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Psicanálise No Tratamento Do Autismo
Psicanálise No Tratamento Do Autismo
Esse tipo de intervenção faz calar o sujeito, sua história singular e seu saber
próprio a respeito de sua condição desejante. Pela via da totalização de saberes e
práticas, o modelo de atendimento tem o intuito de proporcionar a ética do bem-estar do
paciente, sendo forjado pelo discurso que Lacan (1969-1970/1992) intitula discurso do
mestre. Pautando-se em um ideal normativo que exclui o sujeito, o perigo de tratar o
autista a partir de protocolos universalizantes, como se estes fossem todos iguais, é
mantê-los no anonimato em que se encontram.
Sob essa abertura clínica a que se propõe a psicanálise, pontuamos que o autista
e o autismo devem ser observados a partir da complexidade que existe entre a dimensão
genética, neurológica, e psíquica da criança. Já no texto “Complexos familiares na
formação do indivíduo”, Lacan (1938/2003) estabelece os complexos do desmame, de
intrusão e do Édipo como experiências corporais e fantasmáticas que deixam marcas
psíquicas na criança, fundamentais para a sua maturação neurológica e para a
construção do eu.
Esse posicionamento narcísico dos pais perante o quadro clínico de seus filhos
autistas e a dedicação no tratamento adaptativo pode ser pensado a partir do texto de
Freud (1914/1996) “Sobre o narcisismo: uma introdução”. Ele afirma que devido ao
próprio narcisismo, os pais têm a tendência de atribuir perfeição aos filhos e ocultar as
suas deficiências. A partir de tal premissa, podemos pensar que este tipo de tratamento
que garante a normatização do comportamento da criança funciona, para os pais, como
uma saída às suas próprias frustrações, fazendo-os investir poderosamente no
tratamento a fim de sustentar para os filhos o lugar de Sua Magestade o Bebê e
reacender, assim, seu próprio narcisismo.
Tendo em vista essas questões subjetivas dos pais que permeiam o trabalho
institucional, pretendemos em nossa intervenção baseada na prática entre vários, a
construção de uma via de trocas que nos possibilite fazer furo no saber totalizante que
impera na instituição e que, assim, sejam mobilizados entre a equipe e os pais
questionamentos sobre o tratamento do autismo, sobre a criança além dos seus
sintomas, tendo-se em vista a manifestação da verdade subjetiva da criança e dos pais.
BERNARDINO, L. M.F. Das razões para indicar uma abordagem clínica no campo da
psicopatologia da criança. In: Revista da associação psicanalítica de Curitiba “Tecendo
redes: psicanálise e políticas públicas”, n.26. Curitiba: editora Juruá, 2013, p.137-148.
FREUD, S. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 3ª ED. Rio de Janeiro, Imago, V.
XIV, 1996, p. 89-120.
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