravos fugidos, Candido é man- tenedor do regime que corrompe uma das mais bisicas condigdes do ser humano: a liberdade. Mergulhando nas mazelas sociais, Machado de Assis, como quem conta lum simples easo, leva o leitor a im cenério em que se estampam a critica sovial, a critica ao regime econdmico, a escravidio, a crueldade, a morte, Na situagio criada por Machado de Assis, Cindido Neves e sua esposa Clara desistem da posse de seu filho e, conforme conselho de tia Ménica, \ecidem levar a erianga a roda dos enjeitados: Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos fugidos no vinham jé, como ddantes, mereese nas mos de Candido Neves, Havia mos novas «habeis, Como o ne~ cio cresesse. Mais de um desempregado peyou em sie numa corda, foi aos jornals, copiow anincios ¢ deitou-se eagada. No préprio irra havia mais de ura competi- ddor. Quer dizer que as dividas de Candido Neves comegaram de subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeitos tempos. A vida fez-se dif e dura. Comin-sefiado e mal comia-se tarde. O senhorio mandava pelos aluguéis. tal Ocredor enrou e reusou sentarse; detou os olhos & mobili pora ver se daria algo a pemora;achou que pouco. Vinha reeber os aliguéis vencidos, no pon esperar mai se dentro de cineo dias nae fsse pago, pelo-ia na rua, Nao via rabalhado para rey lo dos outios. Ao vé-lo,ninguém divia que era proprietivio; mas a palavra supriao que faltava a gest, eo pobre Cindido Neves preferia clara retorquir Fee uma inclinagio de promest e silica ao mesmo tempo. O dono da casa no cadeu mais. ‘A roda dos enjeitados, ou roda dos expostos, tem sua origem na Idade Média, mais precisamente no ano de 1188, na cidade francesa de Marselha, Linu FLITERATURA: MACHADO DE ASSIS NA SALA DEALIA a =A sustiua Hustana comma 0 SISTEMA. —. Sua popularizagao nao levou mais de uma década, quando o Papa Inocéni {or o futuro da narrativa; criando diversos momentos de climax no correr do III adotou o sistema nos territ6rios da Igreja, diante do surpreendente mk onto; compando um narrador de consciéneia total que em alguns momentos mero de criangas jogadas ao rio Tibre. Ela foi utilizada no Brasil até mea se distancia do assunto principal, ofertando ao leitor elementos periféricos; do século XIX, justamente o momento er que Candido Neves pretende ue tenta influenciar o Teitor, convocando-o para o didlogo; que presenta var seu filho para doagio na roda dos enjeitados, quando encontra Armin 1 escrava fugida, Segundo o dicionarista Aurélio (2004: 190), 0 nome rminda vem de armin, sm, “malha de pelos perto do casco das Julgamentos dos fatos acorridos; que se recusa a escrever partes da narra- iva, Machado de Assis aproxima 0 universo do trabalhador livre com o do. avalgaduy Arubalho escravo, no qual ambos so carentes de condigies basicas de vida em de cordiversa da do resto do corpo; armino. Zool. Mamifera polar, da fam juncio da exploragio fi yitaneada pela oligarquia no poder. dos mustelideos (Mustela erminea), cuja pele é muito apreciada por sua a ee era cae Pee aeons ciez ¢ pelo tom alvo que adquire no inverno”. F importante destacar que © Brasil ndo conviveu apenas com a menta~ Peiiacanicie dns taieura inet taece tara) ae Jidade escravocrata, Se assim fosse, ndo haveria a prépria lei Aurea e, antes sendo assim, mais uma vez, Machado de Assis, ironicamente, de uma fo pels o2 Ferg do Ventre rure = do Sevan Hidica, brinea com os nomes das personagens, fazendo com que a mul Muitos defenderam a escravidao e valeram-se, como argumento, da a ae i ce ae omparagio do trabalho escravo com a jornada de trabalho nas fabricas eu- Se ee ee ee ere oe eran am jopeias, fazendo equivaler a problematica do prolerariado com a do escravo, de seu filho 8 roda dos enjeitados, Candinho encontra Arminda: " sonido o escravo, na visio dos escravagistas, um privilegiado. Alguns defen- ‘Mas nao sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabi-la; foi entéo que Ik jocorrew entrar por um dos becos que lgavam aquela 8 Rua da Ajeda. Chegou fi do bee endo a dabear 8 dieita, na diregio do Largo da Ajo, vin posto um vulto de mulher era a mulata fugida, ‘ liberdade do escravocrata, além de forga-lo a mobilizar mais capital. De igen que © escravo era mais caro de ser mantido, outros defendiam que, spesar de poder ser vendido, cle nio podia ser despedido, 0 que retirava Iparintleschaginentolde tarredvarfckae cranked a qualquer forma, por trés do contexto, o objetivo primeiro era o lucro: luta do pai contra a mie; de Candido Neves, que nao quer doar seu filho, e A busca do lucto vigorou na histéria brasileira na figura de mais Ar. Arminda, que tenta fugir do regime escravocrata na tentativa de dar lug nindas e de mais Candinhos, como ocorreu pouco tempo depois da narrativa dar liberdade a seu filho, que morreré dentro de seu proprio ventre noe Inachadiana, época em que o veste paulista aderiu 8 campanka abolcionsta da casa de seu proprictario, que remunera o cagador de escravos comidu ‘9m virtude do subsidio oficial & obtengao da mao de obra livre largamente notas de cinquenta réis. g unpliada pela leva de imigrantes que desembarcaram nos portos brasileiros Diante da luta entre pai e mae e diante da crueldade a qual é exposta jo final do século XIX. escrava Arminda, retornam as imagens dos primeiros parégrafos do com Cestncins cur o ps dan colages Suatieescta aan machadiano com as descrigGes dos instrumentos da escraviddo, agora pr : ; Pee rk MI Fon ccna Linio de obza livre) desenyolveu-se nos primérdios como uma escravi iain Banca, ceguindo a mesma ética de trabalho patrortal Valendo-se do discurso direto, reproduzindo textualmente a fala Petsonagens, que por vezes assumem o cariter funcional de informar ao lel

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