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13, FSQUECER 0 PASSADO? Nio éficl omar a palavia 20 fsa de um coléquio como ste dedicadoa Waler Benjamin e questo da mem. Prim ro, porate este lgae & carepado de lembeaagas, de lembeangas Aolorosas: e, também, pore i esutamos muias falas ares peito ds necesidade do lembrae. Minha proposa sez precisa fessalar a exceqd que consti a police de memria do govero brsslct, bem eomo nist esrtégas extrema de exquesimento saci em elago 8 dadura miter de 1964 a 1985, Com iso, resend dstinguiro context brasleio daqucle de um pais como 1 Amgentina. A parte dessa ands, vou retomar alguns coneditos «a flosofia da Histvia de Benjamin, ue podem nos ajudae ape sr hoje cm formas de lata contra evs politica de esquecimesto, ‘Como nas! na Eucopa, enum pas pofundamente craiio- ral coma a Suga, quero insist em primi lugar a diferenga tstente entre certs discmses sobre o farnata “ever de mem a” (expresso, lds, muito discutivel na Alemania ou na Fran- ‘2; €as diversas formas de rlagio com 0 passdo num pas da Asiea Latina marcado pala colonizacio, pea escravidio e pla ditadura como o Beas, Enquanto na Europa surge cera lssidio "A prinea vest dese abut fo profes a colgui “Wake ‘vi Huolis Cont cm Baetos Aire em oats de 20100 pio gat Iie aria wen carl fncono, date tna dada cl a ‘aration 19761983), cin om dy as eienstics Cerro Cla ‘tins de Deon, Tots Extorm tease da Ec de Mech fnca de x Armada, ae carapace el peony, ds at ene dene vbr aque pasado? asi depois de um longo “Aufarbstng der Vergangene ieralmen- te, “tsabullo de claboragio do passado") — para eetomar uma ‘expresso de Adomo que, por saver, retoma uma expeessio de Freod (Durcharbeitung, trabalho de pedaborasio) —, eumprido notadamenteem fungi da Seganda Guerra em particular d Sho: th, a questio da meméra, prticularmente de membria dita naz ‘ional nio se colocanestestermos no Breil. Uma cesta imagem postive de “pas do futuro”, da joventade eda inventvidade, no ‘ual tudo ¢ posse! e onde stam vastoshorizones a desco Seompatha uma ouzaiagem, a de wm pais no qual asestraruras Se over gave io muda desde a colonizacZo até as aliangas do sovero Lula Tratase do pais de ura elite corrupa, de um povo esignado e submis tomado por um mito de alegra e ignorin- as do pas dos diver rague (0 famosoetnho) ede expen tes sempre no limited legaidade Esa ideologia da cordilidade ‘edo favor, cio bem snalisadas por Sérgio Buarque de Holanda © Rolerto Schorar, suatents uma outa convigo: a de que nfo é necesiriolembearse, porque de fato nada muda realmente et bam porque se deve sempre “olharparaa frente. Por 80,05 thos ou os amigos dos desapaecidos durante a ditadua, que in sistem em saber onde esto os cospos dos mortos e quem o matou, ‘trapalham: cles io rapidamentetaxados de vingativos ov de resentidos, otadament pelos epreseatantes das Forgas Armadas {gue of entre nbs nto parecem tr ido Nietzsche) (Quando a grande ction argentina Beatriz Saro afm num ‘dos seus iin vos que a fim das “dtaduras do sul da Ame. rica Latina, lembrar foi uma aiidade de resauragio dos Lagos Sociase comunitirios prdidos no exo ou destruids pela vio Fencia do Exado”; qv, assim, “tomaram a palaveaa vtimas © ss representantes.” deve-selembrar que o Brasil no pes ‘ea este oul da Amie Latina. No Beas a itimas no tomaram, 'palavra,Primeio, pla simples sro de que no existe nenhum Nea Sc Tempo pasado cbr de ems einai bio tins, Sip lela Heros, Compan das Lestitra da UFMG, isp. Renmoraedo stato de itn; de que nena texto ofc, de ion de is fia usa sta palaora, a ql, por sua vez, acateta uma pergunta Complement quem foram os carascos? Como resalta Glenda Mezzaroba a palavra*vtima” no faz parce do vocabultio da legislagso brasileira sobee os desaparecidos eos dcets de seus descendents. Os "desaparecidos™ sto em sua maori, vtmas dda tortura edo assasinato duran a dtadur,sio sempre desig tados como agueles qu fran “ating”, agaele que si con ‘ierados ofsilnient flecdos ox, quando se tata de pessoas ‘nda vvas, mas cua careia fo prejudicada pela ditadara, como “anistiados"> / sats stlera inguticas remem a0 exo principal ca po lca de “eeoneliagto nacional” promovida pelos militares de- fendida com obstinagio até hoe peas iseanciaspoliocas ejurid- casdor dverios governos cvs — como o demonstroa recente tea votaio a ee espeito do Sapremo Tebunal Federal er abil, de 2010. Trats-se da promulgagio, em agosto de 1979 fsto & ‘inca anos antes da passagem do poder aos vis) da “Lei de ani tia" que “exclu o ‘condenados por erimes de terorsmo, a Salo, sequstro atentado pessoal’, porém inl s acwsados de torr, asasinatoe desapareimento durante o regime miar* lume lei ve mantinha 0 enearceramento de virios militants de fsquerda, co agueles que assaftaram um bsaco 3 mo armada, ‘nas inclu porno anistiaes, os militares ou policiais que tor turaram, matarame eran desaparece os pesos do regime, por ‘que esas execugdes so classifcadas como “erimes conexos” a ‘times politicos. ssa lei de anistia,eixo do desfgnio de recon ‘oda "aia braailiea”, como gostam de diee seus partidios Glenda Mero, “ace de cota Hg do abit" | (0 gue read dan Eon Tae © Vids Sales) Sto Pal, oie, 201, 9.115 * “Lei 68,628 de ago de 1979 * Lt Bt, Horio do perio, So Fal, EaucFopsp, 2010p. 1, guest o pasado? 2 \deontem ede hoje, nunca fo evista nem abolida pelo contro, ‘sta vaidade acaba de see notamente rata pelo STE Pedemon ‘observar que ali sobre os “desaparecidos” (1995) as les sobre 1 formas de repacagio aos perseidos plo regime militar (2002), Anda que reconhesam ofcilment a morte don desapatecidos nig scarttam a devolugi de seus retor moctais, tampoucn a iaves. tigacio acerca das crcunstncias de sas morte, queimplicara abertra dos arquivos militares sees, Isso significa que, emborao Brasil teuha assinadoviros ta © tados intermacionais conta a tora a juridigsoinernacional simplesinente ignorada quando se tata dos tortures e dos ascastnos da ditadura, sob o preteto de reconciling sso gn fica também que o Brasil & nico pas da América do Sl no gual “toruradoces nunca foram julgados”(tpouco denuneiadon co | mo tai), e “onde nto houve justia de transigao, onde o Fxércico cto fer um mes capa de seus pendoresgolpistas nso signifi, ainda que a prites de tortura, ainds que ja hoje ofialmente ‘ejay continua de fat a ser rlerada, Camo ning fo con, ddenado em sazio dessaspedticas dorante o governo militar, 4 impunidade¢ pressupost es rortura esti na base da pics dos interozatrios pois, Assim, como o demanciam tos as pes tise sobre dictos hamanos, hi hoje mais casos de tortura ede assssinato perpetrads nas prises ens dependéncis d pia brasileira do que durante ditaduea* Tas cimes si cometiden, * Sa apis fl ampinds pla emenconsitional” 26S, de 27 de nore de 1985 (erent, dep do restatements da demo ‘Gn evo coment da prepuano duns msemblen const ex eee ‘ods pss puis por so comet ne 2 de seer de 1 16 ‘east de 1979 data soe guess ti "im 19920 Bes aio a Conn Ameticaa doe ior Hs manos de 1968 gue ones ons de tors ct ingest er Tat Ba op cp. * 0 eres de adr op iy “noes, Ean Teese ie ait. * dem. erases de Fis Porn de Mari Ria Keb ast Renenoresio em sua imensa maiora, coat homens jovens, pobre, negtos “pardos”, desempregados ou sem emprego fo, rapidamente scusados de sere trafcantes ou bandos poteaciss. Os abasos Policias no provocam nenhuma indignagio sia, e até causam «to alivio por parte dos priviegiados que se sentem, et pour cause, areas, ‘Conclososadiadarabrasiia, tants vezeselebrada como sleadura suave (al qual no infame jogo de palaveas entre “dita. 1° ¢“dtabrands”), porque nfo assssinou um nimero to gran. de de viimas como as de seus iustesvizinhos, ni & somente ‘objeto de uma violnta coer ao esquecimentey mas também € uma repime que se perpetua, que dara e contamina 0 presente “Tratase nfo apenas de um caso de reclge sociale politico Ho: lento, mas também da *natuclizaio da violencia como grave Sotoma social no Brasil”, como aims a pscanaita Marla Rita Kehl2? A lua pela revisto da lei de anita, pela aberrura dor arguivos seeretosc pela restiugio dos restos montis dos desapa ‘esis, vai além de uma lta pelo escacecmento do pasnado, pols ‘isa também tansformago do present. io € nial epetir que o reconhecimento ofc e social da ‘orura dante um regime ditatoilestabelecdo por insiigbes ‘ovemamentas,jridicas © objet de dicustoe de debate no si da sociedade civil, permite 20 corpo social na sua intgedade liza um proceso de elaborasio do trauma hisrco comparivel «um lato coletvo, Devese embrar que este process ese para que aida em comom no presente sia possivel. A sitagao ‘demos filhos de desapareidosbrasileros pode sex comparsda 4 situagio dos descendentes das vitimas do gencedio armen, regado durante tanto tempo pela maiorn dss ages: no tiahamy dizsito nem mesmo a0 estatato ofl de Sion pore ningun ‘ousaa reconhecero assassinato ex a morte de ets pas Os lho os desaparecidos so ertamentereconhecdos como dros mat info sabem nem onde esto os restos mortais de seus pais nem |uem os matow; os desapareides 30 recanhesos ofialmente Ada 9128 sqecero pada? as ‘como falecids, sem qu se poss saber em que crcunstngas oxo Feu sea morte. Assim, a questi do passado em verde se tor uma heranga dolorosa a ser elaborada em Conjunto por todo 0 corpo soil € eurida,grapas is leis de “reparagSo", a uma re- sgulamentagio de indenzagtesindviduis. Essa vléncia e esas morte sio tatadss como eros aconecimentos singularesy ack dentes ou incidents de percazro, 0 que toma wma elahorasi0 coletva da violencia passadae presente impossvel, pos assim 86 ‘eciiza memoria da dadra a histris indivi psoas, a S05 excepsionas” que devem ser resolvids apidamente para mas bem poderem ser esquecides. A possblidade de constuir uma ‘menviia socal ecoletva de al ioknca & portanto, sprimida. ( impediment desseprocesso de luo €dupl: print, por ‘que on corpos no sto efeviamente procurador plas aoridades competents para que possam ser enteradosstmmpowo ox args 0s sio abertos para que se saa, sobwerudo nos casos nos quais renhum resto fico pode ser encontrado, como morte a pss0 Remeto agui Jong lta, inciada ea 1982 sustentada até hoje «em vi, dos faiaes dos guerieiros do Araguaia!" Em segun- dlolugas porque o wabalho do historador no Bras éprejadado por essa estas ofcins de esquecimento, o que impede uma felag da nagia braieir ern seu conjunto com seu pasado, que devera ser objeto de pesquisas,deestudos, de discusses. Assi, fica bloqueada uma relagio de liberdade diante do presente. E ‘oportuno remeter agua Michel de Certeau, que define a esrta

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