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CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CAMARA DE EDUCACAO E FORMACAO PROFISSIONAL) PSICOLOGO BRASILEIRO eclitet maces desafios para a _ formacao Casa do Psicélogo® y PA CoORDENACAO GERAL: ROSEMARY ACHCAR Presidente da Camara de Educagdéo e Formagdo Profissional Psic6logo Brasileiro Prdticas emergentes e desafios para a formagdo Autores-Pesquisadores: Alvaro Pacheco Duran Anna Carolina Lo Bianco Antonio Virgilio B. Bastos (Coordenador Técnico da Pesquisa) Elisabeth de Melo Bomfim José Carlos Zanelli Maria Licia Tiellee Nunes Maria Regina Maluf Rosalina Carvalho Da Silva Rosemary Achcar wt NY Casa do Psicdlogo® © 1994 Casa do Psi, Livraria, Editora e Grafica Ltda. E proibida a reproducdo total ou parcial desta publicagao, para qualquer finalidade, sem autorizagao por escrito dos editores. 2" Edigao 1994 3* Edigao 2001 4 Edicdo 2006 Editor Anna Elisa de Villemor Amaral Giintert Produgao Grafica Renata Vieira Nunes Editorag’o Eletrénica Helen Winkler Capa Sérgio Poato Revisio Grafica José Eugénio Gianeuti Jr. Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagéo (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Psicdlogo Brasileiro: priticas emergentes e desafios para a formagio — / coordenagao geral Rosemary Achcar — Sto Paulo: Casa do Psicdlogo®, 1994. 2" Edigdo Varios autores Bibliografia. ISBN 85-85141-39-5 | Psicologia como profissao — Brasil: Psicologia — Formagio Profissional — Brasil I. Achear, Rosemary 94-2783 CDD-150.23981 indices para catdlogo sistematico: 1. Brasil: Psicélogo: Formagio Profissional150.23981 2. Brasil: Psicdlogo: Profissio 150.23981 Impresso no Brasil Printed in Brazil Reservados todos os direitos de publicagio em lingua portuguesa & GGA" Books Casa do Psicélogo® Rua Simao Alvares, 1020 Vila Madalena 05417-030 Sado Paulo/SP Brasil Z Tel.: (11) 3034.3600 www.casadopsicologo.com.br INTRODUGAO.... SUMARIO CONCEPGOES E ATIVIDADES EMERGED CLINICA: IMPLICAGOES PARA A FORMAGAO ... Anna Carolina Lo Bianco Antonio Virgilio Bittencourt Bastos Maria Licia Tiellet Nunes Rosalina Carvalho da Silva ES NA PSICOLOGIA MOVIMENTOS EMERGENTES NA PRATICA DOS PSICOLOGOS BRASILEIROS NAS ORGANIZAGOES DE TRABALHO: IMPLICAGOES PARA A FORMACAO José Carlos Zanelli seven Ol ForMAGCAO E ATUAGAO DO PSICOLOGO NA EDUCACAO: DINAMICA DE TRANSFORMAGAO .... Maria Regina Maluf . 195 PsicoLocia Social, PsicoLoGiA DO EsporTE E PSICOLOGIA JURIDICA.. Elizabeth de Melo Bomfim spiel DINAMICA PROFISSIONAL E FORMAGAO DO PSICOLOGO: UMA PERSPECTIVA DE INTEGRAGAO. Antonio Virgilio Bittencourt Bastos Rosemary Achcar id ALGUNS DILEMAS NA FORMAGAO, DO PSICOLOGO: BUSCANDO SUGESTOES PARA SUPERA-LOS . 331 Alvaro Pacheco Duran 1 INTRODUGAO Um pouco da histéria Elaborado em novembro de 1984, 0 Programa de Estudos e Debates sobre a Formagao e Atuagao do Psicdlogo surgiu tentando criar uma nova situagio onde Universidades e Con- selhos seriam parceiros na elaboragaéo de uma proposta para cursos de Psicologia do pafs. A busca de uma parceria no enfrentamento das questdes relativas a formagio do psicélogo implicava romper a distancia entre conselhos e universida- des. A énfase recafa na busca de uma revisao do curriculo minimo, reconhecido como defasado, pois nao sofreu qual- quer alteracdo desde a sua proposig4o no inicio dos anos ses- senta. Ele reflete, por conseguinte, 0 modelo de profissional de Psicologia no Pais nos anos cingiienta: 0 psicdlogo como “avaliador de caracteristicas psicolégicas” e voltado para a intervengao clinica remediativa. Quanto a parceria Conselho Federal de Psicologia — CFP com as universidades, caberia ao primeiro o papel de articulador, oportunizando um trabalho que, isoladamente, seria muito di- ficil que as universidades realizassem. O CFP deveria reunir informag6es para subsidiar as Universidades, o MEC e 0 Conse- lho Federal de Educagao, na elaboragao de um novo curriculo de Psicologiz O subsfdio mais importante seria, certamente, urna contri- buigao sobre o modelo de atuag’o profissional gerado ao longo 10 PsicOLoco BRASILEIRO. de quase trés décadas pelo curriculo vigente. As criticas sobre este modelo eram largamente apontadas pela literatura, embo- ra faltasse a proposta de um modelo menos restrito € tradicio- nal em substituigéo ao modelo vigente. Nesse sentido, 0 Con- selho Federal de Psicologia j4 iniciara um trabalho preliminar, solicitado pelo Ministério do Trabalho, de atualizagao da descri- ¢4o das atividades do psicdlogo para o Catalogo Brasileiro de Ocupagdes — CBO. Através de entrevistas com um niimero reduzido de profissionais “reconhecidos”, uma comissao especi- al do CFP elaborou uma nova descrigao do psicdlogo, corrigin- do distorgSes da descrigdo anterior e incorporando novos cam- pos de trabalho j4 consolidados ao longo dos anos. Apesar de nao haver ainda conquistado um espago junto ao MEC para intervir na formagdo, o Conselho Federal de Psi- cologia reconhecia a inexisténcia, no seu ambito, de qualquer reflexéo que embasasse uma proposta a ser apresentada aos 6r- gaos formadores, caso lhe fosse solicitado. Reconhecia também que possufa uma situagdo privilegiada, dado o contato direto com 0 exercicio profissional, para desenvolver estudos que per- mitissem conhecer os movimentos da atuagSo dos profissionais da Area de Psicologia. O Programa elaborado em 1984 tinha duas diretrizes prin- cipais: 1. Engajamento das universidades e conselhos na discussio sobre atuagio profissional e sobre o currfculo de formagao do psicélogo. 2. Apresentagéo de um conjunto de informagées para que CFP MEC e Universidades pudessem tomar decisdes sobre cursos e curriculos. Como conseqiiéncia destas duas dire- trizes, o CFP poderia garantir um espago para opinar a tes- peito da estruturagdo dos cursos ¢ currfculos e, conseqiien- temente, da formagdo. A primeira parte do programa (que era composto de um conjunto de estudos e debates) consistia na realizagéo de trés subprojetos: InTRODUGAO lL 1. O Perfil do Psicdlogo — formagao, campo de atuagio e condigées de trabalho; A Demanda Social do Psicdlogo — campo de atuagao, caracteristicas e potencialidades; 3. Demanda Social e Formagao Profissional do Psicdlogo. Apesar das dificuldades (falta de tradig&o do CFP em rea- lizar trabalhos desta natureza e porte, restri¢ao de recursos fi- nanceiros em parte resolvidos pelo apoio de CNPq e CAPES), o V Plendrio do CFP conseguiu realizar o primeiro subprojeto. A pesquisa foi realizada e obteve-se um conjunto de dados nacio- nais extremamente importante e rico. Sem dtivida, o mais abrangente diagnéstico da situagao do exercicio profissional até ent4o realizado. Embora nao prevista no projeto original, surgiu a idéia de se fazer um livro para divulgar os resultados e subsidiar discussées. Os resultados foram apresentados no livro Quem é o Psicé- logo Brasileiro?. Com cardcter diagnéstico e descritivo, a pes- quisa informou, entre outras coisas, sobre indices de emprego/ desemprego onde e quantos todos esto empregados no servigo publicos ou privado, areas de atuagdo, atividades desempenha- das. Constatou, em nfvel nacional, a realidade de um exercicio profissional cercado de problemas oriundos tanto nas forgas res- tritivas do mercado quanto do tipo de servicos prestados pelo psicdlogo. No VII Plenfrio foi retomada a idéia de continuar o pro- grama de formagio, para realizar o 2° subprojeto. Apds sua re- visdo que nao havia condig6es de realiz4-lo como previsto ori- ginalmente, sendo necessdrio rever algumas decisdes, clarear os seus objetivos e metodologia. Mantida a idéia basica de que esse subprojeto deveria dei- xar de ter um cardter diagnéstico e passar a analisar os rumos que estavam delineando no exercfcio profissional, promoveu- se um levantamento e andlise da literatura produzida no Brasil no perfodo sobre caminhos inovadores na profisséo. A expecta- tiva revisio bibliografica fornecesse elementos teéricos indis- 12 PsicOLoGO BRASILEIRO pensdveis para se tratar a complexa questo dos caminhos al- ternativos ou inovantes na profisséo, dando-se, assim, infcio ao segundo subprojeto. Os resultados desta etapa de trabalho fo- ram apresentados no livro Psicdlogo Brasileiro — construcdo de novos espacos, em 1992. O Encontro de Serra Negra - SP (jul-ago/92) foi um impor- tante marco da atuagdo do VII Plenério, quando se reuniram representantes de 98 das 103 instituigdes formadoras de psicé- logos do pais. Aquela foi a primeira ocasiao que se reuniu um ntimero tao expressivo de instituigdes interessadas na discus- sao da formagio do psicdlogo. Tal mobilizacao ratificou a ne- cessidade de mudangas do processo de formagio e teve como produto uma carta de princfpios e sugestdes de operacionaliza- ¢ao, documento que tem servido para embasar reflexdes, estu- dos e pesquisas em muitas instituigGes formadoras. O VIII, analisando os precedentes histéricos que origina- ram o Programa de Estudos e Debates sobre a Formagdio e Atu- agio do Psicélogo, considerando o empenho da Autarquia, bem como o interesse da categoria e das Agéncias Formadoras de acoplar a formagao profissional 4s novas exigéncias da socieda- de, concluiu que seria de suma importancia dar continuidade e levar a termo o referido programa. Neste sentido foi concebi- da a pesquisa cujos resultados estéo sendo divulgados na pre- sente publicagao. A pesquisa realizada Objetivando reunir subsfdios finais para a discussao da for- macio, delineou-se uma pesquisa que, a partir das revisées apre- sentadas no livro Psicélogo Brasileiro: construgdo de novos espa- ¢0s, complementasse as informagdes sobre 0 exercicio profissio- nal, identificando os movimentos inovadores nas praticas con- solidadas ou tradicionais e as demandas que tais movimen- tos colocam A formagio. Tal pesquisa, cujos resultados serao aqui apresentados, teve como objetivos especfficos: Ivtropugao 3 a) descrever a atuagio profissional de psicdlogos que se ca- racteriza por incorporar tendéncias emergentes nos cam- pos de trabalho e levantar os requisitos (conhecimentos e habilidades) necessérios para a formagio que contemple esta visio ampliada do campo de trabalho; b) levantar subsidios que permitam avangar na compreensao das principais controvérsias que cercam, atualmente, a for- magao académica do psicélogo em nivel de graduagao e que se traduzem em dilemas acerca de como se estruturar © curriculo dos cursos de psicologia. Esses dois objetivos foram tratados como duas vertentes da pesquisa que, embora paralelas, deveriam confluir para o obje- tivo maior de contribuir, de forma mais concreta, para a formu- lagéo de mudangas na formagao. Embora lidando com questdes diferenciadas — a pratica profissional e a pratica formadora — os estudos, nas duas vertentes, foram conduzidos dentro de uma estratégia metodoldégica comum. Na primeira vertente, foi identificado, a partir das revisoes bibliogrdficas graficas apresentadas no livro Psicdlogo Brasileiro: construgdo de novos espacos, um elenco de atividades consolida- das, em consolidag4o e potenciais (tendéncias emergentes na area). A partir destas informagoes, foram selecionadas experién- cias profissionais que justificavam um estudo mais aprofundado das suas caracterfsticas. Na selegdo destas experiéncias consi- derou-se, sobretudo, o nivel em que elas contribuiram para delinear um modelo de atuagdo psicolégica diferenciada em telagao ao modelo tradicional e dominante. Este trabalho foi realizado por pesquisadores-especialistas nas principais reas que definem 0 campo de atuagéo do psicé- logo: clinica, organizacional, educacional e social. Foi agrega- da & 4rea a andlise da atuag4o nas reas do esporte e juridica. Na segunda vertente partiu-se de um elenco de dilemas atualmente presentes no que se refere 4 formagao académica do psicdlogo (a exemplo de: formagao generalista versus especialis- ta; peso da teoria versus pratica, entre varios outros). O estudo 14 Psicdtoco BRASILEIRO também foi conduzido por um pesquisador-especialista que bus- cou recolher percepgdes acerca dos dilemas, levantar novos pro- blemas e sugestdes de como superd-los O trabalho de campo, em ambas as vertentes, envolveu a tealizagao de entrevistas com os profissionais, em ntimero varia- dos, que foram escolhidos intencionalmente a partir do critério de visibilidade pelos seus pares (reconhecimento pela comu- nidade) e da sua possibilidade de contribuir para a reflexao sobre os rumos que a profissio esta construindo. Da mesma for- ma, na segunda vertente, foi procedida uma seco de informantes qualificados (visibilidade dentro da comunidade académica pelo engajamento nas questdes da formag4o quer na atividade de pesquisa quer na de gestéio) que foram entrevistados. O estudo assumiu claramente um carater descritivo e nao avaliativo das diversas experiéncias. As entrevistas foram estru- turadas para explorar em profundidade cada experiéncia singu- lar, quer no campo profissional, quer na atividade de formagao. Na maioria dos casos, as entrevistas foram gravadas e seus contetidos foram transcritos. A andlise dos dados coletados teve uma légica geral comum a todos os trabalhos embora se observe ligeiras variagdes em fungao de caracteristicas indiossincraticas dos pesquisadores. Aos dados das entrevistas foram integrados reflexes da literatura atual e dos préprios pesquisadores. Os resultados da primeira vertente da pesquisa constituem, na presente publicacao, os capftulos 1, 2, 3 e 4 assinados pelos pesquisadores-especialistas. A tentativa de integrar os resulta- dos apresentados nesses capitulos, delineando um quadro geral dos movimentos inovadores que est4o ocorrendo no campo de atuagao do psicdlogo como um todo é apresentada no capitulo 5. Finalmente, o capitulo 6 relata os resultados relativos & se- gunda vertente do estudo. Com a presente publicagao, a Camara de Educagao e For- magao Profissional do Conselho Federal de Psicologia torna dis- ponivel 4 comunidade de psic6logos, educadores e alunos um conjunto adicional de subsfdios que, espera, possa contribuir IntRoDuGéo 15 para a continuidade dos debates e conseqiientes avangos na qualidade da formagio profissional do psicdlogo. Rosemary Achcar Presidente da Camara de Educagao e Formacao Profissional Conselho Federal de Psicologia 1 CONCEPGOES E ATIVIDADES EMERGENTES NA PSICOLOGIA CLINICA: IMPLICACOES PARA A FORMACAO Anna Carolina Lo Bianco! Antonio Virgilio Bittencourt Bastos? Maria Lucia Tiellet Nunes? Rosalina Carvalho da Silva‘ 1. Consideracées preliminares A caracterizagao e denominagio das atividades na drea “cli- ” € uma tarefa de diffcil empreendimento. A comegar pela propria ag&o do que seja “psicologia clinica”. A descrigdo das atividades apresentada pelo CFP’ engloba 19 itens tao variados quanto o “atendimento psicoterapéutico individual ou em gru- po” e a “realizacao de pesquisas visando a construgao e amplia- nica’ ¢40 do conhecimento teérico e aplicado & satide mental”. De forma sintética, assim é definido 0 psicélogo elinico: “Atua na drea especifica da sade, colaborando pata a compreen- sGo dos processos intra e interpessoais, utilizando enfoque preventi- 1. Universidade Federal do Rio de Janeiro 2. Universidade Federal da Bahia 3. Pontificia Universidade Catélica do Rio Grande do Sul — Universidade Federal do Rio Grande do Sul 4. Universidade de Sao Paulo 5 CFP (1993). Atribuigdes profissionais do psicélogo no Brasil. Documento encaminhado ao Min. do Trabalho para reformulagao do Catélogo Brasileiro de Ocupagées (CBO) 18 Psic6LoGo BRASILEIRO vo ou curativo, isoladamente ou em equipe multiprofissional em ins- tituigdes formais e informais. Realiza pesquisa, diagndstico, acom- panhamento psicol6gico, e atengdo psicoterdpica individual ou em grupo, através de diferentes abordagens tedricas”. Essa concepg¢o téo abrangente nem sempre existiu. Atua- co tao ampla nao é o quadro que caracteriza a grande maioria dos psicdlogos que atuam na 4rea clinica, conforme revelam pesquisas de ambito nacional (CFP 1988). Assim, antes de pro- cedermos a apresentagao de reflexGes acerca da emergéncia de novos fazeres e novos contextos de insergdo do “psicdlogo clinico”, tomamos como ponto de partida, uma caracterizagao rapida do padrao classico/tradicional de atuagao do psicdlogo neste dominio do seu campo de trabalho. O fazer “cldssico” A clinica “tradicional” mostrava-se como um sistema de atencao voltada ao individuo (Granda e Breilh, 1989). Ou seja, independentemente da drea disciplinar de atuacao profissio- nal, 0 método clinico depara-se com um individuo cuja proble- matica deve ser resolvida de forma mais ou menos imediata. A doenga, o distirbio, o transtorno sfo a expressdo da situagao concreta, particular, na qual se desenvolve tal individuo. A expresséo “psicologia clinica” remonta ao fim do século passado, introduzida por Lighter Witmer, em 1896, por falta de melhor alternativa j4 que nao lhe agradava tao estreita associa- ¢40 com o modelo médico (Cunha, 1993). Esse conceito passou a fazer parte de dois mundos, 0 académico e o profissional. Para a autora, na tradigéo académica o termo ficou influenciado pelo campo mais amplo da psicologia. Na tradicao clinica, to- davia, sofreu mais influéncia do modelo médico, tendendo a centrar o seu foco na compreensao ¢ tratamento da doenga. Como ainda assinala Cunha (1993), a tradigao clinica, estreitamente associada ao modelo médico, teve efeitos mar- cantes na formacao da identidade profissional do psicdlogo cli- nico, por ser um modelo com status social. A primeira base para essa identificagdo d4-se, sobretudo, na década de trinta, pela (CONCEPQOES E ATIVIDADES EMERGENTES NA PSICOLOGIA CLINICA, 19 evolugdo do psicodiagnédstico e sua preocupagao com a classifi- cagao nosoldgica e o diagnéstico diferencial. S6 numa segunda etapa € que se busca a diferenciagao e definigao de papéis na luta por afirmacgao no campo profissional. A concepgao de psicologia clinica como 0 campo de apli- cagao dos principios psicolégicos que se preocupam com 0 ajus- tamento psic6logico do indivfduo apresentada por Rotter (1964) bem expressa 0 que denominamos de “concepgao classica”. Para © autor o campo da psicélogia clfnica envolve as atividades de psicodiagndstico e psicoterapia, tendo em vista a superacio de problemas relativos & felicidade, sentimentos de desconforto, ansiedade, tensao, tanto no fntimo do individuo como na sua relago com os outros, envolvendo, ainda, 0 ajustamento as solicitagdes, metas e costumes da sociedade. Alguns critérios sao freqiientemente utilizados para definir 0 “tradicional” ou o “classico” em termos de Psicologia Clinica: individual ou ° atividades de psicodiagnéstico e/ou terapi: grupal; ¢ atividade exercida em consult6rios particulares, restria a uma clientela proveniente de segmentos sociais mais abas- tados; © atividade exercida de forma auténoma, como profissionais liberal, nao inserida no contexto dos servigos de satide; * trabalho que se apdia em um enfoque intra-individual, com énfase nos processos psicolégicos e psicopatoldégicos e centrado em um individuo abstrato € a-histérico; * hegemonia do modelo médico, aqui traduzido na aceita- ao da autoridade do profissional na relagéo com o pacien- te, ndo se questionando o saber e a pratica a partir de rea- ¢6es do paciente. O peso deste padrao limitado de atuagéo na categoria é significativo, como atestam os largamente divulgados resulta- dos das pesquisas realizadas pelo Conselho Federal de Psicolo- 20 PsicOtoco BrasiLeiro gia (CFP. 1988; Bastos, 1990). As atividades de psicodiagnéstico € psicoterapia individual, especialmente com criangas, exercidas em consult6rios particulares e sob alguma orienta- ¢ao de “base analftica”, sio amplamente dominantes entre os psic6logos que exercem a profissao. Por outro lado, fe- chando 0 ciclo que reproduz tal modelo de atuagao, as insti- tuigdes formadoras, em grande parte, as vezes exclusivamen- te, oferecem oportunidades de estagios com as mesmas ca- racteristicas. Miltiplas forgas externas atuaram e continuam atuando no sentido de alterar esse padrao classico de atuagao clini- ca. Talvez, no entanto, j4 possamos falar de uma psicologia clinica “tradicional” cm operagdo a novas formas de inser- Gao e concepgées da pratica clinica. Prova disto é a integra- ¢40 do psicdlogo junto as agdes de satide em geral, dai de- correndo a emergéncia de uma nova 4rea de conhecimento/ intervengao, como propde Spink (1992). E importante sali- entar, além disso, que a busca de praticas emergentes nao se apdia na ilusdéo da unidade de linguagem, da univocidade de métodos, de categorias, mesmo de definigdes do que seja a “psicologia clinica”. E importante deixar explicito que foge ao escopo do pre- sente texto oferecer urna perspectiva avaliativa cio que deve ser 0 fazer clinico. Trabalharemos, todo 0 tempo, numa pers- pectiva nao prescritiva, descrevendo experiéncias, muitas de- las, certamente, incompativeis entre si, nos seus pressupostos tedricos e definigdes metodolégicas. Ao apontarmos tendén- cias, por exemplo, dentro de cada dominio, nao estaremos en- trando no mérito das mudangas propriamente ditas, a sua con- sisténcia, o seu respaldo cientifico, a sua eficdcia corno prati- ca. Nossa tentativa ser4 a de colocar, num amplo painel, no- vos mosaicos que estao sendo construfdos pela pratica e que indicam mudangas no fazer clinico. Necessariamente esses mo- saicos podem nao se encaixar, mas revelam, certamente, um novo e sempre inacabado edificio. (CONCEPQOES E ATIVIDADES EMERGENTES NA PSICOLOGIA CLINICA 21 II. Objetivos e caracteristicas do estudo Dois objetos encontram-se na base do presente estudo: (a) identificar, no campo da psicologia clinico e partindo de esforcos de profissionais, grupos e entidades, mudangas que configuram novos fazeres e apontam a construgéo de um perfil diferenciado e mais abrangente de atuagao do psicé- logo clinico; (b) analisar as implicagdes desses movimentos de inovagdo no que se refere aos requisitos (competéncias e habilidades) que demandam do psicdlogo e que devem ser incorporados ao seu processo de formagao académica. A pesquisa enyolveu a realizagao de entrevistas com 23 psicdlogos, escolhidos intencionalmente por desenvolverem tra- balhos tedricos e/ou praticos relevantes. As entrevistas foram semi-estruturadas e subdivididas em quatro focos de interesse: a) histéria do campo de trabalho; b) detalhamento das atividades e respectivos contextos; e) carac- terizagao de tendéncias emergentes / inovadoras; e d) requisi- tos necessdrios para a formagao. As informag6es prestadas pelos entrevistados, uma vez trans- critas, foram submetidas a andlise de contetido. Além das entre- vistas com profissionais escolhidos, procedeu-se a um levanta- mento bibliografico, centrado exclusivamente no relato de prati- cas e experiéncias na drea. Os elementos colhidos nesta etapa do trabalho completaram 0 conjunto de resultados cuja apresenta- Gao, a seguir, obedece a trés grandes categorias tematicas. 1. Concepgdes e tendéncias em desenvolvimento — concep- des gerais em que sao apresentadas as diversas atuagdes no campo da clinica. Aqui sao ainda agrupadas as tendén- cias As quais vém se dirigindo estas praticas a partir de mudangas em seus referenciais tedricos; 2. Atividades e contextos — caracterizagio das atividades mantidas pelos diversos profissionais, sua pertinéncia a de- 22 PsicOLoGo BRASILEIRO terminadas dreas de saber, bem corno seu afastamento em telagéo a outras. Em certos casos, em relagio a estas cate- gorias puderam se estabelecer as mudangas de contexto onde se desempenham as varias atividades estudadas. Pro- cura-se, assim, examinar alteragdes nao nas atividades em si mesmas, mas possfveis atualizacgGes sofridas por estas para se conformarem a novos contextos; 3. Implicagées para a formagdo — através da formagao / espe- cializagao dos entrevistados, identificagio de que compe- téncias consideram importante desenvolver, quais as que Ihes sao Gteis, quais as que lhes sao indispensdveis, e o que os entrevistados consideram como importante na formagao curricular do psicélogo, de um ponto de vista mais geral e do ponto de vista de sua atividade, especificamente. III. Concepgées e tendéncias em desenvolvimento Pode-se afirmar que dentre as concepgdes que emergem e se consolidam na area da psicologia clinica, é dada grande én- fase a valorizacao e afirmagao de tudo que diz respeito ao “con- texto social” no qual as praticas de atendimento e de pesquisa se desenvolvem. 1. A expansdo ou a afirmacdo do campo da clinica A abertura para a consideragaéo do “contexto social” vem sendo paulatinamente incorporada na psicologia clinica. Ha autores que a remetem até certo ponto ao préprio esgotamento da demanda de um mercado por terapias individuais, realiza- das em consultérios privados (Lo Bianco, 1988). Por outro lado, € importante notar que sempre que se tratou de psicologia social esteve presente a questAo do ambiente, ou como se colocava, a “influéncia das varidveis socioeconémicas ou de classe” sobre 0 com- CCONCEPQOES E ATIVIDADES EMERGENTES NA PSICOLOGIA CLINICA 23 portamento dos individuos. H4 uma diferenga desta nog&o de contexto para aquela usada pela maioria dos entrevistados. A entrevistada E11 chama atengio, por exemplo, para “wma tradi- ¢do behaviorista que sempre houve, em que vocé trabalhava o con- texto, mas este era esvaziado do sentido dos simbolos e das questées culturais, isto é, nao se trabalhava o contexto cultural. O contexto era muito imediato”. E certo que, como mostra o entrevistado E20, a abordagem cognitiva nas terapias comportamentais veio modificar um pouco esta visdo: “esta abordagem postula uma mediacdo de varidveis cognitivas. O ambiente ndo atua diretamen- te; atua na construcdo de uma organizacdo cognitiva que, por sua vez atua seja sobre os afetos seja sobre 0 comportamento.” Para a maioria dos entrevistados, quando se fala de “con- texto social”, estaé-se referindo a algo que € constitutivo do proprio sujeito-alvo dos cuidados psicolégicos, e nao algo que faz sentir sua pressdo ou sua “influéncia” sobre ele. Uma razo, sem divida, forte para a nova consideragao do “contexto social” surge no bojo da questdo das condigées de vida das populagoes de baixa renda que se impoe de forma gri- tante. Isto ocorre, principalmente entre os profissionais volta- dos para as resolugdes das questdes politico-sociais levantadas por tais condigdes que continuaram varios tipos de acio mili- tante ao se tornarem psicdlogos. Sao provavelmente eles os res- ponsaveis por encabecgarem os trabalhos de clinica que com o tempo passam a se constituir nos chamados trabalhos clinicos- sociais, comunitdrios, dirigidos As coletividades. A énfase no contexto social faz com que se possa falar de uma mudanga no entendimento do sujeito que passa a ser to- mado em relagao a tal contexto. Como veremos posteriormen- te, de maneira simultanea ocorre também uma modificagéo nas interpretagdes dos referenciais tedricos da psicologia. Aborda- remos, de infcio, esta primeira mudanga. Ainda no inicio da década de 70 surgem alguns trabalhos de psicologia comunitéria em varios pontos do pais. No Rio e em Porto Alegre, como mostram as entrevistadas E12 e E3, co- mecam a existir demandas diferentes das que inicialmente eram 24 PsicOLoGo BRASILEIRO feitas 4 psicologia clinica. A entrevistada E12 comenta que o seu “trabalho era feito por um grupo de 10 pessoas recém-forma- das, todas unidas pela mesma preocupacdo com o politico-social”. Surge, entao, a possibilidade de se considerar, segundo o en- trevistado El, 0 que chamou de “praticas coletivas”, que apon- tam para o desenvolvimento de “politicas sociais, politicas pribli- cas, que demandam uni planejamento de maior alcance”, como in- terpreta a entrevistada E3. Sao também mencionadas as agdes que ainda que “voltadas para a clinica, [tenham] uma preocupa- ¢do em ver o fenémeno contextualizado”, como diz E11, ou que “utilizem-se de instrumentos varios, e reinsiram a questao do con- texto sempre’, como fala E6. De acordo com a entrevistada E7, aparecem grupos que se preocupam em “entender a pratica psicolgica naquilo que hd de universal e, ao mesmo tempo, cultural”. Os entrevistados freqiien- temente comentam, como a mesma entrevistada, a passagem de uma “visdo intrapessoal, para a consideragdo da experiéncia vivida em funcao do tipo de insercdo social” do sujeito, o “que leva o psicdlogo a campos de atuagdo diferentes” dos previamente ocu- pados. Hé uma busca, e este € ocaso de E11, de insergao em areas corno a Satide Publica que se tornam interessantes exa- tamente por permitirem que se “atue socialmente”. E ada E11 que revela ter sempre procu- E também a entre rado “usar 0 método clinico, isto é, ter mantido sempre o enfoque na trajetoria do individuo, mas em uma trajet6ria contextualizada.” Trata-se, portanto, acrescenta, de “um modo de atuar clinico que exige uma andlise do contexto.” Uma faceta desta énfase nas “praticas coletivas”, como fala E3, € que se deixa uma “preocupagdo com um referencial tedrico elaborado e a coisa se toma mais uma questéo de compromisso éti- co”. Este, que muitas vezes foi deixado de lado, aparece em mui- tas entrevistas como aquele que deve marcar, sobre o qual se devem assentar, as novas perspectivas em psicologia clinica. A entrevistada E11 se queixando de que estas modificagdes demo- ram a ser totalmente reconhecidas, fala que “o que se faz no Bra- a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. 28 PsicOLOGO BRASILEIRO 2. As mudangas nos referenciais tedricos e sua adequagdo a nossa realidade. A passagem para a consideragao do contexto social € acom- panhada certamente por modificagdes nos referenciais te6ricos que informam as praticas clinicas. Ao deixar de considerar ape- nas a “dimensio individual, intrapessoal” e tornar como valor importante a “inserg4o social” se deixa também uma visio solip- sista de uma consciéncia individual que se isola em relagao ao mundo externo. Neste ponto, parecem nitidas as distintas visdes de constitui- ¢4o da psicologia enquanto urna ciéncia natural [Natwrwissenschaft] ou como fazendo parte das ciéncias do espfrito e da cultura [Geisteswissenschaften], com suas conseqiientes implicagoes epistemoldgicas e metodoldgicas. Tais diferengas emergem, por exemplo, quando entrevistados distintos enfatizam diferentes cam- pos do saber como prioritdrios, tendo em vista uma maior aproxi- magao do psicdlogo. Ao lado da sociologia, da antropologia, apa- rece, também, a necessidade de compreensao dos fendmenos bio- ldgicos, bioquimicos e neurofisiolégicos. Do ponto de vista da filosofia da ciéncia, a perspectiva das ciéncias da natureza é afim ao racionalismo clAssico que procu- ra descobrir a unidade por tras da multiplicidade fenoménica, ou da um lugar de destaque ao que seriam verdades universais que se imporiam & verdades localizadas. As ciéncias da cultura sao vistas, por sua vez, como substituindo esta raz4o tinica por “razdes” culturais que passam a ser compreendidas e preserva- das justamente enquanto portadoras da diferenga. Dé-se, en- tao, uma mudanga de um padrao tinico de racionalidade o qual recusa outros procedimentos e outras modalidades para um “pluralismo que justifica o dissenso e a diferenca”, que possibi- lita a ruptura e a tensio entre “razGes”, “opinides”, “argumen- tos” (Pessanha, 1987). Nao seria exagerado usar neste caso 0 comentario deste mesmo autor sobre 0 “novo espirito cientifi- co” em relagdo 4 “ciéncia anterior”. Ele fala de uma ruptura que se da gragas “a fisica quantica, 4 teoria da relatividade, a CCONCERGOES E ATIVIDADES EMERGENTES NA PSICOLOGIA CLINICA 29 quimica nao-lavoisieriana, As geometrias n&o-euclidianas”, to- das elas permitindo a instauragao de “racionalismos setoriais” que vieram se opor ao mito da razao unica. Do ponto de vista da “multiplicidade [que] esté claramen- te presente e é perfeitamente reconhecida” (Figueiredo, 1993, p. 89) nas reas de atuagéo que viemos examinando, o referen- cial das ciéncias da cultura possibilitou o aparecimento de no- vas concepgées sobre 0 sujeito ao mesmo tempo que veio aju- dar a compor 0 novo quadro teérico em que se enquadram as atividades que incidem sobre ele. Estaria, assim, em curso, uma maior difusao de uma con- cepg4o que aproxima a Psicologia das ciéncias da cultura em oposigao as ciéncias naturais, movimento que parece tornar-se hegemdnico no momento atual, apesar de nao encontrar-se isen- to de questionamentos, mesmo no plano epistemdlogico. Em decorréncia, se tem uma mudanga da busca de uma unidade para a valorizagdo da multiplicidade, da adogao de uma razdo para a possibilidade de se ter varias raz6es. E neste sentido, que varios entrevistados falam dos novos referenciais utilizados ao lidarem com trabalhos que, segundo E7, As vezes nfo sao nem necessariamente tao novos. De qual- quer maneira, na maioria das vezes, é por se encontrarem em situagGes de trabalho em que as referéncias disponfveis nao sao mais titeis, € que muitos profissionais comegam a se voltar para campos de saber os mais diferenciados. Por exemplo, a entrevis- tada E2 comenta que foi contratada pelo Estado para trabalhar num internato masculino, e encontrou 14 “problemas inerentes a uma classe bem pouco informada” e com “coisas” que ela, ainda jovem, recém-saida “da coisa familiar, da coisa académica, nunca tinha se dado conta de que poderiam acontecer, como por exemplo, problemas com homossexualismo”. Como ela diz, “acho que ali foi © meu despertar” ¢ comegou a perceber que “os métodos tradicio- nais que estava aprendendo na Faculdade de Psicologia..., ndo esta- vam acrescentando...”. E ainda neste ponto que ela comenta que “nao poderia fazer nada de clinica psicanalitica ou psicoterapia de 30 PsicOLoco BRASILEIRO base analitica com aquelas criaturas” porque estes trabalhos seriam a muito longo prazo. O que aparece, portanto, sao, sem duvida, situagdes cada vez mais diferenciadas, que terao corno resposta a busca de novas concep¢bes, novas formas tedricas que se dirijam talvez mais especificamente a elas. A propria idéia de “crise” ou de “individuo” passa a ser questionada, e o que emerge € a tendéncia, muito forte em alguns entrevistados, de considerar a subjetividade num refe- rencial “construtivista” (E11 e E7) assim como a concepgao de “natureza”, que passa a ser vista como uma “construgdo social” (E11). Como foi mencionado anteriormente, € na mudanga de modelo do que seja ciéncia que surge a possibilidade de se pensar em uma “solidificagao da subjetividade como construcgdo sécio-histérica” (E7). Segundo a entrevistada E3 modifica-se, portanto, a “concepgdo de sujeito que se tinha. A visdo de que era determinado pela sociedade historicamente nao aparecia. S6 se che- gava até o problema familiar que de qualquer maneira era atribuido a um conflito intemo, conto se 0 conflito interno ndo tivesse nada a ver com a realidade sécio histérico cultural”. Trata-se, portanto, neste referencial, da adogio da idéia de signos produzidos pelo conhecimento humano, que vo sur- gir de uma encruzilhada entre os lugares sociais, histéricos, politicos, econédmicos e culturais de onde sao proferidos, e nado da consideragao de conceitos universais com 0 estatuto de re- velagGes, de certezas tornadas “naturais” pela tradigao. Como diz o entrevistado El, desta perspectiva “a verdade hoje néo pre- cisa ser verdade amanhd, que a coeréncia que se deve ter é muito mais com a aplicagdo de critérios légicos a andlise de uma situagdo do que uma caracteristica da situagdo em si”. E pois da auséncia deste “em si” que se trata quando se pensa no referencial que é modificado quando se fala da psicologia clinica atualmente. Quase que coroldria a esta posigéo tomada em relagao a teoria que acompanha a pratica, emerge uma intensa preocupa- ¢4o com a especificidade do contexto brasileiro. A partir daf se dé uma critica A importagdo maciga de referenciais tedricos es- a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. a You have either reached a page that is unavailable for viewing or reached your viewing limit for this book. CCONCERGOES E ATIVIDADES EMERGENTES NA PSICOLOGIA CLINICA 37 téncia A crianga numa linha comportamental: “wma drea, por exemplo que é extremamente interessante de interagir é a drea do pessoal que trabalha com abordagem sistémica. Interagir com esses grupos, da psicologia comunitdria, da psicologia institucional, e das abordagens sistémicas, principalmente, as da familia, tem sido inte- ressante como uma forma de trocar idéias, verificar problemas co- muns. Em um certo sentido, tentar aproveitar um pouco da pers- pectiva que eles oferecem... Mas, nao dos dados, de modo geral, nao das bases cientificas, nao dos fatos tedricos”. Sao portanto formas de compartilhar problematizagdes co- muns, de procurar tematizar determinadas questdes que levem- nas a serem consideradas por diversos 4ngulos que as enrique- gam sem que percam o seu perfil caractertstico. IV. Atividades e contextos Para nos aproximarmos das praticas cotidianas que apre- sentam algum cardter inovador nesta 4rea, utilizamos o recurso estratégico de analisar os relatos produzidos pelos entrevista- dos acerca das suas atividades, assim como o relato de experién- cias disponiveis na literatura consultada, em duas grandes di- menses ou eixos. O primeiro envolveu a descrigdo das atividades propria- mente ditas, a clientela atendida e os locais em que tais ativi- dades ocorrem. Embora sejam aspectos distintos, nas experién- cias analisadas, tais aspectos estéo intimamente associados. Mudangas em um deles, quase sempre, vém acompanhadas de mudangas nos demais. O segundo eixo consistiu na andlise de elementos intrinse- cos prépria pratica clinica, destacando-se os seus aspectos tedricos e técnicos (procedimentos e instrumentos, quando esse tipo de informagao foi tornado disponivel). Esses dois eixos, de alguma forma, procuram balizar a pré- pria nocdo de “inovagio” subjacente ao presente trabalho. Tra- ta-se de uma nogdo abrangente: a safda do consultério, nao

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