You are on page 1of 6
Lycopodiopsis Derby (Renault) e Glossopteris sp. no Estrada Nova (Permo-Tridssico) do Rio Grande do Sul Enmanort A. Manrins ‘Museu Nacional, Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, D.F. & Maniano Sexa Soprtnno Diretoria da Produgdo Mineral, Secretaria da Agricultura, Pérto Alegre, R.G.S. (Apresentado por A. Moses; recebido em 22 de maio, 1951) Terrenos da formacdo Hstrada Nova White, de maneira geral, so conhecidos no Brasil Meridional, jé estando assinaladas as suas areas de ocorréncia nos Estados de Sio Paulo, Parand, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nos primeiros Estados, os terrenos siio definidos estratigréfica ¢ paleontoldgicamente; no tiltimo, até a presente data, nenhum féssil foi citado para a referida formagio. Recentemente, em excurséo pelo Rio Grande do Sul, tivemos a oportunidade de constatar a existéncia de abundantes restos de vegetais fésseis em camadas de um afloramento de caledrios da formagio Estrada Nova, que descobrimos no muniefpio de Dom Pedrito. Situa-se 0 muniefpio de Dom Pedrito na regio meridional do Estado, (fig. 1) limitando-se com 0s muniefpios de Bagé, Lavras do Sul, Sfo Gabriel, Rosirio do Sul e Livramento e fazendo fronteira, ao sul, com a Reptiblica Oriental do Uruguai. E cortado em sua parte central, do Sul para 0 Norte, pelo rio Santa Maria, afluente no Thicuf e confluente do rio Uruguai. Geoldgicamente, os terrenos de Dom Pedrito, que se situam na margem oeidental da bacia carbonffera, pertencem as formagées Itararé, Tubardo, Irati e Estrada Nova, havendo afloramentos esporédicos de gra- nitos © gnaisse3 precambrianos ¢ de diabsios trifssicos. v.23 m3, 30 de setembro de 1951. 324 EMMANOEL A. MARTINS & MARIANO SENA SOBRINHO PERFIL DOM PEDRITO "CERRO CHATO" PLANTA <5] IS eSUALA yeti aan Fg t Num perfil goolégico, (fig. 2) désde a cidade de Dom Pedrito, em diregiio NW, atravessando o rio Santa Maria e passando pelo Cerro das Caveiras, até 0 Cerro Chato, situado a cérea de 26 km de Dom Pedrito, verifiea-se o seguinte: A cidade de Dom Pedrito assenta sobre folhelhos amarelos da série Tubario. Para NW, descendo-se para rio Santa Maria, a ee An. da Acad, Brasiletra de Ciencias, LYCOPODIOPSIS DERBY E GLOSSOPTERIS SP. 325, encontra-se extensa rea aluvionar que, 8 km além, pée-se, novamente, em contato com os folhelhos arenosos ¢ amarelos do Tubardo. A 12 km da cidade e na cota de 160 m, nas sangas, encontran-se caleérios amarelos, com restos do reptil Mesosaurus brasiliensis Me Gregor, earateristico do grupo Tratf, Em eérea de 6 km, a estrada geral percorre sedimentos désse grupo, ocorrendo, em virios pontos, folhelhos cinzentos, betuminosos, e caledrios com Mesosaurus. Na base do Cerro das Caveiras, em cota de 200 m, observa-se 0 contato dos grupos Irati e Estrada Nova, ou sejam, os folhelhos escuros, ou azulados, orindos da alteragio dos folhelhos betuminosos do Tratf, sotopostos aos arenitos réseos, ow vermelhos,calefferos e, as vezes, As lentes de caleérios amarelos, ou r6se0s, silicificados da Estrada Nova. Désse ponto, deixando-se a estrada geral e seguindo-se pelos campos, & esquerda, em diregio A estdncia do Sr. Ataliba Coutinho da Rocha, encontra-se o Cerro Chato, a4 km da casa do Sr. Candido Rodrigues da Silva, na dirego N 12.° E. No topo do Cerro, numa altitude de 220 m, evidencia-se uma drea de 200 m x 30 m de caledrio cinza~claro e compacto, com espessura de 1,50 m ¢ assentando sobre folhelhos avermelhados que descem as encostas do cerro até os banhados do rio Santa Maria. © Cerro Chato, situado a 26 km a NW da cidade de Dom Pedrito, * (fig. 3) no muniefpio de mesmo nome e que, agora, passamos a chamar de “afloramento fossilffero Cerro Chato”, 6 um jazigo de paleovegetais. No seu cimo, (fig, 4) como no t6po dos cerros cireunvizinhos, ocorrem camadas de ealeario cinza-claro, compacto, silicifieado, extremamente duro, por vezes cristalino ¢ encerrando abundantes restos vegetais f6sseis, muito bem conservados. Em primeira identificagdo, assinalimos Lycopodiopsis Derbyi (Renault) (fig. 5) e Glossopleris, sp., (fig. 6), provavelmente, Glossopteris indica Shimper. 0 fato de ocorrerem 0s calesirios fossilfferos de Cerro Chato sobrepostos a sedimentos do grupo Irat{, com Mesosaurus, corroborado pelo da presenga de impressdes do vegetal f6ssil Lycopodiopsis Derbyi nos ‘mesmos ealefirios, conduz-nosa situar 0 “afloramente fossilifero Cerro Chato”, cronogeoldgicamente, no grupo Estrada Nova, da série Passa Dois, do Sistema Santa Catarina, de White. ‘A idade geolégica. do Estrada Nova, considerada pelo Dr. Ware: (1908) como permiana, af mantida por Oztvera (1927) e também citada por Oxtvera & Leoxarpos (1943) © por outros autores, como 1%. 29 m3, 30 de setembro de 1951, f * $26 EMMANOEL A. MARTINS & MARIANO SENA SOBRINHO Wasnpunne (1939) ¢ Gunmaris (1936), tida como permiana e tridssica, ¢ subdividida em Estrada Nova Inferior e Wstrada Nova Superior. Ultimamente, Menpes (1945, 1946) e Maack (1947) tém debatido 0 pro- blema da fixagio da idade da formagéo Estrada Nova. Nao obstante, quer por serem incompletas as observagdes estratignificas, em areas geogréficas limitadas, quer pela deficiéncia dos dados paleontoldgicos, parece-nos que ainda permanecem diividas sobre a idade e subdivisto do grupo em causa. A recente descoberta do “afloramento fossilifero Cerro Chato”, no municipio de Dom Pedrito, Rio Grande do Sul, sobre ampliar a area de distribuigdio do vegetal féssil Lycopodiopsis Derbui (Renault), se revela interessante por evidenciar a associagdo, num mesmo bloco de sedimento, de Lycopodiopsis e Glossopleris, provavelmente, Gl. indica Shimper. © “afloramento fossilifero Cerro Chato”, apresentando condigdes muito favordveis & observagdo estratigrifica encerrando fésseis bem con- servados, poderd permitir novos estudos sobre a idade do grupo Estrada Nova, de White, Um estudo permenorizado dos espécimes vegetais fésseis do Cerro Chato, bem como os de outros jazigos ultimamente descobertos no Rio Grande do Sul, seré apresentado oportunamente por um um dos autores » E. M)) em colaboragdo com E. Dolianiti, da D. G. M. do Departamento Nacional da Produgio Mineral. BIBLIOGRAFIA Gutcanies, D. (1936) — Min. Met, 1 Maack, R. (1047) — Arq. Biol. Techol. (Inst, Biol. Pesg. Tecnol,), H, 155. Munves, J. C. (1945) — Bol. Fac. Fil. Ci. Let. Univ. 8. Paulo (Serv. Geo.) Menpes, J. C, (1946) — An. 11 Congr. Pan-Am. Eng. Min. Geol. I, (Tese 43). Ouvema, A. I. & Loxanvos, 0. H. (1943) — Geologia do Brasil. Rio de Janciro: Serv, Inf. Agric., Min, Agricultura, Onivzmns, E, (1927) — Geologia e recursos minerais do Estado do Parand, Serv. Geol. ‘Min, Brasil, Monogr. ne VI. Wasunvnne, C. W. (1939) — Geologia do Petrbleo do Estado de Sto Paulo, Rio de Janeiro: Dep. Nac. Prod. Mineral. Ware, I. C. (1908) — Relatério da Comissdo de Bstulos das Minas de Carvdo de Pedra do Brasil, Rio de Janciro: Imprensa Nacional. 2 2, 27. An. da Acad. Brasileira de Cléncias, Fig. 8. Cerro Chato, 26 km a NW da cidade de Dom Pedrito, mun. Dom Pedrito, Rio Grande do Sul. Fig. 4. Pxposigio de caledtios Estrada Nova, com_ impresses de vegetais fésscis. ‘Mfloramento Cerro Chato”, mun, Dom Pedrito, Rio Grande do Sul, Fig. 5. Lycopotiopsis Derby (I 1). “Afloramento. Cerro Chato”, mun, Dom. Pedrito, Rio Grande do Sul (C 5 A. Martins & Mariano Sena Sob, fev, 1951) Fig. 6. Glossopteris sp. “Afloramento fossilffero Cerro _ CI Podrito, Rio Grande do Sul (C Martins & Mar 0”, mun. Dom fev, 1951)

You might also like