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JOHN H.WALTON TEOLOGIA do ANTIGO TESTAMENTO para CRISTAOS t DO CONTEXTO ANTIGO A CRENCA DURADOURA 2 ‘Teotoeia de Antico TESTAMENTO pare CRISTAOS sitha de raiva e xenofobia (assim como os judeus) ¢ que & “marcado por host dade em rlaga0 a rods 0s poves€ [que], portanto, evoca a hostlidade de todos” {Kant),Estreltamente associado aimagens do primitivo, do selvager, do infant, ‘lee 0 territério obscuro em relagio a sua sequencia mals pura e melhor, 0 pais ‘estrangeiro necessitado de civilizagia, colonizacao, Na melhor das hipoteses, 0 “Antigo Testamento “estatuirio”traz 20 primeira plano em balbucios infantis, ou “inistramente como em um espelho, a“realidade humana universal” ea “religiio moral pura” do Novo — na pior (como Schleiermacher viia a expressar 10 séct- To XIX), apresenta im monoteisino restritivo que, “por sua limitagao do amor de Jeovs a raga de Abrafo, exibe uma afinidade persistente com 0 fetichismo”, A sen- ‘agio de repulsa por esse féssil canSnico atinge sua culminagao logica na suges- to de Hammack de que o Antigo Testamento (agora nao apenas o Antigo, mas 0 -Exausto, Paralisadu, Enfermo Testamento dado a resmungns senis) sea aposen- ‘ado & forca, ou meramente impresso depois do Novo, como um apéndice’. 0s leitores modernos podem no se sentir a vontade para expressar frustracdo ‘com 0 Antigo Testamento de maneira ‘Zo franca, mas podem muito bem se sentir ‘confusos com as profecias obscuras sobre pessoas que nao mais existem, leis obtusas ‘que 0 Novo Testamento identifica como obsoletas, e narrativas graficas de sexo e vio Jéncia que s4o simplesmente perturbadoras quando lidas no contexto do que deveria ‘sera Palavra de Deus. Podemos nos perguntar: como o Antigo Testamento poderia re- presentar a Palavra de Deus para nés? Que verdade ele tem a oferecer, ¢ como chega- ‘mos a essa verdade? E ai se encontra o foco deste livro. Vamos tentar desvendar como a revelacdo que Deus faz de si proprio para Israel pode ser entendida e aceita como a revelacao de Deus para nés, Mas temos de preparar o terreno com cuidado. [Embora os livros de teologia do Antigo Testamento difiram entre si por uma va- riedade de razées, a maioria dessas diferencas deriva das pressuposigGes que esto tna base da investigacao e das perspectivas resultantes trazidas para o texto. Nas pro- _ximas paginas, gostaria de expor algumas das pressuposicdes e perspectivas mais importantes que moldaram a minha abordagem particular. Interpretagdo baseada em autoridade, de foco teocéntrico. A abordagem neste livro é cenirada na autoridade biblica. Uso o termo para me referir a um perfil complexo que envolve uma variedade de descritores (como inspiracdo e inerrancia), bem como umentendimento de que a natureza da Biblia requer nossa resposta, ou seja, submis- so sua autoridade, Cumprimos essa tarefa sendo leitores competentes, que tratam. ‘SheRWOOD, Yvonne, A Biblical Text and Its Aftertves (Camt 2000), 31. ‘Watton, John H.€ SANDY, D. Brent, The Lost Word of Se Preee,2013), 283-291, Esse descritor “virtuoso” nio deve Imerodugaoe fundamentes 3 Biblia diz com autoridade pode ser um esforco complicado ¢ requer uma harmoniza- a0 cuidadosa com uma hermenéutica bem afinada. Precisamos compreender que provavelmente ha uma diferenga entre aquilo em que até 0 israclita mais arguto teologicamente acreditava.e o que o texto ensina, A au- toridade é encontrada neste ultimo, no no primeiro. A autoridade de Deus é confe- rida aos comunicadores humanos cujas palavras esto contidas no Antigo e no Novo Testamento. F, se de fato acreditamos que ambos os Testamentos nos apresentam a revelacio autorizada de Deus, temos a tarefa de discernira natureza dessa mensagem de autoricade, a mensagem inerente ao Antigo Testamento.em seu contexto, Ou sea; ‘0 Antigo Testamento tinha autoridade antes que o Novo Testamento sequer existisse; ele servitia um propésito de revelacio para seu piblico contempordneo. Esta abordagem identifica o locus da autoridade da Biblia em revelacdo teocén- trica, em identificar sew principal objetivo na revelacao dos planos e propésitos de Deus para nés. Essa revelarao nao é seu tinico propésito, mas € seu propésito prin= cipal. Em outras palavras, a autoridade do Antigo Testamento nao € apenas encon- tradz na forma como ele aponta para Cristo. Ele de fato aponta para Crisio, claro, mas 'sso nao é tudo que ele faz, Sendo trinitérios, podemos coneluir que a revelacso. de qualquer uma das trés pessoas da Trindade ¢ um contedido legitimo’, Conforme o texto revela Deus para nés, submetemo-nos & sua autoridade act Thendo o entendimento dos planos e propésitos de Deus que sio, assim, revelados. Aceitamos a oportunidade de participar de seu grande empreendimento, Nao po- demos personalizar a mensagem de acordo com nosso gosto, ou ela se tornaré nada mais do que nossa prépria produgao, um retrato de Deus definido pela nossa ima- gem. A ideia mesma de que a Escritura 6 inspirada elimina a afirmagio de que a hu- manidade meramente fabricou o Deus da Escritura Nao, quando afirmamos que a Escritura tem sua fonte em Deus, afirmamos que o perfil de Deus que adotamos nao & de nossa pr6pria lava. Precisamos, portanto, interpretar a Escritura de uma ma: neira que preserve essa verdade. Por essas raz6es, nossa interpretacdo da Escritura precisa ser fundada em uma hermenéutica que ligue a mensagem de autoridade do texto & intenc0 do autor. O autor fol investido da autoridade de Deus*. Nao podemos cheyar A mensagem que «4 -epras, O cermo “virtuoso” descteve o tipo de pessoa que somos na profundidade de nossa identi- dd, no $5 como agimos. pe Octstocentrismo por muito facilmente margializar os outros membros da Trindade. Aa mesmo ‘tempo, seria desaconselhivel imaginar que Javé &o nome apenas de "Deus code Deus ‘io Antigo ‘Testamento ndo € especifica de uma pessoa e nem nossa percept. - ‘emo nio sesisingiramnos “Jaye” a Deus Pal, concomicantemente nio devemos Tilho. Uma abordagem saudivel para a leitura eistolégica do Antigo’ Hays, Richard, Echos of Serpte in the Gospels (Waco, TX: Baylor University P ‘Vou continuar a usara linguagemn costumeira, referindo-me aos “autores ‘mente, apesar de minhainsisténcia deque nio havia de fato“auores" per se, dar tendemoe, no mundo antigo. Essa ciscussio pode ser encontrada em Wai of Sipuare. ear v qeorootnda AN£100 TESTAMENTS Parca, os escolhidos para essa Jos autores human ce 2. nds sem passar pelo ‘rar na cabega dos autores human Denso Ao mesmo tePO, ee meauas erences, Uaisquer qu clas ren” endo estamos comprometidos com (implicito) ¢ um comunicador efetiyg : apenas que oautor (TDF : sido, Devemos across: P* essa comunicagdo desde que sejamos Capazes de ng, tanto, que podemos, por seer no lugar do publico implicito™. De modo peers eae aa oe sae isacivas tinha aMiondaHe ena DD EPO = A Ate ee ‘om sentido continuiado au fine EE ie cri é im 4 ilo ago ene ro cesevnento dea reolo¥a sistema td ao Read hoje. Ainda assim, ela tem uum papel formativo & peice hhhar em nosso entendimento da teologia para nosso tempo € . Contexto antigo, objetivo cristolégico final (nds nao somos: opiiblico ‘implicito). Qual- de qualquer época ou cultura pode se considerar, justificadamente, pare dopo implica ‘que Deus imaginou. Mas ndo estamos no piblico implicito doau- tor humano, Outra maneira de dizer isso, e uma que uso 0 tempo todo, € que a Biblia 6 portanto, para nés, mas nao foi escrita cirecionada a nds. Para compreender plena~ mente o modo como ela é para nés temos de fazer o que for preciso para nos encaixar 1no péblico implicito dos autores. Nesse contexto cultural ¢ literario, encontraremos co ensinamento investido de antoridade do texto. O que o autor antigo entregou a scu piblico tinha autoridade para eles, e essa autoridade nao diminuiu com o tempo ou pelas mos da revela¢ao futura. O que tinha autoridade para eles continua a ter au- toridade para nés na medida em que transcende o Ambito da antiga alianga, e deve- ‘mos, portanto, extrair sua verdade usando suas lentes, em vez de impor nossas lentes a.cles, O contexto antigo pode, as vezes, ser obscuro ou opaco, e oferece desafios que podem ser dificeis de superar. Mas devemos tentar compreender 0 contexto antigo da ‘melhor maneira que pudermos. Exercer imperialismo cultural ou anacronismo teo- l6gico exagerados s6 pode resultar na perda de acesso 4 comunicacao autorizada. Nao ¢ desculpa mencionar os cristéos que, por dois mil anos, ndo tiveram acesso a0 mundo antigo. Ainda que aqueles que vieram antes de ns possam ndo ter se es- forcado muito para entender o texto nesse contexto, nossa responsabilidade é usar todas as ferramentas & nossa dispo: ‘do para fazer a exegese mais cuidadosa que pusdermos, que © que os cristios primitvos também procuraram fazer. A interpre tagao ética depende do uso completo ¢ informado das ntas 9; ni depende da identidade das ferramentas. - syaalial ‘Nao precisamos apenas reconhecer 0 contexto antigo (pa i samento moderno ao texto); temos também de resistit a ‘Ao me referir ao autor *implicto”, estou reconhecendo qu ‘meio da comuntcacao que ele nos transmitiu. Ndo podemos co {iteratura. Da mesma maneira, 0 piblico implicito descreve aq Alrigindo — o piblico que o autor tinka em mente, Introdugio ¢fundamentos 5 ‘mensagem : ; ue quer que o autor do Antigo Testamento es- tivessecomunicando a seu pablic, Discutiremos isso melhoe no préaimo capfeao, ‘mas, por enquanto, esereverci minhas pressuposiSs © metodblogas subjacentes como Terisroréicas” em vex de “cristocéntricas”, Na ebordagei elstotdlle, reco, Jar que 0 Antigo Testamento aponta para Cristo, Consequentemente, 2 usaca neste ivro, primeiro, busca a autoridade no que os autores do Antigo Testa. ‘mento estavam comunicando, independentemente da cristologia e derivada do con- texto. A cristologia pode se mostrar valiosa para desvendar melhor 6 entendimento do plano de Deus ¢ de seu reino, mas nao exclui o que foi inerentemente ensinadono contexto do Antigo Testamento, que nada tinha a ver com cristologia (e eu afirmaria gue hd muito no Antigo Testamento que nao é de natureza cristol6gica). Ao mesmo tempo, todo o Antigo Testamento est nos conduzindo, para Cristo. A cristologia, as- sim, nao pote ser deixada fora da equagio, mas nao substitui o que os autores do An- (igo Testamento estavam fazendo®. Portanto, na maior parte desta jiado Antigo ‘Testamento, 0 foco ser no contexto do Antigo Testamento e fard pouca referencia a cristologia, embora, no final, se dé atengao a esse aspecto como o : Impulso teolégico consistente. A variedade de génetos no Antigo Testamento nos da contetidos embalados em muitas formas literrias diferentes Precisamos prestaraten- 40 nessas formas e compreendé-laso melhor que pudermos em sua roupagem antiga, mas também reconhecemos que o género é apenas aembalagem, ndo.o produto. Quer €stejamos lidando com narrativas, provérbios, profecias, leis ou hinos, as formas ¢ 0s géneros do Antigo Testamento esto sendo ad ins t n ‘eventos histéricos sao retratados, as perspective Sgicas oferecem a lente mais im- Portante para a interpretacao. Os ‘eventos no so apenas relatos pelos. autores; cles Sto intepctades — ea teoloia¢ ane, i eae iladas, na éa estruturada sociedade que SA se dentificar com os planos e propésitos de avé, seu sibioe santo Deuscia Alian- sa. Fssa literatura, portanto, ajudava Israel a saber como viver na presenca dele. Dito de outra maneira, se o papel primordial do Antigo Testamento Seureaectat a revelacao de Deus, 0s leitores (antigos ou mé devem cane mai 10 a revelacao de Deus que ¢ oferecida, ind 8 Quando Richard Hays analisa a intertextalicale dose ‘endimento de Jesus em uma intexpretagéo simbélica do que dé pleno valor ao que os evangelistas est4o| Ambitocristol6gico ser, a0 mest tempo, ‘Arig Tenant, inva, aoc Srp para oferecé-la, Qualquer que seja 0 8 texto recebe outra ilocugao de Deus Introdusao ¢fundamentos 7 tamento em particular sejam chamados de “historia da redengao” ou “historia da ‘ahacio”,Se no uso dessa terminologiaestiver implicro tudo o que Deus faz20 Tengo da historia eda Escritura estdfocado em nossa salvacao pessoal dos nossos pe- ids, a rerminologia é muito reducionista. Podemos $= (€ seremos) eternamente oe a Deus por oferecer libertagio do pecado e justificasao dante do Pai por in- errmedio de Cristo. Nao nos atrevemos a negligenciar esse Ponto importante. Mas 0 {que Deus est fazendo é maior do que nossa ‘salvacdo pessoal, por isso também ng a atrevemosa interpretar a Escritura como se fosse toda sobre nés. fais recentemente, alguns tém tentado esclarecer a “historia da redengao” acres- contando’ sua definigao o planode Deus de redimirerestaurat 9 ‘cosmo’. Essa descri- {ao mais ampla é mais factivel, porque tira o foc pessoal; inclui o concelto fe que Deus vem trabalhando para restaurar todo cosmo (inclusive nés) a condi¢o {que le sempre desejou. Essa tarefa indica quais sempre foram asintengoes de Deus. i qmos nos concentrar nas acBes que ele empreendeu (o que ele fe2 Para restaurar ron asko para si) oui no produto preteridido (Deus habitando entre seu Povo © cone acionamento com ele), Mas, mesmo com ofoco maior emmnente,tazAPem P= vrramos estar atentos a0 que € odesejo supremo de Deus para sua classe: ropreendida, prtanto, a salvasao inlui arestaurardo de toda ‘de Cristo. O resultado é a nova criagao. Neste li- ‘ro, vatrios investigar 0 que Deus jé empreendew, além de tentar ‘compreender 0 pro- dato conforme visto no Antigo Testamento, Criticamente consciente, mas evangelicamente fundamentado. O interesse dos estu- os erticns & que o texto bibl/ea sa entendido em toda a euasoasticagao’= p> finials Taisestudos incluem elementos de andlise ltedria (abrangendo genero- cotratéyia retéria earlse do discus), andlisehistSric,histria dos eligi oss 90% posi de textos, atenco a0 contexto (tanto literirio como! cultural), estudo de ma- huscritos e a transmissao de textos, Para mi tem todos esses nivels de estudo e tentarel r sintese que estou oferecendo. Pretendeu comunicar, Mas, a0 mest se este for definido por uma leitura pl AUTEN RRL —y “trowooiade ANTIGO TESTAMENT para CRISTigg ‘ &é no é contraditério com mj. # i A -tica, portanto, Meu compromisso com a andlise critica, Po c f ‘has rengas evangeicas sobre a Escritura, Nao trato © ganas Testamento tf frais uma obra de literatura antiga que deve ser analisada de forma impessoal ers i tna Heranciamento. Defendo.o carter tinico do Antigo Testanesh como Est, 6 corncietudnrg ora co wn obs ACen a ean a ‘ o xielo isto-e-aquilo. ee a Go isto-ou-aquilo, mas um Tm: isposiga’ ase afastar da exegese tradicional sem questionar a teologia tradicional & 4 eae Ee teologia é construida, em grande parte, sobre a bbase da Escritura, et Toso significa, entre outras coisas, que teologiando dita o que a Escrituradeve d- % ex Como nossa teologia atual foi moldada por uma s{ntese de muitas passagens da Ss Eoctitura (de fato, “todo o desfgnio da Escritura”), a0 lado da l6gica aplicadaa ques- a toes teolégicas, podemos encontrar razOes para ‘nos afastar da exegese teolégica tra- os! dicional de uma passagem sem nenhuma intencfo ou consequéncia de enfraquecer al ‘otema teol6gico mais amplo para o qual essa passagem foi utilizada. 2 Por exemplo, a Igrefa endossou historicamente a teologia da criagdo ex mihlo (“a a partir do nada”), Essa doutrina originalmente dizia respeito a discusses sobre a cri Goda alma humana (isto 6, se ela era preexistente ou se ganhou existéncia junto com © corpo) eacabou sendo usada durante a controvérsia ariana, o debate sobre Cristo ter ou nao sido criado. Apenas em tempos mais modernos essa doutrina foi aplicada zo ‘cosmo material. A teologia cristi nfo aceita a eternidade da matéria; cla insiste que, quando Deus criou o cosmo material, ele o criou do que nao existia anteriormente, Essa doutrina é apoiada por ldgica (ndo contingéncia divina) e por varias escrituras tanto do Antigo como do Novo Testamento. Entre as passagens usadas com frequen- cia para corroborar a criagao a partir do nada est4 Génesis 1,1. No entanto, é possivel steoLoctade ANTIGO TESTAMENTOPANLCRISTAg, 18 -testamento s40, com frequéncia, negligen. ‘mas as contribuig6es do proprio Antigo ciadas por essa abordagem. Guamto primeira opedo, de qneJavé €umn Deus ue HPs certamente €apro. priado aplicar tal descritora Deus, Noentanto, temos de indagar se esse descritorcapta ‘0focodo Antigo Testamento. Seria difieil verlibertador” como oatributo fundaciong) ide Deus na hist6ria do Antigo Testamento, embora mult>s exemplos significativos de cere atosde libertacho estejam presentes. Na verdad, dois evento® Sin0T Aghe seas ai sri de Ive! (alibertaco da escraviddo no ito ¢arestarto depois docxilio) funcionam como testemusilios poderoeos do poder de Deus de libertar sey, ovo. Além disso, encontramos exemplos da. liberta¢ao por Deus no plano individual, ‘como na libertacio de Davi de Saul ou Absaldio. Mas nenhuma dessas situacdes re. motamente semelhante a ideia de Jesus nos salvar de noss0s ppecados. Os que prefe- sae modelo da *histora da redenio” querem usar esse modelo para unir 0 Antigo re nove Testamento, ¢0 desejo de cal unidade e continuidade 6, de fo, admirdvel Mas, sco io metanarraivo ndo fizerjustica ao Antigo Testamento, tals esforgos serio contraproducentes para a autoridade do texto, Precisamos ter culdado para qué nos: sos tentativas de compreender a unidade néio acabem projudicando a autoridade, 'A ideia de que Deus esth preocupado com a redencio da criasao € preferivel caso a“histéria da redencao” seja usada para descrever a Biblia em. geral ou o Antigo Tes- tamento em particular. E verdade que o plano de Deus é restaurar todaa criagéo e que dleo faz redimindo-a; a redenggo é seu propésito maior. Continuo relutante em usar ‘esse modelo, no entanto, porque vejo pouco progresso sendo feito nessa vertente! do estudo do Antigo Testamento. Nao me sinto inclinado, porém, a pensarno Antigo Tes: tamento como se fosse de modo geral, ou principal, uma “historia da redengao”. “Todas as abordagens descritas até aqui parecem ser impulsionadas por um dese- jo de ver Cristo como o centro da Biblia, o que € um impulso compreensivel. Cristo € geralmente entendido como o climax do plano de Deus ¢ o instrumento pot meio ddo qual Deus redime toda a criacdo, incluindo a humanidade, com ele, Bu voltaria, no entanto, a distingdo entre “centro” e “climax”. Cristo € 0 climax (embora até mes ‘mo essa afirmacdo deva ter uma ressalva por conta do reconhecimento de que anova criagéo ainda est4 por vir), mas isso ndo justifica centralizar 0 Ant rele. Uma vez mais, voltamos & ideia de que nossa interpret lica e nao cristocéntrica. ‘Mas 0 que motiva tantos a verem Cristo como 0 centro hhé boas razbes teoldgicas para isso, ¢ encontramos muitos tebl toria da Igreja que tiveram tais motivacdes. Cada ted teve razoes particulares para adotar uma abordagem ‘muitos casos, dos desafios teoldgicos de seu tempo e precisa ser perdido dessa hist6ria importante para ‘bémm encontrar a revelacdo maior do plano e dos props tamento em sua alianga com Israel. Somos trinitéri ‘yelagao de qualquer uma das personas cla Trindad rerodasde¢flndamentos ie Hoje, no entanto, especialmente no dmbito popular, € fic! ser impulsionado por ‘um foco na salvacio pessoal. A salvacio é importante, mas, para alguns, ela repre= serra um beneficio que ofusca todos 0s outros aspectos da fe da relaclo com Deus forinermédio de Cristo, Ainda que seja maravilhoso o benefilo da salvasio, niko 3 permitir que ele seja 0 centro de nossa fe. As pessoas que se inclinam para ee perspectiva precisam perguntar asi mesma: “Se no houvesse uma promessa de paraiso, en serviria a Deus mesmo assim, so por ele ser merecedor?”. Essa prov fain mesma que Deus props a Abraao em Génesis 22.¢ éa prova que 0 Adversirio presenta no ivro de Jo, Salemos, portanto, que o servic incondicional nao é uma {questo moderna ou fabricada; é um aspecto real importante de nossa teologi “Talvez a necessidade inerente de uma hermeneutica cristol6gica possa ser inves tigada; podemos questionar se um judew arvalmente conseguiriaconstruir uma te0- Jogia do Antigo Testamento sem aceitar que ela aponte para Cristo. Serd que uma sbordagem judaica seria diferente da que estou sugerindo? Eu afirmaria que tais “bordagens poderiam englobar muito o plano e 0s propdsitos de Deus conforme ex press0s no Antigo Testamento ¢ que também poderiam compreenderaidela de par= Fcipagao no plano de Deus. Fsse ponto & important; esses cnceitos sioas mesa idelas que precisemos entender em nosso estudo do Antigo Testamento. As die feneas, no entanto, também sao significativas. Como intérpretes cistos, vemos ° flano ¢ 0s propésitos de Deus expandidos em Cristo E, quando participamos dessa Expansio no Novo Testamento, 0 ambiro do empreendimento divino nao s6€ es eudido como assume uma nova forma gragas ao fato dea presenga de Deus ter sido {Go radecalmente transformada. Os propésitos de Deus sao mais claros ¢ mals ela- bomudos ne Novo Testamento e, se ndo ajustissemos nosso entendimento para re; fleur esse conhecimento, estariamos sendo negligentes. No entanto, se um cristo bihasse apenas para o Antigo Testamento, nfo encontraria nada lé que um intér- rete judeu também nao pudesse encontrar. “Ahistoria da teologia do Antigo Testamento ¢ onde este livro se encaixa. ‘A disciplina da teologia do Antigo Testamento €relativamente nova, tendo comerado, essencial ‘mente, no inicio do século XX, com alguns precursores esparsos desde o final do téeule XVII, Agul, tare apenas de algumas das tendencias eds temas", Mas, {oi entendida como uma disciplina met ido de modo objetivo. E essas so as questoes ‘que estimularam o del Eissfeldt e Walther ‘Eiehrodt no comego do século XX: o estudo devert ‘Thesog: Flowering and Fl abrangente de Hous, Ol -qno.ocia d ANTIGO TESTAMENTO HTECRISTIng ie logia do Anti: sseérico ow eol6pico? Muitos agora defendem que 4 6 tig ce i a an ana aeiae rréncia confessionals- i : mr gece ab mascot ie ‘Walter Brueggemann, questiona se devemos falar de uma tinica teologia ou de ml. livros do Anti i Spetjg Antigo Testamento. Em vez de pressupor que 8 tiga spleens ot con abode defend que Aigo Testaeno Dore rasenta apenas 0 desenvolvimento a0 fongo de um dinico Wesee teolégico, mas cue ‘exemplo, os proponentes dessa hi vores contrastantes © men a pragma que Joe Eclesiases esto em oposied0 is equagbs do principio date: vShuigdo encontradas em Pravézbios, ou que 2 suposta fonte P clo Pentatcuco ext Tconflito com a fonte D. Consequentemente, alguns se dispoem a questionar nao S cea distipina é historiea ou teol6gica, mas se 03 proprios textos sao catacteria- cos por unidade ou diversidade. ‘Alguns até questionam se uma teologia do Antigo Testamento coerente € mesmo possfvel ou vidvel U Bart). Mas, ajulgar pela atividade continuada nea disciplina, pax rece que a maioria concluiu que coeréncia ¢ possivel, ainda que exista um amploes- jpectro de opinides. Das discussées sobre método e pressuposicGes, podemos passar para as diferencas de opinides que surgiram em relagao aos assuntos ou temas da tcologia do Antigo Testamento. Uma amostra de possiveis tépicos principais indui: alianga (W. Fichrodt), comunhao (Th. C. Vriezen), Deus que age (G. E. Wright), jpromessa (W. C. Kaiser), credo (G. von Rad), reino (G. Fohirer, B. Waltke, E. Meri, RGentry ¢S, Wellum), (intangivel) presenca (S. Terrien), comunidade (B. Childs, P Hanson), teodrama (K. Vanhoozer), salvagio (G. Vos), imagem (R. Hubbard, R. Johnston eR. Meye), nome (M. Noth), kabod (T Mettingex), conhecimento de Deus (W. Zimmerli), soberania e santidade (B. Jacob), lei/promessa dialética (R. Cle- ments), bénc4o/libertacao dialética (C. Westermann) — ea lista poderia contin.ar. Outros temas de destaque sdo terra, pecado e sabedoria. Para alguns ‘ico citado € considerado 6 “centro” da teologia do Antigo Testament £ simplesmente o tema ou a dialética dominante — talvez até ‘ou uma metfora organizadora, Opinides podem variar, mas a todos esses t6picos pelo menos tém significancia dentro & _ Neste livro, darei atencio ao lugar ¢ a0 ambiente hist6rico "com que eu mais tenha ainkdadeseja PROVAN, Senay tt ney Re 9) de Provan e a recomend forcemente para os letores, especialmente aq Invade andes . chistérico ¢ o teolégico em um contexto intencionalmente confessional. Esta obra, portanto, ser4 intencionalmente crista e, mais especificamente, evangélica em um. sentido amplo. Essas afirmag6es definem meus comprometimentos confessionais, ainda que minha proposta seja tentar Jer @ Antigo ‘Testamento por uma perspectiva israelita. Em outras palavras, é minha inteneao que esses comprometimentos defi- ‘nam minha meta, embora sem servir como lente. Gostaria de apresentar a religito israclita, na medida em que ela é baseada na revelacfo de Deus por ele mesmo aos israelitas, como uma fonte para a teologia duradoura e, assim, meus interesses sf0 ‘mais do que antiquérios ou histéricos. Insistiei também, no entanto, que os ele. mentos devem ser compreendidos em seu contexto israclita, e ndo pelos olhos do ‘Novo Testamento, dos primeiros autores cristaos ou da teologia moderna. Desse ‘modo, estou interessado em abordar os temas em que os israelitas acreditavam, bem como ateologia que emerge das piginas do Antigo Testamento — preservando a voz teolégica do Antigo Testamento, Espero, assim, conseguir construir uma ponte en ‘te academia e a Igreja. Quero desyendar a teologia revelada no Antigo Testamento para 0s cristaos, lendo-a por umallente israelita, endo crista, PRESENGA DE Deus Quando voltamos nossa atencio para a busca de uma ideia cuja progressao se es- tenda por todo o Antigo Testamento, algumas possibilidades vem A mente, como € evidenciado pelo levantamento histrico acima. “Alianca”, claro, seria um candi dato forte e englobaria algumas das outras que foram sugeridas como possibilida- es, como “Tori” ou “promessa”. Mas sinto-me inclinado a ver até mesmo a alianca, como parte de algo maior. Outra sugestdo é focar no tema do “reino” na Escritura. Certamente o reinado divino ea monarquia davidica patrocinada so temas centrais do Antigo Testamento, O reinado de Deus € 0 tema dos Salmos, e seu governo soberano ¢ desenvalvido ‘tanto nas narrativas da Escritura como nos Profetas. Além disso, é um tera que en- Contra lugar na reologia messianica e tem um papel importante na transicgo para o Novo Testamento, em particular nos Evangelhos, com sua énfase no reino de Deus. E © livro do Apocalipse, de maneira especial, focaliza o governo de Cristo. Entretanto, sem nenhuma intengio de minimizar a importincia do tema do reino, cu sugeriria Povamente que devemios pensar em algo ainda maior. Proponho que o principal tema que avanga por todo o Antigo Testamento e, de ‘ato, por coda a Biblia é 0 estabelecimento da presenca de Deus entre seu povo | tabelecerei minha morada entre vés”, por exemplo, Lv 26,11) com a inte ‘ita de estar em relacionamento com eles/nés (“Eu vos adorarel como Serco vosso Deus", por exemplo, Ex 6,7; LV 26,12; J 11,4; E2 36,28). Né ‘Mea a usar Antigo Testamento em uma conversa com outrasreligidese com os ‘eno, Mero sono vu lotergicom sucha org n6 dos atmos tem com abedvosdierenes 7 : TeoLocta de ANTIGO TEETAMENTO para CRISTAOS 2 seja o “centro” da teologia do Antigo Testamento, mas € um tema abran- SE un mga ga erdgrama de Deus se move. E a liana que da articulaco formal aos estgios da re lacdo entre Deus € seu povo; a promessa de Deus que tornaré tal relacao possivel; 6 a Tord que governa com as pessoas pociem viver na presenga de Deus e manter are- Tnego com ele; e 60 reino de Deus que expressa 0 papel dele no cosmo, edo qual par. ticipamos enquanto vivemos nossa relacéo com ele: Um breve exame de como o tema da presena de Deus e do relacionamento com ele se de- senvolve pela Escritura, Esse tema ¢ inaugurado no capitulo inicial do Genesis, em- bora geralmente nos seja dificil reconhecé-lo, porque nao estamos mais conscientes do que esti envolvido no descanso divino, ou somos distraidos por quest6es cienti- ficas, Em minha interpretacdo (para detalhes, veja 0 capitulo 3 minhas publicacdes anteriores), 0s sete dias da criacao referem-se primariamente a ordenacao do cosmo por Deus para servir como espaco sagrado onde ele possa estar em relacionamento com suas criaturas. Ele descansa quando assume seu reinado nesse espaco sagrado, ‘com seu centro no Eden, As pessoas perdem o acesso a presenca de Deus e rompem. 6 relacionamento com ele quando tentam (por sua desobediéncia) suplanté-lo e fazer dle si proprias o centro e a fonte da ordem ¢ sabedoria. ‘Depois de Génesis 1, a Escritura conta a histéria da restauracao gradual empreen- dida por Deus de sua presenga entre seu povo e de seu relacionamento com ele, ‘culminam ambas na nova criac3o0, Podemos ver, portanto, que esse tema permeia a totalidade do texto biblico. As pessoas comegam a citar o nome do Senhor ‘menos na época de Set (Gn 4,26), invocando, assim, a presenca de Deu: ‘omecanismo de Deus para estabelecer 0 relacionamento, ¢ acaba levando | Exodo) ao restabelecimento de sua presenga. A Tord é dada para que o ‘possa aprender como viver na presenga de Deus, para nao perdé-la 0 ‘ses poucos exemplos, podemos ver como 0. ‘05 temas da presenca cdo relacionamento, E significativo notar que esse te ido como sm am a tec também tem continuidade no Novo Testamento, Dessa forma, = ‘no depend do Novo Testamento para sua identificagzo, em continuidade com as principais moog efrdamentes ‘© Novo Testamento retoma o tema com a encarnagio: “e o Verbo se fez carne e habitou entre nés” (fo 1,14). A encaragio teria acontecido mesmo que nao hou- ‘vesse pecado pelo qual morrer, porque a encamnagao fol um passo importante na progressio da presenca de Deus. Jesus teria ascendido eo Espirito Santo teria sido. Enviado (At 2) independentemente do estado da humanidade, porque o Espirito re- ‘sidente 6 também um passo importante na progressio da presenga de Deus. Assim, a Igreja se torna c templo de Deus (2Cor 6,16) enquanto Deus vive (habita) entre seu povo, A declaracio “Eu vos adotarei como meu povo ¢ serei 0 vosso Deus” é in- dicativa do relacionamento. At at i » ( tema chegaa uma conclusdo na nova criacio detalhada em Apocalipse 21 como ‘Deus morando no meio de seu povo na nova terra, A relagdo foi possibilitada pela tstzo no cere do plano de Deus ¢ que sa0 0 foco da Escricura, do inicio ao fim. ‘0 enredo da presenca é mais importante do que o enredo da salvacdo (histo ‘tia da salvag3o). Jesus ndo se tornou humano apenas para ‘morrer por n6s; ete se tomou umano par estabelecer a presen cP Sani

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