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ALINE SOARES Loves Il Os Prosiemas FUNDAMENTAIS DO DiRErro NO PENSAMENTO DE KANT Nota Previa A. tnrosito bistes tv dot 1) conhecer alguns momentos fundamentals da formagao dd Estado liberal e democritico, do qual a doutina jut dca de Kant é uma das manifestagdes mas alias esigni- Feauvas; 2 fxar alguns concetos fundamentais da teoria politics © juridiea dos jusraturalistas, cja compreensio é impres- ‘cindivel para entender 0 discurso politico e jurdica de Kant Porlemos enfrentar agora com expertecta msior os proble- ‘mas da losoia do direto de Kant. método da noses exposi io sera exsenclalmente exegético: tentaremos entender Kant através de uma leturaatenta do texto, Daremos entao impor: tGncia particular escotha dos wechos relevantes que permkt- "lo uma exposifio que retina possivelmente os dois requisios da clareza eda fidelidade, © objeto principal do nosso estudo seri 3 Metafsca dos ‘Sostumes (1797), obra dividida em duas partes inituladasres- ppectvamente ‘Doutrina do direit ‘Doutina da vitude’; exa- ‘minaremos mais detidemente a primeira dessas duas partes ‘Outras duas obras de Kant podem ser consideradas, a primeira como introduglo, a segunda como apéadice. Como introdusio| ‘ necessirio 0 coahecimento da Fundameniacieda melt, es costumas(1785), a qual Kant expe sua famosa tora da ‘oral do dever; como apéndice & necesirio 0 conhecimerto o ensaio, to menos notivel, Sobre a paz perétua (2795), em ‘que Kant expe seu projeto para a slugio das controvérias Internacionsts Bre a8 outras obras menores que pensamos Stes para 08 fins de itustar 0 pensamento potico & juridico de Kent, € 38, {uals iremos entio nos efene principalmente na sitina pare, esto os escrtos chamados de Rlowfa da Hiri, porque nes Kant expoe suas idéias sobre as leis de desenvolvimento da hhumanidade e sobre a dres3o do progzesso humano, io ces 1D ita ce uma bisa universal do ponto de wstacoemo- polia 0784); 2) resposta a questdo: 0 que 60 luminismo? (1784); 3) comjecturas sobre. orgem da Historia (1786); 4 sobre 0 dito comum: 0 pode estar certo om tori, mas do vale na pritica (1793); 5) se 0 género bumano se encontra em progresso continuo ‘em direcdo ao melbor (1798), 2 O Que £ « Merarisica pos Costumes Para etenero que Kant quer dizer com mete dos comumes, seré eportino aalaar breverente osigaticado de ‘metas’ de costumes. Como ‘ashes em geral Kant entende toda aquela com- plesidade de segs de condua aU de Ie (00 sentido mais geral da palavra) que discplinam a acio do homeay como ser Ive. © Romem como ser analisivel Go ponto de visa fenome: sol6gico es submetdo As les da natureza, que regular & ‘ida de todes os owes seresnaturas; mas como se lve, pertencente 10 mundo inteligvel,o homem foge das es natu, fais adap suas agdes a uma forma diferente delgislagao legislacdo moral, que dé origem so mundo des conus, cot " ‘como mundo da Hsia tana ou da cviizgto ou da culia (como s dita ho) em contraposgao ao mundo da natreza, A plava ‘costae em alemio Sit), inclusive, esresponde a0 ltim mos 20 ego tthe, dos quais dervam tanto moral quanto dea que led! cam de fatoa doutina da conduta humana, em contapesiolo 3 dowtina da niturea, 04 fist Exatamente no inicio de Fondameniagdo, Kant accita tripaigi clisica da flosofia em(6gicayou estudo ds rel Bes meramente formais 2s os ens ed) ou estudo dos outros entes natures, e(scdyou estudo do mundo natural € ds les que 0 regulam: ~al- Se con clones oan | FiSUFIA PRMAL & = hilegeny Meeg’Dbses aera i nnTeRIAL leis da nates Moe shes empires 4 = his da liberdak “tice (Aleta anural) ches vasionsl “A legos ana se did em ts lnc: & cea es ¢s Lg, dane ¢ peter coe fete com tees ds cot (ods comin fala, ov émutma terete 2 cet oo Ea Gude ecoprve untae dora do insect ¢ ds ‘to 0 da ers do penne em ea sem dt {lo de ojo A lost oral charae agi oso. fama nc tven gutta de cbr detemiades © das itra quae de ado mbnedon does porn et em dint. Pogue cos leo. a ada aun: sacle Hherdade W coca se ocupa dae primeras chanel Qve se cu das segura € a Btica: aquela ¢ também chamada filosofia natural, esta, ‘Hosta mort (Edo Pavia, ead. Vie, PD Disso esula claro que, quando Kant fla de ‘osteo Para compreender 0 teemo ‘metafisics, € preciso inode uma distingao ulterior. Kant ditingue uma parte empnca de qualquer forma de conhedimen una gate nda (sista omene eta segund pode receber © nome de salsa 8, porque tal ditingso vale tao para sca quanto ‘ara. ica (as no vale para a logs, que nto pode ter ua parte empiric tatando unicamente de rlagbes formats, ere uma isica empiric eum fica racional, uma ica emoiica uma éticeracioa, ou, em outs palavas, una fsa da na- tureza perto de uma metafisica da natures, assis como uma Fisica dos costumes. Porque a légiea no conhece tl disting2o, as partes constutvas da hlosofa resulta ser cinco. Ametafsca _~Jas costumes € ua dessas cinco pares, ou ses, $.c-esdo Tradug indir do talano, doses de Kat 4.7, 82 om "1 “Querendorefericnos a textos de Kant, uma das definigdes vals cars de metaiea €4 que se encontra nas primelas Psat dos Prolgémence a toda meafcafutura que quetra ‘prevenarse como clénca, "Em primelto lugar, no due defer prt fonts do saber metafisco, ext implicto no poderem {er fortes empics; os principles mo dever, porant, set derivados da experiéncia, porque o saber metafsico ¢ sempre (ome interior que & base da pi fondamento. “Este € um saber a prion, derivado do inteleso ura © da (Gia gu nese evo, nto se dferencarl em nade dame Tila pura, chama-lot, portato saber flosco puro” (al- Gio Paria, ad. Madinet p 183. Se nos refers agora esse conceo de ‘metafsics' como ‘aber apron’, derivado ds razto pura, ou guee objeto care. teritco do saber flosfic que sto o ‘cose, podemos en tender caramenieo echo seguinte da Fundamentesdo, deci 0 pars os fins do problema que colocmos neste pergrafor “Uma vex que minhas buscas visam especialmente 3 1a. mora, limito, nests termos estes, a questio. ‘cima exposta: se no se pensa que seria da maior ne- ‘essidade elaborarfinalmente uma Filesofta moral pura, completamente ioe de tudo aquilo que & emprico e que erlence @ antropologia, porque a necessidade da exis- 'éncia de uma tal Mlosoia decorte de maneira evidente aa i wm de dever ¢ das leis morais. Cada um Gare adolde gets ee a atinone ot seja, como fundamento de uma obrigagio, precisa impli- ‘car em si uma necessidade absolua; precisa que este im- pPerativo:‘Voc# nto deve ment’ no tena valor somen- -3- te para os homens, deixando para outros seres clonal a faculdade de nio levi-lo em conta € assim é também, pia todas at ovtns leis moras propriamente dis. E ‘onseqUentemente 0 principio da obrigardo ndo deve ser buscado aqui na natureza do bomom, nem nas circuns- ancias nas quats ele €colecado nese mundo, masa peer cexclusivamente nos concettos da razdo pura (9.3). claro entdo que somente wma metafisiea dos costumes, camo extudo dos prineipios rcionas a prior! da nossa cond ta, pode sitsfzer 2 exighnca de expor os fundamentos da ddoutrina moral. Disso segue que o estido empirico no € fun- damento do estudo riconal, mas o racional, fundamento do fempirico. Kant chamou est 04, simplesmente, antrepolagia e be mesmo devenvolveu essa busca numa ofa initulada de fato Anropologia pragndtica, do mesmo periodo da Metafisica dos ‘ostumes 179697). Ede fato a Itroducio desta segunda obra cesclarece a disting2o entre metafsca dos costumes antopolo- ‘8a, com estas palaveas +0 oposto de uma metafisica dos costumes, qual ou- tio membro da divi da Blosofia pitica em ger sera _s.anuropalogia moral. que, porém, deve indicarsomente ‘as-condigses.subpeits da natsrezs wore as a0 comprimento dae lis da metafisica, por “exemplo os meios de produzir, difundire reforer os pin- ciplos fundamentals morais .) e outras prescrlgbes Se- rmelhantes e doutrinas que se baseiam na experéncia. “Essa segunda parte da filosofiapritca € indispensé- vel, mas ndo deve absolutamentepreceder a primeira ou ser confundida com ela, porque entoterlamos 0 Perigo de propor leis mori falsas ou pelo menos indulgentes ddemais."(p. 392). Resta observar que a mesma diferenga existente entre metafisia das costumes e antropologia, no ambito da moral, existe também entre metfisca da naurez iia propriamente ‘ta, no smbito do extudo ds natureza. Eo prOprio Kant escre- ‘eu, paralelamente 3 Metafsca dos costumes obra da qual nos ‘ccuparemos no nosso eutso, uma obra inttlada Principios relafiicos da cséncia da natureza (1786), que completa 0 sis- tema ds metfisca ou doutsna racional da realidade. =85- ee = Legis renal leogoange (pried 3 fnbito da conduts humana cegulaa pels leis mo- tle, que Rant chama ls da iberdade. em contaposicdo 38 ‘ve eegulam os fenémencs do unverio ‘rtcral'o primeira © mae grave problema ser enfentado € ‘oda distingio entre duss formas diversas de legislacto.e de des quer der, x disingo ene legato moral propria: sree dita © legiardojurdica, ou ene acd morale aefo firttice Tas do classic problema da disincaeais al ils, que € geralmenteconsiderado como problema pre- Taina de qualquer flosofla do éreto, Na obra de Kant en- conranvae nlo somente um, ms visos ekérios de distin Gao, alguns explcies, otros implcts, que agora devemcs Examine separadamente ‘O primeto cirio de disindo épuramente formal, no que dh retpeto ao contevds.respecivamente dali moral dle lurdies, mas exchusvamente quanto forma da obigao; € “2acitério com base no qual Kant disingue a moralidade da teglidade ara eslarecer aratureza dese rio & precio consie- rar quals 820s elementos formals que distinguem a 3,20 mo- Fal no pensumento de Kant. A Purdamentagao comera com lima fase fase: Mio € possivel pensar nada no mundo, e em geral também nada fora dele, que possa ser considerado 86 ‘como bom sem restrigo, a nio ser somente uma boa sontade (p, 9) or SECTORS Kant entende aque voatade qu n20, aig peta ao dever, Porant, so ts ps requis Fidamenis da acho mor aque €realizada no para obedecer a uma Tera sufi sensvel, a um cenointeresse material, mas _somenite pare cbedecer lel. dadeve. xistem 290es que an ene eerie pole ee a sas a cares oe a ens Gauele Jo campanene do rere deve Kat Societe cometcane ur mo tins o ete Ingtauras oe ape aim no prge ete ase wens eicment pore eh dese re ne Terns alo lof moO spend exewpo dos reanauife a at nlm ameoan pr ne tere a prepa ia obedecendo 20 sim tens Sr pope conscreto: mbm nese esse que tenga Weis ee Ee hee rm lof eumps eeapens “bem S008 Gee OHSS Be ecules Sisko 2 Seo ecto exemple no cmp maa mo. (aos nda corre € cpa ops 9 dom thas po simpat ao prxino ous, gud uae dena see 2 ago moral é aquela que & comprida no pot as somenie Pela rdxima que a determina, Em outras palivrs, Lago deve ser aaogeasmocal pio deve ser detginadapocaa bist qualquer da nossa faculdade de desejar (por exem -87- plo, pelo fim da flicidade, ou ds sadde, ou do bem ‘esa, mas unicamente pelo principio da.toniade, en é.squla que nlo € movida por ote inci, _papdaa.nao ser respeio8 le, Na conduta moral, cade Iimpuso subjetvo deve ser exclu o tnico impulse subjetivo compativel com a moralidade € 0 sentido de sesso. lei moa, que deve vencer qualquer outra inclinacao. ‘Mm conclsto, € posivel diner de manera sina que, an gus_uma ad sia monl ni €sufcerte, segundo Kant, ut seis coerente com 0 dever, & neces mbm i ‘essa proposiclo Kant extra o prmeiro crltéro de dstin- ‘4o entre moralidade elegalidade. Tem-se a moralidade quane do. asto € cumprida por dever, ese, 20 inves, pura € xJ0 a ago € cumpsda em conforni- ade a0 dever, segundo alguma inclinagao ou interesse dfe- ‘Fete do puro respelto a0 dever. Em outras palavas, gles Inclinagio ov interesse; 4 legislagdo f= ‘ica, 20 contrrio, é a que aceita simplesmente a conformida- e da as20 2 lei e nao se inveressa pela incinagbes ov inte- esses que 4 determinaram, Finalmente, quando eu atuo de ‘meramente legal a oor inclinasto ou por oF culo, © fato de manter as promessas © um dever = to igual do ou, Penso que €possvelintrpreur 0 significado desse Segundo requisio ta repo fate, dlzendo gut, para que exit una eae jrie no ‘ulceme a itrujetrdadearbem osteo bene fctncia de ereldade sto inesubjeves), mas € poe so tumbém a recprocidade ou sl, gue to apne ae Um coresponds 0 soto do euto “Em rerceiro lugar, nesta relagdo reciproca de um arbtrio com © outro, ndo se considers absolutamente a matéria 0 arbitio, ou sea, o fim que uma pessoa se prope por um objeto que ela quer (..) mas somente a forma na relasdo dos dois arbftrios, enquanto esses so conside- rados absolutamente como livres." Com este terceio requis, Kant quer dzer que o dei 40, na segulagao.de uma rlagio entre arbi, n30-35° reocuprenesabelecer gua ns indus taining, aoe Gide biog emanates questo pasta,massomenis em presevers Goa Sj, a modalidadesaraves das gua aquele i de SF alcancado..-aquele-intereses_reguladgr- Para se aul exemplo de Kan, quando o eto etabelece as fegrs do conto de compra e vende, no se preocupa coma vanagem ou desvanagem que vendeder ou con- Prado posam tr no cumprinento, mas somente com as condigdes formais com base nas quais deverd ser cum Prido, Dando um ou exemplo, quando o dro regu- laa instiigto do easamento,ndo estabelece nem com quem eu devo exsar nem quals #20 08 fins individuals Aue eu possa proporme a sleangar por melo do cas ‘mento; linia a har as modalidades por melo das quais se tna possvel aauagto das mins intengces. Neste terciro atbuto da relagto juris, et a orgem da doutina modema chamads de formalism lucien -12- ses form extant 060081 so dhe, ‘stammler € Kelsen, na Ale~ Seas fe do wae De echo, pelo manos ma pre’ cee spe, ma te Sep ora Soe ramo hc, qt de tml, 0 ith Ae etne dr con como afrma do coneio wo dae merajetvaoctemento ater € see element formal jc. Em outs pal- econémico, - ras atribuir carter formal a0 dirito significa dizer qui tb reito prescreve nfo tanto. o.que se deve faze, como se deve fazer O que eu devo Fazer para reBula Os eens interesses € indicado pela economia; 0 direito, com eserigbes, limita-se a me dizer como devo (08 outros ou em con- limite-se toda a 608 sop lenge, jtament om wet com os ures, oF evs as ov se, de me ro tom ave ndependeniemente Jo obj a yossa estar de acordo com 0 arbi- a fe deseo, 0 meu arbtcio pe trio de todos os outros. Esse terceiro requisito abre de maneira definitiva a porta para famosa definigto do direkio de Kant, que aqui apresen. amos: “Q.dizeito € o conjunto das condigbes por meio das, ais o abiuio de um pode estar de aconio com o-arbi oe se eee segundo orm Te upiversda Nberda E400) essa definigdo deriva aquela que Kant chama a fet univer. sal do dsrolte, assim forrmulads: See wes Arun externamente de maneira que 0 uso livre do teu tbtio possa estar de acordo com a liberdade de qual {quer outro segundo uma lel universal” (9, 407) -13- 1a definigto do citeto podem ser relevados os és requis: | os dos quas falamos antertormente: a 1) o diteto pertence 20 mundo das relacees extemas; 2) ele se constitui na relagto de dois ou mais arbtios; 3) 4 sua funglo nilo 6 de prescrever este ou aquele dever substanclal com relsgdo aos sujetor dos vétios arbirios, sas de prescreverthes a maneira de coexist, ou svi, 0 eu nossa coe, 28 Outros. De fato, podemos dizer que, segundo Kant, 9 direto € a forma universal de coexiténcia dos mples. Enguanio al €3 fo OW 0 conjunto das condigées segundo as quais ‘0 homens podem conviver ene si, ou 9 fimite da liber dade deca im, de maneia que todas ay esd universal. Final mente, 0 dito € 0 que possiblia a livre coexiséncia, os homens, a.goexist nome da por ue somente ons. liberdads élimitada, 2 liberdade de on ade para 02 OS, ‘cada um pode usuftuir da liberdade que Ihe € concedda pelo direito de todos os outros de usufrur de uma liber- dade igual 8 dele. ~14- 9 A Justica como Lipernade Unis ver tid ding de den que Kat, de vemos perguntar: que valor tem essu defnigho? Ela se refere a 0 que 0 dete é ou 2 0 que 0 direto deve Ser? Na verminologia moderna, usada principalmente pelos filésofos neokantianos, Kant define 0 concetio de dirito ou a idéia de direito? Se nos referimas 20 que dissemos no inicio do pardgrafo precedente, nto hi divida quanto ao fato de que o problema que Kant esti resolvendo por meio de sua definigio no € 0 que & 0 ditt, mas 9 que 0 direto deve ser.0 problema de Kant &, numa sO palavra, 0 problema da justia, ou se, do critrio com base no {ual sejapossivel dstinguir o que é justo do que ¢injusto. Quan- éo ele diz que 0 direto € “o conjunto das condigdes por meio «das quais 0 arbirio de um pode estar de acordo com 0 arbirio de um outro segundo uma lei universal da iberdade’, no en- tende esabelecer aquilo que € o direto na realidad histrica, ‘mas aquilo gue devs a de ti No est tO sea, dade, aquilo que Kant indica na sua definigio, Ao que Kant visa €0 ideal do direito, 20 qual qualquer legislagio deve adequar- Se para poder ser considerads como justa, Anda que nenhuma legislacdo existente correspondesse plenamente Aquele ideal, efinigio de Kant mio seria menos verdadeira, uma vez que in- dica somente 0 ideal-limite 20 qual o legisledor deveria ade- uarse, € nto uma generalizagio derivada da experiéncia. Para 'ss0 vale como confirmagio a definigo que Kant da 8 glo justa: -15- wu Giusta quando, por meio dela, ou segune se saci, eee do ate eam Tiberdade do-arbitio de a wonaleluniverss” (P. 407) Aqui é claro que Kant se preocupa em estabelecer o ertéio para distinguir uma a¢do justa de uma acho injusta, e no aque. le para distinguir uma ago juridica (conforme o dircco existen- te) de uma agao naojuridica (nto conforme o direto existente), ‘Kant, portanto, nesse momento realmente central da sua obra, ‘presenta um ideal de jusica, De que ideal se trata? Penso que seria possvel defini-lo como 0 da just ardade, Na historia do pensamento jurtGo foram sustentadas varias teorias da justica. Essas teorias distinguer-se com base na ree posta que deram & pergunta: qual € 0 fim limo do direto? Acredito que as virias respostas a esta pergunta possam set divididas em wés grupos: 1 gjustica € ordem. Esta teoria surge do fato de considerar como social, Bla sustenta que ‘a exigéncia fundamental segundo a qual os homens cra ram 0 otdenamento juridico € de sair do estado de anar- quia e de guerra, no qual viveram no estado de natureza O diteito € 0 remédio primeiro e fundamental contra os males que derivam do bellum ommiuan contra omnes. E esse rell2a seu fim quando, por meio de um poder cen- tral capaz de emanar normas coereitivas para todos os associados, € estabelecida uma ordem social, qualquer que seja essa, © direito natural fundamental que esta teoria deseja salvaguardar € 0 dineia.auuida O dlreito como ordem é 0 meio que os homens, no decorrer da cvilizaglo, encontraram para garantir a seguranga da vida. Um exemplo carecteristica desta concepcto da justiga «encontr-s pa flasofia politica de Hobbes, 116 - > 2 “usr lalate Segunda es concent, aus £8 tras are tdilonal deriva de Articles na 80 fermolagao mas cla) fim do creo, ov sein das e- arse coertivas que dilinam 2 conduta dos homens ts sociedade, €de gaan a guage, sia nas rela- {es ene os indvduoe ue Peaimente € chamado a justga comutatio), aes na lags entre 0 Etad0 of Invivos Co que & chad tadicionalmenc usta tlsrbutie) det € age 0 rbd paeiro €fun- hen passe dgeranve ene Rare. po Sem lenar ane Gi Degas OT tomo as desigualdades sociis. Um ordenament juricico nto pode ser consierado justo se nto protege os fracos dos fone, os pobre ds rico, se ni etabelece com as pro- prin eps una medida ou uma sie de medias com fs quais se impedide a prevarcag e todos of mem bos de ua sociedade rcebam ial tatsmento com bate em certoe entrosfundamentas (que podem ser oro tabalho, om o métt, om a necessidade ete). Se- fundo esta teona, nto € sufeiente que 0 dreto impor fina una ordem qualquer: € preciso que a ordem seis Justa por jus’ entende-e de fato Funda no respeto 2 igualdade. Se imaginamos a justia tendo 2 espada ea balanga, a teoria do direto como ordem visa a essalara spade; ado creo com iguaidde, a balanea.O dieto natural fundamental que esti na base desta conceppio € 2 direto a igualdade, aiustica¢ liberdade, Com base nesta concepcio, o fim Slume do ito € iberdade (e entenda-se a iberda- de externa) Arazdo Gkima peta qual os homens se reu- niram em sociedade e constuirem o Estado € 3 de sis que no seria possivel se um conjunto de normas coer -17- -etivas nto garentiste pact cada umn yma esfera de ber, (sade impedindo 2 violasso por pa 8, 0 edetarcts ist Ciao eae ee zZer com que todos os consocados possam sufuie de uma esfera de liberdade tal que Ihes seja consentido desenvolver a propria personalidade segundo o talento Peculiar de cada um. Aqui a.direito € cancebido como era. que cada um tenha a seguranca de rao set esa lambém ndo lese a ester 9s outios, Por- tanto, nio é suficiente, segundo 0 ideal do direto como liberdade, que 0 ordenamento juridico estabeleca a or- dem, nem é suficiente que essa ordem seja fundads na Jgualdade (também uma sociedade na qual todos sejam cescravos & uma sociedade de iguais, ainda que iguaie na escravidio). # necessirio, para que brilhe a justiga com toda 2 sua luz, que os membros da associagio usu fruam da mais ampla liberdade compativel com a exis- téncia da pidpria associago. Motivo pelo qual seria justo somente aquele ordenamento em que fosse estabelecida uma ordem na liberdade. O direito natural fundamental pelo qual esta concepyto € reforgada € 0 direlto & iberdade. » Parece-me claro que todo.o.neasamento juridice de Kantvisa, ica como liberdade, £ talvez a expressio mais carscersica e conseqUente dessa tori; centamente, a mals res- peitvel.€ se pensamos no fato de que a teoria da juga como liberdade € aquela da qual nasce a inspiragto para a teoria do Edo ibe, devemos conclu que a tora. do diet dea, ve ser considerada como um dos fundamientos teéricos do Estado liberal, como veremos melhor quando tratarmos do di- relto piblico, na quana pare do curso. -118- Aqui € suficiente dizer que © conceite de I rio A teoria liberal do Estado € 0 conceito de Uberdads Hleimpedimenia, Como Torao no capitulo 5 desta pare, ‘quando Kant fala de libecdade interna ou externa, deseja far lar exatamente da 08 de taculados ov pelas Fores das nossa ja forcaenierna que 7 Ba luge # que visa € somente o conjunto das garantias Por elo. iny i of eis de coonitincla des xiernas, como coewstencin de RET cc noo que sania para Kant agir de maneira njust? Sigifcaitecescoa cakes 1 da liberdade dos outSE BU sej, colocar obstéculos para {que 08 outios, com os quals eu devo conviver, possam exer- cer sua liberdade na propria esfera de liceidade. Como con Firmagdo, leia-se este trecho que segue imediatamente a def nigio de agdo justa, ctada hi pouco: “Se, portanto, a minha agio ou, em geral, o meu esta- do, pode estar de acordo com a liberdade de qualquer outro, segundo uma lei universal, agin de maneira in- usta com relago a mim aquele que colocar obstéculos para mim, porque esse obsticulo (essa oposiglo) mio pode subsist com a liberdude, segundo as leis univer- saist (p. 407). Se, como aparece nesse trecho, a injustiga consiste em colo car obsticulos contra a liberdade, a justign devers consistir em climinar esses obsticulos, ou seja, fazer com que cada um pos- a ysufic da liberdade que the pode ser consemtca pete = Ferdade igual coy gute SuTEMUENIS or Tettade aaa eifera mails tet obstcatite en io se € obstaculado, em suma, aesfera do ndo- ‘smpediment, 119

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