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12 Seqiiéncias e Séries de Funcdes Em vérios problemas da Matemstica e das suas aplicagées busca-se luma fungéo que cumpra certas condigées dadas. 15 freqiiente, nesses casos, obter-se uma seqiiéneia de fungoes fi, fo,..-,fay-++5 cada tima das quais cumpre as concigdes exigidas apenas aproximadamente, porém com aproximagées cada vez melhores. Entio a fungio-limite dessa se- aiiéncia deveré, cumprir as tais condigdes, caso aconteca o melhor. Isto leva ao estudo de limites de seqiiéncias de fungdes. Muitas vezes cada fungio da seqiéncia obtém-se da anterior somando-se uma fungio gy Neste caso, tem-se uma série de fancies > gq. Seqiiéncias e séries de fungdes serdo estudladas neste capitulo Para seqiiéneias ¢ séries de mimeros hé apenas uma nogio de limite. Mas para fungoes hé varias. Aqui examinaremos as duas nogies mais ‘comuns de convergéncia, que definiremos a seguir 1 Convergéncia simples e convergéncia uniforme Diz-se que uma seqiiéncia de fungoes fy: X R (n = 1,2...) converge simplesmente para a fungio J: X — R quando, para todo z € X, a seqtiéneia de niimeros fy(z),..., fa(2),--. converge para. f(2) Assim, fn — f simplesmente em X quando, dados ¢ > Oe x € X, existe mg © N (dependendo de € e de x) tal que n > no > |fa(z) — FO) < Secio 1 Convergéncia simples © convergéncia uniforme 157 Graficamente, em cada reta vertical que passa por um ponto x € X fica determinada uma seqiiéneia de pontos (2, filz)).---s(2 ful2))s intersegdes dessa reta com os griificos de fi,...,fa-.-. Estes pontos convergerm para (x, f(x)}, intersegiio da reta vertical com o grafico de f. Exemplo 1. A segiiéncia de fungoes fa: R > R, onde fault) ~ x/n, converge simplesmente para a fungao f:R — B que é identicamente nila, Com efeito, para todo + € R fixado, tem-se lin (x/n) Um tipo de convergéncia de fungées mais restrito do que a conver- sgéncia simples, 6 a convergéncia uniforme, que definiremos agora, Uma seqiiéncia de fungées fy: X — R converge uniformemente para a fungio J: X — R quando, para todo © > 0 dado, existe no € N (dependento apenas de ¢) tal que n > no = [fa(t) — F(x) 0, a faiza de rnio ¢ em torno do gréfico de f € 0 conjunto Fuse) = Dizer que fn —> f uniformemente em X significa que, para todo © > 0, existe np € N tal que 0 grafico de fy, para todo n > np, esta contido na faixa de raio ¢ em torno do gréfico de f. (x,y) € Ra € X, f(z) —e 0, basta tomar tng > ef. Entio n> mg => |fa(a)| = |2l/n <¢/ng R, fale) = 2", converge simplesmente para a fungio descontinua f: [0,1] —» I, f(z) =0se0< 7 <1, f(t)=1. A convergéncia 6 uniforme cm todo intervalo da forma (0,1 ~ 5}, 0 < 6 < 1 mas nio é uniforme em (0,1) Estas duas afirmagaes decorrem de fatos gerais (a saber, os ‘Teoremas Le 2 abaixo) mas podem ser facilmente provadas a partir da definigao, Com efeito, escrevendo a = 1=5, temos 0 < a < 1 logo littn-sao a” = 0. Dado e > 0, sejang EN tal que n > ng = a” my => 0< Jnl) Sa <€ para todo x € [0,a). Portanto f, > 0 uniformemente no intervalo [0,1~3], Por outro lado, tomando ¢ = 1/2, afirmamos que, s qual for ng € N, existem pontos x € [0,1) tais que [fag (2) — f(x)] > 1/2, ou seja, 2% > 1/2, Basta observar que lim, 2 = 1, Logo existe 4 > 0 tal que 1-6 <2<1= 2” > 1/2. Isto mostra que fy no converge tniformemente para f no intervalo (0,1 Figura 11: As fungoes fy(z) = 2" convergem simplesmente no intervalo [0,1] pata tuma fungi deseoutinaa Exemplo 4. A seqiiéncia de fungies continuas fy: 0,1] > R, fale) 2"(L~ 2) converge simplesmente para a fungao identicamente nula. Segio 2 Propriedades da convergéncia uniforme 159 Esta convergéncia no é uniforme. Com efeito, para todo n € N tomos Jo V1/2) = 1/4. Logo, para ¢ < 1/4, nenbuma fungao fy tem sen Braco contido na faixa de raio © em torno da fungia 0. Por outro lado, se 0 <6 <1, temos fy — 0 uniformemente no intervalo [0,1 — 6] pois 2" +0 uniformemento nesse intervala © 0 <2"(1—2*) Jy de uma série de fungies fy: X — R. Neste importante caso particular, tem-se f = lim sy, onde s(x) = fi(x) + +--+ fo(«) para todo n € Ne todo x © X. Dizer que a série 55 fy converge uniformemente significa, portanto, que a seqiiéncia (sq) converge uniformemente e equivale a afirmar que a seqiéncia de fungdes rq: X — B (“restos” da série), definidas por ra(2) = fusi(t) + fas2(st) +++, converge uniformemente para zero. Com efeito, basta observar que ry = f ~ sn 2 Propriedades da convergéncia uniforme Teorema 1, Se uma seqiéneia de fundes fyi XR converge unifor- memente para f: X Re cada fy é continua no ponto a © X entéo f € continua no ponto a. Demonstragio: Dado © > 0, existe np € N tal que n > m9 = |fa(2) ~ F(2)| < €/3 para todo x € X. Fixemas um niimero natural n > mo Como fn 6 continua no ponto a, existe 5 > 0 tal que x € X, kr —al < 160. Seaiiéncias e Séries de Funcdes Cap. 12 6 fal) ~ fala)] <€/3, donde Ure) — Fa) S fae) ~ FC) + Male) = fala)| cle, e + |tale)— Ha) < 54545 Isto prova o teorema, o Exemplo 5. A seqiiéncia de fungdes continuas fa(z) = 2 niio pode convergir uniformemente em (0, 1} pois converge simplesmente para a fungdo descontinua f: [0,1] > R, f(z) = Ose 0S 2 <1, JQ) = 1, Jia seqiiéncia de fungées continuas f(z) = 2%(1 — a") converse simplesmente no intervalo [0,1] para a fungao 0, que é continua mas hem por isso a convergéncia é uniforme, Mesma observagao pode ser feita sobre a seqiiéncia de fungées continuas fai RR, fu(z) = 2/n. ‘A esse respcito, vale 0 teorema absixo. Antes de demonstré-lo, daremos uma definigao. Diz-se que uma seqtiéncia de fungies fu: X > R converge monotoni- camente para a fangao f: X -» R quando, para cada « € X, a seqiiéneia (Fal2))yeq & mondtona ¢ converge para f(z). Assim, por exemplo, as seatiéncias dos Exemplos 1 e 3 convergem monotonicamente. E claro que se f, — f monotonicamente em X entao |fasi(z) - Fle) < bfa(#) ~ f(2)| para todo x € X e todo nN. ‘Teorema 2. (Dini.) Se a seqiiéncia de fungdes continuas fn: X — R converge monotonicamente para a fungéo continua f; X + R no conjunto compacto X entéo a convergéncia é uniforme. Demonstragao: Dado ¢ > 0, ponhamos Xx = {x € Xi lfu(z)~f(e)| = ¢} para cada n EN. Como jy ¢ f sio continuas, cada Xn é compacto ‘A monotonicidade da convergéncia, por sua vez, implica X > X22 X32 Finalmente, como lima—co fa(2) = f(z) para todo x € x, Vemos que (12 Xn = 2. Seguese do Teorema 9, Capitulo 5, que algum Xpo (e portanto todo Xq com n > mo) & vazio. Isto signifiea que n> m9 > Male) — F(x)| <€ seja qual for 2 € X, a Exemplo 6. A seqiiéncia de fungées continuas fn: [0,1] —> RB, fale) = 2", converge monotonicamente para a funcio (continua) identicamente hula no eonjunto nfio-compacto [0, 1) mas a convergéncia nao € uniforme. Com efeito, dado 0 < € < 1, para todo n € N existem pontos x € (0,1) tais que 2" > ¢, pois lim 2" =1> 5, Sesio 2 Propriedades da convergéncia uniforme 161 Teorema 3. (Passagem ao limite sob o sinal de integral.) Se @ seqiiéncia de funcdes integréveis fy’ [a,b] —+ R converge uniformemente pare f: [0,0] +B entdo f € integrével € ff reves tim f ierae Noutras palawras: f° litmy fy = lim f° fy se @ convergéncia é uniforme. Demonstragao: Dado © > 0, existe no € N tal que n > mo = |f(z) ~ nlx) < €/4(b — a) para todo z € [a,b]. Fixemos m > ng. Como fm 6 integrdyel, existe uma partigio P de [a,b] tal que, indicando com w; ew! respectivamente as oscilagdes de f © fm no intervalo [t;.1,ti| de P, tem-se Sow!(t; — 1) no, Conseqiientemente, litnco f fala)de = [2 f(w)dr. 0 Observagao. Se cada fy é continua, a demonstragio se simplifica con- sideravelmente pois f entao é continua, donde integravel. Exemplo 7. Se uma seqiiéncia de fungdes integréveis fa: [0,6] - R converge simplesmente para f: [a,b] — B, pode ocorrer que f nfo seja integrdvel. Por exemplo, se {r1,72,---;7uy---} for uma enumerago 162 Seqiiencias e Séries de Funcies Cap. 12 dos nimeros racionais de {a,6] ¢ definirmos jf, como a fungi que as- sume 0 valor I nos pontos ri,...,1q e 6 zero nos demais pontos de [a centio (fn) converge simplesmente para uma fungao f: [a,b ~» R tal que J (2) = 1 se «EQN (a,b) e f(x) = Ose x 6 inracional, Bvidentemente, cada fy € integravel mas f nfo 6. Exemplo 8. Mesmo quando a seqiiéncia de fungées integraveis fu (a,8}->R converge simplesmente para a fuga integravel f: (a, 0]—R, pode ocorrer que littinco JY ful) da £ f° fla) de. Por exemplo, para cada n € N, seja fy: [0,1] + R definida por es ie"(1—2"). Entio fall) = 000 < falz) < ne” se 0 f 6 uniforme. Ora, in(: Fea) 0 para todo € X e asérie > fy converge para time fmgao continua 4: XR no compacto Xentio a conversgncia é uniforme. 8, Se cada fu: 00] ~+ R 6 integrivel e Y> fu converge uniforme- mente para f: [a,6] + R entao f 6 integravel e [> fla) de = Le fala) ax 4. Se cada fy: [a,b] + IR é de classe C!, se > ff, converge uniforme- mente em {a,b] ese, para algum c € (a, 6}, a série 3> f,(c) converge eno )) fa converge uniformemente para uma fungao de clase co (Lh) =Dh Exemplo 10. A virio D2g2%/(1-+ 22), ejos terns so fngies continuas, definidas em toda a reta, converge para a soma 1 +2", para todo x # 0. No ponto x = 0, todas os termos da série se anulam, logo sua soma 6 zero, Segue-se que a série dada converge simplesmente em toda a reta mas a convergéncia nao é uniforme, pois a soma é uma fungiio descoutinus. O teorema basico sobre convergéncia uniforme de séries de fungies, demonstrado a seguir, nao tem andlogo para seqiiéncias, ‘Teorema 5. (Teste de Weierstrass.) Dada a segiiéncia de fungées fai XR, seja San uma série convergente de mimeros reais ay > 0 ais que | f4(2)| < aq para todo n € Ne todo x € X. Nestas condigdes, as aéries Ss\fal € Yo fu so uniformemente convergentes, Demonstragao: Pelo critério de comparagao, para todo x € X a série Elfn(z)| (e portanto a série > fa(z)) é convergente. Dado e > 0, existe ng EN tal que Spsny n <€. Pondo Rala) = Do Mala) @ tale) =D fel), 164 Seqiiéneias e Séries de Funcées Cap. 12 tem-se imediatamente |ra(z)| < Ry() S Dpsqak < € para todo n> ng. Logo 5 |fn] ¢ 32 fu Séio uniformemente convergentes. a 3. Séries de poténcias As fungdes mais importantes da Anilise podem ser expressas como somas de séries da forma F(@) = Vana — 00)? = a9 + ana — 29) +++ + g(a = 20)" + = Estas séries, que constituem uma generalizagéo natural dos polind- mios, siio chamadas de séries de poténcias. Para simplificar a notagio, trataremos de preferéncia o caso em que 29 = 0, isto 6, as séries de poténcias do tipo Saye" 09 bart age + = © caso geral reduz-se a este pela mudanca de varidvel y 229. Os resultados que obtivermos para as sévies S7° 5 a,2" podem ser facilmente adaptados para 0 caso 7% 9 q(t — 20)" O primeito fato a destacar sobre uma série de potdncias S72 y an(x xo)" 6 que © conjunto dos valores de w para os quais ela converge é um intervalo de centro x9 . Esse intervalo pode ser limitado (aberto, fechado ou semi-aberto), igual aR ou até mesmo redwzit-se a umm tinico ponto. Isto ser4 demonstrado logo a segnir. Antes vejamos um exemplo que ilustra todas essas possibilidades Exemplo 11. Pelo teste de d'Alembert, a série Y72"/n! converge para todo valor dex. A série Y>|(-1)"/(2n-+ 1)}2%*! converge se, e somente ser € [-1, 1]. A série S[(—1)"¥!/n}a™ converge se € (-1, l]e diverge fora desse intervalo. O conjunto dos pontos « € R para os quais a série seométrica, S>2" converge € 0 interval aberto (1,1). Finalmente, a série Sn" converge apenas no ponto x = 0. Dada uma série de poténcias 55 ay", a localizagio dos pontos x para 98 quais ela converge se faz. por meio do teste de Cauchy (Teorema. 6, Capitulo 4), 0 qual pée em evidéncia o comportamento da seqiiéncia (Vie) Seco 3 SGries de poténcias 165 Se n seqiiéncia ({/fam]) 6 iimitada entéo a série SSaq2" converge apenas quando «= 0. Com efeito, para todo x 4 Ova seqliéncia de miimeros (/ja,"| = |e] ‘Tan € ilimitada eo mesmo ooorte com Jan"|, logo o termo geral da série > aq2" no tende a zero. Se, entretanto, a seqizncia (%/faq)) 6 limitada entio o conjunto R= {9 > 0; Van] < 1/p para todo n € N suficientemene grande} € nio-vazio, Na realidade, 6 facil ver que se p € Re 0 <2 < pentio © € R, Logo Ré um intervalo, do tipo (0,r), (0,r] ot (0, +00), onde 7 = sup R. O niimero r é chamado 0 raio de converyéncia da série Dans”. (Convencionaremos escrever r = oo quando R for ilimitado.) © raio de convergéncia r da série de poténcias Srayz" goza das seguintes propriedades: 1) Para todo x € (rr) a série Tanz" converge absolutamente Com efeito, tomando p tal que |x| < p r entzo a série San." diverge. Com efeito, neste caso |x| ¢ R, logo nose tem ¥/\aq| < 1/2] para todon suficientemente grande. Isto significa que {/[an] > 1/|c], e consoqiientemente lana] > 1, para uma infinidade de valores de n. Logo o termo geral da série Y> ay." niio tende a zero, e ela diverge. 3) Se a = sir, nada se pode dizer em geral: a série Sana" pode convergir ou divergit, eonforme o caso, 4) Se existir L = litte Yam] entio r = 1/L. (Entendendo-se que e L = 0.) Com efeito, para todo p € R existe ng € N tal que n> mo Yn] < 1/p. Fazendo n — oo obtemos L < 1/0, donde p< 1/L. Segue-se que r = supR < 1/L. Supondo, por absurdo, que fosse r < 1/L, tomarfamos ¢ tal quer an2”, ow converge apenas para 2=0 ow existe r, com0 <1 < +00, tal que a série converge absoly tamente no intervato aberto (—r,r) © diverge forn do intervalo fechado

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